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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL-REI

CAMPUS ALTO PARAOPEBA

DEYSIANE ANTUNES BARROSO DAMASCENO


ISABELA CARVALHO PINHEIRO

PROJETO DE CAPTAÇÃO DE ÁGUA DE CHUVA NO


LABORATÓRIO DE ENGENHARIA CIVIL DO CAMPUS
ALTO PARAOPEBA – UFSJ

OURO BRANCO - MG
DEZEMBRO-2015
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL-REI
CAMPUS ALTO PARAOPEBA

DEYSIANE ANTUNES BARROSO DAMASCENO


ISABELA CARVALHO PINHEIRO

PROJETO DE CAPTAÇÃO DE ÁGUA DE CHUVA NO


LABORATÓRIO DE ENGENHARIA CIVIL DO CAMPUS
ALTO PARAOPEBA – UFSJ

Monografia apresentada à Coordenação do Curso de


Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal
de São João del-Rei, como requisito parcial para a
obtenção do grau de Bacharel em Engenharia Civil.

Orientador: Profº. Me Emmanuel


Kennedy da Costa Teixeira

OURO BRANCO - MG
DEZEMBRO-2015
DEYSIANE ANTUNES BARROSO DAMASCENO
ISABELA CARVALHO PINHEIRO

PROJETO DE CAPTAÇÃO DE ÁGUA DE CHUVA NO LABORATÓRIO DE


ENGENHARIA CIVIL DO CAMPUS ALTO PARAOPEBA – UFSJ

Este trabalho foi julgado adequado para a obtenção do grau de BACHAREL EM


ENGENHARIA CIVIL e aprovado em sua forma final pelo orientador e pelo coordenador de
TCC do curso de Engenharia Civil da Universidade Federal de São João del-Rei.

A Banca Examinadora, composta pelos membros abaixo, aprovou este TCC:

____________________________________________________
Prof. Me. Emmanuel Kennedy da Costa Teixeira
Orientador - UFSJ

____________________________________________________
Prof. Drª Eliane Prado Cunha Costa dos Santos
Avaliador - UFSJ

____________________________________________________
Dr Elvis Márcio de Castro Lima
Avaliador – UFSJ

Ouro Branco-MG, 17/12/2015


SUMÁRIO
RESUMO ................................................................................................................................... 6

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 7

2. OBJETIVO ............................................................................................................................ 8

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ......................................................................................... 8

3.1. ÁGUAS PLUVIAIS COMO RECURSO HÍDRICO ..................................................... 8

3.2. QUALIDADE DAS ÁGUAS PLUVIAIS ...................................................................... 9

3.3. SISTEMA DE APROVEITAMENTO DE ÁGUA DE CHUVA ................................. 10

3.4. INTENSIDADE PLUVIOMÉTRICA .......................................................................... 11

3.5. ÁREA DE COLETA .................................................................................................... 11

3.6. COEFICIENTE DE DEFLÚVIO ................................................................................. 13

3.7. VAZÃO DE DIMENSIONAMENTO.......................................................................... 13

3.8. DIMENSIONAMENTO DAS CALHAS ..................................................................... 13

3.9. DIMENSIONAMENTO DOS CONDUTORES VERTICAIS E HORIZONTAIS ..... 15

3.10. DIMENSIONAMENTO DO RESERVATÓRIO ....................................................... 16

3.10.1. MÉTODO DE RIPPL ............................................................................................ 16

3.10.2. MÉTODO DA SIMULAÇÃO .............................................................................. 18

3.10.3. MÉTODO AZEVEDO NETO .............................................................................. 20

3.10.4. MÉTODO PRÁTICO ALEMÃO .......................................................................... 21

3.10.5. MÉTODO PRÁTICO INGLÊS ............................................................................. 21

3.10.6. MÉTODO PRÁTICO AUSTRALIANO .............................................................. 22

3.10.7. COMPARAÇÃO ENTRE OS MÉTODOS .......................................................... 23

3.11. DIMENSIONAMENTO DO RESERVATÓRIO DE DESCARTE ........................... 24

3.11.1. SISTEMA TIPO TONEL ...................................................................................... 24

3.11.2. SEPARADOR DE FLUXO ................................................................................... 26

3.11.3. DISPOSITIVO COMERCIAL DE DESCARTE DE ÁGUA DE FIRST FLUSH26

3.11.4. RESERVATÓRIO DE AUTOLIMPEZA COM TORNEIRA DE BOIA ............ 26


3.11.5. RESERVATÓRIO DE DESCARTE UTILIZADO NA AUSTRÁLIA ................ 27

4. METODOLOGIA................................................................................................................. 28

4.1. LEVATAMENTO DE DADOS ................................................................................... 28

4.2. ÁREA DE CONTRIBUIÇÃO ...................................................................................... 29

4.3. INTENSIDADE MÉDIA LOCAL ............................................................................... 30

4.4. VAZÃO DE PROJETO ................................................................................................ 30

4.5. DIMENSIONAMENTO DE CALHAS E CONDUTORES ........................................ 30

4.6. CÁLCULO DO VOLUME DE RESERVAÇÃO E DO VOLUME DE DESCARTE 31

5. RESULTADOS .................................................................................................................... 31

5.1. ESTIMATIVA DO CONSUMO DE ÁGUA NOS SANITÁRIOS E NOS


DESTILADORES ................................................................................................................. 31

5.2. INTENSIDADE PLUVIOMÉTRICA .......................................................................... 32

5.3. ÁREA DE CONTRIBUIÇÃO ...................................................................................... 32

5.4. VAZÃO DE PROJETO ................................................................................................ 33

5.5. DIMENSIONAMENTO DAS CALHAS E CONDUTORES...................................... 33

5.6. DIMENSIONAMENTO DO RESERVATÓRIO ......................................................... 33

5.6.1. MÉTODO DE RIPPL .............................................................................................. 33

5.6.2 MÉTODO DA SIMULAÇÃO ................................................................................. 33

5.6.3. MÉTODO AZEVEDO NETO ................................................................................ 34

5.6.4. MÉTODO PRÁTICO ALEMÃO ............................................................................ 34

5.6.5. MÉTODO PRÁTICO INGLÊS ............................................................................... 35

5.6.6. MÉTODO PRÁTICO AUSTRALIANO ................................................................ 36

5.7. DIMENSIONAMENTO DO RESERVATÓRIO DE DESCARTE .......................... 37

5.8. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ......................................................................... 37

6. CONCLUSÃO ..................................................................................................................... 40

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 41


RESUMO
A utilização de água da chuva tem sido uma prática muito utilizada para diferentes fins, como
diminuir o número de enchentes em determinados lugares, minimizar os gastos financeiros,
abastecer regiões que sofrem com falta de água e, principalmente, diminuir o uso de água
potável para fins menos nobres. Diante desses fatores, esse trabalho tem como finalidade
dimensionar um sistema de captação de água da chuva para utilização no laboratório de
Engenharia Civil do Campus Alto Paraopeba da Universidade Federal de São João Del-Rei,
visto que este tem um grande consumo de água potável, principalmente para produção de
água destilada. Inicialmente foi realizado um estudo bibliográfico para adquirir
conhecimentos básicos relacionados ao projeto. Posteriormente foi calculada a intensidade
média da chuva da região. Determinou-se a precipitação média mensal da cidade. Em seguida,
determinou-se a área de contribuição do telhado e calcularam-se as calhas, condutores
verticais e horizontais e foi feito o dimensionamento do reservatório pelos métodos de Rippl,
da Simulação, de Azevedo Neto, Prático Inglês, Prático Alemão e Prático Australiano. Foi
também dimensionado o reservatório de descarte de primeira água. No fim, compararam-se os
métodos de dimensionamento dos reservatórios de armazenamento, apresentando a dimensão
do reservatório mais viável para implantação do projeto bem como o tipo de reservatório de
descarte mais adequado para a edificação. O projeto mostrou-se tecnicamente viável devido
ao grande volume de chuva da região e também pela economia de água potável que ele
proporciona.

6
1. INTRODUÇÃO

Á água é um recurso finito de vital importância para os todos seres vivos. Além de garantir a
vida, a água também exerce grande relevância em vários outros setores, desde atividades
agrícolas até atividades industriais, definindo valores culturais e sociais de diferentes regiões.

Cerca de 2/3 da superfície do planeta Terra são ocupados pelos oceanos. O volume total de
água na Terra é estimado em torno de 1,35 milhões de quilômetros cúbicos, sendo que 97,5%
deste volume é de água salgada, encontrada em mares e oceanos. Já 2,5% é de água doce,
porém localizada em regiões de difícil acesso, como aquíferos (águas subterrâneas) e geleiras.
Apenas 0,007% da água doce se encontra em locais de fácil acesso para o consumo humano,
como lagos, rios e na atmosfera (UNIÁGUA, 2006 apud MARINOSKI, 2007).

O Brasil é um dos países que possui o maior volume acumulado de água, porém esse valor
encontra-se mal distribuído. As regiões brasileiras com maior concentração da população
apresentam menor disponibilidade de água, a exemplo as regiões Sudeste e Nordeste. Ao
contrário do que acontece nas regiões citadas anteriormente, a região Norte que conta com um
menor número de pessoas, é a que tem disponível a maior parte dos recursos hídricos
encontroados no Brasil.

O desejo de alcançar a ideia de desenvolvimento sustentável e a necessidade de garantir que


as futuras gerações tenham acesso aos recursos hídricos em conjunto com a dificuldade de
acesso a esses recursos em certas regiões, faz com que a população em geral busque
alternativas para diminuir o uso de água potável, principalmente para usos menos nobres. E a
utilização da água da chuva tem se tornado uma ótima alternativa principalmente para o
Brasil, pois este conta com um relevante volume de chuva anual.

Em relação ao Laboratório de Engenharia Civil do Campus Alto Paraopeba da Universidade


Federal de São João del-Rei, o uso de água potável para fins menos nobres, como uso em
destiladores e bacias sanitárias, tem como consequência o consumo de um volume elevado de
água tratada. Sendo que para uso em destiladores uma significante porcentagem dessa água é
descartada. Então, a prática de captação de água da chuva pode ser uma excelente alternativa
para que o consumo e desperdício de água potável seja minimizado.

7
2. OBJETIVO

Este trabalho tem como objetivo principal dimensionar um sistema de captação e


aproveitamento da água de chuva no Laboratório de Engenharia Civil localizado na
Universidade Federal de São João Del Rei – Campus Alto Paraopeba, com os seguintes
objetivos específicos:

 Dimensionar as calhas, condutos verticais e horizontais;


 Dimensionar o reservatório de armazenamento pelos métodos de Rippl, da Simulação,
de Azevedo Neto, Prático Alemão, Prático Inglês e Prático Australiano e compará-los;
 Dimensionar o reservatório de descarte.

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1. ÁGUAS PLUVIAIS COMO RECURSO HÍDRICO

Fontes alternativas de abastecimento de água têm sido cada vez mais difundidas pelo mundo
na tentativa de suprir a demanda deste bem, uma vez que a escassez deste recurso associada à
ineficácia dos sistemas de tratamento de água e esgoto e a crescente poluição que atinge em
larga escala a qualidade dos mananciais tornam cada vez mais difícil e oneroso a obtenção de
água por métodos convencionais (GONÇALVES et al., 2006).

O aproveitamento de águas de chuvas para consumo é uma prática antiga realizada por várias
civilizações passadas, possuindo relatos de sistemas de coleta e armazenamento de águas
pluviais no Oriente Médio, Europa e pelos Incas, Maias e Astecas na América Latina, há
cerca de 2000 anos. Com o passar do tempo e com o aparecimento de novas técnicas de
obtenção de água, este método foi deixando de ser praticado (GONÇALVES et al., 2006).

Atualmente, no Brasil, a utilização de técnicas que utilizam águas de chuvas não tem
acompanhado o crescimento do país, assim como não tem se desenvolvido na mesma
proporção que surgem os problemas com escassez de água (GONÇALVES et al., 2006). Os
deflúvios superficiais provenientes de águas de chuvas representam fontes alternativas de
água para consumos menos exigentes, além de se caracterizarem como alternativa
socioambiental e economicamente viável (RIGHETTO et al., 2009).

8
3.2. QUALIDADE DAS ÁGUAS PLUVIAIS
Vários fatores influenciam na qualidade das águas de chuvas. O posicionamento geográfico, o
clima, a presença de indústrias na região, o índice de poluição etc., são fatores que estão
intimamente ligados à qualidade das águas pluviais. Quando há a precipitação, a chuva limpa
a atmosfera incorporando suas impurezas, o que reduz sua qualidade. Outra forma de
contaminação das águas de chuvas é na própria superfície que a coleta. Os materiais destas
superfícies não devem conter impurezas que interfiram na qualidade da água, assim como
devem preferencialmente não reter sujeiras. Os reservatórios de armazenamento destas águas
devem também ser projetados de forma a não contaminar a água. Uma medida para garantir a
eliminação de impurezas incorporadas na captação e reservação é eliminar o primeiro
milímetro de água captada (GONÇALVES et al., 2006).

Tabela 1 – Parâmetros de qualidade de água da chuva para usos restritivo não potáveis

Parâmetro Análise Valor


Coliformes Totais Semestral Ausência em 100 ml
Coliformes Termotolerantes Semestral Ausência em 100 ml
Cloro Residual Livre a Mensal 0,5 a 3,0 mg/L
< 0,2 uT b, para usos
Turbidez Mensal
menos restritivos < 5 uT

Cor aparente (caso não seja utilizado


nenhum corante, ou antes da sua Mensal < 15 uH c
utilização)

Deve prever ajuste de pH para proteção pH de 6,0 a 8,0 no caso


das redes de distribuição, caso Mensal de tubulação de aço
necessário carbono ou galvanizado.

Nota: Podem ser usados outros processos de desinfecção além do cloro, como a aplicação de
raio ultravioleta e aplicação de ozônio.
a
No caso de serem utilizados compostos de cloro para a desinfecção
b
uT é a unidade de turbidez
c
uH é a unidade Hazen
Fonte: NBR 15527, ABNT 2007.

O padrão de qualidade da água é função do uso a que esta se destina. De maneira geral, estas
águas são destinadas a fins não potáveis como: rega de jardins, lavagem de roupas e pisos,
descargas sanitárias etc. Quando as águas pluviais se destinam a outros fins, como o consumo

9
direto humano, é necessário que ela passe por um processo de desinfecção (GONÇALVES et
al., 2006).

A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), em sua Norma Brasileira


Regulamentadora (NBR) 15527/2007, estabelece os parâmetros de qualidade de água de
chuva para usos restritivos não potáveis, como mostrado na Tabela 1.

3.3. SISTEMA DE APROVEITAMENTO DE ÁGUA DE CHUVA

Convencionalmente, as instalações de águas pluviais têm por objetivo coletar as águas de


chuvas vindas de superfícies impermeabilizadas e conduzi-las a rede pública de drenagem
pluvial. Porém, com a implantação de sistemas de aproveitamento de águas de chuvas, estas
não são mais direcionadas a rede pública de coleta, mas sim a dispositivos que as retêm e
posteriormente as distribui para o consumo não potável (BAPTISTA e LARA, 2010).

A configuração básica de um sistema de aproveitamento de água de chuva constitui de


superfície de captação, dos dispositivos de condução, eventualmente de unidades de filtração
e tratamento – a depender do fim a que se destina a água e da qualidade da mesma – e, por
fim, do elemento de acumulação. Há casos ainda que é necessário sistema de recalque, o que
acontece quando não existe a possibilidade da condução da água ser feita por gravidade até o
reservatório ou não há pressões mínimas necessária para sua distribuição. Sendo assim, nestes
casos, geralmente usam-se dois reservatórios, sendo um inferior e outro superior, e a unidade
de recalque (SANTOS, 2002).

Segundo Couto (2012), para se projetar um sistema de aproveitamento de águas de chuvas


existe uma metodologia básica, algumas das etapas são as seguintes:

 Determinação da precipitação média local (mm/mês);

 Determinação da área de coleta;

 Determinação do coeficiente de escoamento superficial;

 Projeto do reservatório de descarte;

 Projeto do reservatório de armazenamento;

 Identificação dos usos da água (demanda e qualidade).

10
3.4. INTENSIDADE PLUVIOMÉTRICA

A intensidade pluviométrica (I) é a razão entre a altura pluviométrica precipitada e a duração


da precipitação. O dimensionamento dos componentes de um sistema de aproveitamentos de
águas pluviais depende de análises estatísticas de chuvas mais intensas registradas na região
ao longo do tempo, as quais permitem relacionar intensidade, duração e frequência das chuvas
(BAPTISTA e LARA, 2010). Um parâmetro importante para a determinação da intensidade
pluviométrica é o período de retorno (T), que corresponde ao intervalo de tempo que a
intensidade de determinada chuva leva para ser superada ou igualada. A NBR 10844/1989
estabelece:

 T = 1 ano, para áreas pavimentadas, onde empoçamentos possam ser tolerados;

 T = 5 anos, para coberturas e/ou terraços;

 T = 25 anos, para coberturas e áreas onde empoçamento ou extravasamento não possa ser
tolerado.

Outro parâmetro fundamental para se determinar a intensidade pluviométrica de determinada


região é o tempo de duração da chuva (t), que segundo a NBR 10844/1989 deve ser fixado em
5 minutos para o dimensionamento de sistemas de coleta de águas de chuvas.

Por fim, a equação que relaciona intensidade, duração e frequência da chuva para diferentes
localidades é dada na Equação 1;

kTm
I = (t+t n
Equação 1
0)

Onde os parâmetros K, m, n e t0 variam de acordo com a localidade e podem ser obtidos pelas
estações pluviométricas que monitoram as ocorrências de chuvas. A NBR 10844/1989
ressalta que para construções até 100 m² de área de projeção horizontal, salvo casos especiais,
pode-se adotar I igual a 150mm/h.

3.5. ÁREA DE COLETA

A área de contribuição (A) é definida como a área plana onde a chuva incide. Deve-se também
considerar a inclinação da cobertura e caso existam paredes e platibandas que também
interceptam a chuva, estas devem ser consideradas.

11
O cálculo destas áreas pode ser feito conforme a NBR 10844/1989 de acordo com o tipo de
cobertura, como indica a Figura 1.

Figura 1 – Áreas de contribuição para cálculo de vazão nas calhas, coletores e condutores
verticais.

Fonte: NBR 10844 (1989, apud Baptista e Lara, 2010).

12
3.6. COEFICIENTE DE DEFLÚVIO

Nem todo volume de água que incide na área de coleta pode ser captado, parcela da água
precipitada infiltra, evapora e/ou fica retida na superfície de coleta. O grau de
impermeabilização desta superfície pode ser obtido pelo coeficiente de deflúvio (C), também
conhecido como coeficiente de Runoff, que é a relação entre a vazão que escoa na superfície e
a vazão precipitada. A Tabela 2 fornece alguns coeficientes de deflúvio (BAPTISTA e
LARA, 2010).

Tabela 2 – Coeficiente de Runoff


Característica da superfície Coeficiente de deflúvio - C
Telhados 0,75 a 1,00
Pavimentação asfáltica 0,70 a 0,95
Pavimentação com paralelepípedo 0,70 a 0,85
Pavimentação em concreto 0,80 a 0,95
Gramados - terrenos arenosos 0,05 a 0,20
Gramados - terrenos argilosos 0,13 a 0,35
Fonte: Baptista e Lara, 2010.

3.7. VAZÃO DE DIMENSIONAMENTO

A vazão de água pluvial que será coletada é o produto da intensidade pluviométrica,


coeficiente de deflúvio e área de coleta, e pode ser calculada pela Equação 2.

CIA
Q= 60
Equação 2

Onde:

Q é a vazão de projeto, em L/min;

C é o coeficiente de deflúvio;

I é a intensidade da precipitação, em mm/h;

A é a área de coleta, em m².

3.8. DIMENSIONAMENTO DAS CALHAS

As calhas são componentes responsáveis por receber a água coletada e encaminhá-la até o
reservatório de armazenamento. Elas funcionam em regime de escoamento livre, por isso
podem ser dimensionadas segundo a equação de Manning-Strickler, conforme também sugere

13
a NBR 10844/1989. As Calhas podem ser fabricadas em diversos materiais, como plástico,
fibrocimento, aço, metais não ferrosos, concreto, alvenaria etc., assim como em diversos
formatos, retangulares, semicirculares, trapezoidais etc. (BAPTISTA e LARA, 2010).

A NBR 10844/1989 sugere a Equação 3 para o dimensionamento das calhas.

10
𝐷3 5
𝜃𝐷 2/3
𝑄= 5 (𝜃 − 𝑠𝑒𝑛𝜃)3 √𝐼/( ) 𝑛 Equação 3
2
83

Onde:

Q é vazão de projeto, em m³/s;

2𝑦
𝜃 = 2 cos −1(1 − ) , em rad;
𝐷

𝑌
= 66%, lâmina d’água;
𝐷

D é o diâmetro da calha, em m;

n é o coeficiente de rugosidadede Manning;

i é a declividade da calha, em m/m.

O coeficiente de rugosidade de Manning varia de acordo com o material da calha, conforme


indica a Tabela 3.

Tabela 3 – Coeficientes de rugosidade


Material n
Plástico, fibrocimento, aço, metais não ferrosos 0,011
Ferro fundido, concreto alisado, alvenaria
0,012
revestida
Cerâmica, concreto não-alisado 0,013

Alvenaria de tijolos não-revestida 0,015


Fonte: NBR 10844 (ABNT, 1989).

A NBR 10844/1989 sugere que a inclinação das calhas de beiral e platibanda deve ser
uniforme, com valor mínimo de 0,5%, e quando a saída da calha estiver a menos de 4 m de
uma mudança de direção, a vazão de projeto deve ser multiplicada pelos coeficientes
apresentados na Tabela 4.
14
Tabela 4 – Coeficientes multiplicativos da vazão de projeto
Curva a menos de Curva entre 2 e 4
Tipo de curva 2 m da saída da m da saída da
calha calha
Canto Reto 1,2 1,1
Canto
Arredondado 1,1 1,05
Fonte: NBR 10844 (ABNT 1989).

3.9. DIMENSIONAMENTO DOS CONDUTORES VERTICAIS E


HORIZONTAIS

O dimensionamento dos condutores verticais não se dá de forma direta, uma vez que seu
escoamento pode ser livre e/ou forçado, a depender das condições de entrada e saída da água
na canalização (BAPTISTA e LARA, 2010).

Por isso, a NBR 10844 sugere ábacos que permitem o dimensionamento destas tubulações
(Figura 2). Estes ábacos foram construídos para tubos rugosos e permitem seu
dimensionamento uma vez que sejam conhecidos:

 Vazão de dimensionamento (Q), em L/min;

 Altura da lâmina de água na calha (H), em mm;

 Comprimento do condutor vertical (L), em m.

Figura 2: Ábaco para determinação de diâmetros de condutores verticais

Fonte: NBR 10844 (ABNT, 1989).


15
A NBR 10844 recomenda que o diâmetro mínimo adotado seja de 70 mm, e que os
condutores sejam preferencialmente projetados em uma única prumada. Quando isto não é
possível, deve-se utilizar curvas de 45 ou 90º e projetar pontos de inspeção.

Condutores horizontais devem, assim como as calhas, serem projetados como condutos livres.
Deste modo seu dimensionamento também se dá pela Equação 3. Deve-se adotar uma
declividade mínima de 0,5% para estas tubulações e quando se tratar de tubos circulares a
lâmina de água não deve ultrapassar 2/3 do diâmetro adotado.

3.10. DIMENSIONAMENTO DO RESERVATÓRIO

Para o dimensionamento dos reservatórios deve-se levar em conta as séries históricas das
precipitações médias mensais, sendo recomendado séries que contenham dados de pelo menos
10 anos (TOMAZ, 2010).

Os reservatórios devem ser projetados como aqueles que armazenam água potável, levando-se
em conta todas as precauções no que se refere à preservação da qualidade da água. Os
reservatórios podem ser elevados, apoiados, semienterrados ou enterrados. Podem ser em
materiais como concreto, alvenaria armada, materiais plásticos como polietileno, PVC, fibra
de vidro e aço inox (TOMAZ, 2010).

A NBR 15527/2007 sugere alguns métodos de dimensionamento de reservatórios de


acumulação de água pluvial, os quais serão discutidos a seguir.

3.10.1. MÉTODO DE RIPPL

Este método também é conhecido como método do diagrama de massas, originalmente


desenvolvido para regularização de vazões de grandes reservatórios. Ele fornece volumes
elevados que garantem água tanto em períodos chuvosos como em períodos secos. Para
aplicação deste método é necessário o uso de séries históricas de precipitações médias
mensais ou diárias. Pode-se estimar o volume de reservatórios de demanda constante ou
variável. Este método permite que o volume seja determinado analiticamente ou através de
gráficos e tabelas (COUTO, 2012).

O volume pode ser calculado pelas Equações 4 a 6, que seguem:

S(t) = D(t) − Q(t) Equação 4

16
Q(t) = C × precipitação da chuva(t) × A Equação 5

V = ∑ S(t), somente para valores S(t) > 0 Equação 6


Sendo que:
∑ D(t) < ∑Q(t)
Onde:

S(t) é o volume de água no reservatório no tempo t;

Q(t) é o volume de chuva aproveitável no tempo t;

D(t) é a demanda ou consumo no tempo t;

V é o volume do reservatório, (m³);

A é a área de captação;

C é o coeficiente de escoamento superficial.

É possível também utilizar da Tabela 5 para estimar o volume do reservatório.

Para melhor visualização do método pode-se colocar os resultados na forma de gráfico, como
a Figura 3 mostra. A curva em azul representa a variação do volume de água disponível,
enquanto que a curva rosa cheia representa a demanda. A distância entre as duas linhas
paralelas que tangenciam os pontos máximo e mínimo da curva azul fornece o volume que
deve ser reservado para garantir água no período de estiagem.

Figura 3: Esquema gráfico do Método de Rippl

Fonte: Couto, 2012.


17
As colunas presentes na Tabela 5 representam:

C1 é o período de tempo que vai de janeiro a dezembro;

C2 é a chuva média mensal, em mm;

C3 é a demanda mensal que foi imposta de acordo com as necessidades. A demanda também
pode ser denominada de consumo mensal, em m³;

C4 é a área de captação da água de chuva que é suposta constante durante o ano. A área de
captação é a projeção do telhado sobre o terreno, em m²;

C5 é o volume mensal disponível da água de chuva, em m³;

C6 é a diferença entre os volumes da demanda e os volumes de chuva mensais. É na prática a


C3 menos a C5. O sinal negativo indica que há excesso de água e o sinal positivo indica que o
volume de demanda, nos meses correspondentes, supera o volume de água disponível;

C7 é a soma acumulada dos valores positivos de C6. Deve-se parar a soma quando aparecer o
primeiro número negativo e retomá-la no próximo valor positivo que aparecer.

C8 é preenchida usando as letras E, D e S, sendo: E a água escoando pelo extravasor; D o


nível de água baixando e S o nível de água subindo.

Tabela 5 – Planilha para cálculo do método de Rippl


Diferença
Chuva Demanda Volume Demanda acumulada
Área de
média constante de chuva volume de de C6 dos
Meses captação OBS
mensal mensal mensal chuva valores
(m²)
(mm) (m³) (m³) (C3-C5) positivos
(m³)

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Total
Fonte: Tomaz, 2007.

3.10.2. MÉTODO DA SIMULAÇÃO

Neste método arbitra-se um volume e verifica-se o que acontece com a água que vai sobrar
(overflow) e com a água que vai faltar (suprimento do serviço público). Varia-se o volume
arbitrado do reservatório de forma a atender o interesse do construtor, caso não se deseja usar
18
água de fonte externa, devem-se aumentar as dimensões do reservatório, caso contrário,
diminui-se o reservatório, mas cria-se a necessidade do uso de suprimento nos períodos de
seca (COUTO, 2012).

O volume pode ser determinado pelas Equações 7 e 8.

S(t) = Q(t) +S(t-1) -D(t) Equação 7

Q(t) = C x precipitação da chuva (t) x A Equação 8

Sendo que:

0 ≤ S(t) ≤ V

Onde:

S(t) é o volume de água no reservatório no tempo t;

S(t-1) é o volume de água no reservatório no tempo t-1;

Q(t) é o volume de chuva no tempo t;

D(t) é o consumo ou demanda no tempo t;

V é o volume do reservatório fixado;

A é a área de captação;

C é o coeficiente de escoamento superficial.

Nunes (2008) sugere a Tabela 6 como exemplo de aplicação da análise de simulação do


reservatório.

Onde:

C1é os meses do ano de janeiro a dezembro;

C2 é as chuvas médias mensais;

C3 é o consumo mensal de água não potável;

C4 é área de captação da chuva que é a área de todo o telhado disponível;

19
C5 é o volume de água de chuva que é obtido da seguinte maneira: C5 = C2 x C4 x 1 / 1000
para obter o resultado, em m³;

C6 é o volume do reservatório, o qual é fixado. O volume para este tipo de problema é


arbitrado e depois verificado o overflow e a reposição de água, até se escolher um volume
adequado;

C7 é o volume do reservatório no início da contagem do tempo. Supondo que no início do ano


o reservatório esteja vazio e que, portanto, a primeira linha da C7 referente ao mês de janeiro
será igual a zero.

C8 é o volume do reservatório no fim do mês. Assim, o volume no mês de janeiro refere-se ao


volume do reservatório no último dia de janeiro. O reservatório é considerado cheio pois o
volume de chuva precipitado é maior que o volume demando. A C8 pode resultar em número
negativo. Entendidos valores negativos devem ser entendidos como água necessária para
reposição. Aparecerá o mesmo valor com sinal positivo na coluna 10;

C9 é o overflow, isto é, quando a água pluvial fica sobrando e é descartada.

C10 é a reposição da água, que pode vir do serviço público de abastecimento ou de caminhão
tanque ou de outra procedência.

Tabela 6 – Planilha para o cálculo do método da simulação


Volume Volume do
Chuva Demanda Volume do
Área de de Volume do reservatório Suprimento
média constante reservatório Overflow
captação chuva reservatório no tempo t de água
Meses mensal mensal no tempo t- (m³)
(m²) mensal fixado (m³) externo
(mm) (m³) 1
(m³)

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8 C9 C10

Total
Fonte: Tomaz, 2007.

3.10.3. MÉTODO AZEVEDO NETO

Também conhecido como Método Prático Brasileiro, este método utiliza uma série de
precipitação anual relacionando-a com a quantidade de meses com pouca chuva ou seca.

20
O volume do reservatório é ideal quando for cerca de 4,2% do produto entre o volume de
chuva coletada, área do telhado e número de meses de pouca chuva (COUTO, 2012). O
volume pode ser obtido pela Equação 9.

V = 0,042 × P × A × T Equação 9

Onde:

P é a precipitação média anual, em mm;

T é o número de meses de pouca chuva ou seca;

A é a área de captação, em m²;

V = volume de água aproveitável que será o volume de água do reservatório, em L.

3.10.4. MÉTODO PRÁTICO ALEMÃO

Trata-se de um método empírico onde se toma o menor valor do volume do reservatório. O


volume adotado será igual a 6% do volume anual de consumo ou 6% do volume anual de
precipitação aproveitável, como sugere a Equação 10.

Vadotado = min (V; D)× 0,06 Equação 10

Sendo:

V é o volume aproveitável de água de chuva anual, em L;

D é a demanda anual da água não potável, em L;

Vadotado é o volume de água do reservatório, em L.

3.10.5. MÉTODO PRÁTICO INGLÊS

Segundo Fontanela et al (2012 apud COUTO, 2012) este método considera apenas a
precipitação média anual e a área de coleta, sem levar em consideração variáveis como
demanda, impermeabilização etc. O volume de chuva é obtido através da Equação 11.

V = 0,05 × P × A Equação 11

Onde:

P é a precipitação média anual, em mm;


21
A é a área de coleta, em m²;

V é o volume de água aproveitável, o qual é o volume de água do reservatório, em L.

3.10.6. MÉTODO PRÁTICO AUSTRALIANO

Este método utiliza séries históricas mensais de precipitação. O cálculo faz uma análise entre
a chuva total do mês e a demanda mensal. Faz-se estimativas de valores do volume do
reservatório até que o volume adotado reserve água suficiente para suprir a demanda nos
meses de estiagem. Para verificar se o volume do reservatório é o ideal, recomenda-se fazer o
cálculo da confiança dos valores.

O volume de chuva é obtido pela Equação 12.

Q = A × C × (P – I) Equação 12

Onde:

C é o coeficiente de escoamento superficial, C = 1;

P é a precipitação média mensal, em mm;

I é a interceptação da água que molha as superfícies e perdas por evaporação, I = 2 mm


(recomendado);

A é a área de coleta, em m²;

Q é o volume mensal produzindo pela chuva, em m³.

O cálculo do volume do reservatório é realizado por tentativas, até que sejam utilizados
valores otimizados de confiança e volume do reservatório é dado ela Equação 13.

V(t) = V(t−1) + Q(t) − D(t) Equação 13

Onde:

Q(t) é o volume mensal produzido pela chuva no mês t;

V(t) é o volume de água disponível no fim do mês t, em m³;

V(t-1) é o volume de água disponível no início do mês t, em m³;

22
D(t) é a demanda mensal, em m³;

Nunes (2008) sugere a Tabela 7 como exemplo de aplicação da análise de simulação do


reservatório e ainda ressalta que para o primeiro mês deve-se considerar o reservatório vazio.
Quando (V(t-1) + Q(t) – D(t)) < 0, então o V(t) = 0. Isto é, quando o volume do reservatório
no início do mês mais o volume de chuva deste mês menos a demanda for inferior a zero,
deve-se adotar o volume do reservatório no final do mês igual a zero. O volume do tanque
escolhido será em m³.

Tabela 7 – Planilha para cálculo do Método Australiano


Chuva Volume Demanda
Área de
Média Interceptação de Chuva Constante V(t)
Mês Captação Runoff C
Mensal (mm) Mensal Mensal m³
(m²)
(mm) (m³) (m³)
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8

Total
Fonte: Tomaz, 2007.
O cálculo da confiança é feito através da Equação 14, onde PR é a falha dada pela Equação 15.

Confiança = 1− PR Equação 14

NR
𝑃𝑅 = Equação 15
N

Sendo:

PR é a falha;

NR é o número de meses em que o reservatório não atendeu a demanda, isto é, quando V(t) =
0;

N = número de meses considerado, geralmente 12 meses;

Recomenda-se que os valores de confiança estejam entre 90% a 99%.

3.10.7. COMPARAÇÃO ENTRE OS MÉTODOS

Segundo Amorim e Pereira (2008), o método de Azevedo Neto e o Método Prático Inglês
fornecem valores de volumes elevados, quando comparados aos volumes obtidos pelos

23
Métodos Práticos Alemão e Australiano, os quais fornecem valores bem menores. Logo,
conclui-se que os dois primeiros podem ser aplicados para casos em que se deseja armazenar
água pluvial para suprir a demanda, para o maior período de tempo possível, principalmente
em regiões onde ocorre grandes períodos de estiagem durante o ano. Já os dois últimos são
mais indicados quando se deseja diminuir o volume do reservatório, reduzindo então, os
custos de implantação do sistema. Nesse caso, devem existir fontes alternativas de
abastecimento de água para os períodos em que o reservatório não supre a demanda.

No método de Rippl, o volume do reservatório varia bastante, em função principalmente do


modo de utilização dos índices pluviométricos. O Método de Análise de Simulação é bastante
interessante nos casos em que se deseja analisar também a variação do volume do reservatório
ao longo dos anos. Assim, pode-se realizar a simulação dos volumes de reservatórios até que
se chegue à eficiência desejada para o sistema de acordo com o fim que se deseja para aquela
água.

Em suma, os métodos práticos, por serem menos complexos e de fácil aplicação, são mais
indicados em residências unifamiliares ou em pequenos estabelecimentos, enquanto os
métodos mais complexos, como o Método de Rippl e o Método de Análise de Simulação são
mais indicados para projetos maiores.

3.11. DIMENSIONAMENTO DO RESERVATÓRIO DE DESCARTE

Vários estudos sugerem que a primeira água de chuva que cai sobre a superfície de coleta é a
mais poluída, uma vez que ela limpa a superfície, a qual contém folhas, poeira etc. É
recomendado então, que se descarte certo volume de água antes que se comece o
armazenamento de fato. Tomaz (2010) ressalta que o first flush, que é o primeiro volume de
chuva que será descartado, varia de 0,4 L/m2 de telhado a 8 L/m2 de telhado, conforme o
local, e que na falta de dados locais sugere-se o uso do first flush no valor de 2 L/m2 de área
de telhado.

Existem vários métodos, automatizados ou manuais, para descarte desta primeira água. Couto
(2012) sugere alguns, como discutido a seguir.

3.11.1. SISTEMA TIPO TONEL

O sistema do tipo tonel funciona do seguinte modo: a água do telhado é recolhida pela calha,
conduzida pelo tubo de queda até um reservatório do tipo “tonel” com uma capacidade fixa,
24
dependente da área de captação. Este deve ser provido de um pequeno orifício na parede
inferior, com cerca de 0,5 cm de diâmetro, conforme a Figura 4.

Figura 4: Reservatório de água da chuva com reservatório para rejeição de água de limpeza
do telhado do tipo “tonel”

Fonte: May, 2004.

Uma maneira para dimensionar a caixa de autolimpeza, isto é, que o mecanismo de descarte
seja feito automaticamente, é imaginar que ela terá volume igual ao do first flush e que o seu
esvaziamento seja feito em 10 minutos, aproximadamente.

O valor de esvaziamento de 10 minutos foi tomado empiricamente, pois este é o tempo


aproximado que leva para a água ficar limpa. Usa-se a equação do orifício de descarga livre,
pequeno e parede delgada (Equação 16) onde:

Q = Cd A√2gh Equação 16

Q é a vazão de descarga, em m³/s;

g é a aceleração da gravidade, aproximadamente igual a 9,81m/s²;

h é a altura de água sobre o centro de gravidade do orifício, em m;

A é a área da seção transversal do orifício, em m²;

𝐶𝑑 é o coeficiente de descarga do orifício, aproximadamente igual a 0,62 (adimensional);

25
O volume do reservatório de descarte é encontrado pela relação de vazão sobre o tempo de 10
minutos adotados.

3.11.2. SEPARADOR DE FLUXO

Trata-se de um sistema que veda e desvia automaticamente o fluxo de água limpa para o
reservatório. Uma válvula de descarte lento assegura que a câmara se esvazie depois da chuva
e reinicie automaticamente, conforme a Figura 5.

Figura 5: Separador de fluxo automático

Fonte: Couto, 2012.

3.11.3. DISPOSITIVO COMERCIAL DE DESCARTE DE ÁGUA DE FIRST FLUSH

Trata-se de um tubo vertical instalado no extremo montante da calha, antes do tubo de queda.
De um modo geral este tubo é em PVC, com diâmetro entre 150 a 200 mm, o qual no fundo
possui uma válvula e um orifício de limpeza. Muitos destes dispositivos de limpeza
prolongam-se desde a calha até o solo. Uma vez este tubo cheio, a água da chuva passa a fluir
para tubo de queda que a conduz ao reservatório de armazenamento conforme pode ser visto
na Figura 6.

3.11.4. RESERVATÓRIO DE AUTOLIMPEZA COM TORNEIRA DE BOIA

O descarte da água de limpeza do telhado pode ser feito com o auxílio de torneira de boia,
conforme Figura 7. Este tipo de reservatório necessita ser esvaziado após o período de chuva
para que o sistema possa voltar a descartar a água da chuva.

26
Figura 6: Dispositivo comercial de rejeição de água de limpeza do telhado

Fonte: Couto, 2012.

Figura 7: Reservatório de autolimpeza com torneira de boia

Fonte: May, 2004.

3.11.5. RESERVATÓRIO DE DESCARTE UTILIZADO NA AUSTRÁLIA

Na Austrália é utilizado um dispositivo também muito simples que se apresenta na Figura 8.


O seu funcionamento processa-se da seguinte forma: a água de limpeza do telhado é
conduzida através de um tubo vertical e armazenada num pequeno reservatório. Quando este
estiver cheio a água da chuva transborda por um tubo que a conduz para o reservatório de
armazenamento. O uso deste equipamento é aconselhável para pequenas superfícies de coleta.

27
Figura 8: Dispositivo de rejeição da água de limpeza do telhado utilizado na Austrália

Fonte: May, 2004.

A determinação do método varia conforme viabilidade econômica e volume de água a se


descartar. O dimensionamento do reservatório de descarte propriamente dito, pode ser feito
segundo a NBR 15527, que aconselha descarte de 2 mm da precipitação inicial, quando
faltam dados mais precisos.

4. METODOLOGIA
Para a elaboração desse projeto de aproveitamento da água de chuva no Laboratório de
Engenharia Civil do Campus Alto Paraopeba – UFSJ – foi desenvolvida uma metodologia
que engloba as seguintes etapas: Levantamento de dados pluviométricos da região onde está
localizado o laboratório; levantamento quantitativo do consumo de água não potável;
determinação da área da cobertura que contribuirá para a coleta; dimensionamento dos
condutores verticais, horizontais, calhas, reservatório de acumulação e de descarte da primeira
chuva.

4.1. LEVATAMENTO DE DADOS

Foi estabelecido que a água pluvial coletada será utilizada nos sanitários e também será usada
no processo de destilação. Os locais de utilização foram definidos de acordo com as
atividades que não sofreriam nenhuma alteração em seus resultados ao se utilizar água não
potável.

28
Não foi possível determinar exatamente qual era o consumo total para o Laboratório de
Engenharia Civil através de hidrômetros ou variação do nível do reservatório, pois estes
também são ligados ao Laboratório de Engenharia Química. A determinação do consumo foi
feita através de entrevistas com os técnicos, controle de dados dos equipamentos de destilação
e cálculos baseados na literatura para o consumo dos sanitários.

A precipitação média local foi obtida através do Jornal do Tempo do site UOL, onde se pôde
ter acesso às séries históricas de 1961 a 1990 para a região de Ouro Branco – MG, onde está
localizado o Campus Alto Paraopeba, como mostrado na Tabela 8.

Tabela 8: Precipitação média em Ouro Branco


Mês Precipitação (mm)
Janeiro 261,0
Fevereiro 184,5
Março 160,6
Abril 67,1
Maio 29,1
Junho 15,3
Julho 11,8
Agosto 12,3
Setembro 50,5
Outubro 130,2
Novembro 197,1
Dezembro 293,2
Fonte: Site Uol – Jornal O Tempo.

4.2. ÁREA DE CONTRIBUIÇÃO

A área da cobertura que contribuirá na coleta de água foi calculada através do levantamento
das dimensões e da inclinação do telhado, ambos obtidos através da planta de cobertura, a
qual consta no projeto arquitetônico do laboratório em questão (Figura 9) obtida com a
Empresa Júnior de Engenharia Civil – Ideal.

A área é então calculada através da Equação 17, para telhados de duas águas conforme NBR
10844/1989.


𝐴 = (𝑎 + 2) 𝑏 Equação 17

Onde os parâmetros a, h e b são conforme Figura 1.

29
Figura 9: Área de cobertura do telhado do Laboratório de Engenharia Civil, unidades em cm.

4.3. INTENSIDADE MÉDIA LOCAL

A intensidade média local foi calculada conforme Equação 1, onde os parâmetros k, a, b e c,


foram obtidos através do programa Plúvios.

4.4. VAZÃO DE PROJETO

De posse da intensidade pluviométrica local e da área de coleta, a vazão de projeto foi


calculada através da Equação 2.

4.5. DIMENSIONAMENTO DE CALHAS E CONDUTORES

O transporte de água da chuva se dá através de calhas, condutores verticais e horizontais e é


levada até os reservatórios. O dimensionamento desses dispositivos seguiu as orientações da
NBR 10844/1989. O dimensionamento foi feito conforme Equação 3, em função da vazão de
projeto.

Os condutores verticais e horizontais foram dimensionados de acordo com o descrito no item


3.4.6. Os condutores verticais são dimensionados de acordo com a norma através de ábacos e
os condutores horizontais são dimensionados como condutos livres pela Equação 3.

A disposição esquemática das calhas e condutores que levam as águas pluviais até o
reservatório pode ser vista na Figura 10.

30
Figura 10: Disposição das calhas e condutores, unidades em cm.

4.6. CÁLCULO DO VOLUME DE RESERVAÇÃO E DO VOLUME DE


DESCARTE

O volume de água que deverá ser descartado foi calculado segundo orientações da NBR
15527/2007, a qual recomenda que o descarte da primeira água seja de 2 mm da precipitação
inicial por metro quadrado de área do telhado contribuinte.

O dimensionamento do reservatório que acumulará a água coletada foi feito de acordo com os
seis métodos descritos no item 3.

5. RESULTADOS

5.1. ESTIMATIVA DO CONSUMO DE ÁGUA NOS SANITÁRIOS E NOS


DESTILADORES

O consumo de água nas bacias sanitárias foi estimado a partir do limite máximo de utilização
de água para limpeza de bacias sanitárias, determinado pelo Ministério do Interior através do
Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade no Habitat (PBQP-H), que estabelece 6
L/descarga, e pelo número estimado de descargas diárias no laboratório. Considerando o
número de pessoas que frequentam diariamente o Laboratório de Engenharia Civil, cerca 20

31
pessoas, e o número de vezes que cada uma utiliza os sanitários, em média 2 vezes por dia,
tem-se um total de 40 descargas por dia. Porém, o dimensionamento foi feito de maneira
conservadora considerando 50 descargas por dia, gerando uma vazão de 300 L/dia.

Já o consumo de água nos destiladores foi determinado através da medição da vazão do


destilador e do número de vezes que o destilador foi utilizado no intervalo de oito dias, entre
os dias 09/11/2015 e 16/11/2015, sendo que houve dias em que o destilador não foi utilizado.
Os resultados na Tabela 9 apresentam as informações para os dias que o destilador foi
utilizado.

Tabela 9 - Demanda de água em um destilador


Vazão do Tempo de Volume
Data Destilador Funcionamento Volume (L) Médio por Dia
(L/h) (h) (L/d)
09/11/2015 732,1 1,083 793,11
10/11/2015 732,1 1,650 1207,97
11/11/2015 732,1 2,250 1647,23
12/11/2015 0 0 0
654,35
13/11/2015 0 0 0
14/11/2015 0 0 0
15/11/2015 0 0 0
16/11/2015 732,1 2,167 1586,47

O consumo diário total foi então calculado considerando dois destiladores mais a vazão dos
sanitários, resultando em 1608,7 L/dia. Assim, o consumo mensal é de 48,26 m3.

5.2. INTENSIDADE PLUVIOMÉTRICA

A intensidade pluviométrica calculada para Ouro Branco é 146 mm/h. Essa intensidade foi
calculada utilizando os seguintes valores: k = 3359,569; a = 0,221; b = 25,101; e c = 1,026, os
quais foram obtidos através do programa Plúvios.

5.3. ÁREA DE CONTRIBUIÇÃO

A área de contribuição de 795,97 m² foi determinada pela Equação 17 e Figura 1, utilizando


os seguintes parâmetros:

32
a é igual a1355 cm, conforme projeto;

b é igual a 5490 cm, conforme projeto;

i é igual a 14%, conforme projeto;

ℎ = 𝑖𝑎 = 189,7 𝑐𝑚.

5.4. VAZÃO DE PROJETO


Com a intensidade pluviométrica, área de contribuição e o coeficiente de deflúvio, C = 1,
estabelecidos, a vazão de projeto de 1936,86 L/min pôde ser determinada pela Equação 2.

5.5. DIMENSIONAMENTO DAS CALHAS E CONDUTORES


O diâmetro das calhas foi determinado a partir da Equação 3, em função da vazão de projeto
de 1936,86L/min e declividade mínima de 0,5% pré-determinada, e coeficiente de rugosidade
de Manning igual a 0,011, conforme Tabela 3, obtendo-se o diâmetro de 180 mm, sendo o
diâmetro comercial adotado de 200 mm.

Os condutores verticais, em arestas vivas, foram dimensionados através de ábacos, como


citado em 3.4, em função da lâmina de água nas calhas de 112 mm, da vazão de projeto de
1936,86L/min e comprimento da tubulação de 6,48 m, obtendo-se o diâmetro mínimo de
91,72mm, sendo o diâmetro comercial adotado de 100mm.

5.6. DIMENSIONAMENTO DO RESERVATÓRIO

5.6.1. MÉTODO DE RIPPL

A Tabela 10 contém os resultados obtidos para o dimensionamento do reservatório de


armazenamento pelo método de Rippl.

Como apresentado na Tabela 10, de acordo com o método de Rippl, o volume mínimo que
deve ser adotado para que o reservatório armazene água suficiente para suprir a demanda dos
tempos de seca é de 146,58m³.

5.6.2 MÉTODO DA SIMULAÇÃO

O Método da Simulação permite que seja preestabelecido determinado volume para o


reservatório e seja analisada a variação do volume no seu interior. A Tabela 11 contém os
resultados obtidos para um reservatório de 50 m³.

33
5.6.3. MÉTODO AZEVEDO NETO

O volume do reservatório é obtido pela Equação 9 através dos seguintes parâmetros:

P é a precipitação média anual de 1412,7mm, obtido pela soma das precipitações médias
mensais da Tabela 8;

T é o número de meses de pouca chuva, adotado igual a 5;

A é a área de coleta de 795,97 m². Assim, o volume será 4,2% do produto dos parâmetros
acima. Portanto, o volume do reservatório será de 236,14m³.

Tabela 10- Dimensionamento do reservatório segundo Método de Rippl


Diferença
Chuva Demanda Volume Demanda acumulada
Área de
média constante de chuva volume de de C6 dos
Meses captação OBS
mensal mensal mensal chuva valores
(m²)
(mm) (m³) (m³) (C3-C5) positivos
(m³)
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Janeiro 261,0 48,26 795,97 207,75 -159,49 E
Fevereiro 184,5 48,26 795,97 146,86 -98,60 E
Março 160,6 48,26 795,97 127,83 -79,57 E
Abril 67,1 48,26 795,97 53,4 -5,14 E
Maio 29,1 48,26 795,97 23,16 25,1 D
Junho 15,3 48,26 795,97 12,18 36,08 61,18 D
Julho 11,8 48,26 795,97 9,39 38,87 100,05 D
Agosto 12,3 48,26 795,97 9,79 38,47 138,52 D
Setembro 50,5 48,26 795,97 40,20 8,06 146,58 D
Outubro 130,2 48,26 795,97 103,64 -84,82 S
Novembro 197,1 48,26 795,97 156,89 -138,07 E
Dezembro 293,2 48,26 795,97 233,38 -214,56 E
Total 1412,7 579,12 9551,64 13493,60 -633,67

5.6.4. MÉTODO PRÁTICO ALEMÃO

Obtido pela Equação 10, onde:


34
D é a demanda de água anual de 579120 l;

V é o volume de chuva anual de 1124470l;

O volume do reservatório será 6% do menor dos dois valores acima. Portanto, o volume do
reservatório será 34747,2 L, ou 34,7m³.

5.6.5. MÉTODO PRÁTICO INGLÊS

Obtido pela Equação 11, onde:

P é a precipitação média anual de 1412,7 mm;

A é a área de coleta de 795,97m².

O volume do reservatório será igual a 5% do produto da área de coleta e da precipitação


média anual. Portanto, o reservatório terá 56,22 m3.

Tabela 11- Dimensionamento do reservatório segundo Método da Simulação


Chuva Demanda Volume Volume do Volume do
Área de Volume do Suprimento
média constante de chuva reservatório reservatório Overflow
captação reservatório de água
Meses mensal mensal mensal no tempo t- no tempo t (m³)
(m²) fixado (m³) externo
(mm) (m³) (m³) 1
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8 C9 C10
Janeiro 261,0 48,26 795,97 207,75 50 0 50 109,49 0
Fevereiro 184,5 48,26 795,97 146,86 50 50 50 98,60 0
Março 160,6 48,26 795,97 127,83 50 50 50 79,57 0
Abril 67,1 48,26 795,97 53,4 50 50 50 5,14 0
Maio 29,1 48,26 795,97 23,16 50 50 24,9 0 0
Junho 15,3 48,26 795,97 12,18 50 24,9 -11,18 0 11,18
Julho 11,8 48,26 795,97 9,39 50 0 -38,87 0 38,87
Agosto 12,3 48,26 795,97 9,79 50 0 -38,47 0 38,47
Setembro 50,5 48,26 795,97 40,20 50 0 -8,06 0 8,06
Outubro 130,2 48,26 795,97 103,64 50 0 50 5,38 0
Novembro 197,1 48,26 795,97 156,89 50 50 50 108,63 0
Dezembro 293,2 48,26 795,97 233,38 50 50 50 185,12 0
Total 1412,7 579,12 - 13493,60 - - - - -

35
5.6.6. MÉTODO PRÁTICO AUSTRALIANO

Os resultados obtidos no dimensionamento do reservatório pelo Método Prático Australiano


podem ser vistos na Tabela 12.

Devido ao grande volume de chuvas durante os três primeiros meses do ano é possível captar
água suficiente para suprir a demanda dos meses de estiagem, como se pode ver na Tabela 12.
Através de tentativas e erros, estimou-se então um volume de reservatório capaz de armazenar
água suficiente para os meses de pouca chuva, sem que seja necessário usar de outra fonte de
suprimento. O volume adotado para este reservatório deve ser de no mínimo 29,87 m³ com
confiança de 100%, segundo Equações 15 e 16. Assim é possível garantir água suficiente para
suprir a demanda durante os meses de pouca chuva, como pode ser visto na Tabela 13.

Tabela 12- Dimensionamento do reservatório segundo método Australiano

Chuva Demanda
Área de Volume de
Média Interceptação Constante V(t)
Meses Captação Runoff C Chuva
Mensal (mm) Mensal m³
(m²) Mesal (m³)
(mm) (m³)

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8
Janeiro 261 795,97 1 2 206,16 48,26 0

Fevereiro 184,5 795,97 1 2 145,26 48,26 97,00


Março 160,6 795,97 1 2 126,24 48,26 174,99
Abril 67,1 795,97 1 2 51,82 48,26 178,54
Maio 29,1 795,97 1 2 21,57 48,26 151,85
Junho 15,3 795,97 1 2 10,59 48,26 114,18
Julho 11,8 795,97 1 2 7,80 48,26 73,72
Agosto 12,3 795,97 1 2 8,20 48,26 33,66
Setembro 50,5 795,97 1 2 38,60 48,26 24,00
Outubro 130,2 795,97 1 2 102,04 48,26 77,79
Novembro 197,1 795,97 1 2 155,29 48,26 184,82
Dezembro 293,2 795,97 1 2 231,79 48,26 368,35

36
5.7. DIMENSIONAMENTO DO RESERVATÓRIO DE DESCARTE

O reservatório de descarte foi dimensionado conforme item 3.11, onde é sugerido que o
volume de água a ser descartado deve ser 2L a cada metro quadrado da área de coleta,
gerando um volume de descarte de 1591,94 L.

Tabela 13- Dimensionamento do reservatório segundo método Australiano para volume do


reservatório de 154,57m³
Chuva Volume Demanda
Área de
Média Interceptação de Chuva Constante V(t-1) V(t)
Meses Captação Runoff C
Mensal (mm) Mesal Mensal (m³) (m³)
(m²)
(mm) (m³) (m³)
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8 C9
Janeiro 261 795,97 1 2 206,16 48,26 0 157,90
Fevereiro 184,5 795,97 1 2 145,26 48,26 154,54 251,54
Março 160,6 795,97 1 2 126,24 48,26 154,54 232,52
Abril 67,1 795,97 1 2 51,82 48,26 154,54 158,10
Maio 29,1 795,97 1 2 21,57 48,26 154,54 127,85
Junho 15,3 795,97 1 2 10,59 48,26 127,85 90,18
Julho 11,8 795,97 1 2 7,80 48,26 90,18 49,72
Agosto 12,3 795,97 1 2 8,20 48,26 49,72 9,66
Setembro 50,5 795,97 1 2 38,60 48,26 9,66 0,00
Outubro 130,2 795,97 1 2 102,04 48,26 0,00 53,78
Novembro 197,1 795,97 1 2 155,29 48,26 53,78 160,82
Dezembro 293,2 795,97 1 2 231,79 48,26 160,82 344,34

5.8. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS


Os resultados obtidos para o volume de chuva disponível, em função da área de coleta e
intensidade pluviométrica, levaram a valores de volumes suficientes para garantir a demanda
de água do edifício, podendo ou não fazer uso de suprimento extra de água potável. O que
determina o volume do reservatório, como visto anteriormente, é a finalidade do uso da água e
se é desejável usar outra fonte de suprimento de água nos meses de estiagem.

O Método de Rippl forneceu um volume de 146,58 m³, este volume significa o volume de
chuva que deve ser acumulado durante os períodos chuvosos para que se não falte água
durante os períodos de seca e não seja necessário o uso de suprimentos extras.
37
Já o Método da Simulação permite que se adote um volume do reservatório e se analise a
variação do seu volume. Foi estipulado, então, um volume próximo ao valor de demanda, de
50,00 m³. Tal volume se mostrou suficiente para abastecer a edificação durante a maioria dos
meses, exceto nos meses de junho a setembro, os quais precisariam de suprimento de água.

O Método de Azevedo Neto forneceu um valor elevado para o volume do reservatório, 236,14
m³, embora exagerado, este número é bastante coerente, pois este método não leva em
consideração variáveis como demanda, evaporação, descarte de água etc. Além disso, o
volume de chuva produzido anualmente é multiplicado pelo número de meses de seca,
majorando os cálculos.

O Método Alemão forneceu um volume para o reservatório de 34,70 m³, inferior ao volume
de demanda mensal. Desta forma, seria obrigatoriamente necessário o uso de suprimento de
água de outras fontes em todos os meses, por outro lado, as dimensões do reservatório seriam
diminuídas, reduzindo-se o custo de implantação do sistema.

Assim como o Método de Azevedo Neto, o Método Prático Inglês não leva em consideração
variáveis como demanda, evaporação, descarte de água etc., utilizando somente uma
porcentagem do produto entre a precipitação média anual e área de captação. Apesar disso, o
método forneceu um valor moderado para o volume do reservatório de 56,22 m³.

Por fim, o Método Australiano, assim como os métodos da Simulação e de Rippl, faz uso das
precipitações médias mensais e da demanda para o cálculo do volume do reservatório. Este
método, porém, leva em conta o coeficiente de deflúvio e perdas de água por evaporação. O
método permite analisar o volume de água disponível no fim de cada mês, podendo desta
forma, através de tentativas, estimar o volume ideal do reservatório, o qual armazenará água
suficiente para suprir a demanda nos meses de estiagem, ou se o projetista desejar, determinar
volume tal que se utilize um valor constante de suprimento extra. O volume mínimo
necessário para garantir água durante o período de estiagem sugerido pelo método foi de
154,57m³.

Logo, cada método se mostra mais eficaz a depender do interesse do construtor. Os métodos
de Rippl e Australiano são bastante similares em sua metodologia e forneceram valores
semelhantes. A variação entre eles se dá devido a algumas pequenas particularidades, como
variáveis que cada um leva em consideração em seus cálculos. Estes métodos são indicados
quando se deseja armazenar água suficiente para suprir os meses de estiagem. No caso da
38
região de Ouro Branco, não há períodos longos de seca, mas a demanda de água no
Laboratório de Engenharia Civil do Campus Alto Paraopeba – UFSJ é relativamente alta,
superando os volumes de chuva desse período, isso levou a valores elevados para o volume do
reservatório, consequentemente a dimensões exageradas do reservatório. Desta forma ambos
os métodos se mostram inviáveis no que se refere a custo de implantação do projeto.

Os métodos da Simulação e Prático Inglês forneceram resultados semelhantes para o volume


do reservatório. Apesar de mostrarem ser necessário suprimento de água durante alguns meses
o reservatório não teria dimensões exageradas, diminuindo custos de implantação.

O método de Azevedo Neto, por não levar em conta a demanda de água da edificação,
forneceu valor exageradamente alto para o volume do reservatório, mostrando inviabilidade
econômica no que diz respeito à implantação do projeto.

O Método Prático Alemão apresentou um volume coerente, embora menor que o volume de
água demandado. Este método é indicado quando se quer diminuir os custos com a
implantação do projeto, construção do reservatório, por exemplo, pois neste método as
dimensões do reservatório seriam menores. Por outro lado, é necessário o suprimento de água
de outras fontes durante todos os meses.

Embora os métodos tenham apresentado volumes distintos para o reservatório de acumulação,


quando estes valores são comparados a resultados obtidos por outros estudos eles mostram-se
bastante coerentes. No estudo realizado por Amorim e Pereira (2008) para o edifício AT6 do
Campus São Carlos da Universidade Federal de São Carlos, o valor do volume do
reservatório encontrado pelo método de Azevedo Neto foi o maior dentre os demais métodos
enquanto que o Método Prático Alemão forneceu um valor bem mais reduzido, sendo que o
volume fornecido pelo primeiro método foi cerca de cinco vezes maior que o volume
fornecido pelo último. Neste estudo o método de Azevedo Neto também forneceu o maior
valor de volume para o reservatório e quando comparado com o Método Prático Alemão
aquele foi aproximadamente 4,2 vezes maior que este último.

Ainda comparando os resultados deste trabalho com aqueles obtidos por Amorim e Pereira
(2008), pode-se ver que os volumes fornecidos pelos métodos de Rippl e Prático Australiano
são muito semelhantes, neste estudo a diferença entre eles foi 8m³ enquanto que para Amorim
e Pereira (2008) a diferença foi de 15m³.

39
Como discutido no item 3 deste trabalho, é necessário que se descarte a água de first flush. A
determinação do tipo de reservatório de descarte varia conforme viabilidade econômica e
volume de água a se descartar. Os métodos apresentados são, em sua maioria, de simples
aplicação, diferenciando-se por alguns serem de esvaziamento hidraulicamente automatizado
e outros por necessitarem de acionamento manual do esvaziamento. Alguns modelos como o
comercial, podem ser encontrados prontos para instalação, outros, porém, é necessário
projetá-los. Dentre os modelos apresentados aquele que se mostrou de mais simples instalação
e custo reduzido é o reservatório com torneira de boia, embora seja necessário o acionamento
manual para esvaziá-lo, o laboratório consta de pessoal disponível para tal.

6. CONCLUSÃO

O projeto de captação e aproveitamento de água de chuva no Laboratório de Engenharia Civil


mostra-se uma alternativa sustentável e tecnicamente viável, uma vez que há um elevado
consumo de água na edificação e uma alta disponibilidade de volume de chuva durante alguns
meses do ano.

A viabilidade de cada um dos seis diferentes métodos de dimensionamento utilizados deve


ser estudada e a escolha do tipo de reservatório mais adequado dependerá de fatores como o
custo de implantação e economia de água potável.

A definição do tipo de reservatório de descarte também está intimamente ligada à viabilidade


econômica e simplicidade de instalação e operação.

40
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 15527: Água de Chuva-
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