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Dedico este livro

a todos que apreciam estas


criaturas sobrenaturais
magníficas.
Religião de Sangue (Gamma Ray)
Composição: Kai Hansen

O relógio bate a meia noite, no mais pálido luar


Enquanto o homem anda pelo meu quarto
Com o coração nas mãos, eu ouço ele dizer: "Meu amigo,
A hora de levantarmos chegou, meu nome é Destino
Não faça perguntas, haverá uma resposta em breve"

E nós caímos entre a escuridão do submundo


E estamos deixando a luz do dia
E eu sei que nós iremos para o outro lado
E parece que eu vou para ficar

O inferno é o lar dos deuses do submundo


Daquele que nunca irá traí-lo
Agora minha alma ficará aqui pela eternidade
E a noite irá me dizer o caminho

Sim, me morda!

Houve um tempo quando o inferno era divino


O homem sagrado foi pregado na cruz
Um fogo no gelo, queimando por dentro
Toda minha esperança e amor estavam perdidos

Agora o inferno é minha casa, a tristeza se foi


Mas não pense que minha alma está perdida
Se você realmente se importa, apenas segure minha mão
E eu vou libertá-los da cruz

O padre está levantando as mãos para fazer a execução final


Gritando em agonia: "Tema a cruz!"
Eu estou enterrando minha garras em seu pescoço e levanto-o até o teto
Rangendo meus dentes eu sinto o cheiro de sangue
Você está perdido!

Sangue, vingança vermelha


Eu quero sangue, vingança vermelha
Gritando por sangue

Eu estava andando pela escuridão


Procurando um pescoço branco para morder
Eu estava cansado e a fome
Me carregou pela noite afora

Vampiro ansioso:
"Tema a cruz!"
Sinta a fúria e a luxúria dos mortos vivos

Sangue, vingança vermelha


Eu quero sangue, vingança vermelha
Gritando por sangue

Pela escuridão
Religião de sangue

Gritando por sangue - sangue, vingança vermelha


Gritando por sangue - sangue, vingança vermelha
Me dê seu coração - sangue, vingança vermelha
Eu quero isso tudo - sangue, vingança vermelha
Vingança... sim!

Me dê seu amor... oh sim


Oh, me ame!
Em um quarto de um hotel barato qualquer...

Acho que o sol já sumiu do horizonte. Segundo meu


relógio digital, são dezenove horas. Tempo mais que
suficiente para anoitecer de vez.

Levanto-me e pego meu velho All Star e minha camiseta do


Slipknot. Acho que hoje tem algum show de rock em um
desses bares estúpidos desta cidade. Então, vamos lá, né?

- Será que vou precisar de algum soco inglês ou só meus


dons já dão conta? – pergunto-me, como seu eu soubesse
a resposta. Acontece que hoje eu tenho que tirar de
circulação um vampiro antigo que vem dando muito
problema pra nossa sociedade. E sim, eu também sou um
vampiro. E só espero que ele seja idiota o suficiente para
andar sem seus guarda-costas humanos. Seria um
desperdício imenso de vitae usar meus dons com
humanos.

Verdade. Tenho que me alimentar antes.

- Acho que vou levar uma faca e esse soco inglês... Bom...
Melhor deixar a doze no carro.

Desço do apartamento até o carro, meu Opala SS, bege 74.


Acoplo a doze debaixo do banco, no compartimento dela e
guardo minhas armas na jaqueta de couro que está no
banco de trás do carro. Agora, pego as chaves... Maldição!
Esqueci as chaves lá dentro.

- Ah sim... Tá aqui. – vejo meu sorriso de satisfação no


retrovisor quando acho as chaves no porta-luvas.

Hora de ir. O silêncio do condomínio foi quebrado pelo


ruído do motor do meu veículo. Até hoje, o segundo som
que mais aprecio. O primeiro... Bem, acho que já dá pra
imaginar.

...

Hellfire Club. O bar mais escroto da cidade. Beberrões,


prostitutas, todo o tipo de maloqueiro fica lá. É. E
vampiros também. Alguns são viciados demais para largar
seus vícios após a morte, então procuram no sangue dos
vagabundos que circulam por aqui. É deplorável. Mas
vampiros não são tão diferentes assim dos humanos que
foram.

E ali está nosso amigo. Sentado numa das mesas de


sinuca, no canto com uma loira com cara de bulldog e um
gordinho baixinho parecido com o Danny De Vitto. Ele é
alto, magro com um cavanhaque estranho. E careca com
uma tatuagem de olho na testa. Cara! Esse tosco é uma
figura.

Ok. Mas não posso fazer nada senão esperar por


enquanto.

Peço um Jack Daniel’s para o barman e fico sentado


fitando o cara. Discretamente, claro.

Pouco tempo depois, uma garota loira, aparentemente


humana, entra no bar. O que é estranho, pois uma garota
deste naipe; lindos olhos azuis, cabelos até a altura dos
ombros, e pernas bem grossas; não costuma aparecer
nesta espelunca, não. Desde quando ela entrou, eu não
consegui parar de olhá-la. Também pudera: Uma saia
curta de couro e um belo par de pernas são a combinação
mais perfeita que existe. Acho que o resto do bar pensou
como eu.

Coincidentemente ela sentou bem ao meu lado no balcão.

- Belas pernas. – Tá, tá... Não pensei em nada original pra


falar mesmo.
- Idiota.
- Relaxa. Quer uma cerva?
- Não. Odeio cerveja. Tem gosto de mijo. – Fiquei curioso
pra saber como ela sabia disso, mas achei melhor não
dizer nada.

- Certo. Acho que uma vodka vai bem então.


- Cara, agora nós estamos começando a conversar.

Enquanto eu converso com a loira, que se chama Luana,


ainda mantenho minha atenção no careca do olho na
testa. O gordinho e a loira esquisita estão indo embora.
Parece que alguém se deu bem essa noite.
É hora de tentar ver o que esse grandão tem na cabeça.
Luana foi ao banheiro, então tenho que ser rápido.
Concentro-me um pouco e entro em sua mente. Foi fácil.
Agora vou tentar saber o que ele pretende fazer depois que
sair daqui... Epa.

“O que você quer aqui, idiota?” – Acho que ele também tem
dons telepáticos. O que não é bom.
“Onde você está? Vou te matar! Sai da minha mente!”

Por sorte eu já tive essa experiência antes, então, mais que


depressa eu disfarcei. E, por mais sorte ainda, a Luana
voltou e retomamos a conversa. Senti-o entrando em
minha mente. Depois saiu. Provavelmente ele estava
entrando na mente de um por um pra saber quem foi. Mas
não deve ter tido muito sucesso.

Neste caso, terei que tomar outras medidas pra não correr
nenhum risco. Segundo fui informado ele tem cerca de 150
anos, mas não evoluiu muito mesmo sendo tão velho. Só
que vai saber os poderes desse cara. Já não vai ser mais
tão fácil graças à telepatia dele. Vou ligar e pedir mais
tempo. Merda.

- Ei. Parece preocupado... – Luana cortou meus


pensamentos com seus olhos grandes me encarando.
- Não, não! Tá tudo ok. A fim de conversar em algum outro
lugar?
- Hmm... Isso ta me parecendo uma cantada furada, seu
besta! – Ela deu uma risada tão gostosa agora. Não é difícil
entender como alguns de nós ainda tentamos manter o
que nos resta de humano.
- Ok. Vamos deixar que você decida aonde vamos, certo?
Gosta de carros antigos?

...

Quase cinco horas. Espero que a Luana não se incomode


de acordar sozinha. Afinal, deixei tudo pago e um taxi
esperando por ela na frente do motel.
Ainda bem que na madrugada o transito não é o inferno
que é durante a noite.

Ah! Finalmente chego à espelunca em que estou


hospedado. Estaciono o carro rápido, ligo o alarme e ando
apressado até o quarto. Não to a fim de virar poeira hoje. E
que merda! Por que eu tinha que ficar até tão tarde com
ela? Sempre chego antes das quatro em meus refúgios...
Merda. Vou ter que me alimentar bem amanhã.

- As chaves, de novo as chaves. Estão no meu bolso, mas


onde? Ah! Achei! – Agora sim. Na segurança do lar, por
assim dizer. Hora de me proteger antes que o sol venha
dizer “oi, meu pequeno filho da puta”.

...

Três ligações perdidas no meu celular. Duas da Luana.


Uma do Rafinha. O que esse corno quer? Como ele
consegue ligar tão cedo?

Sabe o que mais me irrita? Pessoas que adoram ser


sarcásticas. Usam uma merda de humor ácido e se acham
o máximo por sempre terem respostas afiadas na ponta da
língua. É. Isso me deixa puto pra cacete. E este é o
Rafinha. Sujeitinho irritante, mas que paga bem pelo
serviço. Não sei muito a respeito dele. Só sei que ele é
muito velho e que toma conta de muita coisa dessa cidade.
A primeira vista parece um cara agradável, mas deixe que
ele se irrite um pouco pra ver as coisas mudarem.

La Canción Del Mariatti. Engraçado como gosto dessa


música. E é o toque que indica que o Rafinha está ligando.
Na verdade, não. Mas coincidiu dele ligar agora.

- Alô? Rafinha? Fala cara. Tudo certo?


- O que tu acha? É claro que não, pastel! A gente não
tinha um acordo? Tu devias ter apagado aquele
desgraçado ontem!
- Qual parte do contrato que você não leu cara? Esqueceu-
se de mencionar algumas coisinhas do tipo... Telepatia!
Isso atrapalha o andamento do combinado, porra!
- Ah, de certo! E como eu ia saber que aquele maltrapilho
tinha telepatia?
- Você que me contratou. Você se vira.
- Eu sabia desde o principio que tu ias pular fora, marica.
- Eu disse isso? Só pedi mais uma noite. Simples. Hoje é o
fim dele.
- Bah. Saibas que comerei tripas hoje. E espero que sejam
as dele.

Desligou. Mas tenho mais uma noite. Supimpa...

É bom levar algumas coisinhas mais pra garantir que eu


não me ferre muito nessa. Talvez umas balas dum-dum,
estaca de madeira (que não mata um vampiro, diga-se de
passagem. Mas é um grande inconveniente.), uma pistola
semiautomática, talvez até uma espada.

É. Está tudo aqui. Hora de ir.

...

Mais uma vez esse trouxa está no Hellfire. Não foi difícil
achá-lo. Com dons telepáticos como os meus, é bem
simples encontrar qualquer um que eu já tenha visto.

Entrando lá, vejo o mesmo ambiente de sempre e, por


sorte, a Luana não chegou ainda. Espero que nem venha,
pois não quero que ela me atrapalhe. Desta vez o careca
está sentado no balcão olhando pra uma garota que está
jogando sinuca. Um tanto vazia essa minha vítima.
Sempre aqui, sem fazer nada útil. Não me admira que não
tenha evoluído tanto mesmo com toda essa idade.

Bom. Hora do show.

Tenho que ser bem rápido, já que esse cara pode achar
meus pensamentos facilmente. Então, simplesmente eu
vou colocar algumas memórias falsas em sua mente.

Primeiro, invadindo sua mente...

“Há, desgraçado! Você de novo! Agora eu vou acabar com


você!”
“Droga... agora você me descobriu!” – Muito fácil. Agora eu
coloco pensamentos confusos fora do bar. E lá vai ele.

Caraca! O filho da puta ainda é rápido! Tenho certeza que


ninguém o viu sair do bar... Mais um motivo para eu ser
realmente eficaz.

Fecho os meus olhos e consigo focar fora do bar. Ele está


me procurando no beco, conforme planejei. Com um
ataque, eu tenho que atravessar seu peito com uma
estaca, ou será o fim.

Caminho normalmente pra fora, verifico a estaca e a


pistola. Tudo certo. Ainda devo manter meu pensamento
longe dele, ou ele vai me achar.

Perfeito! Ele está de costas para mim, basta agora a força e


velocidade certas...

Usando meus dons de velocidade e clamando pela força, e


chego logo atrás dele, quando ele finalmente capta meus
pensamentos. Mas é tarde. A estaca já atravessou seu
coração. Rápido, forte e preciso. Preciso derrapar para
ficar frente a frente com ele.

Só que o que vejo não é muito agradável.

Ele ainda está em pé, quando já era pra ter caído. E o pior;
encarando-me.

- Grande erro. Grande erro tentar me empalar.


- Essa é nova pra mim. – de fato é realmente novidade, já
que nunca vi um vampiro que não pudesse ser empalado.
A não ser que ele não fosse um. O que não faz sentido.

Sem dizer mais qualquer palavra ele vem a toda


velocidade, mesmo com a estaca fincada e com um golpe
muito forte, me manda pra dentro de uma caçamba de
lixo. Nem me lembrava mais de como era receber um golpe
de tamanha força.

Minha esperança agora são as balas dum-dum. Magnésio


altamente condensado. Uma vez dentro do vampiro, as
balas explodem causando dano como se fosse por fogo,
uma de nossas fraquezas.
Rapidamente eu saco a pistola e, prevendo seu próximo
movimento, eu a aponto para frente, do único lugar que
ele poderá vir. Mas mais uma vez ele me surpreende, já
que não aparece. Algum tempo passa, então decido
levantar.

Não o vejo em lugar nenhum. Será que fugiu?

“Como eu poderia fugir, quando tenho um oponente com


potencial?” – Ah, maravilha! Ele leu meus pensamentos e
viu meus planos. Agora os tiros não vão valer de muito.
Merda.

E do nada, novamente ele me ataca. Desta vez pelas costas


com vários golpes seguidos. Mas graças a minha
resistência sobrenatural, seus socos não me fazem muita
coisa além de me arremessar alguns metros.

Quando me viro para ele. Vejo que está com os olhos


fechados, mas há um terceiro olho na testa. O que é essa
criatura? Não pode ser empalado com uma estaca, tem
três olhos... Velho, acho que o Rafinha queria é se livrar de
mim, isso sim!

- Pensa que pode me destruir com essa pistola?


- Não custa tentar, não é?
- Morra! – Mais uma vez ele desaparece diante de meus
olhos. Isso é ruim, muito ruim.

Logo sinto seus socos furiosos. Três no rosto, mais dois no


peito. E mais uma vez eu vôo pra alguma parede não
muito próxima. Isso já está me dando nos nervos. Vamos
ficar a noite inteira nessa. E não é essa minha intenção.

Quando tento me recompor mais uma vez, é que eu vejo o


terror: O careca apareceu em minha frente com a estaca
nas mãos. Agora vai ser meu fim. Não tenho como correr e
não tenho toda a velocidade desse cara.

- Algum último pedido? – Eu não acredito! Ele ainda parou


pra me zoar! É a única chance que eu tenho.
- Sim.
- Haha. Você veio pra me matar, e é você que faz o último
pedido. Irônico, não?
- É. – Então eu faço a única coisa que dá pra eu fazer:
torno-me névoa. Meu corpo físico se dispersa em uma
bruma branca e densa. Algo assustador, eu sei, mas é um
poder para momentos desesperados. Drácula tinha esse
dom no romance do holandês louco Bram Stocker. Ele não
estava errado ao dizer que vampiros possuíam este dom
perturbador.
- Não pode ser! Você não vai fugir de mim!
“E eu não pretendo, meu caro! Só estou comprando tempo
pra te foder de vez!”

Logo me formo um tanto longe dali, perto do meu carro e


pego a espada. Nada melhor para acabar com criaturas
sobrenaturais, já que não tenho mais certeza do que ele é.

Só que ele já me achou. E vem com tudo de novo.

...

Continua...

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