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"Didaqué" é uma palavra grega que significa “ensinamento”. Daí que o título
completo da obra seja “A instrução do Senhor aos gentios através dos Doze
Apóstolos” ou, de uma forma mais resumida, “Instruções dos Apóstolos”. É
considerada como um dos documentos mais importantes da Igreja primitiva,
pertencente ao grupo de escritos dos Padres Apostólicos[1]. Ainda que a data da sua
composição não seja conhecida com exatidão, alguns autores opinam que foi escrita,
aproximadamente, entre os anos 50 a 70, enquanto que outros a situam entre inícios
e meados do século II.
O Batismo
- “Sobre o batismo, batiza desta maneira: ditas com anterioridade todas estas
coisas, batiza em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo em água viva
[corrente]. Se não tens água viva, batiza com outra água; se não podes fazê-lo com
água fria, faz com quente. Se não tiveres uma nem outra, derrama água na cabeça
três vezes, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Antes do batismo, jejuem
o batizante e o batizando, e alguns outros que o possam. Ao batizando, contudo, lhe
mandarás jejuar um ou dois dias antes” (Didaqué 7,1-4).
O texto da Didaqué também lança muita luz sobre a antiga polêmica relacionada à
fórmula batismal, sobre se na Igreja primitiva se batizava somente em nome de
Jesus, como menciona Atos 2,38; 8,16; 10,48; 19,5, ou em nome da Trindade, como
Jesus ordena em Mateus 28,19. Isto, porque a Didaqué também faz referência ao
batismo "em nome do Senhor" (Didaqué 9), porém, quando indica as palavras a serem
empregadas no momento de batizar, diz que deve-se fazer "em nome do Pai e do Filho
e do Espírito Santo":
- “Que ninguém coma nem beba de vossa ação de graças, senão os batizados em nome do
Senhor...” (Didaqué 9).
- “Tampouco oreis à maneira dos hipócritas; ao contrário, tal como o Senhor ordenou
em seu Evangelho, assim orareis: 'Pai nosso celeste, santificado seja teu nome,
venha teu reino, faça-se tua vontade assim no céu como na terra. O pão nosso de
nossa subsistência dai-nos hoje e perdoa-nos nossa dívida, assim como também
perdoamos a nossos devedores, e não nos leves à tentação, mas livra-nos do mal.
Porque teu é o poder e a glória pelos séculos'. Assim orareis três vezes ao dia”
(Didaqué 8,2-3).
A celebração da Eucaristia
- “No tocante à ação de graças, dareis graças desta maneira. Primeiramente, sobre o
cálice: 'Te damos graças, Pai nosso, pela santa vinha de Davi, teu servo, que nos
deste a conhecer por meio de Jesus, teu servo. A ti seja a glória pelos séculos'.
Depois, sobre o fragmento: 'Te damos graças, Pai nosso, pela vida e o conhecimento
que nos manifestaste por meio de Jesus, teu servo. A ti seja a glória pelos
séculos. Como este fragmento estava disperso sobre os montes e, reunido, se fez um,
assim seja reunida tua Igreja dos confins da terra em teu Reino. Porque tua é a
glória e o poder, por Jesus Cristo, eternamente'. Que ninguém, contudo, coma nem
beba da vossa ação de graças senão os batizados no nome do Senhor, pois acerca
disso disse o Senhor: 'Não deis o sagrado aos cães'” (Didaqué 9,1-4).
- “Reunidos a cada dia do Senhor, fracionai o pão e dai graças, ...porque este é o
sacrifício de que disse o Senhor: 'Em todo lugar e a todo tempo se me oferece um
sacrifício puro, porque eu sou Rei grande - diz o Senhor - e meu nome é admirável
entre as nações” (Didaqué 14,1-3).
Cabe ressaltar que a doutrina católica não ensina que Cristo se “ressacrifica” a
cada Missa, como assumem muitos protestantes de forma equivocada. O que [a Igreja]
ensina é que o único sacrifício de Cristo é apresentado a Deus Pai em cada
Eucaristia e, por isso, no Catecismo oficial da Igreja Católica se ensina que
“atualiza o único sacrifício de Cristo Salvador” (CIC 1330) e não que “o repete”.
- “Reunidos a cada dia do Senhor, fracionai o pão e dai graças, depois de haver
confessado vossos pecados, a fim de que o vosso sacrifício seja puro” (Didaqué
14,1).
A esmola
Encontra-se também uma breve menção à esmola como obra piedosa ordenada pelo
Evangelho.
Agora, esta esmola se referiria também à contribuição voluntária dos fiéis para o
sustento da Igreja e a ajuda dos mais necessitados, mencionada em Romanos 15,26-28;
1Coríntios 16,1; 2Coríntios 8,10? Ainda que o texto não o indique, isto é bastante
provável. O que parece ser seguro, também, é a ausência total da prática do dízimo,
tal como foi adotada pelo Protestantismo e que é derivada da Lei Mosaica prescrita
no Antigo Testamento. A norma cristã refletida na Didaqué é, pelo contrário, a
própria norma evangélica onde cada fiel deve contribuir não com exatos 10%, mas
“segundo o ditame do seu coração; não de má vontade nem forçado, pois: 'Deus ama a
quem dá com alegria'” (2Coríntios 9,7).
- “Vigiai sobre vossa vida; não se apaguem vossas lanternas, nem descarregai vossos
lombos, mas estai preparados, porque não sabeis a hora em que vosso Senhor virá”
(Didaqué 16,1-2).
Justificação e Salvação
- “Logo, tampoco nós, que fomos por Sua vontade chamados em Jesus Cristo, nos
justificamos por nossos próprios méritos, nem por nossa sabedoria, inteligência e
piedade, ou pelas obras que fazemos em santidade de coração, mas pela fé, pela qual
o Deus onipotente justificou a todos desde o princípio” (Didaqué 32,4).
- “Reuni-vos com frequencia, inquirindo o que convém a vossas almas. Porque de nada
vos servirá todo o tempo de vossa fé se não estiverdes perfeitos no último momento”
(Didaqué 16,2-3).
Você pode ler uma tradução católica (em espanhol) da Didaqué nesta url:
- A Didaqué - http://mercaba.org
- A Didaqué - http://escrituras.tripod.com
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NOTAS:
[1] São conhecidos como Padres Apostólicos aqueles autores do Cristianismo
primitivo que tiveram algum contato com um ou mais Apóstolos. São um subconjunto
dentro dos Padres da Igreja, que se compõe de escritores do primeiro século e
inícios do segundo, cujos escritos têm uma profunda importância para o conhecimento
da Fé Cristã primitiva. Caracterizam-se por ser textos descritivos ou normativos,
que tratam de explicar a natureza da novidade da doutrina cristã.
[2] O batismo por imersão realiza-se mergulhando totalmente a batizando na água.
[3] O batismo por infusão realiza-se derramando água sobre a cabeça [do batizando].
[4] Da mesma maneira que a Sagrada Escritura observa que a forma de batizar nem
sempre pode ser por imersão. A este respeito pode-se mencionar o fato de que São
Paulo parece ter sido batizado em uma casa e de pé. Atos 22,16 narra um batismo em
Jerusalém, de 3000 pessoas em um mesmo dia e, visto que se trata de uma cidade que
não possui nenhum rio, faz-se difícil crer que essa quantidade de pessoas foi
mergulhada em algum tanque ou poço de água potável.
[5] Os que argumentam que a fórmula batismal em nome das Três Divinas Pessoas,
mencionada em Mateus 28,19, é uma interpolação tardia, buscam apoio nos escritos de
Eusébio de Cesareia, historiador da Igreja do século IV, fazendo observar que antes
do Concílio de Niceia (ano 325) Eusébio citava Mateus 28,19 escrevendo: “Fazei
discípulos a todas as gentes, bautizando-os em meu nome”, e só posteriormente
começou a citar o texto como o conhecemos hoje. Isto, no entanto, mais que provar
que na Antiguidade se constumava citar a Escritura de forma não-textual, não tem
força em relação à evidência documental, já que na totalidade de manuscritos
bíblicos existentes (incluindo os mais antigos) lê-se a fórmula completa:
"...batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo" (quanto a isto,
leia: "Batismo só em nome de Jesus?").
[6] No Catolicismo não se crê que uma oração seja vã por ser "pré-fabricada". Crê-
se que quando Jesus adverte que ao orar não se deve “falar muito como os gentios,
que se caracterizam por crerem que pelo palavrório serão ouvidos” (Mateus 6,7) não
está criticando a repetição em si mesma, já que o próprio Jesus chegou a empregar
repetições (Mateus 26,43-44) e as encontramos frequentemente em orações da Sagrada
Escritura (Isaías 6,2-3; Daniel 3,52-57; Salmo 136; 150; Apocalipse 4,8; etc.); nem
está criticando a oração longa, da qual o próprio Senhor deu exemplo no Getsemani
(Mateus 26,39.42.44), permanecendo a noite inteira em oração. Crê-se, ao contrário,
que a crítica se refira à forma de orar dos pagãos, que enxergavam a oração como
uma espécie de fórmula mágica que, sendo repetida mecânicamente, alcançavam seus
objetivos; era o que faziam, por exemplo, os sacerdotes de Baal no Antigo
Testamento, com práticas intermináveis na oração (1Reis 18,26) (quanto a isto,
consulte o meu livro "Conversas com meus Amigos Evangélicos", Createspace, 2014, 1ª
Edição, p. 170).
[7] Por otro lado, se se lê a Epístola aos Hebreus no seu contexto (capítulos 9 e
10), observa-se que o seu propósito não era rejeitar o caráter sacrificial da
Eucaristia, mas admoestar aqueles cristãos, que estranhavam os sacrifícios rituais
da Antiga Aliança, a não cair neles e judaizar. O cristão não tem necessidade dos
ditos sacrificios, que não eram mais que uma prefiguração do sacrifício
Eucarístico.
[8] Ainda que a confissão auricular pôde desenvolver-se em sua forma exterior
através do tempo, sua essência, que reside no fato reconhecido da reconciliação do
pecador por meio da autoridade da Igreja, se depreende do poder que Cristo outorgou
a seus Apóstolos quando lhes disse: “a quem perdoardes os pecados, eles lhes serão
perdoados; a quem os retiverdes, eles lhes serão retidos” (João 20,23).
[9] Para mais detalhes a respeito da doutrina católica sobre a justificação,
consulte os meus livros "Conversas com meus Amigos Evangélicos", Createspace, 2014,
1ª Edição, p. 52s) e "Compêndio de Apologética Católica", Creatspace, 2014, 2ª
Edição, p. 205.