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DOI: 10.1590/1413-81232014195.

14572013 1447

ARTIGO ARTICLE
Padrão alimentar de risco para as doenças crônicas
não transmissíveis e sua associação com a gordura corporal
– uma revisão sistemática

Dietary risk patterns for non-communicable chronic diseases


and their association with body fat – a systematic review

Edynara Cristiane de Castro Azevedo 1


Alcides da Silva Diniz 1
Jailma Santos Monteiro 1
Poliana Coelho Cabral 1

Abstract The article seeks to review studies on Resumo O objetivo do presente artigo é revisar
unhealthy eating patterns for chronic non-com- estudos sobre padrão alimentar de risco para as
municable diseases (NCD) and its association with doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) e
body fat in adults, published between 2005 and sua associação com a gordura corporal em adul-
2012. The articles were systematically reviewed tos, publicados entre os anos de 2005 e 2012. Os
by two independent researchers in Medline, Li- artigos foram revisados sistematicamente de for-
lacs, and Scielo using the following key words: food ma independente por 2 pesquisadores, utilizando
consumption, chronic diseases, anthropometry, os descritores: food consumption, chronics disea-
body fat, and adults. Eight studies met the inclu- ses, anthropometry, body fat e adults, nas bases de
sion criteria, all conducted on the Brazilian po- dados eletrônicas Medline, Lilacs e Scielo. Foram
pulation. The prevalence of overweight and ab- identificados 8 estudos que atenderam aos crité-
dominal fat ranged from 38.6% to 51.3% and rios de inclusão, todos realizados na população
23.4% to 43.1%, respectively. In the majority of brasileira. A prevalência do excesso de peso e de
studies, fruit and vegetable consumption was be- gordura abdominal oscilou de 38,6% a 51,3% e
low the recommended level. A significant associa- 23,4% a 43,1%, respectivamente. Na maioria dos
tion between food patterns and anthropometric estudos, o consumo de frutas, legumes e verduras
profile was found in five studies. The variations in esteve abaixo do recomendado. Foi encontrada
the prevalence and in the results of the studies associação significativa entre padrões alimenta-
indicate the need for standardization of data col- res e perfil antropométrico em 5 estudos. As vari-
lection instruments and methods used, as well as ações nas prevalências e nos resultados dos estu-
conducting studies with a more appropriate de- dos indicam a necessidade de padronização dos
sign. The high prevalence of overweight and low instrumentos de coleta e métodos utilizados e a
consumption of food meeting healthy eating stan- realização de estudos com delineamentos mais
dards indicates the need for intervention measures. apropriados. As altas prevalências de excesso de
Key words Food consumption, Adults, Anthro- peso e de baixo consumo de alimentos marcadores
1
Programa de Pós-
pometry, Systematic review, Chronic non-com- de padrões alimentares saudáveis indicam a ne-
Graduação em Nutrição,
Universidade Federal de municable diseases, Body fat cessidade de medidas de intervenção.
Pernambuco. R. Prof. Palavras-chave Consumo alimentar, Adultos,
Moraes 1235, Cidade
Universitária. 50.670-901
Antropometria, Revisão sistemática, Doenças crô-
Recife PE Brasil. nicas não transmissíveis, Gordura corporal
edy_azevedo@hotmail.com

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Azevedo ECC et al.

Introdução siderando que os indivíduos não consomem nu-


trientes nem alimentos isoladamente 15. Nesse
As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) sentido, é crescente o interesse nessa linha de in-
constituem um dos maiores problemas de saúde vestigação sobre o consumo de grupos de ali-
pública no mundo1. No Brasil, cerca de 70% das mentos considerados definidores de padrões ali-
causas de mortes na população adulta são devi- mentares saudáveis e não saudáveis2.
das a essas doenças2. Esse padrão de morbimor- A caracterização do padrão alimentar, defini-
talidade tem sido atribuído ao processo de tran- do por meio de inquéritos de frequência de con-
sição epidemiológica, caracterizado pelo incre- sumo11,16, reflete um retrato geral do consumo
mento das DCNT e declínio das doenças infecci- habitual dos indivíduos, fornecendo informações
osas, pari passu ao advento da transição nutrici- importantes sobre a qualidade da dieta, sendo
onal, marcada pelo aumento do consumo de ali- essa caracterização cada vez mais utilizada para
mentos com alta densidade energética e diminui- analisar a associação entre as características qua-
ção do consumo de alimentos ricos em fibras4. litativas da dieta e as doenças crônicas15,17,18. Tal
Essas mudanças no padrão alimentar e no estilo abordagem também foi sugerida por Alves et al.14,
de vida imprimiram um aumento significativo Lenz et al.19 e Hu20, que ressaltaram a importân-
na prevalência de excesso de peso e obesidade, cia de se conhecer o padrão alimentar como mé-
sendo que esta tem sido considerada como um todo mais eficaz para identificar associações entre
dos principais fatores de risco para as DCNT. alimentação, gordura corporal e DCNT.
Esses achados são confirmados pela Pesquisa de A questão que se coloca seria até que ponto a
Orçamentos Familiares (POF)5, que constatou pesquisa empírica tem abordado a questão do
uma prevalência de 50% de excesso de peso na padrão alimentar como variável preditiva da
população adulta brasileira, baixo consumo de gordura corporal. Portanto, esta revisão teve
alimentos ricos em fibras, como frutas, verduras como objetivo sistematizar os artigos publica-
e leguminosas e alto consumo de alimentos ricos dos no período de 7 anos sobre padrões alimen-
em gordura saturada, açúcar e sal. Dados recen- tares de risco e sua associação com a gordura
tes6 mostram que menos de 1/4 da população corporal, em população adulta.
possui consumo recomendado de frutas e hor-
taliças, o que reflete a baixa qualidade da dieta do
brasileiro.[falta a citação 3 entre a 2 e a 4] Métodos
Dentre as DCNT, destacam-se o diabetes me-
littus, as doenças cardiovasculares, alguns tipos Nesta revisão, buscaram-se artigos indexados nas
de cânceres e a obesidade1. A inatividade física, o bases de dados eletrônicas National Library of
alcoolismo, o tabagismo, o consumo de alimen- Medicine (Medline, USA), Scielo e Literatura Lati-
tos pobres em fibras e vitaminas antioxidantes e no-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde
ricos em gorduras saturadas, gordura trans e açú- (Lilacs, Brasil), publicados em língua inglesa e
cares simples têm sido identificados como predi- portuguesa entre os anos de 2005 a 2012. Foram
tores independentes dessas enfermidades1,7. utilizados os descritores na língua inglesa: Anthro-
A importância da obesidade dentro do cam- pometry, food consumption, chronic diseases,
po da saúde pública diz respeito, principalmente, body fat and adults. Os operadores lógicos and,
à sua forte associação com outras enfermidades or e not foram usados para combinar os descri-
crônicas como diabetes melittus tipo 2, doenças tores e termos utilizados na busca dos artigos.
coronarianas, hipertensão arterial e hiperlipide- A identificação e a seleção dos estudos foram
mia8, pois sabe-se que o risco destas aumenta realizadas pelos pesquisadores, considerando
diretamente com o grau de excesso de peso9 e como critérios de inclusão, artigos originais, pu-
acúmulo de gordura na região abdominal10. blicados entre 2005 e 2012, oriundos de estudos
Estudos têm analisado o papel da dieta na transversais com amostras populacionais em
gênese das DCNT, especialmente nas doenças adultos, que relacionavam o consumo de alimen-
cardiovasculares10,11. Alguns estudaram o papel tos de risco para as DCNT e sua associação com
das gorduras e dos açúcares simples como fato- a gordura corporal. Artigos identificados em mais
res de risco para as DCNT, outros o efeito prote- de uma base de dados foram computados em
tor das fibras e antioxidantes para essas doen- apenas uma.
ças12,13. Porém, a OMS sugere que a avaliação do A qualidade metodológica dos estudos foi
consumo alimentar das populações estaria me- avaliada por dois pesquisadores em observância
lhor representado pelo padrão alimentar14, con- aos seguintes itens: clareza e adequação na des-

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crição do processo de amostragem; aleatoriza- Para melhor visualização e comparação entre os
ção da amostra; especificação dos critérios de resultados, estão sendo apresentados separada-
inclusão e exclusão; descrição das perdas e exclu- mente a exposição (padrões alimentares), o des-
sões e apropriada apresentação dos resultados. fecho (excesso de peso e obesidade abdominal) e
No caso de discordância entre os pesquisadores, as associações.
a permanência de um artigo no estudo foi deci- Em Salvador (BA), Oliveira et al.21, em um
dida por consenso entre os dois revisores após estudo de base populacional, analisaram os fa-
avaliação dos critérios de inclusão e reanálise do tores associados ao excesso de peso e gordura
texto. Foram excluídos artigos de revisão e/ou abdominal em adultos. Na avaliação antropo-
revisão sistemática, estudos do tipo caso-con- métrica utilizou-se o índice de massa corporal
trole, coorte e ensaios clínicos controlados. (IMC) e a circunferência da cintura (CC), e para
o consumo alimentar QFA não identificado, ana-
lisado segundo proposta de Fornés et al.22. Os
Resultados autores encontraram 25,8% de sobrepeso, 18,8%
de obesidade e 28,1% de excesso de gordura ab-
Foram localizados 8.924 artigos e, conforme a dominal. Encontrou-se frequência reduzida de
leitura posterior dos títulos, selecionados 21 para consumo de legumes, frutas e hortaliças (padrão
participarem da segunda etapa do estudo. Nessa saudável) e elevado consumo de carnes, embuti-
etapa, os artigos foram reanalisados de forma dos, leite e derivados (padrão de risco) em mais
criteriosa e independente por dois pesquisado- de 1/3 da amostra. No modelo final após análise
res, totalizando 08 artigos para inclusão nessa de regressão de Poisson, o padrão alimentar não
revisão (Tabela 1). apresentou associação significante com o exces-
Todos os artigos incluídos nessa revisão fo- so de peso (IMC) e gordura abdominal (CC).
ram estudos realizados no Brasil. As principais Em estudo realizado na cidade de São Paulo,
características dos estudos como autoria, ano de Neumann et al.11, identificaram os padrões de
publicação, local de estudo, número de partici- consumo alimentar e sua associação com fato-
pantes, objetivos do estudo, tipo de coleta e in- res de risco para as doenças cardiovasculares
quérito alimentar, plano de análise e padrões de (DCV). Na identificação do excesso de peso foi
consumo utilizados estão apresentados no Qua- utilizado o IMC e para obesidade abdominal, a
dro 1. Observa-se que 25% dos estudos não refe- relação cintura-quadril (RCQ), ambos com a
rem qual o questionário de frequência alimentar classificação da OMS23,24. Quanto ao perfil an-
utilizado (QFA). Nota-se que há diferenças me- tropométrico, 48,5% e 43,1% apresentaram ex-
todológicas entre os estudos concernentes aos cesso de peso e obesidade abdominal, respecti-
aspectos de representatividade da amostra, tipo vamente. O QFA utilizado foi o validado por Ri-
de QFA e a definição dos padrões de consumo. beiro e Cardoso25 para estudo da dieta versus
O Quadro 2 apresenta um resumo dos resul- DCNT, dando origem a 4 padrões alimentares:
tados encontrados nos estudos selecionados. padrão 1 (cafeteria) – leite integral, pães, massas,

Tabela 1. Resultados da pesquisa na literatura.


Base de dados pesquisada Descritores utilizados Número de artigos encontrados
Lilacs (descritores) Food consumption, chronics diseases, 129
anthropometry, body fat, adults
Medline (Key words) Food consumption, chronics diseases, 8.548
anthropometry, body fat, adults
Scielo (descritores) Food consumption, chronics diseases, 247
anthropometry, body fat, adults
Artigos incluídos para a 2° fase Lilacs 6
Medline 0
Scielo 15
Artigos incluídos na revisão Lilacs 2
Medline 0
Scielo 6
Total de artigos avaliados 8

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Azevedo ECC et al.

Quadro 1. Características dos estudos selecionados entre os anos de 2005 e 2012.

Autor, ano da Padrões de


publicação Amostra Objetivo Tipo de coleta e Plano consumo
e local do do estudo inquérito alimentar de análise utilizados
estudo utilizado

Oliveira et 570 Identificar os fatores Domiciliar. Consumo alimentar: 3 grupos:


al.21 2009. associados ao excesso Questionário de Escores de frequência de Leguminosas,
Salvador, BA. de peso e frequência alimentar consumo baseado na frutas e hortaliças.
concentração de (sem referência de metodologia de Fornés et Carnes,
gordura abdominal qual). al.22 embutidos, leite e
em adultos de ambos Estimação das razões de derivados.
os sexos. prevalência: regressão de Cereais e
Poisson. derivados.

Neumann et 782 Identificar os padrões Domiciliar. Consumo alimentar: 4 tipos:


al.11 2007. de consumo Questionário de Escore de frequência de Cafeteria.
São Paulo, SP. alimentar e investigar frequência alimentar consumo. Tradicional.
a associação desses semiquantitativo Estimação das razões de Moderno.
padrões com fatores previamente validado.25 prevalência: Regressão Aterogênico.
de risco biológicos, linear múltipla.
sociodemográficos e
comportamentais
para doenças
cardiovasculares
(DCV).

Gimeno et 2.197 Descrever e Domiciliar. Consumo alimentar: 4 tipos:


al.17 2011. identificar fatores Questionário de Escores de frequência de Obesogênico.
Ribeirão associados aos frequência alimentar consumo baseado na Saudável.
Preto, SP. padrões de consumo semi-quantitativo metodologia de Fornés et Misto.
de alimentos. validado por Fornés et al.22 Popular.
al.26 Estimação das razões de
prevalência: Regressão de
Poisson.

Perozzo et 1.026 Estudar a associação Domiciliar. Consumo alimentar: 5 tipos:


al.15 2008. de padrões Questionário de Análise fatorial baseada PA-vegetais.
São Leopoldo, alimentares com frequência alimentar em Alves et al.14 PA-frutas.
RS. obesidade geral e semiquantitativo Estimação de razões de PA-nozes/
abdominal em validado por Alves et prevalência: Regressão de oleaginosas.
mulheres. al.14 Poisson. PA- pão/aipim/
batata doce.
PA-chocolates/
doces.

continua

salgados, doces, gorduras, presunto, refrigeran- gênico) – feijoada, carne de boi e miúdos, porco,
te comum; Padrão 2 (tradicional) – Cereais, fei- frango, linguiça, ovo, bebidas alcoólicas e sal. Os
jões, folhosos, não-folhosos e sopas, maionese, padrões cafeteria e aterogênico se associaram po-
chá e café; Padrão 3 (moderno) – Leite desnata- sitivamente com o excesso de peso e obesidade
do, frutas, sucos naturais, peixes, refrigerantes abdominal, enquanto que os padrões moderno
diet, adoçantes artificiais e, em menor propor- e tradicional se associaram inversamente com o
ção, pães, não folhosos e sopas; Padrão 4 (atero- IMC e a RCQ.

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Quadro 1. continuação

Autor, ano da Padrões de


publicação Amostra Objetivo Tipo de coleta e Plano consumo
e local do do estudo inquérito alimentar de análise utilizados
estudo utilizado

Lino et al.27 1.469 Estimar a prevalência Domiciliar. Consumo alimentar: 4 categorias:


2011. e identificar os Questionário de categorização do consumo Consumo diário de
Rio Branco, principais fatores frequência alimentar de frutas e vegetais. frutas - pelo
AC. associados ao excesso elaborado com base no Estimação de razões de menos uma vez ao
de peso em adultos. questionário aplicado prevalência: Regressão de dia um tipo de
no Sistema de Poisson. fruta.
Vigilância de Fatores de Não consumo
Risco e Proteção para diário de frutas.
Doenças Crônicas por Consumo diário de
Inquérito Telefônico vegetais - pelo
(VIGITEL)28. menos um tipo de
legume cozido ou
salada crua todos
os dias.
Não consumo
diário de vegetais.

Mondini et 930 Avaliar o consumo de Domiciliar. Consumo alimentar: 2 categorias:


al.29 2010. frutas e hortaliças por Questionário Escores de frequência de Consumo diário de
Ribeirão adultos e identificar semiquantitativo de consumo baseado na frutas e hortaliças.
Preto, SP. variáveis frequência alimentar metodologia de Fornés et Consumo mínimo
sociodemográficas e validado por Fornés et al.22 recomendado de
do estilo de vida al.26 Estimação das razões de frutas e hortaliças.
associadas ao prevalência: Regressão de
consumo desses Poisson.
alimentos.

Neutzling et 972 Descrever a Domiciliar. Consumo alimentar. 2 categorias:


al.30 2009. frequência de frutas, Questionário de Dicotomização das 5 Consumo regular
Pelotas, RS. legumes e verduras frequência alimentar frequências de consumo de frutas, legumes
por adultos de 20 a qualitativo (não em 2 categorias e criação e verduras.
69 anos e analisar os informado qual o tipo). de variável combinando os Consumo irregular
fatores associados a 3 consumos (frutas, de frutas, legumes
tal consumo. legumes e verduras). e verduras.
Estimação das razões de
prevalência: Regressão de
Poisson.

Campos et 1890 Estimar a prevalência Telefônico. Consumo alimentar: 2 categorias:·


al.31 2010. do consumo Questionário de Somatória das frequências Consumo
Florianópolis, adequado de frutas, frequência alimentar diárias de cada grupo adequado de
SC. legumes e verduras e elaborado com base no (frutas, legumes e frutas, legumes e
fatores associados. questionário aplicado verduras) para cada verduras (cinco ou
no Sistema Municipal indivíduo e posterior mais vezes ao dia).
de Monitoramento de classificação em adequado Consumo
Fatores de Risco para ou inadequado, com base inadequado de
Doenças Crônicas Não na recomendação da frutas, legumes e
Transmissíveis a partir OMS23 verduras.
de entrevistas Estimação das razões de
telefônicas (SIMTEL)32. prevalência: Regressão de
Poisson

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Azevedo ECC et al.

Quadro 2. Principais resultados dos estudos selecionados para a revisão.

Autor, ano da Perfil antropométrico Perfil alimentar da amostra Associações estatisticamente


publicação da amostra significativas
e local do
estudo

Oliveira et 25,8% Sobrepeso (IMC) (26,3% Encontrou-se frequência O padrão alimentar não apresentou
al.21 2009. mulheres e 25% homens). reduzida de consumo de associação significante com o excesso
Salvador, BA. 12,8% Obesidade (IMC) (15,1% legumes, frutas e hortaliças de peso (IMC) e gordura abdominal
mulheres e 8,4% homens). (padrão saudável) e elevado (CC).
28,1% Excesso de gordura consumo de carnes,
abdominal (CC) (35,7% mulheres embutidos, leite e derivados
e 12,9% homens) (padrão de risco) em mais de
1/3 da amostra.

Neumann et 48,5% Excesso de peso (IMC). Não descrimina a Os padrões cafeteria e aterogênico se
al.11 2007. 43,1% Obesidade abdominal porcentagem da amostra que associaram positivamente com o
São Paulo, SP. (RCQ). apresentou cada padrão. excesso de peso e obesidade
abdominal. No entanto, os padrões
moderno e tradicional se associaram
inversamente com o IMC e a RCQ.

Gimeno et NÃO INFORMADO. O padrão obesogênico foi O padrão saudável teve efeito protetor
al.17 2011. mais frequente nos indivíduos para obesidade geral e de risco para
Ribeirão eutróficos (29,1%) e que não obesidade central (RP=0,59;
Preto, SP. apresentavam obesidade IC95%;0,42-0,81)O padrão misto
central (32,8%).O padrão apresentou efeito protetor para
saudável foi mais frequente obesidade geral (RP=0,68;IC95%;0,50-
nos indivíduos com sobrepeso 0,91)
(29%) e obesidade central
(28,1%).

Perozzo et 23,3% Obesidade abdominal NÃO INFORMADO. Encontrou-se uma associação direta
al.15 2008. (CC). entre a obesidade geral e o PA- frutas,
São Leopoldo, 18% Obesidade geral (IMC). embora uma relação inversa com o PA-
RS. vegetais. Já o PA-nozes/oleaginosas
associou-se de forma inversa à
obesidade abdominal.

continua

Em Ribeirão Preto, estado de São Paulo, Gi- vegetal. Observou-se maior frequência de indiví-
meno et al.17 descreveram os padrões de consu- duos com padrão “saudável” entre aqueles com
mo de alimentos e fatores associados a estes, en- excesso de peso e obesidade abdominal, o padrão
tre os participantes de um estudo de base popula- obesogênico foi mais frequente nos indivíduos
cional. Na avaliação antropométrica utilizou-se o eutróficos e que não apresentaram obesidade ab-
IMC e a CC, ambos com a classificação da dominal, o que poderia ser explicado por uma
OMS24,33. Foi utilizado para a avaliação do con- situação de causalidade reversa. Ou seja, de for-
sumo alimentar, um QFA validado por Fornés et ma inusitada os padrões obesogênico e misto
al.26, analisado segundo a metodologia de escores apresentaram-se como fatores de proteção para
proposta por esse mesmo autor22, identificando- a obesidade abdominal avaliada pela CC.
se 4 padrões de consumo de alimentos: Padrão Perozzo et al.15, em estudo desenvolvido em
obesogênico – açúcar, doces e refrigerantes; Pa- São Leopoldo, Rio Grande do Sul, analisaram a
drão saudável – hortaliças, frutas e laticínios des- associação de padrões alimentares com a obesi-
natados; Padrão misto – frituras, pescados e raí- dade geral e abdominal em mulheres adultas. Para
zes e Padrão Popular – feijão, cereais e gordura a avaliação antropométrica, foi utilizado o IMC

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Quadro 2. continuação

Autor, ano da Perfil antropométrico Perfil alimentar da amostra Associações estatisticamente


publicação da amostra significativas
e local do
estudo

Lino et al.31 46,9% Excesso de peso (IMC). 58,8% Consumo diário de Foi encontrada associação
2011. frutas. estatisticamente significante entre
Rio Branco, 52,4% Consumo diário de consumo diário de frutas e excesso de
AC. vegetais. peso ente homens (RP = 1,19;
IC95%;1,02-1,39) e entre as mulheres
(RP = 1,10; IC95%; 0,96-1,27).

Mondini et NÃO INFORMADO. Apenas 25% dos homens e O estado nutricional não apresentou
al.29 2010. 40% das mulheres atenderam associação com o consumo mínimo
Ribeirão à recomendação mínima de recomendado de frutas e hortaliças (p
Preto, SP. consumo de frutas e = 0,1441)
hortaliças, consumindo esses
alimentos pelo menos cinco
vezes/dia.

Neutzling et 51,3% Excesso de peso (IMC). Apenas 20,9% dos indivíduos O estado nutricional não apresentou
al.30 2009. consumia frutas, legumes e associação estatisticamente significante
Pelotas, RS. verduras regularmente. com o consumo regular de frutas,
legumes e verduras (p = 0,76).

Campos et NÃO INFORMADO. O consumo adequado de Foi encontrada uma associação


al.31 2010. frutas, legumes e verduras significante entre consumo
Florianópolis, esteve presente em apenas inadequado de frutas, legumes e
SC. 21,9% da amostra. verduras e obesidade geral nos
Frequência maior entre as indivíduos do sexo masculino
mulheres. (RP = 1,9; IC95%;1,3-2,7).

na identificação de obesidade geral34 e a CC para nata, massa e carne de porco; PA chocolates/do-


identificação da obesidade abdominal35. Para o ces – Chocolates, balas, sobremesas, doces, cre-
consumo alimentar, o QFA utilizado foi o valida- me de leite, presunto, mortadela, salame, copa,
do por Alves et al.14 segundo proposta do mes- maionese industrializada, queijo, frituras, fast
mo autor, dando origem a 5 padrões alimenta- food, biscoito doce, cuca e bolo. Os autores en-
res (PA), a partir de uma análise fatorial: PA ve- contraram 18% de obesidade geral e 23,3% de
getais – repolho, couve, couve-flor, abóbora, ce- obesidade abdominal. Encontrou-se uma asso-
noura, laranja, brócolis, pepino, beterraba, to- ciação direta entre a obesidade geral e o PA fru-
mate, vagem, banana, mamão, maçã, bergamo- tas, embora uma relação inversa com PA vegetal.
ta, outros vegetais verdes e biscoito gelado; PA O PA nozes/oleaginosas associou-se de forma
frutas – melão, melancia, manga, pera, pêssego, inversa à obesidade abdominal. Deve-se ressal-
caqui, uva, limão, maracujá, abacaxi, sorvete, tar que esses resultados devem ser interpretados
abacate, goiaba, kiwi, fígado, suco natural e pei- com a devida cautela, considerando que a defini-
xes; PA nozes-oleaginosas – Amêndoa, avelã, ção dos padrões alimentares utilizada pelos au-
nozes, castanhas, ameixa seca uva passa, massa tores foi extremamente heterogênea incluindo em
integral, veia, farelo de trigo, açúcar mascavo, um mesmo padrão alimentos de diversos gru-
mel, pão de centeio, pão integral, soja, vinho tin- pos alimentares.
to e arroz integral; PA pão/aipim/batata doce – Em Rio Branco (AC), Lino et al.27, em um
pão caseiro, aipim, batata doce, milho, feijão, len- estudo de base populacional, avaliaram a preva-
tilha, açúcar, banha, leite integral, batata inglesa, lência e os fatores associados ao excesso de peso

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Azevedo ECC et al.

em adultos. Na avaliação antropométrica utili- estimaram a frequência do consumo de frutas,


zou-se o IMC, segundo a classificação da OMS29, legumes e verduras em adultos e analisaram os
e para o consumo alimentar um QFA elaborado fatores associados a tal consumo. Na avaliação
com base naquele aplicado no Inquérito de Vigi- antropométrica utilizou-se o IMC, classificado
lância de fatores de risco e proteção para doenças segundo critérios da OMS24, e para o consumo
crônicas por inquérito telefônico (VIGITEL)28, alimentar um QFA não identificado, utilizando
utilizando como variáveis o consumo de frutas e como variável para análise o consumo de frutas,
de vegetais. Estas variáveis foram categorizadas legumes e verduras nos últimos 12 meses que an-
em 4 grupos, baseado no consumo de cada indi- tecederam a entrevista. Com base nos resultados
víduo, assim denominados: Consumidor diário do QFA, o consumo foi dicotomizado em: Con-
de frutas – indivíduos que consumiam pelo me- sumo regular de frutas, legumes e verduras – cin-
nos uma vez ao dia um tipo de fruta; Consumi- co ou mais vezes por semana – ou não. Quanto
dor diário de vegetais – consumiam um tipo de ao perfil antropométrico, 51,3% da amostra apre-
legume cozido ou salada crua, pelo menos uma sentaram excesso de peso e 20,9% consumo regu-
vez ao dia; Não consumidores diários de frutas – lar de frutas, legumes e verduras. A análise de re-
consumiam frutas em menos de 7 dias na sema- gressão de Poisson, não mostrou associação sig-
na e Não consumidores diários de vegetais – con- nificante entre o consumo regular de frutas, legu-
sumiam menos de uma vez ao dia legumes cozi- mes e verduras e o estado nutricional.
dos ou salada crua. Quanto ao perfil antropo- Campos et al.31 realizaram estudo em Floria-
métrico, 46,9% da amostra apresentaram exces- nópolis (SC), para estimar a prevalência do con-
so de peso. O consumo diário de frutas e vegetais sumo adequado de frutas, legumes e verduras e
foi de 58,8% e 52,4%, respectivamente. A análise fatores associados em adultos participantes do
de regressão de Poisson mostrou uma associa- Sistema Municipal de Monitoramento de fatores
ção positiva entre consumo diário de frutas e o de risco para doenças crônicas não transmissí-
excesso de peso, em ambos os sexos. É plausível veis (SIMTEL)32 realizado em 2005 . Na avalia-
supor que esses resultados configurem mais uma ção antropométrica foi utilizado o IMC com a
vez a situação de causalidade reversa. classificação da OMS33 e para o consumo ali-
Mondini et al.29, em estudo de base populacio- mentar foi utilizado QFA do SIMTEL34 sobre
nal, em Ribeirão Preto, estado de São Paulo, ava- consumo de frutas, legumes e verduras. A partir
liaram o consumo de frutas e hortaliças e sua das frequências diárias obtidas no questionário,
associação com o estado nutricional em adultos. o consumo de 5 ou mais vezes ao dia de frutas,
Na avaliação antropométrica foi utilizado o IMC, legumes e verduras foi denominado Consumo
com a classificação da OMS24 e para o consumo adequado, segundo recomendação da OMS23. O
alimentar QFA validado por Fornés et al.26, ten- consumo esteve adequado em 21,9% da amos-
do como período de referência os seis últimos tra. Segundo a análise de regressão de Poisson foi
meses que antecederam a entrevista. Analisou-se encontrada uma associação direta entre consu-
o QFA segundo proposta de escores deste mes- mo inadequado de frutas, legumes e verduras e
mo autor22, originando duas categorias de con- obesidade nos indivíduos do sexo masculino.
sumo: Consumo diário de frutas e hortaliças –
Sim ou não, independente do número de vezes
por dia e Consumo mínimo recomendado de Discussão
frutas e hortaliças – consumo de pelo menos cin-
co vezes ao dia, baseado no recomendado pela O excesso de peso e a obesidade abdominal têm
Organização Mundial de Saúde1. Encontrou-se sido considerados como importantes fatores de
elevada frequência de consumo diário de frutas e risco para o desenvolvimento das DCNT. Atual-
hortaliças nos dois sexos (mais de 70%). Consi- mente estas representam um problema de grande
derando a recomendação mínima de consumo relevância em Saúde Pública, justificando o cres-
diário de frutas e hortaliças, apenas 25% dos cente número de estudos desenvolvidos nos últi-
homens e 40% das mulheres atenderam esta re- mos anos. Diante desse fato, é necessário o co-
comendação. A análise de regressão de Poisson, nhecimento dos perfis de exposição de risco a es-
não apontou associação significante entre con- sas enfermidades, entre eles o consumo alimen-
sumo diário e consumo mínimo recomendado tar. Entretanto, no Brasil, observa-se um número
de frutas e hortaliças e o estado antropométrico. extremamente reduzido de estudos abordando o
Em estudo de base populacional em Pelotas, consumo alimentar e a sua associação ao perfil
no estado do Rio Grande do Sul, Neutzling et al.30 antropométrico. Por sua vez, os resultados desses

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estudos são ainda conflitantes impondo a neces- análise de agrupamento, o investigador toma
sidade de uma revisão integrativa contextualizan- decisões que podem afetar o número, os tipos de
do as especificidades de cada investigação. padrões e sua capacidade de predizer doenças
Nos estudos analisados, confirma-se a ten- crônicas em populações expostas a longos perío-
dência preocupante do incremento do excesso de dos de risco20,38.
peso, cujas prevalências são elevadas em ambos Nesta revisão, ficam claras as diferenças entre
os sexos. Nesse sentido, a prevalência de excesso os instrumentos de coleta de dados de consumo
de peso em adultos variou de 38,6% a 51,3% e o alimentar utilizados, prejudicando a interpreta-
excesso de gordura abdominal variou de 23,4% ção e a comparação dos resultados entre os estu-
a 43,1%, valores semelhantes aos encontrados dos. Alguns autores relataram a fonte de seus
em outros estudos brasileiros36,37. Essas cifras questionários10,15,17,23,31,33, outros apenas descre-
estão de acordo com as encontradas no último vem as variáveis utilizadas21,24. O tempo de refe-
VIGITEL6, realizado em 2011, no qual 48,5% da rência utilizado no QFA é outro ponto a ser con-
população apresentaram excesso de peso assim siderado. Dos 08 estudos analisados, 03 não des-
como com aquelas divulgadas pela POF 2008- crevem o tempo utilizado21,31,33, 01 empregou o
20095, onde o excesso de peso foi identificado em período de 1 mês15, 02 o de 617,23 e 02 os últimos 12
50,1% dos homens e 48,1% das mulheres. meses antes da entrevista10,32. Essa variação limita
As maiores prevalências de excesso de peso a comparação dos estudos, pois os desfechos que
foram encontradas nos estudos realizados na possuem diferentes tempos de aparecimento e
região sul do país15,24, confirmando os achados tempos de referências mais longos propiciam a
da POF 2008-20095, com maiores frequências de ocorrência de vieses, como o de memória.
excesso de peso nessa região, atingindo 56,8% As frequências de consumo de frutas, verdu-
dos homens e 51,6% das mulheres. Salienta-se ras e hortaliças apresentaram diferenças entre os
que alguns estudos aqui incluídos não relataram estudos analisados, com os menores percentuais
as prevalências de excesso de peso e de gordura de consumo encontrados na região sul do país24,33,
abdominal, dificultando a comparação entre as contrariando os achados de Jaime et al.39 e do
prevalências encontradas. VIGITEL6, no qual a cidade de Florianópolis apre-
Quanto ao consumo alimentar, observa-se sentou o maior percentual de consumo recomen-
na maioria dos estudos a baixa frequência de dado de frutas e hortaliças no Brasil1. Esta revi-
consumo de alimentos considerados de prote- são mostra que o consumo de frutas, legumes e
ção para DCNT, como é o caso das frutas, legu- hortaliças pela população brasileira está bem
mes e hortaliças. abaixo das recomendações atuais, e vem corro-
A variação na forma de construção e na apre- borar os achados de outros estudos39-44, inclusi-
sentação dos padrões alimentares originou dife- ve da POF 2008-20095, nos quais menos de 10%
renças marcantes quanto ao tipo e número de da população atingem as recomendações de con-
padrões dificultando sobremaneira a interpreta- sumo de frutas, verduras e legumes.
ção dos resultados. Nesse sentido, no estudo de O padrão alimentar mostrou-se associado sig-
Neumann et al.11, alimentos considerados de ris- nificantemente ao perfil antropométrico em 5 es-
co para DCNT fizeram parte de diferentes pa- tudos analisados. Destes, em três, o consumo de
drões. Por sua vez, no estudo de Perozzo et al.15, frutas, verduras e hortaliças mostrou-se direta-
alimentos considerados de proteção (vegetais e mente associado com o excesso de peso, o que vem
frutas) compuseram padrões de consumo dife- contrariar os resultados de estudos prévios45,46.
rentes. Em 50% dos estudos, utilizou-se como No estudo de Gimeno et al.17, padrões sau-
indicador de proteção, o consumo de frutas, le- dáveis representados por consumo adequado de
gumes e hortaliças, embora apresentando uma frutas e vegetais, representaram fatores de risco
ampla variação em sua forma de apresentação: para o excesso de gordura abdominal, contrari-
consumo diário29, consumo regular23, consumo ando os achados de Castanho et al.47 que, ao
mínimo recomendado31, consumo adequado24. analisarem o consumo de frutas, legumes e ver-
A falta de padronização para definição dos duras em adultos e sua relação com a síndrome
padrões de consumo alimentar dificulta sobre- metabólica (SM), observaram que o consumo
maneira a comparação dos resultados obtidos adequado de frutas apresentou efeito protetor
nos diferentes contextos ecológicos. É necessário para a obesidade abdominal, hipertrigliceridemia
conhecer melhor a validade e a confiabilidade dos e presença de SM. Esse fato poderia ser explicado
padrões alimentares, pois em métodos de obten- pelo viés de informação, uma vez que ao consi-
ção a posteriori, derivados de análise fatorial ou derar-se o consumo nos últimos seis meses que

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Azevedo ECC et al.

antecederam à entrevista, a possibilidade de viés ral32,33. Essa limitação deve ser considerada na
de memória é potencialmente grande, como tam- interpretação dos dados, podendo ser minimi-
bém pelo fenômeno da causalidade reversa. Ou zada como mostrado em alguns estudos51,52.
seja, por se tratar de estudo com desenho trans- Também é limitante o fato de que os artigos
versal os indivíduos com excesso de peso poderi- aqui analisados são estudos transversais, os quais
am estar em dieta para perda ponderal, median- estão sujeitos a vieses, como o de causalidade
te a adoção de um padrão alimentar saudável. reversa. Apesar disso, estudos transversais de base
Os indivíduos também poderiam estar distor- populacional com amostras representativas são
cendo o relato de alguns alimentos por já conhe- de grande relevância, já que são alternativas rá-
cer seu efeito benéfico ou mesmo nocivo14. pidas e baratas, sendo muito úteis no dimensio-
No estudo de Perozzo et al.15, em que frutas e namento dos problemas, criando subsídios para
vegetais originaram padrões alimentares diferen- a adoção de ações educativas e promoção de há-
tes, o elevado consumo de PA – vegetais apresen- bitos alimentares saudáveis na população de re-
tou-se como fator de risco para obesidade geral, ferência ou em outras com características seme-
fato também observado em estudo desenvolvi- lhantes.
do por Sichieri et al.48. Esses resultados poderi-
am ser explicados pela superestimação do con-
sumo de vegetais na dieta dos indivíduos com Conclusão
excesso de peso. Deve-se considerar essa possibi-
lidade ao interpretar os resultados, por tratar-se Os efeitos benéficos do consumo de alimentos
de um viés de difícil controle na coleta de dados e protetores, como frutas, legumes e hortaliças es-
sem controle na análise. tão bem estabelecidos na literatura. No entanto,
Por outro lado, os padrões de consumo de a revisão bibliográfica mostrou resultados con-
alimentos dependem de outros fatores como con- flitantes e que diferem desse conceito pré-estabe-
dições socioeconômicas e demográficas, aspectos lecido. Esses resultados inesperados poderiam ser
culturais49 e histórico de vida de cada indivíduo50. atribuídos ao delineamento metodológico utili-
Além disso, as escolhas alimentares podem se zado nos estudos (transversais), à multiplicida-
modificar ao longo do tempo, de acordo com a de e à inadequada caracterização dos padrões
disponibilidade dos alimentos em cada região17. alimentares, além do viés de informação, dentre
Dos 08 estudos analisados, em apenas 0133 outros fatores.
foi utilizado inquérito telefônico para coleta de Desse modo, as variações encontradas nessa
dados, realizado pelo SIMTEL34 em 2005 na ci- revisão, com um grande número e tipos de pa-
dade de Florianópolis. O SIMTEL34, assim como drões alimentares, mostram a necessidade de
o VIGITEL6,32, apesar de possuir algumas limi- padronização dessa forma de caracterizar o con-
tações por excluir os indivíduos que residem em sumo alimentar para que seja possível uma cor-
domicílios que não possuem telefone fixo, são de reta interpretação dos resultados e comparações
grande utilidade devido à sua agilidade, baixo entre os diferentes estudos.
custo e grande representatividade da população. Além disso, as altas prevalências de excesso de
Deve-se ressaltar que em 02 estudos as infor- peso e do baixo consumo de frutas, legumes e
mações referentes às estimativas de excesso de hortaliças, indicam a necessidade de intervenções,
peso baseiam-se em peso e altura autorreferidos visando à implementação de estratégias de pre-
e não aferidos, não podendo se descartar um venção e promoção da saúde, incentivando a re-
potencial viés de informação, com superestima- dução do excesso de peso e maior consumo de
ção da altura e subestimação do peso corpo- alimentos ricos em fibras, como frutas e vegetais.

Colaboradores

ECC Azevedo, AS Diniz, JS Monteiro e PC Cabral


participaram igualmente de todas as etapas de
elaboração do artigo.

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