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17/04/2022 11:29 Tolstoi, Um Grande Artista

Tolstoi, Um Grande Artista


Vladimir Ilitch Lênin

16 (29) de Novembro de 1910

Primeira Edição:  Publicado em 16 (29) de novembro de 1910 em “O Social-democrata”.


(Fragmentos do texto de Lênin refletindo a morte de Tolstoi)
Fonte: Portal Vermelho.

HTML: Fernando A. S. Araújo

Morreu Leon Tolstoi. Sua importância mundial como artista e sua popularidade
universal como pensador e pregador refletem, a seu modo, a importância mundial
da revolução russa.
Leon Tolstoi se manifestou como um grande artista desde os tempos do regime
da servidão. Em várias obras geniais, escritas por ele no transcurso dos longos
cinquenta anos em que se prolongou a sua atividade literária, pintou de preferência
a velha Rússia anterior à revolução, que depois de 1861 ficou em um regime de
semisservidão; pintou a Rússia aldeã, a Rússia do latifundiário e o camponês. Ao
pintar esse período da vida histórica da Rússia, Leon Tolstoi soube apresentar tantas
questões fundamentais em seus escritos, alcançou em sua arte tão grande força,
que suas obras figuram entre as melhores da literatura mundial.
A época em que se preparava a revolução em um dos países oprimidos pelos
senhores feudais foi, graças à forma genial com que Tolstoi a tratou, um passo
adiante no desenvolvimento artístico de toda a humanidade.
Como artista, somente uma minoria insignificante o conhece na Rússia. Para
fazer efetivamente suas grandes obras patrimônio de todos, há que lutar contra o
regime social que condenou milhões e milhões de seres à ignorância, ao
embrutecimento, a um trabalho próprio de condenados e à miséria; há que fazer a
revolução socialista.
Tolstoi não só escreveu obras literárias que sempre serão apreciadas e lidas
pelas massas quando estas criem para si condições de vida humana, derrubando a
opressão dos latifundiários e dos capitalistas; ele soube também descrever com
força admirável o estado de ânimo das grandes massas subjugadas pela ordem de
coisas desse tempo, soube também pintar sua situação e expressar os seus
sentimentos espontâneos de protesto e indignação. Tostói que pertenceu,
principalmente, à época de 1861 a 1904, refletiu com assombroso realce em suas
obras – como artista e como pregador – as características da especificidade histórica
de toda a primeira revolução russa, sua força e sua debilidade...
Olhem com atenção o que dizem de Tolstoi os jornais do governo. Choram
lágrimas de crocodilo assegurando que têm em alta estima o “grande escritor”; mas,
ao mesmo tempo, defendem o “santíssimo” sínodo. E os santíssimos padres acabam
de cometer uma canalhice das mais imundas, enviando seus popes à cabeceira do

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moribundo, para enganar o povo e dizer que Tolstoi se “arrependeu”. Antes, o


santíssimo sínodo havia excomungado Tolstoi.
Prestem atenção no que dizem de Tolstoi os jornais liberais. Eles se apressam
com estas frases ocas, oficial-liberalescas, batidas e professorais sobre “a voz da
humanidade civilizada”, “o eco unânime do mundo”, “as ideias da verdade e do
bem”, etc. etc., pelas razões que Tolstoi castigava com tanta força e tanta razão
contra a ciência burguesa. Os jornais liberais não podem dizer clara e concretamente
o que pensam das idéias de Tolstoi sobre o Estado, a Igreja, a propriedade privada
da terra e o capitalismo. Isso não porque a censura os atrapalha – pelo contrário, a
censura os ajuda a sair da dificuldade.
Eles não podem porque cada tese da crítica de Tolstoi é uma bofetada no
liberalismo burguês; porque, por si, a valente, franca e implacavelmente dura
concepção das questões mais candentes e mais malditas de nossa época por Tolstoi
é uma bofetada nas frases estereotipadas, nos batidos subterfúgios e na falsidade
escorregadia, “civilizada” de nossa imprensa liberal (e liberal populista).
Morreu Tolstoi, e se foi o passado da Rússia anterior à revolução, a Rússia cuja
debilidade e impotência se expressaram na filosofia do genial artista e vemos
refletidas em sua obras. Mas em sua herança há coisas que não pertencem ao
passado. Pertencem ao futuro. Essa herança passa às mãos dos proletários da
Rússia, que a está estudando. Daí virá a explicação às massas trabalhadoras e
exploradas da significação da crítica que Tolstoi fez ao Estado, à Igreja, à
propriedade privada da terra; e não o fará para que as massas se limitem à
autoperfeição e a suspirar por uma vida santa, mas para que se levantem com o fim
de lançar um novo golpe à monarquia czarista e à posse da terra por latifundiários,
que em 1905 só foi ligeiramente quebrada e que deve ser destruída. Então se
explicará às massas a crítica que Tolstoi fez do capitalismo, mas não o fará para que
as massas se limitem a maldizer o capitalismo e o poder do dinheiro, mas para que
aprendam a apoiar-se, em cada passo de sua vida e de sua luta, nas conquistas
técnicas e sociais do capitalismo, para que aprendam a se agrupar em um exército
único de milhões de lutadores socialistas, que derrubarão o capitalismo e criarão
uma nova sociedade sem miséria para o povo, sem exploração do homem pelo
homem.

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