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Serrapilheira ou serapilheira é a camada formada pela deposição e acúmulo de

matéria orgânica morta em diferentes estágios de decomposição que reveste


superficialmente o solo ou o sedimento aquático. É a principal via de retorno de
nutrientes ao solo ou sedimento.[1]

Composição
Ela é composta por restos vegetais como folhas, caules, ramos, frutos, flores, sementes,
por restos de animais, excretas e material fecal. Porém tais componentes variam de
acordo com o ecossistema no qual estão inseridos e das características do mesmo. Em
ecossistemas aquáticos, por exemplo, pode haver detritos algais, enquanto que em todos
os biomas florestais, a serrapilheira é formada majoritariamente por folhas. Desta forma,
a composição da serrapilheira é determinada qualitativamente e quantitativamente por
diversos fatores, tais como:[2]

 Fitofisionomia do bioma (vegetação madura dominante);


 Macrofauna e mesofauna presentes;
 Diversidade da microbiota decompositora;
 Taxas em que ocorre a decomposição;
 Biogeoquímica do solo ou do sedimento aquático;
 Por possíveis distúrbios;
 pH;
 Pelas diversas variáveis ambientais, como clima (umidade, temperatura,
precipitação pluviométrica), topografia e latitude.

Dinâmica da serrapilheira
Dinâmica da serrapilheira se refere aos seus processos de formação, acúmulo e
decomposição. Mesmo dentro de um mesmo ecossistema a dinâmica da serrapilheira
pode não ser a mesma ao longo de ano, pois pode variar de acordo com a sazonalidade
da região e a possíveis distúrbios naturais ou antrópicos. Compreender a dinâmica da
serrapilheira é de extrema importância, pois ela é a responsável pela restauração física,
química e biológica da qualidade do solo, aumentando a sua capacidade de trocas
catiônicas (CTC).[3]

Por meio do monitoramento dos processos envolvidos na dinâmica da serrapilheira


podem-se aferir importantes fatores como taxas de produtividade, decomposição e
ciclagem de nutrientes e com estes dados caracterizar o ecossistema de maneira geral.
Tais dados aliados ao conhecimento da estrutura das comunidades e a dados abióticos
podem ainda ser usados como indicadores do funcionamento do sistema solo-vegetação
ou sedimento-água, e fornecer informações sobre o grau de integridade da área.[4]

Importância ecológica
A serrapilheira ajuda a manter a integridade de sistemas florestais, pois atenua os
processos erosivos, fornece substâncias que agregam as partículas do solo (tornando-o
estruturalmente mais estável), funciona como isolante térmico e ao mesmo tempo que
age como uma barreira que evita a intensa lixiviação pela ação das chuvas, retém
considerável proporção de água, reduzindo a evaporação do solo. Tais condições
permitem o desenvolvimento de um amplo espectro de nichos para a mesofauna e
contribuem substancialmente para o crescimento e desenvolvimentos das plantas.
A produtividade (primária e secundária) e a fertilidade do solo de um determinado
ecossistema são fortemente condicionadas pela dinâmica da serrapilheira. Isso porque
ela é a principal via de transferência de matéria orgânica para o solo, e possibilita o
reaproveitamento dos nutrientes pela biota. Este processo de reaproveitamento é
conhecido como ciclagem de nutrientes.

Esta entrada de nutrientes via serrapilheira dar-se por intermédio da decomposição


(lixiviação, fragmentação, humificação e mineralização). As taxas em que tais processos
da decomposição ocorrem são de fundamental importância, pois determinam o volume
de serrapilheira presente na região ao longo do ano e a quantidade de nutrientes que é
transferida ao solo. Quando ocorrem lentamente, os nutrientes podem ficar retidos na
serrapilheira, ocasionando o fenômeno do “aprisionamento” de nutrientes.[2]

Gradientes de produção e acúmulo de serrapilheira


Em florestas tropicais úmidas (pluviais) onde há folhas largas e sempre verdes, a
produção de serrapilheira é contínua ao longo do ano, porém, não são observados
grandes acúmulos devido à acelerada decomposição que ocorre muito eficientemente,
devido às condições climáticas de umidade e temperatura, que atingem um ponto ótimo,
favorecendo a proliferação de microorganismos decompositores. Neste bioma a chuva é
distribuída ao longo do ano inteiro e a variação de temperatura entre o inverno e o verão
é pequena.[5]

Devido a esta alta taxa de retorno de nutrientes ao solo, as plantas investem em


biomassa e não desenvolvem mecanismos para reter folhas, já que estas podem ser
produzidas rapidamente, não precisando aprisionar os elementos. As raízes das árvores
podem ser adventícias, capturando os nutrientes na parte superficial do substrato. Na
mata de galeria, por exemplo, as raízes podem ser mais superficiais ou finas justamente
para poderem adquirir os nutrientes diretamente da serrapilheira que se encontra em
decomposição.[6]

Em florestas tropicais sazonais semidecíduas, onde a precipitação pluviométrica não é


regular ao longo do ano, uma estratégia evolutiva que foi selecionada naturalmente na
vegetação é perder as folhas pouco antes do início do período da chuva, o que acarreta
um aumento substancial da serrapilheira e maior aproveitamento da umidade que como
falado anteriormente, é fator propício para a proliferação de organismos
decompositores.[7]

Em florestas boreais, ao contrário do observado em florestas tropicais úmidas, a taxa de


decomposição é lenta, levando ao acúmulo de uma espessa camada de serapilheira
formada em grande parte pelas folhas aciculadas das coníferas. Isso ocorre porque neste
bioma durante grande parte do ano as temperaturas são muito baixas, com um longo
período de neve, o solo é pobre em nitrogênio, tudo isso faz com que a serrapilheira seja
processada lentamente, pois tão condições dificultam a ação da biota decompositora.[8]

No ambiente de cerrado rupestre a vegetação é esclerófila, adaptada a condições de alta


radiação solar, solos com baixa umidade e pobres nutricionalmente. As plantas perdem
menos folhas, pois não há tanta disponibilidade de nutrientes essenciais para a produção
de biomassa e investem em toxicidade para combater a herbivoria. Toxicidade gera
substâncias complexas difíceis de serem decompostas, pois demandam bactérias
específicas. Somando-se a isso nos períodos de seca, pelo fato das folhas serem rígidas a
decomposição ocorre ainda mais lentamente.[9]

Em estudo realizado em 2007, Maman et al. avaliaram a produção e o acúmulo de


serapilheira em dois fragmentos de biomas do cerrado do sudoeste do estado de Mato
Grosso, o Cerradão e a Mata de Galeria. Constataram que a produção de serrapilheira
tanto na Mata de Galeria como no Cerradão são contínuas ao longo do ano, porém as
quantidades são diferentes para cada um deles. Foram também constatadas as maiores
deposições na Mata de Galeria em relação ao Cerradão tanto para serrapilheira
produzida, como na acumulada. Em ambos os biomas a fração foliar da serrapilheira foi
a parcela mais significativa quantitativamente.[10]

Decomposição da serrapilheira
A serrapilheira também pode ser usada para aferir a taxa de decomposição em um
determinado ecossistema. A constante K da decomposição pode ser assim expressa:
K=Queda de serrapilheira / Deposição de serrapilheira

Onde o numerador representa a quantidade de serrapilheira que entrou no ecossistema e


o denominador representa a quantidade que permaneceu, ou seja, a quantidade que
ainda não foi processada.

Diversos estudos são feitos medindo as taxas de perda foliar da serrapilheira como
indicador de porcentagem de decomposição.[10]

Coleta e análise
Para a quantificação da produção de serapilheira, podem ser instalados diversos tipos de
coletores, caixas, recipientes plásticos ou redes confeccionadas com tela de náilon que
são suspensos do solo a uma determinada altura para captar a matéria orgânica que cai
das árvores. O material coletado é levado ao laboratório, seco em estufa e separado por
porção foliar, caules, raízes e partes reprodutivas. Após essa etapa são feitas as pesagens
e quantificações.[10]

Desta forma diversos autores se dedicam a estudar a produção de serapilheira e sua


decomposição em diferentes regiões, o que auxilia na compreensão do funcionamento e
manejo dos ecossistemas.

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