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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

DISCIPLINA: HISTÓRIA DA COMUNICAÇÃO


PROFESSORA: MARLIVA VANTI GONÇALVES

RENAN CARLOS MACHADO

A comunicação sempre esteve atrelada ao desenvolvimento das sociedades,


independente da forma com que ela era desempenhada, desde desenhos
objetivos até escritas rebuscadas, utilizamos de diversos meios em busca de
passarmos uma mensagem – aqui muito além do sentido literal da palavra,
acredito que seja uma necessidade intrínseca do ser humano.
De imediato, a palavra comunicação, segundo o próprio Dicionário Aurélio,
apresenta o seguinte significado: “v.t ação ou efeito de comunicar, de transmitir
ou de receber ideias, conhecimento, mensagens etc., capacidade de trocar ou
discutir ideias, dialogar, com vista de um bom entendimento entre as pessoas,
sobre um determinado assunto. [...]”. De fato, todos aspectos ressaltos pelo
dicionário estão corretos, porém não descreve o longo processo do fenômeno
do desenvolvimento da linguagem, do qual resulta na ação de comunicar.
A dificuldade de exilar-se de qualquer meio que pratique a comunicação teve
como desfecho a progressão da curiosidade, da ampliação de ideais, de
discussões e debates, assim nossa insana necessidade de expressar-se foi
aguçada, via-se o potencial encontrado entorno da comunicação e sem sombra
de dúvidas sociedade moldou-se entorno dela.
Muito além de entender a si próprio, gostamos que os outros nos entendam,
passamos de desenhos para a fala e a escrita, a mudança é eminente, porém
apesar das constantes, como afirmado por Peter Burke “as mídias mais velhas
não desaparecem”, e de fato evidencia-se que nenhum dos métodos citados
acima deixaram de existir, apenas foram adaptados e disputam espaço, com
conceitos diferentes, que muitas vezes podem se unir afim de um proposito
igualitário para todos, o de comunicar.
A fala já vinha sendo praticada, porém havia uma necessidade de materializar
de certa forma cada palavra, surge também em uma busca de recordar
informações sem depender da memória. Assim surgiu a escrita, no início,
bastante elitizada, havia um pequeno nicho que desfrutava desse invento, como
os governantes e a igreja, havia uma espécie de monopólio sobre a escrita, isso
de tal maneira que quando Gutemberg lançou a primeira imprensa de tipos
móveis a igreja retalhou totalmente seu invento com o temor de que facilitasse o
acesso as escritas bíblicas, ao mesmo tempo em que Martinho Lutero desfrutava
da engenhosa máquina para publicar suas noventa e cinco teses e as pregava
na porta da igreja Católica. Diante disso, vê-se um exemplo, que evidencia como
os modos de comunicar estão interligados com as revoluções e movimentos
contrários aos existentes, como o epicentro de todas manifestações, tome como
base os períodos artísticos e literários, todos surgiram a partir de pensamentos
opostos aos que lhe antecedem e são lançados como manifestos de cada
espectro. A comunicação está no centro de tudo, da criação do Estado a
movimentos artísticos, acredito que não haveria possibilidade de progressão
alguma sem o seu uso.
No oriente, a utilização de desenhos e símbolos, como na antiga China
dificultava a circulação de informação, visto que já havia uma prévia do que seria
a Prensa de Gutemberg por lá, porém pela utilização de símbolos e não de letras
ou fonemas para a comunicação fez com esse processo se tornasse demorado,
pois contava com mais de trinta mil ideogramas usados no cotidiano, impedindo
uma propagação rápida de informações.
A escrita complementa a ideia de um Estado, visto que viabiliza criação de leis
para a manutenção do próprio. Como por exemplo na antiga Grécia, segundo
Goody enfatizou que a escrita encoraja o pensamento abstrato e gerava critica
as ideias tradicionais. A própria palavra política deriva de “polis” que na Grécia
além de serem cidades, também se chamava os pontos de encontro e debate
sobre as Polis, cidades.
Seguindo uma linha cronológica, após a fala, a escrita e a descoberta da prensa,
temos a chegada da fotografia, posteriormente o telegrafo, o vídeo, o rádio,
televisão e internet, nessa sequência. Assim, confirma-se como a ideia citada
anteriormente de que na verdade nenhum modo de comunicação foi deixado
para trás, apenas se adaptaram. Acredito que cada uma tenha uma finalidade
especifica e atinja diferentes nichos, infelizmente, a imprensa ainda é a mais
afetada no meio de toda essa revolução que vivemos.
No brasil, a escrita tem datação – apesar das discussões –com a chegada dos
portugueses e a carta escrita por Pero Vaz de Caminha com “Carta de Caminha”,
em 1500. As demais tecnologias foram chegando aos poucos também e foram
sendo adaptadas, como os jornais, com o primeiro jornal impresso no Rio de
Janeiro em 1808, na Gazeta, visto que anterior a essa data as publicações eram
feitas no exterior e a impressão em território brasileiro estava proibida. Como
grande parte da população não sabia ler, os trovadores, como eram conhecidos,
recitavam seus textos em público. Com o passar do tempo foram criadas as
assinaturas de jornais, nas quais o público podia ter algumas exclusividades,
como poder fazer anúncios, infelizmente, muitos desses na época eram sobre
escravos que haviam fugido e os seus “donos” estavam a sua procura.
Mais adiante, em 1840, a primeira fotografia foi tirada em solo brasileiro, nela
retrata o Paço da Cidade, no Rio de Janeiro. Anos depois, em 1898, o italiano
Afonso Segreto filmou a baía de Guanabara. Foi a primeira filmagem realizada
em solo nacional e progressivamente, em 1922, aconteceu a primeira
transmissão no rádio, comemorando o centenário de independência, ocorreu no
dia 7 de setembro. Em sequência, a televisão e a famigerada internet, é claro,
ganharam espaço em solo nacional.
Está última citada de fato tem ganhado muito espaço e o coração do grande
público, porém inúmeras são as críticas possíveis de serem tecidas sobre o
avanço desenfreado da mesma, como abre alas temos as teses de Debord sobre
a sociedade do espetáculo, “A vida vivida é substituída por uma acumulação de
espetáculos, de modo que todas as relações sociais passam a ser mediadas por
imagens (simulacros) espetaculares” (SOUZA Márcio Gonçalves e CLAIR
Ericson Telles Saint), assim, segundo Debord, deixamos de lado o que de fato
existe e não sabemos mais distinguir o real do irreal, outro pensador, Baudrillard,
nomeia isso como hiper-realidade.
De fato, a necessidade de sentir-se acolhido ou representado com semelhantes,
fez com o que o ser humano buscasse cada vez mais proximidade com os
mesmos, além disso, a pandemia tem impulsionado e muito o vínculo criado com
as redes, claro os jovens já vinham se adaptando com elas, porém nem toda a
parcela mais velha da população estava habituada com o seu uso, fato esse que
hoje está em constante mudança. Concordo com a analise em relação ao
contexto da internet e a revolução, visto que a revolução tem como significada
uma mudança radical da maneira como a comunicação funcionava, talvez
“radical” não ao ponto de ser de imediato, mas sim no viés de como ela
revolucionou todos os métodos de se comunicar e de fazer comunicação.
Prosseguindo, tem outro dado, no Brasil, apesar da taxa de analfabetismo ter
caído para menos de 22%, ainda é um número bastante elevada quando
comparados com outros países, porém com o avanço da tecnologia obtemos um
outro problema, um analfabeto que até então era inexistente, os intitulados
‘analfabetos funcionais’ representam praticamente 30% da população segundo
o próprio indicador sobre o mesmo (Indicador de Analfabetismo Funcional – Inaf),
em suma o índice mede o quão propício a população é de acreditar nas famosas
fake news e notícias falsas, a pesquisa também apresenta que 86% deles estão
concentrados no WhatsApp, o que facilita uma comunicação mais direta com
outras pessoas, facilitando esses golpes e a redes de notícias sem
embasamento algum, o poder disso é enorme, em ano de eleições já é possível
imaginar o estrago que esse alto índice pode resultar na política.
Dando sequência, acredito que o discurso que mais tem ganhado força e
patrocínio das redes é o de ódio e a propagação de fake news – ao menos no
Brasil – impulsionado por redes relacionadas a política e que tem o mesmo
cunho ideológico, pode-se ver como um canal do YouTube e Facebook,
chamado “Brasil Paralelo”, em uma publicação recente feita pela Revista Piauí,
mostra como a página de extrema direita ligada a família do atual presidente,
mais diretamente ao filho, Eduardo Bolsonaro, está em primeira no ranking
dentre as páginas relacionadas a assuntos políticos que mais impulsionam suas
publicações, o gasto nesse primeiro semestre de 2021 chegava a mais de 3
milhões de reais. O conteúdo criado pela página é extremamente conservador,
disseminador de ódio e de notícias subversivas, criaram-se séries para explicar
contrapontos da história nacional brasileira, como uma minissérie alegando que
não houve ditadura em 1964, e que significando o golpe como algo necessário
devido ao contexto de ameaças. Além desse, criaram-se também minisséries
para explicar a decadência da cultura brasileira com o passar dos anos e
impulsionar atos antidemocráticos contra o Supremo Tribunal Federal (STF),
criando um episódio para cada ministro que compõe a casa, pondo em discussão
pautas como o erro da divisão dos três poderes, consolidando ideias de
centralização do poder em uma única pessoa.
Levando em consideração os fatos acima, concluo que tudo que ainda existem
muitas mudanças que são necessárias para poder alcançar um patamar positivo
dentro das redes e da comunicação online como um todo, visto que a simples
existência da tecnologia como meio não basta pois ainda existem muitos
problemas relacionados limites dentro da internet, uma maneira de deixa-la mais
justa e democrática.
Muitas questões sobre esse assunto foram levantadas recentemente, como por
exemplo: Até que ponto eu posso expressar meus pensamentos sobre
determinado assunto? E minha liberdade, qual o limite? E qual o limite que o
criador da rede tem para me suspender dela ou excluir minhas postagens? Esse
assunto já era debatido anteriormente, porém ganhou força nesse último ano
após o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ter tido sua conta
apagada para sempre, antes disso, os mediadores da rede já vinham apagado
postagens do ex-presidente, o mesmo ocorreu com algumas postagens do
presidente brasileiro, Jair Messias Bolsonaro. Passou-se a questionar então
quais critérios uma rede teria para impedir o acesso ou a manifestação de um
usuário dentro dela, já que deveria haver espaço para todas falas, enfim, chega-
se no conceito que toda liberdade necessita de limites para que ela possa se
manter.
Linkando ao texto de Marialva Barbosa, é um pouco difícil nesse momento
pensar em mídias livres, porém independentes, ouço um podcast que concilia
ambas, seu rendimento vem a partir de assinaturas mensais dos ouvintes e
contribuições que podem ser feitas espontaneamente, porém é difícil de imaginar
que grandes meios de comunicação irão abrir mão de contratos milionários e
dependerem apenas de assinaturas feitas pela população que lhe acompanha,
acredito que nesse ponto será difícil de conciliar.
Quanto a sustentabilidade entre o online e o papel, o físico e virtual, acredito que
será difícil de acabar, uso como base meu cotidiano, tenho um Kindle, mas ainda
prefiro a leitura física, acesso jornais digitais todo momento, porém ainda prefiro
o compilado de informações dentro de cada caderno impresso de jornal, é menos
sustentável, de fato, mas acredito que podem haver alterações no material, como
a reutilização do papel para impressão do jornal. O prazer da leitura do físico vai
muito além da informação, é de o cérebro associar que de fato estou tirando um
momento para isso, esse ato vai mais pelo sentimentalismo e a mensagem
encaminhada ao cérebro, associando o papel ao momento de concentração e
leitura, o online é tão vasto que muitas vezes reluto para concluir a leitura de
uma única matéria, são inúmeras possibilidades de pesquisas e acredito que a
assimilação que a mente deveria fazer acaba não ocorrendo.
A chamada sociedade da informação é de fato um fenômeno recente, sendo de
difícil descrição, os avanços foram incontáveis e cada vez mais temos condições
de comunicarmos por meio dessas novas tecnologias, estamos vivendo uma
transição do modelo da sociedade da informação, uma transição para um modelo
de sociedade em que o processo de comunicação vivencias novas experiências.

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