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EXERCÍCIO: Imperialismo e Revolução Russa

Liev Tolstói (1828-1910), também conhecido como Leon Tolstói, é um dos


grandes nomes da literatura russa. As suas obras mais famosas são os romances Guerra
e Paz e Anna Karenina. O segundo destes romances foi escrito na década de 1870 e tem
por protagonistas a heroína referida no título e um proprietário de terras, o filósofo Liêvin,
que se empenha em melhorar a vida dos camponeses e em escrever sobre as condições da
agricultura em país. O fragmento abaixo é referente a uma das obras de estudo que Liêvin
estaria escrevendo sobre as condições econômicas da Rússia em seu tempo.
Perry Anderson (1938) é um historiador britânico de orientação marxista. Em sua
longa carreira, dedicou-se aos mais variados objetos de estudo. Um de seus mais
importantes trabalhos é o livro Linhagens do Estado absolutista, obra na qual descreveu
as diferentes formações sociais marcadas pela forma política absolutista na Europa
Ocidental e Oriental. O autor descreve os diferentes tempos de existência dos regimes
absolutistas de acordo com as condições locais de cada espaço estudado e também em
relação à conjuntura internacional em que estavam inseridos. O fragmento abaixo é
referente à crise do regime absolutista na Rússia entre o final do século XIX e os primeiros
anos do século XX.

Leiam com atenção os excertos:

“Escrevia agora um novo capítulo sobre as causas da desvantajosa situação da


agricultura na Rússia. Demonstrava que a pobreza russa provinha não só de uma má
distribuição das terras e de uma orientação equívoca, mas também de uma civilização
estrangeira anomalamente enxertada no país durante os últimos tempos e muito
principalmente dos meios de comunicação, pois os caminhos de ferro haviam
determinado a centralização nas cidades e concorrido para o desenvolvimento do luxo,
tudo em detrimento da agricultura. As novas indústrias fabris, o crédito, o jogo da bolsa,
seu companheiro fiel, eram ainda consequências dessa mesma civilização estrangeira. [...]
Sustentava que, tal como o desenvolvimento parcial e prematuro de uma parte do
organismo animal impede o crescimento do todo, assim na Rússia o recurso ao crédito,
as comunicações e a multiplicação das fábricas, talvez coisas necessárias na Europa,
aonde chegavam no momento oportuno, mas prejudiciais onde eliminavam o problema
essencial – organização da agricultura –, tinham impedido o desenvolvimento da riqueza
do país.” (TOLSTÓI, Leon. Anna Karenina. São Paulo: Nova Cultural, 1997. p. 394)

“A autocracia russa era um Estado feudal, embora a Rússia fosse, no século XX,
uma formação social compósita dominada pelo modo de produção capitalista: uma
dominância cujos efeitos remotos são visíveis nas estruturas do czarismo. A sua época
não era a do império de Guilherme ou a da Terceira República, seus rivais ou parceiros:
os seus verdadeiros contemporâneos foram as monarquias absolutistas da transição do
feudalismo ao capitalismo no Ocidente. A crise do feudalismo produziu no Ocidente um
absolutismo que sucedeu à servidão; a crise do feudalismo no Leste gerou um absolutismo
que institucionalizou a servidão. O antigo regime russo sobreviveu longamente a seus
correlatos ocidentais, apesar de sua natureza de classe e funções comuns, porque nasceu
de uma matriz diferente. Ao final, ele extraiu do próprio advento do capitalismo industrial
a força que concentrava no topo, implantando-o burocraticamente a partir de cima, tal
como os seus predecessores tinham feito para fomentar o capitalismo mercantil. [...] O
desenvolvimento internacional do imperialismo capitalista, irradiado para o império russo
a partir do Ocidente, foi que tornou possível essa combinação da mais avançada
tecnologia do mundo industrial com a mais arcaica monarquia da Europa. Por fim,
evidentemente, o imperialismo, que de início fora armadura do absolutismo russo, acabou
por engolfá-lo e destruí-lo: as provações da Primeira Guerra Mundial foram mais fortes
que ele. Pode-se dizer que, numa confrontação entre Estados imperialistas
industrializados, ele estava literalmente ‘fora de seu elemento’. Em fevereiro de 1917,
bastou uma semana para que as massas o derrubassem.” (ANDERSON, Perry. Linhagens
do Estado absolutista. São Paulo: Editora Brasiliense, 1998. pp. 358-359)

A partir destas leituras, das últimas aulas e dos materiais de estudo


disponibilizados (especialmente os TEXTO-RESUMO sobre Rússia), respondam:

1. De acordo com os textos, o que caracteriza “a civilização estrangeira anomalamente


enxertada no país durante os últimos tempos”?

2. No século XIX e início do século XX, em todo o mundo, a construção de estradas de


ferro geralmente era associada à ideia de progresso. De acordo com as reflexões do
personagem de Tolstoi, a associação ferrovia-progresso também se aplicava à Rússia?
Por quê?

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