Em segundo lugar, Adélia conduziu o seu automóvel sob o efeito
de cannabis. O facto foi praticado em Portugal (artigo 7.º do CP), pelo que a lei portuguesa é territorialmente competente (artigo 4.º do CP). O facto de Adélia ser mulher do embaixador, como ficou referido no parágrafo anterior, não constitui qualquer impedimento à aplicação da lei portuguesa. Neste caso, a lei portuguesa aplica-se a Adélia. II. AGENTE NACIONAL: As imunidades diplomáticas visam salvaguardar a soberania dos Estados, impedindo que um Estado exerça jurisdição sobre outro ou ponha em causa o exercício das funções próprias do outro Estado. Nessa medida, segundo os artigos 31.º e 37.º do DL 48295, que transpõe para o ordenamento português a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas, os membros da família de um embaixador, que com este viverem, gozam de imunidade de jurisdição penal do Estado acreditador (neste caso, o Estado acreditador seria Portugal). Contudo, na eventualidade do agente ser nacional não goza de imunidade diplomática por ser portugues (artigo 37.º, n.º 2, da Convenção). A lei portuguesa ser-lhe-ia aplicável, nos termos do artigo 4.º, alínea a), do CP (à luz do princípio da territorialidade). Enquanto agente diplomático, beneficiasse de imunidade de jurisdição penal, esta limita-se aos atos praticados no exercício das funções diplomáticas (art. 38.º da Convenção de Viena). E, atendendo ao disposto no art. 42.º da mesma Convenção, parece claro que a exploração de uma pista de gelo – atividade comercial privada – nunca se poderia incluir nas funções diplomáticas de Maarit. Assim, não haveria imunidade para efeitos penais, e Maarit poderia ser julgado pelos tribunais portugueses |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| MANDATO DETENÇÃO EUROPEU |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| I. PORTUGUESES: No que diz respeito ao pedido de entrega de Abel para que seja julgado naquele país, refira-se, em primeiro lugar, que, sendo a Alemanha um Estado-Membro da União Europeia, deve a resposta à questão passar pela análise da Lei n.º 65/2003, relativa ao Mandado de Detenção Europeu (MDE). O crime em causa seria punido na Alemanha com pena de prisão até 1 ano (art. 2.º/1 da mesma Lei), estando preenchido o requisito da dupla incriminação (art. 2.º/3). Ainda assim, Portugal sempre poderia condicionar a entrega, uma vez que Abel é português e residente habitualmente em Portugal (art. 13º/1 b) Lei n.º 65/2003). II. PORTUGUESES(2): pedido de Espanha de entrega de A e B é apresentado no quadro do regime do mandado de detenção europeu. Nesse quadro, o facto de ambos os sujeitos serem portugueses deve ser tratado ao abrigo do respetivo artigo 13.º, alínea b). Nesse sentido, Portugal pode entregar os indivíduos para que os mesmos sejam sujeitos a procedimento criminal, devendo os indivíduos ser devolvidos a Portugal, no final desse procedimento. Face ao exposto, Portugal não teria competência para julgar o crime, ao abrigo do artigo 5.º, alínea e), do CP (ainda que se pudesse chegar a conclusão diferente, o que não se exigia ao aluno, ao abrigo do artigo 8.º, n.º 1, al. a) da Lei do Combate ao Terrorismo) III. PAÍS ESTRANGERIO COMUNITARIO: Se o país estrangeiro fosse comunitário, Adélia poderia ser entregue, ao abrigo do mandado de detenção europeu, mesmo sendo cidadã portuguesa, ao abrigo do artigo13.º, alínea b), da Lei 65/2003, ainda que se sujeita a entrega à condição de devolução da pessoa. Nesse caso, a jurisdição portuguesa não seria competente para julgar Adélia IV. BURLA: O crime de burla vem previsto no artigo 2, n.º 2, al. u), da Lei 65/2003, ficando, por esse efeito, dispensado o controlo da dupla incriminação (o