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13/07/2021 Corações entrelaçados

Corações entrelaçados
Élder Gary E. Stevenson
Do Quórum dos Doze Apóstolos

Quando vocês tratam as pessoas com bondade, atenção e compaixão, prometo que
vocês vão erguer as mãos que pendem e curar corações.

Introdução
Não é fascinante como descobertas científicas importantes são às vezes inspiradas
por coisas simples como uma maçã caindo de uma árvore?

Hoje, gostaria de falar sobre uma descoberta que ocorreu graças a um grupo de
coelhos de laboratório.

Na década de 1970, alguns pesquisadores fizeram um experimento para examinar


os efeitos de uma dieta na saúde do coração. Durante vários meses, eles
alimentaram um grupo de coelhos com uma dieta rica em gorduras e monitoraram
sua pressão sanguínea, seus batimentos cardíacos e seu colesterol.

Como era de se esperar, muitos coelhos mostraram um acúmulo de depósitos de


gordura no interior das artérias. Mas não só isso! Os pesquisadores descobriram
algo que não fazia muito sentido. Embora todos os coelhos tivessem um acúmulo
de gordura, um dos grupos apresentou 60 por cento menos gordura do que os
outros. Parecia que estavam olhando para dois grupos diferentes de coelhos.

Para os cientistas, resultados como esses são de tirar o sono. Como seria possível?
Os coelhos eram todos de uma mesma raça da Nova Zelândia e eram quase
idênticos geneticamente. Tinham recebido quantidades iguais da mesma comida.

O que significava aquilo?

Será que os resultados invalidaram a pesquisa? Houve falhas no esboço do


experimento?

Os cientistas tiveram dificuldade para entender esse resultado inesperado!

Por fim, eles voltaram sua atenção para a equipe de pesquisa. Será que os
pesquisadores haviam feito algo para influenciar os resultados? Ao investigar o
assunto, descobriram que todos os coelhos com menos depósitos de gordura
ficaram sob os cuidados de uma pesquisadora. Ela alimentou os coelhos com a
mesma comida que os outros. Porém, como relatou um dos cientistas, “ela era uma
pessoa mais gentil e amorosa do que a maioria”. Quando alimentava os coelhos,
“ela conversava com eles, segurava-os com carinho. (…) ‘Ela não conseguia evitar.
Era seu jeito de ser’”. 1

Essa pesquisadora fez mais do que simplesmente dar comida aos coelhos. Ela lhes
deu amor!
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À primeira vista, parecia improvável que isso pudesse ser a razão de uma diferença
tão drástica, mas a equipe de pesquisa não conseguiu encontrar nenhuma outra
possibilidade.

Então, repetiram o experimento — dessa vez, fazendo um controle rígido de cada


variável. Quando analisaram os resultados, o mesmo aconteceu! Os coelhos sob os
cuidados da amorosa pesquisadora tiveram resultados cardíacos melhores.

Os cientistas publicaram os resultados desse estudo na prestigiosa revista Science. 2

Anos depois, as descobertas desse experimento ainda parecem influenciar a


comunidade médica. Há poucos anos, a Dra. Kelli Harding publicou um livro
intitulado The Rabbit Effect [O Efeito Coelho] cujo nome deriva do experimento.
Sua conclusão: “Pegue um coelho com um estilo de vida pouco saudável. Converse
com ele. Segure-o. Dê-lhe carinho. (…) O relacionamento faz diferença. (…) No
final”, concluiu ela, “o que afeta nossa saúde de modo mais significativo tem muito
a ver com a maneira como tratamos uns aos outros, como vivemos e como
pensamos sobre o que significa ser humano”. 3

No mundo secular, a conexão entre a ciência e as verdades do evangelho às vezes


parece muito rara e distante. No entanto, como cristãos, seguidores de Jesus Cristo,
santos dos últimos dias, os resultados desse estudo científico podem parecer mais
intuitivos do que surpreendentes. Para mim, isso coloca mais um tijolo sobre o
alicerce da bondade como um princípio de cura, um princípio fundamental do
evangelho — um princípio que pode curar o coração tanto emocional, quanto
espiritual e, como demonstrado aqui, até fisicamente.

Corações entrelaçados
Quando perguntaram ao Salvador, “Mestre, qual é o grande mandamento na lei?”,
Ele respondeu que devemos “[amar] ao Senhor [nosso] Deus de todo o [nosso]
coração” e “[amar] o [nosso] próximo como a [nós mesmos]”. 4 A resposta do
Salvador reforça nosso dever celestial. Um profeta antigo ordenou que “não
[contendêssemos] entre [nós], mas que [olhássemos] para a frente (…) tendo os
corações entrelaçados em unidade e amor uns para com os outros”. 5 Somos ensinados
ainda que “[o] poder ou [a] influência (…) [devem] ser [mantidos] (…) com
brandura e mansidão, (…) com bondade (…) e sem dolo”. 6

Acredito que esse princípio possui uma aplicação universal para todos os membros
da Igreja: adultos, jovens e crianças.

Com isso em mente, gostaria de falar, por um momento, diretamente a vocês,


crianças da Primária.

Vocês já sabem como é importante ser bondosos. O refrão do hino da Primária,


“Eu quero ser como Cristo”, ensina:

“Ame a seu próximo como Jesus


Ama você e seus passos conduz.
Gentil e bondoso você deve ser
E o exemplo de Cristo aprender”. 7

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Ainda assim, talvez vocês tenham alguma dificuldade. Aqui está uma história que
pode ajudar vocês sobre um menino da Primária chamado Minchan Kim, da
Coreia do Sul. Sua família se filiou à Igreja há cerca de seis anos.

“Certo dia na escola, alguns de meus colegas de classe estavam xingando um aluno
e zombando dele. Achei [aquilo] engraçado e comecei a fazer o mesmo.

Várias semanas depois, ele me contou como (…) estava triste [e], mesmo fingindo
que não se importava, [ele] chorava todas as noites. Quase chorei quando ele me
contou. [Fiquei triste e] queria ajudar. (…) No dia seguinte, cheguei perto dele e
coloquei meu braço em seu ombro. Falei: ‘Desculpe-me mesmo por eu ter zombado
de você’. Ele fez que sim com a cabeça, e seus olhos se encheram de lágrimas.

Mas os outros alunos ainda estavam rindo dele. Foi então que me lembrei do que
aprendi nas aulas da Primária: escolher o que é certo. (…) Disse aos meus colegas
[que parassem] de rir dele. A maioria não quis mudar. Eles ficaram zangados
comigo. (…) Um deles pediu desculpa, e nós três nos tornamos bons amigos.

Alguns ainda caçoam dele, mas ele se sente melhor porque tem a nós como amigos.

Escolhi o que é certo, ajudando um amigo que estava precisando.” 8

Esse não é um bom exemplo para vocês tentarem se tornar como Jesus?

Agora, para os rapazes e as moças, à medida que vocês vão crescendo, caçoar dos
outros pode se tornar algo bem perigoso. Ansiedade, depressão, entre outras coisas
ainda piores, são o que geralmente acompanham o bullying. “Embora o bullying
não seja um conceito novo, a mídia social e a tecnologia colocaram o bullying em
um novo patamar. O cyberbullying tem se tornado uma ameaça constante, sempre
presente.” 9

Obviamente, o adversário está usando isso para prejudicar a geração de vocês. Não
deem lugar para isso em seu ciberespaço, em sua vizinhança, na escola, nos
quóruns ou nas classes. Façam tudo o que puderem para que esses lugares sejam
mais agradáveis e seguros. Se vocês observarem ou participarem passivamente
disso, não conheço melhor conselho do que o que já foi dado pelo élder Dieter F.
Uchtdorf:

“No que se relaciona a ódio, maledicência, desprezo, infâmia, rancor ou o desejo de


magoar, apliquem o seguinte:

Parem já!” 10

Ouviram bem? Parem já! Quando vocês tratam as pessoas com bondade, atenção e
compaixão, mesmo que digitalmente, prometo que vocês vão erguer as mãos que
pendem e curar corações.

Agora que já me dirigi às crianças da Primária e aos jovens, tenho algumas palavras
para os adultos da Igreja. Temos a responsabilidade primordial de estabelecer um
padrão e dar exemplos de bondade, inclusão e civilidade — de ensinar o
comportamento cristão à nova geração pela maneira como falamos e agimos. Isso é
especialmente importante devido às mudanças marcantes que temos observado na
sociedade como divisão na política, nas classes sociais e em quase qualquer assunto
em que as pessoas façam distinção.

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O presidente M. Russell Ballard ensinou que os membros da Igreja não devem ser
bondosos somente entre si, mas com todos ao seu redor. Ele disse:
“Ocasionalmente ouço falar de membros que ofendem pessoas de outras religiões
ao ignorá-las ou deixá-las de lado. Isso pode ocorrer especialmente em
comunidades onde nossos membros são a maioria. Já ouvi falar a respeito de pais
que proíbem os filhos de brincar com uma criança da vizinhança em particular,
porque a família dela não pertence à nossa Igreja. Esse tipo de comportamento não
está de acordo com os ensinamentos do Senhor Jesus Cristo. Não consigo entender
por que algum membro de nossa Igreja permite que coisas desse tipo ocorram. (…)
Jamais ouvi os membros desta Igreja serem exortados a fazer qualquer coisa que
não fosse amorosa, bondosa, tolerante e benevolente a nossos amigos e ao nosso
próximo de outras religiões”. 11

O Senhor espera que ensinemos que a inclusão é algo positivo que leva à união e
que a exclusão divide as pessoas.

Como seguidores de Jesus Cristo, ficamos consternados quando ouvimos como os


filhos de Deus são maltratados por causa de sua raça. Ficamos arrasados ao ouvir
sobre os ataques que foram feitos recentemente às pessoas negras, aos asiáticos, aos
latinos ou a qualquer outro grupo. O preconceito, a tensão racial ou a violência
jamais devem ocorrer em nossa vizinhança, comunidade ou dentro da Igreja.

Que cada um de nós, seja qual for a idade, esforce-se para ser o melhor que puder.

Amar seu inimigo


Ao procurarem tratar as pessoas com amor, respeito e bondade, com certeza vocês
serão prejudicados ou afetados negativamente pelas más escolhas dos outros. O
que fazer então? Seguimos a admoestação do Senhor: “Amai aos vossos inimigos,
(…) e orai pelos que vos caluniam”. 12

Fazemos tudo o que for possível para vencer a adversidade que encontrarmos pelo
caminho. Nós nos esforçamos para perseverar até o fim, orando sempre para que a
mão do Senhor mude nossas circunstâncias. Agradecemos por aqueles que Ele
coloca em nosso caminho para nos ajudar.

Há um exemplo disso no início da história da Igreja que me toca bastante. Durante


o inverno de 1838, Joseph Smith e outros líderes da Igreja estavam detidos na
cadeia de Liberty quando os membros da Igreja foram forçados a deixar sua casa
no estado do Missouri. Os santos eram pobres, não tinham amigos e estavam
sofrendo muito com o frio e a falta de recursos. Os moradores de Quincy, Illinois,
viram a condição desesperadora em que se encontravam e se ofereceram para
ajudar, demonstrando compaixão e amizade.

Wandle Mace, que residia em Quincy, contou o seguinte quando viu os santos às
margens do rio Mississippi em tendas improvisadas: “Alguns estenderam um lençol
para fazer um abrigo contra o vento; (…) as crianças tremiam de frio em volta da
fogueira porque o vento não deixava que o fogo as aquecesse. Pobres dessas
pessoas, estavam sofrendo terrivelmente”. 13

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Vendo a situação dos membros da Igreja, os moradores de Quincy se uniram para


prover auxílio, alguns até ajudaram seus novos amigos na travessia do rio. Mace
disse ainda: “[Eles] foram bastante liberais nas doações, sendo que os comerciantes
até competiam para ver quem era mais generoso (…) com (…) carne de porco, (…)
açúcar, (…) sapatos e roupas, tudo de que esses pobres marginalizados precisavam
tanto”. 14 Não muito tempo depois, o número de refugiados era superior ao número
de moradores de Quincy, que abriram as portas de sua casa e compartilharam seus
parcos recursos à custa de grande sacrifício pessoal. 15

Muitos membros da Igreja sobreviveram àquele terrível inverno somente por causa
da compaixão e generosidade dos moradores de Quincy. Esses anjos terrenos
abriram o coração e a casa deles, dando a esses santos que tanto sofriam o alimento
que lhes salvou a vida, abrigo do frio e — talvez o mais importante — sua amizade.
Embora a estada em Quincy tenha sido relativamente curta, esses membros da
Igreja nunca esqueceram a dívida de gratidão para com seus amados irmãos, e
Quincy ficou conhecida como a “cidade de refúgio”. 16

Quando as adversidades e as aflições caem sobre nós devido a atos graves,


negativos e até maldosos, podemos escolher ter esperança em Cristo. Essa
esperança vem deste convite e desta promessa do Salvador: “Tende bom ânimo,
porque eu vos guiarei” 17 e da certeza de que Ele consagrará nossas aflições para
nosso benefício. 18

O Bom Pastor
Terminemos por onde começamos. Uma cuidadora que demonstrou compaixão e
bondade, nutrindo e tratando seus coelhos com carinho, obteve resultados
inesperados. Por quê? Porque era seu jeito de ser!

Ao olhar pela perspectiva do evangelho, reconhecemos que nós também estamos


sob os cuidados de um cuidador compassivo, que nos nutre e é bondoso conosco.
O Bom Pastor conhece cada um de nós pelo nome e tem interesse e amor pessoal
por seu rebanho. 19 O próprio Senhor Jesus Cristo disse: “Eu sou o bom Pastor, e
conheço as minhas ovelhas. (…) E [darei] a minha vida pelas ovelhas”. 20

Neste final de semana sagrado de Páscoa, encontro paz duradoura ao saber que “o
Senhor é o meu pastor” 21, que Ele conhece cada um de nós e que estamos sob Seus
cuidados. Quando nos depararmos com os ventos e as tempestades da vida, com
doenças e aflições, o Senhor — nosso Pastor, nosso Cuidador — vai nos nutrir com
amor e bondade. Ele vai curar nosso coração e restaurar nossa alma.

Presto testemunho disso — e de Jesus Cristo, que é nosso Salvador e Redentor —,


em nome de Jesus Cristo. Amém.

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