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Compilação de
Constantino K. Riemma
As 16 figuras dos arcanos menores – Reis, Rainhas (ou Damas), Cavaleiros e Valetes (ou
Pajens), repetidos em quatro naipes — Paus, Ouros, Espadas e Copas — constituem
personagens intermediários entre a abstração dos números — cartas de 1 a 10 — e os
arcanos maiores com suas representações humanas e animais claramente diferenciadas
entre si. As figuras ocupam, desse modo, um posto duplo no baralho: estão encadeadas à
ordenação dos naipes e, ao mesmo tempo, fazem ponte com os modelos dos arcanos
maiores. Embora repetidas em cada naipe, são muitas vezes consideradas como um terceiro
grupo de cartas.
Essa dualidade talvez explique o fato de encontrarmos poucos estudos de profundidade sobre
as figuras dos arcanos menores. São raros os textos que trazem uma visão de conjunto das
16 cartas.
Parece coerente que as figuras dos arcanos menores do Tarô obedeçam aoprincípio do
quaternário (quatro séries de quatro figuras). É assim que estão desenhados os mais antigos
tarôs dos quais se tem registros históricos, a partir do final do século XIV. No entanto, o
conjunto das quatro figuras dos tarôs mais antigos foi inexplicavelmente reduzido no baralho
comum, utilizado hoje em dia, com a supressão do Cavaleiro, na maior parte dos casos,
restando apenas o Rei, a Dama e o Valete.
No caso dos jogos destinados à recreação, os baralhos mais difundidos — o francês e o
espanhol — suprimem arbitrariamente uma das figuras de cada série.
No que diz respeito ao baralho espanhol, é provável que esta supressão tenha sido
estabelecida para aproveitar as possibilidades combinatórias da dezena (já que neste baralho
as cartas númeradas vão apenas do ás ao sete). Neste caso, cada naipe fica constituído por
10 cartas: 7 numeradas, mais 3 figuras.
A justificativa que podemos dar para a redução do número de cartas no baralho espanhol
não se aplica ao francês, que soma 13 cartas para cada naipe, isto é, 10 numeradas, mais 3
figuras.
Como não dispomos de registros suficientes, não podemos afirmar categoricamente que essa
redução de quatro para três figuras tenha sido uma simples mutilação dos tarôs mais antigos,
como é o caso do Visconti Sforza (1450). O antecessor árabe, o baralho Mamluk, traz apenas
três personagens da corte, o que pode sugerir que na adaptação européia foi adicionada uma
quarta carta.
Seja como for, uma constatação simbólica pode ser feita. Com apenas três figuras, por naipe,
cada uma delas poderá ser colocada em relação com a ordem do ternário (três forças:
positiva, negativa e neutra) que, combinadas com os 4 naipes (ou os quatro elementos),
resultaria no rico sentido do número 12, do dodecadenário, dos 12 signos do zodíaco.
"Os doze signos do zodíaco, — como lembra Patrick Paul — os doze meses, os doze apóstolos,
os doze trabalhos de Hércules, os doze meridianos da acupuntura, os doze semitons da
oitava, as doze horas do dia nas civilizações tradicionais, são exemplos das doze energias do
homem em evolução no transcorrer do tempo pela diferenciação e manifestação do princípio
ativo, o espírito, no princípio passivo, a substância". Doze simboliza os doze lugares nos quais
o Tempo circula, ou seja, a interpenetração do Espaço e do Tempo, que determina o limite
do nosso mundo cósmico.
As 16 figuras também podem ser compreendidas como combinações dos quatro elementos,
ou seja: 4 x 4 = 16:
Figura Rei Dama Cavaleiro Valete
Naipe Fogo Água Ar Terra
Nesse quadro de referência, as figuras dos Arcanos Menores podem ser consideradas
expressões dos quatro naipes e dos quatro elementos. Cada uma das quatro figuras de cada
naipe concentra em si as características de um dos elementos, além de possuir as do naipe
a qual pertence. Desse modo, o Rei de Paus representará uma dupla influência de Paus e do
elemento fogo. Pela mesma razão, a Dama de Copas representa a pura essência desse naipe,
o mesmo acontecendo com o Cavaleiro de Espadas e o Valete de Ouros.