No capítulo II do livro de Sevcenko, o autor nos diz sobre as mudanças ocorridas em
decorrência das transformações tecnológicas, principalmente por alterarem as estruturas da sociedade (por exemplo, com o êxodo coletivo da população rural) em seus aspectos sociais, econômicos e políticos, além de modificar a condição de vida das pessoas e as rotinas de seu cotidiano. Isso ocorre porque o controle tecnológico do ambiente afeta o comportamento da sociedade, uma vez que as pessoas têm que se adaptar ao ritmo das máquinas. Por conta dessa mudança comportamental, altera-se os valores da sociedade, onde a comunicação é externa e baseada em símbolos exteriores. Ou seja, vive-se numa sociedade em que se absorve informações dos outros a partir do que as pessoas usam e consomem, havendo uma supervalorização da assimilação visual das coisas do mundo. O autor atenta também para a criação do que ele denomina de indústria do entretenimento no século XX. Com os direitos trabalhistas adquiridos pelos trabalhadores, temos grandes contingentes com tempo livre e recursos para gastar. Alguns empresários vislumbraram a oportunidade, ocasionada pela eletricidade, de realizar duas formas baratas de lazer: o cinema e o parque de diversões. Essa revolução do entretenimento redefine o padrão cultural das sociedades urbanas do século XX, e tem como pano de fundo a dissolução ou descontextualização da cultura popular tradicional. Saem as bandeiras dos países e entram ícones da “cultura” vendidos nas lojinhas do parque. Em suma, a cultura vira mercadoria e para compensar o empobrecimento social, cultural e emocional, essa indústria fornece fantasia, desejo e euforia. Segundo Marshall McLuhan, na sociedade tradicional prevalecia a cultura oral, baseada na acústica e focada no presente. Com a introdução da imprensa mecanizada, consolidou-se uma cultura visual baseada no anseio pelo futuro. O desenvolvimento tecnológico contribuiu também para a superação do “olhar estático’, trazendo a novidade de um olhar mais dinâmico como o que se vê nos cinemas. A esse olhar, acrescentaram-se o som amplificado e distorcido, somado de vários efeitos, mostrando um mundo invadido pelas multidões, pelos fluxos e pelas mercadorias. Brian Eno mostra sua preocupação com o fato de estarmos sendo sugados para esse mundo retraído num “Pequeno Aqui” e num “Curto Agora”, além das pessoas estarem cada vez mais indiferentes ao que lhe é alheio, ignorando qualquer senso de coletividade ou solidariedade. As pessoas se restringem aos circuitos virtuais, presas à sua individualidade, e mesmo recorrendo a essa rede para satisfazer seu desejo de “convívio social”: enviando e- mails, comunicando-se por mensagens virtuais, perdendo-se nesse mar de informações digitais.