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DISSERTACAO DE MESTRADO EM HISTORIA DOS DESCOBRIMENTOS & DA EXPANSAO PORTUGUESA PORTUGUESES E MALAIOS MALACA E OS SULTANATOS DE JOHOR E ACHEM 1575-1619 PAULO JORGE CORINC DE SOUSA PINTO ORIENTADOR: PROF, LUIS FILIPE F. R. THOMAZ, FACULDADE DE CIENCIAS SOCIAIS E HUMANAS UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA 1994 INDICE Introdugaio Capitulo | - MALACA NO [NDICO I.1+ Mataca, a Asia do Sueste e o Fistado da india: evolugiio econémica 1.1.1-Malaca ¢ © seu comércia associado , 1,1.2-0 século XVI e 0 esvaziamento de Mataca 1.2- Malaca, a Asia do Sueste ¢ o Estado da India. questoes politicas e militares 1.2.1-Tensio, mutagio ¢ erosio iP -Regeneracao 1.2.2.1. Projectos de reforma 1.2.2.2. Projectos de conquista Capitulo 2 - MALACA E Q BQUILIBRIO NOS ESTREITOS, 2.1+ Malaca, Johor ¢ 0 Achém: a weopolitica dos Estreitos 2.1.1 - Trés decadas de equilidsio A ruptura 2.2: Malaca no Mundo Malaio 2.2.1 - Politica, guerra e diplomacia 2.2.2 - O factor religioso Capitulo 3 - AS POTENCIAS REGIONAIS 3.1- O sultanato de Jobor 3.1. 1-Problemas de genealogia 3.2- O sultanate de Achém 3.2.1-Problemas de geneaioyia Capitulo 4- A CIDADE DE MALACA 4.1 ~ A estrutura da cidade: populagio ¢ sociedade 4.2» Os poderes: capitio. bispo e casados - 0 Bendara eo Tomungao. 4.3 A seguranca: fortificagdes, recursos materiais e humanos. Capitulo 5 - EVOLUCAO POLITICA DE MALACA: ALGUNS MOMENTOS 5.1 A crise de 1585-1587 . . . . 3.2 - Pax Porncalensis. 5.3- As grandes armadas Conclusio Anexos -Quadros e Mapas -Apéndice Documental . Bibliografia 10 4 i6 45 46 of 66 7 82 84 89 96 103 106 nT 123 124 139 1s3 164 174 175 186 200 208 223 224 232 239 49 252 263 323 INTRODUCAO A histéria da presenca portuguesa no Oriente continua, em boa parte, por fazer No que toca Asia do Sueste, e mau-grado 0 surgimento de varios trabalhos recentes sobre os portugueses nesta regio, importantes lacunas persistem ainda, sobretudo a partir dos finais do século XVI, A historiografia portuguesa padeceu de dois males, felizmente uitrapassados nos nossos dias, que coutribuiram decisivamente pare tal facto, Em primeire lugar, temos a atengo centrada sobre o Malabar, Goa ¢ o Indico Ocidental OU, No extremo oposta, Macau, como areas de influéncia portuguesa mais duravel, no meio ficavam, por vezes um pouco esquecidas, o Coromandel, o Bengal, a Peninsula Meiaia ou a Lasulindia, Sobre a Asia do Sueste (terminologia de origem anglo-saxénica gue, como é sabido, designa o conjunto geografico e civilizacional da Peninsula Indochinesa e do Arquipélago Indonésio-Filipino), néo ha tradigho historiografica em Portugal. Porém, a descoberta da Suma Oriental de Tomé Pires, assim como 0 grande esforgo de heuristica e publicagdo, na senda de Cunha Rivara, por parte de comes como Silva Rego, Basilio de Si ou José Wicki, vieram disponibilizar ao historiador um vaso menancial de fontes ainda inéditas. Por outro Indo, o trabalbo pioneiro de Luis Filipe ‘Thomaz, dotado de um vasto € profundo conhecimento da Histéria das Civilizagoes Asidticas, acabou por criar uma pequena escola de investigadores virados para o estudo da presenga portuguese no Oriente, por vezes em areas quase inéditas no panorama historiogratico nacional: Birmdnia, Sido, Samatra, Maluco, Mar de Ceilao, entre outras. Em segundo ugar, subsistin durante muito tempo o canceito decadentista do Estado da india, consubstanciado na ideia seguinte: apés o avango fulminante inicial. sobretudo com as empresas de Afonso de Albuquerque, seguiu-se a estabilizagio, a estagnagiio ¢ a inevitével decadéncin, reduzindo-se assim boa parte do sécnfo XVT ¢ os perfodos posteriores a um fongo e penoso arrastamento, er que os portugueses recuavam em todas as frentes, submersos pela cormupgio, intelorancia religiose, imeficdcia administrativa, derrocada militar. A esta tese niio eram, por vezes, alheias as explicagdes de origem racica, justificando-se a decadéncia portuguesa pela mestipagem enftaquecimento da estirpe de Afonso de Albuquerque, Duarte Pacheco Pereira e tantos outros, Por outro lado, ¢ Period Filipino, desde hé muito visto como um periado negro da nossa Historia, acentuava ainda mais esta ideia decadentista. A recente reformulacaa Geste e de muitos outros conceitos, levando ao repensar globat da Expansto Portuguesa no seid’ das estruturas politicas, sociais e econdmicas asiéticas, tende & abrir novos camiinhos ¢ @ permitir 0 estudo mais profundo do contacto civilizaciona! inaugurado nos finais do século XV pelos portugueses, dissipadas que esto, pelo menos aparentemente, as névoas geradas pelas visdes colonials ¢/ou anti-colonialistas da Historia O panorama historigrifico portugués sobre a Asia do Sueste continua, porém, muito pobre. No que se sefere 4 insutindia, contam-se pelos dedos de uma mao os sobre esta Area, Sobre 0 periods filipino o seu abmero & ainda snitores espevializades mais reduzido, Assim, este trabalho tem como primeira ¢ principal pretensio tentar contribuir para um melhor conhecimento dx Histéria da presence portuguesa numa area e num tempo ainda insuticientemente estudados, reunindo num tnico trabalho dados e abordagens tratadas de forma fragmentiria por variados autores, 0 AS questdes ueradas em toma da anilige ¢ estudo de fontes sio um elemento fundamental de qualquer estudo em Histaria. No caso presente, foram vérios os obsticulos encontrados. Em primeiro lugar, mau-grado o trabalho dos autores acima refecidos, uma parte importante das fontes portugueses para esta época encontra-se ainda disperse e/ou inédita; muitas esperam ainda o achamento pelos investigadores, nos arquivos portugueses, em Simancas ou em Sevilla, © que se encontra publicada é muitas vezes inécuo, repetitive ou irrelevante, Embora assumamos o esforga de trabalho anquivistico realizado pare a elaboragio deste trabalho, no podemos deixar de sentir alguma insatisfagio face as fontes portuguesas, canal documentai por vezes tinico para o estudo de variados temas da Historia local, que nem sempre so suficientemente esclarecedaras, Uma das lacunas mais graves deste trabatho diz respeito as imitagdes linguisticas do autor, no que toca ao desconhecimento da lingua flamenga ¢ ao dominio insnficiente do Malaio. Para o primeira caso, ficaram assim de fora as fontes holandesas, importantes, para niio dizer fundamentais, logo a pastir dos primeiros anos do século XVI. mesmo se pode dizer das fontes malaias. Quer mum caso, quer no outro, Tecorvemos 20 pequeno mimero de tradugdes disponiveis em lingua ingiesa ou francesa, que, emhora importantes, no colmatam certamente a lacuna Por vezes ainda, foi possivel ter acesso, embora indirecto, a estas fontes. através dos trahathos de diversos historiadores, que as citam ou utilizar. A falta de uma tradi¢ao de estudos sobre a Asis do Sueste em Portugal nfo se reflecte apenas no reduzido mimero de historiadores; rraduz-se também na pobreze das nossas hibliotecas, no que toca sobretudo 2 bibiliogratie actualizada, Nii fosse 0 acess A biblioteca pessoal do Prof. Luis Filipe Thomaz. a0 espitio do Institura de Historia de Além-Mar, e & feliz oportunidade de pesquisa em biblintecas estrangeiras, @ a reslizagia deste estudo em bases minimamente seguras estaria seriamante comprometida. Algo. 5 alguns porém, Se nos escapou: quanto a fontes, tenios como exemplos mais significat relatos de viagens holandeses, traduzidos, cuja certeza da existéncia nfo coresponde 20 seu acesso!, Seguem-se as obras de Frangois Martin? e de Letellier*, para referir apenas as mais prévimas do periodo em estuda. A obra monumental de Francois Valentijn’ é- nos inacessivel, a parte referente a Ceildio esta traduzida pela Hakluyt Society, mas quanto a Malaca, temos que nos contentar com o excerte publicado no JSBRAS, As fontes inglesas, felizmente, encontram-se reeditadas pela Hakluyt Society, e sio iveis. Temos a lamentar a falta de um volume das LREIC, que nao conseguimos ace! encontrar. Lacuna também importante € a colectanea de fortes chinesas da autoria de W. Groeneveldt. Methor sorte teve a pesquisa bibliogréfica, embora seja evidente 0 vazio de obras publicadas em Malaio e Holandés. De resto, selientamos a auséneia de virias dissertagdes inéditas, como as de Arun Das Gupte®, Anne Grinter’ ou Ito Takest ly. p, ex, P. Hair, "Durch Voyage Accouat que lista as wadugdes tnglesas dos relatos de viagens holandeses. Outras ha, dispersas: 0 relato de Matclief De Jonge. por exemple ("An Historical and True Discourse of 2 Voyage niade by Admiral Comelis Matclife ..”. 1605-1607). encontra-se publicado na gbrade B. Penrose Sea Fights in the East Indies, de 1931. que 1ambém no conseguimes encontrar. 2Deseription du premier voyage faict aux Tndes Orientales par les Francais de Sriat-Malo, Paris, 2604, {Voyage faict aux Indes Orientales par Jean Le Toltier,natif de Dieppe... Dieppe, 1631. 40ud en Nienw Oost-Indien, Dordrechv Amsterdam. 3724-1726, 8 vols. S*Notes on the Malay Archipelago and Malaoon from Chinese Sowoes" in Miscellaneous Papers Relating to tndo-Chiea,.. 2 série. 1, 1887, pp, 126-262 SAchin in Indonesian Trade and Potttics, Cornell University, 1952, ‘TBook IV of the Bustan us Salatin by Nuruddin ar-Raniri... School of Oriental and African Studies, Londres, 1979, 8The World of the Adat Aceh. Australian National University, 1984. Ao Tonge da elaborapio deste irabatho, uma outra constatagio foi tomando forma’ a historigrafia portuguesa desconhece, de um modo yeral, as Fontes malaias holandesas, talvex pelos ebstéculos linguisticos, mas os historiadores da Asia do Sueste sio igualmente desconhecedores das fontes portuguesas, pelo mesmo motive; os casos de Charles Boxer, Denys Lombard e Sanjay Subrahmanyam, entre outros, so honrosas excepyies, como o sia Alfredo Botello de Sousa, Luis Filipe Thomaz ou Jorge dos Samos Alves no lado portugués Exvertos das obras de Godinho de Erédia ou Diogo do Couto so os principais materlais utiizados, porque avessiveis em traductes inglesas. Logo, pare importante da manencial documenta! para a Historia da Asia do Sueste, antes da chezads dos Norte-Europeus (¢ mesmo apés) escapam, assim, a grandes historiadares, que evitam, ou se rodeiam de grandes cautelas quando abordam o século XVI As lacunas sobre ¢ periodo portugués om obras de envergadura so s6 por si reveladoras ® Deste modo, pode-se delinear um segundo objectivo desta tese: enriquecer um pouco o panorama portugues de estudos Sueste Asiaticas, introduzindo a historiogratia mais importante é também aigumas fontes nilo-portuguesas, mal conhecidos no nosso pais, da mesme forma, veunir, apresentar ¢ analisar algumas fontes portuguesas, inéditas cu publicadas, para o period em estuda, tentando que de quéiquer modo possam constituir um contributo ve 2 conhecimente de A. Reid, I. Kathirithamby-Wells ou L, e B. Andaya, entre tantos ido para a Histéria local, ¢ ter esperanga que um dia cheguen: outros. HI ina tese de mestrado, enquanto trebslio de investigagiio em Histéria, nfo se destina nevessariamente a fazer inovagées sensacionais ou @ apresentar revelagées € Propastas revolucionérias; é porém, desejével que contribua de algum moda para 0 avango do estudo do passndo das sociedades hummanas, trabalhando em primeiro lugar Como exemplos podemos indicat 2 auséncia de um capitulo dedicado 20 periodo portugués na grande obra dirigida por Sandhu ¢ Wheatley Melaka/ The Transformation of a Malay Capital «1400-1980, as roferéncias Taconicas no artigo "Malacca" da Enevelopedia of Yslam oz a extrema brevidade do artigo dedicado sos portugueses ("The Portuguese in Malays", de Khasnor Biaii Johan) a obra geral sobre a Malésia Gtimpses of Malaysian History, dirigida por Zainal Abidin B. A. Wahi sobre fomtes histéricas mas também, se possivel, defininda ou proponde abordagens. questdes € problematices, avangando para novos dados ou simplesmente reformulando ow enquandrando em novos moldes materiais ja elaborad satisfatoriamente analisados, Fundamental, de qualquer modo, ¢ a definigao minimamente cuidada do seu is mas ainda, ponto de partida, a delimitagdo do seu Ambito ¢ reconhecimenta das suas limitagdes, No caso presente, a abordagem escothida define a propria esséncia do trabalho; a ica de Maiaca, no seio do Estado da India e das estruturas Tocais em que se geopol enquadra e em que vive, num tempo deli 1619); como mote a glosar, como fio condutor, como espinha dorsal deste estudo, duas ideias: o enquadramento da Mataca Portuguesa no contexto local ¢ 0 esvaziamento do seu papel como grande entreposto. Preferimos, ao conceito de decadéncia, ¢. do de cerca de meio século (entre 1575 ¢ evidentemente no caso pasticular, porventura néc-extrapolavel, de Malaca, 0 de esvaziamento, iniciada logo apés a conguista portuguesa, ayravaco pelas wansformagdes, da segunda metade do século e, finaimente, acelerado de modo irreversivel a partir dos inicios do século seguinte, com wma linha de ruptura facilmente identificavel: a chegada dos holandeses © dos ingleses aos mares do Arquipélago. que vem curto-circuitar as bases da estabilidade politica portuguesa na regifio (como, alias. um pouce por todo o indico), privar as bases portuguesas dos seus sustenticulos econdmicos, desiquilibrar a balanga geopolitica sob a qual repousava o poder da cidade e agin como eficaz catalizador do desgaste das estruturas portuguesas do Estado da india, que se mostram desajustadas a esta nova ameaga. © que nos parece igualmente claro é que, mau-grade todos os vicios da administragao portuguesa, todos os abusos e prepoténcias das capitées e dos oficiais sobre os mercadores e todo ¢ desgaste a que Malaca foi sujeita ao longo do século XVI, a posi¢ao da cidade no seio do Mundo Malaio permanece solida; nao deixa de ser significativo o facto de os ultimas anos do século assistirem ao fortalecimenta de Malaca no equilibrio geopolitico, ao restabelecimento de boa parte do aftuxo das comunidades mercantis aps os cercos de 1568-75, 1582 e 1587, a rapide fortuna de quem ocupa o lugar de capitéo da fortaleza. $6 com a chegada de um poder hostil, economicamente forte, militarmente poderoso e politicamente corrosive é que o edificio portugués se desmorona, © comércio se fragmenta ¢ contrai, as armadas diminuem em poder, nimero € forma, Curiosamente, esta contracgio gradual iniciada nos anos de 1603-1606 e selada em 1619 veio acentuar uma caracteristica jé notivel 20 longo do século anterior: © divércio entre a presenga portuguesa eo Estado da india, a penetragdo de portugueses, facilitada pela mestigagem, nas sociedades locais, a adaptagdo dos modelos portugueses as formas locaiy. Claramente inabilitados para o estudo adequado desta perspectiva em termos globais, limitarmo-nos-emos a procurar segui-la tle pomto de vist politica, tentando caracterizar Malaca enquanto sede de poder, nas suas diferentes formas, e tragar a sua evolugiio a0 longo do periodo em causa, Tal nfo se faz sem correr sérios riscos. Em primeiro lugar, 0 antificialismo que é dissecar um vector do seu contexto, neste caso, privilegiar a vertente politica e geopolitica em detrimento das abordagens econdmicas, num ambiente historico onde a vida politica vive sssociada, depende mesmo, do comércio das condigdies em que evolui. Depois, temos © perigo do demasiado apego as fontes, sobretudo portuguesas, possivel fonte de erro e distro, correndo © risco de sobrevalorizagio quer das mesmas fentes, quer das estnuturas portuguesas no contexto histérico em causa, Finalmente, a profimdidade, o grau de pormenor a que por vezes seremes abrigados a descer para o debate de algumas questoes, sobretudo no que toca & confusa bistria politica dos sultanaros malaios, assim como 0 acompanhamento préximo de algunas etapas da histéria de Malaca, poderfo conduzir potenciaimente 30 descritivismo ¢ a anélise mesquinha, desviandd a atengac das grandes questies centrais Escapar a estes riscos, eu minimizi-los, seré uma preocupayao fundamental deste estudo. Uma deformacio é, para ja, assumide: quer por ser esta uma tese em Historia dos Descobrimentos da Expans%o Portuguesa, quer pelas varias limitages do autor, a contribuigéo part a histdria focal fica aquém do que se poderia, & primeira vista, esperar Porqué 1575-1619? Em primeiro lugar, porque a sua extensio parece-nos ser @ ideal para um trabalho deste tipo, nem demasiado vasto, o que levaria a um extenso texto ou a um tratamento demasiado superficial, diacrénico e longo dos problemas; nem demasiado curto, que cairia no aprofundamento de questées perdendo de viste a indica historiea, ou no desajustamento & devida integregdo no tempo longo Quanto 4 primeira baliza, fot a escolhida por marcar um dado fundamental para Malaca: o uitimo cerco do Achém é cidade no contexto da vasta alianga anti-portuguesa levada a cabo por toda o Indico na década de 1560, na sequéncia de Talikota, ¢ 0 fracasso definitivo desta mesma mobilizagia. A altemnativa, para esta escolha seria, decerto, 1568, como data do primeiro dos cercos no contexto acima referido. 1575 & aliés, © ano em que os portagueses perdem Temate, consumando definitivamente a desorganizacao da presenga portuguesa no Arquipélago Oriental e o fim das pretensdes monopolistas sobre 0 comércio das especiarias da regio, coincidindo com importantes mutagGes no seio das estruturas portuguesas no Indico. visiveis a partir dos meados do século. Quanto @ 1619, marca o tragar do destino a que Malaca foi condenada, com 2 conquista de Jakaria e a fundacio de Batavia por Jan Pleterzoon Coen, que passa a sero centro do poder holandés no Oriente, mesmo as portas de Malaca, Os portugueses perderam Malaca em 1641, mas ¢, de facto, azquela data que Malaca cai" nas mos dos holandeses, néio por conquista, mas por definitiva subalternizagio e sufocamento por um novo poder no auge de sua pujanga Para uma visio mais equilibrada do tema deste estudo, procedemos 4 sua segmentacao, definindo a estrutura intema da forma que se segue. A esquematizagao organizada em circulos concéntricos, que pretende abordar questdes, tragar percursos € evolugées, assinalar contrastes, definir um posicionamenio de Malaca: no contexto mos na Insulindia Ocidental, wlobal do Indico e do Estado da india: 4 escala regional, abordando a Geopolitica dos Estreitos e prestando uma atengio especial a evolugio. interna e externa dos sultanatos de Johor e Achém, parceiros de Malaca no tnangulo politico da regido; finelmente, na propria cidade, ebordando a sua estrutura e cvolugio internas, assim como a sua metamorfose de cidade-cosmopolita a cidade-gueo, no period em questao. Lim iiltima capitulo, que carresponde a uma abordagem diacrénica completa prevista inicialmente, assinala apenas alguns momentos e temas deste periodo, insuficientemente referidas noutros capitulos e que nos pareceu merecerem um pouco imais de atengao. Algumas questées técnicas ¢ formais convém ser definidas. Para evitar sobrecarregar as notas de codapé, preferimos condensar as indicagdes ai incluidas, que remetem para a bibliografia presente no final; quanto aos nomes malaios, seguimos o acordo ortografico malaio-indonésio que uniformizou as grafias, Uma questéo coloca-se- nos, porém, quando tratamos de alguns nomes: devemos apresentar todos os nomes em malaio, ou preferit as formas portuguesas, comummente utilizadas nas nossas fontes ¢ pelos nossos historiadores?!? Decidimos, por principio, adoptar os nomes malsios, abrindo excepgto em casos mais delicados'’, que especificaremos quando necessirio. 10G:m seguidismo pré-malaio levar-nos-ia, in extremis. a purismes ridiculos. como designar Malaca pot Melaka. A adopgdo das formas portuguesas atrisca a cormupyiio inadoquada de alguns nomos Por fim, temos 0s znexos Quam ao apéndice documental, esperamos que @ gula ‘io tenha revelado, afinal, um peso morto. Os quadros € mtapas arquivistica apresentadas pretendem ilustrar 0 trabalho, No caso dos capitaes de Malaca, resulta dos erras detectados em varias obras consultadas, procedeu-se, assim, 20 trabalho de correegaa adequatta, de acoréo com as fontes disponiveis. No que toca as genealogias malaias, resultam do trabalho apresentade nos capitulos 3.1.1 e 3.2.1, © sintetizam a nossa versiio pessoal de interpretagdo das fontes fare tka (pao por Pahang, andreguir por Indragiri, cte.), tanto mais que algumas: Arriscamos manier a forma portuguesa de Achém em detrimento da malai m iment Aceh Acheh, «icin on .feh, por comodidaée « factidade de totamento, Canto. “fohor, patos claramene preferivel aos termos portugueses war, Jantana ou ainda Vantaa, Para ontras regides Jo indico mantemos os nomes portugueses, como Negapaido, Masulipatae ou Surrate. Inéditas ARQUIVO HISTORICO ULTRAMARINO, Conselho Uhramarino Cods.281 282 500. Indie Cx. |, docs, 10, 20, 76, 86, Cx. 3, docs. 24, 23, 36, 64, 114,340, Cx.20, n° 106. ARQUIVO NACIONAL DA TORRE DO TOMBO Cartas dos Viee-reis N’s 41 18) Chancelaria de Filipe Chancelaria de Filipe If Coleceito de 8, Vicente Vols, 12, 14, i7, 18, 26. Corpo Cronolégico Pre. If magos 111, 112 114, Manuscritos da Livraria Nes 699: 303 31 805 1107 12 113 116 1699, (Miscelaneas diversas} Misceldneas Manuscritas do Convento da Graga de Lishou . tomo LT, Cx. 3, tomo VIL; Cx, 4, tomo IIL F: x, 6, tomo ILE, Cx. 16, tomo VIF. Fundo Portugués da Biblioteca Nacional de Paris Nea, Micleo Antigo Nes 870 371 BIBLIOTECA NACIONAL Reservados Cod, 414 - Manuel Godino de Erédia, "Histéria de servigos com martirio de Luis Monteiro Coutinho" Cod. 482 - "Vide Acgdes de Mathias de Albuquerque, Cappitao e Vis Rey do Estado da India. Primeyrae segunda parte", Cod, 638: Descrigdo das fortalezas holandesas na india, por André Coelho. Cods, 1975-1976: “Cartas Diversas" - Correspondéncia do vice-rei D. Francisco da Gama. Cods. 1979-1980 “Livro das despesas de hum por cento da Cidade Santa Cruz de Cochim”, (1:1587-90; 11:1590-98) Cod. 2702: "Regimentos da alfindega de Goa’ Cods.206 1540 1973 2298 9861 11410, (Miscelineas) 3M ARCHIVO GENERAL DE SIMANCAS Secrenmias Provmeiales BIBLIOTECA NACIONAL DE MADRID Cod. 1750 BRITISH MUSEUM Add 25419 ~ Francisco Rodrigues Silveira. "Reformagao da Milicia e Governo do Estado da India Oriental" Add, 9852 9853 28432 28433 (Miscelaneas) HISTORICAL ARCHIVES OF GOA. Provisées dos vice-reis Vols. 1 2 Cras, patentes, Provisies ¢ Alvards Vol. 1 Consulta do Servico de Paries Vol. 3. Mercés Gerais ‘Vol. 2. Regimentos e Insirugies Vol. 2. Reis Vizinhos 328 Vol Cras Patentes ¢ Frovisdes Vol 3 Monyoes do Reino Vols. 24 oA 6B 7 8 9 HW 12, Livro Morato. Livro Verde. Provisiies e Regimenios Volt Assentos do Conselho da Fazenda Voi. 2. 326 Publicadas Colecedes Documentais ARQUIVO das Calénias. Lisboa. 1917, vol. |. BOLETIM do Arquivo Histérico Colonial. Lisboa, 1950, voi. 1 BOLETIM Oficial do Governo do Estado da india, Nova Goa. n’s 45 a 38, 113-119 1880}, n°s 112, 138-143. 161-165, 166-171, 178, 182-189, 206-208, 228-231, 238 (1882)-3 (1883); ns S0-S4, 58-61, 61, 89-99, 100-106, 1S3-287, 170-199, 199-278, 284-285 (1883) DOCUMENTAGAO Ultramarina Portuguesa. Lisboa, Centro de Estudos Histéricos Ultramarinos, 1960-66, vols, LIV, DOCUMENTOS Remetidos da india ou Livros das Moncées. Lisboa, 2 séries. 10 vols. GUNE, V. T. (ed.). Assentos do Conselho da Fazenda 1613-1621, Goa, Directorate of Historical Archives & Archaeology (Museum), 1979. vol. 1, pte. | JACOBS, Hubert (ed.} Documenta Malucensia, II. (1577-1606). Roma. Jesuit Historical Institut, col. "Monumenta Historica Societatis fesu*, 1986. vols. 11-TIL DANVERS, F. C. e W. Foster (ed). Letters Received by the East India Company from its Servants in the East. Londres, Sampsan Law & C°, 1896-1900. 6 vols. PISSURLENCAR, Panduronga S. S, (ed.) Assentos do Conselho de Estado. 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