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1. OBJETIVOS DO TRATAMENTO
Diversas são as técnicas de tratamento de águas residuárias, mas nenhuma delas, isoladamente, é
suficiente para o cumprimento simultâneo dos objetivos acima pontuados.
Não há, portanto, técnica de tratamento ideal, ou de aplicação universal. A escolha da solução mais
adequada para o tratamento e destino final das águas residuárias será resultado de um balanço entre: (i)
custos de implantação; (ii) custos e complexidade de operação; (iii) eficiência de remoção dos
constituintes das águas residuárias; (iv) destino final das águas residuárias.
O primeiro passo para a seleção da melhor técnica de tratamento a ser empregada é a avaliação da
tratabilidade da água residuária, ou seja, a avaliação da viabilidade técnica e econômica de seu tratamento.
E, para isso, torna-se necessária a caracterização das águas residuárias.
2.1.1. Sólidos
Os sólidos são usualmente classificados de acordo com suas características físicas (tamanho e
propriedades – sedimentação, filtração) e químicas (natureza orgânica ou inorgânica).
Sólidos dissolvidos fixos (SDF)
Sólidos dissolvidos totais (SD)
Sólidos dissolvidos voláteis (SDF)
Sólidos totais (ST)
Sólidos em suspensão fixos (SSF)
Sólidos suspensos totais (SS)
Sólidos em suspensão voláteis(SSV)
O teor de sólidos dissolvidos encontra-se associado ao teor de sais na água (carbonatos, bicarbonatos,
cloretos, sulfatos e nitratos de sódio, potássio, cálcio e magnésio) e, portanto, assume importância quando
se pensa na utilização agrícola de efluentes (salinização do solo e toxidez às plantas).
Sólidos voláteis e fixos referem-se às frações orgânicas e inorgânicas dos sólidos presentes em uma
amostra e, portanto, prestam-se à avaliação da tratabilidade e do tratamento de águas residuárias, mais
especificamente a possibilidade de emprego e a avaliação de eficiência de unidades de tratamento
biológico. SSV estão associados a concentração de biomassa em reatores biológicos, sendo assim um
importante parâmetro de projeto e controle operacional.
A Demanda Química de Oxigênio (DQO) é usada como medida de oxigênio requerido para a estabilização
da matéria orgânica contida em uma amostra, suscetível à oxidação por um oxidante químico forte. È,
portanto, também uma medida indireta da quantidade de matéria orgânica e aproxima-se, mais que a
DBO, da quantidade total.
Genericamente pode-se afirmar que quanto mais próxima da unidade a relação DQO/DBO, mais
biodegradável é a amostra. Do afluente ao efluente de uma estação de tratamento de esgotos (ETE) que
empregue processos biológicos, é de se esperar um acréscimo na relação DQO/DBO, pois a medida que a
água residuária é degradada o material remanescente é de mais difícil degradabilidade. .
A DBO e a DQO são dos principais parâmetros de avaliação da qualidade e do grau de poluição de águas
superficiais. Apresentam-se também como uns dos principais parâmetros de caracterização de águas
residuárias e de seu potencial poluidor, de avaliação de sua tratabilidade e da eficiência de unidades de
tratamento.
Do ponto de vista de impactos ambientais, a interpretação dos parâmetros DBO e DQO é a seguinte: cada
litro de água residuária com concentração de [X] mg DBO ou DQO /L lançado em um corpo receptor,
provocará neste um consumo de [X] mg de oxigênio dissolvido (OD).
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No exemplo destacam-se:
• Os valores de DBO e DQO relativamente baixos do manancial de abastecimento de água, denotando uma água
pouco poluída. A elevada relação DQO/DBO pode ser decorrente da alta densidade de algas.
• A relação DQO/DBO do esgoto sanitário e do efluente de suinocultura em torno de 2 a 3, caracterizando uma
boa biodegradabilidade.
• A elevação da relação DQO/DBO nos efluentes tratados, revelando o consumo e a transformação da matéria de
mais fácil degradação em residual em forma recalcitrante.
2.1.3. Nutrientes
Nitrogênio
Em águas naturais, tratadas e residuárias, as formas de nitrogênio de maior interesse são, em ordem de
estado de oxidação crescente, o nitrogênio orgânico, a amônia (NH3), o nitrito (NO2-) e o nitrato (NO3-).
Todas essas formas, além do nitrogênio gás (N2), são conversíveis e fazem parte do ciclo biogeoquímico
do nitrogênio.
O nitrogênio orgânico é encontrado em diversos compostos, tais como uréia, proteínas, ácidos nucléicos.
No ciclo do nitrogênio a amônia é produzida, principalmente, a partir da desaminação de compostos
orgânicos e da hidrólise da uréia.
NH 3 + H + ↔ NH 4 +
A amônia livre (NH3) é passível de volatilização, ao passo que a amônia ionizada (NH4+) não. Com a
elevação do pH, o equilíbrio da reação se desloca para a esquerda, favorecendo a maior presença de NH3.
A 20 o C, no pH em torno da neutralidade, praticamente toda a amônia encontra-se na forma de NH4+. No
pH próximo a 9,5, aproximadamente 50% da amônia está na forma de NH3 e 50% na forma de NH4+. Em
pH superior a 11, praticamente toda a amônia está na forma de NH3.
O “nitrogênio Kjeldahl total” é a soma do nitrogênio orgânico e da amônia, denominação que se deve ao
método utilizado para sua determinação. O nitrogênio oxidado total se refere à soma de nitrato e nitrito.
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Nitrogênio orgânico
Nitrogênio Kjeldahl Total
Amônia
Nitrogênio Total
Nitrato
Nitrogênio oxidado
Nitrito
Em ambientes aeróbios ocorre a nitrificação, ou oxidação bioquímica (mineralização), das formas de
nitrogênio, de amônia a NO3-; em ambientes anaeróbios a desnitrificação ou redução das formas de
nitrogênio, de NO3- a N2. Todas estas reações são realizadas por bactérias “especializadas”; por exemplo, a
nitrificação é realizada por dois gêneros de bactérias nitrificantes (quimiossintetizantes) que vivem em
associação e provocando reações em série. Um primeiro gênero, as Nitrosomonas, realiza a oxidação da
amônia a nitritos, seguida das Nitrobacter, responsáveis pela oxidação dos nitritos a nitratos. Cabe
destacar que o metabolismo das bactérias nitrificantes é bem mais lento do que o das bactérias
carbonáceas.
Portanto, a forma predominante do nitrogênio pode fornecer informações sobre o estágio de poluição de
um corpo d’água: a poluição mais recente está associada à presença de nitrogênio orgânico e amônia,
enquanto a poluição mais remota, no tempo ou no espaço, está associada à presença de nitrato. De forma
análoga, a especiação do nitrogênio presta-se à avaliação de desempenho de estações de tratamento de
esgotos
O nitrogênio, particularmente a amônia (íon amônio) e o nitrato, é um elemento essencial para algas e
macrófitas, porém em quantidades excessivas pode contribuir para o processo de eutrofização dos corpos
d’água.
A amônia livre e as formas oxidadas de nitrogênio são tóxicas à vida aquática e, portanto, constituem
parâmetros de avaliação de qualidade de águas superficiais (amônia livre, nitrito e nitrato), ou padrão de
lançamento de efluentes (amônia) de legislações estaduais e federal. Por extensão, são também parâmetros
fundamentais de controle de qualidade da água na aqüicultura.
No que diz respeito à qualidade da água para consumo humano, as formas de interesse para a saúde são o
nitrito e o nitrato (contribuem para a doença methemoglobinemia -síndrome do bebê azul-
comprometimento do transporte de oxigênio na corrente sangüínea), cujas concentrações limite como
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padrão de potabilidade são, respectivamente, 1 mg/L e 10 mg/L (como N). Portanto, a disposição de águas
residuárias no solo, pode contribuir para a contaminação de águas subterrâneas.
Fósforo
No ambiente aquático, o Fósforo (P) pode se apresentar nas formas orgânica ou inorgânica, solúvel
(matéria orgânica dissolvida ou sais de fósforo) ou particulada (biomassa ou compostos minerais). Em
águas naturais e esgotos ocorre quase sempre na forma de fosfato (PO43- ).
Nas águas superficiais a forma de maior interesse é a inorgânica insolúvel (ortofosfatos), prontamente
assimilável por algas e macrófitas Em águas não poluídas as concentrações são em geral baixas (0,01-0,05
mg/L), porém as atividades antropogênicas podem ser fontes de consideráveis cargas de fósforo - esgotos
sanitários, dejetos de animais, detergentes, fertilizantes, pesticidas.
O fósforo é essencial para o crescimento dos organismos e, exatamente por sua baixa disponibilidade em
águas naturais, pode ser o nutriente que limita a produtividade primária nos corpos d’água; por outro lado,
em quantidades excessivas pode contribuir para o processo de eutrofização.
Organismos patogênicos
Águas utilizadas para recreação, irrigação e consumo humano, contaminadas por esgotos sanitários ou
dejetos de animais, são comprovadamente veículos de uma grande variedade de organismos patogênicos
aos seres humanos, tais como: vírus (ex. hepatite), bactérias (ex. Salmonella typhi.- febre tifóide, Shigela
sp. - disenteria bacilar), protozoários (ex. Giardia lamblia - giardíase; Cryptosporidium parvum -
criptosporidiose ) e helmintos (ex. Shistossoma mansoni –esquistossomose; Ascaris lumbricoides -
ascaridíase; Taenia saginata - teníase). Portanto, ao se avaliar a qualidade biológica da água, um dos
aspectos de maior interesse é a presença de organismos patogênicos e os riscos à saúde associados às
doenças de veiculação hídrica.
Genericamente, dentre os fatores que favorecem a transmissão das doenças, incluem-se: (i) alta carga
excretada; (ii) baixa dose infectante; (ii) não desenvolvimento de imunidade; (iii) sobrevivência
prolongada no meio ambiente; (iv) inexistência de período de latência no meio ambiente; (v) existência de
reservatório animal; (vi), inexistência de hospedeiros intermediários; (vii) resistência aos processos de
tratamento da água e esgotos; (viii) múltiplos modos de transmissão.
A classificação ambiental (ou epidemiológica) das infecções associadas aos excretas, proposta por
FEACHEM et al. (1983) (adaptada no Quadro 1), ao agrupar os agentes etiológicos, de acordo com suas
características epidemiológicas, facilita a identificação das principais medidas de prevenção ou controle
das infecções correspondentes
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Características
Categoria ambientais e Agentes etiológicos Modos de transmissão (II) Principais medidas de
epidemiológicas dos controle
agentes etiológicos (I)
Como postulado geral, pode-se afirmar que os organismos patogênicos não se reproduzem fora do
organismo do hospedeiro, com a exceção de algumas bactérias, temporariamente e em condições
extremamente favoráveis. A sobrevivência no água e no solo pode variar desde uma (protozoários)
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a duas semanas (bactérias e vírus), até meses (ovos de helmintos no solo). A sobrevivência em
superfícies vegetais é algo inferior.
E.coli
Ambiente Temp. Salmonella Yersinia Campylobacter Giardia Cryptosporidium
O157:H7
-4°C > 91 152 448 120 <7 >84
Água 4-8°C >91 152 448 8-120 77 >84
20-30°C 49-84 45-152 10 <2 14 70
Em processos de tratamento de águas e águas residuárias, em geral, bactérias e vírus são inativados
por meio de agentes desinfetantes, naturais ou artificiais, físicos ou químicos (ex.: radiação solar,
radiação ultravioleta, cloro, dióxido de cloro, ozônio). Genericamente pode-se dizer que em termos
de resistência à desinfecção os organismos apresentam-se na seguinte ordem crescente: bactérias,
vírus, protozoários e helmintos. Protozoários e helmintos são altamente resistentes à ação de
agentes desinfetantes, mas apresentam tamanho e densidade que permitem sua remoção por
separação física, por exemplo, por meio da filtração ou sedimentação.
principalmente o trato gastrointestinal. Existem ainda bactérias desta família que podem ser
patogênicas aos animais e patogênicas oportunistas ao ser humano (ex.: Klebsiella pneumoniae), ou
patogênicas oportunistas aos animais (ex.: Serratia spp., Edwardsiella spp.).
O Streptococcus suis, assim como a Leptospira spp, pode ser considerado um importante agente de
doença ocupacional. Além da enorme relevância econômica para a suinocultura, é considerada uma
importante zoonose, produzindo quadros clínicos graves nos seres.Como o microrganismo faz parte
da flora normal do suíno, as modernas técnicas de manejo não conseguiram erradicar a doença.
Em relação à Giardia persistem dúvidas sobre os reservatórios animais pela dificuldade de distinção
de organismos espécie-específicos; por enquanto reconhece-se que Giardia lamblia pode infectar,
além de seres humanos uma variedade de mamíferos silvestres, domésticos, bovinos e ovinos.
Cryptosporidium também pode infectar uma grande variedade de mamíferos e pássaros; a espécie
infecciosa para seres humanos aparentemente restringe-se ao C. parvum, que tem no gado bovino e
ovino um importante reservatório da doença, além de outros animais como suínos e caprinos.
A maioria das cepas de Yersinia enterocolitica presente nos animais não representa risco para a
saúde humana, porém a Yersinia enterocolitica O:3 é patogênica para o ser humano e pode ser
isolada nas fezes de suínos.
A maioria dos vírus parece ser espécie-específica, existindo, porém ainda indícios de potencial
zoonótico associado ao vírus da hepatite E (HEV) e ao rotavírus.
Para tanto, alguns requisitos, ou atributos dos organismos indicadores de contaminação devem ser
observados :
De fato, não há um único organismo que satisfaça, simultaneamente, todas estas condições. Assim,
na ausência de um indicador ideal, deve-se trabalhar com o indicador mais adequado, que seria
aquele que apresentasse a melhor associação com os riscos de saúde relacionados com a
contaminação de um determinado ambiente.
Neste sentido, para que um organismo cumpra o papel de indicador da eficiência do tratamento,
torna-se necessário que:
A maioria das bactérias do grupo coliforme pertence aos gêneros Escherichia, Citrobacter,
Klebsiella e Enterobacter. Estão presentes no intestino humano e de animais homeotérmicos e são
eliminadas nas fezes em números elevados (106 - 108/g). Entretanto, o grupo dos coliformes inclui
bactérias não exclusivamente de origem fecal, podendo ocorrer naturalmente no solo, na água e em
plantas; além disso, principalmente em climas tropicais muitos coliformes apresentam capacidade
de se multiplicar na água.
De forma análoga, embora em proporção bem menor que os coliformes totais, o grupo dos
coliformes “fecais” inclui diversas espécies de vida livre. Assim, para evitar uma falsa indução sobre
sua exclusividade fecal, a tendência atual é de se referir ao grupo como coliformes termotolerantes.
Apesar disso, e com base no fato de que dentre os cerca de 106-108 coliformes “fecais”/100 mL
usualmente presentes nos esgotos sanitários predomina a Escherichia coli (esta sim, uma bactéria de
origem exclusivamente fecal, humana e animal), estes organismos ainda têm sido largamente
utilizados como indicadores de contaminação.
O termo estreptococos “fecais” é bastante vago e refere-se a um grupo de bactérias que, a exemplo
dos coliformes “fecais”, inclui diversas espécies de vida livre. Por isso, alguns autores preferem
referir-se ao grupo como estreptococos do grupo “D” de Lancefield, antígeno comum às bactérias
do grupo, que em sua classificação mais recente inclui dois subgrupos. Um primeiro, dos
enterococos (pertencentes ao gênero Enterococcus), que inclui as espécies mais estreitamente
associadas aos dejetos humanos: E. avium, E. casseliflavus, E. cecorum, E. durans, E. faecalis, E.
faecium, E. gallinarum, E. hirae, E. malodoratus, E. mundtii, E. solitarius. Entretanto, estas
espécies podem também ser isoladas em fezes de animais, enquanto algumas espécies e subespécies
são também de vida livre, tais como E. casseliflavus, E. faecalis var. liquefaciens e E. malodoratus.
Enterococos faecium são encontrados em freqüência elevada no trato intestinal de suínos. Um
segundo grupo, que retém a denominação genérica de estreptococos fecais (pertencentes ao gênero
Streptococcus), inclui as espécies Streptococcus bovis e Streptococcus equinus, associadas com
dejetos animais.
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Com base no exposto, os coliformes totais (CT) carecem de maior significado sanitário na avaliação
da qualidade de águas naturais. O indicador mais preciso de contaminação fecal é a E. coli. Mesmo
em mananciais bem protegidos não se pode desconsiderar a importância sanitária da detecção de E.
coli, pois, no mínimo, indicaria a contaminação de origem animal silvestre, os quais podem ser
vetores de agentes patogênicos ao ser humano. Não obstante, pelo fato de que a presença de
coliformes termotolerantes, na maioria das vezes, guarda melhor relação com a presença de E. coli,
aliado a simplicidade das técnicas laboratoriais de detecção, seu emprego ainda é aceitável.
O grau de contaminação das águas é usualmente aferido com base na densidade de organismos
indicadores, no entendimento de que há uma relação semi-quantitativa entre estas e a presença de
patogênicos; este é, por exemplo, o pressuposto dos limites estabelecidos para qualidade de águas de
irrigação ou critérios de balneabilidade.
Os estreptococos fecais, são mais resistentes que os coliformes e por isso, dentre outras razões, são
utilizados como indicadores auxiliares, particularmente os enterococos na avaliação de balneabilidade.
• Bactéria e vírus são, preponderantemente, inativados pela ação de desinfetantes físicos ou químicos:
radiação UV (luz solar ou artificial), ozônio, cloro, dióxido de cloro.
• Resistência aos desinfetantes: bactérias patogênicas < bactérias indicadoras < vírus < cistos de
protozoários < ovos de helmintos.
• Cistos de protozoários e ovos de helmintos são, preponderantemente, removidos por processos físicos:
sedimentação, precipitação química, filtração.
• Eficiência (facilidade) de remoção: ovos de helmintos > cistos de protozoários.
Além disso, os coliformes apresentam-se usualmente em maiores densidades no esgoto bruto e, via
de regra, a taxa de decaimento das bactérias patogênicas é superior, ou no mínimo similar à dos
coliformes. Conclui-se que a redução dos coliformes a uma certa densidade residual no efluente, e
não necessariamente sua ausência no efluente, pode corresponder à ausência de bactéria
patogênicas. Dependendo da densidade no esgoto bruto e do processo de tratamento empregado,
este raciocínio pode também valer para a indicação da inativação de vírus, configurando-se uma
“exceção”, à regra de que coliformes não são bons indicadores da qualidade virológica de efluentes.
Este é um entendimento particularmente aplicável às lagoas de estabilização, com elevados tempos
de detenção hidráulica e onde a inativação segue uma cinética mais lenta. Aqui reside justamente a
lógica da diretriz de qualidade bacteriológica de efluentes para a irrigação irrestrita da OMS: ≤ 103
coliformes fecais /100mL.
Entretanto, em temos gerais, quando do emprego de processos de desinfecção, isto teria de ser
comprovado. Como os agentes desinfetantes são geralmente potentes, o mais freqüente é alcançar-
se a completa inativação ou destruição dos indicadores e dos vírus. Entretanto, aqui não restaria
alternativa que a pesquisa dos próprios vírus, ou o recurso a indicadores não biológicos - os
parâmetros da desinfecção necessários e suficientes par a inativação dos vírus, por exemplo, dose x
tempo de contato (CT).
Finalmente, a seleção dos indicadores é induzida, ou determinada, pelo destino final reservado ao
efluente. Assim é que para o atendimento dos critérios de classe de enquadramento dos corpos
receptores, as exigências de qualidade dos efluentes incluirão densidades máximas de coliformes
termotolerantes e E.coli1; se o corpo receptor for utilizado para recreação de contato primário, deve-se
estar atento aos enterococos, E.coli e coliformes termotolerantes, uma vez que os critérios de
balneabilidade encontram-se baseados nestes indicadores. (Resolução Conama Nº 274 de 29 de
novembro 2000)2, se pretende-se utilizar o efluente para irrigação, e tomadas as diretrizes da OMS
como referência, o monitoramento deve incluir os coliformes fecais e os ovos de helmintos
(nematóides intestinais humanos)3, no caso da utilização de efluentes na piscicultura, as atenções
estariam voltadas para os coliformes fecais e os ovos de helmintos cestóides4.
1
Atualmente a legislação brasileira (Resolução Conama Nº 20, de 18 de junho de 1986) não inclui padrão de
lançamento; as densidades máximas a serem garantidas no efluente devem ser estimadas com base no padrão
a ser mantido no corpo receptor e no fator de diluição efluente: corpo receptor; em sua atual versão os
critérios de qualidade da água são baseados em coliformes totais e fecais, porém sua revisão, em pleno curso,
caminha no sentido de estabelecer os critérios de classificação com base nos coliformes termotolerantes
(fecais) e E. coli.
2
A água é considerada satisfatória para balneabilidade quando em 80% ou mais de um conjunto de amostras
obtidas em cada uma das cinco semanas anteriores, colhidas no mesmo local, houver, no máximo 1.000
coliformes fecais (termotolerantes) ou 800 Escherichia coli ou 100 enterococos por 100 mililitros.
3
As diretrizes sanitárias da OMS para a irrigação com esgotos sanitários tratados incluem: irrigação de
cereais, plantas têxteis, forragens, pastagens, árvores: < 1 ovo de helmintos/L; culturas a serem consumidas cruas: <
1 ovo de helmintos/L, ≤ 103 CF/100mL; campos de esporte, parques e jardins: < 1 ovo de helmintos/L, ≤ 102
CF/100mL Os nematóides intestinais humanos são sugeridos como indicadores da remoção de helmintos e
protozoários sedimentáveis. Critérios adotados em diversos países exigem o monitoramento e a comprovação
de ausência dos mais diversos patogênicos, incluindo vírus, protozoários e helmintos, além dos coliformes.
4
Diretrizes sanitárias da OMS para a piscicultura: ≤ 104 CF/100mL, ausência de helmintos (cestóides).
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A composição das águas residuárias é variável com o tipo atividade que as geram. As águas
residuárias domésticas (esgotos sanitários) são relativamente mais diluídas que a maioria dos
efluentes industriais e agro-industriais em função da intensa utilização de água no meio urbano e
domiciliar. Estima-se um consumo humano percapita de água da ordem de 150-200 L/hab.dia.
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ESGOTOS SANITÁRIOS
99,9% 0,1%
Água Sólidos
70% 30%
Orgânicos Inorgânicos
A composição dos esgotos sanitários é resultado da dieta humana e das atividades domiciliares.
Portanto, os esgotos sanitários são normalmente ricos em matéria orgânica e macronutrientes
(N,P,K); por outro lado, o uso domiciliar da água pode incorporar 300 – 400 mg/L de SDT (sais),
resultado também da própria deita humana e da intensa utilização de produtos de limpeza. Assim é
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que, por exemplo, os esgotos sanitários tendem a apresentar concentrações relativamente elevadas
de Na e cloretos.
Vale a pena destacar o exemplo dos dejetos de suinocultura, dada sua elevada concentração e
potencial poluidor.
Nas tabelas a seguir são reunidas informações de literatura sobre características de dejetos de
granjas de suinocultura.
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Tabela 8 – Valores de DBO diária em função do peso e do ciclo produtivo dos suínos.
Categoria Peso (Kg/cab) DBO (Kg DBO/cab.dia)
Varrão 160 0,182
Porca Gestação 125 0,182
Porca em lactação com leitões 170 0,340
Leitões desmamados 16 0,032
Suínos em crescimento 30 0,059
Suínos em terminação 68 0,136
Fonte: OLIVEIRA (1993).
Tais informações revelam claramente o potencial poluidor dos dejetos de suínos, com concentração
de matéria orgânica e de nutrientes bem superior à de outros tipos de efluentes, como os esgotos
sanitários e vários efluentes industriais e agroindustriais. Os elevados teores de matéria orgânica,
nitrogênio e fósforo bem demonstram os problemas potenciais de poluição (consumo de oxigênio
dissolvido) e eutrofização de águas superficiais, decorrentes do lançamento de dejetos de suínos
sem tratamento; demonstram ainda o potencial de contaminação de águas subterrâneas por
lixiviação de nitratos, caso a prática, aliás freqüente, de aplicação de dejetos no solo como
fertilizante, não observar os necessários cuidados.
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A concentração em mg/L pode ser obtida do valor em percentagem; exemplo: 0,31% representa 0,31kg de
nitrogênio em 100 L ou 3,10 g/L ou 3.100 mg/L. De forma análoga, a concentração de sólidos totais (ST) em
mg/L pode ser obtida do valor em percentagem de matéria seca (MS); exemplo: 3% de MS corresponde a
30.000 mg ST/L.
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Como já descrito, esgotos sanitários e dejetos de animais podem veicular uma grande variedade de
organismos patogênicos, tais como: vírus, protozoários e helmintos.
Os impactos do lançamento de cargas poluidoras em corpos receptores devem ser avaliados sob os
aspectos ambientais e de saúde. Portanto, o primeiro passo para a avaliação de impactos ambientais
e riscos à saúde é a caracterização das águas residuárias, o efeito de diluição nos corpo receptor e a
concentração, no corpo receptor, da substância ou organismo poluidor/contaminante.
O efeito de diluição a carga poluidora no corpo receptor pode ser estimado da seguinte forma:
C M = CE x QE + CCR x QCR
QE + QCR
Onde:
CM: Concentração do poluente /contaminante após a diluição (mistura) do efluente no corpo receptor.
CE : Concentração do poluente /contaminante no efluente.
CCR: Concentração do poluente /contaminante no corpo receptor (já existente à montante do ponto de
lançamento).
QE: vazão do efluente.
QCR: vazão do corpo receptor.
Em uma primeira análise esta é a concentração a ser comparada com os limites estabelecidos na
classe de enquadramento. Entretanto, uma análise mais apurada do problemas envolve outras
variáveis, tais como as interações físico-químicas do poluente com a água e as substâncias nela
presentes, efeitos de dispersão, sedimentação, degradação, etc.
Portanto, pode-se esperar que, ao longo de seu percurso, as águas do corpo receptor recuperem as
condições existentes à montante do ponto de lançamento da carga poluidora, sendo este fenômeno
conhecido como autodepuração dos corpos d’água (Figura 2).
determinada carga orgânica não deve provocar um déficit crítico que reduza a concentração de OD
a valores inferiores ao permitido em legislação.
4.2. Eutrofização
Resumidamente, a eutrofização de represas ou de lagos pode ser descrita como um processo que
resulta do excesso de nutrientes essenciais para o fitoplâncton e as plantas aquáticas superiores,
principalmente nitrogênio e fósforo.
Os ambientes aquáticos podem ser classificados de acordo com a intensidade de produção primária
(atividade fotossintética), em termos de nível trófico, o que expressa o estado de eutrofização:
oligotróficos, mesotróficos, eutróficos e hipereutróficos. Em geral, três parâmetros básicos são
utilizados para a classificação trófica: fósforo, clorofila, transparência.
Tabela 167- Classificação das águas doces em função dos usos preponderantes (Resolução
CONAMA 20/86)
Classe
Usos
Especial 1 2 3 4
Abastecimento doméstico X X(a) X(b) X(b)
Preservação do equilíbrio natural das
X
comunidades aquáticas
Recreação de contato primário X X X
Proteção das comunidades aquáticas X X X
Irrigação X X(c) X(d) X(e)
Aqüicultura X X X X
Dessedentação de animais X X X X X
Navegação X X X X X
Harmonia paisagística X X X X X
Usos menos exigentes X X X X X
(a) após tratamento simplificado; (b) após tratamento convencional; (c) hortaliças consumidas cruas, frutas
que se desenvolvem rente ao solo e, ou, são ingeridas sem remoção de película; (d) demais hortaliças e
frutíferas (d) culturas arbóreas e cerealíferas.
FONTE: adaptado de von Sperling (1996).
São listados mais de 80 parâmetros (físico-químicos e biológicos), cuja concentração deve respeitar
os limites estabelecidos para cada classe. A legislação inclui ainda padrões numéricos de
lançamento de algumas substâncias nos corpos receptores e afirma que nenhum lançamento poderá
conferir ao corpo receptor, características em desacordo com o enquadramento do mesmo., ou seja
para todos os parâmetros o limite a ser mantido no corpo receptor estabelece, de forma indireta, um
padrão de lançamento.
As legislações estaduais são, via de regra, uma transcrição quase literal da Resolução CONAMA
20/86, por vezes mais amplas ou mais restritas. É o caso da Resolução COPAM 10/86 de Minas
Gerais, que inclui padrão de lançamento para DBO, DQO e sólidos em suspensão.
6
No momento da preparação deste material a Resolução CONAMA no 20/86 encontrava-se em processo de
revisão.
23
Tabela 17- Padrão de qualidade para os corpos d’água (Resolução CONAMA 20/86).
Classe Padrão de
Parâmetro Unidade
1 2 3 4 lançamento (1)
Cor uC 30 75 75
Turbidez UT 40 100 100
Sabor e odor VA VA VA 40
0
Temperatura C
Material flutuante VA VA VA Ausente
Óleos e graxas VA VA VA (2)
Corantes artificiais VA VA VA
pH 6-9 6-9 6-9 6-9 5-9
DBO mg/L 3 5 (3) 10 (3) (4)
DQO mg/L (5)
OD mg/L ≥6 ≥5 ≥4 ≥2
Sólidos em suspensão mg/L (6)
Coliformes totais org/100 mL 1.000 5.000 20.000
Coliformes fecais org/100 mL 200 1.000 4.000
Alumínio mg/L 0,1 0,1 0,1
Amônia livre mg/L 0,02 0,02
Amônia total mg/L 1,0 5,0
Arsênio mg/L 0,05 0,05 0,05
Bário mg/L 1,0 1,0 1,0 5,0
Berílio mg/L 0,1 0,1 0,1
Boro mg/L 0,75 0,75 0,75 5,0
Cádmio mg/L 0,001 0,001 0,01 0,2
Cianetos mg/L 0,01 0,01 0,2 0,2
Chumbo mg/L 0,03 0,03 0,05 0,5
Cloretos mg/L 250 250 250
Cloro residual mg/L 0,01 0,01
Cobalto mg/L 0,2 0,2 0,2
Cobre mg/L 0,02 0,02 0,5 1,0
Cromo VI mg/L 0,05 0,05 0,05 0,5
Cromo III mg/L 0,05 0,05 0,5 2,0
Estanho mg/L 2,0 2,0 2,0 4,0
Fenóis mg/L 0,001 0,001 0,3 0,5
Ferro solúvel mg/L 0,3 0,3 5,0 15,0
Fluoretos mg/L 1,4 1,4 1,4 10,0
Fosfato total mg/L 0,025 0,025 0,025
Lítio mg/L 2,5 2,5 2,5
Manganês mg/L 0,1 0,1 0,5
Manganês solúvel mg/L 1,0
Mercúrio mg/L 0,0002 0,0002 0,002 0,01
Níquel mg/L 0,025 0,025 0,025 2,0
Nitrato mg/L 10 10 10
Nitrito mg/L 1,0 1,0 1,0
Prata mg/L 0,01 0,01 0,05 0,1
Selênio mg/L 0,01 0,01 0,01 0,05
Sólidos dissolvidos mg/L 500 500 500
Subst. tenso - ativas mg/L 0,5 0,5 0,5
Sulfatos mg/L 250 250 250
Sulfetos mg/L 0,002 0,002 0,3 1,0
Sulfitos mg/L 1,0
Urânio total mg/L 0,02 0,02 0,02
Vanádio mg/L 0,1 0,1 0,1
Zinco mg/L 0,18 0,18 0,5 5,0
VA: virtualmente ausentes
(1) Na classe especial não são permitidos lançamentos de qualquer natureza
(2) minerais 20 mg/L; vegetais e animais 40 mg/L
(3) pode ser ultrapassado caso estudos de autodepuração indiquem que o limite de OD seja respeitado
(4) Resolução COPAM 10/86: 60 mg/L – este limite só poderá ser ultrapassado no caso do sistema de tratamento de águas residuárias
reduzir a carga poluidora de efluentes em termos de DBO em no mínimo 85%.
(5) Resolução COPAM 10/86: 90 mg/L – este limite só poderá ser ultrapassado no caso do sistema de tratamento de águas residuárias
reduzir a carga poluidora de efluentes em termos de DBO em no mínimo 90%.
(6) máximo diário de 100 mg/l e média aritmética máxima mensal de 60 mg/L
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O padrão para cada substância é estabelecido em função dos usos associados a cada classe. Assim é
que, por exemplo, para as classes 1 e 2, os limites para as substâncias químicas referem-se aos
respectivos níveis tóxicos para os organismos aquáticos, levando ainda em consideração o
abastecimento para consumo humano – tratamento requerido e efeitos sobre a saúde humana.
Os critérios de balneabilidade (recreação de contato primário) foram atualizados na Resolução
CONAMA 274/ 2000.
Tabela 18 -Critério de balneabilidade.
Excelente Muito boa Satisfatória
≤ 250 CF ≤ 500 CF ≤ 1.000 CF
≤ 200 E. coli ≤ 400 E. coli ≤ 800 E. coli
≤ 25 enterococos ≤ 50 enterococos ≤ 100 enterococos
NOTA: Os valores acima, para qualquer critério, devem ser considerados em 80% ou mais de um conjunto de
amostras obtidas em cada uma das cinco semanas anteriores.
Ainda em relação aos critérios de balneabilidade, tem-se, na mesma legislação:
Preliminar
Primário
Secundário
Terciário
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Texto adaptado de original preparado pelo Prof. Marcos Von Sperling para a Revista Ação Ambiental.
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Os processos de tratamento de esgotos podem ser divididos entre sistemas simplificados (sem
mecanização) e sistemas mecanizados. Os principais processos utilizados são:
Todos os sistemas de tratamento de esgotos geram algum subproduto sólido, como material
gradeado e areia, removidos em uma etapa do tratamento, denominado tratamento preliminar. No
entanto, o principal subproduto do tratamento é o lodo, o qual corresponde à biomassa que se
reproduziu às custas da matéria orgânica dos esgotos.
O lodo removido necessita ser tratado e posteriormente disposto. Todos os sistemas de tratamento
geram lodo, mas em alguns deles o lodo fica acumulado no próprio sistema, não necessitando ser
removido dentro de um longo horizonte de operação da estação. Em outros sistemas, usualmente
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mais compactos, o lodo necessita ser removido continuamente ou com elevada freqüência. O
Quadro 4 apresenta freqüências aproximadas de remoção do lodo.
Nos sistemas com remoção freqüente do lodo, o tratamento e disposição final do mesmo são partes
integrantes e fundamentais do processo de tratamento dos esgotos. Ampla atenção deve ser dada `a
questão, muitas vezes de difícil resposta, do que fazer com o lodo, após seu tratamento.
Naturalmente que as alternativas mais desejáveis são as que possibilitam a utilização do lodo na
agricultura., como fertilizante e recompositor da camada superficial de solo. Dependendo do tipo de
cultura utilizada, usualmente se necessita de uma etapa adicional no tratamento do lodo,
denominada higienização, cuja principal função é a remoção de organismos patogênicos do lodo.
A maioria dos processos de tratamento secundário de esgotos foi inicialmente concebida para
remoção de matéria orgânica e, via de regra, são pouco eficientes na remoção de organismos
patogênicos.
As bactérias, seguidas dos vírus, são os organismos patogênicos mais sensíveis à ação de
desinfetantes físicos e químicos e, portanto, são de inativação relativamente fácil em estações de
tratamento de água e esgotos. Os cistos de protozoários, e especialmente os ovos de helmintos, são
bem mais resistentes; por outro lado, apresentam tamanho e densidades que favorecem a potencial
remoção por sedimentação e filtração, mais facilmente os helmintos.
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Ainda que genericamente, a eficiência de remoção de patógenos por meio do tratamento de esgotos
pode ser ilustrada como na Tabela 19. Destaca-se o emprego de lagoas de estabilização, haja vista o
relativo baixo custo desta alternativa e a elevada eficiência na remoção dos diversos organismos
patogênicos.
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1 unidade logarítmica (UL) de remoção = 90%, 2 UL = 99%; 3UL = 99,9%; 4 UL = 99,99% e assim
sucessivamente.
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Os diversos processos de tratamento podem ainda ser combinados no intuito de otimizar a eficiência
de remoção de matéria orgânica, nutrientes e patógenos. Bastante usual é a combinação de
processos anaeróbios – aeróbios com ganho de eficiência na remoção de matéria orgânica e redução
de demanda de área. Lagoas de polimento podem ser utilizadas como pós-tratamento dos mais
diversos processos no intuito de remoção de patógenos, bem como processos por disposição no solo
podem agregar eficiência de remoção de nutrientes.
a) Lagoas facultativas
A matéria orgânica dissolvida (DBO solúvel), conjuntamente com a matéria orgânica em suspensão
de pequenas dimensões (DBO finamente particulada), não sedimenta, permanecendo dispersa na
massa líquida. A sua decomposição se dá pela ação bactérias facultativas, que têm a capacidade de
sobreviver tanto na presença quanto na ausência de oxigênio livre (daí a designação de facultativas,
que define o próprio nome da lagoa). Essas bactérias utilizam-se da matéria orgânica como fonte de
energia, alcançada através da respiração. Na respiração aeróbia, há a necessidade da presença de
oxigênio, o qual é suprido ao meio pela fotossíntese realizada pelas algas. Há, assim, um perfeito
equilíbrio entre o consumo e a produção de oxigênio e gás carbônico (Figura 5).
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Para a ocorrência da fotossíntese é necessária uma fonte de energia luminosa, neste caso
representada pelo sol. Por esta razão, locais com elevada radiação solar e baixa nebulosidade são
bastante propícios à implantação de lagoas facultativas.A fotossíntese, por depender da energia
solar, é mais elevada próximo à superfície. Profundidades típicas de lagoas facultativas são da
ordem de 1,5 a 2,0 m. À medida que se aprofunda na lagoa, a penetração da luz é menor, o que
ocasiona a predominância do consumo de oxigênio (respiração) sobre a sua produção
(fotossíntese), com a eventual ausência de oxigênio dissolvido a partir de uma certa profundidade.
Uma das formas de se conseguir a redução da área total requerida é a associação de lagoas
anaeróbias (mais profundas: 4,0 a 5,0 m) e lagoas facultativas. As bactérias anaeróbias têm uma
taxa metabólica e de reprodução mais lenta do que as bactérias aeróbias. Em assim sendo, para um
período de permanência de apenas 2 a 5 dias na lagoa anaeróbia, a decomposição da matéria
orgânica é apenas parcial. Mesmo assim, essa remoção da DBO, da ordem de 50 a 70%, apesar de
insuficiente, representa uma grande contribuição, aliviando sobremaneira a carga para a lagoa
facultativa, situada a jusante. A lagoa facultativa recebe uma carga de apenas 30 a 50% da carga do
esgoto bruto, podendo ter, portanto, dimensões bem menores. O requisito de área total (lagoa
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anaeróbia + lagoa facultativa) é tal, que se se obtém uma economia de área da ordem de 1/3,
comparado a uma lagoa facultativa única.
c) Lagoas de maturação
O principal objetivo das lagoas de maturação é o da remoção de organismos patogênicos, e não da
remoção adicional de DBO.
Essencialmente, as mesmas características das lagoas de estabilização às quais se recorre para a
remoção de matéria orgânica, são também as responsáveis pela remoção/inativação de organismos
patogênicos – profundidade reduzida, grandes áreas de espelho d’água expostos à ação da luz solar
e elevados tempos de detenção. Nas lagoas de maturação, projetadas com profundidades mais
reduzidas, a penetração da luz solar na massa líquida é facilitada e a atividade fotossintética
acentuada, promovendo, de forma também acentuada, a produção de OD, o consumo de C e,
conseqüentemente, a elevação do pH.
Bactérias e vírus são inativados, preponderantemente, pela exposição prolongada à irradiação solar
(raios UV), sendo letal a conjugação dos seguintes fatores:
Cistos de protozoários e ovos de helmintos são removidos da fase líquida por sedimentação.
Considerando os tempos de detenção usualmente empregados, as lagoas de maturação, bem como
as que a precederem, podem atingir a remoção total de protozoários e helmintos.
d) Lagoas de polimento