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1. DADOS BIOGRÁFICOS
Lygia Fagundes Telles, contista e romancista, nasceu em 19 de abril de
1923 na rua Barão de Tatuí, centro da capital de São Paulo, por isso era
chamada pelo pai de Baronesa de Tatuí. Terceira filha do casal, Durval
Fagundes - advogado, promotor e juiz de Direito - e Maria do Rosário Silva
Jardim, a Zazita, recebeu rigorosa formação educacional. Em função do
trabalho do pai, a família mudava-se com freqüência para as cidades do interior
paulista, sendo a infância cercada de bichos e empregados, que escutavam com
espanto as suas histórias de terror.
Ao voltar para São Paulo, formou-se em Direito pela Faculdade do Largo de São Francisco e cursou
a Escola Superior de Educação Física, da mesma Universidade. Foi casada com o jurista e ensaísta Goffredo
Telles Júnior. Já divorciada, uniu-se ao crítico de cinema e fundador da Cinemateca Brasileira, Paulo Emilio
Salles Gomes, em 1963. Tem um filho, Goffredo Telles Neto, cineasta.
A escritora fez sua estréia muito jovem na literatura, motivo futuro de insatisfação. Com a ajuda do
pai, publicou, aos 15 anos, o seu primeiro livro, Porão e sobrado. Anos depois, lançava Praia viva e O
cacto vermelho, todos rejeitados e proibidos de serem reeditados pela autora, porque os considera "muito
imaturos e precipitados".
Segundo o crítico literário Antônio Cândido, o romance Ciranda de pedra (1954) seria o marco da
sua maturidade intelectual. Concordando com esse critério, ela reconhece a sua obra a partir dessa data.
Participante e testemunha deste tempo e desta sociedade, classifica seus livros de natureza engajada, ou seja,
comprometidos com a condição humana nas suas desigualdades sociais. Com o lançamento de Ciranda de
pedra, foi aclamada pela crítica, sendo o livro adaptado para telenovela pela Rede Globo.
Em 1963, lançou o segundo romance, Verão no aquário. Na década de 1970, saem Antes do baile
verde, livro de contos vencedor do Grande Prêmio Internacional Feminino para Estrangeiros em Língua
Francesa, concorrendo com outros 360 manuscritos de 21 países; As meninas, que repetiu o sucesso de
Ciranda de pedra, arrebatando os principais prêmios literários do país (Coelho Neto; Jabuti, da Câmara
Brasileira do Livro, e Ficção, da APCA); e Seminário dos ratos.
Nos anos 80 publicou A disciplina do amor, e o seu quarto romance, As horas nuas; e, na década
passada, escreve mais dois livros de contos, A estrutura da bolha de sabão e A noite escura e mais eu,
ganhador de três importantes prêmios literários: Melhor Livro de Contos, da Biblioteca Nacional do Rio de
Janeiro; Prêmio Jabuti e Prêmio APLUB de Literatura, de Porto Alegre.
Lygia é a terceira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras, tomando posse na cadeira
que tem como patrono o poeta Gregório de Mattos, em 1985. Ela foi a grande homenageada da IX Bienal
Internacional do Livro de São Paulo. No evento, lançou Invenção e memória, que conquistou o APCA 2000,
da Associação Paulista dos Críticos de Arte, e o Jabuti 2001, na categoria conto. A autora recebeu, no ano
passado, o título de Doutora Honoris Causa da Universidade de Brasília.
Tema de teses universitárias no Brasil e exterior, já foi traduzida para diversas línguas, tendo contos
e romances publicados em Portugal, Espanha, México, Estados Unidos, França, Alemanha, República
Tcheca, Canadá e Suécia. Ela pertence à Academia Paulista de Letras e à Academia Brasileira de Letras. É
membro do Pen Club do Brasil.
Recebeu ainda os seguintes prêmios literários: Prêmio do Instituto Nacional do Livro, 1958; Prêmio
Guimarães Rosa, 1972; Prêmio Coelho Neto, da Academia Brasileira de Letras, 1973; Prêmio Jabuti, da
Câmara Brasileira do Livro, 1980, e Prêmio Pedro Nava, o Melhor Livro do Ano, 1989. Condecorações:
Ordem do Rio Branco (Brasil); Infante Dom Henrique (Portugal); Ordre des Arts et des Lettres – Chevalier
(França) e Orden al Mérito Docente y Cultural Gabriela Mistral, Gran Oficial (Chile).
Lygia Fagundes Telles vive atualmente em São Paulo e continua a escrever contos.
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2. CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS
Lygia Fagundes Telles, quer no conto, quer no romance, dá continuidade aos temas desenvolvidos
principalmente no 3o momento modernista, explorando o homem versus o seu tempo e mundo agitado.
Explora questões referentes aos conflitos humanos como a solidão, relacionamentos amorosos conturbados,
comportamentos sociais em conflito, a morte, o amor, a consciência, sonhos, memórias, o cotidiano e sua
pobreza – o homem enfim.
O intimismo fica por conta da linguagem confessional ao descrever os sentimentos e pensamentos de
um eu moderno submetido a um mundo agressivo em que os homens não se harmonizam, encontrando
dificuldades, questionamentos e não soluções à boa convivência no planeta.
Utilizará, nem sempre, o artifício crítico e inverossímil da literatura fantástica conduzindo seus
personagens a espaços e situações insólitas, irreais, reforçando a mensagem crítica ou lírica que pretende
passar.
OBRA
Contos: Porão e sobrado, 1938; Praia viva, 1944; O cacto vermelho, 1949; Histórias do desencontro,
1958; Histórias escolhidas, 1964; O jardim selvagem, 1965; Antes do baile verde, 1970; Seminário dos
ratos, 1977; Filhos pródigos, 1978 (reeditado como título A estrutura da bolha de sabão, 1991); A disciplina
do amor, 1980; Mistérios, 1981; A noite escura e mais eu, 1995; Venha ver o por do sol; Oito contos de
amor; Invenção e Memória, 2000 (Prêmio Jabuti); Durante aquele estranho chá: perdidos e achados, 2002.
Romances: Ciranda de pedra, 1954; Verão no aquário, 1963; As meninas, 1973; As horas nuas,
1989.
Antologias: Seleta, 1971 (organização, estudos e notas de Nelly Novaes Coelho); Lygia Fagundes
Telles, 1980 (organização de Leonardo Monteiro); Os melhores contos de Lygia F. Telles, 1984 (seleção de
Eduardo Portella); Venha ver o pôr-do-sol, 1988 (seleção dos editores - Ática); A confissão de Leontina e
fragmentos, 1996 (seleção de Maura Sardinha); Oito contos de amor, 1997 (seleção de Pedro Paulo de Sena
Madureira); Pomba enamorada, 1999 (seleção de Léa Masima).
3. CARACTERÍSTICAS DA OBRA
Utilizando mais uma vez a técnica a serviço da invenção, Lygia explora o que há de mais profundo
no homem neste estranho mundo. Em clima de perplexidade, a escritora ignora os limites entre realidade e
fantasia, intenção e impulso, cultura e natureza.
Antes do baile verde é uma reunião de 18 contos que nasceram dessa obstinação de Lygia, de um
árduo trabalho de pesquisa em que ela desejava expressar-se, em cada conto, de uma maneira diferente e
queria encontrar a forma mais adequada para dizer o que precisava.
4. RESUMO DO ENREDO
Os objetos
Conto narrado em 3a pessoa, predomínio de discurso direto.
Um casal dialoga, o marido fala sobre objetos comprados na viagem, enquanto a mulher faz um
colar de contas. O marido diz que os objetos só passam a viver quando utilizados pelas pessoas. Fala sobre
um peso de papel em forma de globo o qual ele segura, sobre um anjinho, sobre o colar que a mulher faz e
sobre uma adaga (punhal curto).
No meio do diálogo ele diz que o anjinho, por ser mensageiro de Deus, havia lhe dado uma
mensagem. Ela pergunta qual, ele diz:
- Que você não me ama mais.
- Adianta dizer que não é verdade? – ela pergunta.
- Não, não adianta – ele responde.
“Colocou o anjo na mesa. E apertou os olhos molhados de lágrimas (...)
- Veja, Lorena, os objetos só têm sentido quando têm sentido... Eles precisam ser olhados,
manuseados, como nós. Se ninguém me ama, viro uma coisa ainda mais triste do que essas... É o peso de
papel sem papel, o cinzeiro sem cinza, o anjo sem anjo, fico aquela adaga ali fora do peito. Para que serve
a adaga fora do peito? – perguntou e tomou a adaga entre as mãos.”
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Depois de mais um tempo conversando a mulher sugere ao marido (que provavelmente sofre de
problemas mentais) que vá dar uma volta para se distrair. De repente, a mulher num sobressalto corre atrás
do marido perguntando onde está a adaga. De dentro do elevador ele responde:
- Está comigo.
Apenas um saxofone
Conto em primeira pessoa. Uma mulher quarentona, rica e entediada, lembra do grande amor de sua
vida: um saxofonista, que a chamava de Luisiana e fazia por ela “loucuras de amor”, como tocar sax, nu em
uma praia para provar que a amava. Tanto amor acabou por assustá-la e ela rompeu com o saxofonista. Mas
agora, rica, cheia de amantes e amargurada, gostaria de saber onde ele estava, se ainda estava vivo, ou ao
menos ouvir o som do seu saxofone.
Helga
Paulo Silva narra em primeira pessoa sua história com Helga. Ele era brasileiro, filho de mãe com
descendência alemã, e pai brasileiro desconhecido. Quando jovem, depois de passar férias na Alemanha,
decide ficar neste país e assume o nome de Paul Karsten. Depois de ter sobrevivido à Segunda Guerra, Paul
sobrevive de vender miudezas e fazer pequenos contrabandos.
Até que um dia conhece uma moça chamada Helga, que trabalha na farmácia de seu pai. Helga
apesar de bela, não possui uma das pernas, tendo em seu lugar uma prótese que custara uma fortuna, e que
consumira as últimas economias de seu pai.
Paul torna-se namorado de Helga e o pai da moça lhe diz que uma maneira de enriquecer seria
trabalhar com a venda de penicilina, tão necessária naqueles tempos de guerra. Paul entusiasma-se com a
idéia, mas ambos nada podem fazer pois não possuem capital para iniciar o negócio.
Passado algum tempo, Paul casa-se com Helga. Na noite de núpcias, Paul rouba-lhe a perna
mecânica e foge. Vendendo a prótese Paul inicia o comércio de penicilina, enriquece na Alemanha e volta,
anos mais tarde, para o Brasil como respeitável cidadão Paulo Silva.
O moço do saxofone
Conto narrado em primeira pessoa.
Caminhoneiro fica numa pensão barata e ouve um saxofonista – que sempre toca músicas tristes.
Pergunta a James, outro pensionista, sobre o músico e o colega responde: “A mulher engana ele até com o
periquito. Dormia em quarto separado da mulher”. “Mas por quê?” pergunta o caminhoneiro.
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“Uma mulher como ela tem que ter seu próprio quarto”, responde James.
Uma noite a mulher do moço do saxofone marca com o caminhoneiro para se encontrarem em seu
quarto, mas ele, por engano, entra no quarto do saxofonista que calmamente lhe diz que o quarto de sua
mulher é na porta adiante.
“E você aceita tudo isso assim quieto?”, pergunta o caminhoneiro. “Eu toco saxofone”, ele responde.
O caminhoneiro sai do quarto do saxofonista e vai até o quarto da mulher.
“Então a porta do lado se abriu bem de mansinho, cheguei a ver a mão dela segurando a maçaneta.
Foi quando começou bem devagarinho a música do saxofone. Fiquei broxa na hora, pomba. Desci a escada
aos pulos. Minha vontade de fugir era tamanha que o caminhão saiu meio desembestado, num arranco”.
A caçada
Em terceira pessoa. Homem obcecado por uma tapeçaria velha de uma loja de antiguidades tem a
nítida sensação de ter participado da cena exposta no tapete: uma caçada. Um caçador lançando uma seta
em direção a uma presa. Depois de várias idas ao antiquário, o homem vê a cena cada vez mais nítida, até
que tem o delírio de estar dentro do tapete vivendo a caçada, sem saber se é o caçador ou a caça. Então sente
sangue em sua boca. Ouve o assobio da seta varando a folhagem, a dor!
“Não... – gemeu, de joelhos. Tentou ainda agarrar-se à tapeçaria. E rolou encolhido, as mãos
apertando o coração”.
A chave
Narrado em terceira pessoa. Tom, homem de 59 anos, pensa no quanto gostaria ficar em casa
naquela noite e dormir o quanto pudesse. Neste mesmo instante Magô, sua esposa de 28 anos, veste-se e
insiste para o marido se levantar pois estão atrasados para um jantar na casa de sua amiga Renata. Tom já
não tem mais disposição para acompanhar a jovem esposa e lembra-se de sua ex-mulher, que gostava de
ficar em casa jogando cartas, e o chamava pelo seu verdadeiro nome, Tomás.
Certo dia, andando pela rua, dez anos atrás, conhecera Magô, no auge dos seus 18 anos. Apaixonou-
se por ela e se casaram, apesar de o pai da moça insinuar que ele era muito velho para sua filha e no futuro
teriam problemas.
Tom tenta levantar, mas não consegue e pede que sua esposa vá sozinha, ainda pensando em sua ex-
mulher, Francisquinha, que não gostava de se arrumar nem de sair, era simples e generosa.
Dormiu e sonhou com Magô na festa dançando com Fred, então surge Francisca deitando a cabeça
no seu colo, devolvendo-lhe a chave da casa.
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Meia-noite em ponto em Xangai
Conto em terceira pessoa. Uma cantora lírica está em temporada na China. Chega ao hotel, após um
espetáculo, e pede ao seu mordomo para preparar-lhe um banho. O chinês obedece a todas as suas
exigências. Então a cantora recebe a visita de um homem chamado Stevenson, que a cobre de elogios,
dizendo ser ela a maior soprano do mundo. Os dois conversam e em determinado momento a cantora diz
que seu empregado não tem vontade própria, é apenas um servo sem sentimentos, menos que um animal.
Depois de um tempo mais de conversa, Stevenson vai embora e a cantora fica sozinha. De repente começa a
ouvir ruídos no quarto, agarra-se a poltrona, pergunta se é o seu empregado que está ali. Ninguém responde.
Ela fica apavorada e encolhe-se mais ainda.
A janela
Conto em terceira pessoa. Um homem está na casa de uma mulher desconhecida apenas para ver a
janela do quarto. Fica durante algum tempo observando o espaço onde ele diz que havia uma roseira. A
mulher pergunta como ele sabe. O homem diz que seu filho morreu naquele quarto. Ela fica comovida. Os
dois conversam um tempo. Ela fala de sua vida, de como chegou à cidade. O homem só fala da roseira e da
janela. A mulher começa a desconfiar.
Num certo momento ela lhe oferece um refresco e pede que ele espere um pouco. Ela sai e volta
dizendo que teve de sair para buscar laranja, pois o refresco havia acabado.
Escurecia, o homem pediu para não acender as luzes. Assim sentia melhor o perfume das flores.
Logo, dois enfermeiros entraram no quarto e o levaram numa camisa-de-força. Estendeu
tranqüilamente as mãos. Tinha uma profunda tristeza. As outras mulheres vizinhas ficaram apavoradas, ela
expulsou-as de seu quarto. Sentou na cadeira e ficou olhando a janela, pensativa.
O jardim selvagem
Conto em primeira pessoa. Tio Ed casara-se com Daniela sem avisar a família. Ele era um quarentão,
medroso e inseguro e Daniela, segundo ele, era um jardim selvagem.
Ed era muito envolvido com a irmã, Tia Pombinha, e a sobrinha, Ducha (narradora do conto).
Tia Pombinha quando recebe a notícia de que o irmão Ed se casara repentinamente fica muito
preocupada, principalmente porque naquela noite havia sonhado com dente, o que, segundo ela, não era
nada bom.
Tia Pombinha fica sabendo que a mulher de Tio Ed era muito bela e tinha o costume de usar sempre
uma luva na mão direita.
"- Diz que anda sempre com uma luva na mão direita, não tira nunca a luva dessa mão, nem dentro
de casa”.
Quando Tia Pombinha conhece Daniela, fica encantada com sua beleza e educação. Entretanto uma
empregada de Ed revela à sobrinha Ducha que Daniela, a esposa do tio, era uma mulher muito estranha e
que certo dia matara um cachorro da casa com um tiro na cabeça, com a desculpa de que o animal estava
doente e precisava ser sacrificado.
Semanas depois Tia Pombinha e Ducha recebem a notícia de que o Tio Ed havia se suicidado com
um tiro na cabeça.
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Natal na barca
Conto em primeira pessoa. A narradora-personagem faz um passeio de barco numa noite de natal.
"Era uma mulher com uma criança, um velho bêbado e eu.”
A mulher que embalava a criança sentada ao seu lado no banco tinha belos olhos claros. Ela conta
que o filho está doente, com febre, e que iria à cidade consultar um médico.
A narradora pergunta-lhe se era o filho caçula e ela diz que é o único. O primeiro havia morrido no
ano passado. Subiu o muro, estava brincando de mágico quando de repente avisou: vou voar. Caiu do muro
e bateu a cabeça. A mulher acrescenta que não tinha a quem recorrer, pois o marido a havia abandonado.
Ela só podia se prender a Deus e isto a tranqüilizava e dava forças.
A narradora fica perplexa com tanto sofrimento e ao mesmo tempo, tanta sobriedade. Como não
bastasse a pobreza que transparecia pelos remendos da sua roupa, perdera o filhinho, o marido, e nesse
momento (a narradora) observa nos braços da mulher que a criança estava morta, e a mãe não havia
percebido.
Quando a viagem termina e a narradora vai se despedir da mulher, temendo presenciar a reação dela
quando perceber que o filho morrera, a mãe levanta o xale que cobre a criança e começa a conversar com
ela. A narradora se espanta ao ver que a criança estava viva e melhor...
“Encarei-a sob o manto preto, de pontas cruzadas e atiradas para trás, seu rosto resplandecia.
Apertei-lhe a mão vigorosa. E acompanhei-a com o olhar até que ela desapareceu na noite".
A ceia
Em terceira pessoa. Alice convida Eduardo, seu ex-marido, para um jantar, e o pedido demora a
chegar. Ele parece incomodado e ela, triste, tentando agradá-lo.
Enquanto estão conversando, ela tenta convencê-lo de que não dará mais vexames, quando se
encontrarem, como da última vez. Com isso, ela acaba se desesperando e pedindo que ele não a deixe,
tornando a conversa uma humilhação para ela.
Eduardo tenta disfarçar o assunto falando de um isqueiro que ganhou num jogo. Pedindo que ele vá
embora, Alice fica sozinha, pensativa, com o isqueiro dele na mão.
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Ficou atento. Nenhum ouvido humano escutaria agora qualquer chamado. Acendeu um cigarro e foi
descendo a ladeira. Crianças ao longe brincavam de roda.”
Eu era mudo e só
Em primeira pessoa. Um homem começa a refletir sobre sua vida de casado e lembra-se do amigo
Jacó, e do que este dissera quando lhe contou que iria se casar: a solidão é difícil, mas mais difícil ainda era
suportar a companhia. O narrador, naquele momento, pensou que o amigo dizia aquilo porque não conhecia
sua futura esposa, Fernanda. Ela era sensível, delicada e inteligente.
Narrando a história, ele conta como se casou, e como deixou de ser jornalista: acabou cedendo à
proposta do pai de Fernanda para ingressar no negócio da família de venda de tratores.
Analisando, havia deixado de lado todas as coisas em que ele achava que acreditava, mas agora tinha
vida de rico, com uma esposa perfeita e culta e uma filha que era a cópia da mãe.
Pensou estar envelhecendo e que assim poderia começar a somar as compensações que lhe trouxera
o casamento: a alegria simples de sair em silêncio para visitar um amigo; amar ou deixar de amar sem
medo; nunca mais ter medo; nunca mais se perder, pois achava que já estava perdido.
As pérolas
Em terceira pessoa. O conto é uma mistura de amor profundo de Tomás por Lavínia, e ao mesmo
tempo de tristeza demonstrada pelo marido por estar doente e não poder mais sair de casa acompanhando a
mulher.
Ele conversa com a esposa sobre a reunião que ela tem de ir naquela noite. Enquanto ela se arruma
ele diz, com um certo ciúme, que Roberto apareceu e estará na reunião, pelo jeito este homem sentia alguma
coisa por ela.
Quando termina de se vestir, Lavínia não encontra o colar de pérolas, pois Tomás o havia escondido,
e acaba saindo sem ele. Quando ela chega ao portão, o marido está arrependido e grita da janela que tinha
achado o colar. Ele entrega-lhe as pérolas e a mulher sai.
O menino
Conto narrado em terceira pessoa. Um menino conversador saiu para acompanhar a mãe no cinema.
Não se acomodou bem no lugar escolhido pela mãe e tratou de mudar de posição sempre que não estivesse
vendo a tela.
Ele percebe que um homem se senta ao lado de sua mãe e ambos se dão as mãos. O menino fica
imóvel, pasmado, olhando sem nenhum pensamento, sem nenhum gesto. Não podia compreender como a
mãe era capaz.
Ao retornar a casa, estava triste e teve vontade de contar tudo ao pai. Mas, eles não se relacionavam
muito bem. O menino mordeu os lábios até sentir gosto de sangue na boca. Como nas outras noites, os pais
demonstravam se amarem: era tudo igual. O pai demonstra-lhe muita confiança na mulher e ele concluiu
que seus pais são felizes mesmo que houvesse traição.
O menino voltou para a escada os olhos cheios de lágrimas. O pai pergunta-lhe o que havia
acontecido, o menino encarou-o demoradamente. “Aquele era o pai. O pai. Os cabelos grisalhos. Os óculos
pesados. O rosto feio e bom.
- Pai... - murmurou, aproximando-se. E repetiu num fio de voz: - Pai...
- Mas meu filho, que aconteceu? Vamos, diga!
- Nada, nada.
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