Princípio Ambiental da Sustentabilidade ou Desenvolvimento Sustentável – uso
eficiente da terra, aproveitamento econômico, respeito à vocação natural, respeito às relações trabalhistas, bem-estar, segurança de todos aqueles que trabalham com a terra;
O que é o princípio da sustentabilidade?
A sustentabilidade “Consiste na possível conciliação entre o desenvolvimento, a
preservação do meio ambiente e a melhoria da qualidade de vida.” (MILARÉ, 1984, p. 196).
Embora a sustentabilidade possua diversas interpretações, há um entendimento
majoritário no sentido de que esse conceito deve compreender equidade social, prosperidade econômica e integridade ambiental. Tendo em vista, a construção de um meio ambiente ecologicamente equilibrado para as atuais e futuras gerações.
Relação Direito Ambiental e Direito Agrário
A necessidade de desenvolver uma atividade agrária que seja sustentável, de modo
a não só prover alimentos e bens essenciais para todos, mas também possibilitar que isso seja feito indefinidamente, beneficiando as futuras gerações, é um dos maiores desafios da contemporaneidade.
O Direito Ambiental e o Direito Agrário não são antagônicos. Ao contrário, tratam-
se de ramos que devem ser analisados em conjunto. As questões agrárias e ambientais necessitam estabelecer relação equilibrada e voltada ao desenvolvimento sustentável. A preservação dos recursos naturais não deve constituir entrave ao desenvolvimento.
O Direito Ambiental e o Direito Agrário não são antagônicos. Ao contrário, tratam-
se de ramos que devem ser analisados em conjunto. As questões agrárias e ambientais necessitam estabelecer relação equilibrada e voltada ao desenvolvimento sustentável. A preservação dos recursos naturais não deve constituir entrave ao desenvolvimento. No entanto,não se pode justificar o uso indiscriminado de fertilizantes, agrotóxicos, sementes de alto rendimento, pelo aumento da produtividade, uma vez se sabe que estas práticas implicam o esgotamento do solo, erosão genética, desertificação, aumento da temperatura do planeta, e, evidentemente, queda de produção de alimentos. De acordo com o princípio da preservação do ambiente, o desenvolvimento das atividades agrárias deve considerar o impacto causado à natureza, a fim de buscar soluções que menos agridam o ambiente, ao mesmo tempo em permitem o crescimento econômico e social dos produtores rurais. Deste modo, permite-se que o ser humano permaneça cultivando os alimentos indispensáveis à sua sobrevivência, e que as gerações futuras também o façam.
Dispositivos
Constituição Federal
O princípio da sustentabilidade decorre da interpretação do artigo 225 da
Constituição Federal de 1988. Ele estabelece diretrizes da Política Ambiental no Brasil e tem forte alinhamento com o conceito da sustentabilidade, uma vez que se preocupa em estabelecer um meio ambiente ecologicamente equilibrado, conciliado ao desenvolvimento social e econômico do país. O artigo em seu caput, prevê o seguinte:
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.(BRASIL, 1988)
É importante observar, também, que devido a natureza sistemática da
Constituição, a aplicação do conceito do princípio da sustentabilidade pode ser encontrado em outros dispositivos constitucionais. Por exemplo:
Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende,
simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: I - aproveitamento racional e adequado;
II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do
meio ambiente;
III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos
trabalhadores.(BRASIL,1988)
Pode-se dizer que o princípio da sustentabilidade é observado no estabelecimento
constitucional dos critérios do cumprimento da função social da propriedade rural, dado que busca instituir atividades agrícolas guiadas pelo desenvolvimento sustentável. Isso se demonstra pelo estabelecimento do respeito ao uso ecologicamente equilibrado da propriedade, da observância dos dispositivos que regulam as relações de trabalho e, consequentemente, integram o desenvolvimento sócio-econômico.
Estatuto da Terra
O Estatuto da Terra (LEI Nº 4.504, DE 30 DE NOVEMBRO DE 1964), de acordo com
seu art. 1º, dispõe o seguinte:
Art. 1° Esta Lei regula os direitos e obrigações concernentes
aos bens imóveis rurais, para os fins de execução da Reforma Agrária e promoção da Política Agrícola.(BRASIL, 1964)
Nesse sentido, observa-se que o Estatuto da Terra é instrumento jurídico essencial
na regulação da atividade agrícola. Torna-se imprescindível, portanto, que as normas do referido Estatuto estejam de acordo com o princípio constitucional da sustentabilidade, dada há necessidade do desenvolvimento de uma atividade agrária que seja pautada na sustentabilidade.
Pode-se constatar a aplicação do teor do princípio da sustentabilidade no Estatuto já
em seu art. 2º, o qual trata da oportunidade do acesso à terra e também de suas condições.
Art. 2° É assegurada a todos a oportunidade de acesso à propriedade da
terra, condicionada pela sua função social, na forma prevista nesta Lei.
§ 1° A propriedade da terra desempenha integralmente a sua função social
quando, simultaneamente:
a) favorece o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores que nela
labutam, assim como de suas famílias;
b) mantém níveis satisfatórios de produtividade;
c) assegura a conservação dos recursos naturais;
d) observa as disposições legais que regulam as justas relações de trabalho entre os que a possuem e a cultivem.(BRASIL, 1964)
A legislação ao assegurar, condicionalmente, a oportunidade do acesso à
propriedade da terra ao cumprimento da sua função social, e por sua vez, condicionar esta aos requisitos de bem-estar dos proprietários, trabalhadores, assim como de suas famílias, de manutenção de níveis satisfatórios de produtividade e de conservação dos recursos naturais, expressa a aplicação da lógica do princípio da sustentabilidade. O princípio da sustentabilidade é cumprido, uma vez que com tais medidas atendem o desenvolvimento socio-econômico conciliando-o com a integridade ambiental, de modo que o ser humano poderá permanecer as atividades agrícolas indispensáveis à sua sobrevivência, e que as gerações futuras também o façam.
O princípio da sustentabilidade também é aplicado no artigo 18 do Estatuto.
O referido artigo prevê as finalidades da desapropriação por interesse social e demonstra clara preocupação em estabelecer finalidades que respeitem o desenvolvimento social e econômico, bem como a proteção ao meio ambiente e, por decorrência, a sustentabilidade. Pode-se observar isso, em suas alíneas “a” à “h”, em que são estabelecidos fins como promover a justa distribuição da propriedade, obrigar a exploração racional da terra, ou ainda, efetuar obras de renovação, melhoria e valorização dos recursos naturais.
Art. 18. À desapropriação por interesse social tem por fim:
a) condicionar o uso da terra à sua função social;
b) promover a justa e adequada distribuição da propriedade;
c) obrigar a exploração racional da terra;
d) permitir a recuperação social e econômica de regiões;
e) estimular pesquisas pioneiras, experimentação, demonstração e
assistência técnica;
f) efetuar obras de renovação, melhoria e valorização dos recursos naturais;
g) incrementar a eletrificação e a industrialização no meio rural;
h) facultar a criação de áreas de proteção à fauna, à flora ou a outros
recursos naturais, a fim de preservá-los de atividades predatórias(BRASIL, 1964) A sustentabilidade aparece, também, no artigo 20 do Estatuto, na medida em que em seu inciso III, estabelece que as desapropriações recairão sobre áreas que desenvolvem atividades predatórias, recusando-se a respeitar a integridade ambiental. Pela interpretação do artigo vê-se a preocupação em se fazer da atividade agrária uma atividade de desenvolvimento sustentável para presentes e futuras gerações.
Art. 20. As desapropriações a serem realizadas pelo Poder
Público, nas áreas prioritárias, recairão sobre:
III - as áreas cujos proprietários desenvolverem atividades
predatórias, recusando-se a pôr em prática normas de conservação dos recursos naturais;(BRASIL, 1964)
É importante ressaltar também que o Estatuto da Terra estabelece a Política
de Desenvolvimento Rural e seus objetivos. Dispõe em seu artigo 47, o seguinte: Art. 47. Para incentivar a política de desenvolvimento rural, o Poder Público se utilizará da tributação progressiva da terra, do Imposto de Renda, da colonização pública e particular, da assistência e proteção à economia rural e ao cooperativismo e, finalmente, da regulamentação do uso e posse temporários da terra, objetivando:
I - desestimular os que exercem o direito de propriedade sem observância da
função social e econômica da terra;
II - estimular a racionalização da atividade agropecuária dentro dos
princípios de conservação dos recursos naturais renováveis;
III - proporcionar recursos à União, aos Estados e Municípios para financiar
os projetos de Reforma Agrária;
IV - aperfeiçoar os sistemas de controle da arrecadação dos
impostos.(BRASIL, 1964)
Através deste artigo, novamente, constata-se a preocupação com a
observância do princípio da sustentabilidade, na medida em que o Poder Público no incentivo da Política Agrícola visará a harmonização entre a equidade social e o desenvolvimento econômico agrícola pautado na proteção ambiental.
Por fim, destacar, ainda no âmbito legal, o Decreto Nº 7.794/2012, o qual
institui a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica. A incidência do princípio da sustentabilidade no reconhecimento da atividade ecológica fica evidente em seu artigo 2º, inciso III.
Art. 2º Para fins deste Decreto, entende-se por:
III produção de base agroecológica aquela que busca otimizar a integração
entre capacidade produtiva, uso e conservação da biodiversidade e dos demais recursos naturais, equilíbrio ecológico, eficiência econômica e justiça social, abrangida ou não pelos mecanismos de controle de que trata a Lei nº 10.831, de 2003, e sua regulamentação; (BRASIL,2012)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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Ambiente por Meio da Sustentabilidade como Princípio de Direito Agrário: A Hermenêutica que Transcende as Linhas Impostas em Busca de um Novo Paradigma. Revista de Direito Agrário e Agroambiental. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/312298145_A_Interface_da_Preservacao_do_Me io_Ambiente_por_Meio_da_Sustentabilidade_como_Principio_de_Direito_Agrario_A_Herme neutica_que_Transcende_as_Linhas_Impostas_em_Busca_de_um_Novo_Paradigma>. Acesso em 22 out. 2020.
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BRASIL. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988.
Brasília,DF Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em 22 out. 2020
BRASIL. LEI Nº 4.054, DE 30 DE NOVEMBRO DE 1964, Dispõe sobre o Estatuto da
Terra, e dá outras providências., Brasília, DF, nov. 1964. Diposnível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L4504.htm>. Acesso em 22 out. 2020.
BRASIL. DECRETO N° 7.794, DE 20 DE AGOSTO DE 2012, Institui a Política
Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica. Brasília, DF, agosto 2012. Disponível em: <http://agroecologia.gov.br/sites/default/files/publicacoes/Decreto%20n%C2%BA%207794_PN APO.pdf> . Acesso em 22 out. 2020