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RESUMO:
1
Cf. PRIGOGINE, 1996.
2
Para maiores detalhes sobre as discussões sobre o tempo na ciência,
ver NOVELLO, Mario. O círculo do tempo. Rio de Janeiro: Campus,
1997
3
Uso aqui a mesma nomenclatura utilizada pelo autor e por sua mulher
Julieta de Godoy Ladeira no livro “La Paz Existe?” (São Paulo: Sum-
mus, 1977) onde eles relatam uma dura viagem pela América Latina.
2
Baseado numa geometria inédita4 em termos cosmológicos,
O/L divide a questão do Espaço/Tempo em “Avalovara”, em sub-
temas: A espiral e o quadrado, que se divide em dez partes no
livro, “O relógio de Julius Heckethorn” que se divide em outras
dez partes5 e de maneira indireta o capítulo Cecília entre os leões
que se divide em 17 partes6. A espiral de origem logarítmica par-
te, como tudo o que existe, do princípio das curvas, que rege a
espiral, mantendo seu movimento uniforme. Ignora-se sua origem
e seu fim, é uma entidade sem limites. A mecânica que rege a
espiral é tão rígida quanto a que rege os astros.
Com o que foi colocado até aqui é possível afirmar:
B) Esta espiral não tem começo, nem fim: Idealmente, ela come-
ça no Sempre e o Nunca é seu termo7.
4
As idéias sobre a geometria do romance podem ser esclarecidas em
GHYKA, Matila. The geometry of art and life. New York: Dover pub-
lications, inc ou COOK, Theodore Andrea. The curves of life. New
York: Dover publications, inc.
5
Para um melhor entendimento das divisões de “Avalovara” ler:
DELCASTAGNÉ, Regina. A garganta das coisas: Movimentos
de Avalovara. Brasília: Editora Universidade de Brasília: São
Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2000.
6
Na verdade, todos os capítulos tratam da questão como está sendo
discutido no trabalho que está sendo elaborado.
7
LINS, Osman. Avalovara. São Paulo: Companhia das Letras, 2005, pg
23. Importantíssimo destacar a questão da edição em “Avalovara”.
3
O Cosmos de “Avalovara” é eterno e em constante
movimento. A espiral obedece a uma rígida mecânica que impede
o seu colapso ou paralisia. Labirintos seriam a exemplificação de
uma arritmia no movimento. O/L afirma que a espiral é o tempo e
que o espaço é o quadrado. Então podemos concluir que, primei-
ro, o tempo é eterno, segundo, que está em constante movimento
e terceiro, e mais fantástico, que o espaço deriva desse tempo que
inicia no sempre e o nunca é o seu termo. Isso dito, surge uma
abertura para formular a seguinte questão: Se a espiral-tempo é
eterna, está em constante movimento uniforme, e o espaço-
quadrado do romance é uma manifestação nesta espiral, pergunto:
O Tempo em Avalovara é um axioma? Temos aqui um aprioris-
mo? Diante do que foi exposto acima é inegável a existência de
um Tempo eterno que serve de arcabouço para a manifestação do
real. O movimento das curvas e a espiral funcionam como uma
convenção nos moldes de Poincaré8. Sobre o campo instável, o
mundo, reina uma vontade imutável9.
10
No romance aparecem duas traduções: O lavrador mantém cuidado-
samente a charrua nos sulcos e O Lavrador mantém cuidadosamente
o mundo em sua órbita. Uma discussão sobre estas traduções será
motivo de um trabalho futuro.
11
Janeiro, cujo nome vem do deus Jano, foi acrescentado ao calendário
por Numa Pompílio (715- 672 a .C.), sucessor de Rômulo, persona-
gem histórico-mítico que, segundo Plutarco, teria fundado Roma em
21 de março de 753 a .C. Figura das mais singulares, Jano é exceção
no panteão romano, visto não haver seu correlato entre os gregos.
Tampouco o encontramos nas mitologias indo-européias, e seu sur-
gimento está envolto em incerteza. Uns dizem que nasceu na Cítia
(Ásia Menor), outros que seja proveniente de Perrébia, na Tessália
(região da Grécia). Algumas versões o fazem filho de Apolo e de
Creusa, filha de Ereteu, um dos reis de Atenas. Sua imagem é repre-
sentada como uma figura de dois rostos.
12
Importante ressaltar que o que chamamos aqui de sistema são as indi-
cações dadas pelo próprio autor de como funciona o livro. Este lado
da imprevisibilidade é indicado pelo próprio Osman. Obviamente que
o romance e seus personagens traduzem o improvável a cada instante.
5
introdução de uma sonata de Scarlatti. Ele monta o relógio de
acordo com a manifestação do real que na sua concepção é a da
imprevisibilidade como em um eclipse.
Assim quando se espera que se escute a frase musical intei-
ra da sonata de Scarlatti, o imponderável pode acontecer e a frase
não ser executada. O relógio de Julius é o marcador do tempo do
improvável. Aos saltos ele marca a possibilidade de manifestação
do real. Que momento é esse que marca o improvável? Sem dúvi-
da o aparecimento dos dois personagens principais. Os dois per-
sonagens principais do romance penetram uma sala, advindos do
movimento rígido da espiral: natureza infinita, como um eterno
processo13.
A forma quadrangular da sala é um corte no movimento
espiralado e onde se justifica toda a trama, seus movimentos e
personagens14.
Os temas que surgem a princípio de retorno arbitrário são
regidos pela já dita frase: SATOR AREPO TENET OPERA RO-
TAS e obedecem a uma Topologia de compensação ao movimen-
to da espiral. O quadrado mágico (sala) é a terra, os personagens
são a manifestação do não-equilíbrio. Concluindo e tentando en-
tender o sistema criado em “Avalovara”: De um lado temos uma
15
“Avalovara”. p. 57.
7
ra”. Uma divergência surge: Seria o Tempo irreversível em “Ava-
lovara”?
A temporalidade no livro trabalha com a possibilidade de
idas e vindas dentro do sistema, o que se concretiza no duplo
nascimento da personagem principal. Mas é uma questão ainda a
ser pensada. Para Prigogine o tempo é irreversível, para Mário
Novello as viagens no tempo são uma possibilidade ensaiada por
Gödel, motivado pelas equações de Einstein (NOVELLO, 2006).
Para encerrar essa introdução o que não se pode deixar de
constatar é a atualidade do pensamento e da estrutura de “Avalo-
vara” diante dos novos caminhos apontados pela Ciência. O mais
impressionante é que O/L afirma que a estrutura de seu livro é
derivada de uma estrutura poética de dois mil anos descoberta na
Biblioteca Marciana em Veneza. Estiveram os poetas a par do
Cosmos durante todo este tempo e permaneceram em silêncio ou
O/L é um viajante no tempo? Difícil nestes tempos atuais estabe-
lecer uma linha limítrofe entre a poética e a ciência.
Não deve causar espanto ao leitor que tiver a coragem de se
aventurar por essas linhas uma fusão de saberes. Todo ônus de tal
fusão cabe a mim, o autor dessas linhas. Importante repetir o ar-
cabouço cosmogônico criado pelo autor: uma espiral rígida de
origem logarítmica que rege o universo do livro e as possibilida-
des de manifestações incrustadas no palíndromo SATOR AREPO
TENET OPERA ROTAS.
8
Tais manifestações acontecem em quadrados mágicos que
obedecem ao movimento da espiral e são os capítulos do livro. A
priori tal espiral escreve o destino de nossas personagens. São
situações que elas são obrigadas a passar. O universo de “Avalo-
vara” segue um movimento uniforme que escreve a sorte de nos-
sos heróis.
Diante disso, a possibilidade de fugir ao destino seria nula.
Seria nula porque o que está destinado se torna o único resultado
possível.
Esta fórmula de universo está plenamente de acordo como
Newton a entendeu. A relação passado e futuro neste sistema é
desprezível. Em outras palavras o processo é reversível. Se co-
nhecermos as causas, com certeza saberemos o que vamos ter
como conseqüência.
A minha intenção aqui é acabar com a certeza do resultado
final, introduzindo novas possibilidades neste resultado.Na ver-
dade o objetivo dessa operação é introduzir as possibilidades ao
invés das certezas. Diante disso é imprescindível o papel da Seta
do Tempo. É ela que vai possibilitar abrir uma clareira de discus-
são. Esta clareira é importante porque é nela que se pode questio-
nar a cosmogonia criada por O/L: Como se comporta tal universo
de criação diante das importantes idéias contemporâneas de Ilya
Prigogine16 a respeito do Caos e das Leis da Natureza? Isto pro-
16
Dois livros são fundamentais nesta aventura: “O fim das certezas”.
São Paulo: Unesp, 1996 e “As leis do caos”. São Paulo: Unesp, 2002.
9
blematizado poderia concluir que o sagrado da obra de arte, ele-
mento tão necessário estaria reduzido a uma possibilidade física?
O ateísmo da nova cosmologia afasta as possibilidades do artista
contemporâneo? Respostas não serão dadas de maneira convin-
cente.
Cabe aqui fomentar a discussão que é árdua. Que tire o lei-
tor dessas poucas páginas a sua própria conclusão, mas reafirmo
que é impossível pensar a poesia hoje longe dessa discussão, por
respeito a nossa origem e ao nosso destino.
17
Todos os trechos de “Avalovara” correspondem à passagem Cecília
entre os leões. Como já foi colocado obedece ao movimento da rígida
espiral.
10
A rede ficara presa no fundo da cisterna. Abel despe-se e
resolve mergulhar para ver o que prende a rede. Uma mão, envia-
da pelo destino evita o mergulho do jovem Abel que nesse mo-
mento não tem consciência que escapou da morte. Um nome sur-
ge refletido no fundo da cisterna “Cercília” ou talvez Cecília.
Cecília é o segundo grande amor de Abel e diferente do primeiro
vai se tornar amor concebido18. Cecília é andrógina, hermafrodita
(é o universo um andrógino?) e carrega em seu corpo a formação
do universo. O destino de nosso casal é a morte, tecido pelas fi-
andeiras Hermelinda e Hermenilda, homônimas de Hermes e que
cosem o destino das nossas personagens. Isso posto vamos pensar
no destino de Abel diante do universo que é arquétipo do roman-
ce. Dois caminhos são possíveis19: o primeiro indicado pelo pró-
prio O/L, como já foi dito, num capítulo do livro, estabelece co-
mo estrutura uma rígida espiral logarítmica que possibilita a re-
versibilidade temporal.
Repetindo mais uma vez o universo de “Avalovara” esta
conceitualmente de acordo com as idéias Newtonianas de univer-
so. Por outro lado o capítulo é paradoxal, e aqui ocorre a tão pro-
curada fenda, porque tem o advento de uma abertura criada pela
idéia de Caos incorporada por Abel, que se agarra nela para con-
18
O primeiro romance cronológico de Abel é com uma alemã de nome
Roos. Na verdade é uma paixão platônica que nunca se consuma.
19
Na verdade, o caminho é um só, o outro será especulado nestas pági-
nas.
11
sumir o seu romance. O desafio de Abel é imenso, é um confronto
com aquela que não tem metade do rosto e que tem seus passos
costurados pelas fiandeiras e como seu fiel escudeiro o ajudante
Cara de Calo.20 Não se pode acusar Abel de falta de coragem:
20
O desafio de Abel é tão grande quanto foi o do físico o do físico vie-
nense Ludwig Botzmann que aplicou as idéias de Darwin no campo
da física.
12
nhando o casal. A visita da mesma ao Tesoureiro, não por acaso
atendida por Abel.
As milhares de línguas e vozes que exalam do corpo de Ce-
cília, personagens de uma Torre de Babel contemporâneas ao
primeiro Abel. Diante de tanta força restaria a Abel cumprir o seu
destino, ou refugar ainda na adolescência. De maneira corajosa,
ele resolve desafiar o que está escrito.Lutando contra as imposi-
ções que regem o universo, Abel apregoa a idéia do Caos como
plataforma de salvação para a sua vida. Mais uma vez no romance
ele age de forma desesperada, no limite do inteligível, jogando
dados em busca de novos resultados.
14
Fica claro que é a partir da experiência que Abel tem com
Cecília que nosso poeta entra em contato com a questão da ori-
gem do mundo. Diante das certezas tecidas pelas gêmeas setuage-
nária resta a Abel jogar sua vida na convicção de que o Caos é
aquele que pode criar um escape do resultado final. Nosso herói
busca de maneira desesperada e comovente uma fuga da certeza.
Ele tenta, sem sucesso porque sua amada morre, uma aproxima-
ção com a teoria das possibilidades. Porque sem dúvida algumas
delas apontavam um outro caminho.
15
Referências bibliográficas:
16
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Paulo: Escala, ano I, número 4. p. 36-43.
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17
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