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*DANÇAR DE ROSTO COLADO...

Rosto colado é coisa que os jovens de hoje não conhecem como preliminares de um ato
de sedução. Nesses bailes de antigamente (uma palavra dolorosa!), os jovens rastreavam
o salão em busca da garota ideal para iniciar um romance. Caso ela fosse localizada na
mesa com, os pais, nossas pernas tremiam. Uma cuba libre talvez fosse o combustível
para encorajar o ato de atravessar o salão e chegar na mesa com o convite, formalissimo,
“vamos dançar?”. O “sim” dela poderia significar que também queria dançar, pois os olhos já
tinham se cruzado num momento do baile, mas poderia ser apenas o "sim” formal para não dar um
“fora” no rapaz audacioso. Neste último caso a regra que a jovem aprendeu em casa com a mãe
casamenteira, era dançar no máximo três músicas para não significar que havia outro interresse a não
ser o da boa educação. No entanto, se “pintasse um clima” ai, Jesus! – as danças se prolongariam por
todo o baile e, na hora exata, os “ rostos se colavam” e a sedução começava com uma conversa de
ouvido. O ato de seduzir transformava-se numa enciclopédia romântica que valia até mentiras
ingênuas.
Corta...para 2017. 
Não há mais rosto colado, não há mais bailes, os conjuntos melódicos são apenas boas lembranças e
os clubes estão fechando seus salões que tinham a sua boate para os jovens. O beijo roubado, quando
as luzes diminuíam de intensidade, era, talvez, o único da noite. Hoje, as garotas ficam apostando
quem beija mais garotos numa noite e vulgarizou-se o ato mais sublime de um início de conquista. O
baile funk, mais que uma reunião dos jovens de hoje, é um convescote de traficantes em busca de
novos babacas para o início de uma vida de vícios. Vale o mesmo para a festa rave e os incidentes
estão aí na imprensa para que o colunista não passe por um “velho recalcado”. A sedução
transformou-se em agressão sexual, para ambos os lados. Sem crack, sem pó, sem baseado, não há
sequer uma aproximação de pessoas de sexo diferente. 
Rosto colado nem mesmo quando o DJ aposta em algo lento para descansar os dedos. Não se dança
mais, os requebros e os pulos substituíram os passos cadenciados. O barulho do bate-estaca acabou
com o diálogo. Sem diálogo não há sedução. Fim de papo. 
Está bem, somos velhos, quando falamos em “rosto colado”. Mas ninguém pode roubar de nossa
memória um tempo mágico onde o cavalheirismo de uma dança fazia-nos flutuar por salões com
pessoas especiais.
E quem não dançou uma vez na vida de rosto colado não sabe o que perdeu.

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