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A delimitação e a proteção das áreas de preservação permanente

e seus reflexos no parcelamento do solo urbano

Rochelle Jelinek1

1. Aspectos constitucionais do tema

Nenhum tema no âmbito jurídico pode ser analisado dissociado da


constitucionalidade. O ordenamento jurídico é composto por um conglomerado de
normas que se interligam hierarquicamente, tal qual uma pirâmide. A Constituição
Federal se localiza no topo da pirâmide, irradiando sua supremacia de modo a
sujeitar as normas infraconstitucionais aos seus princípios e comandos, sejam
elas de ordem civil, urbanística, administrativa, ambiental, penal, de natureza
pública ou privada.
Uma vez estando no sistema jurídico vigente, as normas relativas a todos
os ramos jurídicos – assim também as urbanísticas – não podem ser aplicadas
sem levar em conta as normas ambientais impregnadas pela ideologia
constitucional2.

1
Promotora de Justiça-Ministério Público do RS, Especialista em Direito Ambiental pela Universidade
Federal do RS-UFRGS, Mestranda em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do RS-PUC/RS.
2
Paulo José Leite Farias refere que a ideologia adotada na Constituição Federal de 1988 permite que se fale
em Estado de Direito Ambiental, o que impregna todas as normas que se relacionam com o vasto leque do
domínio normativo da expressão “ambiente”. FARIAS, Paulo José Leite. Competência federativa e proteção
ambiental, p.226.
Além da consagração da necessidade de preservação ambiental no texto constitucional, com advento da Lei
n.° 10.257/01 (Estatuto da Cidade), que regulamentou os arts. 182 e 183 da Constituição Federal, a temática
ambiental tornou-se obrigatória na fixação das exigências fundamentais de ordenação da cidade. A título
exemplificativo, tomemos as seguintes diretrizes gerais mencionadas no estatuto: suas normas, de ordem
pública e interesse social, regulam o uso da propriedade urbana em prol do equilíbrio ambiental (art. 1o, par.
único); a política urbana deve garantir o direito a cidades sustentáveis, que pressupõe o saneamento
ambiental (art. 2o, inc. I); o planejamento urbano deve evitar e corrigir as distorções do crescimento urbano e
seus efeitos negativos sobre o meio ambiente (art. 2o, inc.IV); a política urbana deve promover a proteção,
preservação e recuperação do meio ambiente natural e construído, inclusive o cultural (art. 2o, inc. XII); a
política urbana deve ouvir a população nos processos de implantação de empreendimentos ou atividades com
efeitos potencialmente negativos sobre o meio ambiente natural ou construído (art. 2o, inc. XIII); na
regularização fundiária e urbanização de favelas, a política urbana deverá considerar as normas ambientais
(art. 2o, inc. XIV); a ordenação do solo das cidades deve coibir o parcelamento do solo, a edificação ou o uso
excessivos ou inadequados em relação à infra-estrutura urbana, e evitar a poluição e a degradação ambiental
(art. 2o, inc. VI, ‘c’ e ‘g’). Diante das diretrizes para a política urbana estabelecidas no Estatuto da Cidade,
não se pode vislumbrar uma aplicação estrita das leis de parcelamento do solo urbano, sem estarem em
consonância com a legislação de tutela ao meio ambiente.
1.1. Princípios constitucionais de proteção do ambiente

Até a promulgação da Constituição Federal vigente, em 1998, a Lei Maior


não se referia à tutela do meio ambiente. A nova ordem constitucional consagrou
a proteção ambiental em dispositivos esparsos3 e em capítulo específico intitulado
Do Meio Ambiente4.
Do estudo sistêmico das normas constitucionais extraem-se os princípios
relativos ao meio ambiente – natural, urbano, cultural –, que, por estarem
inseridos na Carta Magna, servirão de diretrizes a todo o ordenamento jurídico: os
princípios da supremacia do interesse público na proteção do ambiente em face
dos interesses privados, do direito humano fundamental ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, da obrigatoriedade da intervenção estatal para
preservação e recuperação do ambiente, da prevenção, da precaução, da
proteção da biodiversidade, da responsabilização pelo dano ambiental, do
desenvolvimento sustentável.
Os princípios constitucionais são verdadeiros vetores reguladores da
legislação, o que faz ressaltar que a violação de um princípio acarreta a quebra
de todo o ordenamento jurídico vigente5.

1.1.1. Princípio do direito fundamental ao meio ambiente equilibrado

O termo direito fundamental se aplica àqueles direitos do ser humano


reconhecidos e positivados na esfera do direito constitucional.
A Constituição Federal de 1988 elevou o direito ao meio ambiente
equilibrado à categoria de direito fundamental, ao caracterizar o equilíbrio
ecológico como bem essencial à sadia qualidade de vida. Ingo Starlet aduz que
esse direito não está elencado no rol dos direitos fundamentais individuais do art.

3
Arts. 5°, LXXIII, 170, VI, 173, §5°, da CF.
4
Art. 225 – Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletiviade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
5
“Violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma qualquer. (...) É a mais grave forma de
ilegalidade ou de inconstitucionalidae conforme o escalão do princípios atingido, porque representa
insurgência contra todo o sistema, subversão de seus valores fundamentais, contumália irremissível a seu
arcabouço lógico e corrosão de sua estrutura mestra”. MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito
Administrativo, p. 546.
5° da CF, e sim no art. 225, por tratar-se de um direito fundamental definido como
típico direito difuso, inobstante também tenha por objetivo o resguardo de uma
existência digna do ser humano, na sua dimensão individual e social. Este direito
integra a terceira geração de direitos fundamentais, cuja nota distintiva reside
basicamente na sua titularidade coletiva, muitas vezes indefinida e indeterminável
e na necessidade de solidariedade para sua efetivação6.
Como norma de caráter teleológico, o art. 225 da Constituição Federal
impõe uma orientação de todo o ordenamento infraconstitucional, ficando
patenteado o reconhecimento do direito-dever ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, a obrigação dos Poderes Públicos e da coletividade de defendê-lo e
preservá-lo e a previsão de sanções para as condutas ou atividades lesivas. A
preservação do ambiente passa a ser, portanto, a base em que se assenta a
política econômica e social do país.
Fernando Reverendo Vidal Akaoui7 assevera que a ordem constitucional
recepcionou o conceito de meio ambiente previsto no art. 3°, inc. I, da Lei Federal
n.° 6.938/81, amplo o suficiente para abarcar todos os interesses de natureza
ambiental – meio ambiente natural, urbano, cultural, artificial e do trabalho:

Art. 3° - omissis
I – meio ambiente: o conjunto de condições, leis,
influências e interações de ordem física, química
e biológica, que permite, abriga e rege a vida em
todas as suas formas;

Nesse contexto, o desenvolvimento das cidades e o adensamento


demográfico não podem descuidar da necessidade de preservação ambiental –
aqui compreedida toda a extensão do conceito de meio ambiente –, para garantir
sadia qualidade de vida à população.

1.1.2. Princípio do desenvolvimento econômico sustentável

6
STARLET, Ingo Wolfang. A eficácia dos direitos fundamentais, p.31, 51 e 123. Também no sentido de que
o art. 225 da CF acolhe um direito fundamental: BENJAMIN, Antônio Hermann. Responsabilidade civil pelo
dano ambiental, p.12. ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental, p. 22. SILVA, José Afonso da. Direito
Ambiental Constitucional, p.36.
7
AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. Compromisso de ajustamento de conduta ambiental, p. 24.
O princípio do desenvolvimento sustentável está agasalhado pelo art.
225, caput, da Constituição Federal, donde se extrai que o desenvolvimento pode
e deve se dar, desde que haja uma gestão racional dos recursos naturais de
modo a não comprometê-los, preservando-os para as gerações presentes e
futuras8.
De acordo com a diretriz imposta pela Carta Magna, o Estado, a
sociedade, o particular – empresa ou indivíduo –, enfim, quem de qualquer
maneira pretenda empreender, deve promover, sempre, uma avaliação da
dicotomia dano/benefício, para que sejam evitados impactos ambientais que
prejudiquem o ecossistema e, por conseqüência, a qualidade de vida da
população9.

8
O desenvolvimento sustentável foi divulgado primeiramente como um princípio para o planejamento do
desenvolvimento econômico pela WCED (World Commission on Environment and Development), em
documento sobre estratégias mundiais do desenvolvimento para conservação do ambiente, tendo três grandes
objetivos: a manutenção dos processos ecológicos e dos sistemas vitais para a humanidade, a preservação da
biodiversidade e a garantia do uso sustentável das espécies e dos ecossistemas. No relatório Nosso Futuro
Comum, que ficou conhecido como Relatório ou Informe Brundtland – um estudo de alternativas para o
desenvolvimento e o meio ambiente, elaborado pela Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento da
ONU, presidida pela ex-primeira ministra da Noruega (cujo nome foi adotado como título do relatório) –,
encontra-se a seguinte definição: “o desenvolvimento sustentável pretende satisfazer as necessidades do
presente sem comprometer os recursos equivalentes de que farão uso no futuro outras gerações”. In:
Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Nosso Futuro Comum. Rio de Janeiro:
Fundação Getúlio Vargas, 1991.
Os criadores da expressão desenvolvimento sustentável partem da constatação de que os recursos naturais
são esgotáveis, mas que o crescimento constante da economia é necessário para expandir-se o bem-estar pelo
mundo. As raízes da expressão desenvolvimento sustentável estão na constatação da impossibilidade de
continuidade do desenvolvimento econômico nos moldes até então apreendidos, por causarem um acelerado
e, muitas vezes, irreversível declínio dos recursos naturais. Considerando que sustentabilidade é condição
necessária para o desenvolvimento econômico, o capital natural deve, no mínimo, ser mantido constante
enquanto a economia possa cumprir os objetivos da satisfação social. Desenvolvimento sustentável implica,
então, no ideal de um desenvolvimento harmônico da economia e ecologia que devem ser ajustados numa
correlação de valores onde o máximo econômico reflita igualmente um máximo ecológico. Na tentativa de
conciliar a limitação dos recursos naturais com o limitado crescimento econômico, são condicionadas à
consecução do desenvolvimento sustentável mudanças no estado da técnica e na organização social.
Durante os anos 70, frações do pensamento ecológico defendiam a adoção de uma austeridade voluntária
nos níveis de consumo, como forma de conter a insaciabilidade das necessidades individuais nas sociedades
modernas. A idéia de se consumir menos e melhor não obteve ressonância, mesmo referenciada ou
complementada por um significativo conjunto de estudos críticos sobre o consumo. A proposta de auto-
limitação soa como uma penúria forçada ou uma privação das liberdades individuais. Não parece haver hoje
disposição para uma vida mais moderada. Contribui também para esse insucesso o fato de que, nas
sociedades modernas, as pessoas já não definem livremente suas necessidades, havendo interferências ou
pressões de várias ordens, como a propaganda, a vigência de certos padrões de consumo e comportamento,
etc. A expansão de um modelo de desenvolvimento mundial reforça a pressão sobre os recursos naturais.
Estamos muito longe de nos preocuparmos apenas com o comer, o vestir e o ter onde morar, embora milhões
de indivíduos nem isso tenham assegurado. Nesse contexto social, a idéia de desenvolvimento sustentável
procura ajustar a prática econômica mundial de desenvolvimento econômico com o uso equilibrado dos
recursos naturais.
9
RIBEIRO, Ana Cândida de Paula; CAMPOS, Arruda. O desenvolvimento sustentável como diretriz da
atividade econômica, p. 81.
O desenvolvimento econômico do Estado Brasileiro subentende um
aquecimento da atividade econômica dentro de uma política de uso sustentável
dos recursos naturais, objetivando um aumento de qualidade de vida que não se
reduz somente a um aumento do poder de consumo. Desenvolvimento econômico
é garantia de condições de vida mais saudáveis.
O grau de desenvolvimento de um país é aferido sobretudo pelas
condições de que dispõe uma população para o seu bem-estar, o que pressupõe
um meio ambiente saudável e equilibrado10.
No dizer de Édis Milaré, é falso o dilema desenvolvimento ou meio
ambiente, na medida em que, sendo um fonte de recursos para o outro, devem
harmonizar-se e complementar-se11. Nessa linha, uma política de gestão urbana e
ambiental pode permitir o desenvolvimento ecologicamente correto, ou, pelo
menos, sem comprometer os recursos naturais necessários para esta e para as
próximas gerações.
As discussões mundiais acerca do desenvolvimento sustentável fizeram
desencadear a discussão das atividades e empreendimentos que causam
impacto ambiental e precisavam ser avaliadas, controladas, mitigadas,
compensadas e monitoradas, a fim de que a qualidade de vida no meio ambiente
urbano possa melhorar. Assim é que passaram a ter maior relevância as
ocupações desordenadas do solo e os problemas urbanos passaram a ser vistos
como problemas ambientais12. Inserido nesta discussão está o parcelamento do
solo em áreas urbanas, porquanto o desenvolvimento urbano sustentável das
cidades deve, necessariamente, respeitar os limites ecológicos do meio.

1.1.3. Princípios da ordem econômica

10
Roberto Giansanti esclarece a diferença entre crescimento econômico e desenvolvimento econômico: “O
crescimento econômico remete ao aumento da capacidade produtiva de economia, portanto da produção de
bens e serviços de um determinado país ou setor.Vincula-se fundamentalmente ao campo econômico. Já o
desenvolvimento econômico leva em conta os fatores de crescimento econômico acompanhados pela
melhoria dos padrões de vida de uma população. Nessa expectativa, consideram-se também as repercussões
sociais desse processo, como urbanização, saneamento, alfabetização e meio ambiente sadio”. In:
GIANSANTI, Roberto. O desafio do desenvolvimento sustentável.
11
MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente, p.36.
12
PRESTES, Vanêsca Buzelato. A necessidade de compatibilização das licenças ambiental e urbanística no
processo da municipalização do licenciamento ambiental, p.91.
A ordem econômica brasileira adota o modelo capitalista e dentre os
princípios que a informam, arrolados no art. 170 da Constituição Federal, figuram
o da propriedade privada (inc. II) e da livre concorrência (inc. IV), reforçados pelo
princípio da livre exploração econômica, inserido no par. único do mencionado
artigo, que diz que a todos é livre o exercício de qualquer atividade econômica,
independente de autorização dos órgãos públicos, salvo os casos expressos em
lei. É o regime, pois, da livre empresa, pelo qual a cada um é dado lançar-se na
atividade econômica por sua conta e risco e as leis que presidem a atividade são
as de mercado. Mas este sistema econômico é complexo, porque nele intervêm
não só disposições com a produção, circulação e consumo de bens, mas também
princípios e normas retratadoras de realidades atinentes a outros planos, como
defesa do meio ambiente (inc. VI do art. 170) e redução das desigualdades
regionais e sociais (inc. VII).
Estando no mesmo plano os princípios do meio ambiente ecologicamente
equilibrado e os princípios da ordem econômica, devem ser integrados num
horizonte plural, porque, como adverte Eros Roberto Grau, “não se interpreta a
Constituição em tiras, aos pedaços”13. O ordenamento jurídico deve ser sempre
compreendido em seu conjunto e não por cada norma ou preceito isoladamente.
É na esteira desse entendimento que se nota o inter-relacionamento do art. 225
(que trata do meio ambiente) com o art. 170 (que trata da ordem econômica) e o
art. 193 (referente à ordem social), em conformidade com os princípios
fundamentais inscritos nos arts. 1o e 3o, todos da Constituição Federal14.

13
GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica na Constituição de 1998, p. 189-190.
14
Art. 1o – A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do
Distrito Federal, constitui-se em estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I – a soberania;
II – a cidadania;
III – a dignidade da pessoa humana;
IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V – o pluralismo político.
Art. 3o – Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
I – construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II – garantir o desenvolvimento nacional;
III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdade sociais e regionais;
IV – - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras
formas de discriminação.
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes
princípios:
I – soberania nacional;
II – propriedade privada;
Como bem preleciona Cristiane Derani15, o capítulo do meio ambiente da
Constituição Brasileira trata de um fator básico da produção: fator natureza. Ao
mesmo tempo, dispõe sobre sua proteção e limites de sua apropriação. Seu
objetivo não difere, fundamentalmente, daquele previsto no art. 170, pois o direito
ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, essencial à sadia qualidade de
vida, é um dos elementos que compõe a dignidade da existência, princípio-
essência apresentado no art. 170.
Uma vez que o desenvolvimento econômico previsto pela norma
constitucional deve incluir o uso sustentável dos recursos naturais (corolário do
princípio da defesa do meio ambiente, art. 170, VI; bem como dedutível da norma
expressa do art. 225, IV), é impossível propugnar-se por uma política unicamente
monetarista e desenvolvimentista sem que isso venha a colidir com os princípios
constitucionais que regem a ordem econômica e os que dispõem sobre a defesa
do meio ambiente.
O uso sustentável de recursos naturais renováveis e o tratamento
adequado de recursos naturais não renováveis voltados à efetiva melhoria de vida
da população são exemplos de indicadores que contribuem à aferição do
desenvolvimento propugnado pela ordem econômica constitucionalmente
assegurada. Ivan Lira de Carvalho diz, com propriedade, que “assim
comprometida com a existência digna das pessoas, não pode a ordem
constitucional conduzir a atividade produtiva para caminhos que impliquem
diminuição da qualidade de vida da população, por meio de práticas poluidoras ou
agressoras do meio ambiente, por exemplo”16.
Cuida a ordem econômica constitucional da manutenção do equilíbrio
global da economia. Havendo perturbação nesse equilíbrio, deve intervir o Estado
– impondo as correções necessárias – dentro de um direcionamento global,

III – função social da propriedade;


IV – livre concorrência;
V – defesa do consumidor;
VI – defesa do meio ambiente;
VII – redução das desigualdades regionais e sociais;
VIII- busca do pleno emprego;
Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica,
independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei.
Art. 193. A ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o bem-estar e a justiça
sociais.
15
DERANI, Cristiane. Direito Ambiental Econômico, p. 252.
mesmo que para isso os princípios da livre iniciativa e concorrência acabem
sendo relativizados.
Em seus comentários acerca da intervenção do estado no domínio
econômico, assinala Hely Lopes Meirelles17 que os estados sociais-liberais, como
o nosso, conquanto reconheçam e assegurem a propriedade privada, a liberdade
e a livre iniciativa, condicionam o uso destas e o exercício da atividade econômica
ao bem-estar social. Para o uso e gozo de bens particulares, o Poder Público
impõe normas e limites, e, quando o interesse público o exige, intervém na
propriedade privada e na ordem econômica, através de atos de império tendentes
a satisfazer as exigências coletivas e a reprimir a conduta anti-social da iniciativa
particular. Na ordem econômica, o Estado intervém para coibir excessos da
iniciativa privada e evitar que desatenda às suas finalidades, ou para realizar o
desenvolvimento nacional e a justiça social. Essa intervenção, contudo, não se
faz arbitrariamente; é instituída por normas gerais na Constituição e regulada por
leis federais que disciplinam as medidas interventivas e estabelecem o modo e a
forma e sua execução, sempre condicionada ao atendimento do interesse público
e ao respeito aos direitos garantidos pela Constituição. Esse condicionamento da
liberdade e da propriedade dos administrados aos interesses públicos e sociais é
alcançado via poder de polícia estatal. A intervenção estatal, portanto, não destrói
a liberdade da exploração econômica, mas proíbe ou regulamenta os usos e
abusos que a deturpam, de modo a assegurar os demais direito
constitucionalmente protegidos.
O conteúdo dos princípios da ordem econômica inscritos no art. 170 da
CF e a sua verificação na realidade revelam-se basilares para a consecução do
valor máximo da ordem econômica: assegurar a todos a existência digna –
princípio fundamental do Estado Brasileiro. É de se destacar que os princípios-
base do direito à propriedade, da função social da propriedade e da livre iniciativa,
desdobram-se também como direitos fundamentais, do mesmo modo que o
princípio da defesa do meio ambiente está inserido no direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado. Tais princípios só se podem realizar dentro da
conformidade com os preceitos fundamentais da CF se estiverem dentro de uma
perspectiva de realização do princípio da dignidade humana.

16
CARVALHO, Ivan Lira de. A empresa e o meio ambiente.
No contexto de idéias expendidas, pode-se afirmar a compatibilidade
entre a imposição de correção de externalidades negativas e os princípios
constitucionais da ordem econômica. O art. 170 da CF impõe a quem procede à
exploração de atividade econômica o dever de exercer o seu direito de liberdade,
livre iniciativa e livre concorrência em conformidade com a preservação da
qualidade ambiental; se não o fizer, o seu direito será ilegítimo. Para que se
proceda à exploração de atividade ou empreendimento, deve-se respeitar as
normas constitucionais e infraconstitucionais. É livre a iniciativa, mas, para isto,
deve-se cumprir com as obrigações e restrições administrativas pertinentes à área
de atuação. Deixando de fazê-lo, aquele que exerce atividade econômica sem
prevenir o meio ambiente dos riscos que a atividade impõe, deve sofrer a
imposição de correção pelos órgãos competentes. O não-atendimento das
normas e princípios pelo explorador da atividade ou empreendimento afasta o
pretendido direito líquido e certo de continuá-los sem as providências que forem
determinadas pelas autoridades responsáveis pelo controle da degradação
ambiental.
Na hipótese, por exemplo, de a implementação de um loteamento causar
degradação ambiental ao destruir área de preservação permanente, lançar
efluentes líquidos ou depositar resíduos sólidos irregularmente, devem os órgãos
competentes exigir a correção dessas externalidades negativas. Não haveria,
destarte, violação dos princípios da liberdade, da propriedade, da livre iniciativa
ou da livre concorrência, mas sim uma imposição de correção de externalidade
negativa visando a assegurar os princípios da dignidade humana e do bem
comum, compatibilizando os princípios fundamentais previstos nos arts. 1o, 3o, 5o,
170 e 225 da CF e permitindo a continuidade do empreendimento dentro da
perspectiva de sustentabilidade do desenvolvimento.
O desenvolvimento econômico, fundado na liberdade e na livre iniciativa,
deve ocorrer tendo como fundamentos a sustentabilidade das cidades, a proteção
do meio ambiente, o bem comum e a dignidade humana, respeitando as normas e
princípios constitucionais e infraconstitucionais. O Estado, por seu turno, como
agente regulador e normatizador de todo o sistema econômico, e que tem como
um de seus objetivos a proteção do meio ambiente, deve atuar na defesa dos

17
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro, 1994, p. 494, 555-596.
interesses coletivos para promover a dignidade humana e o bem estar social,
podendo, para tanto, condicionar e regulamentar o exercício de atividades e
empreendimentos particulares que afetem a comunidade, corrigindo as
externalidades negativas.

1.1.4. Princípio da função sócio-ambiental da propriedade

O texto constitucional positivou a união indissociável entre o direito de


propriedade e a sua função sócio-ambiental. Ao arrolar o direito de propriedade
dentre os direitos e garantias individuais fundamentais, logo em seguida agrega a
função social (art. 5°, inc. XXII e XXIII18). Também quando trata da ordem
econômica e elege seus princípios, destaca a propriedade privada e,
sucessivamente, a função social da propriedade e, para não deixar dúvidas,
coloca a defesa do meio ambiente como um dos princípios da ordem econômica
(art. 170, inc. II, III e VI19).
O que se agregou ao direito de propriedade – antes delineado sob um
prisma estritamente privatista – foi o dever jurídico de agir em vista do interesse
coletivo, ou seja, o direito subjetivo do proprietário privado foi submetido ao
interesse comum, imprimindo-lhe o exercício de uma função social, voltada ao
interesse coletivo20.
O conceito de propriedade contemporânea tende a traduzir um direito
cujo exercício apresenta interesse público relevante21. Compreende em seu

18
Art. 5° - (...)
XXII – é garantido o direito de propriedade;
XXIII – a propriedade atenderá à sua função social;
19
Art. 170 – A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho e na livre iniciativa, tem por fim
assegurar a todos a existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes
princípios:
II – a propriedade privada;
III – função social da propriedade;
VI – a defesa do meio ambiente;
20
Para Hely Lopes Meirelles, “a função social da propriedade não elimina o direito subjetivo do indivíduo,
mas procura conciliar o seu interesse com as necessidades da sociedade”. MEIRELLES, Hely Lopes. Direito
Urbanístico – Competências legislativas, p. 101.
21
Diante dos novos contornos da propriedade, José Marcelo Ferreira Costa aduz que o direito de propriedade
está no campo do Direito Público, pois o regime que lhe é aplicado está traçado na Constituição Federal. Ao
Direito Civil cabe tão-somente o disciplinamento das relações intersubjetivas entre particulares a respeito da
propriedade. In: COSTA, José Marcelo Ferreira. Licenças urbanísticas, p. 55-56. No mesmo sentido:
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Novos aspectos da função social da propriedade no Direito Público,
p.39-45. Também: DALLARI, Adilson Abreu. Emancipação do Direito Público no Brasil. In: ROCHA,
conteúdo e alcance, além do tradicional direito de uso, gozo e disposição por
parte de seu titular, a obrigatoriedade do atendimento de sua função sócio-
ambiental, cuja definição é inseparável do requisito obrigatório do uso racional da
propriedade e dos recursos ambientais que lhe são integrantes.
Nessa ótica, não pode o proprietário utilizar sua propriedade de forma a
colocar em risco o equilíbrio ecológico, cuja titularidade é difusa. Mas não só isso.
A expressão função sócio-ambiental passa por uma idéia operacional, impondo
ao proprietário não somente condutas negativas (ex: não poluir), mas também
positivas (ex: obrigação de recompor a mata ciliar e remediar área degradada
pelo depósito de resíduos). Alinhado com esta idéia, Álvaro Luiz Valery Mirra
refere que a função sócio-ambiental não constitui um simples limite ao exercício
do direito de propriedade, pelo qual o proprietário pode fazer tudo aquilo que não
prejudique a coletividade e o meio ambiente. A função sócio-ambiental vai mais
além e autoriza que se imponha ao proprietário comportamentos positivos, no
exercício do seu direito, para que a sua propriedade concretamente se adeque à
preservação do meio ambiente22. Antônio Hermann Benjamin, com a propriedade
que lhe é peculiar, esclarece que, num primeiro momento, ainda sob forte
influência da concepção individualista ultrapassada, defendeu-se que a função
social da propriedade operava somente através de imposições negativas (não
fazer). Posteriormente, percebeu-se que o instituto atua principalmente pela via
de prestações positivas a cargo do proprietário. A função social mais que aceita,
requer a promulgação de regras impositivas, que estabeleçam para o proprietário
obrigações de agir, na forma de comportamentos ativos na direção do proveito
social. Refere, ainda, que é indubitável a relação existente entre tutela ambiental
e direito de propriedade: “os problemas ambientais de hoje são conseqüência, em
grande medida, da utilização (ou má utilização), no passado, do direito de

Carmem Lúcia Antunes (coord.). Perspectivas do Direito Público – Estudos em homenagem a Miguel Seabra
Fagundes. Belo Horizonte: Del Rey, 1995, p.101.
22
MIRRA, Álvaro Valery. Princípios fundamentais do Direito Ambiental. Fernando Reverendo Vidal
Akaoui anota que “não basta que haja abstenção de condutas antisociais para que esteja o proprietário
cumprindo a função social da propriedade, devendo ele, quando necessário, praticar condutas comissivas”.
In: AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. Compromisso de ajustamento ambiental, p. 30-31. Selando a
idéia, Annelise Monteiro Steigleder assevera que ao titular da propriedade é atribuída verdadeira função
ambiental, consistente na preservação dos recursos naturais, garantindo a preservação de danos ambientais e
o desenvolvimento sutentável, sendo plenamente legítimas as restrições impostas pela ordem pública, bem
como as obrigações positivas para que o imóvel se adeque à preservação do ambiente. In: STEIGLEDER,
Annelise Monteiro. Função sócio-ambiental da propriedade. Disponível em:
propriedade, tendência essa que alcança patamares inimagináveis (...). No âmbito
do sistema jurídico, por conseguinte, observa-se uma irrefutável ligação umbilical
entre o tratamento dado à propriedade, enquanto instituto de direito, e aquele que
orienta a solução dos chamados conflitos ambientais”23.
Essa concepção solidária da propriedade, que se opõe à propriedade
individualista, foi incorporada no texto do Novo Código Civil, cujo art. 1228, §1°,
determina que o direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as
finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados a flora, a
fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico, o patrimônio ecológico, histórico
ou artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas, de acordo com o
estabelecido em lei especial.
A concretização dessa nova visão sobre a propriedade é sempre
dificultada pelas constantes controvérsias entre o anseio pelo uso (tantas vezes
nocivo ou abusivo) da propriedade e a proteção ambiental. Concretizá-la
efetivamente é, ainda, tarefa em construção. Nessa ótica, este trabalho pretende
indicar diretrizes para compatibilização entre as normas de ordem urbanística e
de tutela ambiental aplicáveis aos empreendimentos de parcelamento do solo
urbano ou a regularização dos parcelamentos já existente de fato, tendo em vista
a função sócio-ambiental da propriedade, o desenvolvimento sustentável das
cidades e uma qualidade de vida mais saudável para a população.

1.2. Competências constitucionais em matérias urbanística e ambiental

Os entes político-federativos possuem um âmbito de competências


legislativa e material em matérias ambiental e de ordenamento urbanístico
delineado no texto da Constituição Federal.
Examina-se, primeiro, a competência legislativa.
O art. 21 da CF, nos inc. IX e XX, fixa a competência da União para
elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenção do território e de

http://www.mp.rs.gov.br/hmpage/homepage2.nsf/pages/cma_flora2. Acesso em 18 de setembro de 2004. Na


mesma linha: GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica na Constituição de 1988, p. 111.
23
BENJAMIN, Antônio Hermann. Reflexões sobre a hipertrofia do direito de propriedade na tutela da
reserva legal e das áreas de preservação permanente, p. 14.
desenvolvimento econômico social e para instituir diretrizes24 para o
desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes
urbanos.
O art. 24, inc. I, por seu turno, fixa a competência da União e dos Estados
para legislarem concorrentemente sobre direito urbanístico (inc. I), conservação
da natureza, defesa do solo e recursos naturais, proteção do meio ambiente e
contrle da poluição (inc. VI), proteção do patrimônio histórico, cultural, artístico,
turístico e paisagístico (inc. VII), responsabilidade por danos ao meio ambiente
(inc. VIII). Nestes casos, a União Federal limitar-se-á ao estabelecimento de
normas gerais25 (§1°), cabendo aos Estados exercerem competência suplementar
(§2°). Na falta de legislação federal, os Estados têm competência legislativa plena
(§3°).
O art. 30 diz que compete aos Municípios legislar sobre assuntos de
interesse local (inc. I), suplementar a legislação federal e estadual no que couber
(inc. II), promover, também no que couber, adequado ordenamento territorial,
mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do
solo urbano (inc. VIII). No art. 182, parágrafos 1° e 2°, ao tratar da política urbana,
o texto constitucional impôs aos Municípios com mais de vinte mil habitantes a
criação de um plano diretor, com o fim de ordenar o pleno desenvolvimento das
funções sociais da cidade e garantir o bem-estar dos cidadãos.26
Dessas regras de competência, combinadas, ainda, com o art. 225 da
CF, conclui-se que os Municípios somente podem legislar em matéria ambiental e
urbanística sobre assuntos de interesse local, atendendo às diretrizes gerais
estabelecidas na lesgislação federal e estadual, podendo estabelecer regras
específicas mais rígidas, mas nunca mais liberais que as normas federais e
estaduais27. Assim, o respeito aos limites e princípios estabelecidos na Carta

24
Essa competência da União foi exercida quando da criação do Estatuto da Cidade (Lei Federal n.°
10.257/01), que delineou as diretrizes a serem adotadas na política urbana, sobretudo nas esferas municipais e
estaduais.
25
A respeito do que sejam “normas gerais”, a doutrina tenta identificar-lhe um conteúdo, cujo vetor aponta a
seleção de medidas jurídicas que não afetem a autonomia dos demais entes políticos. Em relação às normas
gerais urbanísticas, o campo destas seria o delineamento para o desenvolvimento interurbano e intra-urbano.
26
Sobre o assunto: FERRAZ JÙNIOR, Tércio Sampaio. Normas gerais e competência concorrente, p. 16-20;
SILVA, José Afonso da. Direito Urbanístico Brasileiro,p.56-60. SUNDFELD, Carlos Ari. Sistema
constitucional das competências. RTDP, n°1, 1993, p.277-278. COSTA, José Marcelo Ferreira. Licenças
urbanísticas, p. 50-53. FARIAS, Paulo José leite. Competência federativa e proteção ambiental.
27
Assim já decidiu o Superior Tribunal de Justiça: “Atribuindo a Constituição Federal a competência comum
à União, aos Estados e aos Municípios para proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de
Magna e na legislação federal deve ser interpretado como a impossibilidade legal
de que os Municípios tornem mais flexíveis os parâmetros estabelecidos no
ordenamento federal28.
Na lição de Paulo José Leite Farias, na dúvida sobre a norma a ser
aplicada, na hipótese de mais de um ente, de diferente hierarquia, legislar sobre o
mesmo tema, deve entrar em cena o princípio do in dubio pro ambiente, segundo
o qual deve prevalecer a norma que mais proteja o meio ambiente29.
As competências materiais dizem com o poder de polícia dos entes
federados sobre o domínio privado, defluente do princípio da função sócio-
ambiental da propriedade. Em sentido amplo, poder de polícia é a atividade do
Poder Público (União, Estados e Municípios) consistente em limitar o exercício
dos direitos individuais em benefício do interesse público. Em sentido estrito,
abrange os atos normativos do Poder Executivo, as operações materiais de
fiscalização e controle, as autorizações, as licenças, as sanções, os embargos ou
demolições de obras irregulares ou clandestinas.30
O art. 23 da CF estabelece que a competência material para exercer a
polícia urbanística e ambiental é concorrente entre os três entes da federação –
União, Estados-membros e Municípios, cabendo-lhes proteger o meio ambiente e
combater a poluição em qualquer de suas formas (inc. VI), preservar as florestas,
a fauna e a flora (inc. VII), promover a melhoria das condições habitacionais e de
saneamento básico (inc. IX). Estabelece, ainda, que incumbe aos Municípios
promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante

suas formas, cabe aos Municípios legislar supletivamente sobre proteção ambiental, na esfera do interesse
estritamente local. A legislação local, contudo, deve se restringir a atender às características próprias do
território em que as questões ambientais, por suas particularidades, não contém com o disciplinamento
consignado na lei federal ou estadual. A legislação supletiva, como é cediço, não pode ineficacizar os efeitos
da lei que pretende suplementar”. Resp 29.299-6/RS (92.0029188-0). 1a Turma do STJ, Rel. Min. Demócrito
Reinaldo. j. 28.09.1994. Também: “Mandado de segurança. Legislação ambiental. Tratando-se de legislação
de proteção ao meio ambiente, não pode a lei municipal abrandar exigências da lei federal. Interpretação do
art. 2o, da Lei n.° 4.771/65. Recurso improvido”. Ap. n.° 078.471.5/2-00. TJ/SP. Rel. Des. Lineu Peinado. j.
08.06.99.
28
ANTUNES, Paulo de Bressa. Direito Ambiental, p.254. No mesmo sentido: AKAOUI, Fernando
Reverendo Vidal. Apontamentos acerca da aplicação do Código Florestal em áreas urbanas e seu reflexo no
parcelamento do solo, p. 287. Também: FREITAS, Vladminir Passos de. Mata ciliar. Na lição de Paulo José
Leite Farias, na dúvida sobre a norma a ser aplicada, na hipótese de mais de um ente, de diferente hierarquia,
legislar sobre o mesmo tema, deve entrar em cena o princípio do in dubio pro ambiente, segundo o qual deve
prevalecer a norma que mais proteja o meio ambiente. In: FARIAS, Paulo José leite. Competência federativa
e proteção ambiental, p. 430.
29
FARIAS, Paulo José Leite. Competência federativa e proteção ambiental, p. 430.
30
Sobre o tema, ver: DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Poder de polícia em matéria urbanística..
planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano
(inc. VIII).
Existe, assim, um sistema complexo de tutela do meio ambiente –
natural e urbano construído31 –, em que cada Poder Público atua de forma
autônoma com vistas à proteção dos interesses que lhe são atribuídos.

2. Parcelamento do solo para fins urbanos

Parcelamento do solo urbano é o processo cuja finalidade é proceder à


divisão de gleba para fins de urbanização, edificação e ocupação, podendo ser
executado sob as formas de loteamento, desmembramento ou desdobro. No dizer
de Sérgio Frazão do Couto32, o parcelamento do solo com fins urbanos refere-se
ao fracionamento do espaço territorial especificamente destinado a abrigar
contingentes humanos para formação, expansão ou conservação das cidades.
O parcelamento do solo para fins urbanos, regido pela Lei n.° 6.766/79 e,
no âmbito do Rio Grande do Sul, também pela Lei de Desenvolvimento Urbano
(Lei n.° 10.116/94), somente é admitido em zonas urbanas, de expansão urbana
ou de urbanização específica, assim definidas pelo plano diretor ou em lei
municipal (art. 3o, caput, da Lei n.° 6.766/79)33.
Nem todas as áreas urbanas, de expansão urbana ou de urbanização
específica são passíveis de parcelamento do solo. O parágrafo único do art. 3o da
Lei n.° 6.766/79 limita o parcelamento em determinadas áreas ditas ‘urbanizáveis’
(terrenos alagadiços, aterrados com material nocivo, com condições geológicas
ou hodrológicas que não aconselham a edificação, terrenos com declive, entre
outras), enquanto não corrigidos os seus aspectos desfavoráveis e criadas
condições de utilização do solo, por razões de segurança e saúde publica.

3. Restrição de parcelamento do solo urbano em ‘áreas de preservação


ecológica’

31
Compreendidos nesta expressão estão meio ambiente artificial, constituído do espaço urbano construído, o
meio ambiente cultural, integrado pelo patrimônio histórico, artísitico, arqueológico, paisagístico, turísticos, e
o meio ambiente natural, constituído pelo solo, a água, o ar atmosférico, a flora.
32
COUTO, Sérgio A. Frazão. Manual prático e teórico do parcelamento urbano, p. 8-11.
33
A Lei Estadual n.° 10.116/94 define, nos arts. 11 a 14, as áreas urbans e de expansão urbanas.
Situação diversa das acima esposadas é a existente em relação aos
locais denominados pela Lei n.° 6.766/79 como ‘áreas de preservação ecológica’.
É questão de ordem legal que não depende da ação do parcelador para afastá-la,
cabendo ao Poder Público obstar o parcelamento naquele local, em função dos
interesses preservativos ecológicos.
A imprecisão da expressão ‘áreas de preservação ecológica’ – que não
encontra qualquer citação em outra norma ou mesmo na literatura da área técnica
– levou a doutrina à conclusão de que a defesa do meio ambiente impõe uma
definição extensiva, podendo abranger todas aquelas áreas que as normas
instituam como relevantes para os ecossistemas, como assevera Fernando
Reverendo Vidal Akaoui34, que acrescenta estarem abrangidas as unidades de
conservação (reservas ecológicas, estações ecológicas, parques nacionais,
estaduais e municipais, áreas de proteção ambiental, florestas nacionais,
estaduais e municipais, áreas de relevante interesse ecológico e reservas
extrativistas ou outras a serem criadas pelo Poder Público). Paulo Affonso Leme
Machado35 diz que as áreas de proteção ecológica podem abranger as chamadas
de interesse especial (art. 13, inc. I, da Lei n.° 6.766/79), bem como as áreas de
preservação permanente, os parques nacionais, estaduais e municipais, as
reservas biológicas, as reservas de caça, as estações ecológicas e as áreas de
proteção ambiental.
Guilherme José Purvin de Figueiredo diz que constituem ‘espaços
protegidos’ as áreas de preservação permanente, áreas de reserva legal (que são
existentes apenas em zona rural), as áreas tombadas (como por ex. monumentos
naturais, paisagens e sítios ecológicos tombados) em razão de seu valor
ecológico e as unidades de conservação da natureza36.
Nesse prisma, entendemos que a expressão ‘áreas de preservação
ecológica’ abrange os espaços ecológicos (existentes em área urbana lato sensu)
protegidos pela legislação: as áreas de preservação permanente37, as áreas
tombadas e as unidades de conservação38.

34
AKAOUI, Fernando Reverendo Vidal. Parcelamento do solo em áreas de proteção ecológica: a tentativa
de burla à legislação urbanística através da instituição de condomínio ordinário, p. 149-150.
35
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro, p.262.
36
FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin. A propriedade no Direito Ambiental, p.256.
37
Áreas de preservação permanente (APP) são aquelas protegidas nos termos dos arts. 2o e 3o do Código
Florestal (Lei n.° 4.771/65), situadas ao longo ou ao redor dos corpos hídricos; no topo dos morros, montes,
montanhas e serras; nas encostas com declividade superior a 45%; nas restingas, como fixadoras de dunas ou
A Lei Estadual do Desenvolvimento Urbano foi mais precisa e, ao invés
de utilizar a expressão ‘áreas de preservação ecológica’ utilizou o termo ‘áreas de
preservação permanente’ (art. 17, inc. VII), vedando o parcelamento do solo
urbano nestes locais.
Evidentemente, a referência na legislação estadual não exclui as demais
áreas protegidas que possam ser tuteladas pela legislação federal, como as
unidades de conservação.

4. Parcelamento irregular do solo urbano: loteamentos clandestinos,


irregulares e assentamentos informais em áreas de preservação permanente

4.1. Aplicabilidade do Código Florestal às zonas urbanas

A Constituição Federal, em seu art. 225, assegura a todos o direito ao


meio ambiente ecologicamente equilibrado, não fazendo, para tanto, qualquer
distinção entre meio ambiente rural ou urbano (no que se refere à sua localização
geográfica), ou entre meio ambiente natural, artificial ou cultural (no que se refere
ao seu conteúdo).39
O Código Florestal Federal, por seu turno, dispõe que “as florestas
existentes no território nacional e as demais formas de vegetação, reconhecidas
de utilidade às terras que revestem, são bens de interesse comum a todos os
habitantes do País, exercendo-se os direitos de propriedade, com as limitações
que a legislação em geral e especialmente esta Lei estabelecem”, não fazendo
qualquer distinção quanto à localização das mencionadas formações vegetais,
restando claro, por isso, que as disposições contidas no Código Florestal aplicam-

estabilizadoras de mangues; nas bordas dos tabuleiros ou chapadas; em altitude superior a 1800metros;
cobertas ou não por vegetação nativa, que têm a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a
paisagem, a estabilidade ecológica, a biodiversidade, o fluxo gênico da fauna e da flora, proteger o solo e
assegurar o bem-estar das populações humanas.
No âmbito do Rio Grande do Sul, o Código Estadual de Meio Ambiente (Lei n.º 11.520/2000), no art. 192,
§ único, inciso IV, proibiu expressamente o parcelamento do solo em APP.
38
As unidades de conservação estão arroladas na Lei n.° 9.985/00: unidades de proteção integral (estações
ecológicas, reservas biológicas, parques nacionais, estaduais e municipais, monumentos naturais, refúgios de
vida silvestre e RPPNs-reservas particulares de patrimônio natural) e unidades de uso sustentável (áreas de
proteção ambiental, área de relevante interesse ecológico, florestas nacionais, reservas extrativistas, da fauna
e de desenvolvimento sustentável).
39 Sobre essa classificação de meio ambiente, vide SILVA, José Afonso da. Direito Urbanístico Brasileiro.

São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1981, p. 435. 


se, via de regra, a todo o território nacional, incluindo zonas rurais e urbanas,
indistintamente.40
A discussão quanto à aplicabilidade do Código Florestal às zonas urbanas
centra-se no parágrafo único do art. 2º, que estabelece: “No caso de áreas
urbanas, assim entendidas as compreendidas nos perímetros urbanos definidos
por lei municipal, e nas regiões metropolitanas e aglomerações urbanas, em todo
o território abrangido, observar-se-á o disposto nos respectivos planos diretores e
leis de uso do solo, respeitados os princípios e limites a que se refere este artigo.”
41

Não há qualquer dificuldade em reconhecer-se a aplicabilidade do Código


Florestal para as áreas de preservação permanente no topo dos morros, montes,
montanhas e serras; nas encostas com declividade superior a 45%; nas restingas,
como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues; nas bordas dos
tabuleiros ou chapadas; em altitude superior a 1800metros; cobertas ou não por
vegetação nativa, cuja imodificabilidade deverá ser respeitada. A Resolução do
CONAMA n.° 303/2002, no seu art. 3°, regulamentou o art. 2o do Código Florestal
no que tange às faixas de proteção dessas encostas, não havendo qualquer
conflito aparente com outra norma.
A controvérsia existe em relação aos limites mínimos para a largura das
faixas marginais ao longo dos rios e cursos d’água – que o Código Florestal prevê
em 30m a menor delas, para cursos d’água com menos de 10m de largura –, em

40
Nesse sentido: FINK, Daniel Roberto; PEREIRA, Márcio Silva. Vegetação de preservação permanente e
área urbana: uma interpretação do parágrafo único do art. 2° do Código Florestal. Revista de Direito
Ambiental, São Paulo, n.2, p.77-90, abr./jun 1996. Também: FREITAS, Matas ciliares. Em sentido contrário,
entendendo que o Código Florestal só se aplica às zonas rurais, e que a faixa não edificável de 15 metros
prevista na Lei n.° 6.766/79 se aplica às áreas urbanas: AMADEI; AMADEI, Como lotear uma gleba..., p.
403.
41
A pressão política para que se afastem os limites impostos pelo Código Florestal nas áreas urbanas tem
sido grande e o argumento mais usado recai sobre o déficit habitacional brasileiro (atualmente em torno de
6,6 milhões, segundo dados do IBGE. O mesmo instituto divulga outro dado que deve ser contraposto:
existem no Brasil cerca de 4,6 milhões de imóveis vagos, o que evidencia a face injusta da questão
habitacional e leva-nos a afirmar que a solução do problema não está na ocupação das áreas de preservação
permanente.
Edésio Fernandes, tratando da compatibilização entre as agendas Verde e Marrom, enfatiza que tanto o
direito ao meio ambiente sadio e ecologicamente equilibrado quanto o direito à moradia são elementos do
direito à vida. FERNANDES, Edésio. Estatuto da Cidade: promovendo o encontro das agendas “verde” e
“marrom”. In: LEITE; José Rubens Morato; FERREIRA, Heline Sivini (Org.). Estado de direito ambiental:
tendências. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004, p.317.
Em que pese os esforços existentes para arredar o conflito entre o direito à moradia e o direito à preservação
ambiental, na prática esse é um dos dilemas que assolam os administradores e demais operadores que lidam
com a questão da ocupação da terra urbana. Problema de difícil solução, traduz a macroconflituosidade
interna típica dos interesses difusos, dos quais o direito ao ambiente desponta como uma das expressões mais
típicas.
face das disposições dos arts. 3o, par. único, inc.V, e 4o, inc.III, da Lei n.° 6.766/79
42
.
A Lei n.° 6.766/79, que dispõe sobre o parcelamento do solo urbano, é de
natureza urbanística: visa à organização (uso e ocupação) do solo. Ao tratar de
faixas non aedificandi no art. 4o, inc. III, não pretendeu promover a proteção da
biodiversidade, e sim a segurança da população, o que fica evidenciado pelo
próprio teor do dispositivo, que também trata das faixas de domínio público das
rodovias e ferrovias. Qualquer construção que fosse autorizada dentro da faixa de
15 metros das margens dos rios, rodovias ou ferrovias, traria risco de vida à
população que a utilizasse, daí porque, com propriedade, o legislador estabeleceu
tais requisitos urbanísticos para loteamentos43.
Já o Código Florestal tem natureza nitidamente de proteção ecológica e,
no art. 2o, ‘a’, teve em mira a função ambiental das matas ciliares, a preservação
dos recursos hídricos, a estabilidade geológica, o fluxo gênico, com o objetivo
maior de assegurar o bem estar das populações presentes e futuras.
Com o advento da Lei n.° 10.257/01 (Estatuto da Cidade), editada pela
União no exercício de sua competência constitucional legislativa, que
regulamentou o capítulo da Constituição Federal sobre a política urbana44, a
temática ambiental tornou-se obrigatória na fixação das exigências fundamentais
de ordenação da cidade.45 Diante das diretrizes para a política urbana

42
Art. 3° - [...]
Parágrafo único – Não será permitido o parcelamento do solo:
V – em áreas de preservação ecológica ou naquelas onde a poluição impeça condições sanitárias
suportáveis, até a sua correção.
Art. 4o – Os loteamentos deverão atender, pelo menos, aos seguintes requisitos:
III – ao longo das águas correntes e dormentes e das faixas de domínios público das rodovias e ferrovias,
será obrigatória a reserva de uma faixa non aedificandi de 15 (quinze) metros de cada lado, salvo maiores
exigências da legislação específica.
A Lei n.° 10.932, de 03/08/2004, deu nova redação ao inc. III do art. 4° da lei n.° 6.766/79, suprimindo a
obrigatoriedade das faixas não edificáveis de 15m para cada lado ao longo de dutovias, remetendo a
avaliação dessa necessidade ao licenciamento ambiental.
43
FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin. A propriedade no direito ambiental. Rio de Janeiro: ADCOAS,
2004, p.229.
44
O art. 182 da CF trata das políticas de desenvolvimento urbano e o art. 183 do usucapião especial
constitucional.
45
A título exemplificativo, tomem-se as seguintes diretrizes gerais mencionadas no estatuto: suas normas, de
ordem pública e interesse social, regulam o uso da propriedade urbana em prol do equilíbrio ambiental (art.
1o, par. único); a política urbana deve garantir o direito a cidades sustentáveis45, que pressupõe o saneamento
ambiental (art. 2o, inc. I); o planejamento urbano deve evitar e corrigir as distorções do crescimento urbano e
seus efeitos negativos sobre o meio ambiente (art. 2o, inc.IV); a política urbana deve promover a proteção,
preservação e recuperação do meio ambiente natural e construído, inclusive o cultural (art. 2o, inc. XII); a
política urbana deve ouvir a população nos processos de implantação de empreendimentos ou atividades com
efeitos potencialmente negativos sobre o meio ambiente natural ou construído (art. 2o, inc. XIII); na
estabelecidas no Estatuto da Cidade, não se pode vislumbrar uma aplicação
estrita da Lei n.° 6.766/79, sem estar em consonância com a legislação de tutela
ao meio ambiente. O parcelamento do solo urbano deve observância não só à Lei
n.° 6.766/79, mas também a toda legislação federal e estadual.
José Afonso da Silva, tratando das áreas verdes urbanas, afirma que a
política dos espaços verdes revela-se na proteção da natureza, a serviço da
urbanização, com o objetivo de ordenar a coroa florestal em torno das grandes
aglomerações, manter os espaços verdes existentes no centro das cidades, criar
áreas verdes abertas ao público, preservar áreas verdes entre as habitações –
tudo visando a contribuir para o equilíbrio do meio em que vive e trabalha o
homem. E conclui que a política dos espaços verdes há de ser estabelecida pelo
planos diretores e leis de uso do solo dos Municípios ou regiões metropolitanas,
mas no que se refere às áreas de preservação permanente ali existentes, terão
que observar os princípios e limites previstos no art. 2o do Código Florestal (leia-
se metragens para as áreas de preservação permanente), conforme
determinação de seu par. único, acrescentado pela Lei n.° 7.803/8946. Da mesma
posição comunga Paulo Affonso Leme Machado47, que, ao discorrer sobre a
questão em tela, esposa que o legislador, ao introduzir o parágrafo único do art.
2° do Código Florestal, quis deixar claro que os planos e leis de uso do solo do
Município têm que estar em consonância com as normas do mencionado art. 2º,
porque a autonomia municipal deve estar entrosada com as normas federais e
estaduais protetoras do meio ambiente.48
Ao manifestar-se sobre o tema, Antônio Hermann Benjamin comenta que
a aplicabilidade do Código Florestal em áreas urbanas, na prática, é um dos
problemas mais atuais, complexos e relevantes, justificando, que “os municípios,
em particular aqueles com elevada pressão imobiliária, turística, industrial,

regularização fundiária e urbanização de favelas, a política urbana deverá considerar as normas ambientais
(art. 2o, inc. XIV); a ordenação do solo das cidades deve coibir o parcelamento do solo, a edificação ou o uso
excessivos ou inadequados em relação à infra-estrutura urbana, e evitar a poluição e a degradação ambiental
(art. 2o, inc. VI, ‘c’ e ‘g’).
46
SILVA, Direito ambiental..., p. 75.
47
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. São Paulo: Malheiros, 2003, p. 385-386.
48
Em que pese o Município possuir autonomia para promover o adequado ordenamento territorial (art. 30,
inciso VIII, da CF), também incumbe a ele “proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer
de suas formas” (art. 24, inciso VI), “preservar as florestas, a fauna e a flora” (art. 24, inciso VII, da CF),
‘preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e
ecossistemas” (art. 225, §1º, inciso I) e “proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que
madeireira e agrícola, buscam, a todo custo, afastar os ‘índices’ do Código
Florestal para as APPs do art. 2º, substituindo-os por outros, mais flexíveis,
estabelecidos em legislação municipal, não raro casuisticamente modificada, ao
sabor deste ou daquele empreendimento específico”.49 Outro ponto que muito
interessa aos Municípios, segundo Benjamin, é o de excluir do licenciamento
ambiental, a presença do Estado e da União, sob o pretexto de que a matéria é
de interesse local50.
Considerando as diferentes funções das áreas de preservação
permanente no ambiente urbano51, tem-se que o conceito de desenvolvimento
sustentável veio mostrar que só se pode progredir, com qualidade de vida, se
preservar-se o meio ambiente para a nossa e para as futuras gerações. Progredir
retirando da natureza o desnecessário ou além de sua capacidade não significa
que estamos nos desenvolvendo. É por este motivo que o Código Florestal
determina que os planos diretores e as leis de uso do solo devem respeitar os
princípios e limites referentes às áreas de preservação permanente e do ambiente
geral, pois a função primordial da cidade é garantir aos seus integrantes uma vida

coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a
crueldade” (art. 225, §1º, inciso VII).
49
BENJAMIN, Antônio Herman. Código Florestal: a reforma proposta pelo CONAMA e a nova MP n.º
1.956-50. In: 4º Congresso Internacional de Direito Ambiental – Agricultura e Meio Ambiente. São Paulo:
IMESP, 2000, p. 405.
50
BENJAMIN, Antônio Herman. Código Florestal: a reforma proposta pelo CONAMA e a nova MP n.º
1.956-50, p. 405.
51
A vegetação no entorno dos cursos d’água – as matas ciliares – exerce importante papel no controle
hidrológico, no ciclo e na qualidade da água. Essa vegetação segura a água proveniente da chuva, outra parte
escoa sobre o caule e ingressa no solo atingindo as raízes da vegetação, criando no solo canais que permitem
que boa parte da água do solo seja absorvida, perenizando rios e nascentes, formando os aqüíferos freáticos e
profundos, essenciais para a manutenção dos corpos hídricos. Também funcionam como filtro para as águas
da chuva que não foram absorvidas pelo solo, agindo como um filtro de escoamento superficial, impedindo
ou dificultando a ação dos agentes poluentes como defensivos agrícolas, sedimentos e resíduos. Impedem
erosões das margens, coíbem inundações e enchentes, evitam o assoreamento dos corpos hídricos (com isso
garantindo a constância do volume de água que abastece as populações, viabiliza a navegação e a geração de
energia e irrigação). A mata ciliar também garante o povoamento da fauna silvestre e aquática, a maior
reprodução da flora e o controle da temperatura, proporcionando um clima mais ameno. Sobre a questão:
FINK; PEREIRA, Vegetação de preservação..., p.77-90. ARFELLI, Amauri. Áreas verdes e de lazer:
considerações para sua compreensão e definição na atividade urbanística de parcelamento do solo. Revista de
Direito Ambiental, São Paulo, n. 33, p. 42-44, jan./mar. 2004. FREITAS, Matas ciliares. BRAGA, Rodrigo
Bernardes. Parcelamento do solo urbano: doutrina, legislação e jurisprudência de acordo com o novo Código
Civil. Rio de Janeiro: Lumem Juris, 2004, p. 55.
Se considerar-se que a degradação das matas ciliares e a impermeabilização das áreas de várzea constituem
talvez os principais geradores de enchentes e inundações nas cidades, chegar-se-á à conclusão de que o
descumprimento do disposto no art. 2o, par. único, do Código Florestal, nas áreas urbanas, acarreta um custo
social elevadíssimo para os cofres públicos e sacrifícios incomensuráveis para a população atingida.
FIGUEIREDO, A propriedade..., 221.
com qualidade, e isto só é possível preservando-se o meio ambiente52. Destarte,
as políticas de ordenação do solo urbano não podem descuidar da legislação
ambiental.
Face ao argumento sustentado por alguns estudiosos no sentido de que o
legislador federal teria remetido às legislações municipais a livre definição das
áreas de preservação permanente quando situadas em área urbana53, a nosso
ver desprovido de fundamentação, por desconsiderar o regime de repartição de
competências constitucionais em matéria ambiental e o relevante papel ecológico
desempenhado por tais áreas protegidas, necessário trazer a lume, mais uma
vez, a questão das competências constitucionais. O art. 21, inc. XX, da CF, fixa a
competência da União para instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano,
inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos. O art. 24, inc. I,
por seu turno, fixa a competência da União e dos Estados para legislar
concorrentemente sobre direito urbanístico. Já o art. 30 diz que compete aos
Municípios legislar sobre assuntos de interesse local (inc. I), suplementar a
legislação federal (inc. II), promover, no que couber, adequado ordenamento
territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da
ocupação do solo urbano (inc. VIII). Das regras constitucionais de competência,
combinadas, ainda, com o art. 225 da CF, conclui-se que os Municípios somente
podem legislar em matéria ambiental sobre assuntos de interesse local,
atendendo às diretrizes gerais estabelecidas na legislação federal e estadual,
podendo estabelecer regras específicas mais rígidas, mas nunca mais liberais
que as normas federais e estaduais. Assim, o respeito aos limites e princípios
estabelecidos pelo Código Florestal deve ser interpretado como a impossibilidade
legal de que os Municípios tornem mais flexíveis os parâmetros estabelecidos na
lei federal54. Os Municípios podem e devem legislar em matéria de zoneamento
urbano-ambiental, mas jamais para reduzir a proteção já alcançada pela lei

52
Nessa linha: MUSETTI, Rodrigo Andreotti. Da proteção jurídico-ambiental dos recursos hídricos. São
Paulo: LED, 2001, p. 183-184.
53
Essa a conclusão de MAGRI, Ronald Vitor Romero; BORGES, Ana Lúcia Moreira. Vegetação de
preservação permanente e área urbana: uma interpretação do parágrafo único do art. 2° do Código Florestal.
Revista de Direito Ambiental, São Paulo, n. 2, abr./jun. 1996.
54
ANTUNES, Direito ambiental, p.254. No mesmo sentido: AKAOUI, Apontamentos acerca..., p. 287.
Também: FREITAS, Matas ciliares. Na lição de Paulo José Leite Farias, na dúvida sobre a norma a ser
aplicada, na hipótese de mais de um ente, de diferente hierarquia, legislar sobre o mesmo tema, deve entrar
em cena o princípio do in dubio pro ambiente, segundo o qual deve prevalecer a norma que mais proteja o
meio ambiente. FARIAS, Competência federativa..., p. 430.
federal ou estadual. Se, no exercício da sua competência concorrente e
suplementar, resolverem enfrentar o tema das áreas de preservação permanente
em meio urbano, não poderão trabalhar com limites e definições menos protetivos
que os já eleitos pela Lei Federal n.° 4.771/65, assim como não poderão autorizar
empreendimentos que causem danos às áreas de preservação permanente, salvo
as hipóteses legais.
Além das diretrizes já expendidas, acrescenta-se que a Lei n.° 7.803/89,
que alterou o Código Florestal e manteve os 30 metros de faixa marginal
(instituídos pela Lei n.° 7.511/86), é posterior à Lei n.° 6.766/79, de modo que,
observando os preceitos reguladores do direito intertemporal, a doutrina
majoritariamente sustenta ter sido derrogado o art. 4o, inc. III, da Lei n.° 6.766/79,
no tocante às áreas de preservação permanente no entorno dos corpos hídricos,
permanecendo a restrição de 15 metros para o entorno das faixas de domínio
público estabelecida pela lei do parcelamento do solo55.
Conclui-se, pois, que os planos diretores, as leis de uso do solo e os atos
administrativos (declarações de condição de ocupação do solo, licenças,
aprovações de projetos) que autorizem qualquer uso ou ocupação do solo urbano
devem adequar-se às restrições impostas pelas normas ambientais, devendo
respeitar a metragem de mínima de 30 metros (que pode ser maior, conforme a
largura do corpo hídrico) de preservação das áreas situadas ao longo ou ao redor
dos corpos hídricos correntes e dormentes (rios, lagos, lagoas, arroios, etc.),
aplicando-se, in casu, o Código Florestal (art. 2o, ‘a’ e ‘b’- este regulamentado pela
Resolução n.° 303/02 do CONAMA, art. 3o, inc. III). A metragem de 15 metros
estabelecida na Lei n.° 6.766/79 servirá para balizar somente a reserva mínima de
área non aedificandi ao longo das faixas de domínio público das rodovias e
ferrovias.
Essa conclusão pela incidência das restrições ambientais se dá, acima de
tudo, porque as normas urbanísticas – que visam à organização dos espaços
urbanos – não são suficientes para assegurar a sadia qualidade de vida aos
moradores das zonas urbanas. A expansão das cidades tem atingido as
proximidades das áreas de preservação que são de vital importância para a
manutenção do equilíbrio ecológico do meio onde vive a população. Fernando

55
Nesse sentido: BRAGA, Parcelamento..., p. 54-55. Também: FIGUEIREDO, A propriedade..., p. 218-235.
Reverendo Vidal Akaoui assevera que os maiores problemas enfrentados com o
parcelamento do solo urbano dizem respeito à intervenção nas margens de curso
d’água, uma vez que as cidades passaram a se aproximar de tal forma dos rios, e
os loteamentos a abranger estas áreas, que o desrespeito passou a ser uma
realidade cotidiana das cidades brasileiras56. Nesse ponto, importante destacar
que o grande problema do futuro próximo será a escassez de água, em face da
degradação das condições dos corpos hídricos, que, comprometidos em razão da
remoção das matas ciliares, do lançamento de poluentes domésticos, industriais e
rural-agrícolas, não se prestarão à captação de água para tratamento e consumo
humano. Portanto, a restrição consistente na manutenção da faixa non aedificandi
de preservação permanente, ao longo de qualquer corpo d’água, que recairá
sobre o parcelamento do solo para fins urbanos, é necessária para a preservação
do meio ambiente natural e para a qualidade de vida das populações. Assim, o
desenvolvimento urbano sustentável das cidades deve, necessariamente,
respeitar os limites ecológicos.
O entendimento que prevalece é o de que, em se tratando de APPs do
art. 2º do Código Florestal – matas ciliares, encostas acima de 45 graus, terrenos
com altitude superior a 1.800 metros, dentre outros – o regime jurídico municipal é
aplicável quando for mais rigoroso que aquele previsto na lei florestal federal. Ou,
por outras palavras, os parâmetros do art. 2º do Código Florestal não são simples
referência flexível, singela indicação, mas caracterizam-se como ‘piso
mandamental’, aquém do qual nem os Estados, nem os Municípios podem
descer.
Ademais, não haveria lógica em se preservar as matas ciliares de rio
somente quando este cruza zona rural. O rio não termina ao ultrapassar os limites
da zona rural e chegar à cidade, requerendo a preservação de suas margens em
sua totalidade, e não somente quando atravessar zonas rurais, pois o meio
ambiente não conhece os limites geográficos inventados pelo homem.

4.2. Possibilidade de alteração e/ou supressão de vegetação em APP

56
AKAOUI, Fernando reverendo Vidal. Apontamentos acerca da aplicação do Código Florestal em áreas
urbanas e seu reflexo no parcelamento do solo. In: FREITAS, José Carlos de (Coord.). Temas de direito
urbanístico. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado: Ministério Público do Estado de São Paulo, 2000, v.2.,
p. 286.
A proteção em relação às áreas de preservação permanente consiste na
sua imodificabilidade57, existindo restrição ao direito de construir58, não
meramente por interesse urbanístico, mas por razões ambientais e de equilíbrio
ecológico, como já dito alhures.
A intangibilidade das áreas de preservação permanente não é absoluta,
porquanto o art. 4° do Código Florestal, com a redação dada pela Medida
Provisória n.° 2.166-67/2001, prevê que a excepcional possibilidade de supressão
de vegetação em áreas de preservação permanente, quando necessária à
execução de obras, planos, atividades ou projetos de utilidade pública ou
interesse social, dizendo que “somente poderá ser autorizada em caso de
utilidade pública ou de interesse sócio-econômico, devidamente caracterizados e
motivados em procedimento administrativo próprio, quando inexistir alternativa
técnica e locacional ao empreendimento proposto.”
Há de se salientar que mesmo as áreas de preservação permanente que
estiverem desprovidas de sua cobertura vegetal original devem ser objeto de
avaliação pelo órgão ambiental competente quando verificada a intenção de
instalação de quaisquer obras, planos, atividades ou projetos nesses espaços,
pois, como já dito anteriormente, a legislação protege não só a cobertura vegetal,
mas a área em que está (ou estava) assentada, já que a localização é o fator
determinante da proteção legal da área, e não o estado de eventual
desestabilidade ecológica em que se encontra.
A primeira condição imposta pelo Código Florestal para o licenciamento
de qualquer intervenção pretendida nas APPs é o enquadramento em um dos
casos de utilidade pública ou de interesse social.
As expressões ‘utilidade pública’ e ‘interesse social’ são conceitos
indeterminados59 ou vagos, que dependem de interpretação pela Administração

57
A Resolução CONAMA n.° 369/2006, nos considerandos, diz que as áreas de preservação permanente são
caracterizadas pela “intocabilidade e vedação de uso econômico direto”.
58
O art. 1o do Código Florestal dispõe que todas as formas de vegetação, reconhecidas de utilidade às terras
que revestem, são bens de interesse comum a todos os habitantes do país, exercendo-se os direitos de
propriedade com as limitações que a legislação estabelece. Assim, o direito de usar e fruir a propriedade
pública ou particular – que difere do direito de construir – deve observar as restrições legais quanto à
supressão de vegetação e às edificações, estando o direito limitado pela função sócio-ambiental da
propriedade e pelo bem estar da coletividade.
59
Nem todos os conceitos indeterminados estão abrangidos pela discricionariedade, pois nesta estão
abrangidos apenas aqueles cuja indeterminação não possa ser determinável, ficando à mercê da determinação
subjetiva do administrador. In: RIBEIRO, Lúcio Ronaldo Pereira. Controle dos atos administrativos
Pública, balizada pela finalidade pública e pelo princípio da legalidade. Mas, para
os fins de supressão de vegetação nas áreas de preservação permanente, o
próprio Código Florestal já define quais as situações de fato que se enquadram
em tais conceitos, no art. 1o, §2o, inc. IV e V:
“Art. 1º
§2º- Para os efeitos deste Código, entende-se por:(...)
IV- Utilidade Pública:
a) as atividades de segurança nacional e proteção sanitária;
b) as obras essenciais de infra-estrutura destinadas aos serviços públicos de
transporte, saneamento e energia;
c) demais obras, planos, atividades ou projetos previstos em resolução do
Conselho Nacional de Meio Ambiente - CONAMA.
V- Interesse Social:
a) as atividades imprescindíveis à proteção da integridade da vegetação
nativa, tais como: prevenção, combate e controle do fogo, controle da erosão,
erradicação de invasoras e proteção de plantios com espécies nativas,
conforme resolução do CONAMA;
b) as atividades de manejo agroflorestal sustentável praticadas na pequena
propriedade ou posse rural familiar, que não descaracterizem a cobertura
vegetal e não prejudiquem a função ambiental da área; e
c) demais obras, planos, atividades ou projetos definidos em resolução do
CONAMA.”
A Resolução do CONAMA n.° 369, de 28 de março de 2006,
regulamentando o art. 4° do Código Florestal, dispõe sobre os casos excepcionais
que possibilitam ao órgão ambiental competente autorizar a intervenção ou
supressão de vegetação em APP para implantação de obras, planos, atividades
ou projetos de utilidade pública ou interesse social ou para a realização de ações
consideradas eventuais e de baixo impacto ambiental:
Art. 2° - (...)
I - utilidade pública:
a) as atividades de segurança nacional e proteção sanitária;
b) as obras essenciais de infra-estrutura destinadas aos serviços públicos de
transporte, saneamento e energia;
c) as atividades de pesquisa e extração de substâncias minerais, outorgadas
pela autoridade competente60, exceto areia, argila, saibro e cascalho;
d) a implantação de área verde pública em área urbana61;
e) pesquisa arqueológica;
f) obras públicas para implantação de instalações necessárias à captação e
condução de água e de efluentes tratados; e

baseados em conceitos vagos. Disponível em: <http://www.infojus.com.br/area5/lucioronaldo.html>. Acesso


em: 17 de agosto de 2004.
60
As exigências para a autorização de intervenção em APP nesta hipótese estão no art. 7°da resolução.
61
Estão definidos no art. 8° os requisitos e condições para a intervenção em APP para implantação de área
verde.
g) implantação de instalações necessárias à captação e condução de água e
de efluentes tratados para projetos privados de aqüicultura, obedecidos os
critérios e requisitos previstos nos §§ 1 o e 2 o do art. 11, desta Resolução.
II - interesse social:
a) as atividades imprescindíveis à proteção da integridade da vegetação nativa,
tais como prevenção, combate e controle do fogo, controle da erosão,
erradicação de invasoras e proteção de plantios com espécies nativas, de
acordo com o estabelecido pelo órgão ambiental competente;
b) o manejo agroflorestal, ambientalmente sustentável, praticado na pequena
propriedade ou posse rural familiar, que não descaracterize a cobertura vegetal
nativa, ou impeça sua recuperação, e não prejudique a função ecológica da
área;
c) a regularização fundiária sustentável de área urbana62;
d) as atividades de pesquisa e extração de areia, argila, saibro e cascalho,
outorgadas pela autoridade competente;
III - intervenção ou supressão de vegetação eventual e de baixo impacto
ambiental, observados os parâmetros desta Resolução.

Art. 11. Considera-se intervenção ou supressão de vegetação, eventual e de


baixo impacto ambiental, em APP:
I - abertura de pequenas vias de acesso interno e suas pontes e pontilhões,
quando necessárias à travessia de um curso de água, ou à retirada de
produtos oriundos das atividades de manejo agroflorestal sustentável praticado
na pequena propriedade ou posse rural familiar;
II - implantação de instalações necessárias à captação e condução de água e
efluentes tratados, desde que comprovada a outorga do direito de uso da água,
quando couber;
III - implantação de corredor de acesso de pessoas e animais para obtenção de
água;
IV - implantação de trilhas para desenvolvimento de ecoturismo;
V - construção de rampa de lançamento de barcos e pequeno ancoradouro;
VI - construção de moradia de agricultores familiares, remanescentes de
comunidades quilombolas e outras populações extrativistas e tradicionais em
áreas rurais da região amazônica ou do Pantanal, onde o abastecimento de
água se de pelo esforço próprio dos moradores;
VII - construção e manutenção de cercas de divisa de propriedades;
VIII - pesquisa científica, desde que não interfira com as condições ecológicas
da área, nem enseje qualquer tipo de exploração econômica direta, respeitados
outros requisitos previstos na legislação aplicável;
IX - coleta de produtos não madeireiros para fins de subsistência e produção
de mudas, como sementes, castanhas e frutos, desde que eventual e
respeitada a legislação específica a respeito do acesso a recursos genéticos;
X - plantio de espécies nativas produtoras de frutos, sementes, castanhas e
outros produtos vegetais em áreas alteradas, plantados junto ou de modo
misto;
XI - outras ações ou atividades similares, reconhecidas como eventual e de
baixo impacto ambiental pelo conselho estadual de meio ambiente.

62
O art. 9° estabelece os requisitos e condições para a autorização de intervenção ou supressão de vegetação
em APP para a regularização fundiária.
Não há livre poder discricionário – baseado em juízo de conveniência e
oportunidade – da Administração Pública para reconhecer as hipóteses de
utilidade pública ou interesse social que autorizem a alteração de área de
preservação permanente. Há, in casu, o que a doutrina chama de
‘discricionariedade técnica imprópria’, em que a lei usa termos que dependem da
manifestação dos órgãos técnicos, cabendo ao administrador, face aos critério
técnicos, a adoção de uma única solução juridicamente válida para o caso
concreto. A discricionariedade da interpretação da adequação do caso concreto
aos conceitos indeterminados está limitada pelos estudos técnicos e pelo princípio
da legalidade, que vincula o administrador aos dispositivos legais. Assim, o ato
administrativo que declara a utilidade pública ou o interesse social do
empreendimento fica sujeito ao controle judicial.

Caracterizada alguma das hipóteses acima, a mesma deverá ser


explicitada e motivada em procedimento administrativo próprio, quando – e aí
vem a segunda condição – inexistir alternativa técnica e locacional ao
empreendimento proposto. Assim sendo, devem-se somar os dois fatores:
caracterização de caso de utilidade pública ou interesse sócio-econômico e
inexistência de alternativa técnica e locacional, sem o que não é possível a
supressão.

O § 2º, do art. 4º, do Código Florestal, estabelece, ainda, que “a


supressão de vegetação em área de preservação permanente situada em área
urbana, dependerá de autorização do órgão ambiental competente, desde que o
município possua conselho de meio ambiente com caráter deliberativo e plano
diretor, mediante anuência prévia do órgão ambiental estadual competente
fundamentada em parecer técnico”.

A crítica ao referido dispositivo fica por conta de Antonio Hermann


Benjamin63, ao referir-se à exigência de conselho municipal de meio ambiente
com caráter deliberativo, plano diretor e prévia anuência do órgão ambiental
estadual: “Esses pressupostos não bastam para abrir as portas do exercício
constitucional do licenciamento ambiental ao município, nos passos da moda
iniciada pela Resolução CONAMA n.º 237/97, posto que vários tipos de APPs são
materialmente federais (margens de rios federais, p. ex.), enquanto que, noutros
casos, o impacto de eventual supressão não é, de modo exclusivo, local, e só isso
já seria mais que suficiente para, com base nos arts. 23, inciso VII, e 30, incisos I,
II e VIII (“no que couber”), da Constituição Federal, impugnar-se a fórmula
adotada pelo Substitutivo.”64

4.3. Redução da extensão das APPs nas áreas urbanas ocupadas

Nas áreas urbanas não ocupadas, as áreas de preservação permanente


no entorno dos corpos hídricos têm metragem mínima de 30m, não sendo
admissível a aceitação da redução deste limite, sequer mediante compensação,
para fins de expansão da utilização da área.
Nas áreas urbanas em que houve supressão de vegetação e ocupação
da APP, o questionamento que se faz é acerca da possibilidade de aceitação da
redução da metragem da área de preservação permanente, mediante
compensação, para fins de regularização fundiária da ocupação existente naquele
perímetro.
A Resolução do CONAMA n.° 369/2006 estabelece os requisitos e
condições necessários para que a intervenção ou supressão de vegetação em
APP para regularização fundiária em área urbana possa ser autorizada pelo órgão
ambiental competente:
Art. 9° - (...)
I - ocupações de baixa renda predominantemente residenciais;
II - ocupações localizadas em área urbana declarada como Zona Especial de
Interesse Social-ZEIS no Plano Diretor ou outra legislação municipal;
III - ocupação inserida em área urbana que atenda aos seguintes critérios:
a) possuir no mínimo três dos seguintes itens de infra-estrutura urbana
implantada: malha viária, captação de águas pluviais, esgotamento sanitário,
coleta de resíduos sólidos, rede de abastecimento de água, rede de
distribuição de energia;
b) apresentar densidade demográfica superior a cinqüenta habitantes por
hectare;
IV - localização exclusivamente nas seguintes faixas de APP:

63
BENJAMIN, Antônio Hermann. Código Florestal: a Reforma proposta pelo CONAMA e a nova MP n.º
1956-50. Livro de Teses do 4º Congresso Internacional de Direito Ambiental. São Paulo, jun-2000.
64
O Substitutivo a que se refere o autor é o Substitutivo sugerido pelo CONAMA, que é o acolhido
atualmente pela Medida Provisória 1956-54, em vigor.
a) nas margens de cursos de água, e entorno de lagos, lagoas e reservatórios
artificiais, conforme incisos I e III, alínea "a", do art. 3° da Resolução CONAMA
n.° 303, de 2002, e no inciso I do art. 3° da Resolução CONAMA n.°302, de
2002, devendo ser respeitada faixas mínimas de 15 metros para cursos de
água de até 50 metros de largura e faixas mínimas de 50 metros para os
demais;
b) em topo de morro e montanhas conforme inciso V, do art. 3°, da Resolução
CONAMA n.° 303, de 2002, desde que respeitadas as áreas de recarga de
aqüíferos, devidamente identificadas como tal por ato do poder público;
c) em restingas, conforme alínea "a" do IX, do art. 3° da Resolução CONAMA
n° 303, de 2002, respeitada uma faixa de 150 metros a partir da linha de
preamar máxima;
V - ocupações consolidadas, até 10 de julho de 2001, conforme definido na Lei
n.° 10.257, de 10 de julho de 2001, e Medida Provisória n.º 2.220, de 4 de
setembro de 2001;
VI - apresentação pelo poder público municipal de Plano de Regularização
Fundiária Sustentável que contemple, entre outros:
a) levantamento da sub-bacia em que estiver inserida a APP, identificando
passivos e fragilidades ambientais, restrições e potencialidades, unidades de
conservação, áreas de proteção de mananciais, sejam águas superficiais ou
subterrâneas;
b) caracterização físico-ambiental, social, cultural, econômica e avaliação dos
recursos e riscos ambientais, bem como da ocupação consolidada existente na
área;
c) especificação dos sistemas de infra-estrutura urbana, saneamento básico,
coleta e destinação de resíduos sólidos, outros serviços e equipamentos
públicos, áreas verdes com espaços livres e vegetados com espécies nativas,
que favoreçam a infiltração de água de chuva e contribuam para a recarga dos
aqüíferos;
d) indicação das faixas ou áreas que, em função dos condicionantes físicos
ambientais, devam resguardar as características típicas da APP, respeitadas
as faixas mínimas definidas nas alíneas "a" e "c" do inciso I deste artigo;
e) identificação das áreas consideradas de risco de inundações e de
movimentos de massa rochosa, tais como, deslizamento, queda e rolamento de
blocos, corrida de lama e outras definidas como de risco;
f) medidas necessárias para a preservação, a conservação e a recuperação da
APP não passível de regularização nos termos desta Resolução;
g) comprovação da melhoria das condições de sustentabilidade urbano-
ambiental e de habitabilidade dos moradores;
h) garantia de acesso livre e gratuito pela população às praias e aos corpos de
água; e
i) realização de audiência pública.
§ 1º - O órgão ambiental competente, em decisão motivada, excepcionalmente
poderá reduzir as restrições dispostas na alínea "a", do inciso I, deste artigo,
em função das características da ocupação, de acordo com normas definidas
pelo conselho ambiental competente, estabelecendo critérios específicos,
observadas as necessidades de melhorias ambientais para o Plano de
Regularização Fundiária Sustentável.
§ 2º - É vedada a regularização de ocupações que, no Plano de Regularização
Fundiária Sustentável, sejam identificadas como localizadas em áreas
consideradas de risco de inundações, corrida de lama e de movimentos de
massa rochosa e outras definidas como de risco.
§ 3º - As áreas objeto do Plano de Regularizacão Fundiária Sustentável devem
estar previstas na legislação municipal que disciplina o uso e a ocupação do
solo como Zonas Especiais de Interesse Social, tendo regime urbanístico
específico para habitação popular, nos termos do disposto na Lei n o 10.257,
de 2001.
§ 4º - O Plano de Regularização Fundiária Sustentável deve garantir a
implantação de instrumentos de gestão democrática e demais instrumentos
para o controle e monitoramento ambiental.
§ 5º - No Plano de Regularização Fundiária Sustentável deve ser assegurada a
não ocupação de APP remanescentes.
Essa regulamentação editada pelo CONAMA não significa que, sempre
que preenchidos tais requisitos e condições, deva ser autorizada a regularização
fundiária de ocupação em APP.
O exame primeiro das características do ato do órgão ambiental revela
que este tem natureza de autorização administrativa, porque depende de critério
de avaliação a ser adotado pelo órgão ambiental competente para sua outorga,
podendo ser negado o pedido formulado. Goza de caráter de estabilidade, mas
está sujeito a revisão e suspensão em caso de interesse público superveniente e
quando houver descumprimento dos requisitos e condições estabelecidos. A
natureza jurídica desse ato administrativo do órgão ambiental competente,
denominado na Resolução n.° 369/2006 de ‘autorização para intervenção ou
supressão de vegetação em APP’ está permeada, assim, entre licença
administrativa e autorização administrativa65.
Todos os institutos de Direito Ambiental, entre eles a autorização e o
licenciamento, têm peculiaridades e um caráter sui generis que não permitem
enquadrá-los em um instituto exato do Direito Administrativo, do Direito Civil, do
Direito Registral, etc. Nessa esteira, impossível reduzir essa autorização de

65
Para esclarecer a questão, cumpre diferenciar os atos administrativos de autorização e licença, que
pertencem à categoria de atos administrativos negociais. A licença (ex: habite-se) é ato administrativo
vinculado, de caráter regulamentativo e definitivo, envolve ‘direitos subjetivos’; uma vez satisfeitos os
requisitos legais, não pode a concessão do direito via licença ser negada; uma vez concedida a licença, traz a
presunção de definitividade; sua invalidação só pode ocorrer por ilegalidade ou abusividade do ato
administrativo. Configura uma anuência da autoridade, quando reconhecido o direito do interessado, depois
de verificado que o empreendimento, a atividade ou obra atendeu às condicionantes para sua localização,
instalação e operação. Já a autorização (ex: alvará de localização e funcionamento) é ato discricionário e
precário, que envolve ‘interesses’ e não gera direitos ao requerente; o Poder Público decide
discricionariamente sobre a concessão do pleito do interessado e, por isso, não há direito subjetivo à obtenção
ou à continuidade da autorização. Sobre o tema: MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo
brasileiro. São Paulo: Malheiros, 1995, p.160-174.
intervenção em APP ao conceito de licença administrativa ou autorização
administrativa.66
Quando recebe um pedido de autorização ou licenciamento ambiental, o
órgão competente está vinculado às normas constitucionais de desenvolvimento
econômico em compatibilidade com a preservação do ambiente e sua
manifestação sobre o pedido não implica discricionariedade administrativa no
sentido de conveniência e oportunidade para o Governo, mas sim
discricionariedade técnica através de parâmetros técnicos e científicos objetivos.
Não há uma atuação livre da Administração, mas o poder de tomar a decisão
mais adequada ao fim público que a lei impõe67.
Nessa esteira, nos casos de ocupação de APP urbana devem ser
adotados os critérios da razoabilidade e proporcionalidade, para analisar, caso a
caso, com base em estudos técnicos, se é possível e indicada a reversão ao
status original da área de preservação permanente, com a restauração de suas
funções ecológicas, eventualmente com a necessidade de deslocamento/remoção
de edificações do local. O espaço construído não prepondera sobre o ambiente
natural, porém são partes integrantes do mesmo contexto do ‘meio ambiente
urbano’ e as decisões de caráter urbano-ambientais a serem tomadas precisam
avaliar esta universalidade.
Sem olvidar-se que a proteção legal incide não somente sobre a
cobertura vegetal, mas sobre a área propriamente dita, nos casos em que a APP
já está densamente construída e ocupada, com todas as interações decorrentes
(esgoto, produção de resíduos sólidos, impermeabilização do solo, etc.), há que
se analisar se é possível a restauração das funções ecológicas, para então
concluir-se pela indicação da desocupação e recuperação da APP ou pela

66
Nesse sentido a lição de Annelise Steigleder, quando trata de licenciamento ambiental: Aspectos
controvertidos do licenciamento ambiental. Disponível em:
</pesquisas_doutrinas_detalhe.asp?idDocumento=7>. Acesso em: 19 set. 2004.
67
A discricionariedade técnica é um juízo efetuado de acordo com cânones científicos e técnicos, enquanto a
discricionariedade administrativa se revela na liberdade de escolha. Na discricionariedade técnica, a decisão
do Poder Público é feita com base em pressupostos, estudos ou critérios extraídos de normas técnicas. O
interesse primário a prosseguir coloca particulares vínculos e limites também à atividade discricionária da
Administração Pública que, perdendo o caráter arbitral, se deve determinar de modo a conseguir a melhor
realização do interesse público. No procedimento de licenciamento ambiental, a discricionariedade técnica
refere-se a um momento cognitivo e implica juízos e não escolhas, com a particularidade desta operação se
desenrolar à luz do interesse público primário (o ambiente) e não de qualquer interesse secundário ou dos
particulares. ANTUNES, O procedimento..., p. 234. Sobre a discricionariedade administrativa ambiental, ver
mais em: KRELL, Andreas J. Discricionariedade administrativa e proteção ambiental: o controle dos
regularização das ocupações, com as necessárias medidas compensatórias,
obras de urbanificação e implantação dos equipamentos urbanos faltantes (para
evitar novos danos ambientais) e medidas inibitórias de novas ocupações.
Há que se considerar que existem hipóteses em que a realização de
obras para remoção das construções poderia acarretar significativo impacto
ambiental, pior que o ocorrido com a ocupação da área. Estas situações devem
ser analisadas individualmente, em procedimento administrativo próprio, com
laudo técnico que avalie se a ocupação da área urbana é irreversível, se a
revitalização da área de preservação é factível, se existe possibilidade de
urbanificação da área – sem causar mais impactos – para minimizar a
degradação já ocorrida.
Em o laudo técnico indicando que a revitalização da área de preservação
permanente traria benefícios para o equilíbrio ecológico e para a coletividade, a
exigência de sua desocupação e recuperação será pertinente. Referido laudo
técnico deverá indicar a extensão/metragem (não inferior a 15 metros para cursos
de água de até 50 metros de largura e não inferior a 50 metros para os demais
corpos hídricos, nos termos do art. 9°, inc. IV, “a”, da Resolução n.° 369/2006) em
que será necessária a remoção de edificações para posterior realização das
obras para revitalização da APP, de modo que esta tenha restauradas as suas
funções ecológicas no meio ambiente. Considerando que se trata de recuperação
de área já degradada e que a solução ideal nem sempre é faticamente possível,
relevante é que o laudo técnico indique a extensão da área a ser recuperada, de
modo que seja o suficiente para que a APP recupere suas funções ecológicas.
A contrario sensu, se o laudo técnico indicar a impertinência da alteração
– considerando especialmente que, inobstante a remoção de edificações, não
seria possível a revitalização da área de preservação permanente e a retomada
das suas funções no ecossistema –, resta somente a via da compensação
ecológica, com a troca da área irrecuperavelmente degradada por outra revestida
de vegetação do mesmo ecossistema, além de investimentos em urbanificação na
própria área degradada (tratamento de esgoto, medidas para conter a
impermeabilização, controle de edificações, vedação de expansão da área

conceitos jurídicos indeterminados e a competência dos órgãos ambientais: um estudo comparativo. Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2004.
ocupada, desassoreamento dos cursos d’água, recolhimento e destinação dos
resíduos sólidos, etc.), para minimizar os impactos decorrentes da ocupação.
A regularização de áreas irregularmente ocupadas, que não respeitam
leis nem limites físicos, territoriais nem ecológicos, é verdadeiro passivo ambiental
que precisa ser enfrentado rompendo-se paradigmas, superando alguns conceitos
legais, sem afastar-se, contudo, da sustentabilidade das cidades.

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