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Resumo: Este artigo tem por finalidade destacar princípios de composição e discriminar
procedimentos criativos que se referem ao jogo com a música no teatro do encenador russo
Vsévolod Meierhold (1875-1940). Parte da premissa que a música é uma das mais
importantes matrizes de construção da cena meierholdiana e encontra-se no cerne da
renovação artística proposta pelo encenador. Evidencia-se, principalmente, o jogo sobre a
forma musical (audível ou inaudível) nos planos da atuação, encenação e dramaturgia. Para
tal fim, a pesquisa se apoia, como principal fonte de investigação, nos textos teóricos do
encenador e nos relatos de seus comentadores. A partir das informações rastreadas,
apresenta-se uma proposta de delineamento dos recursos e estratégias desenvolvidos por
Meierhold em que a música opera como elemento construtivo da cena teatral.
“Como eu sei – diz o nosso ator – que entro no palco onde o cenário não é
ocasional; onde o chão do palco (tablado) compõe-se com o desenho da
plateia; onde reina o fundo musical, então não posso ignorar como devo
entrar nesse palco. Já que meu jogo chegará ao espectador
simultaneamente com o fundo pictórico e musical, então, para que o
conjunto de todos os elementos do espetáculo tenha um sentido
determinado, o jogo deve ser um dos componentes da soma dos
elementos atuantes” (Idem, p.401, grifo nosso).
1
Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Artes da Escola de Belas Artes da UFMG. Linha de
Pesquisa: Artes da Cena. Orientador: Prof. Dr. Maurilio Andrade Rocha. E-mail:
raquelcastroemail@gmail.com
Não posso não insistir sobre o fato de que a força de impressão que emana
de O Inspetor Geral na interpretação de Meierhold repousa, em grande
parte, sobre os princípios da composição musical e sobre a utilização
2
Boris Assafiev (1884-1949), musicólogo e compositor. Membro da Academia das Ciências da URSS
(PICON-VALLIN, 2008, p.43).
A forma suíte é uma forma cíclica. “Diz-se da forma cujas diversas partes
Cada parte, autônoma, representará por seu tema, suas sonoridades, seus
ritmos, um fragmento da obra músico dramática que a transposição para a
cena deve realizar [...]. Os três primeiros episódios estão, portanto, unidos
pelo alarido da multidão, sustentado pelo conjunto de contrabaixo e
violoncelos. São três afrescos sonoros monumentais com coro e orquestra
(Picon-Vallin, 2008, p.39).
3
Música utilizada em filmes, peças teatrais ou programas de TV. Na Antiguidade, era conhecida como
peça musical, sendo frequente em representações de Shakespeare e composições de Purcell [...].
(DOURADO, 2004, p.217).
Capriccioso
Iº ato, 2ª Lento
parte Scherzando
Largo e maesto
(PICON-VALLIN, 1989, p.7, grifo nosso).
4
Forma em três seções independentes (A B A), na qual a última frequentemente apresenta apenas
uma repetição ornamentada da primeira, como no minueto-trio (DOURADO, 2004, p. 138).
5
Romance romanza (esp.) 1. Como a romanza italiana do final do período medieval, durante certo
tempo ainda esteve associada à balada (acp.1). [...] era executado por poucas vozes e um ou dois
instrumentos de corda como o alaúde. Evoluiu até o início do barroco, quando principalmente nas
formas alemãs e francesas tornaram-se exacerbadamente sentimentais. Apesar de suas
características de música vocal, o gênero passou a ser utilizado por Mozart e Beethoven, entre
outros, ou exercer influência sobre suas composições instrumentais (DOURADO, 2004, p.285).
Opereta (it. operetta lit.: pequena ópera) Termo atribuído a Mozart, refere-se
ao gênero simplificado, alegre e de curta duração do período Barroco que
ressurgiu com a ópera cômica francesa de Offenbach (A bela Helena) [...].
Popularizou-se na Viena no final do século XIX, consagrou-se na Inglaterra
de Gilbert e Sullivan e abriu caminho para o surgimento do musical no
século XX (DOURADO, 2004, p.234).