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(PAIVA, 2003, p.61; BECKNER et al, 2007, p.1-5). We understand the classroom as a
group of aggregates (HOLLAND, 2004), and that the interaction among the agents
(HOLLAND, 2004) and the constitution of the aggregates occurs from the commom scale
of values (PIAGET, 1973, p.117; VETROMILLE-CASTRO, 2007, p. 64). Vetromille-
Castro (2007) verifies that collaboration and autonomy are values which fomented the
interaction among the co-valorising subjects, but considers that there are more values
involved in this action. Sharing the opinion of this author, we believe that interactions
occur among co-valorising individuals (PIAGET, 1973), whose actions of mutual interest
are fomented through identification or labelling (HOLLAND, 2004) of reciprocal values,
and this reciprocity constitutes a commom scale of values which foments the aggregation
and, consequently, the formation of aggregates (HOLLAND, 2004) we see as adaptive
complex systems (ACS). Our investigation aims at identifying and describingbased on
the terminology used in Schwartz’s Value Survey (SCHWARTZ, 2006) the common
scale of values in the exchanges of reciprocal benefit (PIAGET, 1973) and the values
involved in the actions of solidary support (ESTRÁZULAS, 2004). Verify if the groups in
the AVA (Virtual Learning Environment) forums of Spanish as a Foreign Language
teacher training behave as an aggregate, a complex adaptive system (HOLLAND, 2004).
In this paper we present the partial result of a masters research, obtained through a
descriptive analysis, of qualitative nature and of virtual ethnographic interpretation
(HINE, 2004) of the posts in our corpus.
Keywords: VLE, Caos, Complexity, Spanish, Values.
1. Introdução
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tem um papel fundamental no AVA, pois se configura como um espaço colaborativo e
cooperativo, cujo auxílio e troca de conhecimento acontece mesmo sem a presença virtual do
professor. Por este motivo, vemos nos fóruns a oportunidade de melhorar o processo de
ensino aprendizagem se obtivermos mais pessoas interagindo. E é por esta razão que nosso
estudo envolve os fóruns e as interações que nele ocorrem, identificando e descrevendo um
dos elementos que acreditamos ser fundamental para que estas relações aconteçam: a escala
comum de valores (PIAGET, 1973). Para esta descrição utilizaremos a terminologia
desenvolvida na teoria de conteúdo e estrutura de valores (SCHWARTZ, 2006, p. 929-968;
TAMAYO & PORTO, 2005, p. 21-95). Para Schwartz, o que diferencia um valor do outro é o
tipo de objetivo ou motivação que o valor expressa, e assim define a teoria dos valores a partir
de dez tipos motivacionais, de acordo com a motivação subjacente a cada um deles. Segundo
a teoria, estes dez tipos representam um conjunto de valores motivacionalmente distintos
reconhecidos entre as culturas. “Tendem a ser universais porque estão baseados em um ou
mais dos três quesitos básicos à existência humana” (TAMAYO & PORTO, 2005, p.23).
“Todos os indivíduos e sociedades têm de responder aos seguintes requisitos: as
necessidades dos indivíduos como organismos biológicos, requisito de ação coordenada e
necessidade de sobrevivência e bem estar dos grupos” (TAMAYO & PORTO, 2005, p.23-
24).
Neste artigo apresentaremos o resultado parcial de uma pesquisa de mestrado que tem
por objetivo identificar e descrever os valores que constituem a escala comum de valores que
fomenta a interação dos grupos em um fórum no AVA que investigamos. Para Piaget (1973,
p.130-131) a escala comum de valores “[…] corresponde a uma coletividade de
covalorização constituída pelo conjunto de indivíduos copermutadores segundo esta escala”
e ela é “a condição preliminar para que ocorram as coletividades de valorização recíproca”.
Nosso estudo tem como referência os estudos de Piaget (1973) e de Vetromille-Castro
(2007), que nos mostram que há indivíduos que se veem como covalorizantes, ou seja,
compartilham valores, fato que os leva à interação. Da mesma forma, há ações de caráter
desinteressado em que um mesmo indivíduo interage com indivíduos menos capazes, o que
seria configurado como sustentação solidária (ESTRÁZULAS, 2004), esta troca também
envolve valores.
Há valores envolvidos em todas as interações, tanto nas trocas de benefício recíproco,
quanto nas ações de sustentação solidária, porém, nas trocas de benefício recíproco é possível
identificar e descrever uma escala comum de valores, o que não é possível nas de sustentação
solidária, pois o fato de um indivíduo prestar auxílio ao outro não significa que há
covalorização. Aquele que presta auxílio poderá ter em sua escala de valores a colaboração e
a solidariedade, mas isso não quer dizer que o sujeito auxiliado também os terá. Além disso,
quando um sujeito presta auxílio, o outro está em condição desigual, o que não permitirá a
reciprocidade de benefícios.
Assim sendo, com base em uma das duas principais referências teóricas, surge uma
hipótese que vêm sendo útil ao processo investigativo, a de que há outros valores constituintes
nas escalas comuns de valores dos grupos, além dos valores colaboração e autonomia,
constatados por Vetromille-Castro (2007).
Na tese “A interação social e o benefício recíproco como elementos constituintes de
um sistema complexos em ambientes virtuais de aprendizagem para professores de línguas”,
Vetromille-Castro verifica que o benefício recíproco não acontece sem a ação autônoma e
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colaborativa, porque para que aconteça a interação é fundamental que os indivíduos atuem e
que as ações sejam voltadas não somente para o seu benefício próprio, mas também para o do
outro. Para o autor (2007, p.206), “o benefício recíproco (e a sustentação solidária) foi
objetivo de motivação das interações e, por conseqüência, elemento fundamental para a
emergência do sistema”, mas observa que os benefícios não existem sem as relações
interativas. Acreditamos então, que o processo seletivo (HOLLAND, 2004, p.29-30) é
fomentado pela covalorização (PIAGET, 1973) ou etiquetação (HOLLAND, 2004, p.28-29)
em função de um objetivo de interesse mútuo. Além disso, a escala comum de valores deverá
ser constituída por outros valores além da colaboração e da autonomia (VETROMILLE-
CASTRO, 2007). Esta seleção valorativa inicial poderá ser o que faz com que alunos formem
pequenos grupos e interajam nos fóruns e outros não. Chamaremos estes pequenos grupos de
agregados (HOLLAND, 2004), formados a partir de seleção valorativa que aconteceria por
meio de uma escala comum de valores sociais. Nossa hipótese parte de um entendimento que
esta escala comum de valores que é identificada pelos agentes professores e alunos fomenta,
portanto, as trocas de benefício recíproco e a formação dos agregados. Vemos a sala de aula
como um conjunto de agregados e que os agentes agenciam a construção de seu conhecimento
através da interação. Nos grupos o aprendizado emerge em contextos micro e macro,
ultrapassando as fronteiras dos agregados nos conceitos de meta e multiagente (HOLLAND,
2004).
Esta ação produz e constrói conhecimento de maneira a transformar as trocas que
emergem neste grupo de agentes covalorizantes em o que Lévy (2004) define como
“inteligência coletiva”. Em um grupo de alunos que estuda uma língua estrangeira na
modalidade a distância, por exemplo, o multiagente representaria a ação única, em conjunto
nos fóruns, dos agregados (SAC) a partir da aprendizagem obtida e compartilhada, ação que é
resposta, produto e processo do desenvolvimento cognitivo na aprendizagem. Na ação dos
agentes nos agregados dos fóruns que já analisamos percebemos a junção entre a unidade e a
multiplicidade (MORIN, 1994), em meio à complexidade do processo de aprendizagem de
uma língua, notamos que o todo está nas partes e as partes no todo, e que nos agregados,
sistemas adaptativos complexos, o todo é mais que a soma das partes.
É preciso analisar o todo para entender as partes, para que possamos através de cada
parte entender o mais que o todo. De acordo com Leffa (2003, p.1), o foco na interação, “é a
maneira mais adequada de ver o todo sem perder as partes e como tudo se relaciona entre si”.
Para isso, estamos analisando diacronicamente a formação dos agregados pelas interações dos
agentes nos seis fóruns da disciplina de língua espanhola III. E aqui mostraremos o estudo de
uma parte deste todo, o fórum 11.
2. Metodologia
A investigação em grupos tem sido uma experiência muito frequente nas diferentes áreas do
conhecimento. Diariamente participamos de inúmeros grupos em função dos diferentes
objetivos que nos orientam. Segundo Krueger (1991, p. 23): “O grupo amplifica nossas
capacidades e deficiências individuais. Nosso fracasso frequentemente é o resultado de
confusões acerca do objetivo e do processo grupal” (tradução nossa).
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A percepção destas deficiências individuais e a busca por interação, por agregação, a
fim de superá-las é o que faz com que em nosso estudo, apostemos nos grupos (agregados)
como fomentadores de um trabalho colaborativo e criativo no processo de aprendizagem, e os
vejamos como sistemas altamente adaptativos e complexos, capazes de agenciar via interação
a potencialização das capacidades dos estilos de aprendizagem dos indivíduos (ALONSO,
GALEGO & HONEY, 1999).
Neste trabalho apresentamos o resultado parcial obtido mediante uma observação
naturalista, de análise descritivista, de natureza qualitativa (BOGDAN & BIKLEN, 1994) e de
interpretação etnográfica virtual (HINE, 2004) das postagens de 30 alunos, da professora
tutora a distância e das duas professoras investigadoras de um polo em um fórum da
disciplina de língua espanhola III de uma licenciatura em uma universidade federal localizada
na região sul do Brasil na modalidade a distância.
A disciplina de Língua Espanhola III faz parte do conteúdo programático da
licenciatura e é ministrada essencialmente via Moodle. Está estruturada em 16 semanas, a
cada semana um novo conteúdo inicia-se e um ou mais fóruns são abertos, geralmente um
fórum de dúvidas e um fórum sobre algum conteúdo e/ou atividade específica. A observação
das interações ocorrerá nos fóruns de estudo: El cartero de Neruda e Escribiendo una carta
(semana três); Contextualizando (semana quatro); Tarea complementaria (semana seis);
Lecturas en español. Foro Cervantes (semana oito); Foro Video-instrucciones (semana 11);
Foro los cantantes (semana 14). Neste trabalho apresentaremos este estudo a partir das trocas
qualitativas dos grupos em um fórum, o fórum Videos-instrucciones da décima primeira
semana.
A interpretação do material coletado é aprofundada, explora a natureza interativa e faz
a análise deste fenômeno social. A terminologia eleita para a descrição dos valores foi a dos
dez tipos motivacionais, descritos na Teoria de Conteúdo e Estrutura de Valores, criada e
utilizada por Shalom Schwartz em seu Inventário dos Valores (SVS).
A atitude da investigadora é aberta e permeável a tudo o que sucede. A análise dos
dados traz a interpretação dos significados e funções das atuações. Desta forma, a descrição, a
análise e a interpretação dos fenômenos ocorrem indutivamente durante o desenvolvimento da
pesquisa, “as abstrações são construídas à medida que os dados particulares que foram
recolhidos se vão agrupando” (BOGDAN & BIKLEN, 1994, p.50), conforme a característica
de uma pesquisa de metodologia descritiva, de natureza qualitativa e de interpretação
etnográfica virtual, cuja “direção desta só se começa a estabelecer após a recolha dos dados
e o passar do tempo […]” (ibid). Escolhemos esta metodologia a partir dos objetivos de
estudo da pesquisa, que vêm orientando nosso trabalho. Pareceu-nos, portanto, pertinente, a
eleição de um método aberto a todas as contingências do problema que estuda, que aceite a
implicação do investigador no entorno social para a compreensão dos acontecimentos em
termos de significado e que possibilite uma interpretação a partir de um contexto e de suas
inter-relações adaptativo-complexas. Neste sentido, a nossa necessidade apontou para um
estudo etnográfico.
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2.1. Análise dos dados
O fórum da semana 11 teve sua criação motivada por uma obra de Júlio Cortázar que trata das
instruções que temos escutado no começo das aulas. Neste fórum o aluno deveria postar sua
vídeo-instrução (o tema era livre) em áudio, áudio-imagem e em texto e comentar as dos
colegas. O tema da semana 11 era el video e o objetivo era desenvolver a criatividade e a
habilidade da expressão oral e escrita. O fórum do pólo em estudo teve 12 postagens. A
mensagem deixada pela professora pesquisadora ao abrir o fórum foi: “Después de haber
escrito el texto sobre la instrucción, van a grabarlo con algún recurso. Deben comentar sobre
la producción de por lo menos otro grupo”.
A mensagem de abertura do fórum nos mostra que a interação é uma das condições
iniciais para que o processo de intercambio ocorra, confirmando o objetivo pedagógico
comunicativo do conteúdo programático da disciplina, que vemos como uma regra de baixo
nível. Após a mensagem da professora Y, o agenciamento das trocas é estabelecido, por meio
da etiquetação ou covalorização emerge um agregado único e coeso.
Vemos que também neste fórum temos como uma das condições iniciais a solicitação
de interação, confirmando o objetivo pedagógico comunicativo do conteúdo programático da
disciplina (regra de baixo nível).
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Fonte: Ambiente Virtual de Aprendizagem
A16 interage várias vezes durante as postagens dos colegas no fórum, mostra-se
solidária com os companheiros de aula, elogiando os trabalhos que postaram e fazendo
comentários sobre o conteúdo, entretanto, neste fórum1, A16 não obtém resposta dos colegas.
Poderíamos considerar que A16 embora compartilhe os mesmos valores com os demais
agentes do agregado, não obtém o retorno por parte dos colegas do agregado, e isso poderá
ocorrer por dois motivos: é possível que no conteúdo da semana 11 A16 esteja em situação de
menor valorização frente ao grupo; ou simplesmente ocorra uma relação inversa neste sentido,
A16 não recebe feedback neste fórum porque os companheiros a identificam como alguém
que não necessita de apoio, o que concluiram mediante o discurso positivo (e solidário) com
respeito aos trabalhos deles e as explicações claras que deu acerca de seu trabalho. E como
não estão em condições iguais, não podem ser covalorizantes (PIAGET, 1973).
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Destacamos que a situação vivenciada por A16 ocorre neste fórum e que a mesma não se repete nos demais
fóruns (como no fórum da semana oito, por exemplo).
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Nos excertos a seguir notamos que A23 e A11 trocam informações e elogios, nestas
mensagens destacamos como valores comuns a boa pronúncia na língua estrangeira (saber
aspectos linguísticos-comunicativos), e estudar elementos sócio-culturais (os hábitos de
higiene - lavar as mãos e fazer pão). É uma relação de benefício recíproco, que promove a
participação dos sujeitos envolvidos e também diminui o processo de entropia sistêmica,
assim como a interação de A16 também contribui para a emergência do sistema.
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IX ESUD - Figura 3 – Postagem das agentes A23 e A11 do fórum 11.
No último excerto da figura três, temos novamente outra ação da agente A16, esta de
caráter solidário; e abaixo a última postagem do fórum, que é de A15, em que o aluno valoriza
a originalidade e o trabalho de dar instruções, comenta sobre dois trabalhos de colegas que
não foram postados no fórum. As colegas não participaram deste fórum. Um comportamento
solidário para com quem não está presente se caracterizará também como sustentação
solidária, pois ainda que as colegas não participem do fórum, elas poderão realizar a leitura
das mensagens. A colaboração e a autonomia também estão presentes pois o agente interage
com o agregado, oferecendo na troca valorativa idéias e sugestões. Entretanto, os demais
agentes não interagem com A15, mesmo que ele tenha demonstrado ser colaborativo,
autônomo e solidário. Ainda que A15 tenha presente estes valores em sua atitude e também
valorize o estudo de elementos sócio-culturais ele não obteve o retorno de nenhum agente do
agregado. Relacionamos esta ausência de resposta interativa ao fato de o agente A15 não ter
postado sua instrução, e por este motivo, tal atitude ter sido interpretada pelo grupo como
alguém que está em condição inferior, não estando apto à covalorização. O trabalho
mencionado por A15 também não foi postado no fórum, inviabilizando as possíveis trocas que
poderíam surgir a partir do conhecimento sobre o mesmo.
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Este fórum apresentou um comportamento sistêmico2 diferente com relação ao fórum
da semana quatro, o número de postagens diminuiu de 33 para 12, entretanto, a interação foi
muito maior.
Referente às escalas de valores dos participantes do fórum 11, obtivemos a seguinte
(tabela 1): em A11: Universalismo (colaboração), Benevolência (solidariedade),
Autodeterminação (autonomia), Realização (Capacidade de dar instruções - capacidade
didática, o conhecimento dos aspectos linguísticos-comunicativos, o estudo dos elementos
socio-culturais e o uso das tecnologias); em A15: Universalismo (colaboração), Benevolência
(solidariedade), Autodeterminação (autonomia), Realização (Capacidade de dar instruções -
capacidade didática, o estudo dos elementos socio-culturais e originalidade); em A16:
Universalismo (colaboração), Benevolência (solidariedade), Autodeterminação (autonomia),
Realização (Capacidade de dar instruções - capacidade didática, o conhecimento dos aspectos
linguísticos-comunicativos, o estudo dos elementos socio-culturais e o uso das tecnologias);
em A23: Universalismo (colaboração), Benevolência (solidariedade), Autodeterminação
(autonomia), Realização (Capacidade de dar instruções - capacidade didática, o conhecimento
dos aspectos linguísticos-comunicativos, o estudo dos elementos socio-culturais e o uso das
tecnologias). Os valores identificados na Professora Y foram: Universalismo (colaboração),
Benevolência (solidariedade), Autodeterminação (autonomia), Realização (Capacidade de dar
instruções - capacidade didática e o uso das tecnologias). O agregado foi formado a partir das
escalas comuns de valores da agente A11, A23 e da Professora Y (tabela 2)3.
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Este comportamento sistêmico corrobora o conceito de ‘entropia socio-interativa’ (VETROMILLE-CASTRO,
2007, p. 99), demonstrado claramente em nossa pesquisa em dois momentos (até esta etapa do trabalho): o de
‘força entrópica máxima’ (muitas mensagens e pouca interação), o de ‘resistência sistêmica’ (poucas mensagens,
porém mais direcionadas, estabelecendo um fluxo mais explícito de trocas). O fórum 11 se caracterizaria como
um período de resistência sistêmica. O terceiro momento, seria o da rendição sistêmica.
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Destacamos que a tabela não representa uma ordem hierárquica de valores, ela foi criada apenas com o intuito
de obter uma melhor leitura, o inventário destes valores trazem a ideia de um continuum motivacional, tal qual a
interpretação de Shalom H. Schwartz (TAMAYO & PORTO, 2005, p.49).
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IX ESUD - Tabela 2 – as escalas de valores dos agentes do único agregado do fórum 11 (Video
instrucciones).
IX ESUD - Matriz 1: da escala comum de valores do agregado formado pelos agentes A11, A23 e
Profª.Y.
A11 A23
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escala comum de valores de cada agregado em estudo; b) A descrição dos valores foi
desenvolvida a partir dos dez tipos motivacionais da Teoria de Conteúdo e Estrutura de
Valores de Schwartz, entretanto, agregamos mais valores que emergiram durante o processo;
c) A maioria dos valores foram acrescentados no espaço “Realização”4 e tiveram relação com
o sucesso pessoal alcançado pela demonstração de habilidades socialmente reconhecidas da
profissão. d) A escala comum de valores do único agregado do fórum 11: agentes (A11, A23
e Profª. Y) constitui-se a partir dos valores: Universalismo (colaboração), Benevolência
(solidariedade), Autodeterminação (autonomia), Realização (Capacidade de dar instruções -
capacidade didática e o uso das tecnologias); e) A colaboração via sustentação solidária
ocorreu de duas formas: o agente a prestava de maneira coletiva (no agregado), direcionada a
todos agentes ou a algum agente em especial; f) A autonomia apareceu explicitamente nas
trocas que traziam tentativas ou instruções tradicionais ou inovadoras de utilizar a língua
estrangeira. Nestas interações ficou claro que o objetivo dos estudantes era aumentar as
potencialidades linguísticas com dicas ou idéias de oportunidades de uso da língua espanhola;
g) Também observamos que há valores que emergiram favorecidos pelas condições iniciais,
como os valores do tipo motivacional “Realização” identificados no fórum da semana 11,
fato que também vem repetindo-se em outros fóruns durante o processo de análise
investigativa. Pois a cada semana novos conteúdos, atividades e um fórum é aberto; h) Tanto
professores quanto alunos contemplaram o conceito de agente proposto por Holland (2004)
porque foram capazes de agenciar a busca do seu próprio conhecimento. i) Referente às
condições iniciais, a atitude do professor e /ou tutor durante a abertura do fórum corroborou
que os grupos no AVA de E/LE são suscetíveis a estas condições, bem como regidos pelas
regras de baixo nível, pois os objetivos comunicativos da disciplina mostraram-se implícitos
em cada ação motivadora de interação por parte do professor investigador ou tutor que obteve
resposta dos alunos; j) A condição inicial está na abertura de cada semana e apresentação do
novo conteúdo e /ou assunto a ser tratado, das atividades e do(s) fórun(s) aos alunos. O atrator
estranho, representado pela nova informação e tarefa(s) apresentada(s) exibe também
dependência à condição inicial. A presença do atrator estranho gera nos elementos (agentes)
do SAC um comportamento bifurcativo qualitativo que é não linear, e, portanto, imprevisível.
Mas é durante esta ação que ocorre a seleção valorativa, a agregação e a formação dos SAC.
Temos na emergência dos SAC a resposta auto-organizável e adaptativa.
Com relação aos agregados (SAC) do grupo de professores em formação de espanhol
como língua estrangeira (E/LE) em ambientes virtuais de aprendizagem (AVA) identificamos
que eles se comportaram como um sistema adaptativo complexo (SAC) de acordo com a
definição de Paiva (2002); Holland (2004); Davis e Sumara (2007); Vetromille-Castro (2007);
Martins (2009); Sade (2009), Souza (2011) e Fialho (2011), porque neles identificamos as
seguintes características: a) Abertura e adaptabilidade: a combinação de experiências vividas
por cada agente é compartilhada e utilizada pelos agregados de maneira auto-organizativa e
adaptativa; b) A sensibilidade às condições iniciais, pois foi a partir da solicitação das tarefas
semanais e do conteúdo dado anteriormente que ocorreram ou não as postagens; c) O
comportamento imprevisível e não-linear dos agentes, pois embora as condições iniciais
favorecessem a emergência das trocas, nem todos alunos participaram nos fóruns; d) A
relação cooperativa e colaborativa nos agregados mostrou não haver um controle centralizado,
4
Ver no mapa de SSA (Análise da Estrutura da Similaridade), na página 37 em Tamayo e Porto (2005).
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especialmente pela ação multiagente e pelos agregados inter-relacionados; e) As interações e
a formação dos agregados fizeram com que o todo fosse mais que a soma das partes (MORIN,
1994).
3. Considerações Finais
A descrição e análise dos dados realizada até o momento apontou para algumas tendências
que aparentam corroborar parte de nossas hipóteses. Na medida em que a investigação
continue desenvolvendo-se surgirão mais evidências que nos darão subsídios para realizar
afirmações mais contundentes. Portanto, à luz das informações coletadas e estudadas até esta
etapa da pesquisa, identificamos que o ambiente virtual de aprendizagem de E/LE é um
sistema aberto, que ofereceu ferramentas e suporte técnico coerente com a proposta
comunicativa da disciplina (regras de baixo nível). A proposta e os objetivos da disciplina
geraram as condições iniciais favoráveis para a emergência do comportamento dos grupos,
formados por agentes adaptáveis que se constituíram como agregados, como sistemas
adaptativos complexos (SAC). A covalorização (PIAGET, 1973) fomentou a formação dos
agregados. A partir das trocas destes agentes foi possível identificar e descrever uma escala
comum de valores em cada agregado, bem como as escalas de valores de cada agente. A
escala comum de cada agregado apresentou outros valores além dos valores ‘colaboração’ e
‘autonomia’. A colaboração e a autonomia são valores encontrados nas escalas de valores de
todos os agentes que interagiram no fórum da décima primeira semana.
As interações e a formação dos agregados também foram beneficiadas pelas condições
iniciais que possibilitaram que um novo comportamento sistêmico emergisse diante do novo
conteúdo (atrator estranho) que a cada semana era apresentado aos agentes. As regras de
baixo nível que definiram a organização das disciplinas em semanas e o planejamento do
programa sob a ótica do enfoque comunicativo também contribuíram para que a interação
ocorresse. Porém, a formação dos agregados somente aconteceu entre os agentes co-
valorizantes que identificaram no outro um ou mais valores em comum e a possibilidade de
compartilhar trocas em prol de um benefício mútuo.
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