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Transformando crises em oportunidades (At 6.

1-15)
T r ê s f o r a m a s t e n t a t iv a s de impe-dir o avanço da igreja primitiva. Já vimos as duas
primeiras: perseguição (At 4) e infiltração (At 5). Agora, veremos a terceira, a distração (At 6). Já que
Satanás não conseguiu derrotar a igreja de fora para dentro por meio da perseguição, nem de dentro
para fora por meio da corrupção, tenta agora desviar o foco de sua liderança para o serviço das mesas.
Curiosamente o que está ameaçando a igreja agora não é uma coisa ruim, mas boa, a assistência
social. O problema é que os apóstolos estavam perdendo a sua prioridade, correndo de um lado para
o outro, ocupados com o atendimento às pessoas Atos — A ação do Espírito Santo na vida da igreja
necessitadas, deixando de lado a oração e o ministério da Palavra. O texto em apreço nos enseja várias
lições, que expomos a seguir.
A murmuração na igreja (6.1)
Com o colossal crescimento da igreja, alguns problemas vieram à tona. Lucas relata: Ora, naqueles
dias, multiplicando-se o número dos discípulos, houve murmuração dos helenistas contra os hebreus,
porque as viúvas deles estavam sendo esquecidas na distribuição diária (6.1). O crescimento numérico
da igreja sempre trará na bagagem problemas potenciais que precisam ser enfrentados com urgência
e sabedoria. As viúvas dos helenistas, aqueles convertidos que vieram da dispersão e não falavam o
hebraico,175 começaram a ser esquecidas na distribuição diária. A injusta distribuição dos recursos
gerou murmuração na igreja. O som da palavra grega murmuração sugere o zumbir das abelhas.176
Um tumulto no meio da comunidade cristã estava colocando em risco a comunhão da igreja. A
comunhão, que fora atacada pela hipocrisia de Ananias e Safira, estava novamente sendo ameaçada
pela injustiça

A decisão dos apóstolos (6.2-4)


O problema identificado (6.1) encontrou imediata solução (6.2-6), e o resultado foi o crescimento da
igreja (6.7). Ralph Earle diz que temos aqui uma ajuda prática de como solucionar problemas:
reconhecer o problema (6.1,2a); recusar-se a subordinar o que é essencial (6.2b); remover as causas
de reclamações (6.3-6); e colher os resultados de uma solução sensata (6.7).179 Os apóstolos não
ficaram na defensiva. Acolheram as críticas dos helenistas e tiveram coragem de fazer uma correção
de rota. Alguém já disse que o sucesso é “o ninho do ano anterior, do qual os pássaros já voaram
embora”.180 Aquilo que funcionou bem ontem pode não ser mais funcional nem relevante hoje. Não
podemos sacralizar as estruturas. Elas são facilitadoras, e não empecilhos, para o avanço da obra. Em
vez dos apóstolos se desgastarem ainda mais no trabalho do serviço às mesas, ampliaram o quadro
135 A to s — A ação do Espírito Santo na vida da igreja de obreiros.
A aprovação do povo (6.5)
A decisão dos apóstolos trouxe glória ao nome de Deus, paz para a igreja e solução para os problemas.
Lucas registra o fato assim: O parecer agradou a toda a comunidade e elegeram Estêvão, homem cheio
defé e do Espírito Santo, Filipe, Prócoro, Nicanor, Timão, Pármenas e Nicolau, prosélito de Antioquia
(6.5). As decisões tomadas em conformidade com a vontade de Deus agradam a igreja de Deus.
Quando a igreja age em obediência à Palavra, reina paz em seu meio. Quando os líderes da igreja são
governados pelos princípios de Deus, o trabalho é dividido e não há sobrecarga. Quando a igreja
escolhe sua liderança sob a égide dos preceitos divinos, as tensões são resolvidas, as necessidades
são supridas e a igreja cresce com mais ousadia (6.7).

A ordenação dos diáconos (6.6)


Os primeiros diáconos foram escolhidos por ordem apostólica entre os membros da igreja para atender
uma necessidade específica (6.3). A seleção se deu a partir de três critérios específicos: deveriam ser
homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria (6.3). Foram ordenados com imposição
de mãos dos apóstolos (6.6). Doravante, o diaconato passou a ser um ofício na igreja (lTm 3.8-13). O
crescimento da igreja (6.7) O resultado da medida tomada pelos apóstolos serenou os ânimos dos
helenistas, estancou a murmuração, trouxe contentamento para a igreja, distribuiu o trabalho e liberou
os apóstolos para focarem no ministério que lhes havia sido confiado. O resultado foi a propagação da
palavra de Deus, a multiplicação do número de discípulos e a conversão de muitíssimos sacerdotes.
Este é o relato de Lucas: Crescia a palavra de Deus, e, em Jerusalém, se multiplicava o número dos
discípulos; também muitíssimos sacerdotes obedeciam à fé (6.7). Os dois verbos crescia e multiplicava
estão no tempo imperfeito, indicando que a propagação da palavra e a multiplicação da igreja eram
contínuos (6.7; 9.31; 12.24; 16.5; 19.20; 28.30,31).190 Supõe-se que naquele tempo existiam cerca de
dezoito mil sacerdotes e levitas ligados ao serviço do templo. Muitos deles estavam sendo convertidos
a Cristo. Adolf Pohl diz que a Palavra de Deus é tão poderosa que invade até as fileiras dos adversários,
pois muitíssimos sacerdotes obedeciam à fé evangélica.191

O exemplo de Estêvão (6.8-15)


O historiador Lucas destaca, dentre os sete diáconos, o primeiro da lista, Estêvão. Ele foi fiel tanto em
sua vida quanto em sua morte. Viveu de forma superlativa e morreu de modo exemplar. Coroa é o
significado do nome de 141 A to s — A ação do Espírito Santo na vida da igreja Estêvão, o diácono que
se tornou o protomártir do cristianismo. Assentou-lhe bem o nome porque foi o primeiro a receber a
coroa do martírio na igreja.192 Estêvão não limitou seu ministério a servir às mesas; também ganhou
almas para Cristo e operou milagres.193 Marshall diz que Estêvão levou a efeito um ministério
apostólico de pregação e cura. Enfrentou oposição da parte de membros das sinagogas de língua
grega, que por fim apelaram ao método de inventar acusações contra ele. Tais acusações enfureceram
os judeus de língua grega e também os líderes judeus de língua hebraica, os quais faziam parte do
concílio que ouvia as acusações contra Estêvão.194 O tratamento dado a Estêvão foi semelhante à
maneira como os líderes judeus trataram Jesus: a) contrataram testemunhas para depor contra ele; b)
instigaram o povo que, por sua vez, o acusou de atacar a lei de Moisés e o templo; e c) por fim, depois
de ouvirem seu testemunho, o executaram.195

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