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Centro Educacional Jardim Pampulha

3° ano do Ensino Médio

Cauane Costa da Silva

POLUIÇÃO POR CHUMBO EM SANTO AMARO- BA

Salvador- Ba
2021
Cauane Costa da Silva

POLUIÇÃO POR CHUMBO EM SANTO AMARO- BA

Trabalho apresentado como


requisito para nota de atividade
processual, 3º ano Ensino Médio.
Orientadora: Vanderleia Borges.

Salvador- Ba
2021
Introdução
Santo Amaro-Ba, é o município mais contaminado por chumbo no mundo devido
ao descarte inadequado de resíduos, realizado por uma empresa de
beneficiamento de minério que funcionou na cidade. A poluição por metais
pesados causada pela Companhia Brasileira de Chumbo-Cobrac, ex-subsidiária
da multinacional Penarroya é estudada há cerca de 40 anos desde que as
primeiras evidências foram encontradas no sangue dos trabalhadores da fábrica,
dos pescadores e nas águas do rio Subaé. A fábrica foi instalada nesta cidade
baiana em 1960 e nos primeiros anos após a sua instalação, animais de
fazendas vizinhas vieram a óbito e a partir daí já se viam os sinais de poluição.
Na década seguinte, começaram as pesquisas sobre esse assunto, e foi
descoberto também que, existia concentrações de chumbo nos compartimentos
ambientais.
Desenvolvimento

Na década de 1970 surgiram as primeiras evidências. Reis (1975), tinha o intuito


de medir o teor de chumbo e de cádmio no Rio Subaé, então ele realizou
medições em dez pontos da cidade durante o período de um ano (dezembro de
1973 a dezembro de 1974), e encontrou teores até sessenta vezes superiores
do nível estabelecido pela Organização Mundial da Saúde- OMS. Esses dados
serviriam para contribuir na decisão do órgão ambiental de negar ou não a
licença para a ampliação da Cobrac. O Centro de Pesquisa e Desenvolvimento-
Ceped informou que o teor de cádmio localizado nos moluscos era tão alto que
uma ostra de cinco gramas já poderia ultrapassar o limite recomendado para
ingestão semanal de cádmio. Essa informação foi dada pela FAO/WHO, que
informa que o limite máximo é de 500 microgramas.
Desde o inicio do seu funcionamento a empresa era alvo de reclamações dos
pecuaristas que informavam a morte de seus animais. Fazendeiros locais
custearam estudos técnicos que responsabilizaram a empresa pela
contaminação do solo, água, ar e morte dos gados. Perante isso, foi pedido o
fechamento da fábrica com base na infração do Decreto n° 50.877, de 29 de
junho de 1961, que tratava da poluição dos cursos d'água, mas não houve
sucesso no pedido.
O ano de 1975 contou ainda com a dissertação Variáveis epidemiológicas no
controle do saturnismo (acúmulo de chumbo no corpo, geralmente ao longo de
meses ou anos) O autor e médico da empresa, Spínola (1975), estudou um
grupo de operários da Cobrac e um de trabalhadores do Departamento de
Limpeza Pública e integrantes do 'Tiro de Guerra' de Santo Amaro. Comparou
os exames clínicos e laboratoriais e encontrou altas dosagens de ácido delta-
animolevulínico urinário-ALAU (que indica intoxicação pelo chumbo) mais
elevadas no grupo da Cobrac. Na década de 1980, após estudar o caso dos
pescadores, foi concluído que apesar dos elevados níveis de metais
encontrados, era mais preocupante a situação das crianças de um a cinco anos
e de mulheres com mais de cinquenta anos de idade. São tidos como grupos
mais prováveis aos efeitos tóxicos do chumbo e cádmio.
Foi realizado um estudo epidemiológico com 640 crianças residentes em área
próxima e em outra afastada da Cobrac. Esse estudo agregou pesquisadores
em uma equipe formada por químicos analíticos, médicos e biólogos da UFBA
que formavam o Núcleo Interdisciplinar de Meio Ambiente-NIMA.
Por decreto do governo do estado da Bahia, a fábrica Cobrac foi obrigada a
deslocar moradores de um raio de 500m para outras localidades; se
responsabilizar por tratar as crianças afetadas; construir uma chaminé de 90 m
de altura; instalar sistemas de filtração em todas as fontes de partículas;
suspender a doação de escória e filtros de chaminé usados e fornecer roupas de
trabalho especiais para funcionários da fábrica. Um segundo estudo foi realizado
com crianças em 1985, com o objetivo de avaliar o impacto das medidas de
mitigação na indústria. Os resultados mostraram que o grau de intoxicação em
crianças diminuiu, mas os valores de chumbo e cádmio ainda são elevados e
novos casos ocorreram.
No final da década de 90, um estudo realizado em 1998 mostrou que 88% das
crianças de Santo Amaro tinham níveis de chumbo no sangue acima de 10 Ìg /
dL, enquanto 32% tinham níveis de chumbo no sangue acima de 20 Ìg / dL. Em
2001, outro artigo escrito por um membro do Núcleo de Pesquisa Interdisciplinar
do Meio Ambiente- NIMA, provou que bovinos e mulheres adultas de Santo
Amaro tinham uma porcentagem significativamente maior de alterações
cromossômicas do que o grupo de controle. Uma pesquisa recente envolvendo
crianças foi conduzido no início dos anos 2000.
Na década de 1990, as atividades da Cobrac foram encerradas e a mesma foi
vendida pela multinacional Penarroya, passou-se a se chamar Plumbum. Nessa
fase final, o foco das pesquisas na época era a descontaminação do solo. O
legado da empresa inclui 900.000 toneladas de escória contaminada com metais
pesados, especialmente chumbo e cádmio acumulados no local da fábrica que
foram utilizados para a pavimentação de áreas públicas e privadas.
Houve a contratação de uma empresa que iniciou a realização de uma
"Avaliação de Risco à Saúde Humana por Metais Pesados em Santo Amaro da
Purificação/Bahia", deu início a ação do Ministério da Saúde no caso, isso
ocorreu no de 2003, após cerca de vinte anos depois de serem iniciados os
estudos que comprovavam a contaminação em crianças. Esta avaliação apontou
a necessidade de uma série de medidas para a proteção da saúde. Adotando a
metodologia da Agency for Toxic Substances and Diseases Registry-Atsdr
(EUA), foi identificada como foco primário da contaminação a área em torno da
Cobrac, e como secundário, o estuário do Rio Subaé, sendo áreas classificadas
como de perigo para a saúde pública.
O relatório também concluiu que as concentrações de chumbo, cádmio, cobre,
mercúrio, níquel e zinco nos sedimentos do rio Subaé são todas superiores aos
valores de referência, e as concentrações de chumbo, arsênio e cádmio nos
moluscos (sururus) são maiores do que os valores recomendados.
Somente depois que o Ministério da Saúde conduziu uma avaliação de risco, o
governo do estado da Bahia tomou medidas e estabeleceu a criação da
Comissão Intersetorial da Purificação do Grupo de Trabalho em Saúde do
Programa Intersetorial de Purificação de Santo Amaro. Em 2010, foi lançado o
"Protocolo de Vigilância e Atenção à Saúde da População Exposta ao Chumbo,
Cádmio, Cobre e Zinco em Santo Amaro, Bahia", por meio de uma iniciativa
conjunta da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia, da Prefeitura Municipal de
Santo Amaro e do MS. O documento orientava para as ações necessárias de
acompanhamento das populações expostas no passado, no presente, ou
potencialmente expostas nas áreas contaminadas em Santo Amaro.
A mineradora foi condenada pela Justiça Federal a pagar indenizações pelos
danos ambientais e sociais por conta da contaminação de chumbo na cidade, de
acordo com o Ministério Público Federal, que elaborou a ação civil pública
proposta em 2002. Segundo o MPF, a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e
a União também foram condenadas. De acordo com o Ministério Público Federal,
a condenação também determina que a mineradora cerque a área da antiga
fundação e as zonas vizinhas, instale placas de advertência indicando os riscos,
tenha um quadro de vigilantes e também instale a "área alagadiça para evitar
migração da escória depositada para o leito do Rio Subaé".
A contaminação por chumbo altera o sistema nervoso, o funcionamento dos rins,
provoca anemia, impotência e até perda de memória. O médico Fernando
Carvalho examinou os ex-empregados em estágios avançados de contaminação
e afirmou que eles têm uma qualidade de vida inferior à de idosos que sofreram
fratura de fêmur e estão acamados ou de pessoas que têm insuficiência renal
crônica”, explica. Das 3.500 pessoas que trabalham na fábrica, 948 já morreram.
Em 28 de fevereiro de 2013 a Justiça Federal na Bahia acolheu o pedido do
Ministério Público que obriga o governo a construir em Santo Amaro um centro
especializado de tratamento em um prazo de seis meses.
Entretanto, até maio de 2013, nenhuma providência nesse sentido havia sido
tomada pela União, de forma que a Associação das Vítimas de Cadmio e
Chumbo e outros metais pesados da Bahia (AVICCA) iniciou uma campanha de
abaixo-assinado para pressionar o Estado a cumprir a determinação judicial e
providenciar a assistência médica e o acompanhamento periódico que os
afetados pela contaminação até então estavam em falta.
Considerações Finais
Após inúmeras pesquisas e leituras sobre o caso, conclui-se que, a última
década representa o período com maior número de estudos, e mostra também
a gravidade da situação, uma vez que sinaliza a existência do risco de
contaminação mesmo após vários anos do fechamento da mineradora. A
Cobrac, juntamente com os órgãos (Ministério da Saúde, Justiça Federal e
Ministério Público Federal) possuem total responsabilidade no caso. Crianças,
jovens e adultos foram vítimas do descaso, principalmente do poder público.
Mesmo após quase quatro décadas dos primeiros relatos, ainda existem
cidadãos que possuem sequelas gravíssimas e jamais serão os mesmos.
Referências Bibliográficas
Ministério busca soluções para população de Santo Amaro/BA, que sofre com
contaminação por chumbo. Gov.br Governo Federal, 13 de set. de 2019.
Disponível em: https://www.gov.br/mdh/pt-
br/assuntos/noticias/2019/setembro/ministerio-busca-solucoes-para-populacao-
de-santo-amaro-ba-que-sofre-com-contaminacao-por-chumbo. Acesso em:
março de 2021.
BA – Indústria e mineração de Chumbo contaminam a água, o solo, afetam a
produtividade agrícola, a saúde e a qualidade de vida da população de Santo
Amaro da Purificação. Mapa de Conflitos, 07 de jan. de 2014. Disponível em:
http://mapadeconflitos.ensp.fiocruz.br/conflito/ba-industria-e-mineracao-de-
chumbo-contaminam-a-agua-o-solo-afetam-a-produtividade-agricola-a-saude-
e-a-qualidade-de-vida-da-populacao-de-santo-amaro-da-purificacao/. Acesso
em: março de 2021.
FERREIRA DE ANDRADE, Maiza. SANTOS MORAES, Luiz Roberto.
Contaminação por chumbo em Santo Amaro desafia décadas de pesquisas e a
morosidade do poder público. SciELO, São Paulo, 19 de março de 2013.
Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-
753X2013000200005. Acesso em: março de 2021.
Mineradora é condenada por contaminação de Santo Amaro. G1 Bahia, 26 de
abril de 2021. Disponível em:
http://g1.globo.com/bahia/noticia/2014/04/mineradora-e-condenada-por-
contaminacao-de-santo-amaro.html. Acesso em: março de 2021.

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