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COMEÇANDO DO ZERO

Processo Civil
Sabrina Dourado

AULA 02 ação coletivas, presença de leigos nos juizados


Começando do Zero – 2014 etc.) e a preservação do valor liberdade, com a
Sabrina Dourado tutela das liberdades públicas por meio dos
remédios constitucionais (tutela dos direitos
fundamentais).
JURISDIÇÃO

O litígio coloca em perigo a paz social e a PRINCÍPIOS INERENTES À JURISDIÇÃO:


ordem jurídica, o que reclama a atuação do
Estado, que tem como uma de suas funções Investidura – a jurisdição é o exercício de um
básicas, a tarefa fé solucionar a lide. Dentro poder estatal, mas como ente abstrato, o
deste contexto, o Estado, por meio do Poder Estado tem de atribuir a função jurisdicional a
Judiciário, tem o “poder-dever de dizer o um órgão ou agente, pessoa natural que o
direito”, formulando norma jurídica concreta representa, recebendo parcela desse poder
que deve disciplinar determinada situação quando regularmente investida na autoridade
jurídica, resolvendo a lide e promovendo a paz de juiz.
social, este poder-dever do Estado de dizer o
direito, resolvendo o conflito, é o que a doutrina Territorialidade – por se tratar de um ato de
chama de jurisdição. poder, o juiz exerce a jurisdição dentro de um
limite espacial sujeito à soberania do Estado.
Assim, a jurisdição abrange três poderes Além desse limite ao território do Estado,
básicos: decisão, coerção e documentação. sendo numerosos os juízes de um Estado,
Pelo primeiro, o Estado-juiz tem o poder de normalmente o exercício da jurisdição que lhes
conhecer a lide, colher provas e decidir; pelo compete é delimitado à parcela do território,
segundo, o Estado-juiz pode compelir o conforme a organização judiciária da Justiça
vencido ao cumprimento da decisão; pelo em que atua, sendo as áreas de exercício da
terceiro, o Estado-juiz pode documentar por autoridade dos juizes divididas na Justiça
escrito os atos processuais. Federal em seções judiciárias e na Justiça
Estadual em comarcas. Assim, se o juiz, em
As acepções da jurisdição são: Poder – processo, precisa ouvir testemunha que resida
capacidade de decidir imperativamente e impor em outra comarca, deverá requisitar por meio
decisões; atividade – dos órgãos para de carta precatória ao juiz da outra comarca
promover pacificação dos conflitos; função – (juízo deprecado) que colha o depoimento da
complexo de atos do juiz no processo. testemunha arrolada no processo de sua
jurisdição (do juízo deprecante), uma vez que
sua autoridade adere ao território em que
FINS DA JURISDIÇÃO exerce a jurisdição. O mesmo ocorre com a
citação por oficial de justiça e a penhora de
De acordo com a concepção instrumentalista bem situado em comarca diversa daquela em
do processo, a jurisdição tem três fins: a) o que tramita o feito.
escopo jurídico, que consiste na atuação da Se o ato a praticar situar-se fora do território do
vontade concreta da lei. A jurisdição tem por País, deverá ser solicitada carta rogatória à
fim primeiro, portanto, fazer com que se autoridade do Estado estrangeiro, solicitando
atinjam, em cada caso concreto, os objetivos sua cooperação para a realização do ato.
das normas de direito substancial; b) o escopo
social – consiste em promover o bem comum, Indelegabilidade – cada poder da República
com a pacificação, com justiça, pela eliminação tem as atribuições e o conteúdo fixados
dos conflitos, além de incentivar a consciência constitucionalmente, vedando-se aos membros
dos direitos próprios e o respeito aos alheios; e de tais Poderes por deliberação, ou mesmo
c) o escopo político.- é aquele pelo qual o mediante lei, alterar o conteúdo de suas
estado busca a afirmação de seu poder, além funções. Aplica-se a hipótese aos juizes, que
de incentivar a participação não podem delegar a outros magistrados, ou
democrática (ação popular, mesmo a outros Poderes ou a particulares, as

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funções que lhes foram atribuídas pelo Estado, CARACTERÍSTICAS DA JURISDIÇÃO


já que tais funções são do poder estatal, que
as distribui conforme lhe convém, cabendo ao Substitutividade – consiste na circunstância
juiz apenas seu exercício. de o Estado, ao apreciar o pedido, substituir a
vontade das partes, aplicando ao caso
Inevitabilidade – este princípio traduz-se na concreto a “vontade” da norma jurídica.
imposição da autoridade estatal por si mesma
por meio da decisão judicial. Quando Imparcialidade – é conseqüência do quanto já
provocado o exercício jurisdicional, as partes visto: pois para que se possa aplicar o direito
sujeitam-se a ela mesmo contra a sua vontade, objetivo ao caso concreto, o órgão judicial há
sendo vedado à autoridade pronunciar o non de ser imparcial. Para muitos, é a principal
liquet em seu oficio jurisdicional. O Estado característica da jurisdição.
deve decidir a questão, não se eximindo de
sentenciar “alegando lacuna ou obscuridade da Lide – conflito de interesses qualificados pela
lei” (CPC, art. 126). pretensão de alguém e pela resistência de
outrem. Entretanto, nem sempre é necessário
Inafastabilidade – previsto no art. 5º, XXXV, lide para exercer a jurisdição, como por
da CF/88, este princípio consiste no direito exemplo, nos casos de separação consensual,
concedido a qualquer pessoa (natural ou mudança de nome etc.
jurídica) de demandar a intervenção do Poder
Judiciário para satisfazer uma pretensão Monopólio do Estado – o Estado tem o
fundada em direito que entende haver sido monopólio da jurisdição, que pode ser exercido
lesado, ou estar sob a ameaça de lesão. O pelo Judiciário, como também pelo legislativo.
Judiciário, reconhecendo ou não o direito
pleiteado, não pode recusar-se a intervir no Inércia – a jurisdição é inerte, porque somente
litígio. Também designado princípio do controle se movimenta se for provocada. O juiz só pode
jurisdicional. agir dentro de um processo quando provocado
pelas partes. Porém existem exceções, a
Juiz natural – as partes, na solução do litígio, exemplo, de reconhecimento da prescrição ex-
têm direito a julgamento realizado por juiz e oficio, para proteger direitos de menores e
tribunal com competência previamente incapazes etc.
estabelecida (CF/88, art. 5º, XXXVII), que
sejam independentes e imparciais. Unidade - a jurisdição é poder estatal;
portanto, é uma. Para cada Estado soberano,
Inércia – o princípio da inércia está ligado ao uma jurisdição. Só há uma função jurisdicional,
caráter inquisitivo ou acusatório do processo – pois se falássemos de varias jurisdições,
respectivamente, se o juiz tem poderes para afirmaríamos a existência de varias soberanias
exercer de oficio o controle jurisdicional ou se e, pois, de vários Estados. No entanto, nada
depende da provocação das partes. Nosso impede que esse poder, que é uno, seja
sistema optou pelo acusatório, ou principio da repartido, fracionado, em diversos órgãos, que
ação, atribuindo às partes o poder de provocar recebem cada qual suas competências. O
o exercício jurisdicional, dizendo-se então que poder é uno, mas divisível.
a jurisdição é inerte.
Justifica-se o principio da inércia também pelo Aptidão para a produção de coisa julgada
fato de que a atividade jurisdicional deve incidir material: a definitividade – é a possibilidade
em caráter excepcional, não intervindo da decisão judicial fazer coisa julgada material
espontaneamente em conflitos que podem ser situação que já foi decidida pelo Poder
solucionados amigavelmente entre as partes judiciário em razão da apreciação do caso
dentro do âmbito de disponibilidade de seus concreto a qual não poderá ser revista por
direitos. outro poder, exceto : caso de pensão
alimentícia etc.

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CLASSIFICAÇÕES OU ESPÉCIES DE Ressalte-se que, prevendo nosso ordenamento


JURISDIÇÃO. o duplo grau de jurisdição, tem-se a divisão em
jurisdição inferior, composta pelas instancias
Enquanto poder estatal, a jurisdição é una; no ordinárias em primeiro grau, com julgamentos
entanto, por motivos de ordem prática, proferidos por juizes singulares, e jurisdição
principalmente pela necessidade da divisão do superior, composta pelas instancias
trabalho, costuma-se dividir as atividades superiores, em segundo grau pelos tribunais de
jurisdicionais segundo vários critérios. Justiça dos estados, Tribunais regionais
Assim, quando a doutrina fala em espécies de federais e Tribunais das Justiças
jurisdição, trata, na verdade, da distribuição do Especializadas, bem como o Superior Tribunal
conjunto de processos em determinadas de Justiça, a zelar em última instância pela
categorias. correta aplicação da lei federal, e o Supremo
Distingue-se entre a jurisdição penal e a civil. O Tribunal federal, ao qual compete, em última
critério classificatório é o objeto da pretensão instância, zelar pelo respeito à Constituição,
deduzida perante o estado-juiz, sendo a penal sendo o julgamento proferido por um colegiado
uma pretensão punitiva, que tem por objeto de juizes.
privar temporariamente a liberdade do acusado Distingue-se a jurisdição de direito e a de
pela prática de determinado ilícito, definido em eqüidade. A primeira incide no processo civil,
lei como crime. Seu exercício é dividido entre consistindo no dever de o juiz julgar o caso sob
juizes estaduais comuns, pela Justiça Militar a exata medida disposta nos institutos, sendo
estadual, pela Justiça federal, pela Justiça apenas excepcionalmente autorizado a julgar
Militar Federal e pala Justiça Eleitoral, cuja por eqüidade (CPC, art. 127). Esta é também a
competência é definida pela Constituição regra da jurisdição voluntária (CPC, art. 1.109).
federal, que confere atribuições às justiças
especializadas em razão da matéria ou da A JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA E SUAS
função exercida pelas pessoas. À Justiça CARACTERÍSTICAS
Estadual resta a competência residual, tanto
em matéria criminal quanto em matéria civil. A jurisdição voluntária, também conhecida
A jurisdição civil, em sentido amplo, é como jurisdição graciosa ou administrativa, é
composta pelas demais espécies de comumente definida como a administração
pretensões de natureza civil, tributaria pública de interesses privados; nela não se
administrativa, trabalhista, comercial etc. a cuida da lide, mas de questões de interesse
jurisdição civil é exercida pela Justiça Federal, privado que por força da lei devem ter a
pela Justiça Trabalhista, pela Justiça Eleitoral e chancela do Poder Público, tais como:
pela Justiça estadual. nomeação de tutor ou curador, alienação de
Ressalte-se que, apesar da distinção, é bens de incapazes, separação consensual,
impossível isolar completamente a relação arrecadação de bens de ausentes etc.
jurídica, determinando competência exclusiva à À jurisdição voluntária aplicam-se as garantias
jurisdição penal, ou à civil. É que o ilícito penal fundamentais do processo, necessárias à
não difere, na substancia, do civil, sendo as sobrevivência do Estado de Direito, bem como
definições dos direitos violados naquele todas as garantias da magistratura,
extraídas do direito civil. asseguradas constitucionalmente. Em relação
Aludiu-se a existência de organismos aos poderes processuais do magistrado, a
judiciários a que a Constituição distribui doutrina aponta duas características da
competência para julgar casos em matéria jurisdição voluntária:
criminal e civil. Com base nessa divisão, Inquisitoriedade: vige nos procedimentos de
classifica-se a jurisdição também em especial e jurisdição voluntária, o principio inquisitivo,
comum, integrando a primeira a Justiça Militar, podendo o juiz tomar decisões contra a
a Eleitoral, a Trabalhista e as Justiças Militares vontade dos interessados. O magistrado, em
Estaduais, compondo a segunda a Justiça inúmeras situações, tem a iniciativa do
federal e a Justiça estadual. procedimento: arts. 1.129, 1.142, 1.160, 1.171
e 1.190, CPC.

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Possibilidade de decisão fundada na equidade:


permite-se (art. 1.109, CPC) ao juiz não
observar a legalidade estrita na apreciação do
pedido, facultando-lhe o juízo por eqüidade,
que se funda em critérios de conveniência e
oportunidade. O juízo de equidade é
excepcional; somente se poderá dele valer o
juiz quando expressamente por lei autorizado
(art. 127 do CPC). Não se trata, porém, de
juízo de equidade acima da lei. Permite-se, em
vários casos, que o magistrado profira juízo
discricionário, que deve, porém, respeitar o
princípio da proporcionalidade.

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