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MECÂNICA APLICADA ISPT Dr.

MJ KANDA

CAPÍTULO III ELASTICIDADE LINEAR

Até agora, as equações de tensão e deformação foram desenvolvidas de forma independente,


com base na estática, do princípio de continuidade, e deformações infinitesimais. Este módulo
irá ilustrar como os componentes da tensão e deformação estão inter-relacionados. As equações
de elasticidade relacionando a tensão e deformação, chamadas de equações constitutivas, serão
derivadas assumindo um comportamento elástico-linear.

A maioria das rochas é conhecida por exibir um comportamento elástico-linear antes do início
de qualquer dano nelas. Comportamento linear-elástico significa uma relação linear tensão-
deformação, e o material recupera sua dimensão original ao descarregar. Como antes, este
módulo irá assumir que a rocha é homogêneo e isotrópico. As formulações serão dadas em três
dimensões para apresentar a Lei de Hook generalizada. A Lei de Hook assume que as relações
tensão-deformação são independentes da razão entre tensão e deformação. O conceito de
densidade de energia de deformação também será descrito.

Depois de concluir este módulo, o estudante deve ser capaz de:

 Descrever as relações idealizadas de tensão-deformação para vários tipos de materiais;


 Descreve como um corpo deforma sob efeito de uma carga uniaxial;
 Usar as relações lineares de tensão-deformação elástica para calcular as tensões em
corpos sendo dadas algumas deformações;
 Explicar as diferenças entre as condições de deformação plana e tensão plana; e
 Calcular a densidade de energia de deformação em um material estressado.

3.1 Relações constitutivas para as substâncias idealizadas


Quando um material é solicitado por tensões, geralmente ocorre deformação. A natureza desta
deformação é regida pelo comportamento constitutivo da substância. Materiais com diferentes
leis constitutivas respondem de forma diferente quando a tensão é aplicada sobre eles,
conforme ilustrado na Figura III-1 a seguir.

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Figura III-1 Relações tensão-tensão para substâncias idealizadas

3.2 Comportamento clástico linear


Considere um elemento retangular de material linearmente elástico submetido a uma tensão
uniaxial na direção conforme mostrado na Figura III-2 abaixo.

Figura III-2 Módulo elástico (E) e Razão de Poisson ()

A compressão induz uma deformação compressiva 𝜀 dada por:

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𝜀 = [52]

A inclinação E da curva de tensão-deformação é chamada de módulo de elasticidade (também


conhecido como módulo de Young). Acompanhando a compressão, haverá expansão no
sentido lateral. Para materiais linearmente elásticos, as magnitudes das deformações laterais
são encontradas experimentalmente como sendo uma constante vez a deformação vertical
dentro da faixa elástica, ou seja,

𝜀 = −𝜀 ; = = [53]

Esta constante é chamada de coeficiente de Poisson ().

Princípio de Superposição

Este princípio é muito usado para determinar a tensão ou deformação em um ponto de um


elemento que está sujeito a vários tipos de cargas. O Princípio da Superposição afirma que a
tensão resultante ou deslocamento em um ponto pode ser determinado encontrando a tensão ou
deslocamento causado por cada carga separadamente no elemento e, em seguida, adicione suas
contribuições.

Vamos considerar um cubo elementar sob um carregamento triaxial (Figura III-3). A


deformação total em uma direção particular deve ser igual à soma da deformação induzida
pelas tensões em todos os três direções (Deformação na direção da tensão mais as deformações
resultantes das outras duas tensões normais devido ao efeito "Poisson").

Figura III-3 Princípio de Superposição

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Para ilustrar este conceito, examinaremos as direções principais. A tensão na direção principal
pode ser escrita como seguinte:

𝜀 = [54]

Da mesma forma, as deformações induzidas ao longo das outras duas direções principais por

𝜎 são dados por:

𝜀 = − ; 𝜀 = − [55]

Os sobrescritos em [54] e [55] mostram a direção da tensão principal selecionada enquanto os


subscritos mostram as outras duas direções principais.

As mesmas equações podem ser escritas para 𝜎 e 𝜎 como

𝜀 = ; 𝜀 = − ; 𝜀 = − [56]

𝜀 = ; 𝜀 = − ; 𝜀 = − [57]

A deformação total ao longo de cada uma das direções principais é então dada como:

𝜀 =𝜀 +𝜀 +𝜀 = − −

𝜀 = 𝜀 + 𝜀 + 𝜀 = − + − [58]

𝜀 = 𝜀 + 𝜀 + 𝜀 = − − +

Ou de outra forma:

𝜀 = [𝜎 − (𝜎 + 𝜎 )]

𝜀 = [𝜎 − (𝜎 + 𝜎 )] [59]

𝜀 = [𝜎 − (𝜎 + 𝜎 )]

A equação pode ser simplificada para o caso 2D (assumindo 𝜎 = 0,


𝑎𝑙𝑠𝑜 𝑐ℎ𝑎𝑚𝑎𝑑𝑜 𝑒𝑠𝑡𝑎𝑑𝑜 𝑑𝑒 𝑡𝑒𝑛𝑠ã𝑜 𝑝𝑙𝑎𝑛𝑎) como:

𝜀 = (𝜎 − 𝜎 )

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𝜀 = (𝜎 − 𝜎 ) [60]


𝜀 = − (𝜎 + 𝜎 )

Portanto, as equações em [60] podem ser reorganizadas para expressar as tensões em função
das deformações como:

𝜎 = [(1 − )𝜀 + (𝜀 + 𝜀 )]


𝜎 = [(1 − )𝜀 + (𝜀 + 𝜀 )] [61]


𝜎 = [(1 − )𝜀 + (𝜀 + 𝜀 )]


onde G é uma constante conhecida como o Módulo de Cisalhamento (ou módulo de rigidez),
dada por

𝐺= ( )
[62]

3.3 Lei de Hook Generalizada


Até agora, consideramos apenas as relações entre as tensões principais e as deformações
principais. O caso geral pode ser derivado usando as formulações de tensão e deformação. Para
clareza, o caso 2D será tratado.

Similarmente ao processo feito anteriormente, podemos demostrar que:

𝜀 = 𝜎 − 𝜎

𝜀 = 𝜎 − 𝜎 [63]

( )
𝛾 = .𝜏 ou 𝛾 = .𝜏

Recordando que G não é uma constante independente, mas é função de E e . Isso que deixa
transparecer que as únicas duas constantes que definem as características de um material
elástico são E e , chamadas de constantes elásticas.

Similarmente a [59], teremos:

𝜀 = 𝜎 − 𝜎 +𝜎

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𝜀 = 𝜎 − (𝜎 + 𝜎 ) [64]

𝜀 = 𝜎 − 𝜎 +𝜎

𝛾 = .𝜏 ; 𝛾 = .𝜏 ; 𝛾 = .𝜏

E também, pode-se deduzir as tensões em função das deformações da seguinte forma:

𝜎 = (1 − )𝜀 +  𝜀 + 𝜀

𝜎 = (1 − )𝜀 + (𝜀 + 𝜀 ) [65]


𝜎 = (1 − )𝜀 +  𝜀 + 𝜀

𝜏 = 𝐺. 𝛾 ; 𝜏 = 𝐺. 𝛾 ; 𝜏 = 𝐺. 𝛾

É fácil ver que as equações dadas acima se transformam naquelas das direções principais se

todos os componentes da tensão (ou deformação) de cisalhamento são zero.

3.4 Casos especiais


Deformação plana

Muitas escavações subterrâneas são em 2D no sentido de que preservam a geometria das suas
secções transversais na terceira dimensão. Túneis, poços e colunas de tiras são exemplos típicos
de " escavações em 2D". Essas escavações podem ser analisadas convenientemente ao longo
de suas secções 2D. A presença da rocha na terceira dimensão garante que nenhuma
deformação fora do plano possa ocorrer. Este significa que a deformação na terceira dimensão
é zero e conhecida como condição de deformação plana. E deve-se tomar em conta que a tensão
na terceira dimensão não pode ser ignorada ou considerada como nula.

Equacionando o componente z da deformação (𝜀 ) na equação [64] a zero na Lei de Hook


generalizada, podemos derivar o seguinte conjunto de equações:

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Deformações em termos de tensões:

𝜀 =0 ; 𝜎 = 𝜎 +𝜎

𝜀 = (1 −  )𝜎 − (1 + )𝜎 [66]

𝜀 = (1 −  )𝜎 − (1 + )𝜎

E escrevendo as tensões em função das deformações, teremos:

𝜎 = (1 − )𝜀 + 𝜀

𝜎 = (1 − )𝜀 + 𝜀 [67]

𝜎 = 
 𝜀 +𝜀

𝛾 = .𝜏

Tensão Plana

Este caso assume que o corpo está livre de tensões na terceira dimensão. Uma placa sem
estresse em suas superfícies, mas carregada ao longo de suas bordas é um exemplo típico da
condição de tensão plana. Dentro de tensão plana, a deformação na terceira dimensão não é
necessariamente zero, uma vez que as deformações são permitidas a ocorrer.

Ao igualar o componente z da tensão a zero, as três leis de Hook generalizadas se reduzem a:

𝜀 = 𝜎 − 𝜎

𝜀 = 𝜎 − 𝜎


𝜀 =− 𝜎 +𝜎 [68]

𝜎 = 
𝜀 + 𝜀

𝜎 = 
𝜀 + 𝜀

𝜎 =0 ; 𝜏 = 𝐺. 𝛾

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3.5 Energia de deformação


Uma vez que qualquer trabalho realizado em um corpo faz com que o corpo armazene (ou
consuma) energia, tornando o corpo em estado de tensão, que subsequentemente se deforma, e
resulta em energia a ser armazenada no corpo. O trabalho realizado (ou seja, a energia
armazenada) em um corpo elástico é geralmente expressa pela expressão, que representa a
densidade de energia de deformação (DED ou SED de strain energy density),:

𝑊= 𝜎 𝜀 + 𝜎 𝜀 +𝜎 𝜀 +𝜏 𝛾 +𝜏 𝛾 +𝜏 𝛾 [69]

Uma vez que estes são termos de SED, a energia armazenada total (Q) é obtida integrando o
SED sobre o volume considerado (ou multiplicando o SED pelo volume se o estado de tensão
for uniforme).

Q = W x Volume (J) [70]

3.6 Tensões em torno de escavações simples


No caso de escavações simples, como túnel circular em um campo de tensão uniforme, é
possível derivar soluções matemáticas para a distribuição de tensões na rocha sólida ao redor
do túnel. Essas soluções são geralmente tabuladas em livros didáticos. Mais complicadas
geometrias de escavação requerem métodos numéricos para determinar a distribuição
aproximada de tensões.

Como um exemplo útil, considere um túnel redondo sujeito a um campo de tensão uniaxial de
modo que a tensão agindo no infinito é P.

Figura III-4 A distribuição de tensão em torno de um túnel

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A distribuição de tensão em torno deste túnel é dada pela seguinte equação:

𝜎 = p(1 − )

𝜎 = 𝑝(1 + )
[71]
𝜏 = 0 ; 𝜎 = 2p

u= p (1 − 2)𝑟 + v=0

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