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PORT 493: Cultural Product

from PORT 459R: João Guimarães Rosa (Winter 2020)

Homem que é homem: Riobaldo e a masculinidade tóxica

Riobaldo tem um conceito de masculinidade tóxica que está ligada com a

violência e virilidade. Ao longo do romance, Riobaldo define a masculinidade como

oposto da feminidade e em termos violentos. No ponto de vista de Riobaldo, a

feminidade existe na demonstração de mansidão e gentileza. Quando fala de Otacília,

seu amor socialmente aceitável, descreve que “toda moça é mansa, é branca e delicada”

(140). Ser moça para Riobaldo é permanecer num estado sem agressão, de ficar longe de

luta e ferocidade. A mulher não combate, não há força física com mulher. Ele acredita

que a feminidade também não luta com palavra ou ideia. Quando fala de Diadorim,

descreve que “Ele gostava de mandar...Aquela força de opinião dele mais me prazia?

Aposto que não” (112). O ser feminino é a submissão ao poder masculino, à autoridade

do homem. Mesmo que ele seja apaixonado por Diadorim, Riobaldo revolta contra a

ideia de que Diadorim tem opiniões fortes e às vezes contrárias. Por causa deste

conceito, Riobaldo consegue ver a masculinidade dos outros somente por meio de

testemunhar de atos violentos. Por exemplo, quando Diadorim foi humilhado pelos

Fancho-Bode e Fulorêncio, “Diadorim entrava de encontro no Facho-Bode, arrumou

mão nele, meteu um sopapo... ‘Homem tu é’” (119-120). A afirmação do fato que

Diadorim parece masculino vem somente depois que acaba lutando com os dois

jagunços. Outro momento chave é quando Riobaldo luta contra Zé Bebelo com os

jagunços de Joca Ramiro, “Ao que a gente atirava! Se morria, se matava, matava?...,
Mas aqueles eram homens!” (183). O ato de tirar bem com arma e matar é uma

demonstração de poder sobre o outro, que é visto como a prova de masculinidade.

Para Riobaldo, a virilidade sexual serve como símbolo da identidade masculina

compartilhada entre os homens na sociedade. Quando estava descontente de sua

situação, pensava “...que o que estava fazendo falta era uma mulher. E eu era igual

àqueles homens? Era.” (128). Mulher serve para a satisfação dos desejos masculinos. Ele

vê as mulheres como uma coisa de ser usada e deixada ao lado depois que satisfaz as

necessidades e inclinações do homem. “Diadorim me olhasse com um desdém ...

Desabafei, disse a ele coisas pesadas. – ‘Não sou o nenhum, não sou frio, não ... Tenho

minha força de homem!’” (142). Ficar sem virilidade é igual não ter identidade. Os

desejos sexuais se tornam não somente componente da mente masculina, mas uma

força para se defender contra os perigos da existência. É o poder pela qual o homem

realiza suas vontades sejam quaisquer forem. O prazer dele de fazer atos sexuais com

mulheres tem que existir na mente social como uma certeza absoluta para provar que

ele ‘é homem’. Até diz ao narratário, “Mas ponho minha fiança: homem muito homem

que fui, e homem por mulheres! – nunca tive inclinação pra aos vícios desencontrados”

(110). Riobaldo nega qualquer indicação que poderia ser homossexual porque pensa

que assim confirma sua masculinidade. A possibilidade da homossexualidade quebra a

imagem frágil de ser ‘homem que é homem’ porque traz dúvida ao que só pode existir

na vácua da certeza.
Durante o enredo, Riobaldo cria uma masculinidade que é prevalente, mas frágil.

Por meio de violência e virilidade, o homem se acha um certo poder que acaba em força

que dura pouco tempo.

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