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14572013 1447
ARTIGO ARTICLE
Padrão alimentar de risco para as doenças crônicas
não transmissíveis e sua associação com a gordura corporal
– uma revisão sistemática
Abstract The article seeks to review studies on Resumo O objetivo do presente artigo é revisar
unhealthy eating patterns for chronic non-com- estudos sobre padrão alimentar de risco para as
municable diseases (NCD) and its association with doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) e
body fat in adults, published between 2005 and sua associação com a gordura corporal em adul-
2012. The articles were systematically reviewed tos, publicados entre os anos de 2005 e 2012. Os
by two independent researchers in Medline, Li- artigos foram revisados sistematicamente de for-
lacs, and Scielo using the following key words: food ma independente por 2 pesquisadores, utilizando
consumption, chronic diseases, anthropometry, os descritores: food consumption, chronics disea-
body fat, and adults. Eight studies met the inclu- ses, anthropometry, body fat e adults, nas bases de
sion criteria, all conducted on the Brazilian po- dados eletrônicas Medline, Lilacs e Scielo. Foram
pulation. The prevalence of overweight and ab- identificados 8 estudos que atenderam aos crité-
dominal fat ranged from 38.6% to 51.3% and rios de inclusão, todos realizados na população
23.4% to 43.1%, respectively. In the majority of brasileira. A prevalência do excesso de peso e de
studies, fruit and vegetable consumption was be- gordura abdominal oscilou de 38,6% a 51,3% e
low the recommended level. A significant associa- 23,4% a 43,1%, respectivamente. Na maioria dos
tion between food patterns and anthropometric estudos, o consumo de frutas, legumes e verduras
profile was found in five studies. The variations in esteve abaixo do recomendado. Foi encontrada
the prevalence and in the results of the studies associação significativa entre padrões alimenta-
indicate the need for standardization of data col- res e perfil antropométrico em 5 estudos. As vari-
lection instruments and methods used, as well as ações nas prevalências e nos resultados dos estu-
conducting studies with a more appropriate de- dos indicam a necessidade de padronização dos
sign. The high prevalence of overweight and low instrumentos de coleta e métodos utilizados e a
consumption of food meeting healthy eating stan- realização de estudos com delineamentos mais
dards indicates the need for intervention measures. apropriados. As altas prevalências de excesso de
Key words Food consumption, Adults, Anthro- peso e de baixo consumo de alimentos marcadores
1
Programa de Pós-
pometry, Systematic review, Chronic non-com- de padrões alimentares saudáveis indicam a ne-
Graduação em Nutrição,
Universidade Federal de municable diseases, Body fat cessidade de medidas de intervenção.
Pernambuco. R. Prof. Palavras-chave Consumo alimentar, Adultos,
Moraes 1235, Cidade
Universitária. 50.670-901
Antropometria, Revisão sistemática, Doenças crô-
Recife PE Brasil. nicas não transmissíveis, Gordura corporal
edy_azevedo@hotmail.com
continua
salgados, doces, gorduras, presunto, refrigeran- gênico) – feijoada, carne de boi e miúdos, porco,
te comum; Padrão 2 (tradicional) – Cereais, fei- frango, linguiça, ovo, bebidas alcoólicas e sal. Os
jões, folhosos, não-folhosos e sopas, maionese, padrões cafeteria e aterogênico se associaram po-
chá e café; Padrão 3 (moderno) – Leite desnata- sitivamente com o excesso de peso e obesidade
do, frutas, sucos naturais, peixes, refrigerantes abdominal, enquanto que os padrões moderno
diet, adoçantes artificiais e, em menor propor- e tradicional se associaram inversamente com o
ção, pães, não folhosos e sopas; Padrão 4 (atero- IMC e a RCQ.
Oliveira et 25,8% Sobrepeso (IMC) (26,3% Encontrou-se frequência O padrão alimentar não apresentou
al.21 2009. mulheres e 25% homens). reduzida de consumo de associação significante com o excesso
Salvador, BA. 12,8% Obesidade (IMC) (15,1% legumes, frutas e hortaliças de peso (IMC) e gordura abdominal
mulheres e 8,4% homens). (padrão saudável) e elevado (CC).
28,1% Excesso de gordura consumo de carnes,
abdominal (CC) (35,7% mulheres embutidos, leite e derivados
e 12,9% homens) (padrão de risco) em mais de
1/3 da amostra.
Neumann et 48,5% Excesso de peso (IMC). Não descrimina a Os padrões cafeteria e aterogênico se
al.11 2007. 43,1% Obesidade abdominal porcentagem da amostra que associaram positivamente com o
São Paulo, SP. (RCQ). apresentou cada padrão. excesso de peso e obesidade
abdominal. No entanto, os padrões
moderno e tradicional se associaram
inversamente com o IMC e a RCQ.
Gimeno et NÃO INFORMADO. O padrão obesogênico foi O padrão saudável teve efeito protetor
al.17 2011. mais frequente nos indivíduos para obesidade geral e de risco para
Ribeirão eutróficos (29,1%) e que não obesidade central (RP=0,59;
Preto, SP. apresentavam obesidade IC95%;0,42-0,81)O padrão misto
central (32,8%).O padrão apresentou efeito protetor para
saudável foi mais frequente obesidade geral (RP=0,68;IC95%;0,50-
nos indivíduos com sobrepeso 0,91)
(29%) e obesidade central
(28,1%).
Perozzo et 23,3% Obesidade abdominal NÃO INFORMADO. Encontrou-se uma associação direta
al.15 2008. (CC). entre a obesidade geral e o PA- frutas,
São Leopoldo, 18% Obesidade geral (IMC). embora uma relação inversa com o PA-
RS. vegetais. Já o PA-nozes/oleaginosas
associou-se de forma inversa à
obesidade abdominal.
continua
Em Ribeirão Preto, estado de São Paulo, Gi- vegetal. Observou-se maior frequência de indiví-
meno et al.17 descreveram os padrões de consu- duos com padrão “saudável” entre aqueles com
mo de alimentos e fatores associados a estes, en- excesso de peso e obesidade abdominal, o padrão
tre os participantes de um estudo de base popula- obesogênico foi mais frequente nos indivíduos
cional. Na avaliação antropométrica utilizou-se o eutróficos e que não apresentaram obesidade ab-
IMC e a CC, ambos com a classificação da dominal, o que poderia ser explicado por uma
OMS24,33. Foi utilizado para a avaliação do con- situação de causalidade reversa. Ou seja, de for-
sumo alimentar, um QFA validado por Fornés et ma inusitada os padrões obesogênico e misto
al.26, analisado segundo a metodologia de escores apresentaram-se como fatores de proteção para
proposta por esse mesmo autor22, identificando- a obesidade abdominal avaliada pela CC.
se 4 padrões de consumo de alimentos: Padrão Perozzo et al.15, em estudo desenvolvido em
obesogênico – açúcar, doces e refrigerantes; Pa- São Leopoldo, Rio Grande do Sul, analisaram a
drão saudável – hortaliças, frutas e laticínios des- associação de padrões alimentares com a obesi-
natados; Padrão misto – frituras, pescados e raí- dade geral e abdominal em mulheres adultas. Para
zes e Padrão Popular – feijão, cereais e gordura a avaliação antropométrica, foi utilizado o IMC
Lino et al.31 46,9% Excesso de peso (IMC). 58,8% Consumo diário de Foi encontrada associação
2011. frutas. estatisticamente significante entre
Rio Branco, 52,4% Consumo diário de consumo diário de frutas e excesso de
AC. vegetais. peso ente homens (RP = 1,19;
IC95%;1,02-1,39) e entre as mulheres
(RP = 1,10; IC95%; 0,96-1,27).
Mondini et NÃO INFORMADO. Apenas 25% dos homens e O estado nutricional não apresentou
al.29 2010. 40% das mulheres atenderam associação com o consumo mínimo
Ribeirão à recomendação mínima de recomendado de frutas e hortaliças (p
Preto, SP. consumo de frutas e = 0,1441)
hortaliças, consumindo esses
alimentos pelo menos cinco
vezes/dia.
Neutzling et 51,3% Excesso de peso (IMC). Apenas 20,9% dos indivíduos O estado nutricional não apresentou
al.30 2009. consumia frutas, legumes e associação estatisticamente significante
Pelotas, RS. verduras regularmente. com o consumo regular de frutas,
legumes e verduras (p = 0,76).
antecederam à entrevista, a possibilidade de viés ral32,33. Essa limitação deve ser considerada na
de memória é potencialmente grande, como tam- interpretação dos dados, podendo ser minimi-
bém pelo fenômeno da causalidade reversa. Ou zada como mostrado em alguns estudos51,52.
seja, por se tratar de estudo com desenho trans- Também é limitante o fato de que os artigos
versal os indivíduos com excesso de peso poderi- aqui analisados são estudos transversais, os quais
am estar em dieta para perda ponderal, median- estão sujeitos a vieses, como o de causalidade
te a adoção de um padrão alimentar saudável. reversa. Apesar disso, estudos transversais de base
Os indivíduos também poderiam estar distor- populacional com amostras representativas são
cendo o relato de alguns alimentos por já conhe- de grande relevância, já que são alternativas rá-
cer seu efeito benéfico ou mesmo nocivo14. pidas e baratas, sendo muito úteis no dimensio-
No estudo de Perozzo et al.15, em que frutas e namento dos problemas, criando subsídios para
vegetais originaram padrões alimentares diferen- a adoção de ações educativas e promoção de há-
tes, o elevado consumo de PA – vegetais apresen- bitos alimentares saudáveis na população de re-
tou-se como fator de risco para obesidade geral, ferência ou em outras com características seme-
fato também observado em estudo desenvolvi- lhantes.
do por Sichieri et al.48. Esses resultados poderi-
am ser explicados pela superestimação do con-
sumo de vegetais na dieta dos indivíduos com Conclusão
excesso de peso. Deve-se considerar essa possibi-
lidade ao interpretar os resultados, por tratar-se Os efeitos benéficos do consumo de alimentos
de um viés de difícil controle na coleta de dados e protetores, como frutas, legumes e hortaliças es-
sem controle na análise. tão bem estabelecidos na literatura. No entanto,
Por outro lado, os padrões de consumo de a revisão bibliográfica mostrou resultados con-
alimentos dependem de outros fatores como con- flitantes e que diferem desse conceito pré-estabe-
dições socioeconômicas e demográficas, aspectos lecido. Esses resultados inesperados poderiam ser
culturais49 e histórico de vida de cada indivíduo50. atribuídos ao delineamento metodológico utili-
Além disso, as escolhas alimentares podem se zado nos estudos (transversais), à multiplicida-
modificar ao longo do tempo, de acordo com a de e à inadequada caracterização dos padrões
disponibilidade dos alimentos em cada região17. alimentares, além do viés de informação, dentre
Dos 08 estudos analisados, em apenas 0133 outros fatores.
foi utilizado inquérito telefônico para coleta de Desse modo, as variações encontradas nessa
dados, realizado pelo SIMTEL34 em 2005 na ci- revisão, com um grande número e tipos de pa-
dade de Florianópolis. O SIMTEL34, assim como drões alimentares, mostram a necessidade de
o VIGITEL6,32, apesar de possuir algumas limi- padronização dessa forma de caracterizar o con-
tações por excluir os indivíduos que residem em sumo alimentar para que seja possível uma cor-
domicílios que não possuem telefone fixo, são de reta interpretação dos resultados e comparações
grande utilidade devido à sua agilidade, baixo entre os diferentes estudos.
custo e grande representatividade da população. Além disso, as altas prevalências de excesso de
Deve-se ressaltar que em 02 estudos as infor- peso e do baixo consumo de frutas, legumes e
mações referentes às estimativas de excesso de hortaliças, indicam a necessidade de intervenções,
peso baseiam-se em peso e altura autorreferidos visando à implementação de estratégias de pre-
e não aferidos, não podendo se descartar um venção e promoção da saúde, incentivando a re-
potencial viés de informação, com superestima- dução do excesso de peso e maior consumo de
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