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“A autocracia russa era um Estado feudal, embora a Rússia fosse, no século XX,
uma formação social compósita dominada pelo modo de produção capitalista: uma
dominância cujos efeitos remotos são visíveis nas estruturas do czarismo. A sua época
não era a do império de Guilherme ou a da Terceira República, seus rivais ou parceiros:
os seus verdadeiros contemporâneos foram as monarquias absolutistas da transição do
feudalismo ao capitalismo no Ocidente. A crise do feudalismo produziu no Ocidente um
absolutismo que sucedeu à servidão; a crise do feudalismo no Leste gerou um absolutismo
que institucionalizou a servidão. O antigo regime russo sobreviveu longamente a seus
correlatos ocidentais, apesar de sua natureza de classe e funções comuns, porque nasceu
de uma matriz diferente. Ao final, ele extraiu do próprio advento do capitalismo industrial
a força que concentrava no topo, implantando-o burocraticamente a partir de cima, tal
como os seus predecessores tinham feito para fomentar o capitalismo mercantil. [...] O
desenvolvimento internacional do imperialismo capitalista, irradiado para o império russo
a partir do Ocidente, foi que tornou possível essa combinação da mais avançada
tecnologia do mundo industrial com a mais arcaica monarquia da Europa. Por fim,
evidentemente, o imperialismo, que de início fora armadura do absolutismo russo, acabou
por engolfá-lo e destruí-lo: as provações da Primeira Guerra Mundial foram mais fortes
que ele. Pode-se dizer que, numa confrontação entre Estados imperialistas
industrializados, ele estava literalmente ‘fora de seu elemento’. Em fevereiro de 1917,
bastou uma semana para que as massas o derrubassem.” (ANDERSON, Perry. Linhagens
do Estado absolutista. São Paulo: Editora Brasiliense, 1998. pp. 358-359)