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em Engenharia
Material Teórico
Anatomia de um Grande Projeto
Revisão Textual:
Prof. Esp. Kelciane da Rocha Campos
Anatomia de um Grande Projeto
• Introdução
• O Projeto Apollo da NASA
• A gestão do projeto
• A nave espacial Apollo
• O módulo lunar
• O legado do projeto
OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Nesta unidade, é abordado o gerenciamento de um grande projeto
de engenharia: o projeto Apollo da NASA, que transportou o homem
à superfície da Lua. Trata-se de um projeto de grande envergadura,
que mobilizou cerca de 400.000 pessoas no espaço de 13 anos.
· Esperamos que após ler o texto desta unidade você possa ter uma boa
noção das dificuldades encontradas e quais as soluções propostas, e
de como estas se desenrolaram.
· Você vai observar que o relacionamento humano teve um peso
importante no decorrer dos trabalhos e quase impediu que os
objetivos finais do projeto fossem atingidos. Em suma, o objetivo
da unidade é mostrar como um projeto de tamanha envergadura
foi gerenciado e assim mostrar que muitas das soluções utilizadas
surgiram dentro do próprio projeto.
ORIENTAÇÕES
Nesta Unidade, vamos aprender um pouco mais sobre um importante tema:
“Anatomia de um grande projeto”.
Além disso, para que a sua aprendizagem ocorra num ambiente mais
interativo possível, na pasta de atividades, você também encontrará as
atividades de Avaliação, uma Atividade Reflexiva e a Videoaula. Cada material
disponibilizado é mais um elemento para seu aprendizado; por favor, estude
todos com atenção.
UNIDADE Anatomia de um Grande Projeto
Contextualização
O projeto Apollo da NASA redundou no transporte do homem à Lua. Cerca
de 500 milhões de pessoas assistiram pela televisão em imagens em preto e bran-
co quando Neil Armostrong desceu da nave e pisou no solo lunar. Foi um feito
impressionante para a época, quando não existiam ainda os microcomputadores
e a internet.
O público viu apenas os resultados das missões, mas não teve acesso às
dificuldades encontradas para a sua realização. O gerenciamento de um projeto de
tamanha magnitude foi e tem sido objeto de estudo por pesquisadores ao redor do
mundo. Os cursos de engenharia, de um modo geral, não contemplam a questão
do gerenciamento, mas ensinam apenas a questão técnica. Hoje conhecemos
essa realidade mais de perto, ou seja, como nossos precursores encararam os
desafios propostos. Temos muito que aprender com eles. Da mesma forma como
Pedro Álvares Cabral saiu de Portugal com navios movidos a vento e retornou,
sem ter sequer nenhum meio de comunicação, os primeiros astronautas também
foram ao espaço sem saber o que encontrariam ali. Da mesma forma pensavam os
organizadores do projeto: como colocar um homem sobre a superfície lunar e trazê-
lo de volta, em segurança? Nota-se que encarar desafios sempre foi uma questão
importante e, caso não tivessem arriscado, hoje o mundo seria muito diferente em
relação ao que conhecemos.
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Introdução
Nas Unidades anteriores falamos sobre o que é a engenharia e o que ela pretende.
Você teve uma boa noção do que é ser engenheiro e mergulhou no passado para
notar como a engenharia evoluiu até nossos dias.
Neste tópico, vamos analisar mais de perto um dos projetos civis de engenharia
mais ambiciosos de todos os tempos: a viagem e pouso do homem na Lua. Você
vai ter a oportunidade de observar que se tratava de algo novo e desconhecido
e que levou cientistas e engenheiros a uma corrida sem precedentes pelo
conhecimento. Estamos falando de um projeto que foi levado a cabo em apenas
treze anos, com mais de 90% de todo o conhecimento utilizado adquirido durante
sua execução. O que está escrito a seguir é um relato da evolução do projeto, de
seus êxitos e fracassos, de suas dificuldades e obstáculos. Você notará também
que o relacionamento humano acabou tendo um peso significativo no desenrolar
do projeto, causando inúmeras dificuldades. Leia atentamente essa cronologia
e observe como os dirigentes tomaram as decisões (acertadas ou não), mas que
acabaram resultando no êxito do programa.
O Projeto Apollo foi sem dúvida aquele que trouxe como benefício, em tão
pouco tempo, uma quantidade de conhecimento relevante e que ainda hoje é
utilizado. Começou em 1961 e terminou em 1974, com o lançamento da Apollo
17. Na época do encerramento, havia ainda mais três missões a serem realizadas,
mas como o objetivo principal do projeto já tinha sido atingido – recuperação do
prestígio internacional dos EUA –, o governo cortou a verba e as naves existentes
viraram peças de museu.
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Figura 1 – Edwin Aldrin sobre o solo lunar, durante a missão Apollo 11 – 1969.
Fonte: Wikimedia Commons.
O grande motivador do projeto foi a guerra fria travada entre a União Soviética e
os Estados Unidos. O ponto de início da corrida ocorreu quando em 12 de abril de
1961 os russos deram o pontapé inicial e puseram em órbita o primeiro astronauta
humano, o major Yuri Gagarin, em um voo suborbital de 90 minutos. O governo
dos EUA, então chefiado por John Kennedy, decidiu que era chegada a hora
de revidar e injetou mais de 20 bilhões de dólares na NASA. Na época, os EUA
estavam politicamente desgastados pela fracassada invasão da Baía dos Porcos, em
Cuba, por refugiados cubanos treinados pelos americanos e precisavam de uma
recuperação do prestígio perdido.
Porém, essa mobilização de recursos não foi o único desafio para os responsá-
veis políticos da época; a NASA teve que fundir culturas institucionais e diferentes
abordagens em uma organização única, movendo-se ao longo de um caminho
unificado. Cada instalação laboratorial da NASA, cada universidade, cada empre-
sa contratada, teria que trabalhar em sintonia, algo que não se consegue de uma
hora para outra. Na época, o que se conhecia sobre gerenciamento de grandes
projetos era conhecido como “programa de gestão”, que surgiu no final da dé-
cada de 1950. A NASA resolver utilizar esse modelo, expandindo-o, trazendo
gestores militares para supervisionar o programa Apollo. Esses gestores militares
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tinham experiência com mísseis balísticos e também conheciam bem a estratégia
militar e sabiam cumprir cronogramas. Foi criado então um escritório central,
onipotente e autoritário, centralizando todo o projeto, a engenharia, a análise, a
construção, a fabricação, a logística, o treinamento e as operações.
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A gestão do projeto
Um dos princípios fundamentais do conceito de gestão do programa Apollo foi
que três fatores que eram considerados críticos - custo, cronograma e confiabilidade
- foram interligados e tiveram que ser geridos como um grupo monolítico; caso os
gestores de programa alterassem, por exemplo, o custo para um patamar específico,
em seguida, um dos outros dois fatores, ou ambos, a um grau um pouco menor,
seriam prontamente afetados. Como havia seres humanos envolvidos nos voos,
somado ao fato da recuperação política dos EUA perante o mundo, os gestores do
programa colocaram uma forte ênfase na confiabilidade. Assim, o projeto Apollo
passou a utilizar extensivamente sistemas redundantes para que as falhas fossem
previsíveis e minimizadas no resultado final. A ênfase que foi dada a esses dois
fatores – cronograma e confiabilidade - forçou o terceiro fator, o custo, a se tornar
maior do que poderia ter sido. Esse foi o preço pago para o sucesso da operação.
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mais polêmicos foram o dos engenheiros e o dos cientistas, que constituíam a
nata do programa. Segundo seus princípios, os engenheiros estão acostumados
a trabalharem em equipes; e isso não foi diferente no projeto Apollo, pois eles
se empenharam para construir o aparato que poderia levar a cabo um pouso na
Lua com sucesso, até o final da década. Seu objetivo principal era a construção de
veículos que deveriam funcionar de forma confiável dentro dos recursos financeiros
atribuídos ao projeto. Por outro lado, o grupo dos cientistas espaciais envolvidos
estava mais preocupado com a elaboração de experiências que iriam expandir o
conhecimento científico sobre a Lua. Eles também tendiam a ser individualistas,
desacostumados à arregimentação e dispostos a ceder de bom grado a direção
de projetos a entidades externas. Os dois grupos disputavam entre si uma grande
variedade de questões associadas ao projeto. Por exemplo, os cientistas não
gostavam de ter que reconfigurar cargas úteis para que pudessem atender aos
requisitos de redução de peso muitas vezes exigidos. Os engenheiros, igualmente,
se ressentiam de ter que realizarem alterações em pacotes científicos adicionados
após a definição do projeto, porque essas mudanças acabavam anulando esforços
realizados anteriormente. Ambos os grupos tiveram reclamações válidas e tiveram
que manter uma cooperação desconfortável até o final do projeto.
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Enquanto o projeto corria, um item importante ainda não havia sido definido.
Nenhum assunto gerou tanta polêmica dentro da NASA quanto o método de
descer na Lua. Havia três abordagens básicas que foram avaliadas para cumprir
a missão lunar:
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simples dos três métodos, tanto em termos de desenvolvimento como de custos
operacionais, mas foi considerado o mais arriscado. Esse encontro deveria ocorrer
em órbita lunar e não haveria margem para erros. Além disso, algumas das mais
difíceis manobras e correções de curso tinham de ser feitas após a nave espacial
retornar da Lua.
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fotografias de alta qualidade da superfície; a Surveyor 3 realizou medições da
composição da crosta lunar e leituras sobre a refletividade térmica e radar do solo;
e as três restantes, 5, 6 e 7, foram enviadas até 1968 e renderam dados científicos
significativos tanto para o projeto Apollo como para a comunidade científica.
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e de suporte à vida, que poderia ser descartado antes da reentrada na atmosfera
terrestre; um sistema propulsor ligado ao módulo de serviço para desacelerar a
nave antes da reentrada; e, finalmente, um sistema de escape (em caso de falha
durante o lançamento) que seria descartado antes do módulo entrar em órbita.
O módulo de comando, que possuía formato de uma gota d’água, possuía duas
escotilhas, sendo uma no lado de entrada e saída da equipe em solo terrestre e uma
no nariz, dotada de um colar de acoplamento para utilização no espaço.
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Esse acidente na AS 204 levou a uma mudança de decisões na NASA. Até então,
a orientação era dar bastante liberdade de ação para os especialistas e supervisionar
seu trabalho a distância. Esse era o modelo tecnológico idealizado pela cúpula da
agência, mas que se mostrou inadequado. Após o acidente, essa orientação foi
alterada, com a direção da NASA passando a ter maior autonomia nas decisões.
Como resultado, os diretores do programa passaram a ter menos simpatia por parte
de seus comandados. O fracasso do modelo tecnológico para resolver problemas
acabou se tornando um antecipador importante de uma tendência que estaria cada
vez mais presente na cultura americana, posteriormente, em que a tecnologia foi
responsabilizada por um bom número de males concedidos à sociedade.
O módulo lunar
Se o veículo de lançamento Saturno V e a nave Apollo eram desafios tecnológi-
cos difíceis, a terceira parte do aparato para o pouso na Lua, o módulo lunar, re-
presentava o problema mais grave. Começando um ano mais tarde do que previsto
inicialmente, o módulo lunar estava permanentemente atrasado no cronograma e
acima do orçamento. Grande parte dos problemas estava relacionada com a ques-
tão da construção de duas partes separadas da nave espacial - uma para a descida
até a Lua e uma para a subida de volta para o módulo de comando, que ficaria em
órbita da Lua. Ambos os motores teriam que funcionar perfeitamente, caso con-
trário existiria uma grande possibilidade de que os astronautas não voltassem para
casa. A orientação, capacidade de manobra e controle da nave espacial não cau-
saram tantas dores de cabeça. O veículo final teria que possuir uma estrutura leve
e resistente a choques. Foi apresentado um projeto de um veículo em que dois as-
tronautas teriam que voar em pé. Em novembro de 1962, a Grumman Aerospace
Corp. assinou o contrato com a NASA para produzir o módulo lunar e iniciou ime-
diatamente os trabalhos. Em janeiro de 1968, o módulo fez seu primeiro voo e foi
considerado pronto para entrar em operação.
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Figura 3 – O módulo lunar
Fonte: Wikimedia Commons.
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Após uma missão orbital tripulada para testar a nave Apollo em outubro de 1968,
em dezembro desse ano a Apollo 8 decolou no topo de um lançador Saturno V a
partir do Centro Espacial Kennedy, com três astronautas a bordo - Frank Borman,
James A. Lovell, Jr. e William A. Anders - para a missão de orbitar a Lua.
Inicialmente, essa missão havia sido planejada para testar o conjunto Apollo
numa órbita baixa relativamente segura da Terra, mas alguns engenheiros haviam
pressionado a direção para torná-la um voo orbital lunar. As vantagens disso
poderiam ser importantes, tanto no conhecimento técnico e científico adquirido,
como em uma demonstração pública acerca do que os EUA poderiam atingir.
Até aquele momento, a Apollo tinha sido apenas uma promessa; com o
lançamento da Apollo 8, no entanto, as coisas começaram a mudar. Em novembro
de 1968, a agência reconfigurou a missão para uma viagem lunar. Após circundar
a Terra uma vez e meia, a Apollo 8 iniciou sua viagem à Lua. Foi a primeira vez na
história que a humanidade via pela televisão as transmissões internas da cabine e a
visão da própria Terra, que se distanciava em uma viagem de quase 400.000 km.
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de solo lunar trazidas pelos astronautas da Apollo forneceram grande quantidade
de informação acerca das investigações do Sistema Solar pelos cientistas desde
então. O retorno científico foi significativo, mas o programa Apollo não respondeu
à antiga questão acerca da origem do ser humano.
O legado do projeto
De um modo geral, o Projeto Apollo mostrou que o empenho e a reunião
de esforços – científicos, tecnológicos e financeiros – poderiam resultar (como
acabaram resultando) em um sucesso comprovado, mesmo considerando a natureza
arriscada do empreendimento. Os EUA conseguiram atingir seu objetivo político,
ao se antecipar à União Soviética na questão espacial. A humanidade também
ganhou um enorme conhecimento espacial, em que as leis da física foram postas
à prova e de forma controlada. A empreitada custou aos cofres públicos a bagatela
de US$ 25,4 bilhões (cerca de US $ 95 bilhões, em dólares de 1990), com apenas
a construção do Canal do Panamá rivalizando com o tamanho do programa Apollo
como o maior esforço tecnológico não militar já realizado pelos Estados Unidos.
Na área militar, somente o Projeto Manhattan para construir a primeira bomba
atômica na Segunda Guerra Mundial foi comparável ao projeto Apollo.
Existem vários legados importantes (ou conclusões) sobre o Projeto Apollo que
precisam ser lembrados. Em primeiro lugar, conforme descrito anteriormente, o
programa foi levado a cabo para elevar a autoestima do país, fato que se consumou.
Em segundo lugar, o projeto Apollo foi um triunfo da gestão de sistemas de
engenharia extremamente difíceis, desafios tecnológicos e requisitos de integração
organizacional. Os administradores da NASA, no auge do programa entre 1961 e
1968, sempre sustentaram que a Apollo era muito mais um exercício de gestão do
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que qualquer outra coisa, e que o desafio tecnológico, ao mesmo tempo sofisticado
e impressionante, foi em grande parte superado ao longo do tempo. Foi mais
difícil assegurar que essas competências tecnológicas fossem devidamente geridas
e utilizadas. A NASA teve que adquirir e organizar recursos sem precedentes para
realizar a tarefa. Tanto do ponto de vista político como tecnológico, a gestão era
crítica. Depois de sete anos após a decisão de iniciar o projeto Apollo, em outubro
de 1968 os diretores da NASA foram a Washington para renegociar recursos para
atender aos requisitos do projeto. Pode-se dizer que o gerenciamento de sistemas
do programa foi fundamental para o sucesso da Apollo. Compreender a gestão de
estruturas complexas para a conclusão bem sucedida de uma tarefa multifacetada
foi uma consequência fundamental nesse caso. Em terceiro lugar, o Projeto Apollo
forçou os povos do mundo a enxergar o planeta com outros olhos. A Apollo 8 foi
fundamental para essa mudança, uma vez que trouxe ao mundo as primeiras fotos
da Terra vista de longe. O movimento ambientalista moderno foi galvanizado em
parte por essa nova percepção do planeta, surgindo a necessidade de protegê-lo e
dar suporte à vida.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Sites
Acervo fotográfico do projeto Apollo está disponível online
Acervo com mais de 8.000 fotos disponibilizadas pela NASA acerca do projeto
Apollo: REVISTA GALILEU. Acervo fotográfico do projeto Apollo está disponível
online. Acesso em: 26 jul. 2016.
http://goo.gl/mbpG8D
Project Apollo Archive
Fotos do projeto Apollo: FLICKER. Project Apollo archive. Acesso em: 26 jul. 2016.
https://goo.gl/dpXWcd
Nasa disponibiliza na Internet todas as fotos do homem na Lua
Vídeo com fotos do projeto Apollo disponibilizado pela NASA: EL PAÍS. Nasa dis-
ponibiliza na Internet todas as fotos do homem na Lua. Acesso em: 26 jul. 2016.
http://goo.gl/8bPIMa
About Project Mercury
O programa Mercury : NASA. About Project Mercury. Acesso em: 26 jul. 2016.
https://goo.gl/BfOtSi
What Was the Gemini Program?
O programa Gemini: NASA. What was the Gemini Program? Acesso em: 26 jul. 2016.
http://goo.gl/3qDxj1
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Referências
AIR AND SPACE. The Apollo program. Disponível em: <https://airandspace.
si.edu/explore-and-learn/topics/apollo/apollo-program/>. Acesso em: 26 jul. 2016.
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