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Universidade Federal do Rio de Janeiro

Trabalho Individual Economia Política Internacional

Título: Sistema Mundo, o Estado Realista e Neorrealista: Questões Ambientais

Aluno: Marcos Mendonça Guerra


1. Introdução

Podemos dizer que o grande objetivo e objeto de desejo da sociedade como um


todo seria o desenvolvimento socioeconômico, todos os países buscam de alguma forma
estarem melhores que no período passado e assim terem mais independência e
oportunidades em frente ao sistema internacional. Porém, como o desenvolvimento por
muito tempo se baseou numa atividade predatória sobre a utilização dos recursos
naturais, começamos a ver externalidades negativas causadas por essa ambição humana.
A partir disso, fez se pertinente a busca de uma nova ideia de desenvolvimento – essa
que chamamos de desenvolvimento sustentável, e que ganha força desde o início dos
anos 90 quando ocorreu a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente no
Rio de Janeiro. Desse modo, vamos tentar analisar como o Estado Realista e
Neorrealista e o Sistema Mundo de Wallerstein se posiciona diante tais questões
ambientais.

2. Estado Realista e Neorrealista

Uma visão geral sobre a ótica do realismo e do neorrealismo político seria a de


que os estados estariam sempre em busca da maximização do seu poder e isso geraria
conflitos. Essa ideia realista da política pode ser aplicada por toda a história, se
levarmos em consideração que as discordâncias entre dois ou mais estados tiveram que
ser resolvidas através de guerras. Podemos pensar que esse comportamento humano é
um reflexo do pensamento do estado de natureza pensado por Hobbes, onde na presença
de recursos escassos os estados tentariam atingir seus objetivos por meio da coerção,
porém conflitos propriamente ditos tornaram-se cada vez mais raros quando pensamos
nas principais potências mundiais e hoje em dia se busca uma forma de
desenvolvimento sustentável através da cooperação.

Porém, o desenvolvimento sustentável baseia-se no abandono da utilização


predatória dos recursos naturais e preservação deles. E apesar de já ter sido demonstrado
que desenvolvimento sustentável não deve ser encarado como um “freio” econômico,
ainda se tem forte repulsa a essas ideias. Podemos citar que em Coimbra (2019), o fato
de que sem a devida atenção a conservação ambiental correríamos o risco de entrar num
“boom-colapso”, ou seja, pagar o crescimento a curto prazo explorado predatoriamente,
mas no longo prazo sofrermos com as externalidades consequentes dessa exploração.
Então por que teríamos ainda essa resistência?

Para a reposta desta pergunta vale destacar um ponto: conservação ambiental é


um bem público, ou seja, se um agente toma uma decisão de busca desse bem ele
benéfica todos os outros agentes, mesmo que eles não tenham se movimentado para
isso. Levando em consideração a ideia realista de forte competição entre os Estados, não
seria uma escolha ótima um agente renunciar ganhos a curto prazo em busca de um
bem-estar no longo prazo. Esse passo para trás custaria poder a esse agente e assim ele
teria menos independência, relevância e influência no sistema internacional. E se
levarmos em consideração uma forte disputa bilateral isso poderia custar o
posicionamento desse país. Dessa forma, teríamos que depender de uma forte
colaboração mundial onde as disputas seriam amenizadas a fim de chegarmos no ponto
sustentável.

Apesar de parecer inalcançável, essa colaboração pode estar mais perto do que
imaginemos e vejo dois caminhos que a sociedade pode seguir. A primeira seria através
de uma cooperação geral em busca de um interesse a longo prazo e a segunda seria
através de uma cooperação forçada pelos grandes agentes políticos do sistema
internacional. Porém, essa primeira saída remete muito a ideia de interdependência
complexa de Keohane e Nye, então seria descartada numa visão realista. Dessa forma,
vamos nos ater somente a resolução a base da mão de ferro.

Levando em consideração que os problemas ambientais têm um forte caráter de


independência, é difícil prever como essa cooperação forçada seria feita. Sendo assim,
não podemos descartar que o uso da força poderia ser um fator relevante encontrado por
esses Estados dominantes, num quadro de agravamento das mudanças climáticas
Nascimento (2011). Dessa forma, um agente poderia compelir ou ameaçar outro país
para que mudasse as suas atitudes e entrasse nas diretrizes do desenvolvimento
sustentável. Outra forma de coerção seria através da utilização do poder econômico,
onde um país poderia impor sanções a outro que persistisse numa desvalorização da
preservação ambiental. Restrições comerciais desse tipo já foram utilizadas se tratando
de negociações ambientais, um exemplo disso são o Protocolo de Montreal, a
Convenção da Basiléia e Convenção Internacional do Comércio de Espécies
Ameaçadas, Flora e Fauna (ROWLANDS, 1996, P.34). Um exemplo que aconteceu
recentemente com o Brasil foi a tentativa de acordo sobre a redução do desmatamento
da Amazônia feita pelos EUA.

Então, como resolveríamos as questões ambientais? Justamente por ser um bem


público, a cooperação é imprescindível para que cheguemos a um ponto de equilíbrio
ambiental e desenvolvimentista. Só assim, os diferentes Estados não se sentiriam
ultrapassados na corrida pelo desenvolvimento, pois todos estariam renunciando aquele
ganho de curto prazo em vista do bem-estar ambiental no longo prazo.

3. Crise Estrutural no Sistema Mundo e Meio Ambiente

No Sistema Mundo nó temos a articulação dos Estados e sociedades de forma


agregada, de modo que cada um cumpre o seu papel na Divisão Internacional do
Trabalho. Essa articulação é o que faz o sistema ser capitalista. Dentro desse modo de
organização internacional, o papel do excedente, ou seja, tudo aquilo que sobra da
produção após os custos de reposição da mesma, que pode ser utilizado para qualquer
fim. Porém, esse excedente geralmente é usado em busca da acumulação de capital
(WALLERSTEIN,2011).

Essa acumulação segundo Wallerstein (2011) é conseguida através da formação


de quase-monopólios, que maximizam os seus lucros e através do uso predatório dos
recursos naturais. Tal modo de organização e utilização do meio ambiente, tem um
custo em externalidade muito presente e podemos perceber, na figura abaixo, que a
partir da década de 70 começamos a presenciar um aumento temperatura global de
forma acelerada.

Coincidentemente, a Crise Estrutural do Sistema Mundo também começou por


volta de 1970 (WALLERSTEIN, 2011), onde a quebra dos quase monopólios,
fundamentais para acumulação, ocorreu, e dessa forma o início de uma crise econômica,
o fortalecimento das contestações sobre hegemonia americana e como o país atuava em
outras nações, como por exemplo a guerra do Vietnã, e as mudanças climáticas
começaram a ser percebidas, tento que anos depois, em 1983, foi criado a Comissão
Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento pela Assembleia das Nações Unidas.

A partir disso, podemos dizer que a crise estrutural do Sistema Mundo é


fortalecida pelas questões ambientais. Pois, se no atual sistema capitalista temos como
principal objetivo a maximização da acumulação no curto prazo e para isso não se faz
necessário um olhar de cuidado sobre o meio ambiente, a ação humana foi fundamental
nas catástrofes naturais que assolaram o mundo nos últimos anos e principalmente o
aumento considerável da temperatura média na Terra. Dessa forma, novas contestações
ao sistema capitalista, dessa vez em como lidam com o meio ambiente, foram surgindo
e aprofundando a crise.

Portanto, um consenso entre aqueles que acreditam no momento de crise em que


estamos vivendo é o de que um novo sistema social tem que ser feito e ele tem que ser
não capitalista. Só assim poderíamos superar as dificuldades ambientais que o planeta
vem sofrendo. Visto isso, Wallrestein (2011), discorre sobre como deveríamos construir
um novo sistema mundo e ressalta que, não podemos esperar uma melhora global após
o fim da crise estrutural se o mundo sofrer mudanças climáticas irreversíveis. Então um
esforço global para além de recuperar o meio ambiente, mas também mudar o modo de
produção, é imprescindível se quisermos alcançar uma estabilidade social e econômica.

4. Conclusão

Vimos então que uma forma de cooperação seria necessária para pelo menos
frearmos os impactos causados pela ação humana no meio ambiente. No meu ponto de
vista, teríamos uma saída a longo prazo, onde haveria uma estabilidade política mundial
e um consenso sobre as mudanças climáticas. E uma saída a médio prazo, onde
dependeríamos da cooperação forçada, que discutimos nos realistas e neorrealistas, das
nações sobre a hegemonia de um país (EUA), ou uma dupla hegemonia (EUA e China).

Bibliografia

Nascimento, P.R.L. O meio ambiente e os fundamentos orientados da política


externa ambiental brasileira. UnB, 2011.

Coimbra, P.H.H. A importância econômica do Parque Nacional da Serra dos


Órgão. UFRJ, 2019

Rowlands, Ian H. Major Theorical Approaches. International Relations and Global


Climate Change. Postdam Institute of Climate Impact Research. Relatório nº21, 1996

Wallerstein, I. Structural Crisis in the World-System Where Do We Go from Here?


Yale University, 2011

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