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Huygens foi o primeiro a sugerir que Saturno era circundado por um anel destacado
do planeta. Usando um telescópio de refração de 50x que ele mesmo havia projetado,
muito superior aos disponíveis para Galileu, Huygens observou Saturno e, em 1656,
como Galileu, publicou o anagrama
aaaaaaacccccdeeeeeghiiiiiiillllmmnnnnnnnnnooooppqrrstttttuuuuu. Quando confirmou
suas observações, três anos mais tarde, ele revelou o significado: "Annuto
cingitur, tenui, plano, nusquam coherente, ad eclipticam inclinato", ou seja, "Ele
(Saturno) é circundado por um anel fino e plano, não tocado em nenhum lugar,
inclinado em relação à eclíptica."[4][9] Robert Hooke foi outro observador inicial
dos anéis de Saturno, e registrou o lançamento de sombras nos anéis.[8]
Em 1675, Giovanni Domenico Cassini determinou que o anel de Saturno era composto de
múltiplos anéis menores, com lacunas entre eles; a maior dessas lacunas foi mais
tarde denominada a Divisão Cassini. Esta divisão é uma região com 4 800 quilômetros
de largura, entre os Anéis A e B.[10]
Em 1787, Pierre-Simon Laplace provou que um anel sólido uniforme seria instável e
sugeriu que os anéis eram compostos de um grande número de pequenos anéis sólidos.
[4][11]
Em 1859, James Clerk Maxwell demonstrou que um anel sólido não uniforme, pequenos
anéis sólidos ou um anel contínuo fluido também não seriam estáveis, indicando que
o anel deveria ser composto de numerosas partículas pequenas, todas orbitando
Saturno independentemente.[11] Mais tarde, Sofia Kovalevskaya também concluiu que
os anéis de Saturno não podiam ser corpos líquidos em forma de anel.[12] Estudos
espectroscópicos dos anéis, realizados em 1895 por James Edward Keeler do
Observatório Allegheny e Aristarkh Belopolsky do Observatório de Pulkovo, mostraram
que a análise de Maxwell estava correta.
Visão da Voyager 2 de Saturno fazendo sombra sobre seus anéis. Quatro satélites,
duas de suas sombras e raios anelares são visíveis
Quatro sondas robóticas observaram os anéis de Saturno a partir das vizinhanças do
planeta. A maior aproximação de Saturno da Pioneer 11 ocorreu em setembro de 1979,
à distância de 20 900 quilômetros.[13] A Pioneer 11 foi a responsável pela
descoberta do Anel F.[13] A maior aproximação da Voyager 1 ocorreu em novembro de
1980, à distância de 64 200 quilômetros.[14] Um fotopolarímetro com defeito impediu
a Voyager 1 de observar os anéis com a resolução planejada, entretanto as imagens
da sonda forneceram detalhe sem precedente do sistema de anéis e revelaram a
existência do Anel G.[15] A maior aproximação da Voyager 2 ocorreu em agosto de
1981, à distância de 41 000 quilômetros.[14] O fotopolarímetro funcionando permitiu
a observação do sistema de anéis com maior resolução do que a da Voyager 1, levando
à descoberta de muitos anéis menores não vistos anteriormente.[16] A sonda Cassini
entrou em órbita de Saturno em julho de 2004.[17] As imagens dos anéis feitas pela
Cassini são até hoje as mais detalhadas, e foram responsáveis pela descoberta de
ainda mais anéis menores.[18]
Os anéis são nomeados alfabeticamente, na ordem em que foram descobertos[19] (A e B
em 1675 por Giovanni Domenico Cassini, C em 1850 por William Cranch Bond e seu
filho George Phillips Bond, D em 1933 por Nikolai P. Barabachov e B. Semejkin, E em
1967 por Walter A. Feibelman, F em 1979 pela Pioneer 11 e G em 1980 pela Voyager
1). Os anéis principais são, olhando-se para fora do planeta, C, B e A, com a
Divisão Cassini, a maior lacuna, separando os Anéis B e A. Diversos anéis mais
tênues foram descobertos mais recentemente. O Anel D é extremamente tênue e é o
mais próximo do planeta. O estreito Anel F está logo depois do Anel A. Depois
desses, estão dois anéis bem mais tênues chamados G e E. Os anéis mostram uma
enorme quantidade de estruturas em todas as escalas, algumas relacionadas a
perturbações pelas luas de Saturno, mas muitas inexplicadas.[19]
Os equinócios de Saturno, quando o Sol passa pelo plano dos anéis, não são
espaçados por igual: em cada órbita o Sol está ao sul do plano de anéis por 13,7
anos, depois ao norte do plano por 15,7 anos. A excentricidade orbital de Saturno,
de 0,0565, é a maior dos planetas gigantes do Sistema Solar, e cerca de três vezes
a da Terra. A sua apside é atingida próximo do solstício de verão do seu hemisfério
norte.[24] Datas para os equinócios de outono no hemisfério norte incluem 19 de
novembro de 1995 e 6 de maio de 2025, com os equinócios setentrionais de primavera
em 11 de agosto de 2009 e 23 de janeiro de 2039.[25] No período próximo ao
equinócio, a iluminação da maior parte dos anéis é bastante reduzida, tornando
possíveis observações únicas ressaltando características que saiam do plano de
anéis.[26]
Características físicas
A escura Divisão Cassini separa o largo Anel B interior do Anel A exterior nesta
imagem da ACS do Telescópio espacial Hubble (22 de março de 2004). O menos
proeminente Anel C está logo no interior do Anel B.
Uma visão da sonda Cassini do lado não iluminado dos anéis de Saturno (9 de maio de
2007)
Os densos anéis principais se estendem de 7 000 km a 80 000 km de distância do
equador de Saturno, cujo raio é de 60.300 km (ver Subdivisões principais). Com uma
espessura local estimada entre 10 m[27] e 1 km,[28] eles são compostos em 99,9% de
gelo de água pura, com uma quantidade residual de impurezas que podem incluir
tolinas ou silicatos.[29] Os anéis principais são compostos principalmente de
partículas variando em tamanho de 1 cm a 10 m.[30]
Embora as lacunas maiores nos anéis, como a Divisão Cassini e a Lacuna Encke,
possam ser vistas da Terra, a sonda Voyager descobriu que os anéis possuem uma
intrincada estrutura de milhares de lacunas estreitas e anéis menores. Acredita-se
que esta estrutura surja, de diferentes formas, a partir da atração gravitacional
das muitas luas de Saturno. Algumas lacunas são criadas pela passagem de luas
menores como Pã,[33] muitas das quais ainda podem estar por ser descobertas, e
alguns pequenos anéis parecem ser mantidos pelos efeitos gravitacionais de pequenos
satélites pastores (de forma similar à manutenção do Anel F por Prometeu). Outras
lacunas surgem de ressonâncias entre o período orbital de partículas na lacuna e de
uma lua mais massiva à distância; Mimas mantém a Divisão Cassini desta maneira.[34]
Outra estrutura nos anéis consiste de ondas espirais levantadas pelas perturbações
gravitacionais periódicas das luas internas em ressonâncias menos disruptivas.
Dados da sonda Cassini indicam que os anéis de Saturno possuem sua própria
atmosfera, independente da do planeta. A atmosfera é composta do gás oxigênio
molecular (O2), produzido quando a luz ultravioleta do Sol interage com o gelo de
água nos anéis. Reações químicas entre fragmentos de moléculas de água e
estimulação adicional por ultravioleta criam e ejetam, entre outras coisas, o O2.
De acordo com modelos desta atmosfera, H2 também está presente. As atmosferas de O2
e H2 são tão esparsas que, se toda a atmosfera se condensasse sobre os anéis, ela
teria a espessura de cerca de um átomo.[35] Os anéis também possuem uma atmosfera
de OH (hidróxido) similarmente esparsa. Como o O2, esta atmosfera é produzida pela
desintegração de moléculas de água, embora neste caso a desintegração seja feita
por íons energéticos que bombardeiam as moléculas de água ejetadas pela lua
Encélado. Esta atmosfera, embora seja extremamente esparsa, foi detectada da Terra
pelo Telescópio Espacial Hubble.[36]
Novas imagens dos anéis, tiradas próximo do equinócio de 11 de agosto de 2009 pela
sonda Cassini, mostraram que os anéis se estendem significativamente para fora do
plano nominal do anel em alguns lugares. Este deslocamento atinge até 4 km na borda
da Lacuna Keeler, devido à órbita fora do plano de Dafne, a lua que cria a lacuna.
[41]
Há duas teorias principais a respeito da origem dos anéis internos de Saturno. Uma
delas, proposta por Édouard Roche no século XIX, é que os anéis já foram uma lua de
Saturno (chamada Veritas, uma deusa romana que se escondeu em um poço) cuja órbita
decaiu até ela ficar suficientemente próxima para ser rasgada pelas forças de maré
(ver limite de Roche).[45] Uma variação desta teoria é que esta lua se desintegrou
depois de ser atingida por um grande cometa ou asteroide.[46] A segunda teoria é
que os anéis nunca foram parte de uma lua, e sim são sobras do material nebular a
partir do qual Saturno se formou.
Uma impressão artística de 2007 dos agregados de partículas de gelo que formam as
porções “sólidas” dos anéis de Saturno. Esses torrões alongados estão continuamente
se formando e dispersando. As partículas maiores têm alguns metros de largura,
Anéis e luas
de Saturno
Tétis e Jano
Uma versão mais tradicional da teoria da lua desintegrada diz que os anéis são
compostos de detritos de uma lua com 400 a 600 km de diâmetro, ligeiramente maior
do que Mimas. A última vez em que houve colisões suficientemente grandes para
desintegrar uma lua foi durante o Intenso bombardeio tardio, cerca de quatro
bilhões de anos atrás.[47]
Uma variante mais recente deste tipo de teoria, por Robin Canup, é que os anéis
poderiam representar parte dos remanescentes do manto gelado de uma lua muito
maior, do tamanho de Titã, que teria sido despojada de sua camada externa quando
caiu em espiral em direção ao planeta durante o período de formação, quando Saturno
ainda era cercado por uma nebulosa gasosa.[48][49] Isto explicaria a escassez de
material rochoso dentro dos anéis. Os anéis seriam inicialmente muito mais massivos
(aproximadamente mil vezes) e mais largos que atualmente; o material nas porções
exteriores dos anéis teria coalescido nas luas de Saturno até Tétis, o que também
explicaria a falta de material rochoso na composição da maioria dessas luas.[49] A
subsequente evolução colisional ou criovulcânica de Encélado poderia então ter
causado a perda seletiva de gelo desta lua, elevando a sua densidade para o valor
atual de 1,61 g/cm3, superior à de Mimas (1,15 g/cm3) e de Tétis (0,97 g/cm3).[49]
O brilho e pureza do gelo de água nos anéis de Saturno têm sido citados como
evidência de que os anéis são muito mais jovens do que Saturno,[42] uma vez que a
queda de poeira meteórica teria levado ao escurecimento dos anéis. Entretanto,
novas pesquisas indicam que o Anel B pode ser suficientemente massivo para ter
diluído o material caído, evitando assim um escurecimento substancial ao longo da
idade do Sistema Solar. O material do anel pode ser reciclado quando blocos se
formam dentro dos anéis e são destruídos por impactos. Isto explicaria a aparente
juventude de parte do material dentro dos anéis.[51] Evidências sugerindo uma
origem recente do Anel C foram colhidas por pesquisadores analisando dados do
Cassini Titan Radar Mapper, que se focou na análise da proporção de silicatos
rochosos dentro deste anel. Se grande parte deste material foi uma contribuição de
um centauro ou lua destruídos, a idade deste anel poderia ser da ordem de 100
milhões de anos ou menos. Por outro lado, se o material veio principalmente da
queda de micrometeoroides, a idade seria mais próxima de um bilhão de anos.[52]