A comunicação sempre esteve atrelada ao desenvolvimento das sociedades,
independente da forma com que ela era desempenhada, desde desenhos objetivos até escritas rebuscadas, utilizamos de diversos meios em busca de passarmos uma mensagem – aqui muito além do sentido literal da palavra, acredito que seja uma necessidade intrínseca do ser humano. De imediato, a palavra comunicação, segundo o próprio Dicionário Aurélio, apresenta o seguinte significado: “v.t ação ou efeito de comunicar, de transmitir ou de receber ideias, conhecimento, mensagens etc., capacidade de trocar ou discutir ideias, dialogar, com vista de um bom entendimento entre as pessoas, sobre um determinado assunto. [...]”. De fato, todos aspectos ressaltos pelo dicionário estão corretos, porém não descreve o longo processo do fenômeno do desenvolvimento da linguagem, do qual resulta na ação de comunicar. A dificuldade de exilar-se de qualquer meio que pratique a comunicação teve como desfecho a progressão da curiosidade, da ampliação de ideais, de discussões e debates, assim nossa insana necessidade de expressar-se foi aguçada, via-se o potencial encontrado entorno da comunicação e sem sombra de dúvidas sociedade moldou-se entorno dela. Muito além de entender a si próprio, gostamos que os outros nos entendam, passamos de desenhos para a fala e a escrita, a mudança é eminente, porém apesar das constantes, como afirmado por Peter Burke “as mídias mais velhas não desaparecem”, e de fato evidencia-se que nenhum dos métodos citados acima deixaram de existir, apenas foram adaptados e disputam espaço, com conceitos diferentes, que muitas vezes podem se unir afim de um proposito igualitário para todos, o de comunicar. A fala já vinha sendo praticada, porém havia uma necessidade de materializar de certa forma cada palavra, surge também em uma busca de recordar informações sem depender da memória. Assim surgiu a escrita, no início, bastante elitizada, havia um pequeno nicho que desfrutava desse invento, como os governantes e a igreja, havia uma espécie de monopólio sobre a escrita, isso de tal maneira que quando Gutemberg lançou a primeira imprensa de tipos móveis a igreja retalhou totalmente seu invento com o temor de que facilitasse o acesso as escritas bíblicas, ao mesmo tempo em que Martinho Lutero desfrutava da engenhosa máquina para publicar suas noventa e cinco teses e as pregava na porta da igreja Católica. Diante disso, vê-se um exemplo, que evidencia como os modos de comunicar estão interligados com as revoluções e movimentos contrários aos existentes, como o epicentro de todas manifestações, tome como base os períodos artísticos e literários, todos surgiram a partir de pensamentos opostos aos que lhe antecedem e são lançados como manifestos de cada espectro. A comunicação está no centro de tudo, da criação do Estado a movimentos artísticos, acredito que não haveria possibilidade de progressão alguma sem o seu uso. No oriente, a utilização de desenhos e símbolos, como na antiga China dificultava a circulação de informação, visto que já havia uma prévia do que seria a Prensa de Gutemberg por lá, porém pela utilização de símbolos e não de letras ou fonemas para a comunicação fez com esse processo se tornasse demorado, pois contava com mais de trinta mil ideogramas usados no cotidiano, impedindo uma propagação rápida de informações. A escrita complementa a ideia de um Estado, visto que viabiliza criação de leis para a manutenção do próprio. Como por exemplo na antiga Grécia, segundo Goody enfatizou que a escrita encoraja o pensamento abstrato e gerava critica as ideias tradicionais. A própria palavra política deriva de “polis” que na Grécia além de serem cidades, também se chamava os pontos de encontro e debate sobre as Polis, cidades. Seguindo uma linha cronológica, após a fala, a escrita e a descoberta da prensa, temos a chegada da fotografia, posteriormente o telegrafo, o vídeo, o rádio, televisão e internet, nessa sequência. Assim, confirma-se como a ideia citada anteriormente de que na verdade nenhum modo de comunicação foi deixado para trás, apenas se adaptaram. Acredito que cada uma tenha uma finalidade especifica e atinja diferentes nichos, infelizmente, a imprensa ainda é a mais afetada no meio de toda essa revolução que vivemos. No brasil, a escrita tem datação – apesar das discussões –com a chegada dos portugueses e a carta escrita por Pero Vaz de Caminha com “Carta de Caminha”, em 1500. As demais tecnologias foram chegando aos poucos também e foram sendo adaptadas, como os jornais, com o primeiro jornal impresso no Rio de Janeiro em 1808, na Gazeta, visto que anterior a essa data as publicações eram feitas no exterior e a impressão em território brasileiro estava proibida. Como grande parte da população não sabia ler, os trovadores, como eram conhecidos, recitavam seus textos em público. Com o passar do tempo foram criadas as assinaturas de jornais, nas quais o público podia ter algumas exclusividades, como poder fazer anúncios, infelizmente, muitos desses na época eram sobre escravos que haviam fugido e os seus “donos” estavam a sua procura. Mais adiante, em 1840, a primeira fotografia foi tirada em solo brasileiro, nela retrata o Paço da Cidade, no Rio de Janeiro. Anos depois, em 1898, o italiano Afonso Segreto filmou a baía de Guanabara. Foi a primeira filmagem realizada em solo nacional e progressivamente, em 1922, aconteceu a primeira transmissão no rádio, comemorando o centenário de independência, ocorreu no dia 7 de setembro. Em sequência, a televisão e a famigerada internet, é claro, ganharam espaço em solo nacional. Está última citada de fato tem ganhado muito espaço e o coração do grande público, porém inúmeras são as críticas possíveis de serem tecidas sobre o avanço desenfreado da mesma, como abre alas temos as teses de Debord sobre a sociedade do espetáculo, “A vida vivida é substituída por uma acumulação de espetáculos, de modo que todas as relações sociais passam a ser mediadas por imagens (simulacros) espetaculares” (SOUZA Márcio Gonçalves e CLAIR Ericson Telles Saint), assim, segundo Debord, deixamos de lado o que de fato existe e não sabemos mais distinguir o real do irreal, outro pensador, Baudrillard, nomeia isso como hiper-realidade. De fato, a necessidade de sentir-se acolhido ou representado com semelhantes, fez com o que o ser humano buscasse cada vez mais proximidade com os mesmos, além disso, a pandemia tem impulsionado e muito o vínculo criado com as redes, claro os jovens já vinham se adaptando com elas, porém nem toda a parcela mais velha da população estava habituada com o seu uso, fato esse que hoje está em constante mudança. Concordo com a analise em relação ao contexto da internet e a revolução, visto que a revolução tem como significada uma mudança radical da maneira como a comunicação funcionava, talvez “radical” não ao ponto de ser de imediato, mas sim no viés de como ela revolucionou todos os métodos de se comunicar e de fazer comunicação. Prosseguindo, tem outro dado, no Brasil, apesar da taxa de analfabetismo ter caído para menos de 22%, ainda é um número bastante elevada quando comparados com outros países, porém com o avanço da tecnologia obtemos um outro problema, um analfabeto que até então era inexistente, os intitulados ‘analfabetos funcionais’ representam praticamente 30% da população segundo o próprio indicador sobre o mesmo (Indicador de Analfabetismo Funcional – Inaf), em suma o índice mede o quão propício a população é de acreditar nas famosas fake news e notícias falsas, a pesquisa também apresenta que 86% deles estão concentrados no WhatsApp, o que facilita uma comunicação mais direta com outras pessoas, facilitando esses golpes e a redes de notícias sem embasamento algum, o poder disso é enorme, em ano de eleições já é possível imaginar o estrago que esse alto índice pode resultar na política. Dando sequência, acredito que o discurso que mais tem ganhado força e patrocínio das redes é o de ódio e a propagação de fake news – ao menos no Brasil – impulsionado por redes relacionadas a política e que tem o mesmo cunho ideológico, pode-se ver como um canal do YouTube e Facebook, chamado “Brasil Paralelo”, em uma publicação recente feita pela Revista Piauí, mostra como a página de extrema direita ligada a família do atual presidente, mais diretamente ao filho, Eduardo Bolsonaro, está em primeira no ranking dentre as páginas relacionadas a assuntos políticos que mais impulsionam suas publicações, o gasto nesse primeiro semestre de 2021 chegava a mais de 3 milhões de reais. O conteúdo criado pela página é extremamente conservador, disseminador de ódio e de notícias subversivas, criaram-se séries para explicar contrapontos da história nacional brasileira, como uma minissérie alegando que não houve ditadura em 1964, e que significando o golpe como algo necessário devido ao contexto de ameaças. Além desse, criaram-se também minisséries para explicar a decadência da cultura brasileira com o passar dos anos e impulsionar atos antidemocráticos contra o Supremo Tribunal Federal (STF), criando um episódio para cada ministro que compõe a casa, pondo em discussão pautas como o erro da divisão dos três poderes, consolidando ideias de centralização do poder em uma única pessoa. Levando em consideração os fatos acima, concluo que tudo que ainda existem muitas mudanças que são necessárias para poder alcançar um patamar positivo dentro das redes e da comunicação online como um todo, visto que a simples existência da tecnologia como meio não basta pois ainda existem muitos problemas relacionados limites dentro da internet, uma maneira de deixa-la mais justa e democrática. Muitas questões sobre esse assunto foram levantadas recentemente, como por exemplo: Até que ponto eu posso expressar meus pensamentos sobre determinado assunto? E minha liberdade, qual o limite? E qual o limite que o criador da rede tem para me suspender dela ou excluir minhas postagens? Esse assunto já era debatido anteriormente, porém ganhou força nesse último ano após o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ter tido sua conta apagada para sempre, antes disso, os mediadores da rede já vinham apagado postagens do ex-presidente, o mesmo ocorreu com algumas postagens do presidente brasileiro, Jair Messias Bolsonaro. Passou-se a questionar então quais critérios uma rede teria para impedir o acesso ou a manifestação de um usuário dentro dela, já que deveria haver espaço para todas falas, enfim, chega- se no conceito que toda liberdade necessita de limites para que ela possa se manter. Linkando ao texto de Marialva Barbosa, é um pouco difícil nesse momento pensar em mídias livres, porém independentes, ouço um podcast que concilia ambas, seu rendimento vem a partir de assinaturas mensais dos ouvintes e contribuições que podem ser feitas espontaneamente, porém é difícil de imaginar que grandes meios de comunicação irão abrir mão de contratos milionários e dependerem apenas de assinaturas feitas pela população que lhe acompanha, acredito que nesse ponto será difícil de conciliar. Quanto a sustentabilidade entre o online e o papel, o físico e virtual, acredito que será difícil de acabar, uso como base meu cotidiano, tenho um Kindle, mas ainda prefiro a leitura física, acesso jornais digitais todo momento, porém ainda prefiro o compilado de informações dentro de cada caderno impresso de jornal, é menos sustentável, de fato, mas acredito que podem haver alterações no material, como a reutilização do papel para impressão do jornal. O prazer da leitura do físico vai muito além da informação, é de o cérebro associar que de fato estou tirando um momento para isso, esse ato vai mais pelo sentimentalismo e a mensagem encaminhada ao cérebro, associando o papel ao momento de concentração e leitura, o online é tão vasto que muitas vezes reluto para concluir a leitura de uma única matéria, são inúmeras possibilidades de pesquisas e acredito que a assimilação que a mente deveria fazer acaba não ocorrendo. A chamada sociedade da informação é de fato um fenômeno recente, sendo de difícil descrição, os avanços foram incontáveis e cada vez mais temos condições de comunicarmos por meio dessas novas tecnologias, estamos vivendo uma transição do modelo da sociedade da informação, uma transição para um modelo de sociedade em que o processo de comunicação vivencias novas experiências.