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Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará - IFPA

APOSTILA DA DISCIPLINA:

EFICIÊNCIA ENERGÉTICA E QUALIDADE DE


ENERGIA

TÓPICO 1 – EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

PROFESSOR: LUIS BLASQUES


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SUMÁRIO

Introdução.................................................................................................................... 5

1. Energia e Eficiência Energética – Conceitos Básicos ............................................. 7


1.1. Energia ............................................................................................................ 7
1.2. Energia Elétrica ............................................................................................... 9
1.2.1. Conceitos de Eletricidade Básica.......................................................... 9
1.2.2. Unidades Relacionadas a Sistemas de Energia Elétrica .................... 11
1.2.3. Matriz Energética Brasileira ................................................................ 13
1.3. Eficiência Energética ..................................................................................... 14
1.3.1. Eficiência na Geração, Transmissão e Distribuição ............................ 17
1.3.2. Benefícios da Eficiência Energética .................................................... 19
1.4. Legislação ..................................................................................................... 19
1.4.1. PROCEL ............................................................................................. 20
1.4.2. PEE – Lei 9.991/2000 ......................................................................... 21
1.4.3. Norma NBR ISO 50001 ...................................................................... 22
1.4.4. Demais Atos Legislativos Relevantes ................................................. 23

2. Eficiência Energética dos Usos Finais de Energia Elétrica.................................... 26


2.1. Iluminação ..................................................................................................... 27
2.1.1. Definições ........................................................................................... 27
2.1.2. Equipamentos para Iluminação Artificial ............................................. 28
2.1.2.1. Lâmpadas .............................................................................. 28
2.1.2.2. Reatores ................................................................................ 32
2.1.2.3. Luminárias ............................................................................. 33
2.2. Força Motriz .................................................................................................. 34
2.2.1. Classificação de Motores .................................................................... 36
2.2.2. Motores de Alto Rendimento............................................................... 37
2.3. Aquecimento ................................................................................................. 39
2.3.1. Aquecimento de Água para Banhos, Torneiras e Piscinas ................. 39
2.3.2. Outras Aplicações ............................................................................... 41
2.3.3. Isolamento Térmico ............................................................................ 42
2.4. Refrigeração .................................................................................................. 43
2.4.1. Refrigeração de Materiais ................................................................... 43
2.4.2. Climatização de Ambientes................................................................. 46
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2.4.2.1. Tipos de Condicionadores de Ar ............................................ 46


2.5. Outros ........................................................................................................... 48
2.5.1. Eletro-eletrônicos ................................................................................ 48
2.5.2. Sistemas a Ar Comprimido ................................................................. 48

3. Gestão da Utilização da Energia ........................................................................... 50


3.1. Tarifação ....................................................................................................... 50
3.1.1. Definições ........................................................................................... 50
3.1.2. Grupos de Consumidores e Estruturas Tarifárias Existentes.............. 52
3.1.3. Análises Tarifárias .............................................................................. 58
3.2. Compensação de Reativos ........................................................................... 67
3.2.1. Técnicas para Melhoria do Fator de Potência..................................... 69
3.2.2. Dimensionamento de Bancos de Capacitores .................................... 70
3.3. Gerenciamento pelo Lado da Demanda – GLD ............................................ 71
3.3.1. Gerenciamento com Estratégias de Controle Direto ........................... 73
3.3.2. Gerenciamento com Estratégias de Controle Indireto ........................ 77
3.4. Geração Própria no Horário de Ponta ........................................................... 78

4. Projeto de Eficientização Energética ..................................................................... 81


4.1. Tipologia de Projetos..................................................................................... 81
4.2. Pré-diagnóstico ............................................................................................. 81
4.3. Diagnóstico Energético ................................................................................. 82
4.3.1. Cálculos Luminotécnicos .................................................................... 83
4.3.2. Análise de Carregamento de Motores ................................................ 84
4.3.3. Carga Térmica de Ambientes ............................................................. 88
4.3.4. Sistemas de Aquecimento com Energia Solar .................................... 91
4.4. Análise de Viabilidade Econômica ................................................................ 92
4.5. Execução ...................................................................................................... 95
4.6. Plano de Medição e Verificação .................................................................... 95

5. Estudos de Casos ................................................................................................. 98


5.1. Clube Recreativo ........................................................................................... 98
5.2. Hospital ....................................................................................................... 101
5.3. Clínica ......................................................................................................... 105
5.4. Tarifação ..................................................................................................... 108
5.5. Correção do Fator de Potência ................................................................... 111

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6. Potenciais de Economia de Energia .................................................................... 112


6.1. Iluminação ................................................................................................... 112
6.2. Força Motriz ................................................................................................ 112
6.3. Aquecimento ............................................................................................... 113
6.4. Refrigeração ................................................................................................ 113
6.5. Instalações Elétricas ................................................................................... 114

ANEXO A - TABELA PARA DIAGNÓSTICO ENERGÉTICO DE EDIFICAÇÕES ... 116

Bibliografia Consultada ............................................................................................ 118

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INTRODUÇÃO

A energia, em suas mais diversas formas, está intimamente relacionada ao


progresso de toda e qualquer sociedade. Atualmente, uma das formas de se avaliar
o desenvolvimento de uma sociedade é através de sua capacidade em gerenciar a
energia, desde sua produção até o seu consumo final.
Com o passar do tempo, algumas questões vêm se transformando em grandes
desafios para o futuro da humanidade, e muitas delas estão associadas à energia. A
utilização desenfreada de fontes não renováveis de energia, cujo consumo ocorre
em taxas bastante superiores à produção, aponta para um cenário de esgotamento
energético a médio e longo prazos. Problemas ambientais, associados à elevação
do consumo de energia, também podem ser considerados assuntos da maior
relevância no cenário atual. A necessidade de redução de custos, sejam eles
relacionados à produção ou ao consumo de energia, também criam uma situação de
alerta quanto à utilização pouco racional da energia.
Com base no atual contexto, diversas são as alternativas de solução dos
problemas apresentados. Diversificação da matriz energética, implementação de
tecnologias que otimizem a produção da energia, busca por tecnologias “limpas”,
dentre outras, são potenciais soluções, mas que esbarram, na grande maioria dos
casos, em problemas como altos custos, tempo elevado para implantação e quebras
de paradigmas.
Inserida no contexto geral do tema “Energia” está a energia elétrica, ou
eletricidade, que é uma fonte de energia secundária, e que detém características
que a tornam imprescindível a grande maioria dos seres humanos, já que está
diretamente relacionada a praticamente todas as suas necessidades, das mais
básicas às mais complexas, como serviços de iluminação, água, saúde, transporte e
comunicações.
De volta às questões de grande relevância relacionadas à energia,
apresentadas anteriormente, ao se pensar no insumo “energia elétrica” depara-se
com uma solução potencial, localizada do outro lado do problema: no consumo, ou
na carga. Economicamente falando, é mais viável economizar 1 kWh de energia do
que produzir este mesmo 1 kWh. Aliado a isto, tem-se que a redução do consumo
de energia elétrica traz uma série de benefícios diretos e indiretos à sociedade de
uma forma geral, como a redução do consumo de combustíveis primários, aumento
de produtividade, reduções de impactos ambientais, postergação no investimento
associado ao reforço do sistema elétrico como um todo, dentre inúmeros outros que,
aliados a viabilidade econômica e à manutenção ou até elevação do conforto,
transforma-se em uma das respostas ao problema energético mundial que, se ainda
não está atualmente em seu nível mais crítico, tende a ficar em um futuro não muito
distante, se a situação não for enfrentada com urgência e seriedade.

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A eficiência energética está presente em diversas etapas de um sistema


energético, desde o aproveitamento da energia primária, passando por sua
conversão em vetores energéticos, sua transmissão, distribuição e, finalmente, seu
consumo. Quando este consumo está associado à eletricidade, é também chamado
de uso final de energia elétrica. Tecnologias de eficientização dos usos finais de
energia elétrica já estão maduras e acessíveis aos mais diversos setores da
sociedade. Tal ação, além de todos os benefícios já apresentados, pode resultar
também no incremento da produção, no caso de fábricas, indústrias e prestadoras
de serviço, ou simplesmente em um maior conforto ao usuário final, associado ao
aumento de níveis de luminosidade, redução de ruído, climatização de ambientes,
implementação de controles automáticos, dentre outros.
É claro que a eficiência energética dos usos finais enfrenta barreiras para sua
disseminação, principalmente concentradas no custo ainda elevado das tecnologias
eficientes. Questões culturais e aspectos relacionados à qualidade da energia
também freiam algumas ações de eficientização. Tais problemas vêm sendo
contornados com o passar do tempo, e a disseminação das informações
relacionadas à eficiência energética se constitui em um primeiro passo para a
transposição das barreiras e para garantia de sistemas cada vez mais eficientes, da
produção ao consumo.

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1. ENERGIA E EFICIÊNCIA ENERGÉTICA – CONCEITOS BÁSICOS

1.1. Energia
Energia possui um conceito bastante amplo, e suporta muitas definições. Uma
das definições mais difundidas é aquela que diz que “energia é a medida da
capacidade de realizar trabalho”. Em 1872, James Maxwell, propôs uma outra
definição, que pode ser considerada mais completa, que diz que “energia é aquilo
que permite uma mudança na configuração de um sistema, em oposição a uma
força que resiste a esta mudança”.
Restringindo ainda mais o conceito geral, a energia pode ser classificada em
três formas: primária, secundária e útil. A energia primária é aquela cujos produtos
energéticos são providos pela natureza em sua forma direta. São exemplos de
fontes primárias o petróleo, gás natural, carvão, urânio, resíduos vegetais e animais
e as energias hidráulica, solar e eólica.
A energia secundária é resultante da transformação da energia primária,
constituindo os chamados vetores energéticos e tendo como destino os diversos
setores de consumo. Como exemplo, tem-se o óleo combustível, gás GLP, carvão
vegetal, álcool etílico e eletricidade.
Finalmente, a energia útil, ou simplesmente consumo, é aquela disponível para
o consumo final, convertida através da utilização de tecnologias de uso final.
Exemplos de energia útil são a força motriz, o calor e a intensidade luminosa.
A figura 1.1 apresenta de forma simplificada os processos envolvidos na
conversão da energia primária em secundária e útil.
Energia Sol, vento, petróleo,
Primária carvão, etc

Tecnologias
Usinas de Geração de Energia
de Elétrica, Refinarias de Petróleo, etc
Conversão

Energia Energia Elétrica,


Secundária Óleo Diesel, etc.

Tecnologias Lâmpadas, Motores,


de Uso Final Eletrodomésticos, etc.

Energia Iluminação, Força Motriz,


Útil Refrigeração de alimentos, etc.

Figura 1.1 - Formas de conversão de energia.


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No Brasil, o Balanço Energético Nacional define o termo Oferta Interna de


Energia (OIE) como a demanda total de energia, correspondente à soma do
consumo final de energia, que movimenta os diferentes setores econômicos do país,
como a indústria, o transporte e o comércio, e das perdas, resultantes dos processos
de transformação e transporte da energia. Ao final de 2013, o Brasil apresentou uma
demanda total de energia (OIE) de 296,2 milhões de toneladas equivalentes de
petróleo (tep), valor 4,5 % superior ao registrado no final de 2012. A tabela 1.1
apresenta um resumo dos dados registrados em 2013, divididos entre fontes
renováveis e não renováveis, e sua comparação com o ano de 2012.
Tabela 1.1 - Oferta Interna de Energia no Brasil em 2012 e 2013.
Fonte: MME (2014).
mil tep Crescimento Estrutura (%)
Especificação
2012 2013 13/12 (%) 2012 2013
Não renovável 163.586 174.665 6,77 57,7 59,0
Petróleo e derivados 111.413 116.500 4,57 39,3 39,3
Gás natural 32.598 37.792 15,93 11,5 12,8
Carvão mineral e coque 15.288 16.478 7,78 5,4 5,6
Urânio (U3O8) 4.286 3.896 -9,10 1,5 1,3
Renovável 119.825 121.550 1,44 42,3 41,0
Hidráulica 39.181 37.054 -5,43 13,8 12,5
Lenha e carvão vegetal 25.683 24.580 -4,29 9,1 8,3
Derivados da cana 43.557 47.603 9,29 15,4 16,1
Outras renováveis 11.405 12.313 7,96 4,0 4,2
TOTAL 283.411 296.215 4,52 100,0 100,0
A importância das fontes de energia para o desenvolvimento do Brasil e do
mundo é facilmente observada quando se compara as taxas de crescimento
energético e do Produto Interno Bruto (PIB) de um país. A figura 1.2 apresenta esta
relação no Brasil, com o gráfico comparativo das taxas anuais de crescimento da
OIE e do PIB entre os anos de 2002 e 2010. Pelo gráfico, é fácil observar a
proporção direta existente entre os dois índices, o que torna clara a influência da
energia para o crescimento de qualquer sociedade.

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10%

8%

6%

4%

2%

0%
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
-2%

-4%

OIE PIB

Figura 1.2 - Percentual anual de crescimento da Oferta Interna de Energia (OIE) e


do Produto Interno Bruto (PIB) no Brasil, entre 2002 e 2010.

1.2. Energia Elétrica


Das fontes de energia secundárias, a eletricidade, objeto principal do presente
texto, apresenta enorme relevância nos dias de hoje, e sua importância aumenta a
cada dia, não havendo previsão, a curto, médio ou longo prazos, de qualquer outro
insumo que possa substituí-la apresentando as mesmas vantagens. Além de todas
as características positivas, a energia elétrica também apresenta enorme potencial
de eficientização, em seus mais diversos estágios, na produção (geração),
transformação, distribuição e uso final (consumo).

1.2.1. Conceitos de Eletricidade Básica


A forma mais simples de se exemplificar um circuito elétrico é através da
conexão de uma fonte de energia a uma carga qualquer, por intermédio de um
condutor. A fonte é responsável pela transformação do combustível primário
(derivados de petróleo, água, sol, vento, etc.) em energia elétrica, e a carga é
responsável pela transformação dessa energia elétrica em energia útil (energia
luminosa, mecânica, etc.). O condutor transporta a energia elétrica da fonte à carga.
Para que este transporte seja realizado da forma mais adequada possível, é
necessário que o condutor tenha características tais que permitam que a carga
elétrica flua com facilidade por ele. O material com estas características é chamado
simplesmente de ‘condutor’, e possui a baixa resistência elétrica como característica
principal para ser assim classificado. Ao contrário, o material no qual as cargas
elétricas fluem com dificuldade é chamado de ‘isolante’, caracterizado por possuir
alta resistência elétrica.
Além das características próprias do material, a resistência elétrica é
dependente de seu comprimento e da área de sua seção transversal. A resistividade

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é uma propriedade intrínseca de cada material, e está associada à resistência


elétrica (R, dada em ) da seguinte forma:
L
R (1.1)
A
onde  é a resistividade, dada em ohm.m (.m), L é o comprimento, dado em m, e A
é área da seção transversal do material, dada em m2.
Os condutores apresentam baixa resistividade, da ordem de 10 -8 a 10-6 .m;
porém, elevada condutividade, cerca de 107 (.m)-1. São exemplos de materiais
condutores o cobre, o alumínio, a prata e os metais em geral. Os isolantes
apresentam alta resistividade, da ordem de 1010 a 1022 .m, e baixa condutividade.
Como exemplo, tem-se a borracha, a porcelana e resinas sintéticas, como o PVC.
A corrente elétrica é conceituada de forma simplificada como cargas elétricas
em movimento; logo, o fluxo de cargas elétricas que percorre o condutor da fonte à
carga é chamado de corrente elétrica, dada em ampere (A) no Sistema Internacional
de Unidades (SI). Caso a corrente elétrica flua somente em uma direção, é chamada
de corrente contínua; caso ela se altere na direção do fluxo, é denominada de
corrente alternada.
Para que haja circulação de corrente em um circuito é necessário que haja uma
diferença de potencial, comumente chamada apenas de tensão, entre os elementos
do circuito. Esta diferença de potencial requer a manutenção de uma fonte de
excitação no circuito, fazendo com que a corrente flua do ponto de maior potencial
para o ponto de menor potencial. A unidade de tensão é dada em volt (V) no SI.
A resistência, a corrente (I) e a tensão (V) podem ser associadas pela lei de
Ohm, expressa por:
V
R (1.2)
I
A potência elétrica, cuja unidade no SI é o watt (W), é dada pela relação entre
o trabalho realizado e o intervalo de tempo necessário para a realização de tal
trabalho. Sua relação com a resistência, a corrente e a tensão é dada por:
V2
P V I   RI2 (1.3)
R
O produto V x I é a potência instantânea verificada em um circuito elétrico, e é
válido para qualquer circuito em corrente contínua. Em um circuito em corrente
alternada, como a tensão e a corrente estão defasadas entre si, a potência é
expressa por duas parcelas:
P  V I cos 
(1.4)
Q  V I sen 

A primeira parcela corresponde à energia que é transferida pela fonte ao


circuito de forma irreversível, sendo seu valor médio chamado de potência ativa,
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dada em W. A segunda parcela corresponde à troca reversível de energia entre a


fonte e o circuito, sendo seu valor máximo denominado de potência reativa, dada em
VAr (volt-ampere reativo).
As potências ativa e reativa podem ser representadas através de um triângulo
conhecido como triângulo de potências, apresentado na figura 1.3. O cateto
adjacente ao ângulo  representa a potência ativa, enquanto que o cateto oposto
representa a potência reativa. A hipotenusa é a potência aparente (S), cuja unidade
é o VA (volt-ampere).

V I
S= Q = V I sen


P = V I cos
Figura 1.3 - Triângulo de potências.
O cosseno do ângulo  é denominado de fator de potência, representado por
FP ou simplesmente cos.
O fator de potência é a relação entre a potência ativa e a potência aparente e
representa o percentual de energia ativa utilizado por determinado sistema.
Analisando-se o triângulo de potências da figura 1.3, quanto menor for o ângulo ,
mais próximo do valor unitário estará o fator de potência, menor será a componente
reativa do sistema e, conseqüentemente, maior será o percentual de energia ativa
utilizado. A situação inversa, que corresponde a um ângulo  elevado e um fator de
potência reduzido, resulta na forte presença de componentes reativos, ocasionando
prejuízos ao sistema, uma vez que a energia reativa sobrecarrega as instalações,
limitando a capacidade de condução de corrente em condutores, que poderia ser
aproveitada para a realização de trabalho útil.
1.2.2. Unidades Relacionadas a Sistemas de Energia Elétrica
A tabela 1.2 apresenta as sete unidades básicas do SI, enquanto a tabela 1.3
apresenta outras unidades relacionadas a sistemas de energia elétrica bastante
utilizadas ao longo do presente texto. Finalmente, a tabela 1.4 apresenta alguns
prefixos usualmente empregados e a tabela 1.5 apresenta alguns fatores de
conversão.

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Tabela 1.2 - Unidades básicas do SI.


Quantidade Unidade Símbolo
Comprimento metro m
Massa quilograma kg
Tempo segundo s
Corrente elétrica ampere A
Temperatura termodinâmica kelvin K
Intensidade luminosa candela cd
Quantidade de uma substância molécula mol
Tabela 1.3 - Outras unidades relacionadas a sistemas de energia elétrica.
Quantidade Unidade Símbolo
Resistência elétrica ohm 
Tensão volt V
Potência joule por segundo J/s
Potência ativa watt W
Potência reativa volt-ampere reativo VAr
Potência aparente volt-ampere VA
Energia elétrica joule J
Energia ativa watt-hora Wh
Energia reativa volt-ampere reativo-hora VArh
Freqüência hertz Hz
Fluxo luminoso lúmen lm
Iluminância lux Lx
milímetro quadrado mm2
Área
american wire gauge AWG
Tabela 1.4 - Prefixos usualmente empregados.
Prefixo Multiplicador Símbolo
Peta 1015 P
Tera 10 12 T
Giga 10 9 G
Mega 106 M
Quilo 103 K
Hecto 102 H
Deca 10 da
Deci 10-1 d
Centi 10 -2 c
Mili 10-3 m
Micro 10-6 µ
Nano 10 -9 n
Pico 10-12 p
Femto 10 -15 f

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Tabela 1.5 - Fatores de conversão.


Unidade (símbolo) Fator de conversão
kWh 1 kWh = 3.600.000 J
BTU 1 BTU = 1.055,1 J
cal 1 cal = 4,186 J
tep 1 tep = 41,87 x 109 J
BTU/h 1 BTU/h = 0,293 W
cv 1 cv = 735,5 W
hp 1 hp = 745,7 W
14 AWG = 1,5 mm2
AWG 2 AWG = 25 mm2
4/0 AWG = 95 mm2

1.2.3. Matriz Energética Brasileira


O Consumo Final de Energia (CFE) é definido pelo Balanço Energético
Nacional como “a energia que movimenta a indústria, o transporte, o comércio e
demais setores econômicos do país”. O CFE resulta da diferença entre a OIE,
apresentada na tabela 1.1, e as perdas na distribuição e transformação da energia.
No Brasil, o CFE em 2013 apresentou um total de 260,2 milhões de tep, com a
eletricidade sendo responsável por 17,1 % deste total, ou seja, 44,4 milhões de tep.
A tabela 1.6 apresenta a matriz de consumo final de energia por fonte no Brasil em
2012 e 2013.
Tabela 1.6 - Matriz de consumo final de energia por fonte no Brasil em 2012 e 2013.
Fonte: MME (2014).
mil tep Crescimento Estrutura (%)
Especificação
2012 2013 13/12 (%) 2012 2013
Derivados de petróleo 112.793 115.481 2,38 44,6 44,4
Gás natural 18.247 18.592 1,89 7,2 7,1
Carvão mineral 3.589 3.630 1,14 1,4 1,4
Lenha 16.470 16.182 -1,75 6,5 6,2
Bagaço de cana 28.376 29.479 3,89 11,2 11,3
Outras fontes primárias 5.936 6.349 6,96 2,3 2,4
Gás de coqueria 1.430 1.387 -3,01 0,6 0,5
Coque de carvão mineral 7.999 7.807 -2,40 3,2 3,0
Eletricidade 42.861 44.404 3,60 16,9 17,1
Carvão vegetal 4.598 4.161 -9,50 1,8 1,6
Álcool etílico 10.522 12.566 19,43 4,2 4,8
Alcatrão 216 210 -2,78 0,1 0,1
TOTAL 253.037 260.249 2,85 100,0 100,0

Tratando-se especificamente da eletricidade como fonte secundária, em 2013


foi gerado no Brasil um total de 570,0 TWh de energia elétrica entre centrais
geradoras de serviço público e autoprodutores. Importações líquidas somadas à
geração interna permitiram uma oferta interna de energia elétrica de 610,3 TWh. A
distribuição desses valores por setor de atividade é apresentada na tabela 1.7.
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Tabela 1.7 - Matriz elétrica por setor no Brasil em 2013. Fonte: MME (2014).
Energia Elétrica Estrutura
Especificação
(GWh) (%)
Setor energético 29.663 5,7
Residencial 124.896 24,2
Comercial 84.388 16,3
Público 41.288 8,0
Agropecuário 24.129 4,7
Transportes 1.884 0,4
Industrial 210.083 40,7
TOTAL 516.330 100,0

Nota-se pela tabela acima que o setor industrial, por ser responsável por pouco
menos da metade do consumo de energia elétrica no Brasil, representa um dos
principais focos de eficientização energética. Outros setores como o comercial e o
público, que somados são responsáveis por 24 % do consumo total, o que os torna
equivalentes ao setor residencial, também desempenham papel importante no
cenário da eficiência energética dos usos finais.

1.3. Eficiência Energética


No sentido técnico da palavra, eficiência energética é conceituada como a
razão entre a mínima energia teórica necessária para a execução de determinada
tarefa e a energia efetivamente utilizada na execução da tarefa. Tal conceito pode
ser melhor compreendido através da análise da figura 1.4, que compara um sistema
ineficiente (sistema da parte superior da figura) com um sistema eficiente, com dois
cenários variando-se a energia de entrada e o trabalho útil de cada sistema.

Cenário 1 Motor Acoplamento Bomba Válvula Tubulação Cenário 1


Energia = 100 h = 88 % h = 99 % h = 75 % h = 65 % h = 70 % Trabalho útil = 29,4

M
Cenário 2 Cenário 2
Energia = 34,0 Trabalho útil = 10

Motor Bomba Tubulação de


Cenário 1 Acoplamento
Eficiente Eficiente baixa fricção Cenário 1
h = 99 %
Energia = 100 h = 94 % h = 86 % h = 90 % Trabalho útil = 72,0

M
Cenário 2 Cenário 2
Energia = 13,9 Trabalho útil = 10

Figura 1.4 - Exemplificação do conceito de eficiência energética.

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Tomando-se como base o sistema eficiente da figura acima, e supondo-se que


os equipamentos, materiais e métodos empregados sejam ideais, ou seja, a
eficiência global do sistema é a máxima possível e, conseqüentemente, a energia
empregada é a mínima possível, comprova-se o conceito de eficiência energética
apresentado, demonstrado na equação abaixo. Tem-se que quanto mais próximo de
1 (100 %) estiver a eficiência energética, mais eficiente é o sistema, ou seja, a
energia efetivamente utilizada está mais próxima da energia mínima requerida.
energia mínima necessária 10 72
h    0,72  72 % (1.5)
energia eftivament e empregada 13,9 100
Sob um aspecto mais generalista, a eficiência energética pode também ser
conceituada como um conjunto de práticas que visem à redução dos custos com
energia e o aumento da disponibilidade energética, sem incremento da geração
convencional. Atualmente são encontradas na literatura diversas formas de divisão
da eficiência energética em classes. O presente texto a divide da seguinte forma:
- Eficiência da geração, transmissão e distribuição: práticas de caráter técnico
que visem à eficientização energética nos processos de geração, transmissão e
distribuição da energia, incluindo suas etapas de transformação;
- Eficiência dos usos finais de energia: práticas de caráter técnico que visem à
eficientização energética dos equipamentos de uso final de energia. Nesta classe
encontram-se as readequações em projetos, substituição de equipamentos,
implementação de sistemas de otimização, dentre outros;
- Eficiência não-técnica: práticas associadas à gestão da energia. O termo
‘não-técnica’ não significa que não haja influência de aspectos técnicos, mas que os
processos empregados para a eficientização ou estão diretamente relacionados à
forma de utilização da energia, ou estão relacionados a técnicas consagradas que
têm como finalidade principal a redução de custos, como os reajustes de contratos
tarifários, geração própria no horário de ponta, em substituição à geração
convencional, e correção do fator de potência.
A figura 1.5 apresenta um esquema dos processos de conversão de energia,
mais completo que o apresentado pela figura 1.1, e das classes de eficiência
energética relacionadas a cada um deles.
Por se tratar de um tema bastante extenso, o presente texto se aprofundará
somente nos conceitos de eficiência dos usos finais e não técnicas, temas dos
capítulos 2 e 3, respectivamente, enfatizando a eficientização do insumo
‘eletricidade’, apesar de muitos dos conceitos apresentados aplicarem-se aos
demais insumos, como exemplificado na figura 1.6, que apresenta um exemplo da
maior eficiência na transmissão via fax, se comparada com o correio.

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Transmissão e Distribuição
Eficiência da Geração,
Energia Sol, vento, petróleo,
Primária carvão, etc

Tecnologias
Usinas de Geração de Energia
de Elétrica, Refinarias de Petróleo, etc
Conversão

Energia Energia Elétrica,


Secundária Óleo Diesel, etc.

Usos Finais
Eficiência dos
Tecnologias Lâmpadas, Motores,
de Uso Final Eletrodomésticos, etc.

Não-técnica
Eficiência
Energia Iluminação, Força Motriz,
Útil Refrigeração de alimentos, etc.

Padrões de
Consumo

Figura 1.5 - Processos de conversão de energia e suas classes de eficiência


energética.

Figura 1.6 - Influência da eficiência energética na transmissão de informações.


Fonte: TUPIASSÚ, 2004.

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1.3.1. Eficiência da Geração, Transmissão e Distribuição


Antes de chegar ao uso final, a energia elétrica é gerada em centrais de
geração, também chamadas de usinas, e em seguida é transformada, transportada
e distribuída aos consumidores finais. Durante as etapas de geração, transmissão e
distribuição existem diversos processos, equipamentos e materiais que demandam
perdas de energia. A figura 1.7 apresenta um esquema representativo de um
sistema elétrico qualquer.

Transmissão e Distribuição
Uso Final

Geração

Figura 1.7 - Esquema representativo de um sistema elétrico.


Fonte: TUPIASSÚ, 2004.
As perdas na geração são bastante dependentes da tecnologia empregada,
não sendo objetivo do presente texto a apresentação das diversas fontes de geração
existentes, e das perdas associadas a cada uma delas.
As perdas na transmissão estão relacionadas principalmente com os
transformadores de potência e com os condutores elétricos responsáveis pelo
transporte da energia gerada.
Os transformadores de potência são responsáveis por elevar o nível de tensão
para que seja feito o transporte de energia e depois reduzir o nível de tensão para
poder realizar a distribuição. Nestes equipamentos, a maior parcela de perda ocorre
no núcleo e pode ser dividida em duas partes:
- Perdas por correntes parasitas ou correntes de Foucault, onde o material
condutor (núcleo), ao ser submetido a um campo magnético, gera correntes
induzidas no seu interior. Para tentar diminuir as perdas, é feita a laminação do
núcleo, dificultando o surgimento dessas correntes em seu interior;
- Perdas por histerese, onde os domínios magnéticos do material que forma o
núcleo são invertidos a cada inversão do campo magnético; como o transformador
apresenta várias inversões de campo por segundo, os domínios também são
invertidos na mesma proporção. Ao inverter sua orientação, os domínios precisam
superar o atrito e a inércia, e com isso dissipam certa quantidade de potência em
calor, ocasionando as perdas. Para reduzir esse tipo de perda procura-se utilizar liga
de metais como a liga de ferro-silício, liga especial de aço-silício, dentre outros.

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Além das duas perdas mencionadas acima, os enrolamentos do transformador


são feitos de cobre, e devido à resistência ôhmica do cobre, existem também as
perdas de potência por aquecimento nos enrolamentos, denominadas de perdas por
efeito Joule, o que contribui para o aquecimento do transformador como um todo.
Nas linhas de transmissão, as perdas estão relacionadas diretamente com a
resistividade dos materiais que compõem os cabos condutores, com o comprimento
da linha, a área de seção transversal do condutor e a temperatura.
A prata é o metal que apresenta a mais baixa resistividade, porém é muito caro
para uso em sistemas de transporte de energia. O ouro, apesar de ter uma
resistividade maior do que a prata, é muito empregado onde se precisa de um
material condutor delicado e facilmente maleável, como em circuitos integrados. Os
materiais condutores mais utilizados em sistemas de energia elétrica são o cobre e o
alumínio, por apresentarem ótima ductibilidade, elevada resistência à tensão
mecânica, pequeno desgaste, baixa corrosão devida às intempéries e custos
acessíveis.
Além de alumínio e cobre, os condutores elétricos podem ser compostos por
ligas destes materiais, sendo dispostas em volta de um cabo de aço, o qual é
necessário para produzir a sustentação e a tensão mecânica dos cabos nas torres
de transmissão.
Quanto maior a temperatura, maior será a resistência apresentada pelo
material condutor e em decorrência disso haverá um aumento das perdas por efeito
Joule. Outro motivo que pode provocar aquecimento nas linhas de transmissão é o
aquecimento dos cabos devido à sobrecarga no sistema de energia elétrica.
As linhas de transmissão que utilizam tensões muito elevadas podem provocar
a ionização do ar ao seu redor, resultando em um brilho visível durante a noite e
proporcionando perdas de energia para o meio ambiente. Esse efeito luminoso é
denominado de efeito corona.
Em relação à distribuição da energia elétrica, as perdas estão associadas aos
transformadores de potência utilizados para diminuir o nível de tensão e à própria
rede de distribuição, que apresentam princípios semelhantes aos verificados no
sistema de distribuição, porém com redução dos níveis de tensão.
Os condutores da rede de distribuição são divididos naqueles pertencentes às
redes primária e secundária. Além das perdas técnicas, grande parte das perdas de
energia na distribuição são provocadas por furto de energia e erros de medição em
medidores, denominadas de perdas comerciais. Conexões mal feitas ou oxidadas,
contato da rede com árvores, dentre outros, também são pontos de perdas em redes
de distribuição.

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1.3.2. Benefícios da Eficiência Energética


Os benefícios da eficiência energética são inúmeros, sejam eles para o país,
para as empresas do setor energético ou para o consumidor final. Um benefício
global e que atinge todos os setores da sociedade no mundo inteiro é a redução dos
impactos ambientais.
Os principais benefícios da eficiência energética para o país são:
- Eliminação ou adiamento da necessidade de expansão da oferta de energia;
- Garantia do suprimento de energia elétrica com maior confiabilidade;
- Redução de custos diretos e indiretos, uma vez que a redução de custos para
os consumidores e empresas resulta em redução de custos para o país.
Para o consumidor final, seja ele do setor residencial, comercial ou industrial,
os benefícios são:
- Eliminação de desperdícios e redução de custos;
- Otimização do desempenho dos equipamentos;
- Demonstração de atitude lógica e consciente na utilização do insumo
‘energia’;
- Aumento dos níveis de conforto e segurança;
- Aumento da produtividade;
- Redução do desperdício de outros insumos, como a água.

1.4. Legislação
Desde a criação dos primeiros programas de conservação de energia, como o
CONSERVE, criado em 1981, muitos foram os programas governamentais
instituídos com o objetivo de se obter melhores níveis de eficiência energética nos
equipamentos e nos diversos setores da sociedade. Essas primeiras iniciativas
estavam bastante relacionadas às crises do petróleo da década de 70. Tais
programas perderam força com a redução dos preços internacionais do petróleo
durante a década de 80, voltando ao cenário nacional somente em meados dos
anos 90.
Atualmente, o Programa Nacional de Combate ao Desperdício de Energia
Elétrica – PROCEL e o Programa de Eficiência Energética – PEE/ANEEL são os
programas nacionais mais eficazes na área de eficiência energética. Na área do
petróleo, destaca-se o Programa Nacional de Racionalização do Uso dos Derivados
do Petróleo e do Gás Natural – CONPET. Também existem diversos decretos, leis,
portarias e resoluções que, direta ou indiretamente, complementam os programas de
eficiência energética mais importantes. Os itens seguintes apresentam algumas
dessas medidas, julgadas mais significativas.

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1.4.1. PROCEL
O Programa Nacional de Combate ao Desperdício de Energia Elétrica –
PROCEL foi criado em dezembro de 1985 pelos Ministérios de Minas e Energia e da
Indústria e Comércio, através da Portaria Interministerial MME/MIC no 1.877, de
30/12/1985. Através do Decreto de 18 de julho de 1991 foi transformado em
Programa de Governo, tendo suas abrangência e responsabilidade ampliadas.
O objetivo do PROCEL é promover a racionalização da produção e do
consumo de energia elétrica, para que se eliminem os desperdícios e se reduzam os
custos e os investimentos setoriais. Dentre suas principais metas, destacam-se a
redução das perdas técnicas das distribuidoras de energia; a racionalização do uso
da energia elétrica; e o aumento da eficiência energética de aparelhos elétricos.
Em 1993, através do Decreto de 08 de dezembro de 1993, foi instituído o
Prêmio Nacional de Conservação e Uso Racional de Energia e o Selo Verde de
Eficiência Energética. Desde então, o Selo PROCEL de Economia de Energia é
concedido anualmente aos equipamentos elétricos que apresentam os melhores
índices de eficiência energética dentro das suas categorias. Sua finalidade é
estimular a fabricação nacional de produtos eletroeletrônicos mais eficientes no item
economia de energia, e orientar o consumidor, no ato da compra, a adquirir
equipamentos que apresentam melhores níveis de eficiência energética.
Os critérios para concessão do selo PROCEL de economia de energia tomam
como base os dados de consumo obtidos em medições realizadas nos laboratórios
credenciados pelo Programa Brasileiro de Etiquetagem do INMETRO, através do
Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE). Os produtos avaliados pelo INMETRO,
aos quais é concedida a Etiqueta Nacional de Conservação, são avaliados por
classe de eficiência, da “A” (mais eficiente) à “G” (menos eficiente). O Selo PROCEL
é concedido aos produtos que obtém o índice “A” de eficiência energética. A figura
1.8 apresenta um modelo geral da Etiqueta Nacional de Conservação, à esquerda, e
do Selo PROCEL.
As categorias de equipamentos que receberam o selo no ano de 2008 foram:
máquinas de lavar roupas; condicionadores de ar; refrigeradores e freezers;
coletores solares e reservatórios térmicos; motores de indução trifásicos; lâmpadas e
reatores; televisores; e ventiladores de teto.
Iniciativa similar ao Selo PROCEL é o Selo CONPET, concedido a
equipamentos domésticos de consumo de gás que obtém os menores índices de
consumo de combustível.

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Figura 1.8 - Etiqueta Nacional de Conservação, à esquerda, e Selo PROCEL.


Outras iniciativas do PROCEL são o Prêmio Nacional de Conservação e Uso
Racional de Energia, concedido anualmente a várias categorias, o PROCEL Sanear
(eficiência na área de saneamento), o PROCEL Educação, o PROCEL Indústria, o
PROCEL Edifica (edificações eficientes), o PROCEL EPP (eficiência energética nos
prédios públicos), entre outros.
A tabela 1.8 apresenta resultados do PROCEL nos últimos anos.
Tabela 1.8 - Resultados do PROCEL no período entre 2007 e 2011.
Fonte: PROCEL/ELETROBRAS, http://www.eletrobras.gov.br/procel/
Especificação 2007 2008 2009 2010 2011
Investimentos Eletrobrás/FDT (R$ milhões) 13,62 20,48 29,22 31,00 27,10
Investimentos RGR (R$ milhões) 39,16 25,80 55,95 45,32 68,46
Investimentos Totais Realizados (R$ milhões) 52,78 46,28 85,17 76,32 95,56
Energia Economizada (milhões de kWh) 3.930 4.374 5.473 6.164 6.696
Usina Equivalente (MW) * 942 1.049 1.312 1.478 1.606
Redução de Demanda na Ponta (MW) 1.357 1.569 2.098 2.425 2.619
Percentual do consumo total de energia
1,04 1,11 1,41 1,47 1,56
elétrica no Brasil (%)
Percentual do consumo residencial de energia
4,32 4,62 5,44 10,63 5,97
elétrica no Brasil (%)
No de residências que poderiam ser atendidas
com a economia de energia, durante um ano 2,26 2,50 3,00 3,30 3,59
(milhões)
* Obtida a partir da energia economizada, considerando um fator de capacidade médio típico de 56 % para usinas
hidroelétricas e incluindo 15 % de perdas médias nos sistemas de T&D de energia elétrica.

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1.4.2. PEE – Lei 9.991/2000


A Lei no 9.991, de 24 de julho de 2000, regulamentada pelo Decreto no 3.867,
de 16 de julho de 2001, estabelece que as distribuidoras de energia elétrica ficam
obrigadas a aplicar, anualmente, o montante mínimo de 0,75 % de sua receita
operacional líquida (ROL) em pesquisa e desenvolvimento do setor elétrico, e o
mínimo de 0,25 % em programas de eficiência energética no uso final (PEE).
Estabeleceu também que até 31 de dezembro de 2005 os montantes mínimos
seriam de 0,5 % para os dois programas. Em 2007, a Lei no 11.465 prorrogou até 31
de dezembro de 2010 a obrigatoriedade de aplicação destes percentuais.
Em 20 de janeiro de 2010, a Lei 9.991 foi alterada pela Lei no 12.212, que
estabelece que os montantes mínimos de 0,5 % para os dois programas serão
válidos até 31 de dezembro de 2015. Outra medida alterada pela Lei no 12.212 é a
obrigatoriedade de aplicação, por parte das distribuidoras de energia, de, no mínimo,
60 % dos investimentos em programas de eficiência para unidades consumidoras
beneficiadas pela Tarifa Social.
A Lei 9.991 também estabelece que os investimentos em eficiência energética
serão aplicados de acordo com regulamentos estabelecidos pela Agência Nacional
de energia Elétrica – ANEEL e, esta agência, portanto, publica desde então atos
legislativos cujos objetivos são a correta aplicação dos recursos. Uma delas, a
Resolução Normativa no 300, de 12 de fevereiro de 2008, estabelece critérios
atualizados para aplicação de recursos em Programas de Eficiência energética pelas
distribuidoras de energia, bem como apresenta o Manual para Elaboração do
Programa de Eficiência Energética, anexo à Resolução. Em 18 de junho de 2013, a
Resolução Normativa no 556 é publicada, aprovando os Procedimentos do Programa
de Eficiência Energética – PROPEE, conjunto de documentos composto por 10
módulos que definem de forma completa as diretrizes para condução do PEE,
substituindo o Manual para Elaboração do Programa de Eficiência Energética.
Mais detalhes sobre os Procedimentos do Programa de Eficiência Energética –
PROPEE podem ser consultados no Capítulo 4, onde são apresentadas técnicas de
projetos de eficientização energética, algumas delas com base no referido conjunto
de documentos.
A tabela 1.9 apresenta resultados do PEE/ANEEL atualizados até 2011.

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Tabela 1.9 - Resultados do PEE/ANEEL atualizados até 2011.


Fonte: ANEEL, http://www.aneel.gov.br/
Número Número de Demanda Economia
ROL Investimento
Ciclo de Conces- Retirada da de Energia
(%) (RS milhões)
Projetos sionárias Ponta (MW) (GWh/ano)
1998/1999 251 17 250 755 1,00 196
1999/2000 364 42 370 1.020 0,75 230
2000/2001 199 64 251 894 0,50 152
2001/2002 194 64 85 348 0,50 142
2002/2003 402 64 54 222 0,50 154
2003/2004 568 64 110 489 0,50 313
2004/2005 598 64 275 925 0,50 175
2005/2006 364 63 158 569 0,50/0,25 311
2006/2007 279 62 141 377 0,25 263
Totais – – 1.694 5.599 – 1.936
Novos proj.
914 78 708 2.075 0,50 2.415
(2008-2011)

1.4.3. Norma NBR ISO 50001

Publicada em 2011, esta norma, denominada de norma de gestão de energia,


tem como objetivo permitir o estabelecimento de sistemas e processos para melhoria
contínua do desempenho energético (incluindo eficiência, uso e consumo de
energia) nas organizações.

Assim como outras normas de natureza semelhante, como as NBR ISO 9001
(sistema de gestão da qualidade) e NBR ISO 14001 (sistema de gestão ambiental),
a norma ISO 50001 visa alçar as empresas que a adotarem a um reconhecimento
internacional com relação às suas iniciativas no que concerne à utilização racional e
eficiente da energia.

A estrutura geral da NBR ISO 50001, representada na figura 1.9, está centrada
em ações de planejamento, implementação, verificação e ação corretiva e
preventiva.

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Figura 1.9 - Modelo do sistema de gestão de energia da norma NBR ISO 50001.

1.4.4. Demais Atos Legislativos Relevantes


A seguir são apresentados de maneira sucinta outros atos legislativos de
relevância no cenário nacional de eficiência energética.
- Portaria DNAEE no 185, de 17 de outubro de 1988: Determina às
distribuidoras de energia elétrica que renegociem contratos de fornecimento de
energia elétrica sempre que solicitados por consumidor que implementem medidas
de conservação de energia elétrica, que resultem em redução de demanda de
potência e/ou consumo de energia elétrica ativa. Foi revogada pela Resolução
ANEEL no 414/2010, que manteve a determinação, com nova redação dada pelo seu
Artigo 65.
- Decreto no 99.656, de 26 de outubro de 1990: Dispõe sobre a criação, nos
órgãos e entidades da Administração Federal direta e indireta, da Comissão Interna
de Conservação de Energia (CICE), que será responsável pela elaboração,
implantação e acompanhamento das metas do Programa de Conservação de
Energia, e divulgação dos seus resultados nas dependências do estabelecimento.
- Decreto no 1.040, de 11 de janeiro de 1994: Determina aos agentes
financeiros oficiais, a inclusão, entre as linhas prioritárias de crédito e financiamento,
de projetos destinados à conservação e uso racional de energia e ao aumento da
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eficiência energética, inclusive de projetos de pesquisa e desenvolvimento


tecnológico neste campo.
- Portaria MME no 046, de 07 de março de 2001: Cria o Comitê de
Acompanhamento das Metas de Conservação de Energia - CAMEC, com a
atribuição de acompanhar o processo de estudos e implantação das providências de
conservação, indicados nos planos do Programa Nacional de Conservação de
Energia Elétrica - PROCEL e do CONPET.
- Lei no 10.295, de 17 de outubro de 2001: Dispõe sobre a Política Nacional de
Conservação e Uso Racional de Energia, propondo o estabelecimento de níveis
máximos de consumo específico de energia, ou mínimos de eficiência energética, de
aparelhos fabricados ou comercializados no Brasil.
- Decreto no 4.059, de 19 de dezembro de 2001: Regulamenta a Lei 10.295 e
institui o Comitê Gestor de Indicadores e Níveis de Eficiência Energética – CGIEE,
responsável pela elaboração de plano de trabalho e cronograma visando a
implementação da Lei 10.295. Estabelece, também, que deverão ser credenciados
pelo INMETRO os laboratórios responsáveis pelos ensaios que comprovarão os
níveis máximos de consumo específico de energia, ou mínimos de eficiência
energética, dos aparelhos.
- Portaria MME no 113, de 15 de março de 2002: Estabelece metas de
consumo de energia elétrica às autarquias, empresas públicas e sociedades de
economia mista, vinculadas ao MME.
- Decreto no 4.508, de 11 de dezembro de 2002: Dispõe sobre a
regulamentação específica que define os níveis mínimos de eficiência energética de
motores elétricos trifásicos de indução rotor gaiola de esquilo, de fabricação nacional
ou importados, para comercialização ou uso no Brasil.
- Portaria Interministerial no 1.007, de 31 de dezembro de 2010: Aprova a
regulamentação específica de lâmpadas incandescentes, definindo as
características do produto e os níveis mínimos de eficiência energética.
- Portaria Interministerial no 1.008, de 31 de dezembro de 2010: Define os
índices mínimos de eficiência energética de Lâmpadas Fluorescentes Compactas –
LFC.
- Portaria Interministerial no 323 de 26 de maio de 2011: Aprova o programa de
metas para condicionadores de ar.
- Portaria Interministerial no 326 de 26 de maio de 2011: Aprova o programa de
metas para refrigeradores e congeladores.

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2. USOS FINAIS DE ENERGIA ELÉTRICA

São muitas as possibilidades de utilização da energia elétrica. Em geral, estão


presentes em praticamente todas as atividades humanas, sejam no trabalho, no
lazer, na comunicação, etc. A divisão do presente capítulo em quatro principais usos
finais de energia não intenciona que tal divisão seja a mais geral ou a mais correta
existente; busca apenas pela divisão dos usos finais por princípio de funcionamento,
englobando equipamentos amplamente verificados nos setores industrial, comercial
e público, focos principais do presente texto. O último item, mais geral, referente aos
demais usos finais de energia, busca, se não detalhar todos os muitos usos finais,
ao menos citá-los, para que sejam consultados em textos mais aprofundados, de
acordo com a conveniência de cada leitor.

2.1. Iluminação
Para se estudar de forma mais detalhada os sistemas de iluminação, faz-se
necessário conhecer alguns conceitos básicos, as definições de algumas variáveis e
os equipamentos utilizados na conversão de energia elétrica em energia luminosa,
conforme apresentado nos itens a seguir. Ao final, são também apresentados
potenciais de economia em sistemas de iluminação que, em conjunto com um
projeto luminotécnico adequado (tema abordado no Capítulo 4), contribuem para a
eficientização deste uso final.

2.1.1. Definições
- Luz: é a radiação eletromagnética capaz de produzir sensações visuais. A luz
visível ao olho humano situa-se entre os comprimentos de onda de 380 e 780 nm,
respectivamente os limites das radiações ultravioleta e infravermelha.
- Fluxo luminoso (): é a radiação total, ou quantidade de luz total, emitida
pela fonte luminosa, sensível ao olho humano (situada entre os comprimentos de
onda de 380 e 780 nm). Sua unidade é o lúmen (lm).
- Eficiência luminosa: é a relação entre o fluxo luminoso e a potência da
fonte, dada em lm/W.
- Intensidade luminosa (I): é o fluxo luminoso irradiado em uma determinada
direção. Sua unidade é o candela (cd), e é a grandeza básica de iluminação no SI.
- Iluminância (E): indica a relação entre o fluxo luminoso de uma fonte de luz
incidente em uma superfície, e a própria superfície. Na prática, a iluminância é a
grandeza medida para se caracterizar uma superfície, normalmente o plano de
trabalho, como bem ou mal iluminada. A iluminância é também chamada de
iluminamento, e sua unidade é o lux (lx). Um lux é o iluminamento de uma superfície
de 1 m2, localizada a 1 m de distância da fonte, puntiforme, na direção normal e
emitindo um fluxo luminoso de 1 lúmen uniformemente distribuído.

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- Plano de trabalho: Região onde, para qualquer superfície nela situada, são
exigidas condições adequadas ao trabalho visual a ser realizado.
- Luminância (L): é a sensação de claridade que emana de uma superfície ao
ser atingida por raios de luz. Sua unidade é cd/m 2.
- Temperatura de cor (T): de forma simplificada, é um critério utilizado para
classificar a aparência de cor de uma luz. Sua unidade é o kelvin (K). Quanto maior
for a temperatura de cor de uma fonte, mais fria é a luz e mais claro é o branco. A
luz amarelada, típica de lâmpadas incandescentes, apresenta baixa temperatura de
cor, da ordem de 2.700 K. Abaixo de 3.300 K as cores podem ser classificadas como
quentes; entre 3.300 e 5.300 K, como intermediárias; e acima de 5.300 K como frias.
Luzes com temperaturas de cor mais baixas (cores quentes) são utilizadas para a
criação de ambientes aconchegantes. Aquelas com temperaturas de cor mais altas
são apropriadas para ambientes claros, limpos. É importante ressaltar que as
temperaturas de cor não influenciam na eficiência luminosa da fonte.
- Índice de reprodução de cores (Ra): qualifica a variação de cor de objetos
iluminados por diferentes fontes. O índice Ra é uma escala qualitativa, variando de 1
a 100, que classifica o desempenho das fontes de luz em relação ao padrão ideal,
obtido por um corpo metálico sólido, aquecido até irradiar luz (Ra = 100). Em outras
palavras, quanto maior for a diferença de cor de um objeto iluminado, em relação ao
padrão, menor será o seu Ra.

2.1.2. Equipamentos para Iluminação Artificial


Em projetos de eficiência energética, é sempre dada preferência à utilização da
iluminação natural em ambientes onde isto seja possível. Em projetos ainda em fase
de concepção, é altamente recomendado o emprego de padrões arquitetônicos que
garantam o aproveitamento ótimo da iluminação natural. Em sistemas já instalados,
muitas vezes é difícil a proposta por qualquer alteração que vise o aproveitamento
da iluminação natural sem, com isso, acarretar em outros prejuízos, principalmente
os relacionados ao aumento da carga térmica do ambiente.
Onde o aproveitamento da iluminação natural não é possível, o potencial de
eficientização energética concentra-se na elaboração de projetos luminotécnicos
criteriosos e na utilização de equipamentos mais eficientes possíveis. A
eficientização deste uso final é considerada de alta rentabilidade, devido à existência
de equipamentos no mercado com elevadas eficiências.
2.1.2.1 - Lâmpadas
As lâmpadas são os principais componentes de um sistema de iluminação. Em
projetos de eficiência energética tal afirmação se torna ainda mais crítica, uma vez
que as lâmpadas apresentam vida útil inferior a dos demais equipamentos que
compõem o sistema, além de seu desempenho ser afetado por diversos fatores. A
principal característica a ser analisada nas lâmpadas é sua eficiência luminosa.
Quanto maior ela for, menos potência instalada será necessária para garantir o nível
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de iluminamento requerido. Porém, é necessário atentar para outras questões, como


a vida útil das lâmpadas, que irão influenciar nos cálculos de viabilidade econômica,
e o Ra, em casos onde a atividade exija bons índices de reprodução de cores.
As lâmpadas podem ser classificadas em incandescentes ou de descarga.
As incandescentes produzem luz devido ao aquecimento provocado por efeito
Joule de um filamento (usualmente de tungstênio) imerso em um gás nobre
(geralmente o criptônio). A altíssima temperatura atingida pelo filamento ocasiona a
emissão de uma radiação que se encontra dentro do espectro visível. Grande parte
da energia de entrada é dissipada em forma de calor, e apenas a menor parte é
convertida em luz, o que explica a baixa eficiência luminosa desta classe de
lâmpadas (8 a 22 lm/W). Suas demais características são a baixa durabilidade (vida
útil média entre 1.000 e 3.000 h), bons índices de reprodução de cores, baixo custo
e simplicidade de instalação. A tabela 2.1 apresenta alguns tipos de lâmpadas
incandescentes e suas respectivas características típicas.
Tabela 2.1 - Tipos e características de lâmpadas incandescentes.
Fluxo Potência Eficiência Vida útil
Tipo
luminoso (lm) (W) (lm/W) (h)
Incandescente comum 200 a 9.359 25 a 500 8 a 18 1.000
Incandescente refletora 320 a 3.600 40 a 300 8,75 a 12 1.000
Incandescente halógena 5.100 a 24.000 300 a 2.000 17 a 22 2.000
Incandescente halógena dicróica 950 20 a 75 19 3.000

Ponto positivo das lâmpadas incandescentes, além dons bons índices de


reprodução de cor, vem sendo obtido através da utilização de filamentos duplos, que
resultam em fluxos luminosos mais altos. Apesar de apresentar custo bem maior, a
lâmpada incandescente de filamento duplo pode representar uma boa opção às
lâmpadas de descarga quando forem realizadas no local atividades que exijam
níveis elevados de Ra.
As lâmpadas de descarga produzem luz através de descargas elétricas
contínuas em um gás ou vapor ionizado, em alguns casos combinados com pós-
fluorescentes contidos na superfície do bulbo, que se excitam pela radiação de
descarga, provocando luminescência. Há uma maior gama de tipos de lâmpadas de
descarga e todas, com exceção da lâmpada mista, necessitam de equipamentos
auxiliares para seu correto funcionamento, como os reatores, mais comuns, e os
ignitores (“starters”), em poucos casos. Em geral apresentam eficiência e vida útil
superiores às das lâmpadas incandescentes; porém, custo também mais elevado. A
tabela 2.2 apresenta alguns tipos de lâmpadas de descarga e suas respectivas
características.

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Tabela 2.2 - Tipos e características de lâmpadas de descarga.


Fluxo luminoso Potência Eficiência Vida útil
Tipo Ra
(lm) (W) (lm/W) (h)
Fluorescente tubular 650 a 8.300 15 a 110 56 a 75 7.500 Regular/bom
Fluorescente compacta 400 a 2.900 7 a 26 44 a 65 10.000 Muito bom
Vapor de mercúrio 1.800 a 22.000 50 a 400 40 a 55 15.000 Regular
Vapor metálico 5.500 a 330.000 70 a 3.500 68 a 100 6.000 Muito bom
Vapor de sódio 5.600 a 125.000 70 a 1.000 80 a 125 15.000 Regular
Mista 3.150 a 13.500 160 a 500 19 a 27 5.000 Regular

Pode-se observar, pela análise das tabelas 2.1 e 2.2, que as lâmpadas de
descarga apresentam maiores variações do que as incandescentes, no que se
refere à eficiência luminosa e à vida útil, principalmente. Por isso, a análise destes
tipos de lâmpadas deve ser mais criteriosa em projetos de eficientização energética.
As lâmpadas fluorescentes tubulares são compostas por um bulbo cilíndrico de
vidro, cujas paredes internas são pintadas por materiais fluorescentes. Em suas
extremidades são instalados eletrodos metálicos recobertos por óxidos, por onde
circula a corrente elétrica. Em seu interior existe vapor de mercúrio a baixa pressão,
com gás inerte para facilitar a partida. Para seu correto funcionamento, as lâmpadas
fluorescentes necessitam de reatores e, as chamadas de partida lenta, ignitores. Um
grande avanço recente das lâmpadas fluorescentes tubulares tem sido a redução do
diâmetro com conseqüentes redução de potência e manutenção ou aumento do
fluxo luminoso. Isso é possível devido ao fato da redução do diâmetro propiciar
maiores possibilidades de desenvolvimento óptico dos refletores. Os modelos
tradicionais possuem diâmetro de 38 mm (T12), enquanto os mais recentes já
apresentam valores de 26 mm (T8), chegando até a 16 mm (T5), este último
inclusive com redução de 50 mm no comprimento.
As lâmpadas fluorescentes compactas (LFC), também chamadas de lâmpadas
PL, utilizam o mesmo princípio; porém, algumas já são fabricadas com reator
incorporado, apresentam tamanhos reduzidos e bocal com mesmas características
dos de lâmpadas incandescentes comuns, o que faz com que as LFC possam
substituí-las diretamente.
As lâmpadas a vapor de mercúrio são constituídas por tubos de descarga,
tendo em cada uma de suas extremidades eletrodos de tungstênio cobertos com
material emissor de elétrons. A aplicação de tensão origina um arco elétrico entre o
eletrodo auxiliar e o principal, provocando o aquecimento dos óxidos emissores, a
ionização do gás e a formação de vapor de mercúrio. Com o meio interno ionizado e
praticamente inativo, a descarga elétrica passa a ocorrer entre os eletrodos
principais. O aquecimento do meio interno eleva a pressão dos vapores, ocasionado
o aumento do fluxo luminoso. A partida dura alguns segundos, e a lâmpada só entra
em regime após alguns minutos. Ao se apagar a lâmpada, o mercúrio não pode ser

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reionizado até que a temperatura do arco seja diminuída o suficiente, o que dura de
3 a 10 minutos, dependendo das condições externas e da potência da lâmpada.
As lâmpadas a vapor metálico são lâmpadas a vapor de mercúrio com a
introdução de elementos (iodetos, brometos) em seu tubo de descarga, de forma
que o arco elétrico ocorra em uma atmosfera de vários vapores metálicos
misturados, resultando em maiores eficiências luminosas. Requerem reator e ignitor
para seu funcionamento, e apresentam índices de reprodução de cores muito bons.
As lâmpadas a vapor de sódio possuem um tubo de descarga de óxido de
alumínio, encapsulado por um bulbo oval de vidro. O tubo de descarga é preenchido
por uma amálgama de sódio-mercúrio, além de uma mistura gasosa de neônio e
argônio, utilizada para a partida. Necessitam de reator e ignitor. Apresentam Ra
menor que as lâmpadas a vapor de mercúrio; porém, melhor eficiência luminosa, o
que indica a substituição em muitos casos, como em vias públicas, túneis, etc.
As lâmpadas de luz mista, ou simplesmente mistas, são compostas por um
tubo de arco de vapor de mercúrio em série com um filamento incandescente de
tungstênio. O filamento produz fluxo luminoso, com princípio idêntico ao de
lâmpadas incandescentes, também funciona como elemento de estabilização da
lâmpada e limita a corrente de funcionamento, dispensando a utilização de reator.
As lâmpadas mistas são normalmente ligadas em tensões de 220 V, pois tensões
inferiores não são suficientes para a ionização do tubo de arco.
A figura 2.1 apresenta um comparativo entre eficiências luminosas de
diferentes tipos de lâmpadas, enquanto a figura 2.2 apresenta uma relação entre a
temperatura de cor e o Ra das lâmpadas.

170
Eficiência Luminosa (lm/W)

0
Incandescente Halógena Mista Mercúrio LFC LFC Metálica Fluor. Tub. Fluor. Tub. Vapor de Metálica
(10 a 15) (15 a 25) (20 a 35) (45 a 55) Integrada Não Integ. Cerâmica T8 T5 Sódio Quartzo
(50 a 65) (50 a 87) (65 a 90) (66 a 93) (70 a 125) (80 a 140) (143)

Figura 2.1 - Comparativo entre eficiências luminosas de diferentes lâmpadas.

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Figura 2.2- Relação entre a temperatura de cor e o Ra (IRC) de diferentes lâmpadas.


2.1.2.2 - Reatores
Os reatores são dispositivos cuja finalidade é provocar uma elevação da tensão
durante a ignição, e uma redução da corrente durante o funcionamento. São
utilizados para a operação de lâmpadas de descarga e são classificados, quanto ao
seu aspecto construtivo, em reatores eletromagnéticos e eletrônicos.
Os reatores eletromagnéticos são compostos por um núcleo de ferro, bobinas
de cobre e capacitor para correção do fator de potência. Apresentam como
desvantagens as perdas elétricas elevadas, emissão de ruído, cintilação elevada
(efeito “flicker”) e carga térmica alta, o que os tornam pouco indicados quando se
pretende eficientizar um sistema de iluminação. Os reatores eletromagnéticos
podem ser do tipo convencional, necessitando de ignitor (“starter”) para a partida, ou
do tipo partida rápida, que não necessitam de dispositivos auxiliares de partida.
O “starter” é constituído por um pequeno tubo onde são depositados dois
eletrodos imersos em um gás inerte, responsável pela formação do arco que irá
propiciar um contato direto entre os eletrodos, provocando um pulso de tensão que
propicia a ignição da lâmpada.
Os reatores eletrônicos são constituídos por um circuito de retificação e um
oscilador. Trabalham em altas freqüências, sendo mais eficientes na conversão da
eletricidade em energia luminosa. A utilização de reatores eletrônicos elimina as
desvantagens ocasionadas pelos reatores eletromagnéticos, citadas anteriormente.
Apesar das vantagens dos reatores eletrônicos, alguns aspectos devem ser
levados em consideração na escolha do equipamento, principalmente os
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relacionados ao fator de potência e à distorção harmônica. Tais aspectos estão


bastante relacionados à qualidade do equipamento. A tabela 2.3 apresenta alguns
dados com relação a estas duas grandezas.
Tabela 2.3 - Aspectos relacionados ao fator de potência e à distorção harmônica de
reatores eletromagnéticos e eletrônicos.
Reator eletromagnético Reator eletrônico
Tipo
F.P. normal Alto F.P. F.P. normal Alto F.P.
Fator de potência (F.P.) 0,4 a 0,7 0,8 a 0,9 0,4 a 0,7 > 0,9
Taxa de distorção harmônica 6 a 18 % 15 a 27 % 75 a 200 % 16 a 42 %

Os reatores são dispositivos que adicionam perdas ao sistema de iluminação,


contribuindo para uma redução da eficiência luminosa dos conjuntos para níveis
menores aos apresentados pelas tabelas 2.1 e 2.2. As perdas estão diretamente
associadas aos tipos de lâmpadas e reatores utilizados, sendo recomendada a
consulta a catálogos de fabricantes. Para uma orientação geral, a tabela 2.4
apresenta valores típicos de perdas de alguns tipos de reatores.
Tabela 2.4 - Valores típicos de perdas em reatores.
Potência da Perdas no
Reator Lâmpada
Lâmpada (W) Reator (W)
50 12
150 26
Vapor de Sódio
250 27
1.000 111
80 10,9
250 27,7
Eletromagnético Vapor de Mercúrio
400 39,5
1.000 75,2
1x16 e 1x20 15
Fluorescentes 2x16 e 2x20 18
Tubulares 1x32 e 1x40 16
2x32 e 2x40 22
1x16 7
Fluorescentes 2x16 10
Eletrônico
Tubulares 1x32 6
2x32 6

2.1.2.3 - Luminárias
A luminária tem como funções principais a sustentação mecânica das
lâmpadas e a distribuição espacial do fluxo luminoso produzido por elas. As
luminárias podem ser das mais simples, compostas somente pelo receptáculo, até
as mais complexas, com a presença de refletores, refratores, difusores, entre outros.
A eficiência de uma luminária pode ser obtida pela relação entre o fluxo luminoso
emitido pela luminária (direto e indireto), e o fluxo luminoso emitido pelas lâmpadas.

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Devido à diversidade de luminárias existentes atualmente, torna-se pouco


viável a apresentação de todos os modelos e de todas as classificações. Uma das
classificações de luminárias é desenvolvida pela CIE (Comission Internationale de
L’Eclairage), apresentada na tabela 2.5, realizada com base no percentual de fluxo
luminoso total dirigido para cima ou para baixo, tomando como referência o plano
horizontal onde está situada a luminária.
Tabela 2.5 - Classificações de luminárias de acordo com o fluxo luminoso.
Fluxo luminoso em relação à horizontal (%)
Classificação
Para cima Para baixo
Direta 0 - 10 90 - 100
Semi-direta 10 - 40 60 - 90
Geral-difusa 40 - 60 40 - 60
Direta-indireta 40 - 60 40 - 60
Semi-indireta 60 - 90 10 - 40
Indireta 90 - 100 0 - 10

Para efeitos de eficiência energética, espera-se que a luminária consiga


fornecer ao plano de trabalho a totalidade do fluxo luminoso das lâmpadas.
Os componentes básicos de uma luminária são o receptáculo, refletores,
refratores e difusores. O receptáculo é o elemento de fixação da lâmpada,
proporcionando também o contato elétrico com o circuito de alimentação. Os
refletores são dispositivos que modificam a distribuição do fluxo luminoso.
Apresentam como finalidade básica o redirecionamento do fluxo para o plano de
trabalho. Podem ser de plástico, vidro, alumínio, devendo ser escolhido o material
que apresentar melhor relação entre refletância, peso e resistência à temperatura e
a impactos. O alumínio polido é uma das melhores opções atualmente encontradas
no mercado.
Os refratores, assim como os refletores, também modificam a distribuição do
fluxo luminoso; porém, por meio da transmitância. Têm a finalidade de proteger a
parte interna da luminária contra poeira e outros impactos. Os difusores têm a
finalidade de diminuir a luminosidade da fonte, reduzindo efeitos de ofuscamento.

2.2. Força Motriz


Os motores elétricos são responsáveis por parcela significativa do consumo de
energia elétrica nas indústrias. Estima-se que mais de 50 % da energia consumida
por este setor está relacionada a estes equipamentos. Os motores são aplicados
nas mais diversas atividades, como em caldeiras, esteiras industriais, elevadores,
bombeamento de água, abertura e fechamento de portões, dentre outros.
Embora o motor elétrico seja uma máquina com eficiência energética intrínseca
elevada (da ordem de 90 %), apenas 5 a 10 % do recurso energético primário chega
a ser utilizado na maioria dos sistemas motrizes. Isso acontece porque a energia

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passa através de vários equipamentos intermediários que formam o sistema,


conforme mostra o diagrama da figura 2.3.

Figura 2.3 - Diagrama de uso final de energia elétrica com finalidade de força motriz.
A seleção do tipo de motor que irá compor um determinado sistema é feita
normalmente pelo critério do menor custo inicial, desprezando-se os custos de
operação do equipamento ao longo de sua vida útil. Outros fatores também não
costumam ser levados em consideração, principalmente relacionados ao local de
instalação, se é agressivo ao funcionamento do motor, se é pouco ventilado, se
possui muita poeira, dentre outros, acarretando em um conjunto de perdas que pode
reduzir a eficiência do conjunto, além de reduzir a vida útil do equipamento.
Outro problema bastante encontrado, e que agrava o desperdício de energia
em sistemas motrizes, é a tendência em especificar motores com potências
significativamente superiores às necessárias, em nome de uma reserva de potência
que iria supostamente aumentar a confiabilidade do equipamento. Quando
superdimensionados, ou seja, em situações de baixo carregamento, os motores
elétricos apresentam acentuada queda de rendimento, além de baixo fator de
potência, como pode ser observado na figura 2.4, que apresenta a curva
característica de um motor de 20 cv, com destaque para o rendimento e o fator de
potência em uma situação de 30 % de carregamento.

Figura 2.4 - Curva característica de um motor de 20 cv, 4 pólos, 380 V.


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2.2.1. Classificação dos Motores


Os motores existentes no mercado classificam-se quanto à forma de corrente
em contínua e em alternada. Os motores de corrente contínua apresentam a
possibilidade de regulação precisa da velocidade, pois variando-se a tensão, varia-
se a velocidade. Seu custo, entretanto, é mais elevado, além de acarretar a
necessidade de instalação de fonte em corrente contínua ou retificadores, e na
necessidade de manutenção periódica das escovas devido ao centelhamento. Ainda
apresentam outras desvantagens, principalmente os de maior potência, por serem
volumosos, não sustentarem grandes velocidades e serem menos eficientes em
relação aos de corrente alternada.
Os motores de corrente alternada podem ser do tipo síncrono ou assíncrono
(indução). Os motores síncronos operam em velocidades fixas, apresentam
rendimento um pouco mais elevado do que os motores de indução e fator de
potência unitário. O custo deste tipo de motor é, no entanto, mais elevado,
principalmente quando se trata de motores de pequena potência. Seu uso é assim
restrito a equipamentos de grande potência nos quais a velocidade constante é
fundamental, como no caso de empresas têxteis.
Os motores assíncronos ou de indução são simples, robustos e mais baratos
do que os síncronos, sendo usados em quase todos os tipos de máquinas. Nestes
motores, a velocidade varia de acordo com a carga aplicada no eixo, sendo o mais
comumente utilizado nas indústrias e outros segmentos.
O motor de indução trifásico é composto por duas partes: o estator e o rotor,
conforme ilustra a figura 2.5.

Figura 2.5 - Estator e rotor de um motor elétrico.


O estator é geralmente equipado com três enrolamentos de cobre, um para
cada fase da rede de suprimento. O rotor normalmente tem uma construção muito
simples, sendo formado por uma grade cilíndrica com barras de cobre ou alumínio,
cujas extremidades estão em curto-circuito por meio de anéis de material condutor.
Os enrolamentos que compõem o estator, quando alimentados por tensões
trifásicas, geram um campo magnético girante no espaço, compreendido entre os
enrolamentos, com velocidade síncrona, induzindo uma tensão no rotor. Este, então,
gira na mesma direção do campo girante do estator, mas com uma velocidade
menor que a síncrona, de modo a manter um movimento relativo entre o campo do
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estator e o rotor. O movimento relativo garante que haja força eletromotriz induzida
no rotor e, com isso, a conversão de energia elétrica em energia mecânica de giro
no rotor.

2.2.2. Motores de Alto Rendimento


A evolução do projeto de motores ao longo do tempo trouxe grandes vantagens
em termo de custo e peso do equipamento. Se compararmos, por exemplo, os
dados referentes a um motor de 5 hp fabricado em 1888, com um equivalente
fabricado um século depois, verifica-se que o seu peso diminuiu de 450 kgf para
cerca de 35 kgf, e seu preço nominal (em valores de época, sem correção) foi
reduzido de US$ 800 para cerca de US$ 160. Isto se deve principalmente à
otimização dos processos de cálculo, reduzindo fatores de segurança
desnecessários com conseqüente diminuição das quantidades de ferro e cobre
contidos nos equipamentos, bem como à melhoria na qualidade da isolação dos
enrolamentos, que permitem a operação dos motores em temperaturas mais
elevadas. Nota-se, no entanto que como resultado desta evolução, dirigida à oferta
de um produto de preço mais reduzido, o rendimento dos motores caiu
significativamente.
Hoje em dia, entretanto, a indústria de motores tem condições de oferecer
equipamentos de alto rendimento, fisicamente similares aos modelos padrões
considerados de uso geral, mediante o emprego de materiais selecionados, maior
quantidade de cobre e ferro, processos de fabricação mais aperfeiçoados e
tolerâncias mais estreitas. Evidentemente, o emprego destas tecnologias acaba
ordenando o custo final do motor de alto rendimento.
Atualmente, já são disponibilizados no mercado sistemas de acionamento de
motores elétricos que otimizam de forma considerável a sua utilização, reduzindo o
consumo final de energia. Os inversores de freqüência são equipamentos que vêm
se transformado em uma boa opção para tal finalidade, sendo possível o
acionamento do motor da velocidade zero até a nominal da máquina. Motores
elétricos com sistemas de acionamento eficientes acoplados vêm sendo chamados
de motores de extra alto rendimento.
Os motores de alto rendimento apresentam em média eficiências 10 %
superiores às de motores convencionais de baixa potência (na faixa de 1 a 5 cv) e
de 3 % superiores aos rendimentos de motores convencionais de potência elevada
(200 cv), conforme ilustra a figura 2.6, que compara motores padrão, de alto
rendimento, e de extra alto rendimento de um determinado fabricante. Quanto ao
fator de potência, os motores de alto rendimento não são necessariamente mais
eficientes do que os convencionais. Entretanto a correção do fator de potência é
simples e não muito dispendiosa, não devendo ser encarada como um impedimento
na avaliação da possibilidade de redução de motores.

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Figura 2.6 - Curvas de rendimento de determinado fabricante de motores.


A utilização de motores de alto rendimento deve ser considerada como um
potencial interessante de racionalização do uso de energia. Sua atratividade torna-
se mais evidente nos casos de motores de baixa potência, elevado fator de carga,
longas horas de operação, novas aplicações e em determinados casos onde o
rebobinamento for necessário.
A economia de energia na utilização de motores eficientes deve ser avaliada
separadamente em três situações distintas:
- Instalar um motor eficiente em uma nova aplicação, ou em substituição a um
motor em final de vida útil, ou seja, dar prioridade para a aquisição de motores
eficientes sempre que uma nova aquisição seja necessária. Neste caso, recomenda-
se sempre a preferência por motores de alto rendimento que, mesmo apresentando
custos iniciais mais elevados, apresentam custos menores ao longo de sua vida útil;
- Instalar um motor eficiente quando o motor convencional em uso necessitar
passar por manutenção com custos associados, normalmente rebobinamento. Neste
caso, deve ser realizada uma análise econômica no intuito de verificar a viabilidade
da medida, que é mais facilmente obtida quando a aplicação em questão demanda
um elevado número de horas de operação do motor. No geral, recomenda-se a
substituição por motor de alto rendimento, pois o retorno do investimento é mais
rápido, pois deve-se subtrair o custo do rebobinamento no custo total da ação;
- Instalar um motor eficiente em substituição a um motor convencional em
operação. Tal possibilidade deve ser verificada com maior cuidado, através de
criteriosa análise técnica e econômica, dando atenção para o número de horas de
operação e o porte do equipamento, a fim de verificar se o motor antigo está mal
dimensionado e se o retorno do investimento vai ser atingido dentro de um prazo de
tempo razoável.

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2.3. Aquecimento
Os usos finais de aquecimento, obtidos através da conversão de energia
elétrica em calor, são diversos. No setor residencial tem-se chuveiros, torneiras e
pequenos fornos; no setor industrial tem-se o calor de processo, caldeiras, fundições
e fornos industriais; além de outras muitas finalidades onde é necessária a utilização
de sistemas de aquecimento, de água ou vapor.
De modo geral, a utilização da energia elétrica para aquecimento apresenta
custos superiores a outras alternativas, como o Sol ou óleos combustíveis, por
exemplo. Além disso, apresenta reduzido potencial de eficientização, estando
basicamente concentrado na substituição, parcial ou total, do sistema de
aquecimento elétrico pela alternativa mais econômica.
Os itens seguintes apresentam alguns usos típicos de sistemas de
aquecimento elétrico, destacando os potenciais de eficientização do sistema, ou sua
substituição por outra alternativa.

2.3.1. Aquecimento de Água para Banhos, Torneiras e Piscinas


O aquecimento elétrico é bastante utilizado para esta finalidade, principalmente
nos setores residencial e de comércio e serviços, como hotéis e motéis, por
exemplo. Segundo dados do PROCEL, o chuveiro elétrico é responsável por 25 a 35
% dos gastos com energia elétrica em uma residência.
Nestes casos, o aquecimento ocorre de forma direta, com a eletricidade
aquecendo diretamente o elemento (água) por efeito Joule através da passagem de
corrente elétrica. As principais vantagens dos aquecedores elétricos de água são o
baixo investimento inicial e a praticidade de instalação e uso. Sua grande
desvantagem é o custo elevado ao longo do tempo.
Uma alternativa ao aquecimento elétrico é o aquecimento a gás, mas que
também apresenta custos elevados ao longo do tempo, além de apresentar maiores
riscos à segurança.
Além dos prejuízos financeiros aos consumidores, a utilização de chuveiros
elétricos também impacta fortemente o sistema elétrico, uma vez que a grande
maioria dos chuveiros é ligada em horários coincidentes com os horários de ponta
estabelecidos pelas empresas do setor elétrico. Uma forma de reduzir este impacto
é através da utilização de sistemas de acumulação, já que a água pode ser aquecida
em outros horários, estando apropriada ao uso a qualquer tempo.
Outra alternativa à utilização de aquecimento elétrico em duchas, torneiras e
piscinas é o aquecimento solar. Tal alternativa é comprovadamente a mais viável
economicamente ao longo do tempo, e sua disseminação em larga escala ainda
esbarra em questões culturais e em um processo de instalação relativamente mais
complexo que os de sistemas convencionais. As figuras 2.7 e 2.8 apresentam

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esquemas de instalação de sistemas de aquecimento solar para ducha e torneiras e


para piscinas, respectivamente.

Figura 2.7 - Sistema de aquecimento solar de água para duchas e torneiras.

Figura 2.8 - Sistema de aquecimento solar de água para piscinas.


Um sistema solar para aquecimento de água é basicamente constituído por
coletores solares, reservatório térmico, tubulação e acessórios. Pode também
possuir um sistema de aquecimento de apoio, composto por sensor de temperatura
e aquecedor elétrico ou a gás, para permitir a utilização de água quente em longos
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períodos nublados. Sistemas solares para aquecimento de piscinas, como o da


figura 2.8, dispensam a utilização de reservatório térmico, uma vez que a própria
piscina funciona como reservatório. Requerem temperaturas normalmente mais
baixas que as de banho, e necessitam de capa térmica adequada para reduzir as
perdas de calor na piscina.
O sistema de aquecimento para banho da figura 2.7 é o mais simples possível,
chamado de sistema por termofissão. Nele, a água circula entre o coletor e o
reservatório sem a necessidade de bombas ou outros equipamentos. A água que
circula pelos coletores, por estar mais aquecida, possui menor massa específica, ou,
em linguagem popular, está mais “leve”. A água do reservatório, mais fria, possui
maior massa específica e está mais “pesada”, tendendo a “empurrar” a água que
está no coletor solar, que sobe até o reservatório, elevando um pouco sua
temperatura, criando um ciclo que se mantém de forma satisfatória para situações
de demanda de água não tão elevadas. Em casos de altas demandas, como em
piscinas e hotéis, este sistema é inviável, devendo ser utilizado o sistema com
circulação forçada, que faz uso de bomba e sensor de temperatura. Para que o
sistema por termofissão funcione de maneira adequada é necessário que haja um
desnível mínimo de 30 cm, e máximo de 5 m, entre a parte superior do coletor e a
inferior do reservatório, conforme ilustrado na figura 2.7. Em situações onde não seja
possível obter tal desnível, a solução é a instalação de uma válvula solar de desnível
negativo na tubulação que leva a água aquecida do coletor ao reservatório, cuja
função é impedir que a água quente retorne do reservatório o coletor.
Os reservatórios térmicos, também chamados de “boilers”, devem apresentar
características de isolamento que impeçam as perdas de calor entre os meios
interno e externo. Podem ser classificados em reservatórios de baixa e alta pressão,
que devem ser utilizados de acordo com a aplicação. Os reservatórios de baixa
pressão, que suportam até 10 m.c.a. (metros de coluna d’água), são utilizados
quando o desnível máximo entre a parte superior da caixa d’água e a parte inferior
do reservatório térmico não for superior a 10 m. Reservatórios de alta pressão
podem apresentar maiores desníveis. Reservatórios de baixa pressão devem ser
equipados com um respiro, cuja saída deve estar situada 20 cm acima da lâmina
d’água da caixa d’água.

2.3.2. Outras Aplicações


Em outras aplicações de aquecimento elétrico, como caldeiras, fornos e
estufas, o potencial de eficientização é limitado. Nestes casos, o aquecimento
elétrico também é realizado de forma direta, com eletrodos ou resistências elétricas
imersos diretamente na água, para uso direto ou para formação de vapor. Em
função de sua forma construtiva, a eficiência de caldeiras elétricas, por exemplo,
atinge valores bastante elevados, da ordem de 95 %, muito maiores que os obtidos
por caldeiras a combustão.

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O elevado custo da eletricidade tem tornado proibitiva a utilização de


aquecimento elétrico em escala industrial. Estudos comprovam que a energia
elétrica só se apresenta viável para fins de aquecimento no caso de grandes
consumidores (classes A2, A3 e A3a), que pagam uma tarifa de energia elétrica
mais baixa.
Em outros casos, com base nos custos atuais, sistemas de aquecimento a gás
natural (GN), gás liquefeito de petróleo (GLP), e mesmo a combustíveis fósseis, têm
se transformado em opções economicamente mais viáveis para sistemas de
aquecimento de consumidores industriais.
Ações de eficientização em sistemas de aquecimento elétrico estão muito
voltadas para a forma de utilização dos sistemas e aos equipamentos periféricos,
como sistemas de armazenamento e transporte de calor, sistemas de bombeamento
de água, entre outros.

2.3.3. Isolamento Térmico


As perdas envolvidas em processos de armazenamento e transporte de calor
são, muitas vezes, mais significativas do que as verificadas nos processos de
geração de calor propriamente ditos. Tais perdas podem estar associadas à
condução, convecção e irradiação, sendo as perdas por condução de calor nas
paredes dos materiais as mais comuns.
O isolamento térmico objetiva, além da segurança pessoal, a manutenção das
temperaturas de processo, reduzindo perdas. Sua função básica é retardar o fluxo
de energia térmica não desejada, para dentro ou para fora do equipamento.
Apresenta bom potencial de eficientização, principalmente se levado em conta o
baixo custo associado.
Os materiais conceituados como bons isolantes térmicos são aqueles que
apresentam baixos valores de condutibilidade térmica. Cada material apresenta um
valor típico de condutibilidade térmica, que varia em função da temperatura.
Superfícies e tubulações que não apresentam isolamento térmico podem apresentar
valores de perdas muito elevados, proporcionais às temperaturas envolvidas.
Mesmo em sistemas que possuam isolamento térmico, faz-se necessária a
verificação se o material isolante, ou a forma de isolamento, é a mais eficiente. Tal
verificação pode ser realizada através de medições de temperatura no interior do
equipamento e no ambiente externo e através das características do isolamento
térmico (espessura de isolamento, diâmetro da tubulação, área do equipamento e
coeficiente de condutibilidade térmica do material).
Para se reduzir perdas de calor em equipamentos e tubulações pode ser
utilizado um melhor isolante, com menor condutibilidade térmica, aumentar a área
isolada ou a espessura do isolamento, ou todas as soluções em conjunto. Uma outra
solução interessante pode ser diminuir o comprimento das tubulações.

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É importante observar que, em determinadas situações, o emprego de


materiais com custos iniciais mais elevados pode representar uma economia ao
longo do tempo, em função de suas melhores propriedades resultarem em reduções
de perdas e, conseqüentemente, reduções de custos com energia elétrica.

2.4. Refrigeração
A refrigeração é o nome dado ao processo de remoção do calor de um
determinado meio e a manutenção desta condição por meios mecânicos ou naturais.
Existem diversas aplicações da refrigeração, sendo a refrigeração de alimentos e
bebidas e a climatização de ambientes as mais importantes e conhecidas.
2.4.1. Refrigeração de Materiais
A refrigeração de materiais, normalmente chamada apenas de refrigeração, é
bastante útil para o homem, pois assim ele pode manter o material, normalmente
alimentos, em seu estado natural através do uso do frio, sem a utilização da
defumação ou salgamento do material a ser consumido.
Nos dias atuais, a aplicação da refrigeração é encontrada em diversas
atividades como, por exemplo, no uso doméstico, comercial, industrial e de
transportes.
Pode-se entender a lógica de funcionamento dos principais sistemas de
refrigeração estudando o funcionamento de um refrigerador doméstico comum,
também conhecido como sistema de compressão de vapor.
Este equipamento funciona a partir da aplicação dos conceitos de calor e
trabalho, utilizando-se de um fluido refrigerante. Fluido refrigerante é uma substância
que, circulando dentro de um circuito fechado, é capaz de retirar calor de um meio
enquanto se vaporiza a baixa pressão. Este fluido entra no evaporador a baixa
pressão, na forma de mistura de líquido e vapor, e retira a energia do meio interno
refrigerado (energia dos alimentos) enquanto passa para o estado de vapor. O vapor
entra no compressor onde é comprimido e bombeado, tornando-se vapor
superaquecido e deslocando-se para o condensador, que tem a função de liberar a
energia retirada dos alimentos e a resultante do trabalho de compressão para o meio
exterior. O fluido, ao liberar energia, passa do estado de vapor superaquecido para
líquido (condensação) e finalmente entra no dispositivo de expansão, onde tem sua
pressão reduzida, para novamente ingressar no evaporador e repetir-se assim o
ciclo. Esse processo é ilustrado através da figura 2.9.

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Figura 2.9 - Ciclo de compressão do vapor.


A refrigeração doméstica está voltada principalmente para o uso de pequenos
refrigeradores e freezers. A figura 2.10 apresenta um diagrama esquemático de um
refrigerador comumente encontrado nas residências.

Figura 2.10 - Esquema de um refrigerador doméstico.


A capacidade dos refrigeradores domésticos varia muito, com temperaturas na
faixa de - 8 a - 18 oC no compartimento de congelados, e de + 2 a + 7 oC no
compartimento dos produtos resfriados.
A refrigeração comercial abrange os refrigeradores especiais ou de grande
porte usados em restaurantes, sorveterias, bares, açougues, laboratórios, dentre
outros. As temperaturas de congelamento e estocagem situam-se geralmente, entre
- 5 a - 30 oC. A figura. A figura 2.11 ilustra dois tipos de refrigeradores comerciais
bastante utilizados.

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Figura 2.11 - Refrigerador comercial para armazenar alimentos, à esquerda, e para


armazenar bebidas, à direita.
Como regra geral, os equipamentos industriais são maiores que os comerciais
em tamanhos e têm como característica marcante requerer um operador de serviço.
São aplicações típicas industriais as fábricas de gelo, grandes instalações de
empacotamento de gêneros alimentícios (carnes, peixes, aves), cervejarias, fábricas
de laticínios, de processamento de bebidas concentradas e outras. A figura 2.12
mostra um refrigerador industrial para armazenamento e empacotamento de carne.

Figura 2.12 - Refrigerador industrial.


A refrigeração marítima refere-se à refrigeração a bordo de embarcações e
inclui, por exemplo, a refrigeração para barcos de pesca e para embarcações de
transporte de carga perecíveis.
A refrigeração de transporte relaciona-se com equipamentos de refrigeração
em caminhões e vagões ferroviários refrigerados. A figura 2.13 ilustra um caminhão
frigorífico.

Figura 2.13 - Caminhão frigorífico para transporte de alimentos.


Como pode ser observado, as aplicações da refrigeração são as mais variadas,
sendo, de certa forma, bastante difícil estabelecer de forma precisa a fronteira de
cada divisão.
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2.4.2. Climatização de Ambientes


A climatização de ambientes se refere ao processo de tratamento de ar em
recintos fechados, de modo a controlar simultaneamente a sua temperatura,
umidade, pureza e movimentação, para a obtenção de um ambiente mais agradável.
As técnicas de climatização são conhecidas como sistemas de condicionamento de
ar, ou simplesmente ar condicionado.
Para se alcançar esse ambiente agradável é necessário que se coloque o ar de
um recinto fechado em movimento contínuo, fazendo-o passar por elementos que
fazem o tratamento de temperatura e umidade.
2.4.2.1 - Tipos de Condicionadores de Ar
Existem diversas tecnologias atualmente disponíveis no mercado que podem
propiciar a climatização de ambientes, dentre elas encontram-se os condicionadores
de ar tipo janela, do tipo self-contained, split e o fan-coil/chiller.
Os condicionadores de ar tipo janela são instalados em janelas ou em paredes
a alturas acima de 1,60 metros, são muito utilizados em residências e em prédios de
escritórios. Estes equipamentos apresentam capacidade de resfriamento que varia
de 0,5 a 3 Toneladas de Refrigeração (TR), sendo geralmente resfriados a ar.
O ciclo de refrigeração de um aparelho de condicionamento de ar é bastante
semelhante ao de um refrigerador. Em um aparelho de ar-condicionado o
compressor comprime o gás frio, fazendo com que ele se torne gás quente de alta
pressão (lado quente). Este gás quente circula através de um trocador de calor
(condensador) e se condensa para o estado líquido. O líquido escoa através de uma
válvula de expansão, vaporizando-se neste processo para se tornar gás frio de baixa
pressão (lado frio). Este gás frio circula através do outro trocador de calor
(evaporador) que permite que o gás absorva calor e esfrie o ar do ambiente. A figura
2.14 ilustra um condicionador de ar do tipo janela.

Figura 2.14 - Condicionador de ar do tipo janela.


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Estes condicionadores podem também apresentar o condensador operando


como evaporador no período de inverno e funcionando como bomba de calor para o
aquecimento. É o chamado ciclo reverso.
Os condicionadores de ar do tipo self-contained podem ser encontrados com
condensação a ar ou a água. Eles podem ser instalados diretamente no recinto onde
o ar deve ser resfriado ou em casas de máquinas, podendo dessa forma conter
dutos de ventilação com o objetivo de transportar o ar frio aos ambientes a serem
climatizados. São destinados ao uso em lojas, restaurantes, centros de computação,
em edifícios industriais, bancos, grandes residências, etc. A figura 2.15 mostra o
condicionador de ar tipo self-contained, com condensação a ar.

Figura 2.15 - Aparelho self-contained com uma rede de dutos.


Os condicionadores de ar do tipo split são equipamentos bastante adaptáveis
ao meio em termos estéticos e funcionam com baixo nível de ruído, uma vez que
seu compressor fica na parte externa junto ao condensador. Sua aplicação pode ser
feita junto ao piso, ao teto e até de forma embutida no forro. Podem ser utilizados
em residências, escolas, escritórios, laboratórios, bibliotecas, dentre outros. Este tipo
de equipamento pode ser utilizado em ambientes onde seria impossível a utilização
do ar condicionado tipo janela. A figura 2.16 ilustra este tipo de equipamento.

Figura 2.16 - Condicionador de ar do tipo split.


Outro tipo de sistema de refrigeração encontrado no mercado é o fan-
coil/chiller. Neste sistema o ambiente a ser climatizado troca calor com um
equipamento composto por uma serpentina e um ventilador (fan-coil). Pela
serpentina tem-se água fria em circulação, proveniente do chiller, normalmente a
uma temperatura de 7o C, saindo a uma temperatura média de 12 oC. O calor

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retirado do ambiente climatizado e levado através da água em circulação é trocado


com o fluido refrigerante no evaporador do chiller. Este fluido refrigerante é
condensado através do uso de um fluxo de água, que circula entre a torre de
arrefecimento e o condensador. A figura 2.17 mostra uma unidade resfriadora
(chiller).

Figura 2.17 - Ilustração de uma unidade resfriadora (chiller).

2.5. Outros
Como outros usos finais de energia elétrica podem ser destacados os
aparelhos eletro-eletrônicos e sistemas a ar comprimido. As instalações elétricas,
que “abastecem” todos os usos finais e que, se não estiverem bem projetadas e em
bom estado de conservação podem resultar em perdas elevadas, serão abordadas
apenas no Capítulo 6, onde são apresentadas sugestões para redução de perdas e
melhoria da eficiência de instalações elétricas.

2.5.1. Eletro-eletrônicos
A divisão dos usos finais em classes, aliada ao crescimento tecnológico
verificado e ao surgimento dos mais diversos aparelhos, fez surgir um uso final que
até algumas décadas atrás não se configurava como representativo: os eletro-
eletrônicos.
De uma forma geral, muitos dos aparelhos eletro-eletrônicos podem ser
distribuídos em outras classes. Como exemplo, ventiladores residenciais e
eletrodomésticos como liquidificadores, batedeiras e máquinas de lavar roupa
possuem sistemas motrizes como principal componente; torradeiras e fritadeiras são
compostas por sistemas de aquecimento, além de outros exemplos.
Devido às suas finalidades e às suas capacidades reduzidas, principalmente se
comparados a equipamentos mais robustos, tais aparelhos são normalmente
classificados neste uso final. Além disto, a grande maioria deles têm em comum o
fato de apresentarem pouco ou nenhum potencial de eficientização, seja pela
indisponibilidade de modelos mais eficientes no mercado, seja pelos conceitos de
estética e conforto que proporcionam, sendo muitas vezes o principal ponto de
decisão na compra de um eletro-eletrônico.

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A principal recomendação técnica aplicada a este uso final é a preferência por


equipamentos que possuam os melhores índices de eficiência energética
apresentados nas etiquetas de conservação de energia. Atualmente, equipamentos
como máquinas de lavar roupas, ventiladores e televisores são avaliados pelo
INMETRO, com alguns modelos tendo recebido o Selo PROCEL de economia de
energia, indicando bons níveis de eficiência energética.

2.5.2. Sistemas a Ar Comprimido


Sistemas a ar comprimido são bastante utilizados em processos industriais,
sendo uma das formas de transmissão de energia mais antigas existentes. Se
projetados, operados e mantidos de forma inadequada podem representar perdas
excessivas, resultando em custos elevados com energia elétrica.
Os componentes básicos de um sistema a ar comprimido são o compressor,
resfriador, filtros, secador, sistema de armazenamento, sistema de distribuição e
pontos de consumo final.
A seleção do compressor de ar mais adequado a cada aplicação é o primeiro
fator a ser considerado em um projeto de sistema a ar comprimido. Existem dois
tipos básicos de compressores de ar, os alternativos (de pistão), indicados para
aplicações de pequenas vazões, e os rotativos, divididos em parafuso, indicados
para pequenas a grandes vazões, e centrífugo, indicados para vazões muito
grandes. Em aplicações onde os compressores de parafuso e de pistão operem sob
as mesmas condições, o de parafuso normalmente apresenta menores custos ao
longo de sua vida útil. Também é recomendada a utilização de mais de um
compressor, atuando em sistemas de rodízio.
O compressor de ar é acionado por um motor elétrico, e este será ligado ou
desligado de acordo com a necessidade de ar requerida pelo processo. Em sistemas
de parada e partida, o motor elétrico é acionado até que a pressão do reservatório
atinja um valor determinado, quanto, então, é desligado. Sistemas de velocidade
constante, ao contrário, demandam operação continua do motor, e quando a
pressão atinge o valor determinado o ar aspirado é deslocado pela válvula de
aspiração.
Com este funcionamento típico, semelhante ao de outros sistemas motrizes,
pode-se concluir que uma alternativa interessante para a eficientização de sistemas
a ar comprimido é a utilização de motores de alto rendimento acionados por
sistemas eficientes, como inversores de freqüência, que possam ajustar a operação
do motor à demanda de ar.
Para o projeto da rede de distribuição, faz-se necessário o conhecimento dos
principais pontos de consumo, a fim de se definir o tipo de rede (fechada ou aberta)
e otimizar o seu percurso. Uma rede de distribuição melhor distribuída reduz a
possibilidade de vazamentos, grande causador de perdas em sistemas a ar
comprimido. Outra alternativa adotada para a redução do consumo de energia em
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sistemas de distribuição é a instalação de registros ao longo da rede, permitindo o


fechamento de trechos não necessários em determinados momentos, evitando que
o circuito de ar comprimido mantenha-se pressurizado sem a devida necessidade.
Existem três pontos de perdas críticas comuns a praticamente todos os
sistemas a ar comprimido: vazamentos de ar comprimido, perdas de carga (queda
de pressão) e temperatura de admissão do ar.
Na prática as perdas por vazamentos não podem ser completamente evitadas,
mas devem ser reduzidas, não excedendo a 5 % da capacidade instalada do
sistema. Estas perdas só podem ser reduzidas se houver um programa de
manutenção criterioso na empresa, prevendo inspeção periódica completa ao longo
de toda a rede de distribuição e nos pontos de consumo. Apenas para ilustrar a
importância de um plano de manutenção que evite os vazamentos, a tabela 2.6
apresenta relações entre diâmetros de furos e perdas de ar e energéticas em um
sistema a ar comprimido operando a 7 bar de pressão durante 6.000 h/ano.
Tabela 2.6 - Perdas em função de vazamentos em sistemas a ar comprimido.
Diâmetro do furo Perda Perda Consumo anual
(mm) (l/min) (kW) (kWh)
0,8 12 0,1 600
1,5 186 1,0 6.000
3,0 660 3,5 21.000
6,0 2.750 15,0 90.000

As perdas por vazamento estão relacionadas principalmente a válvulas, tubos,


mangueiras e conexões mal vedadas ou em estado de conservação precário,
apresentando furos ou pontos de corrosão.
Sistemas a ar comprimido operando em pressões superiores às demandadas
pela aplicação também apresentam elevadas perdas de energia. A pressão de
trabalho mais elevada pode ser resultado de dimensionamentos incorretos do
compressor e da rede de distribuição, de manutenção inadequada dos elementos
filtrantes ou de regulagem imprecisa da pressão nos pontos de consumo.
Finalmente, a elevação da temperatura ambiente no ponto de admissão do ar a
ser comprimido pode resultar em elevação de até 1 % do consumo de energia a
cada 4 ºC de elevação da temperatura.

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3. GESTÃO DA UTILIZAÇÃO DA ENERGIA

Este capítulo tem como objetivo a apresentação de potenciais de eficientização


energética chamados pelo presente texto de não-técnicos, relacionados à gestão da
energia, caso de ações de gerenciamento pelo lado da demanda (GLD), e ações de
caráter predominantemente econômico, cujo objetivo direto é reduzir custos com
energia, mesmo sem a substituição de um método ineficiente por outro mais
eficiente. Exemplos desta ação são os reajustes de contratos tarifários, geração
própria no horário de ponta, em substituição à geração convencional, e correção do
fator de potência.
Neste ponto é importante citar que muitos autores diferenciam os termos
eficientização e racionalização. O primeiro refere-se às ações apresentadas no
capítulo anterior, onde a implementação do sistema eficiente se mantém
independentemente da operação e há necessidade de projeto de especificação e
instalação. O termo racionalização, entretanto, está mais relacionado a estratégias
de gestão, necessitando de uma rotina para sua operação, mesmo que algumas
delas sendo executadas em intervalos de tempo mais longos. Normalmente estas
ações requerem um planejamento para alteração de rotinas, como, por exemplo, o
desligamento programado de cargas em determinados horários.

3.1. Tarifação
Antes de apresentar as potenciais técnicas para economia de energia através
de reajustes tarifários, é importante citar algumas definições relacionadas à tarifação
de energia elétrica. A maioria das definições apresentadas pode ser consultada na
Resolução ANEEL no 414/2010.

3.1.1. Definições
- Energia elétrica ativa: energia elétrica que pode ser convertida em outra
forma de energia, expressa em quilowatts-hora (kWh).
- Energia elétrica reativa: energia elétrica que circula continuamente entre os
diversos campos elétricos e magnéticos de um sistema de corrente alternada, sem
produzir trabalho, expressa em quilovolt-ampere-reativo-hora (kVArh).
- Demanda: média das potências elétricas ativas (kW) ou reativas (kVAr),
solicitadas ao sistema elétrico pela parcela da carga instalada em operação na
unidade consumidora, durante um intervalo de tempo especificado.
- Demanda contratada: demanda de potência ativa (kW) a ser obrigatória e
continuamente disponibilizada pela distribuidora, no ponto de entrega, conforme
valor e período de vigência fixados no contrato de fornecimento e que deve ser
integralmente paga, seja ou não utilizada durante o período de faturamento.
- Demanda de ultrapassagem: parcela da demanda de potência ativa medida
(kW) que excede o valor da demanda contratada.
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- Demanda medida: maior demanda de potência ativa (kW), verificada por


medição, integralizada no intervalo de 15 minutos durante o período de faturamento.
- Limite de tolerância de demanda: limite acima do qual será aplicada a tarifa
de demanda de ultrapassagem, estabelecido em 5 % dos valores contratados.
- Demanda faturável: valor da demanda de potência ativa (kW) considerada
para fins de faturamento, com aplicação da respectiva tarifa. Em situações onde a
demanda medida seja igual ou inferior à demanda contratada, a demanda faturada
será a própria demanda contratada; em situações onde a demanda medida seja
maior que a demanda contratada e menor ou igual ao limite mínimo de tolerância de
demanda, a demanda faturada será a própria demanda medida, com cobrança de
tarifa normal de demanda; e em situações onde a demanda medida seja maior que o
limite de tolerância de demanda, a demanda faturada será composta por duas
parcelas: a primeira será composta pela demanda medida, sendo cobrada sobre
esta parcela a tarifa normal de demanda, e a segunda será composta pela diferença
entre a demanda medida e a contratada, sendo cobrada sobre esta parcela a tarifa
de demanda de ultrapassagem.
- Tensão primária de distribuição: tensão disponibilizada no sistema elétrico
da distribuidora com valores padronizados iguais ou superiores a 2,3 kV.
- Tensão secundária de distribuição: tensão disponibilizada no sistema
elétrico da distribuidora com valores padronizados inferiores a 2,3 kV.
- Fator de carga: razão entre a demanda média e a demanda máxima da
unidade consumidora, ocorridas no mesmo intervalo de tempo especificado.
- Fator de demanda: razão entre a demanda máxima num intervalo de tempo
especificado e a carga instalada na unidade consumidora.
- Fator de potência: razão entre a energia elétrica ativa e a raiz quadrada da
soma dos quadrados das energias elétricas ativa e reativa, consumidas num mesmo
período especificado.
- Tarifa monômia de fornecimento: aquela que é constituída por preços
aplicáveis unicamente ao consumo de energia elétrica ativa.
- Tarifa binômia de fornecimento: aquela constituída por preços aplicáveis ao
consumo de energia elétrica ativa e à demanda faturável.
- Posto tarifário ponta: período composto por 3 horas diárias consecutivas,
exceção feita aos sábados, domingos e feriados nacionais, definidas pela
distribuidora considerando as características do seu sistema elétrico. É considerado
o período em que o sistema elétrico encontra-se mais carregado, com conseqüente
aplicação de tarifas mais elevadas.
- Posto tarifário intermediário: período de horas conjugado ao posto tarifário
ponta, sendo uma hora imediatamente anterior e outra imediatamente posterior.

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- Posto tarifário fora de ponta: período composto pelo conjunto das horas
diárias consecutivas e complementares àquelas definidas nos postos ponta e
intermediário. Período em que o sistema elétrico encontra-se menos carregado, com
conseqüente aplicação de tarifas reduzidas.
- Período úmido (U): período de 5 ciclos de faturamento consecutivos,
referente aos meses de dezembro de um ano a abril do ano seguinte. É o período
considerado de maiores índices de chuvas, contribuindo para o aumento da
capacidade dos reservatórios de hidrelétricas. Conseqüência disto é a aplicação de
tarifas reduzidas.
- Período seco (S): período de 7 ciclos de faturamento consecutivos, referente
aos meses de maio a novembro. É o período considerado de menores índices de
chuvas, contribuindo para a redução dos níveis dos reservatórios. Conseqüência
disto é a aplicação de tarifas mais elevadas.

3.1.2. Grupos de Consumidores e Estruturas Tarifárias Existentes


O primeiro ponto de enquadramento tarifário a ser definido é em função da
tensão de fornecimento. As unidades consumidoras são divididas em dois grupos,
“A” e “B”.
O grupo “A” é composto por unidades consumidoras com fornecimento em
tensão igual ou superior a 2,3 kV, ou atendidas em tensão inferior a 2,3 kV a partir
de sistema subterrâneo de distribuição. Também chamado de grupo de
consumidores de alta tensão, é caracterizado pela tarifa binômia.
Para casos de unidades consumidoras localizadas em áreas servidas por
sistema subterrâneo de distribuição em tensão secundária, o consumidor poderá
optar por faturamento com aplicação das tarifas do grupo “A” (subgrupo “AS” – ver
tabela 3.1), desde que a carga instalada da unidade consumidora seja superior a 75
kW.
O grupo “B” é composto por unidades consumidoras com fornecimento em
tensão inferior a 2,3 kV. Também chamado de grupo de consumidores de baixa
tensão, é caracterizado pela tarifa monômia. Podem ser atendidas em tensão
superior a 2,3 kV e faturadas no grupo “B” se atendido pelo menos um dos seguintes
critérios:
- A potência nominal total dos transformadores for igual ou inferior a 112,5 kVA;
- A potência nominal total dos transformadores for igual ou inferior a 750 kVA,
se classificada na subclasse cooperativa de eletrificação rural;
- A unidade consumidora se localizar em área de veraneio ou turismo cuja
atividade seja a exploração de serviços de hotelaria ou pousada, independente-
mente da potência nominal total dos transformadores;

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- Quando, em instalações permanentes para a prática de atividades esportivas


ou parques de exposições agropecuárias, a carga instalada em projetores utilizados
na iluminação dos locais for igual ou superior a 2/3 da carga instalada total.
Os grupos “A” e “B” são divididos em subgrupos, conforme apresentado na
tabela 3.1.
Tabela 3.1 - Grupos e subgrupos divididos segundo a tensão de fornecimento e as
classes de atendimento.
Grupo A Grupo B
Tensão de
Subgrupo Subgrupo Classe
Fornecimento
A1 ≥ 230 kV
B1 Residencial
A2 88 a 138 kV
A3 69 kV
B2 Rural
A3a 30 a 44 kV
A4 2,3 a 25 kV B3 Demais classes
< 2,3 kV
AS B4 Iluminação pública
(sistema subterrâneo)

As unidades consumidoras faturadas com aplicação da tarifa do grupo “B”


podem ser enquadradas na modalidade tarifária convencional monômia ou na
modalidade tarifária horária branca. As unidades consumidoras faturadas com
aplicação da tarifa do grupo “A” podem optar pela modalidade tarifária convencional,
na modalidade tarifária horária verde, ou na modalidade tarifária horária azul.
A modalidade tarifária convencional monômia é aplicada sem distinção horária,
com tarifa única aplicável ao consumo de energia (R$/MWh), calculada conforme a
equação (3.1).
$ c _ ativo  Tconsumo  C _ ativo (3.1)

Sendo:
$c_ativo: Parcela de custo referente ao consumo ativo;
Tconsumo: Tarifa de consumo estabelecida em legislação;
C_ativo: Consumo ativo efetivamente medido.
A modalidade tarifária horária branca é aplicada às unidades consumidoras do
grupo B, exceto para o subgrupo B4 e para as subclasses baixa renda do subgrupo
B1, sendo caracterizada por tarifas diferenciadas de consumo de energia elétrica de
acordo com as horas de utilização do dia e segmentada em três postos tarifários,
considerando-se uma tarifa para o consumo de energia (R$/MWh) para o posto
tarifário ponta, uma tarifa para o consumo de energia (R$/MWh) para o posto
tarifário intermediário, e uma tarifa para o consumo de energia (R$/MWh) para o
posto tarifário fora de ponta, calculadas conforme a equação (3.2).

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$ c _ ativo  Tconsumo _ P  C _ ativo _ P   Tconsumo _ I  C _ ativo _ I   Tconsumo _ F  C _ ativo _ F 


(3.2)
Sendo:
Tconsumo_P: Tarifa de consumo para o posto tarifário ponta, estabelecida em
legislação;
C_ativo_P: Consumo ativo efetivamente medido no posto tarifário ponta;
Tconsumo_I: Tarifa de consumo para o posto tarifário intermediário, estabelecida
em legislação;
C_ativo_I: Consumo ativo efetivamente medido no posto tarifário intermediário;
Tconsumo_F: Tarifa de consumo para o posto tarifário fora de ponta, estabelecida
em legislação;
C_ativo_F: Consumo ativo efetivamente medido no posto tarifário fora de
ponta.
A modalidade tarifária convencional binômia é caracterizada pela aplicação de
tarifas de consumo de energia elétrica e/ou demanda de potência
independentemente das horas de utilização do dia e dos períodos do ano,
calculadas conforme as equações (3.1), já apresentada, e (3.3) a (3.6).
$ c _ reativo  Tconsumo  C _ reativo (3.3)

$ d _ ativa  Tdemanda  D _ ativa (3.4)

$ d _ reativa  Tdemanda  D _ reativa (3.5)

$ d _ ultrapassa gem  Td _ ultrapassa gem  D _ medida  D _ contratada  (3.6)

Sendo:
$c_reativo: Parcela de custo referente ao consumo reativo;
C_reativo: Consumo reativo efetivamente medido, se houver;
$d_ativa: Parcela de custo referente à demanda ativa;
Tdemanda: Tarifa de demanda, estabelecida em legislação;
D_ativa: Demanda ativa contratada, quando a efetivamente medida for igual ou
menor que a contratada; ou demanda ativa efetivamente medida, quando a
demanda medida for maior que a contratada;
$d_reativa: Parcela de custo referente à demanda reativa;
D_reativa: Demanda reativa efetivamente medida, se houver;
$d_ultrapassagem: Parcela de custo referente à demanda de ultrapassagem;
Td_ultrapassagem: Tarifa de demanda de ultrapassagem estabelecida em
legislação;
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D_medida: Demanda ativa efetivamente medida;


D_contratada: Demanda ativa contratada.
A modalidade tarifária horária azul é uma modalidade aplicada às unidades
consumidoras do grupo A, caracterizada por tarifas diferenciadas de consumo de
energia elétrica e de demanda de potência, de acordo com as horas de utilização do
dia, calculadas conforme as equações (3.7) a (3.11).
$ c _ ativo  Tconsumo _ P  C _ ativo _ P   Tconsumo _ F  C _ ativo _ F  (3.7)

$ c _ reativo  Tconsumo _ P  C _ reativo _ P   Tconsumo _ F  C _ reativo _ F  (3.8)

$ d _ ativa  Tdemanda _ P  D _ ativa _ P   Tdemanda _ F  D _ ativa _ F  (3.9)

$ d _ reativa  Tdemanda _ P  D _ reativa _ P   Tdemanda _ F  D _ reativa _ F  (3.10)

$ d _ ultrapassa gem  Td _ ultrapassa gem _ P  D _ medida _ P  D _ contratada _ P 


 Td _ ultrapassa gem _ F  D _ medida _ F  D _ contratada _ F 
(3.11)

Sendo:
Tconsumo_P: Tarifa de consumo para o posto tarifário ponta, estabelecida em
legislação;
C_ativo_P: Consumo ativo efetivamente medido no posto tarifário ponta;
Tconsumo_F: Tarifa de consumo para o posto tarifário fora de ponta estabelecida
em legislação;
C_ativo_F: Consumo ativo efetivamente medido no posto tarifário fora de
ponta;
C_reativo_P: Consumo reativo efetivamente medido no posto tarifário ponta, se
houver;
C_reativo_F: Consumo reativo efetivamente medido no posto tarifário fora de
ponta, se houver;
Tdemanda_P: Tarifa de demanda no posto tarifário ponta, estabelecida em
legislação;
D_ativa_P: Demanda ativa contratada no posto tarifário ponta, quando a
efetivamente medida for igual menor que a contratada; ou demanda ativa
efetivamente medida, quando a demanda medida for maior que a contratada;
Tdemanda_F: Tarifa de demanda no posto tarifário fora de ponta, estabelecida em
legislação;
D_ativa_F: Demanda ativa contratada no horário fora de ponta, quando a
efetivamente medida for igual ou menor que a contratada; ou demanda ativa
efetivamente medida, quando a demanda medida for maior que a contratada;

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D_reativa_P: Demanda reativa efetivamente medida no posto tarifário ponta, se


houver;
D_reativa_F: Demanda reativa efetivamente medida no posto tarifário fora de
ponta, se houver;
Td_ultrapassagem_P: Tarifa de demanda de ultrapassagem no posto tarifário ponta,
estabelecida em legislação como duas vezes o valor da tarifa normal de demanda
para o mesmo posto tarifário;
D_medida_P: Demanda ativa efetivamente medida no posto tarifário ponta;
D_contratada_P: Demanda ativa contratada no posto tarifário ponta;
Td_ultrapassagem_F: Tarifa de demanda de ultrapassagem no posto tarifário fora de
ponta, estabelecida em legislação como duas vezes o valor da tarifa normal de
demanda para o mesmo posto tarifário;
D_medida_F: Demanda ativa efetivamente medida no posto tarifário fora de
ponta;
D_contratada_F: Demanda ativa contratada no posto tarifário fora de ponta.
A modalidade tarifária horária verde é estruturada para aplicação de tarifas
diferenciadas de consumo de energia elétrica de acordo com as horas de utilização
do dia, bem como de uma única tarifa de demanda de potência, calculadas conforme
as equações (3.7) e (3.8), para o caso de consumo, e (3.4), (3.5) e (3.6), para o caso
de demanda.
As unidades consumidoras do grupo “A” devem obrigatoriamente assinar
contrato com a empresa distribuidora de energia elétrica onde, além das cláusulas
essenciais de contratos administrativos, constem informações como: tensão de
fornecimento; demanda contratada, especificada por posto tarifário, quando for o
caso, observado o valor mínimo contratável de 30 kW; definições dos horários de
ponta e fora de ponta, nos casos de modalidades tarifárias horárias; condições de
aplicação da tarifa de ultrapassagem, entre outros.
Os critérios de inclusão das unidades consumidoras do grupo “A” nas
modalidades tarifárias convencional binômia, horária azul ou verde são os seguintes:
- Unidades consumidoras com tensão de fornecimento inferior a 69 kV e com
demanda de potência contratada inferior a 300 kW podem optar pelo
enquadramento na modalidade tarifária convencional binômia, horária azul ou verde;
- Unidades consumidoras com tensão de fornecimento inferior a 69 kV e com
demanda de potência contratada igual ou superior a 300 kW, devem optar pelo
enquadramento na modalidade tarifária horária azul ou verde;
- Unidades consumidoras com tensão de fornecimento igual ou superior a 69
kV são enquadradas compulsoriamente na modalidade tarifária horária azul.

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As modalidades tarifárias convencional binômia, horária azul e verde são


aplicadas de acordo com a estrutura resumida pela tabela 3.2.
Tabela 3.2 - Resumo de aplicação de valores por estrutura tarifária.
Modalidade Tarifária Modalidade Tarifária
Modalidade Tarifária Azul
Convencional Binômia Verde
Dois valores: um valor
Consumo Um único valor, o Dois valores: um valor para o
para o horário de ponta, e
ativo efetivamente medido no horário de ponta, e um valor
um valor para o horário
(kWh) período de faturamento para o horário fora de ponta
fora de ponta
Dois valores: um valor para o
Um único valor, o maior Um único valor, o maior
horário de ponta, e um valor
Demanda entre o contratado e o entre o contratado e o
para o horário fora de ponta, os
de efetivamente medido no efetivamente medido no
maiores entre o contratado e o
potência período de faturamento, período de faturamento,
efetivamente medido,
(kW) respeitando-se a tarifa respeitando-se a tarifa de
respeitando-se a tarifa de
de ultrapassagem ultrapassagem
ultrapassagem
Dois valores, quando o FP
Um valor, quando o fator Dois valores, quando o FP da
da unidade consumidora,
Consumo de potência (FP) da unidade consumidora, indutivo
indutivo ou capacitivo, for
reativo unidade consumidora, ou capacitivo, for inferior a
inferior a 0,92, seguindo a
(kVArh) indutivo ou capacitivo, 0,92, seguindo a mesma
mesma distribuição do
for inferior a 0,92 distribuição do consumo ativo
consumo ativo
Dois valores, quando o FP da
Demanda Um valor, quando o fator unidade consumidora, indutivo
Um valor, quando o FP da
de de potência (FP) da ou capacitivo, for inferior a
unidade consumidora,
potência unidade consumidora, 0,92, seguindo a mesma
indutivo ou capacitivo, for
reativa indutivo ou capacitivo, distribuição da demanda de
inferior a 0,92
(kVAr) for inferior a 0,92 potência, exclusive os casos
de ultrapassagem
A partir de 1 de janeiro de 2015 passa a vigorar no Brasil, oficialmente, o
sistema de bandeiras tarifárias, conceituado como um “sistema tarifário que tem
como finalidade sinalizar aos consumidores faturados pela distribuidora por meio da
Tarifa de Energia, os custos atuais da geração de energia elétrica”. Este sistema é
representado pelas bandeiras tarifárias verde, amarela e vermelha, sendo aplicadas
conforme intervalo de valores do Custo Marginal de Operação (CMO) e do Encargo
de Serviços de Sistema por Segurança Energética (ESS_SE).
O acionamento de cada bandeira tarifária será sinalizado mensalmente pela
ANEEL, de acordo com informações prestadas pelo Operador Nacional do Sistema
(ONS). O período de aplicação da bandeira tarifária será o mês subsequente à data
de sua divulgação.

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3.1.3. Análises Tarifárias


Dois são os pontos fundamentais a serem analisados no momento de
assinatura de contrato de consumidor do grupo “A”, ou em momentos de revisões
tarifárias: a modalidade tarifária, se convencional ou horária, com aplicação da tarifa
azul ou verde, e a demanda contratada. A determinação da modalidade tarifária e da
demanda contratada mais adequadas, em momentos de celebração de primeiro
contrato, não é tarefa das mais simples, excetuando-se os casos em que o
consumidor conheça muito bem o regime de funcionamento da carga.
Outro ponto a ser atentado pelo consumidor é a tensão de fornecimento,
mesmo sendo de responsabilidade da distribuidora estabelecê-la e informá-la ao
interessado. O valor deve ser estabelecido sendo observados os seguintes limites:
- Tensão secundária de distribuição em rede aérea: quando a carga instalada
na unidade consumidora for igual ou inferior a 75 kW;
- Tensão secundária de distribuição em sistema subterrâneo: até o limite de
carga instalada conforme padrão de atendimento da distribuidora;
- Tensão primária de distribuição inferior a 69 kV: quando a carga instalada na
unidade consumidora for superior a 75 kW e a demanda a ser contratada pelo
interessado, para o fornecimento, for igual ou inferior a 2.500 kW; e
- Tensão primária de distribuição igual ou superior a 69 kV: quando a demanda
a ser contratada pelo interessado, para o fornecimento, for superior a 2.500 kW.
É importante atentar para tal fato porque pode ser economicamente
interessante ao consumidor que, por exemplo, possua carga instalada superior a 75
kW e demanda contratada de 2.500 kW, solicitar atendimento por tensão igual ou
superior a 69 kV, mesmo que para isso tenha que contratar um valor de demanda
superior a 2.500 kW. Cada caso deve ser analisado de forma particular, mas esta
situação se configura em uma potencial ação de viabilidade econômica em função
das tarifas de demanda mais reduzidas do subgrupo A3 (69 kV), quando
comparadas às do subgrupo A4 (2,3 a 25 kV).
Com relação à definição da modalidade tarifária mais adequada, a tarefa
merece certos cuidados, mas a decisão é fundamentalmente baseada no perfil da
empresa. A tabela 3.3 fornece alguns indicativos que relacionam as características
básicas da empresa ao enquadramento tarifário sugerido.

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Tabela 3.3 - Relações entre o Perfil da empresa e enquadramento tarifário sugerido.


Modalidade Tarifária Convencional Modalidade Modalidade Tarifária
Binômia Tarifária Azul Verde
- Indicada para
- Indicada para empresas cuja maior - Indicada para
empresas que podem
demanda de energia elétrica ocorre empresas que
eliminar ou reduzir o
no horário de ponta; podem reduzir,
consumo de energia no
- Mais adequada para empresas que parcialmente, a
Perfil da horário de ponta;
operam sob regime de encomenda; demanda de
Empresa - Mais adequada para
- Indicada para empresas que potência e o
empresas que têm todo
utilizam processo contínuo de consumo de
ou grande parte de seu
produção ou prestação de serviço, energia no horário
funcionamento fora do
sem possibilidade de modulação. de ponta.
horário de ponta.

Com o propósito de permitir o ajuste da demanda a ser contratada e a escolha


da modalidade tarifária mais adequada, é estabelecido em legislação que a
distribuidora deve aplicar ao consumidor, nas situações listadas abaixo, um período
de testes, com duração de 3 ciclos consecutivos e completos de faturamento.

- Início do fornecimento;

- Mudança para faturamento aplicável a unidades consumidoras do grupo A,


cuja opção anterior tenha sido por faturamento do grupo B;

- Enquadramento na modalidade tarifária horária azul; e

- Acréscimo de demanda, quando maior que 5 % da contratada.

Com base nos valores de consumo e demanda medidos durante este período
de testes o consumidor está apto a decidir pela modalidade tarifária e pelo valor de
demanda contratada que representem os menores custos.
Outro ponto importante a ser observado, também estabelecido em legislação, é
que a distribuidora deve renegociar o contrato de fornecimento, a qualquer
momento, sempre que solicitado por consumidor que, ao implementar medidas de
eficiência energética comprováveis pela distribuidora, resultem em redução da
demanda de potência e/ou de consumo de energia elétrica ativa.
O correto valor de demanda contratada é de extrema importância, pois
situações de demanda contratada superior à utilizada resultam em pagamento por
demanda inutilizada, e situações de ultrapassagem apresentam custos altamente
proibitivos, o dobro do valor da tarifa normal de fornecimento.
Em função do exposto, é importante que o consumidor conheça os valores das
tarifas praticados pela distribuidora de sua região. Todas as distribuidoras de energia
passam por um reajuste tarifário periódico, com resultados homologados pela
ANEEL, realizado com o objetivo de proporcionar à distribuidora receita necessária
para a cobertura de custos operacionais e remuneração adequada de investimentos.
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Por isso, os reajustes podem resultar em aumento ou redução de tarifa, conforme os


resultados operacionais obtidos pela distribuidora no respectivo período e em
componentes financeiros externos à revisão periódica. A tabela 3.4 apresenta o
calendário de reajustes tarifários divulgado pela ANEEL, e as tabelas 3.5 a 3.9
apresentam, respectivamente, os valores monetários vigentes de tarifas nas
modalidades tarifárias convencional monômia, horária branca, convencional binômia,
horária azul e horária verde da distribuidora de energia do Estado do Pará, Centrais
Elétricas do Pará S.A. – CELPA, conforme resultado do último reajuste tarifário
homologado pela ANEEL pela Resolução no 1.769, de 05 de agosto de 2014. Neste
reajuste as tarifas da CELPA foram reajustadas, em média, em 35,93 %.
Tabela 3.4 - Calendário anual de reajustes tarifários contratuais.
Data Distribuidora Data Distribuidora
MOCOCA, CPEE, CSPE, SANTA CRUZ e 04/jul CELTINS (TO), ELETROPAULO (SP)
03/fev
JAGUARI (SP), OESTE (PR) 15/jul JARI CELULOSE (PA)
04/fev CELB (PB) CELESC (SC), CELPA (PA),
07/ago
07/fev COOPERALIANÇA (SC), Sta. MARIA (RS) ESCELSA-D (ES), IENERGIA (SC)
15/mar AMPLA (RJ) 26/ago CEB (DF), FORCEL (PR)
30/mar URUSSANGA e JOÃO CESA (SC) 27/ago ELEKTRO (SP)
ENERSUL (MS), CEMAT (MT), CPFL (SP), CEAL (AL), CEPISA (PI),
08/abr 28/ago
CEMIG (MG) CEMAR (MA), SAELPA (PB)
19/abr RGE e AES-SUL (RS) 12/set CHESP e CELG (GO)
COELBA (BA), COSERN (RN), 23/out BANDEIRANTE e PIRATININGA (SP)
22/abr
COELCE (CE), ENERGIPE (SE) 25/out CEEE-D (RS)
29/abr CELPE (PE) CEAM e MANAUS ENERGIA (AM),
01/nov
NACIONAL, BRAGANTINA, BOA VISTA e CER (RR)
10/mai
V. PARANAPANEMA e CAIUÁ (SP) 07/nov LIGHT (RJ)
18/jun CATAGUAZES (MG), CENF (RJ) ELETROACRE (AC), CERON (RO),
30/nov
24/jun COPEL e COCEL (PR) CEA (AP)
28/jun DMEPC (MG) 14/dez SULGIPE (SE)
ELETROCAR, MUXFELDT, DEMEI-IJUI e
29/jun 28/dez NOVA PALMA (TO)
PANAMBI (RS)

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Tabela 3.5 - Tarifas da modalidade tarifária convencional monômia, praticadas pela


CELPA.
TE*
Subgrupo TUSD* Bandeira Bandeira Bandeira
Verde Amarela Vermelha
B1 – Residencial
Consumo (R$/kWh) 0,27877 0,201 0,216 0,231
B1 – Residencial Baixa Renda
Consumo (R$/kWh) 0,27358 0,201 0,216 0,231
B2 – Rural
Consumo (R$/kWh) 0,19514 0,1407 0,1512 0,1617
B2 – Cooperativa de Eletrificação Rural
Consumo (R$/kWh) 0,19514 0,1407 0,1512 0,1617
B2 – Serviço Público de Irrigação
Consumo (R$/kWh) 0,16726 0,1206 0,1296 0,1386
B3 – Demais Classes
Consumo (R$/kWh) 0,27877 0,201 0,216 0,231
B4 – Iluminação Pública
B4a-Rede de Distribuição (R$/kWh) 0,15332 0,11055 0,1188 0,12705
B4b-Bulbo de Lâmpada (R$/kWh) 0,16726 0,1206 0,1296 0,1386
* Tarifas de fornecimento TUSD (Tarifas de Uso dos Sistemas de Distribuição) e TE (Tarifas de Energia),
sem impostos.

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Tabela 3.6 - Tarifas da modalidade tarifária horária branca, praticadas pela CELPA.
TE*
Subgrupo TUSD* Bandeira Bandeira Bandeira
Verde Amarela Vermelha
B1 – Residencial
Consumo Ponta (R$/kWh) 0,65056 0,31513 0,33013 0,34513
Consumo Intermediário (R$/kWh) 0,43102 0,19063 0,20563 0,22063
Consumo Fora de Ponta (R$/kWh) 0,21149 0,19063 0,20563 0,22063
B2 – Rural
Consumo Ponta (R$/kWh) 0,443 0,22059 0,23109 0,24159
Consumo Intermediário (R$/kWh) 0,29428 0,13344 0,14394 0,15444
Consumo Fora de Ponta (R$/kWh) 0,14556 0,13344 0,14394 0,15444
B2 – Cooperativa de Eletrificação Rural
Consumo Ponta (R$/kWh) 0,443 0,22059 0,23109 0,24159
Consumo Intermediário (R$/kWh) 0,29428 0,13344 0,14394 0,15444
Consumo Fora de Ponta (R$/kWh) 0,14556 0,13344 0,14394 0,15444
B2 – Serviço Público de Irrigação
Consumo Ponta (R$/kWh) 0,37971 0,18908 0,19808 0,20708
Consumo Intermediário (R$/kWh) 0,25224 0,11438 0,12338 0,13238
Consumo Fora de Ponta (R$/kWh) 0,12477 0,11438 0,12338 0,13238
B3 – Demais Classes
Consumo Ponta (R$/kWh) 0,65941 0,31513 0,33013 0,34513
Consumo Intermediário (R$/kWh) 0,43633 0,19063 0,20563 0,22063
Consumo Fora de Ponta (R$/kWh) 0,21326 0,19063 0,20563 0,22063
* Tarifas de fornecimento TUSD (Tarifas de Uso dos Sistemas de Distribuição) e TE (Tarifas de Energia),
sem impostos.

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Tabela 3.7 - Tarifas da modalidade tarifária convencional binômia, praticadas pela


CELPA.
TE*
Subgrupo TUSD* Bandeira Bandeira Bandeira
Verde Amarela Vermelha
A3a (30 a 44 kV)
Demanda (R$/kW) 54,27
Consumo (R$/kWh) 0,05491 0,201 0,216 0,231
A4 (2,3 a 25 kV)
Demanda (R$/kW) 54,27
Consumo (R$/kWh) 0,05162 0,201 0,216 0,231
* Tarifas de fornecimento TUSD (Tarifas de Uso dos Sistemas de Distribuição) e TE (Tarifas de Energia),
sem impostos.

Tabela 3.8 - Tarifas da modalidade tarifária azul, praticadas pela CELPA.


TE*
Subgrupo TUSD* Bandeira Bandeira Bandeira
Verde Amarela Vermelha
A2 (88 a 138 kV)
Demanda Ponta (R$/kW) 13,70
Demanda Fora de Ponta (R$/kW) 2,59
Consumo Ponta (R$/kWh) 0,01692 0,31513 0,33013 0,34513
Consumo Fora de Ponta (R$/kWh) 0,01692 0,19063 0,20563 0,22063
A3 (69 kV)
Demanda Ponta (R$/kW) 14,57
Demanda Fora de Ponta (R$/kW) 3,43
Consumo Ponta (R$/kWh) 0,01763 0,31513 0,33013 0,34513
Consumo Fora de Ponta (R$/kWh) 0,01763 0,19063 0,20563 0,22063
A3a (30 a 44 kV)
Demanda Ponta (R$/kW) 55,60
Demanda Fora de Ponta (R$/kW) 14,23
Consumo Ponta (R$/kWh) 0,05491 0,31513 0,33013 0,34513
Consumo Fora de Ponta (R$/kWh) 0,05491 0,19063 0,20563 0,22063
A4 (2,3 a 25 kV)
Demanda Ponta (R$/kW) 55,60
Demanda Fora de Ponta (R$/kW) 14,23
Consumo Ponta (R$/kWh) 0,05162 0,31513 0,33013 0,34513
Consumo Fora de Ponta (R$/kWh) 0,05162 0,19063 0,20563 0,22063
* Tarifas de fornecimento TUSD (Tarifas de Uso dos Sistemas de Distribuição) e TE (Tarifas de Energia), sem
impostos.

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Tabela 3.9 - Tarifas da modalidade tarifária verde, praticadas pela CELPA.


TE*
Subgrupo TUSD* Bandeira Bandeira Bandeira
Verde Amarela Vermelha
A3a (30 a 44 kV)
Demanda (R$/kW) 14,23
Consumo Ponta (R$/kWh) 1,406 0,31513 0,33013 0,34513
Consumo Fora de Ponta (R$/kWh) 0,05491 0,19063 0,20563 0,22063
A4 (2,3 a 25 kV)
Demanda (R$/kW) 14,23
Consumo Ponta (R$/kWh) 1,40271 0,31513 0,33013 0,34513
Consumo Fora de Ponta (R$/kWh) 0,05162 0,19063 0,20563 0,22063
* Tarifas de fornecimento  TUSD+TE (Tarifas de Uso dos Sistemas de Distribuição + Tarifas de Energia), sem
impostos.

Com base no exposto até aqui, pode-se concluir que uma instalação é
considerada eficiente em termos de tarifação se observados os seguintes pontos:
- Excedentes de reativos: Nunca apresentar custos com excedentes reativos
ou, na impossibilidade disto, apresentar menores custos possíveis (assunto melhor
abordado no próximo item).
- Ultrapassagem de demanda: Não apresentar custos de ultrapassagem de
demanda.
- Demanda contratada: Contratar um valor de demanda adequado ao seu
perfil de carga, mantendo a demanda medida muita próxima da contratada. Exemplo
de uma boa contratação de demanda é apresentado no gráfico da figura 3.1, onde
não houve registro de ultrapassagem e os valores efetivamente verificados
estiveram, em 9 dos 10 meses analisados, entre a demanda contratada e a
tolerância. No único mês onde a demanda verificada esteve abaixo da contratada a
diferença foi mínima. Em contrapartida, a figura 3.2 apresenta um exemplo de má
contratação de demanda, já que em 9 dos 12 meses analisados a demanda
efetivamente verificada esteve pelo menos 5 % abaixo da demanda contratada,
representando um pagamento por insumo não utilizado. Uma das recomendações
para contratação de demanda, dispondo-se de uma série histórica de valores
medidos, é o valor máximo verificado no período, com redução de 5 % (demanda
máxima verificada  1,05).

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Demanda Verificada Demanda Contratada Tolerância

100
90
80
Demanda (kW)

70
60
50
40
30
20
10
0
05/06 06/06 07/06 08/06 09/06 10/06 11/06 12/06 01/07 02/07
Mês/Ano

Figura 3.1 - Exemplo de bom valor de demanda contratada.

Demanda Verificada Demanda Contratada Tolerância


140

120

100
Demanda (kW)

80

60

40

20

0
05/06 06/06 07/06 08/06 09/06 10/06 11/06 12/06 01/07 02/07 03/07 04/07
Mês/Ano

Figura 3.2 - Exemplo de mau valor de demanda contratada.


- Enquadramento tarifário: Optar pelo melhor enquadramento tarifário, com
base no perfil do consumidor e nas sugestões apresentadas pela tabela 3.3.
Apresentar maior parte do consumo de energia no posto tarifário ponta, estando
enquadrado em uma das modalidades tarifárias horárias, por exemplo, é pouco
eficiente.
- Consumo específico: Apresentar o menor consumo específico possível. O
consumo específico (CESP) é um índice que indica a quantidade de produto ou
serviço produzido pela empresa (QP), em uma quantidade qualquer (kg, m3, L), em
função do seu consumo de energia elétrica ativa (C_ativo), em kWh, ambos em um
determinado período de tempo t qualquer, conforme apresenta a equação (3.12).
Baixos consumos específicos significam, portanto, que a empresa produz muito com
o menor consumo de energia possível, situação considerada ideal. A figura 3.3
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apresenta um gráfico comparativo entre a produção de uma empresa (em kg) e o


consumo de energia (em kWh). Os pontos destacados ilustram situações de
ineficiência, já que o consumo de energia no dia foi muito superior à produção. Nos
demais dias a produção se manteve relativamente compatível com o consumo.
C _ ativo t 
CESP  (3.12)
QP t 

Figura 3.3 - Relação entre produção e consumo de energia de uma empresa.


- Fator de carga: Apresentar elevado fator de carga. Conforme já definido, o
fator de carga é dado pela razão entre a demanda média e a demanda máxima
verificadas em um mesmo intervalo de tempo. A equação (3.13) apresenta uma
forma alternativa de cálculo do fator de carga (FC), caso não se disponha da
demanda média, dado pela razão entre o consumo ativo (em kWh) verificado em
determinado período pelo produto entre a demanda máxima (Dmax, em kW) e o
número de horas (t) do período em questão. Elevados fatores de carga indicam que
a energia foi utilizada racionalmente ao longo do período de tempo; baixos fatores
de carga, no entanto, indicam que o consumo esteve concentrado em um curto
período de tempo, elevando a demanda registrada. As figuras 3.4 e 3.5 apresentam
exemplos de curvas de carga que apresentam bom e mau fatores de carga,
respectivamente. Na curva de carga da figura 3.5, percebe-se que a demanda se
concentrou em um curto intervalo de tempo, antes do meio do dia, apresentando
valor máximo muito superior à média.
C _ ativo t 
FC  (3.13)
Dmax  t

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Demanda máxima

Demanda (kW)
FC = 0,52

Demanda média

hora
Figura 3.4 - Curva de carga com bom fator de carga.

Demanda máxima
Demanda (kW)

FC = 0,27

Demanda média

hora
Figura 3.5 - Curva de carga com mau fator de carga.
- Custo médio de energia: Apresentar baixos custos médios de energia. O
custo médio de energia é dado pela razão entre o custo total da fatura, em R$, e o
consumo de energia elétrica ativa, em kWh, verificado no período de faturamento,
conforme apresentado pela equação (3.14). De forma resumida, baixos custos
médios de energia indicam que o consumidor concentrou seus custos nas parcelas
de consumo e demanda úteis, com pouca ou nenhuma presença de custos com
excedentes reativos, ultrapassagens de demanda, multas, etc.
Custo Total da Fatura
Custo Médio de Energia [R $ / kWh]  (3.14)
Consumo de Energia

A figura 3.6 apresenta uma fatura de energia elétrica, de consumidor


enquadrado na modalidade tarifária azul, com a indicação de alguns pontos
discutidos ao lngo do presente item.

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Figura 3.6 - Fatura de energia elétrica de consumidor enquadrado na modalidade


tarifária verde, com pontos principais destacados.

3.2. Compensação de Reativos


Os motores elétricos de indução, os transformadores de potência, as lâmpadas
de descarga, fornos de indução, dentre outros, são formados por cargas que
necessitam de campo eletromagnético para o seu funcionamento. Para a criação
deste fluxo magnético é fundamental a presença da energia reativa.
A energia reativa não realiza trabalho, ela circula entre a fonte e a carga,
ocupando um “espaço” no sistema elétrico que poderia ser utilizado para fornecer
mais energia ativa.
A redução do consumo de energia reativa resulta em melhoria na qualidade do
fornecimento de energia, o que reduz as quedas de tensão e as perdas elétricas nas
instalações elétricas, além de disponibilizar ao sistema maior capacidade para o
atendimento de outras cargas.
A potência nominal dos motores, transformadores, dentre outros, é
apresentada em kVA, ou seja, através da potência aparente. A relação entre a
potência ativa e a potência aparente é denominada de fator de potência. Através do
fator de potência pode-se verificar quanto de potência ativa está sendo demandada
pelo sistema elétrico. Quanto mais próximo do valor unitário o fator de potência
estiver, melhor será a utilização da energia fornecida.
Para se ter uma idéia melhor sobre os custos envolvidos com os componentes
ativos e reativos da fatura de energia elétrica, a figura 3.7 mostra um copo com
cerveja e espuma, onde o cliente paga pelo conjunto líquido + espuma, porém só

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69
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será consumido o líquido. Pode-se comparar a espuma com a potência reativa, o


líquido com a potência ativa e o conjunto espuma + líquido com a potência aparente.

Figura 3.7 - Representação de custos ativos e reativos comparados a um copo de


cerveja com espuma.
Com relação aos aspectos técnicos, uma forma de se explicar a parcela de
energia reativa presente em um sistema é através da visualização da figura 3.8,
onde um vagão é tracionado ao se deslocar sobre trilhos por ação de uma força não
paralela à direção do deslocamento. O esforço de tração representa a potência
aparente do sistema. A componente de força paralela aos trilhos é a que realiza
trabalho útil, representando a potência ativa. A componente representando a
potência reativa, a qual está perpendicular à força aplicada ao vagão, não realiza
trabalho, causando um aumento da potência aparente para se obter a mesma
potência ativa que seria necessária à locomoção do vagão caso a força de tração
não existisse.

Figura 3.8 - Representação das potências através de um vagão em movimento.


A distribuidora de energia protege-se contra a ocorrência de reativos elevados
em suas linhas impondo ao consumidor um fator de potência mínimo, que no Brasil
é 0,92. Quando o consumidor apresenta um fator de potência abaixo do mínimo é
cobrado o excedente de energia reativa, a título de ajuste. Assim sendo, a melhoria
do fator de potência de uma instalação representa não apenas uma melhor
utilização dos seus circuitos de distribuição, como também uma forma de diminuir as
despesas totais com energia elétrica.

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70
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Com a economia de energia reativa ocorre também a liberação do sistema para


ligação de novas cargas, evitando ou postergando investimentos no sistema elétrico,
como a construção de novas centrais geradores e a instalação de novos circuitos de
transmissão e distribuição.
Como exemplo da liberação do sistema para novas cargas, pode-se verificar
através da tabela 3.10 que a seção relativa dos condutores está relacionada
inversamente com o fator de potência. Para baixos valores de fator de potência a
seção relativa do condutor deve ser maior para poder atender à demanda da carga,
significando, na prática, que se o fator de potência do sistema for corrigido, o
condutor terá capacidade para atender às cargas já existentes e demais cargas que
por ventura vierem a existir.
Tabela 3.10 - Seção relativa de cabos em função do fator de potência.
Seção relativa (mm2) Fator de potência
1,00 1,00
1,23 0,90
1,56 0,80
2,04 0,70
2,78 0,60
4,00 0,50
6,25 0,40
11,10 0,30

3.2.1. Técnicas para Melhoria do Fator de Potência


Algumas medidas podem ser implementadas visando à melhoria do fator de
potência de uma instalação elétrica. Uma delas, e a mais óbvia, é utilizar
equipamentos com elevado fator de potência. Atualmente o mercado oferece uma
série de equipamentos ditos de alto fator de potência, como os reatores de
lâmpadas de descarga.
Outra medida é a verificação da possibilidade de substituição dos
equipamentos existentes por outros de alto fator de potência. No caso de instalações
novas, é recomendado que desde a fase de projeto esses equipamentos já tenham
previstas sua instalação.
O correto dimensionamento dos equipamentos pode ser também uma maneira
de elevar o fator de potência de uma instalação. Os motores, por exemplo,
apresentam um fator de potência mais elevado quando operam próximo de sua
capacidade nominal. Motores superdimensionados ou motores operando com baixos
carregamentos provocam a diminuição do fator de potência da unidade
consumidora.
Em função das próprias características das cargas de uma determinada
instalação, principalmente as de grande porte, por vezes ficam tecnicamente
inviáveis as medidas pontuais, como as citadas anteriormente. Nestes casos, a

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forma mais prática de elevar o fator de potência é através da instalação de bancos


de capacitores, os quais fornecem energia reativa para as cargas. O fornecimento
de reativo capacitivo em instalações predominantemente indutivas (regra geral)
resultam, por conseqüência, na elevação do fator de potência.
A instalação de capacitores em paralelo às cargas irá beneficiar todo o circuito
atrás do ponto de inserção. Assim sendo, a localização mais adequada para a
instalação dos capacitores é junto aos equipamentos consumidores, após a chave.
Com esta configuração, garante-se inclusive que o reativo capacitivo será desligado
junto com o equipamento quando este não estiver em uso. Tal medida tem por
finalidade evitar o excesso de capacitivo na rede, o qual também é faturado pela
distribuidora de energia, e evitar a elevação do nível de tensão da instalação com o
risco de queima de diversos equipamentos.

3.2.2. Dimensionamento de Bancos de Capacitores


Está é a solução mais empregada na correção do fator de potência de
instalações industriais, comerciais e dos sistemas de distribuição de forma geral. A
determinação da potência do banco de capacitores não deve implicar em um fator
de potência inferior a 0,92, indutivo ou capacitivo, em qualquer ponto do ciclo de
carga da instalação.
Um dos métodos para determinar a capacidade do banco de capacitores que
irá elevar o fator de potência atual para um fator de potência desejado é baseada no
método tabular, representado pela tabela 3.11, que relaciona o fator de potência
atual e o desejado através de um ajuste tg.
De posse do valor tabelado de tg e da equação (3.15), é possível determinar
a potência reativa do banco de capacitores para corrigir o fator de potência.
Qcap  Pat  tg (3.15)

Sendo Qcap a potência reativa do banco de capacitores, em kVAr, e Pat a


potência ativa máxima do sistema, em kW.
Para o caso específico de motores, pode-se dimensionar o banco de
capacitores para suprir a demanda de reativo através da equação (3.16).
(%c arg a )  Pat _ m  tg
Qcapm  (3.16)
h
Onde:
Qcapm: potência reativa do banco de capacitores necessária para correção do
fator de potência do motor, em kVAr;
%carga: carregamento do motor;
Pat_m: potência ativa do motor, em kW;
h : rendimento do motor em função do percentual de carga que está operando.
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Tabela 3.11 - Valores para a correção do fator de potência.


Fator de Fator de potência desejado
potência
0,85 086 0,87 0,88 0,89 0,90 0,91 0,92 0,93 0,94 0,95 0,96 0,97 0,98 0,99 1,00
atual
0,50 1,11 1,14 1,16 1,19 1,22 1,25 1,28 1,30 1,33 1,37 1,40 1,44 1,48 1,53 1,59 1,73
0,52 1,02 1,05 1,08 1,10 1,13 1,16 1,19 1,22 1,25 1,28 1,31 1,35 1,39 1,44 1,50 1,64
0,54 0,94 0,97 0,99 1,02 1,05 1,07 1,10 1,13 1,16 1,19 1,23 1,26 1,31 1,35 1,42 1,56
0,56 0,86 0,89 0,91 0,94 0,96 0,99 1,02 1,05 1,08 1,12 1,15 1,19 1,23 1,28 1,34 1,50
0,58 0,78 0,81 0,84 0,86 0,89 0,92 0,95 0,98 1,01 1,04 1,07 1,11 1,15 1,20 1,26 1,40
0,60 0,71 0,74 0,76 0,79 0,82 0,85 0,88 0,91 0,94 0,97 1,00 1,04 1,08 1,13 1,19 1,33
0,62 0,64 0,67 0,70 0,72 0,75 0,78 0,81 0,84 0,87 0,90 0,93 0,97 1,01 1,06 1,12 1,26
0,64 0,58 0,61 0,63 0,66 0,68 0,72 0,74 0,77 0,80 0,84 0,87 0,91 0,95 0,99 1,06 1,20
0,66 0,52 0,54 0,57 0,60 0,62 0,65 0,68 0,71 0,74 0,77 0,81 0,84 0,88 0,93 0,99 1,14
0,68 0,46 0,48 0,51 0,54 0,56 0,59 0,62 0,65 0,68 0,71 0,75 0,78 0,83 0,87 0,93 1,08
0,70 0,40 0,43 0,45 0,48 0,51 0,53 0,56 0,59 0,62 0,66 0,69 0,73 0,77 0,82 0,88 1,02
0,72 0,34 0,37 0,40 0,42 0,45 0,48 0,54 0,54 0,57 0,60 0,63 0,67 0,71 0,76 0,82 0,96
0,74 0,30 0,31 0,34 0,37 0,40 0,42 0,45 0,48 0,51 0,54 0,58 0,61 0,66 0,70 0,76 0,91
0,76 0,23 0,26 0,29 0,31 0,34 0,37 0,40 0,43 0,46 0,50 0,52 0,56 0,60 0,65 0,71 0,85
0,78 0,18 0,21 0,23 0,26 0,29 0,32 0,34 0,37 0,40 0,44 0,47 0,51 0,55 0,60 0,66 0,80
0,80 0,13 0,15 0,18 0,21 0,23 0,26 0,29 0,32 0,35 0,39 0,42 0,46 0,50 0,54 0,61 0,75
0,82 0,08 0,10 0,13 0,16 0,18 0,21 0,24 0,27 0,30 0,33 0,37 0,40 0,44 0,49 0,55 0,70
0,84 0,02 0,05 0,08 0,10 0,13 0,16 0,19 0,22 0,25 0,28 0,32 0,35 0,39 0,44 0,50 0,64
0,86 - 0,00 0,02 0,05 0,08 0,11 0,13 0,16 0,20 0,23 0,26 0,30 0,34 0,39 0,45 0,59
0,88 - - - 0,00 0,03 0,05 0,08 0,11 0,15 0,18 0,21 0,25 0,29 0,34 0,39 0,54
0,90 - - - - - 0,00 0,03 0,06 0,09 0,12 0,15 0,19 0,23 0,28 0,34 0,48
0,92 - - - - - - - 0,00 0,03 0,06 0,09 0,13 0,17 0,22 0,28 0,42
0,94 - - - - - - - - - 0,00 0,03 0,07 0,11 0,16 0,22 0,36
0,96 - - - - - - - - - - - 0,00 0,04 0,09 0,15 0,29
0,98 - - - - - - - - - - - - - 0,00 0,06 0,20

3.3. Gerenciamento pelo Lado da Demanda – GLD


O gerenciamento pelo lado da demanda (GLD) pode ser conceituado como um
conjunto de ações de controle do consumo de energia pelo lado do consumidor, de
forma a operar o sistema mais eficientemente. Ações de GLD incluem campanhas
de conscientização de consumidores, instalação de controles setorizados, instalação
de gerenciadores de energia, corte seletivo de cargas nos horários de pico de carga,
entre outros. As ações de eficiência energética podem ter seus efeitos reduzidos se
não vierem acompanhadas de um bom programa de GLD.
As ações de GLD podem apresentar desde custo zero até custos elevados,
dependendo da finalidade do programa. Sistemas críticos podem demandar ações
mais efetivas, que envolvam custos mais elevados, como sistemas de
gerenciamento com corte seletivo de carga. Em sistemas não críticos, ações simples
como a conscientização dos usuários para operarem de forma mais adequada os
equipamentos (custo zero), ou a instalação de controles simples, como sensores de
presença (custo baixo) podem contribuir de maneira efetiva para a redução dos
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custos com energia. A tabela 3.12 apresenta um resumo de algumas ações de GLD,
com suas características e custos associados.

Tabela 3.12 - Ações de GLD com características e custos associados.


Custo Ações Características
- Ajuste de controles;
- Desligamento de equipamentos quando Baseado no comportamento
Custo zero não necessários; das pessoas que utilizam os
- Programação do uso de cargas de maior usos finais já instalados.
potência.
- Manutenção;
- Medição e monitoração; Investimento em tecnologia
Custo baixo - Instalação de controles simples; de baixo custo e
- Isolação térmica; envolvimento de pessoal.
- Treinamento de usuários e operadores.
Investimento em alta
- Geração combinada de calor e potência;
Custo alto tecnologia e envolvimento de
- Sistemas de gerenciamento de energia.
pessoal.

Um dos efeitos principais efeitos das ações de GLD é notado sobre a curva de
carga do consumidor, tanto nos valores de potência quanto no formato da curva,
assim como apresentado pela figura 3.9. As ações de GLD fazem aumentar o fator
de carga, reduzindo picos de demanda. O resultado é um uso otimizado da
capacidade do sistema.

P P P
Deslocar o Otimizar a
consumo na ponta sazonalidade

Per. Seco Per. Seco


Reduzir o
consumo na ponta
Período Úmido

t t t

P P P
Otimizar o
Preencher os vales Conservar Energia crescimento

t t t

Figura 3.9 - Impactos das estratégias de GLD na curva de carga.


A fim de ilustrar algumas aplicações de GLD a sistemas de energia, o presente
tópico divide as ações de GLD em duas principais vertentes: a associada a
estratégias de controle direto, e a associada a estratégias de controle indireto.

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3.3.1. Gerenciamento com Estratégias de Controle Direto


As estratégias de controle direto estão associadas à instalação de
equipamentos de controle que têm como principal função o acionamento e o
desligamento de cargas de forma automática, sem intervenção humana. Desta
forma, independentemente da conscientização dos usuários, os sistemas de controle
reduzem o consumo de energia através da retirada de cargas não críticas do
sistema, ou mesmo de cargas que freqüentemente são acionadas sem a devida
necessidade.
A estratégia mais simples é a instalação de sensores setorizados, como
fotossensores, sensores de ocupação e temporizadores para controle da iluminação
artificial. Os principais locais de aplicação destes sensores são ambientes de
passagem e circulação rotativa de pessoas, como corredores, escadas, depósitos e
banheiros.
Em alguns casos, a economia de energia devida à utilização destes sensores
pode ser superior a 70 %, caso, por exemplo, da redução de 12 para 3 horas de
utilização de uma determinada carga em função da instalação de sensor de
ocupação em um corredor. O baixo custo e a maturidade tecnológica alcançada por
estes equipamentos recomendam sua aplicação na grande maioria dos casos.
Os fotossensores, ou sensores fotoelétricos, são dispositivos que utilizam
componentes eletrônicos que geram uma corrente elétrica proporcional à radiação
recebida, com o controle podendo atuar de duas formas: o fotossensor atua como
um interruptor liga/desliga sobre o sistema de iluminação artificial, ou o fotossensor
envia o sinal para um controlador que ajustará a intensidade luminosa do sistema de
iluminação.
Os sensores de ocupação, ou de presença, são dispositivos que respondem ao
movimento de pessoas dentro de seu campo de atuação. Os tipos mais comuns de
sensores de ocupação são os sensores de infravermelho, que reagem à energia do
calor infravermelho emitido pelas pessoas, e os ultra-sônicos, que emitem ondas
ultra-sônicas e possuem dispositivos que são capazes de perceber a freqüência das
ondas refletidas. Estes sensores são projetados para ligar o sistema de iluminação
artificial quando pessoas entram no ambiente, mantê-lo ligado enquanto houver
ocupação do ambiente, e desligá-lo após um determinado tempo em que o local foi
desocupado.
Os sensores de ocupação podem ser combinados com fotossensores em
ambientes de circulação e passagem que dispõem de quantidade suficiente de
iluminação natural.
A figura 3.10 apresenta uma situação típica de desperdício de energia,
facilmente evitada com a utilização de sensores de ocupação, em uma área de
passagem (corredor). Nas extremidades do corredor, inclusive, a presença de
iluminação natural sugere a instalação de sensor de ocupação combinado com

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fotossensor, para acionamento do sistema de iluminação apenas em situações de


ausência de iluminação natural.

Figura 3.10 - Situação de desperdício de energia passível de eliminação através da


utilização de sensores de ocupação e fotossensores.
Os temporizadores são dispositivos de controle que, após manualmente
acionados, desligam o sistema de iluminação após um determinado período de
tempo.
A figura 3.11 apresenta modelos de fotossensores, sensores de ocupação e
temporizadores.

Figura 3.11 - Da esquerda para a direita, modelos de fotossensores, sensores de


ocupação e temporizadores.
Os controles individuais de outros tipos de sistemas, como os de refrigeração,
por exemplo, normalmente já vêm instalados junto ao equipamento principal, caso
dos termostatos em refrigeradores e aparelhos de ar-condicionado. Porém, há a
possibilidade de aquisição de modelos mais sofisticados destes dispositivos para
instalação e controle mais preciso.
Uma forma mais complexa, de resultados mais impactantes e, por
conseqüência, mais onerosa, é a instalação de sistemas de gerenciamento de
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energia, que podem somente medir e apresentar ao usuário os dados de consumo


de seu sistema, como também podem atuar diretamente nas cargas, desligando
cargas não-críticas em determinados momentos, como no horário de ponta.
Os equipamentos e características típicas que os sistemas de gerenciamento
de energia devem apresentar são:
- Leitura e registro do sinal de medição proveniente do medidor da distribuidora
de energia, sendo utilizado para esta função um equipamento gerenciador de
energia;
- Verificação da qualidade de energia fornecida pela distribuidora de energia,
através de monitores de qualidade de energia;
- Medição setorial de energia através de transdutores de energia;
- Sistemas de acionamento remoto para o controle de demanda e fator de
potência;
- Software de gerenciamento do consumo de energia elétrica através de rede
de microcomputadores, onde seja possível a visualização em tempo real de dados e
a emissão de gráficos e relatórios do sistema de energia por ponto de medição.
A arquitetura básica de um sistema de gerenciamento de energia é
apresentada pela figura 3.12, enquanto que a figura 3.13 apresenta fotos de um
equipamento gerenciador de energia e de um transdutor de energia de um
determinado fabricante.

VISUALIZAÇÃO DE
DADOS E EMISSÃO
DE RELATÓRIOS

MEDIDOR DA
CONCESSIONÁRIA

EQUIPAMENTO MONITOR DE
GERENCIADOR QUALIDADE DE
DE ENERGIA ENERGIA

SISTEMA DE
TRANSDUTOR TRANSDUTOR
CARGA ACIONAMENTO CARGA
DE ENERGIA DE ENERGIA
REMOTO

Figura 3.12 - Arquitetura básica de um sistema de gerenciamento de energia.

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Figura 3.13 - Da esquerda para a direita, equipamento gerenciador de energia e


transdutor de energia.
A figura 3.14 apresenta um exemplo de gráfico gerado por um software
recebendo dados de um sistema de gerenciamento de energia, onde podem ser
visualizados a curva de carga e os fatores de potência do consumidor durante o
período de um dia. Pelo exemplo, caso a tendência verificada neste dia represente a
média, pode-se observar facilmente que as demandas contratadas estão além dos
valores efetivamente utilizados, e que o fator de potência indutivo mantém-se
sempre abaixo de 0,92, gerando um excedente reativo elevado. Neste caso,
portanto, os dados apresentados pelo sistema de gerenciamento de energia são
importantes para a definição da melhor demanda a ser contratada e para o cálculo
do banco de capacitores para correção do fator de potência.

Figura 3.14 - Exemplo de gráfico gerado por software de gerenciamento de energia.

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3.3.2. Gerenciamento com Estratégias de Controle Indireto


As ações de controle indireto são as mais simples, apresentam baixo ou
mesmo nenhum custo, porém, apresentam como desvantagem o fato de serem
diretamente dependentes da ação dos usuários.
Ações típicas de controle indireto são a promoção de campanhas de
conscientização de usuários, treinamento de pessoal para utilização eficiente das
cargas, ajuste de controles simples e otimização da forma e horário de utilização das
cargas. Podem apresentar resultados pouco expressivos, caso da ausência de
comprometimento dos usuários, ou apresentar resultados consideráveis, caso do
simples deslocamento de atividade do horário de ponta para o fora de ponta.
A adoção de medidas de conservação de energia em empresas e órgãos
públicos foi muito motivada pela promulgação do Decreto n o 99.656, de 26 de
outubro de 1990, que dispõe sobre a criação da Comissão Interna de Conservação
de Energia (CICE) nos órgãos e entidades da Administração Federal direta e
indireta, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista controladas
direta ou indiretamente pela União, que apresentem consumo anual de energia
elétrica superior a 600 MWh ou consumo anual de combustível superior a 15 tep.
A CICE deve ser composta por, no mínimo, 6 membros do próprio
estabelecimento integrante do órgão, todos com mandato de 2 anos. Suas
atribuições básicas são relacionadas às estratégias de controle indireto e referem-se
à elaboração, implantação e acompanhamento das metas do programa de
conservação de energia, e divulgação dos seus resultados nas dependências do
estabelecimento. São atribuições da CICE:
- Levantar o potencial de redução de despesas com energia, podendo solicitar
o suporte técnico do Grupo Executivo do Programa Nacional de Racionalização da
Produção e Uso de Energia (GERE) e do PROCEL;
- Elaborar o programa de conservação de energia, com suas metas e
justificativas no sentido da redução de consumo, submetendo-o ao dirigente máximo
do órgão ou entidade, e divulgá-lo após sua aprovação;
- Empreender ações visando conscientizar e envolver todos os servidores no
Programa de Conservação de Energia;
- Participar da elaboração das especificações técnicas para projetos,
construção e aquisição de bens e serviços, bem como das conseqüentes licitações
que envolvam consumo de energia;
- Manter permanente análise dos consumos de energéticos por intermédio das
cópias dos comprovantes de pagamentos que lhe serão encaminhadas pelo setor
responsável;
- Calcular os consumos específicos dos diferentes energéticos e submetê-los
ao GERE, que estabelecerá índices máximos de consumo a serem respeitados;

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- Participar da elaboração do Programa de Manutenção Preventiva, com vistas


à otimização do consumo de energéticos;
- Promover avaliação anual dos resultados obtidos e propor programa para o
ano subseqüente.

3.4. Geração Própria no Horário de Ponta


Consumidores que apresentam necessidade de utilização de toda ou parte de
sua carga no horário de ponta, onde os custos de energia e demanda são
proibitivos, podem investir em geração própria, ou autogeração, no horário de ponta,
em substituição ao atendimento da distribuidora de energia, com boas possibilidades
de viabilidade econômica.
As alternativas mais comuns para a geração própria são os combustíveis
fósseis, biocombustíveis, biomassa e gás natural. A opção pela tecnologia depende
fundamentalmente dos custos envolvidos. Consumidores que apresentam
disponibilidade de combustível no próprio local de consumo, como aqueles que
apresentam rejeitos em seus processos produtivos que podem ser utilizados para
geração de energia através de sistemas a biomassa, apresentam maior potencial de
implementação de medidas de geração própria.
Além da redução de custos, outros benefícios da geração própria são a
melhoria da qualidade de energia, uma vez que no horário de ponta são comuns
situações de oscilações na rede em função do sobrecarregamento do sistema
elétrico, e a possibilidade de continuidade de suprimento em todos os horários, no
caso de interrupção do fornecimento pela distribuidora de energia.
Como a decisão é fundamentalmente econômica, a análise deve levar em
consideração os custos de pagamento com energia elétrica durante o horário de
ponta, no enquadramento tarifário mais adequado antes da inserção da
autogeração, e compará-los com os custos de investimento inicial e operacionais da
alternativa de geração a ser empregada.
A fim de ilustrar uma situação típica, é analisada a viabilidade econômica da
inserção de um sistema de geração própria com a fonte diesel-elétrica para
substituição ao atendimento convencional no horário de ponta.
O consumidor em questão apresenta um consumo mensal médio de energia no
horário de ponta de 40.000 kWh, demanda máxima na ponta de 900 kW, pertence
ao subgrupo A4 e está enquadrado na tarifa horo-sazonal verde. A retirada do
consumo na ponta representa uma economia anual aproximada de R$ 770.000,00,
com base nos valores de tarifa constantes da tabela 3.7, com a adição de impostos,
e supondo que a demanda fora da ponta é igual à demanda na ponta, o que significa
que a retirada de demanda na ponta não implicará em reduções de custo, dado o
enquadramento tarifário do consumidor.

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O custo de investimento inicial da geração diesel-elétrica é estimado em R$


800.000,00, incluídos custos de equipamentos e serviços. Os custos operacionais
podem ser consultados em tabelas de fabricantes, que fornecem custos por hora de
operação e por energia gerada. A tabela 3.13 apresenta alguns dados
disponibilizados por um fabricante. Tais custos são apenas ilustrativos, utilizados a
título de exemplo, e não devem ser considerados para casos reais atuais.
Tabela 3.13 - Custos operacionais de alguns modelos de grupos geradores a diesel.
Potência Potência Consumo de Custo Custo
Intermitente Contínua Combustível Operacional Operacional
(kVA) (kVA) (l/h) (R$/h) (R$/kWh)
2.500 2.275 463,3 910,049 0,5000
1.250 1.125 240,0 463,988 0,5155
1.000 900 197,0 382,288 0,5310
750 681 154,0 298,511 0,5479
500 456 94,8 181,451 0,4974
380 345 68,6 131,743 0,4773
200 180 39,5 77,654 0,5393
60 57 17,8 34,427 0,7550

Para o caso em questão, é prevista a instalação de dois grupos geradores de


500 kVA, cada. Utiliza-se o custo operacional por kWh, resultando em um custo
médio anual da ordem de R$ 282.000,00, com valores obtidos da tabela 3.11,
acrescidos de correção proporcional à inflação do período de análise.
A economia anual obtida de R$ 488.000,00 (despesas antes – despesas
depois), resultam em um retorno do investimento inicial em 1 ano e 11 meses, para
uma taxa de desconto de 12 %. Para uma análise em um período total de apenas 3
anos, o Valor Presente Líquido (VPL) da ação é aproximadamente R$ 332.000,00, e
a Taxa Interna de Retorno (TIR) é igual a 38 %. Tais resultados apontam para uma
excelente viabilidade econômica do negócio.
Análises considerando outras tecnologias de geração podem ser conduzidas
de forma semelhante, conhecendo-se os custos iniciais e operacionais a serem
considerados.

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81
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4. PROJETO DE EFICIENTIZAÇÃO ENERGÉTICA

4.1. Tipologia de Projetos


O primeiro passo para a elaboração de um projeto de eficientização energética
é a identificação da classe do consumidor a ser eficientizado. Com base nesta
identificação pode-se estabelecer rotinas de trabalho que sejam compatíveis com as
características de cada classe.
Segundo a tipologia de projetos, os Procedimentos do Programa de Eficiência
Energética (PROPEE) da ANEEL, em seu Módulo 4, define 9 diferentes classes, que
são: setor industrial, setor de comércio e serviços, poder público, serviços públicos,
setor rural, setor residencial, baixa renda, projetos educacionais e iluminação
pública. A tabela 4.1 relaciona estas classes a seus usos finais típicos. Além destas
tipologias, o PROPEE também trata dos projetos dito especiais, que são os projetos
prioritários, os projetos de grande relevância, os projetos piloto, e os projetos
cooperativos, e dos projetos com fontes incentivadas, para micro e minigeração de
energia na própria unidade consumidora.
Tabela 4.1 - Relação entre tipologias de projetos e usos finais, com indicativos de
grande relevância (++), relevância moderada (+) e pouca ou nenhuma relevância (-).
Usos finais de energia
Tipologia
Iluminação Climatização Aquecimento Refrigeração Força motriz
Setor industrial ++ ++ ++ ++ ++
Setor de comércio e serviços ++ ++ ++ ++ ++
Poder público ++ ++ ++ ++ -
Serviços públicos ++ ++ ++ ++ ++
Setor rural ++ + + + ++
Setor residencial ++ ++ ++ ++ -
Baixa renda ++ + + ++ -
Projetos educacionais ++ + + + +
Iluminação pública ++ - - - -

4.2. Pré-diagnóstico
O pré-diagnóstico é uma ferramenta que busca identificar as potencialidades
de economia de energia existentes nas instalações das empresas. Pode ser
realizado por meio de entrevistas, envio de cartas com questionários e visitas. A
visita é a ferramenta que apresenta, a princípio, os melhores resultados, uma vez
que a experiência do profissional pode ser determinante para a identificação de
potenciais pontos de eficientização. No caso de entrevistas ou envio de
questionários, é importante que a pessoa a responder tenha bom conhecimento dos
sistemas energéticos presentes na empresa. Alguns dados da tabela constante do
Anexo A podem representar um bom ponto de partida para a coleta de informações
referentes ao pré-diagnóstico.
Quando da conclusão do pré-diagnóstico, os seguintes dados/informações da
empresa devem estar catalogados: regime de funcionamento, enquadramento
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tarifário, dados médios de consumo e demanda, sistemas energéticos


predominantes e sua caracterização básica, resultados preliminares de substituição
dos usos finais que apresentarem maior potencial de eficientização.

4.3. Diagnóstico Energético


O diagnóstico energético é a principal etapa de um projeto de eficientização
energética. Nele serão realizados todos os estudos e projetos necessários para
atingir o objetivo final de um projeto desta natureza: otimizar o sistema energético e
reduzir os custos com energia elétrica da empresa.
No início do diagnóstico energético devem ser definidas as diretrizes para
elaboração do plano de medição e verificação (M&V), com base no Módulo 8 do
PROPEE – Medição e Verificação de Resultados.
A primeira etapa do diagnóstico é a caracterização em detalhes do sistema
energético da empresa, contemplando o levantamento de carga, medições de
energia, análise de faturas de energia, análise dos processos produtivos da
empresa, cálculos de consumo específico, dentre outros. As análises realizadas
nesta primeira etapa dependem do perfil de cada empresa, porém, alguns dados são
básicos e devem constar em diagnósticos energéticos de qualquer natureza, dentre
os quais podem ser destacados a carga instalada total e a sua distribuição por uso
final (figura 4.1) e gráficos ou tabelas com dados medidos do sistema (figura 4.2).
Mais detalhes são apresentados nos estudos de caso do Capítulo 5.
9,7 kW; 12,4%
26,2 kW;
33,5%

0,7 kW; 0,9% 31,1 kW;


6,4 kW; 8,2% 39,7%
4,2 kW; 5,3%

Iluminação Condicionamento de ar
Motores elétricos Aparelhos eletro-eletrônicos
Refrigeração Aquecimento

Figura 4.1 - Gráfico com a distribuição de carga instalada por uso final.

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Figura 4.2 - Curva de potência ativa para o período de um dia.


Durante a etapa de caracterização energética do consumidor, simultaneamente
à realização das atividades citadas anteriormente, a primeira etapa do plano de
medição e verificação deve ser iniciada, que são as medições relacionadas às
condições do sistema energético antes da eficientização. Tal etapa é de fundamental
importância porque é através dos dados nela obtidos que irá ser possível a
realização de comparações com o sistema eficientizado, para validação das metas
constantes do plano de M&V. As próprias medições energéticas como a
apresentada pela figura 4.2 podem ser utilizadas para compor a primeira etapa do
plano de M&V. Outros dados medidos, como níveis de iluminamento e temperatura
de ambientes, também são importantes. A tabela constante do Anexo A apresenta
alguns dados essenciais a serem levantados para cada ambiente nesta etapa.
Finalizada a etapa de levantamento de carga e identificados os potenciais
pontos de eficientização, a etapa seguinte é a quantificação deste potencial,
realizado normalmente em termos de energia economizada (EE), em MWh/ano, e
redução de demanda na ponta (RDP), em kW, através das equações (4.1) e (4.2).
EE  N1  P1   N 2  P2   t  10 6 (4.1)
RDP  N1  P1   N 2  P2   FCP  10 3 (4.2)

Sendo:
N1: número de equipamentos do sistema existente;
P1: potência total dos equipamentos do sistema existente, em W;
N2: número de equipamentos do sistema proposto;
P2: potência total dos equipamentos do sistema proposto, em W;
t: tempo de utilização anual dos equipamentos, em h;
FCP: Fator de coincidência na ponta, que é igual a 1 se a carga for utilizada
100 % no horário de ponta; é igual a 0 se a carga for utilizada 100 % no horário fora

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de ponta; e está situado entre 0 e 1 se a carga for parcialmente utilizada no horário


de ponta.
Os valores das potências das equações (4.1) e (4.2) devem respeitar as
características particulares de cada sistema. Para sistemas de iluminação, por
exemplo, devem ser somadas as potências das lâmpadas e dos reatores; para
sistemas motrizes deve ser levado em consideração o rendimento dos motores; para
sistemas de condicionamento de ar deve ser considerada a eficiência dos
equipamentos; sistemas de aquecimento de água devem considerar a potência da
resistência auxiliar, e assim por diante.
As quantidades e potências especificadas para os sistemas eficientes
desempenham papel fundamental na viabilidade econômica do projeto. Para um
correto dimensionamento destes sistemas, são apresentadas a seguir técnicas de
projetos luminotécnicos, análise de carregamento de motores, cálculo de carga
térmica de ambientes para especificação de sistemas de condicionamento de ar, e
sistemas de aquecimento com energia solar.

4.3.1. Cálculos Luminotécnicos


O cálculo luminotécnico é uma ação importante dentro de projetos de
eficientização energética, principalmente em fases preliminares, onde o sistema de
iluminação deve ser dimensionado com equipamentos eficientes.
Antes de serem apresentados os cálculos luminotécnicos, serão apresentados
alguns breves conceitos relacionados à luminotécnica, que complementam os
conceitos já apresentados no item 2.1.1.
O índice do recinto (K) é a relação entre as dimensões do local, dado por:
a.b
K , para iluminação direta (4.1)
h . (a  b )

Sendo:
a: comprimento do recinto, em m;
b: largura do recinto, em m;
h: pé direito útil, em m;
O pé direito útil é a distância real entre a luminária e o plano de trabalho. É o
valor do pé direito total do recinto (H), descontadas a altura do plano de trabalho
(hpl.tr.) e a altura do pendente da luminária (hpend.), conforme ilustrado pela figura 4.3.

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Figura 4.3 - Representação do pé direito útil.


O fator de utilização é a relação entre o fluxo luminoso que chega ao plano de
trabalho e o fluxo luminoso total emitido pelas lâmpadas, ou seja, ele indica a
eficiência luminosa do conjunto lâmpada, luminária e recinto. O fator de utilização
depende das dimensões do ambiente (índice do recinto, K), do tipo de luminária e
das pinturas do teto, parede e piso. A tabela 4.2 apresenta os valores das
refletâncias médias do teto, da parede e do piso.
Tabela 4.2 - Valor da refletância em função da tonalidade da superfície.
Superfície Tonalidade Refletância
Branco 70 %
Teto Claro 50 %
Escuro 30 %
Claras 50 %
Paredes
Escuras 30 %
Piso Escuro 10 %

Para determinar o fator de utilização pode-se consultar catálogos de


fabricantes de luminárias, que fornecem tabelas como a apresentada pela tabela
4.3. Para obter o fator de utilização, basta realizar a interseção entre o índice do
recinto (K) e as refletâncias do teto, paredes e piso, nesta ordem.

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Tabela 4.3 - Dados para auxílio na determinação do fator de utilização de luminária.


Teto (%) 70 50 30
Parede (%) 50 30 10 50 30 10 30 10
Piso (%) 10 10 10
K Fator de utilização
0,60 0,32 0,28 0,26 0,31 0,28 0,26 0,28 0,25
0,80 0,39 0,36 0,33 0,39 0,35 0,33 0,35 0,35
1,00 0,44 0,41 0,39 0,43 0,40 0,38 0,40 0,38
1,25 0,48 0,45 0,43 0,47 0,45 0,42 0,44 0,42
1,50 0,51 0,48 0,45 0,49 0,47 0,45 0,46 0,45
2,00 0,54 0,52 0,50 0,53 0,51 0,49 0,50 0,49
2,50 0,55 0,54 0,52 0,55 0,53 0,52 0,52 0,51
3,00 0,57 0,55 0,54 0,56 0,54 0,53 0,53 0,52
4,00 0,58 0,57 0,56 0,57 0,56 0,55 0,54 0,54
5,00 0,60 0,58 0,57 0,58 0,57 0,56 0,56 0,55

Passo fundamental para a realização de um projeto luminotécnico é a definição


da iluminância média (Em) necessária para cada ambiente. A iluminância média é
utilizada porque o fluxo luminoso não é distribuído de maneira uniforme, e a
iluminância não será a mesma em todos os pontos da área em questão. A
iluminância pode ser medida com o auxílio de um aparelho denominado de
luxímetro. No Brasil existe uma norma, ABNT NBR ISO 8995 – Iluminação de
ambientes de trabalho, Parte 1: Interior, que especifica os valores mínimos de Em
para os mais variados tipos de ambientes. A tabela 4.4, extraída da referida norma,
mostra os valores mínimos de iluminância média por tipo de ambiente. A norma
define ainda os valores para o índice limite de ofuscamento unificado (UGR L), valor
máximo permitido do nível de ofuscamento para uma instalação de iluminação, e o
índice de reprodução de cor mínimo (Ra) já apresentado.
De posse da iluminância necessária para o ambiente de trabalho, pode-se
passar para o cálculo luminotécnico em si, que pode ser realizado através de vários
métodos. Aqui será apresentado o método das eficiências.
A sequência dos cálculos é iniciada com a escolha da lâmpada adequada,
seguindo para a escolha da luminária adequada e por fim o cálculo da quantidade e
distribuição das luminárias no local.

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Tabela 4.4 - Valores de Iluminância, limitação de ofuscamento e qualidade da cor


definidos na ABNT NBR ISO 8995-1 (trechos da tabela completa da Norma).
Tipo de ambiente, tarefa ou atividade Em (lux) UGRL Ra
1. Áreas gerais da edificação
Saguão de entrada 100 22 60
Sala de espera 200 22 80
Áreas de circulação e corredores 100 28 40
Escadas, escadas rolantes e esteiras rolantes 150 25 40
Rampas de carregamento 150 25 40
Refeitórios/cantinas 200 22 80
Salas de descanso 100 22 80
Salas para exercícios físicos 300 22 80
Vestiário, banheiros, toaletes 200 25 80
Enfermarias 500 19 80
Salas para atendimento médico 500 16 90
Estufas, sala dos disjuntores 200 25 60
Correios, quadros de distribuição 500 19 80
Depósitos, estoques, câmara fria 100 25 60
Expedição 300 25 60
Estação de controle 150 22 60
... ... ... ...
6. Indústria de borracha, plástica e química
Instalações de processamento operadas
50 - 20
remotamente
Instalações de processamento com
150 28 40
intervenção manual limitada
Instalações de processamento com trabalho
300 25 80
manual constante
Metrologias, laboratórios 500 19 80
Produção farmacêutica 500 22 80
Produção de pneus 500 22 80
Inspeção de cor 1.000 16 90
Corte, acabamento, inspeção 750 19 80
... ... ... ...
22. Escritórios
Arquivamento, cópia, circulação, etc. 300 19 80
Escrever, teclar, ler, processar dados 500 19 80
Desenho técnico 750 16 80
Estações de projeto assistido por computador 500 19 80
Salas de reunião e conferência 500 19 80
Recepção 300 22 80
Arquivos 200 25 80
... ... ... ...
De posse da iluminância média (Em) exigida no ambiente, dada em lux, do fluxo
luminoso da lâmpada escolhida e do fator de utilização da luminária escolhida, o
cálculo da quantidade de luminárias é realizado de acordo com a equação (4.2).
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Em  A
n (4.2)
  Fu  Fd
Sendo:
n: quantidade de lâmpadas necessárias;
A: área da superfície iluminada, em m2;
 = fluxo luminoso de uma lâmpada, em lm;
Fu = fator de utilização da luminária, adimensional;
Fd: fator de depreciação (0,80 para ambiente muito limpo; 0,67 para carga de
poluição normal no ambiente com luminárias com pequena tendência de coleta de
poeira; 0,57 para carga de poluição normal no ambiente com luminárias com
tendência normal de coleta de poeira; 0,50 para ambiente sujo), adimensional.
Por fim, para fazer a distribuição das luminárias no local, os pontos de
iluminação devem preferencialmente ser distribuídos uniformemente no recinto,
levando-se em conta o layout do mobiliário, o direcionamento da luz para a mesa de
trabalho e o próprio tamanho da luminária.
A distância máxima entre os centros das luminárias deve ser de 1 a 1,5 do pé
direito útil do ambiente. O espaçamento entre a luminária e a parede deve
corresponder à metade deste valor. A figura 4.4 ilustra o posicionamento adequado
das luminárias em um ambiente.

Figura 4.4 - Distribuição de luminárias no ambiente.


Da figura, tem-se que:
X  Y  1 a 1,5 h
(4.3)
X 1  Y1  X 2

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4.3.2. Análise de Carregamento de Motores


A análise de carregamento de motores exerce um papel fundamental em
projetos de eficientização energética por dois principais motivos, que se
complementam: em muitos casos o consumidor adquire motores para suas
aplicações sem qualquer conhecimento sobre a sua real necessidade, ou mesmo é
levado a escolher um motor de maior porte com a errônea justificativa de manter
uma capacidade extra; e motores bem dimensionados e de alto rendimento, em
substituição a motores mal dimensionados e ineficientes representam ganhos
energéticos consideráveis, principalmente em aplicações onde os motores operam
em severos regimes de funcionamento.
Para realizar a análise do carregamento de motores deve-se dispor de dois
itens: um alicate amperímetro para medição de corrente de alimentação do motor e
a curva de desempenho do motor, obtida em catálogos de fabricantes. Na ausência
dos dados do fabricante, podem ser utilizadas curvas gerais de desempenho,
divididas por capacidade do motor.
A figura 4.5 apresenta uma curva de desempenho de um motor de 3 cv. As
análises realizadas na sequência são baseadas nesta curva, considerando-se uma
situação hipotética para ilustração de uma análise de carregamento de motores.

Figura 4.5 - Curvas de desempenho de um motor de 3 cv.


Partindo do pressuposto de que a medição de corrente realizada no motor
registrou o valor de 8 A em cada fase, e que o motor da figura acima apresenta
tensão de acionamento de 220 V entre fases, 81,5 % de rendimento e fator de

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potência de 0,84, ambos a plena carga, a análise de carregamento é realizada da


seguinte forma:
1. Localiza-se a corrente de 8 A no eixo das correntes;
2. Leva-se horizontalmente ao ponto de cruzamento com a curva de corrente
(D) do motor;
3. Leva-se verticalmente ao eixo de carregamento, obtendo o valor de 93 %;
4. Leva-se verticalmente aos pontos de cruzamento com as curvas de
rendimento e fator de potência, obtendo os valores de 81 % e 0,83, respectivamente.
Com a finalidade de validar a análise e demonstrar o cálculo de outros valores
importantes, obtém-se inicialmente a potência aparente do motor, com base no valor
medido de corrente de 8 A, através da equação:
S  3  220  8  3,048 kVA

Do carregamento de 93 % obtido da curva, tem-se que a potência mecânica


disponibilizada é de:
Pmec  0,93  3  2,79 cv  2,05 kW

Com o rendimento de 81 %, obtém-se a potência elétrica ativa:


2,05
P  2,53 kW
0,81

Finalmente, o fator de potência de 0,83 permite o cálculo da potência aparente,


igual a:
2,53
S  3,05 kVA
0,83
Este valor, comparado ao medido de 3,048 kVA, apresenta erro de 0,2 %,
considerado desprezível. Os dados comprovam que a análise através da curva é
confiável, e que o motor em questão está bem dimensionado para a aplicação.
Neste caso, o potencial de eficientização recai apenas na substituição do motor, de
baixo rendimento (81 %), por um modelo de alto rendimento, que para esta
capacidade pode atingir 90 % de rendimento. Dependendo da aplicação, a utilização
de inversores de freqüência para seu acionamento pode representar em um
potencial de economia ainda maior.

4.3.3. Carga Térmica de Ambientes


Sistemas de condicionamento de ar, assim como no caso de motores elétricos,
são muitas vezes sobredimensionados por desconhecimento da real necessidade
térmica de cada ambiente a ser climatizado. Em função disso, também é de
fundamental importância a análise sobre o dimensionamento de cada sistema de
climatização, já que sistemas ineficientes e sobredimensionados podem representar
um desperdício de energia considerável, maior ainda se considerada a utilização em
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larga escala de sistemas de condicionamento de ar em algumas classes de


consumidores, como a de comércio e serviços e os setores públicos, que muitas
vezes requerem climatização de toda ou da maior parte de suas áreas durante todo
o expediente.
Um método simples, mas que confere bons resultados, é o mostrado pela
tabela 4.5, que apresenta valores de carga térmica para ambientes em função de
sua área, características construtivas básicas, posição em relação ao Sol e número
de ocupantes. Outros métodos mais complexos estão disponíveis, porém,
apresentam maiores dificuldades de uso, pois requerem uma grande quantidade de
dados, muitas vezes desconhecidos pelos projetistas, principalmente relacionados a
características construtivas muito específicas.
Tabela 4.5 - Carga térmica aproximada de ambientes.
Carga térmica (BTU/h) 1
Ambiente sob outro Ambiente sob telhado Ambiente sob laje
Área
pavimento com forro descoberta
(m2)
Sol Sol Sol Sol Sol Sol
Sombra Sombra Sombra
manhã tarde 2 manhã tarde 2 manhã tarde 2
15 6.000 8.000 10.000 7.000 10.000 12.000 8.000 11.000 14.000
20 6.000 8.000 11.000 8.000 12.000 14.000 11.000 14.000 14.000
30 6.000 8.000 12.000 10.000 14.000 16.000 14.000 18.000 17.000
40 7.000 10.000 13.000 12.000 14.000 17.000 16.000 18.000 22.000
60 10.000 14.000 17.000 16.000 20.000 23.000 22.000 30.000 30.000
70 10.000 14.000 18.000 18.000 22.000 30.000 23.000 30.000 30.000
90 12.000 16.000 20.000 22.000 30.000 30.000 30.000 35.000 40.000
Notas: 1. Acrescer 600 BTU/h para cada ocupante que exceder o número de dois.
2. Também válido para ambientes que recebem radiação solar o dia inteiro.

Todas as informações para a utilização deste método podem ser obtidas em


visita, sem a necessidade de dados medidos. Para a determinação da incidência de
radiação solar sobre o local, deve-se conhecer a orientação do ambiente, e superpor
um esboço de sua planta em uma carta solar, como a mostrada na figura 4.6, válida
para um local de latitude 0º.

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Figura 4.6 - Carta solar para auxílio na determinação de cargas térmicas de


ambientes.
Caso não se disponha de dados do equipamento que compõe o sistema de
condicionamento de ar, uma alternativa para obter a sua eficiência é através da
determinação de sua potência, que pode ser medida, com o aparelho em pleno
funcionamento, com o auxílio de um alicate wattímetro ou amperímetro.
Conhecendo-se a capacidade do equipamento, em BTU/h, a eficiência pode ser
determinada (BTU/Wh) e comparada a de equipamentos disponíveis no mercado,
para determinação da viabilidade da substituição.

4.3.4. Sistemas de Aquecimento com Energia Solar


Existem na literatura diversas metodologias de cálculo de sistemas de
aquecimento de água com energia solar. O presente texto apresenta um método
simples, que é baseado no fato de ser conhecido o consumo médio de energia
elétrica do sistema de aquecimento. De posse deste valor, a área total requerida de
coletores solares é proporcional à produção média mensal específica de energia por
coletor (kWh/m2.mês), valores que podem ser obtidos em tabelas de equipamentos
que recebem a Etiqueta Nacional de Conservação de Energia e o Selo PROCEL.
Como exemplo, sabendo-se que um sistema de aquecimento elétrico para
banho consome mensalmente 410 kWh de energia e que um determinado tipo de
coletor solar, dotado de Selo PROCEL de economia de energia, possui uma
produção média mensal específica de energia de 82 kWh/m 2.mês, pode-se calcular
a área total necessária de coletores solares, 5 m2 para este caso.
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Conhecendo-se o volume necessário de água aquecida por dia pode-se


dimensionar o reservatório, normalmente de mesma capacidade da necessidade de
água, ou levemente superior. A pressão requerida do reservatório depende da
instalação do sistema, como mencionado anteriormente. De posse da capacidade do
reservatório é possível definir a potência média de aquecimento auxiliar, a ser
utilizada na ocorrência de longos períodos nublados, com base na tabela 4.6.
Tabela 4.6 - Potência média do aquecimento auxiliar por reservatório.
Volume do reservatório (litros) Potência recomendada da resistência (W)
100 350-400
150 550-600
200 700-800
300 1.000-1.100
400 1.350-1.450

A energia economizada por ano dependerá da aplicação do aquecimento. Caso


seja crítica, a resistência auxiliar será utilizada com maior freqüência; caso contrário
ela será pouco ou nunca utilizada. Recomenda-se, ainda, a introdução de
gerenciadores que impeçam a entrada em operação da resistência no horário de
ponta, reduzindo a zero a demanda utilizada na ponta.

4.4. Análise de Viabilidade Econômica


A análise de viabilidade econômica de programas de eficiência energética
requer, inicialmente, definição precisa dos custos dos sistemas eficientes, incluindo
equipamentos, serviços e demais valores associados.
De posse dos custos discriminados de equipamentos e serviços para cada uso
final eficientizado, parte-se para os cálculos dos custos anualizados, de acordo com
as equações (4.4), (4.5), (4.6) e (4.7).
n
CAtotal   CAequip _ i (4.4)
i 1

CAequip _ i  CPE equip _ i  FRC i (4.5)

 CE equip _ i 
CPE equip _ i  CE equip _ i  CT  CTE    (4.6)
 CTE 

d (1  d )vu
FRC  (4.7)
(1  d )vu  1

Sendo:
CAtotal: custo anualizado total;
CAequip_i: custo anualizado dos equipamentos com mesma vida útil;

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CPEequip_i: custo dos equipamentos com mesma vida útil, acrescido da parcela
correspondente aos outros custos diretos e indiretos. Esta parcela é proporcional ao
percentual do custo do equipamento em relação ao custo total com equipamentos;
CEequip_i: Custo somente dos equipamentos com mesma vida útil;
CT: Custo total do projeto (custos diretos e indiretos);
CTE: Custo total somente de equipamentos;
FRC: Fator de recuperação de capital;
vu: Vida útil do equipamento, em anos;
d: taxa de desconto. De acordo com o PROPEE, a taxa de desconto a ser
considerada na avaliação financeira de projetos tem por base o Plano Nacional de
Energia – PNE 2030 – “Taxa de desconto aplicada na avaliação das alternativas de
expansão”. Seu valor mínimo é 8 % a.a., porém, um valor típico considerado é 12 %
a.a.
A etapa seguinte de cálculo é a definição dos benefícios anualizados. Para
estes cálculos são consideradas duas novas variáveis: o custo evitado de demanda
(CED), dado em R$/kW, e o custo evitado de energia (CEE), em R$/MWh. As duas
variáveis são calculadas pelas equações (4.8) e (4.9).
CED  12  C1   12  C2  LP  (4.8)

CEE 
C3  LE 1   C 4  LE 2   C5  LE 3   C6  LE 4 
(4.9)
LE 1  LE 2  LE 3  LE 4

Sendo:
LP: constante de perda de demanda no posto fora de ponta, considerando 1
kW de perda de demanda no horário de ponta;
LE1: constante de perda de energia no posto de ponta de períodos secos,
considerando 1 kW de perda de demanda no horário de ponta;
LE2: constante de perda de energia no posto de ponta de períodos úmidos,
considerando 1 kW de perda de demanda no horário de ponta;
LE3: constante de perda de energia no posto de ponta de períodos secos,
considerando 1 kW de perda de demanda no horário fora de ponta;
LE4: constante de perda de energia no posto de ponta de períodos úmidos,
considerando 1 kW de perda de demanda no horário fora de ponta;
C1: custo unitário da demanda no horário de ponta, em R$/kW.mês;
C2: custo unitário da demanda no horário fora de ponta, em R$/kW.mês;
C3: custo unitário da energia no horário de ponta de períodos secos, em
R$/MWh;

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C4: custo unitário da energia no horário de ponta de períodos úmidos, em


R$/MWh;
C5: custo unitário da energia no horário fora de ponta de períodos secos, em
R$/MWh;
C6: custo unitário da energia no horário fora de ponta de períodos úmidos, em
R$/MWh.
Este método se baseia no cálculo do custo unitário de perdas técnicas no
sistema elétrico – a energia e demanda evitadas correspondem a uma redução de
perdas no sistema e o benefício “de evitar uma unidade de perdas é numericamente
igual ao custo de fornecer uma unidade adicional de carga”.
Os valores de LP, LE1, LE2, LE3 e LE4 podem ser obtidos da tabela 4.7, sendo
calculados com base no fator de carga do segmento elétrico, imediatamente a
montante daquele considerado ou que sofreu a intervenção, ou ainda, na falta deste,
o médio da empresa distribuidora nos últimos 12 meses.
Tabela 4.7 - Constantes LP, LE1, LE2, LE3 e LE4.
Fator de
LP LE1 LE2 LE3 LE4
carga
0,1 0,1444 0,23139 0,16197 - 0,10990 - 0,07760
0,15 0,1681 0,24102 0,16871 - 0,02643 - 0,01867
0,2 0,1936 0,25119 0,17583 0,07832 0,05530
0,25 0,2209 0,26190 0,18333 0,20435 0,14430
0,3 0,2500 0,27315 0,19121 0,35166 0,24832
0,35 0,2809 0,28494 0,19946 0,52026 0,36738
0,4 0,3136 0,29727 0,20809 0,71014 0,50146
0,45 0,3481 0,31014 0,21710 0,92130 0,65057
0,5 0,3844 0,32355 0,22649 1,15375 0,81472
0,55 0,4225 0,33750 0,23625 1,40748 0,99389
0,6 0,4624 0,35199 0,24639 1,68249 1,18808
0,65 0,5041 0,36950 0,25865 1,97632 1,39557
0,7 0,5476 0,38516 0,26961 2,29381 1,61977
0,75 0,5929 0,40136 0,28095 2,63258 1,85899
0,8 0,6400 0,41810 0,29267 2,99264 2,11324
0,85 0,6889 0,43538 0,30476 3,37398 2,38252
0,9 0,7396 0,45320 0,31724 3,77660 2,66683

Calculados os valores do custo evitado de demanda e do custo evitado de


energia, e conhecendo-se os valores da energia economizada e da demanda
retirada da ponta, obtidos a partir das equações (4.1) e (4.2), os benefícios
anualizados (BAtotal) do projeto, em R$, são obtidos a partir da equação (4.10).
BAtotal  EE  CEE   RDP  CED  (4.10)

Finalmente, a relação custo-benefício (RCB) global do projeto é calculada por:

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CAtotal
RCB  (4.11)
BAtotal

De acordo com o PROPEE, os projetos devem apresentar uma relação custo-


benefício máxima de 0,80.

4.5. Execução
A etapa de execução compreende as atividades de engenharia e obras
previstas no diagnóstico energético, referentes basicamente à instalação dos
sistemas eficientes, sejam eles novos ou em substituição aos sistemas ineficientes
anteriormente existentes nas instalações do consumidor. Esta etapa é sucedida pela
etapa de verificação, onde os reais ganhos de economia de energia e redução de
demanda na ponta são calculados, através da comparação com os dados medidos
antes e depois da eficientização.
As instalações devem seguir as especificações dos fabricantes dos
equipamentos e as recomendações técnicas que garantam o melhor aproveitamento
dos sistemas eficientes. Casos típicos de instalações inadequadas, que têm
algumas soluções apresentadas no Capítulo 6, são a exposição de unidades
condensadoras de aparelhos de ar-condicionado a incidência de radiação solar
direta; orientação e inclinação inadequadas de coletores solares para aquecimento
de água, instalação de compressores de sistemas a ar comprimido em locais
demasiadamente quentes, elevando, assim a temperatura de admissão de ar;
instalação de motores em locais quentes, pouco ventilados e expostos a poeira e
outras pequenas partículas.
O Manual de Elaboração do PEE, em sua nova versão aprovada em 2008,
indica a obrigatoriedade de descarte dos equipamentos ineficientes retirados de
operação quando substituídos por eficientes. O processo de descarte deve ser
criterioso e atender às regras estabelecidas pelo CONAMA (Conselho Nacional do
Meio Ambiente). Deverá ser providenciado o recolhimento do fluido refrigerante no
descarte de equipamentos de refrigeração, conforme resolução CONAMA nº 267, de
14 de setembro de 2000.

4.6. Plano de Medição e Verificação


O plano de medição e verificação (M&V) deve ser baseado no Protocolo
Internacional de Medição e Verificação de Performance (PIMVP), que fornece uma
visão geral sobre as melhores práticas atualmente disponíveis para medir e verificar
os resultados de projetos de eficiência energética.
A importância de planos de M&V pode ser resumida por uma simples frase:
“não se pode gerenciar o que não se mede”. Empresas que investem em eficiência
energética desejam quantificar as reais economias obtidas, sendo, para isto,
fundamental a aplicação de um criterioso plano de M&V.
Os objetivos básicos de uma metodologia consistente de medições são:
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- Fornecer aos envolvidos na área de eficiência energética um conjunto de


termos comuns para discutir questões-chave de projetos de medição;
- Estabelecer métodos que podem ser utilizados em contratos de desempenho
ou em projetos comuns, garantindo a sua viabilidade;
- Definir as técnicas para determinar as economias obtidas com projetos de
eficiência energética de qualquer natureza;
- Aplicar-se a uma variedade de instalações incluindo prédios residenciais,
comerciais, públicos e industriais;
- Fornecer procedimentos que podem ser aplicados a projetos similares em
todas as regiões geográficas e são internacionalmente aceitos, imparciais e
confiáveis;
- Apresentar procedimentos com diferentes níveis de exatidão e custo para
medição e/ou verificação, condições da base e instalação do projeto e economias de
energia em longo prazo;
- Criar um documento que estabeleça um conjunto de metodologias e
procedimentos que permitam que ele evolua com o tempo.
O princípio básico de projetos de M&V pode ser generalizado através da
seguinte equação:
Economia de energia  Consumo base  Consumo pós eficientização  Ajustes (4.14)

O termo “Ajustes” da equação objetiva trazer o uso da energia de dois períodos


de tempo distintos para as mesmas condições. Variáveis que podem afetar a
utilização da energia em diferentes períodos são o clima, número de funcionários,
turnos de trabalho, produtividade, entrada ou retirada de carga, entre outros. Os
ajustes podem ser positivos ou negativos.
Com base na equação (4.14), podem ser destacados três pontos principais
para elaboração de um plano de M&V:
1. Obter dados consistentes do consumo de energia das instalações antes da
execução do projeto de eficientização;
2. Obter dados consistentes do consumo de energia das instalações após a
execução do projeto de eficientização, e de forma que estes dados sejam obtidos
segundo a mesma metodologia dos dados obtidos na etapa pré-eficientização;
3. Quantificar, na medida do possível, todas as variáveis que resultem em
diferenças significativas no consumo de energia, no período de tempo transcorrido
entre as medições realizadas nas fases pré e pós-eficientização.
Dentre as variáveis citadas no último item, podem ser destacadas a
sazonalidade do consumo de energia e demanda; tipo e densidade de ocupação,
por período; condições das instalações em cada período de operação e estação do
ano; práticas de operação dos equipamentos (horários e regulagens, temperaturas
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de operação, etc.); entrada e/ou saída de carga, entre outras. O impacto destas
variáveis deve ser quantificando no consumo de energia total da instalação.
Planos de M&V são particularmente importantes quando do estabelecimento de
contratos de desempenho (também chamado de contratos de performance) entre as
partes. Nestes casos, a não execução de medição e verificação, ou uma execução
inadequada, pode levar a prejuízos a ambas as partes.

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5. ESTUDOS DE CASOS

5.1. Clube Recreativo


Um clube recreativo pode ser enquadrado na classe de comércio e serviços.
Presume-se, portanto, que seus usos finais típicos sejam iluminação, refrigeração,
climatização, aquecimento e força motriz.
O clube é atendido pela distribuidora de energia em tensão primária de
distribuição, 13,8 kV, apresentando capacidade de transformação total de 680 kVA.
Antes do projeto de eficientização, o clube estava enquadrado na tarifa horo-sazonal
verde, com demanda contratada de 195 kW. Em análise realizada em um período de
13 meses, o clube apresentou fator de carga médio da ordem de 0,24, fator de
potência médio de 0,92 e custo médio de energia de R$ 528,08 / MWh. A figura 5.1
apresenta a participação de cada grandeza faturada nos custos médios com energia
elétrica do clube.

3,01% 0,54% Consumo Ativo


0,02%
Demanda
29,92% 48,71% Impostos

Consumo Reativo
17,80%
Iluminação Pública

Multas e Outras
taxas

Figura 5.1 - Participação de cada grandeza faturada nos custos médios com energia
elétrica do clube.
Também em momento anterior à eficientização, o levantamento realizado no
clube apontou para uma carga instalada total de 551 kW, divididas entre cada uso
final como mostra a figura 5.2.

2,8% 16,9%
4,7% 47,8%
13,5%
14,3%

Iluminação Condicionamento de Ar
Motores Elétricos Aparelhos Eletro-eletrônicos
Refrigeração Aquecimento

Figura 5.2 - Distribuição percentual de potência instalada por uso final no clube.
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Foi constatado, durante a elaboração do diagnóstico, que os sistemas de


iluminação do clube são bastante ineficientes, principalmente a iluminação esportiva
e das áreas externas. Os sistemas motrizes do clube também são ineficientes,
sendo utilizados, em sua grande maioria, para movimentar as bombas hidráulicas
das piscinas.
Outros usos finais, como o aquecimento e os aparelhos eletro-eletrônicos, não
apresentam potencial de eficientização. Os sistemas de climatização já são
eficientes, em sua grande maioria, e os sistemas de refrigeração, apesar de
predominantemente ineficientes, não foram contemplados no diagnóstico devido ao
fato dos equipamentos serem praticamente todos pertencentes a empresas
terceirizadas, que prestam serviços de cozinha ao clube.
A eficientização dos sistemas de iluminação do clube propôs a substituição de
721 dos 1.477 conjuntos de iluminação presentes no clube. A ação se concentra na
substituição de todas as lâmpadas tubulares do tipo T12 por lâmpadas do tipo T8;
todos os reatores eletromagnéticos e convencionais por reatores eletrônicos;
algumas luminárias simples por luminárias reflexivas, onde sejam requeridos
maiores níveis de iluminamento; lâmpadas incandescentes e mistas por
fluorescentes compactas; lâmpadas a vapor de mercúrio por lâmpadas a vapor de
sódio; e conjuntos ineficientes por conjuntos eficientes de lâmpadas a vapor
metálico. A figura 5.3 apresenta fotos de alguns sistemas de iluminação ineficientes
do clube.
A ação resulta em uma redução total de carga instalada no clube de 47,2 kW
(8,6 %), redução de demanda na ponta de 33,0 kW e energia economizada de 64,9
MWh/ano. A tabela 5.1 apresenta detalhes de custos e benefícios anualizados
envolvidos na ação, com respectivo resultado de viabilidade econômica.
Tabela 5.1 - Análise de viabilidade econômica da eficientização da iluminação.
CUSTOS
Vida útil CEequip_i CPEequip_i CAequip_i
Item FRC
(anos) (R$) (R$) (R$)
Lâmpadas T8 e LFC 4,8 0,28567 5.314,44 7.218,63 2.062,12
Reatores eletrônicos de alto F.P. 10 0,17698 5.856,00 7.954,24 1.407,77
Luminárias eficientes 15 0,14682 381,00 517,51 75,99
Conjuntos vapor de sódio e metálico 7,2 0,21491 47.616,00 64.677,06 13.899,92
Custo anualizado total (CAtotal) - - - - 17.445,80
BENEFÍCIOS
EE CE RDP CED BAtotal
Item
(MWhano) (R$) (kW) (R$) (R$)
Iluminação 64,94 105,90 33,04 666,24 28.888,35
RELAÇÃO CUSTO-BENEFÍCIO
RCB 0,60
Notas: 1. Custos de serviços de R$ 21.200,00, resultando em um custo total do projeto (CT) de R$ 80.367,44.
2. Taxa de desconto de 12 %.

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Iluminação esportiva Iluminação externa

Iluminação externa Conjuntos ineficientes


Figura 5.3 - Exemplos de sistemas de iluminação ineficientes presentes no clube.
A eficientização dos sistemas de força motriz propôs a substituição de 18 dos
30 motores presentes no clube. A ação se concentra na substituição de motores
ineficientes por equipamentos de alto rendimento, dotados do selo PROCEL. Devido
à forma de utilização dos motores no clube, não se aplica o emprego de sistemas
eficientes de acionamento. A figura 5.4 apresenta fotos de sistemas de força motriz
ineficientes do clube.

Figura 5.4 - Exemplos de sistemas motrizes ineficientes presentes no clube.


A ação resulta em uma redução total de carga instalada de 3,6 kW (0,6 %),
redução de demanda na ponta de 2,9 kW e energia economizada de 5,4 MWh/ano.
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A tabela 5.2 apresenta detalhes de custos e benefícios anualizados envolvidos na


ação, com respectivo resultado de viabilidade econômica.
Tabela 5.2 - Análise de viabilidade econômica da eficientização da força motriz.
CUSTOS
Vida útil CEequip_i CPEequip_i CAequip_i
Item FRC
(anos) (R$) (R$) (R$)
Motores de alto rendimento 10 0,17698 9.088,00 16.088,00 2.847,32
Custo anualizado total (CAtotal) - - - - 2.847,32
BENEFÍCIOS
EE CE RDP CED BAtotal
Item
(MWhano) (R$) (kW) (R$) (R$)
Força Motriz 5,44 105,90 2,86 666,24 2.484,91
RELAÇÃO CUSTO-BENEFÍCIO
RCB 1,15
Notas: 1. Custos de serviços de R$ 7.000,00, resultando em um custo total do projeto (CT) de R$ 16.088,00.
2. Taxa de desconto de 12 %.

As ações de eficientização da iluminação e força motriz resultam em um RCB


global de 0,65, viabilizando o projeto. O resumo do projeto é apresentado na tabela
5.3.
Tabela 5.3 - Resumo da proposta de eficientização.
Item Resultado
Custo Total de Equipamentos R$ 68.255,44
Custo Total de Serviços R$ 28.200,00
Custo Total R$ 96.455,44
Custos anualizados R$ 20.293,12
Energia Conservada 70,38 MWh/ano
Redução de demanda 50,78 kW
Redução de demanda na ponta 35,90 kW
Benefícios anualizados R$ 31.373,26
Relação custo-benefício global (RCB) 0,65

5.2. Hospital
Um hospital apresenta como usos finais típicos a iluminação, refrigeração,
climatização, aquecimento e força motriz.
O hospital é atendido pela distribuidora de energia em tensão primária de
distribuição, 13,8 kV, apresentando capacidade de transformação total de 1.650
kVA. O hospital está enquadrado na tarifa horo-sazonal verde, com demanda
contratada de 665 kW. Em análise realizada em um período de 13 meses, o hospital
apresentou fator de carga médio de 0,52, fator de potência médio de 0,99 e custo
médio com energia de R$ 224,78 / MWh. A figura 5.5 apresenta a participação de
cada grandeza faturada nos custos médios com energia elétrica do hospital.

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5,8%
16,5% Consumo Ativo

Demanda

Impostos e Taxas
77,7%

Figura 5.5 - Participação de cada grandeza faturada nos custos médios com energia
elétrica do hospital.
Os valores do gráfico acima se devem à ausência de multas, ao bom fator de
potência da instalação, eliminando custos com reativos, e ao fato do hospital ser
contemplado com isenção de ICMS, reduzindo consideravelmente os custos com
impostos e taxas. Este último fato, aliado ao bom fator de carga do hospital, faz com
que o custo médio com energia seja bem reduzido.
O levantamento preliminar realizado no hospital indicou uma carga instalada
total de 1.280 kW, divididas entre cada uso final como mostra a figura 5.6.

1,7% 4,3% 10,5%

25,9%

47,2%
10,4%

Iluminação Condicionamento de Ar
Motores Elétricos Aparelhos Eletro-eletrônicos
Refrigeração Aquecimento

Figura 5.6 - Distribuição percentual de potência instalada por uso final no hospital.
Durante a elaboração do diagnóstico foi constatado que os sistemas de
iluminação do hospital são predominantemente ineficientes, inclusive com potencial
de gerenciamento de energia através da utilização de sensores em diversas áreas
de circulação. Muitos sistemas de climatização do hospital também são ineficientes.
Os demais usos finais apresentam baixo ou nenhum potencial de eficientização.
A eficientização dos sistemas de iluminação propôs a substituição de 1.419 dos
2.137 conjuntos de iluminação presentes no hospital. A ação se concentra na
substituição de todas as lâmpadas tubulares do tipo T12 por lâmpadas do tipo T8;
todos os reatores eletromagnéticos e convencionais por reatores eletrônicos;
algumas luminárias simples por luminárias reflexivas, onde sejam requeridos
maiores níveis de iluminamento; e lâmpadas incandescentes por fluorescentes
compactas.
A ação resulta em uma redução total de carga instalada de 30,5 kW (2,4 %),
redução de demanda na ponta de 25,4 kW e energia economizada de 106,9
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MWh/ano. A tabela 5.4 apresenta detalhes de custos e benefícios anualizados


envolvidos na ação, com respectivo resultado de viabilidade econômica.
Tabela 5.4 - Análise de viabilidade econômica da eficientização da iluminação.
CUSTOS
Vida útil CEequip_i CPEequip_i CAequip_i
Item FRC
(anos) (R$) (R$) (R$)
Lâmpadas T8, reatores e luminárias 5,0 0,27741 61.741,00 71.002,15 19.696,69
Lâmpadas LFC 5,4 0,26290 840,00 966,00 253,96
Custo anualizado total (CAtotal) - - - - 19.950,65
BENEFÍCIOS
EE CE RDP CED BAtotal
Item
(MWhano) (R$) (kW) (R$) (R$)
Iluminação 106,86 105,90 25,40 666,24 28.237,73
RELAÇÃO CUSTO-BENEFÍCIO
RCB 0,71
Notas: 1. Custos de serviços de R$ 9.387,15, resultando em um custo total do projeto (CT) de R$ 71.968,15.
2. Taxa de desconto de 12 %.

A eficientização dos sistemas de climatização propôs a substituição de 133 dos


329 equipamentos de climatização presentes no hospital. A ação se concentra na
substituição de aparelhos ineficientes do tipo “janela” por equipamentos eficientes,
dos tipos “janela” e “split”, dotados do selo PROCEL.
A ação resulta em uma redução total de carga instalada de 60,5 kW (4,7 %),
redução de demanda na ponta de 48,4 kW e energia economizada de 181,7
MWh/ano. A tabela 5.5 apresenta detalhes de custos e benefícios anualizados
envolvidos na ação, com respectivo resultado de viabilidade econômica.
Tabela 5.5 - Análise de viabilidade econômica da eficientização da climatização.
CUSTOS
Vida útil CEequip_i CPEequip_i CAequip_i
Item FRC
(anos) (R$) (R$) (R$)
Aparelhos de climatização eficientes 10 0,17698 165.314,00 227.211,10 40.212,77
Custo anualizado total (CAtotal) - - - - 40.212,77
BENEFÍCIOS
EE CE RDP CED BAtotal
Item
(MWhano) (R$) (kW) (R$) (R$)
Sistemas de Climatização 181,71 105,90 48,40 666,24 51.491,41
RELAÇÃO CUSTO-BENEFÍCIO
RCB 0,78
Notas: 1. Custos de serviços de R$ 61.897,10, resultando em um custo total do projeto (CT) de R$ 227.211,10.
2. Taxa de desconto de 12 %.

Ainda foi proposta a instalação de sensores automáticos para controle de


iluminação artificial, visando reduzir o desperdício verificado com o acionamento

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sem necessidade de sistemas de iluminação em diversos setores do hospital, como


no estacionamento, situação ilustrada pela foto da figura 5.7.

Figura 5.7 - Iluminação artificial desnecessária, em local com presença suficiente de


iluminação natural.
É proposta a instalação de 66 sensores de ocupação com fotossensores
embutidos. Os sensores de ocupação sugeridos são aqueles com chaves de três
posições onde se possa anular o efeito do sensor. Esta sugestão deve-se ao fato
dos ambientes de passagem do hospital possuírem alta rotatividade durante um
certo período do dia. Neste período de maior movimento, para evitar o acionamento
constante das lâmpadas, o que contribui para a redução de sua vida útil, sugere-se
que a chave do sensor esteja selecionada de modo a inibir a sua ação. No período
de menor movimento, um funcionário acionaria a chave para permitir a atuação
normal do sensor.
A instalação de sensores automáticos não implica em redução de demanda. A
real redução de consumo obtida com esta medida é difícil de ser mensurada, pois
ainda depende da ação humana, principalmente pela necessidade de acionamento
das chaves nas transições entre os períodos de maior e menor movimento no
hospital. Em função disto, é considerada uma estimativa de redução, assumindo que
no período de 18:00 às 06:00 h, toda a iluminação permanece atualmente ligada
durante 10 das 12 h. Com a instalação dos sensores o período de utilização será
reduzido para 2 horas. Tal estimativa resulta em uma economia anual de energia da
ordem de 20,6 MWh.
A tabela 5.6 apresenta detalhes de custos e benefícios anualizados envolvidos
na ação, com respectivo resultado de viabilidade econômica.

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Tabela 5.6 - Análise de viabilidade econômica da eficientização da gestão.


CUSTOS
Vida útil CEequip_i CPEequip_i CAequip_i
Item FRC
(anos) (R$) (R$) (R$)
Sensores automáticos 10 0,17698 3.300,00 3.795,00 671,65
Custo anualizado total (CAtotal) - - - - 671,65
BENEFÍCIOS
EE CE RDP CED BAtotal
Item
(MWhano) (R$) (kW) (R$) (R$)
Gestão da Utilização da Energia 20,59 105,90 0,00 666,24 2.180,48
RELAÇÃO CUSTO-BENEFÍCIO
RCB 0,31
Notas: 1. Custos de serviços de R$ 495,00, resultando em um custo total do projeto (CT) de R$ 3.795,00.
2. Taxa de desconto de 12 %.

As ações de eficientização da iluminação, climatização e gestão resultam em


um RCB global de 0,72, viabilizando o projeto. O resumo do projeto é apresentado
na tabela 5.7.
Tabela 5.7 - Resumo da proposta de eficientização.
Item Resultado
Custo Total de Equipamentos R$ 231.195,00
Custo Total de Serviços R$ 71.779,25
Custo Total R$ 302.974,25
Custos anualizados R$ 60.835,07
Energia Conservada 309,16 MWh/ano
Redução de demanda 91,00 kW
Redução de demanda na ponta 73,80 kW
Benefícios anualizados R$ 81.909,63
Relação custo-benefício global (RCB) 0,72

5.3. Clínica
Uma clínica, de forma semelhante a um hospital, apresenta como usos finais
típicos a iluminação, refrigeração, climatização, aquecimento e força motriz. A
principal diferença é que neste estudo de caso trata-se de uma clínica de pequeno
porte, atendida pela distribuidoras de energia em tensão secundária de distribuição.
O levantamento realizado na clínica em momento anterior à eficientização
apontou para uma carga instalada total de 42,3 kW, divididas entre cada uso final
como mostra a figura 5.8.

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21,3% 6,7%

1,7%

8,9%
1,4%
60,0%

Iluminação Condicionamento de Ar
Motores Elétricos Aparelhos Eletro-eletrônicos
Refrigeração Aquecimento

Figura 5.8 - Distribuição percentual de potência instalada por uso final na clínica.
Foi constatada, durante a elaboração do diagnóstico, a ineficiência dos
sistemas de iluminação, de climatização e de aquecimento da clínica. Este último é
composto por apenas um aquecedor elétrico de água da piscina da clínica, utilizada
em sessões de fisioterapia aquática. Os demais usos finais não apresentam
potencial de eficientização.
A eficientização dos sistemas de iluminação da clínica propôs a substituição de
41 conjuntos ineficientes por outros eficientes, concentrando-se na substituição de
todas as lâmpadas tubulares do tipo T12 por lâmpadas do tipo T8; todos os reatores
eletromagnéticos e convencionais por reatores eletrônicos; algumas luminárias
simples por luminárias reflexivas, onde sejam requeridos maiores níveis de
iluminamento; e lâmpadas incandescentes por fluorescentes compactas.
A ação resulta em uma redução total de carga instalada na clínica de 1,2 kW
(2,8 %), redução de demanda na ponta de 0,8 kW e energia economizada de 1,8
MWh/ano. A tabela 5.8 apresenta detalhes de custos e benefícios anualizados
envolvidos na ação, com respectivo resultado de viabilidade econômica.
Tabela 5.8 - Análise de viabilidade econômica da eficientização da iluminação.
CUSTOS
Vida útil CEequip_i CPEequip_i CAequip_i
Item FRC
(anos) (R$) (R$) (R$)
Lâmpadas T8 e LFC 4,8 0,28567 312,74 520,05 148,56
Reatores eletrônicos de alto F.P. 10 0,17698 462,00 768,26 135,97
Luminárias eficientes 15 0,14682 1.390,00 2.311,43 339,38
Custo anualizado total (CAtotal) - - - - 623,91
BENEFÍCIOS
EE CE RDP CED BAtotal
Item
(MWhano) (R$) (kW) (R$) (R$)
Iluminação 1,83 114,37 0,80 799,49 804, 88
RELAÇÃO CUSTO-BENEFÍCIO
RCB 0,78
Notas: 1. Custos de serviços de R$ 1.435,00, resultando em um custo total do projeto (CT) de R$ 3.599,74.
2. Taxa de desconto de 12 %.
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A eficientização dos sistemas de climatização propôs a substituição de 11 dos


17 equipamentos de climatização presentes na clínica. A ação se concentra na
substituição de aparelhos ineficientes do tipo “janela” por equipamentos eficientes,
dos tipos “janela” e “split”, dotados do selo PROCEL. A ação resulta em uma
redução total de carga instalada de 4,0 kW (9,5 %), redução de demanda na ponta
de 3,1 kW e energia economizada de 9,1 MWh/ano. A tabela 5.9 apresenta detalhes
de custos e benefícios anualizados envolvidos na ação, com respectivo resultado de
viabilidade econômica.
Tabela 5.9 - Análise de viabilidade econômica da eficientização da climatização.
CUSTOS
Vida útil CEequip_i CPEequip_i CAequip_i
Item FRC
(anos) (R$) (R$) (R$)
Aparelhos de climatização eficientes 10 0,17698 10.972,00 14.272,00 2.525,92
Custo anualizado total (CAtotal) - - - - 2.525,92
BENEFÍCIOS
EE CE RDP CED BAtotal
Item
(MWhano) (R$) (kW) (R$) (R$)
Sistemas de Climatização 9,12 114,37 3,07 799,49 3.495,92
RELAÇÃO CUSTO-BENEFÍCIO
RCB 0,72
Notas: 1. Custos de serviços de R$ 3.300,00, resultando em um custo total do projeto (CT) de R$ 14.272,00.
2. Taxa de desconto de 12 %.

A eficientização dos sistemas de aquecimento elétrico propôs a substituição do


aquecedor elétrico por um sistema de aquecimento solar, com coletores dotados do
selo PROCEL. Assume-se que não haverá resistência auxiliar no sistema,
resultando em uma redução total de carga instalada de 9,0 kW (21,3 %), redução de
demanda na ponta de 6,3 kW e energia economizada de 7,0 MWh/ano. A tabela
5.10 apresenta detalhes de custos e benefícios anualizados envolvidos na ação,
com respectivo resultado de viabilidade econômica.
Tabela 5.10 - Análise de viabilidade econômica da eficientização do aquecimento.
CUSTOS
Vida útil CEequip_i CPEequip_i CAequip_i
Item FRC
(anos) (R$) (R$) (R$)
Sistema de aquecimento solar 15 0,14682 10.000,00 18.000,00 2.642,84
Custo anualizado total (CAtotal) - - - - 2.642,84
BENEFÍCIOS
EE CE RDP CED BAtotal
Item
(MWhano) (R$) (kW) (R$) (R$)
Sistemas de Aquecimento 7,02 114,37 6,30 799,49 2.484,91
RELAÇÃO CUSTO-BENEFÍCIO
RCB 0,45
Notas: 1. Custos de serviços de R$ 8.000,00, resultando em um custo total do projeto (CT) de R$ 18.000,00.
2. Taxa de desconto de 12 %.
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As ações de eficientização da iluminação, climatização e aquecimento resultam


em um RCB global de 0,62, viabilizando o projeto. O resumo do projeto é
apresentado na tabela 5.11.
Tabela 5.11 - Resumo da proposta de eficientização.
Item Resultado
Custo Total de Equipamentos R$ 23.136,74
Custo Total de Serviços R$ 12.735,00
Custo Total R$ 35.871,74
Custos anualizados R$ 5.792,66
Energia Conservada 17,97 MWh/ano
Redução de demanda 14,13 kW
Redução de demanda na ponta 10,17 kW
Benefícios anualizados R$ 10.140,46
Relação custo-benefício global (RCB) 0,62

5.4. Tarifação
Os ganhos obtidos com reajustes tarifários podem ser resumidos em custos
associados a um enquadramento tarifário correto e custos associados a uma
contratação de demanda adequada.
O caso a seguir ilustra a importância de um correto enquadramento tarifário. A
tabela 5.12 apresenta os custos associados à utilização de energia elétrica em uma
unidade consumidora do subgrupo A4, enquadrada no posto tarifário horo-sazonal
verde, em um período de 12 meses.
Tabela 5.12 - Custos com energia para consumidor com tarifa horo-sazonal verde.
Consumo Tarifa Consumo Consumo Tarifa Consumo
Demanda Tarifa
ativo fora Consumo ativo fora ativo na Consumo ativo na Demanda Total
Mês faturada Demanda
da ponta fora da ponta da ponta ponta na ponta ponta (R$) (R$)
(kW) (R$/kW)
(kWh) (R$/kWh) (R$) (kWh) (R$/kWh) (R$)
1 26.342 0,09207 2.425,31 5.234 0,95868 5.017,73 178,5 14,37 2.565,05 15.876,78
2 28.110 0,10158 2.855,41 5.467 0,97469 5.328,63 166,3 14,37 2.389,73 16.362,91
3 27.722 0,10158 2.816,00 5.795 0,97469 5.648,33 179,2 14,37 2.575,10 16.623,64
4 30.143 0,10158 3.061,93 5.272 0,97469 5.138,57 195,0 14,37 2.802,15 16.722,44
5 27.896 0,09355 2.609,56 5.303 1,08706 5.764,68 220,0 13,6077 2.993,70 17.128,38
6 27.621 0,08693 2.401,09 5.519 1,17960 6.510,21 241,2 12,98 3.130,78 17.581,77
7 28.223 0,08693 2.453,43 4.749 1,17960 5.601,92 223,9 12,98 2.906,22 16.040,96
8 35.731 0,08693 3.106,10 9.727 1,17960 11.473,97 508,3 12,98 6.597,73 31.647,36
9 79.963 0,07892 6.310,68 25.710 1,16580 29.972,72 579,6 12,98 7.523,21 65.190,03
10 30.023 0,07892 2.369,42 5.630 1,16580 6.563,45 195,0 12,98 2.531,10 17.388,78
11 18.992 0,07892 1.498,85 3.768 1,16580 4.392,73 195,0 12,98 2.531,10 12.715,51
12 26.562 0,07892 2.096,27 3.930 1,16580 4.581,59 195,0 12,98 2.531,10 13.547,55
Notas: 1. No mês 5 houve reajuste tarifário periódico da distribuidora de energia.
2. Em função de contrato diferenciado, o consumidor não pagou ultrapassagem de demanda nos meses 8 e 9.
3. A coluna “Total” contabiliza também custos de impostos e taxas.

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Em análise tarifária com comparações com a tarifa convencional, conclui-se


que até o mês 5 o enquadramento horo-sazonal verde se mostrou o mais viável
entre os existentes; porém, após a revisão tarifária anual da distribuidora de energia,
onde o custo de demanda da tarifa convencional sofreu uma redução severa,
igualando-se ao custo de demanda da tarifa horo-sazonal verde, o enquadramento
na tarifa horo-sazonal verde tornou-se menos viável que a tarifa convencional,
principalmente em meses onde os valores de consumo e demanda são mais
elevados, caso dos meses 8 e 9. A tabela 5.13 apresenta a simulação com
enquadramento na tarifa convencional em todo o período de 12 meses.
Tabela 5.13 - Custos com energia para consumidor com tarifa convencional.
Consumo Tarifa Demanda Tarifa
Consumo Demanda Total
Mês ativo Consumo faturada Demanda
ativo (R$) (R$) (R$)
(kWh) (R$/kWh) (kW) (R$/kW)

1 31.576 0,11786 3.721,55 178,5 43,11 7.695,14 17.958,44


2 33.577 0,11786 3.957,39 166,3 43,11 7.169,19 17.163,42
3 33.517 0,11786 3.950,31 179,2 43,11 7.725,31 17.541,31
4 35.415 0,11786 4.174,01 195,0 43,11 8.406,45 19.020,11
5 33.199 0,22190 7.366,86 220,0 43,11 2.855,60 15.472,02
6 33.140 0,22190 7.353,77 241,2 12,98 3.130,78 15.395,70
7 32.972 0,22190 7.316,49 223,9 12,98 2.906,22 15.005,85
8 45.458 0,22190 10.087,13 508,3 12,98 6.597,73 25.062,38
9 105.673 0,22190 23.448,84 579,6 12,98 7.523,21 46.268,79
10 35.653 0,22190 7.911,40 195,0 12,98 2.531,10 15.925,79
11 22.760 0,22190 5.050,44 195,0 12,98 2.531,10 11.496,47
12 30.492 0,22190 6.766,17 195,0 12,98 2.531,10 13.672,64

Considerando todo o período analisado, a mudança de enquadramento


ocasionaria um benefício médio de R$ 2.236,93 / mês, ou R$ 26.843,19 durante os
12 meses. Caso seja considerado apenas o período após a revisão tarifária (mês 6 a
12), o benefício é ainda mais significativo, de R$ 4.469,19 / mês, ou R$ 31.284,33
durante os 7 meses.
Em resumo, o enquadramento na tarifa horo-sazonal resulta em um custo
médio com energia de R$ 524,59 / MWh, e na tarifa convencional este custo seria de
R$ 492,95 / MWh, considerados todos os 12 meses. Se analisado apenas o período
que compreende os últimos 7 meses, a diferença é ainda mais significativa, com o
custo médio sendo reduzido de R$ 545,83 / MWh na tarifa horo-sazonal verde, para
R$ 472,72 / MWh na tarifa convencional.
Uma das conclusões obtidas com o presente estudo é que a revisão tarifária
periódica das distribuidoras de energia pode representar em aumento ou redução de
custos associados a todos os enquadramentos tarifários. No caso em questão, um
acompanhamento eficaz dos custos com energia resultou na mudança de
enquadramento a partir do mês 6, ocasionando uma economia mensal de R$
4.469,19.
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A correta contratação de demanda também pode representar economias


consideráveis na fatura de energia elétrica. O caso apresentado a seguir reflete o
valor de demanda mal contratado em uma unidade consumidora do subgrupo A4,
com tarifa convencional. No período analisado de 12 meses a demanda contratada
foi de 35 kW, porém, a média registrada no período foi de apenas 30,7 kW, com
máximo de 32,2 kW, conforme ilustrado pelo gráfico da figura 5.9.

Figura 5.9 - Valores de demanda verificado e contratado na situação real.


Partindo da premissa de que a demanda contratada ideal não pode ser menor
do que o resultado da relação (demanda máxima verificada  1,05), então o valor
contratado deveria ser de 31 kW, resultando no gráfico da figura 5.10, para o mesmo
período analisado.

Figura 5.10 - Valores de demanda verificado e contratado na situação ideal.


Se no período analisado a demanda contratada fosse de 31 kW, o benefício
total do período seria de R$ 2.101,51, excluídos os impostos e considerados os
valores de tarifa vigentes na época, o que representa um valor médio de R$ 175,13
mensais. Apesar de aparentemente baixo, o valor é considerável dado o pequeno
porte da empresa.

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5.5. Correção do Fator de Potência


A correção do fator de potência é outra medida que pode implicar em
consideráveis reduções de custos em uma empresa. Na situação analisada, uma
empresa apresentou, em um período de 17 meses, fator de potência médio de 0,82.
Neste mesmo período, apresentou registros médios de 15.053 kVArh de excedente
de energia reativa fora da ponta, 2.048 kVArh de excedente de energia reativa na
ponta, e 31,3 kVAr de excedente de demanda reativa, resultando em um custo total
médio mensal de R$ 6.241,11, com impostos inclusos. Os valores associados aos
custos com energia reativa são apresentados na tabela 5.14.
Tabela 5.14 - Custos com energia e demanda reativa para consumidor em análise.
Consumo Consumo Consumo
Consumo Demanda Demanda
reativo fora reativo fora reativo na Fator de
Mês reativo na Reativa Reativa
da ponta da ponta ponta potência
ponta (R$) (kVAr) (R$)
(kVArh) (R$) (kVArh)
1 11.936 1.361,81 1.454 1.815,33 28,1 442,10 0,83
2 14.023 1.599,93 2.299 2.870,28 49,4 777,22 0,82
3 12.795 1.459,82 1.234 1.540,67 6,5 102,26 0,83
4 16.271 1.856,41 1.554 1.940,17 0,0 0,00 0,82
5 14.807 1.904,97 1.960 2.488,64 0,0 0,00 0,82
6 16.302 2.097,30 2.616 3.321,51 78,1 1.228,77 0,81
7 18.150 2.335,05 2.771 3.518,31 54,4 855,89 0,82
8 15.415 2.196,70 2.441 3.283,55 54,3 931,40 0,81
9 17.902 2.889,16 2.539 3.659,00 24,5 466,90 0,81
10 16.622 2.657,72 2.535 3.619,37 90,7 1.712,42 0,81
11 11.355 1.853,68 2.242 3.268,20 86,4 1.665,48 0,84
12 15.293 2.230,84 2.437 3.495,44 60,1 1.162,69 0,82
13 13.463 1.944,04 1.902 2.700,50 0,0 0,00 0,83
14 14.090 2.044,05 1.972 2.812,92 0,0 0,00 0,82
15 14.973 2.157,12 1.506 2.133,36 0,0 0,00 0,82
16 16.724 2.371,11 1.713 2.388,03 0,0 0,00 0,81
17 15.773 2.465,69 1.641 2.290,67 0,0 0,00 0,81
Médias 15.053 2.918,11 2.048 2.773,29 31,3 549,71 0,82

De acordo com os dados levantados da empresa, a demanda máxima


registrada neste período foi de 1.107,3 kW. Da tabela 3.9, o fator de correção
necessário para elevar um fator de potência médio de 0,82 para 0,92 é 0,27.
Multiplicado pela potência ativa máxima verificada, chega-se a uma capacidade
necessária de 298,97 kVAr do banco de capacitores. Com base nos valores
praticados na época, o custo total (equipamentos e serviços) para a instalação de
um banco de capacitores de 300 kVAr era de R$ 16.500,00. Considerando que os
gastos com energia e demanda reativa seriam anulados, esta medida apresenta um
retorno de investimento simples menor que 3 meses, sendo, portanto, extremamente
viável.

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6. POTENCIAIS DE ECONOMIA DE ENERGIA

O presente capítulo tem como objetivo apresentar alguns pontos potenciais de


economia de energia, relacionados aos usos finais e a aspectos de gestão
abordados durante o texto.

6.1. Iluminação
Os principais pontos a serem observados visando à redução de consumo em
sistemas de iluminação são:
- Dimensionar corretamente a quantidade de iluminância necessária para o
desenvolvimento de cada tipo de atividade;
- Na concepção do projeto ou quando da necessidade de substituições de
equipamentos, priorizar lâmpadas fluorescentes, reatores eletrônicos e luminárias
com refletores;
- Em ambientes com o pé direito muito alto, rebaixar as luminárias para melhor
aproveitamento de seu fluxo luminoso;
- Adotar pontos de iluminação localizada, e não aumentar o fluxo luminosos de
um ambiente inteiro em funções de um único ponto;
- Adotar interruptores independentes;
- Aproveitar a iluminação natural sempre que possível, através de técnicas de
arquitetura eficiente, instalação de telhas translúcidas ou transparentes em galpões,
etc.;
- Limpar lâmpadas e luminárias periodicamente para evitar o acúmulo de
poeira, que reduz o fluxo luminoso;
- Dar preferência a cores claras na pintura de paredes e tetos;
- Verificar a possibilidade de instalação de sensores de presença ou
temporizados em ambientes de passagem, e de sensores fotoelétricos em
ambientes que recebam níveis razoáveis de radiação solar;
- Nunca manter sistemas de iluminação ligados em locais onde não haja
necessidade.

6.2. Força Motriz


Algumas medidas devem ser tomadas com o objetivo de diminuir as perdas de
energia nos sistemas motrizes, como por exemplo:
- Em locais onde seja necessário o controle de partida dos motores, como em
indústrias, sistemas de controle de fluxo, dentre outros, é fortemente recomendada a
instalação de equipamentos como inversores de freqüência e dispositivos para
partida suave (soft-start), que podem reduzir significativamente o consumo de
energia na partida dos motores;
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- Em locais onde existem elevadores, deve-se mantê-los funcionando


plenamente somente nos horários de muita movimentação, como por exemplo na
hora da entrada e saída, além do horário do almoço. Outra medida é instalar
controladores de tráfego para evitar que uma mesma chamada desloque mais de um
elevador;
- Em sistemas de bombeamento de água, é interessante a promoção de
campanhas sobre a redução do consumo de água de modo a reduzir o consumo de
energia elétrica no bombeamento da mesma, eliminar vazamentos nas tubulações e
torneiras e dimensionar adequadamente os motores dando preferência para aqueles
de alto rendimento.

6.3. Aquecimento
Abaixo são apresentadas algumas técnicas para redução de consumo de
energia em sistemas de aquecimento elétrico, em usos residenciais, comerciais e
industriais.
- Em dias quentes, o chuveiro deve ser colocado na posição “Verão”; onde o
consumo de energia é aproximadamente 30 % menor do que na posição “Inverno”;
- Adquirir um chuveiro de menor potência, em nova instalação ou em
substituição a um antigo e mais potente, pode representar uma redução de até 40 %
na fatura de energia elétrica, além de apresentar menor custo inicial;
- Uma resistência defeituosa nunca deve ser reaproveitada, pois além de
aumentar o consumo de energia, representa riscos à segurança;
- Operar equipamentos como fornos e estufas sempre com a carga máxima, ou
seja, com a maior quantidade admissível de produtos;
- Manter os equipamentos operando em temperaturas adequadas para cada
finalidade;
- No intervalo entre processos, com os fornos desligados, aproveitar o calor
gerado para utilizá-lo em aplicações não críticas, que requeiram menores
temperaturas;
- Manter portas do forno ou estufa sempre bem vedadas;
- Realizar manutenção periódica, mantendo em bom estado o isolamento
térmico de todas as estruturas.

6.4. Refrigeração
Os sistemas de condicionamento de ar representam um item importante dos
custos de uma edificação, quer pelos investimentos iniciais necessários, quer pelo
dispêndio que provocam ao longo do tempo com consumo de energia e com
manutenção das instalações.

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Dentre as ações que podem ser implementadas para melhorar o rendimento


energético do sistema e diminuir o desperdício de energia, podem ser destacadas as
seguintes:
- Controlar as fontes externas de calor (ou de frio), como insolação e ventilação
natural, tirando proveito das mesmas para aumentar ou diminuir a temperatura do
ambiente, conforme a época do ano;
- Conscientizar os usuários da necessidade de se manter fechadas portas e
janelas dos ambientes climatizados;
- Regular o sistema de condicionamento de ar para que ele opere em torno de
uma temperatura confortável aos usuários do ambiente, em torno de 22 e 24 oC no
verão;
- Desligar o sistema sempre que o ambiente estiver desocupado, verificando a
possibilidade de desligar uma hora antes do encerramento do expediente;
- Fazer a limpeza do filtro do aparelho na periodicidade recomendada pelo
fabricante, evitando que a sujeira prejudique o seu rendimento e aumente o
consumo de energia;
- No inverno, em dias frios ou chuvosos, desligar a refrigeração e manter o
aparelho somente na ventilação;
- Quando necessário, realizar a substituição dos equipamentos de
condicionamento de ar antigos por novos equipamentos com selo PROCEL,
observando a necessidade do aumento ou não da capacidade de refrigeração do
local.

6.5. Instalações Elétricas


Diversos tipos de perdas estão associadas à transferência de energia através
de circuitos elétricos, acarretando em custos que podem ser evitados por meio de
algumas medidas, associadas às fases de projeto, execução, operação e
manutenção. As medidas implementadas ainda na fase de concepção apresentam-
se como as mais viáveis. Em alguns casos, readequações nas instalações elétricas
como remanejamento de transformadores, recondutoramento de redes, substituição
de quadros e cabos elétricos, entre outras, podem representar não apenas
economia de energia, mas também melhoria na qualidade da energia e na
segurança das pessoas.
A seguir são apresentados alguns pontos potenciais de economia de energia
em instalações elétricas:
- Instalar o quadro geral de baixa tensão o mais próximo possível do centro
geométrico das cargas (concepção);
- Dimensionar adequadamente os condutores (concepção);

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- Evitar a instalação de transformadores de capacidades muito maiores do que


a carga demandada (concepção);
- Procurar projetar e manter as fases o mais equilibradas possível (concepção
e manutenção).
- Verificar periodicamente as condições do isolamento (manutenção);
- Verificar periodicamente as condições dos quadros de distribuição, verificando
conexões, contatos e estado de conservação dos materiais (manutenção);
- Proceder à limpeza periódica de quadros e aparelhos elétricos (manutenção);
- Em casos onde haja a presença de bancos de capacitores e ainda assim o
fator de potência encontre-se abaixo do limite mínimo, verificar se o equipamento
está desligado, queimado ou mal dimensionado (manutenção).

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ANEXO A – TABELA PARA DIAGNÓSTICO ENERGÉTICO DE EDIFICAÇÕES

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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Homepages:
ANEEL, http://www.aneel.gov.br/
INMETRO, http://www.inmetro.gov.br/
MME, http://www.mme.gov.br/
PROCEL/ELETROBRAS, http://www.eletrobras.com/procel/

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