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Charles Richet
Tratado de Metapsíquica
Traduzido do Francês
Traité de Metapsychique
1922
Eugène Bodin
Barcos no Ancoradouro
2
Conteúdo Resumido
Sumário
A Passagem de Richet / 03
Antelóquio / 08
Prefácio da Segunda Edição / 10
Livro Primeiro - Da Metapsíquica em Geral / 20
Livro Segundo - Da Metapsíquica Subjetiva / 90
Cap. I - Metapsíquica Subjetiva em Geral / 91
Cap. II - Da Criptestesia (Ou Lucidez) em Geral / 115
Cap. III - Criptestesia Experimental / 151
Cap. IV - A Varinha Mágica / 394
Cap. V - Metapsíquica Animal / 414
Cap. VI – Monições / 421
Cap. VII – Premonições / 593
Livro Terceiro - Metapsíquica Objetiva em Geral / 685
3
A Passagem de Richet
Antelóquio
LIVRO PRIMEIRO
DA METAPSÍQUICA EM GERAL
§ 1. - Definição e classificação
§ 2. - Há uma Metapsíquica?
irão mais longe, não tenho disto dúvida, mas a nossa missão
é atualmente mais simples. Tenhamos o senso da moderação,
a qual desbanca a ignorância.
A metapsíquica portanto, sob certos respeitos, não é de
modo algum comparável; às demais ciências. Quer se trate
de metapsíquica subjetiva, quer de metapsíquica objetiva, os
fenômenos parecem ser devidos a uma inteligência, visto não
haver nenhuma inteligência nas diversas manifestações da
energia. Por certo, é possível que essa inteligência, que
aparece nas manifestações metapsíquicas, seja inteiramente
humana, havendo então uma região da inteligência humana
que nos é de todo em todo desconhecida, já que ela nos
revela coisas que os nossos sentimentos não nos podem
revelar, agindo sobre a matéria da maneira diferente como o
faz nas contrações musculares. Em todo o caso, o domínio
das coisas metapsíquicas é diferente do domínio das outras
forças, que certamente são muito cegas e inconscientes.
Talvez um dia será provado que as forças metapsíquicas,
produtoras dos fenômenos, são também tão inconscientes
como o calor e a eletricidade. Então a metapsíquica reentrará
na lista da física clássica, da psicologia clássica. Será um
imenso progresso. Longe de nos comovermos ou
entristecermos, antes nos daremos por felizes, porque há uma
verdadeira dor intelectual, que ninguém sente mais
vivamente do que eu, por supor a existência de forças
desconhecidas, arbitrárias, fantasistas, como tudo o que é
inteligente.
Mas esse dia não veio ainda e até lá podemos concluir:
1.° que os fatos da metapsíquica são reais; 2.° que é preciso
estudá-los sem prevenção religiosa, como se estudam as
outras ciências; 3.° que eles parecem ser dirigidos por
40
§ 3. – Histórico
A sessão em que ela fizera essa declaração foi tumultuosa e causou indignação
em toda assistência (Academia Musical de Boston). A outra irmã, Catarina, que mais
tarde veio a ser a Senhora Joncken e depois a Senhora Sparr, afeiçoada demais a mais
ao vício do álcool, fez, em Rochester, em novembro de 1888, a mesma declaração.
Porém em 1892, Margarida e Catarina, dando conta das suas confissões, retrataram-
se. Nada provam esses fatos lamentáveis senão a fraqueza mental das médiuns.
Pensando bem, quando se afirma uma coisa, não basta que mais tarde se diga
que se mentiu: é necessário mostrar como se pode mentir e enganar.
Um certo Blackman propalava que, por hábeis artimanhas, e de parceria com G.
A. Smith, enganou por muito tempo a Gurney, Myers, Podmore, H. Sidgwick e
Barrett (Confessions of a telepathist, J.S.P.R., outubro de 1941, pág. 116). Parece-me
que Marthe Béraud, uma vez, declarou outrora a um advogado de Argélia, que havia
simulado na vila Carmem. Todavia mais tarde negou tivesse feito essa declaração.
Aliás a afirmação desse advogado absolutamente não merece ser considerada. Haveria
um pequeno capítulo para escrever sobre as pseudoconfissões de médiuns.
Entre as adesões, nenhuma exerceu influência mais
poderosa do que aquela do juiz Edmunds, senador, homem
considerado nos quadrantes dos Estados Unidos tanto pela
sua probidade quanto pela sua sagacidade.
Os médiuns são as mais das vezes de tal instabilidade
mental, que as suas afirmações, positivas ou negativas, não
têm lá grande valor. Que mais tarde, depois do prodigioso
surto do espiritismo, devido às suas primeiras experiências,
as irmãs Fox tivessem simulado, trapaceado, é possível, é
provável, é coisa quase certa. Sabemos que numerosos
exemplos de médiuns muito poderosos, os quais, depois de
terem produzido autênticos fenômenos e vieram mais tarde,
em conseqüência da sua cupidez ou vanilidade, o seu poder
medianímico decrescer, tentaram produzi-los pela fraude. É
difícil admitir que o fenômeno das pancadas, que certamente
é verdadeiro, tenham sido de todo em todo inventado pelas
irmãs Fox e desprovido de nenhuma realidade. Antes de
1847 nada se sabia das pancadas e dos estalidos. (1) Vieram
às irmãs Fox, duas meninotas, que apresentaram fatos
memoráveis e notáveis. Então, em todas as partes do mundo,
esses mesmos fatos foram constatados e a sua produção se
59
(1) - Flint (A.) On the discovery of the source of the Rochester knockings, and on
sounds produced by the movements of joints and tendons. Quartely Journ. Psychical
Med., New York, 1869, II I, 417-446 - Schiff, Comptes rendus de I'Ac. des sciences, 18
abril 1859 - Jobert, Velpeau, Cloquet. Discussão acerca do mesmo assunto, ibid.,
passim.
A essas objeções de ordem experimental, assaz
acanhadas, demais a mais, os espíritas responderam mal.
Eles teriam podido, sem dúvida, responder, como o fizeram
mais tarde, pelas experiências. Mas responderam com teorias
e com o ensaio de uma nova religião.
É sobretudo ao Sr. H. Rivail, doutor em medicina
(18031869) quase nada conhecido com esse nome de Rivail,
mas célebre como pseudônimo de Allan Kardec, que se deve
a teorização do espiritismo. (2)
(2) - Le livre des esprits, Paris, 1857, Ire. édit. Lê livre des médiuns, Paris, 1861,
Ire. édit. Houve mais de trinta edições desses célebres livros. Apareceram traduções
em todas as línguas. Allan Kardec foi o fundador da Revue Spirite, que se publica até
hoje, estando já no seu 30° ano.
A teoria espírita de Allan Kardec é assaz simples. Não há
morte para a alma. Depois da morte, a alma torna-se um
espírito, o qual procura manifestar-se por intermédio de
certos seres privilegiados, que são os médiuns, capazes de
receberem ordens e atuações de espíritos. O espírito procura
reencarnar-se, isto é, renascer sob a forma de um ser
humano, do qual ele é a sua alma. Todos os seres humanos,
como já o pensava Pitágoras, passam por fases sucessivas
migratórias. O seu perispírito pode em certas circunstancias
excepcionais, materializar-se. cus espíritos conhecem o
passado, o presente e o futuro. Algumas vezes se
materializam e têm o poder de obrar na matéria. Estamos
rodeados de espíritos. Sob o ponto de vista moral, devemos
deixar guiar-nos pelos bons espíritos, que nos encaminham
os passos para o bem, e não deixar conduzir-nos pelos maus
espíritos, que nos induzem ao erro.
63
and the next, New York, London, 1871 (Trad. alem., Das streitige Land, Leipzig,
1876) - Wallace, A Russel, A defence of modern spiritualism (Fortnightly Review,
London, 1874, XV, 630-657) - The scientific aspect of the supernatural, London, 1866
(Trad. alem., Die wissenschaftliche Aussicht, etc., Leipzig, 1874) - On miracles and
modern spiritualism, London, 1873 (Trad. fr., Les miracles, etc., Paris, Leymarie).
Na Alemanha, Zollner ficou sozinho.
Os frutos estavam sazonados. Apareceu então William
Crookes, o grande pioneiro da metapsíquica.
4.° PERÍODO
tarde ela poderá ter miras mais altas, vindo a ser uma moral,
uma sociologia, uma teodicéia com novos princípios. Quem
o sabe? mas para cada época basta o seu labor. Os tempos
não estão amadurecidos para a síntese. Fiquemos na análise.
Não pude indicar, nesta curta exposição histórica, os
memoráveis trabalhos levados a efeito. A bibliografia é já
enorme. Assinalarei portanto apenas as principais obras,
sempre úteis, algumas vezes indispensáveis, para que delas
tomem conhecimento os sábios que, curiosamente, desejem
estudar o espiritismo, o ocultismo, a metapsíquica do meio
século que acaba de desaparecer.
Aqui vão elas, somente as principais e de caráter geral:
Aksakoff, Animismus und Spiritismus, Versuch einer
Kritischer, Prüfung der mediumnistischen Phaenomene,
Leipzig, Mutze, 1890, 4º edição, 2 vols., 1901, trad. fr., Libr.
des sciences psychologiques, 1895 - Bozzano (E.) Ipotesi
spiritice e teorie scientifiche, Genova, Donath, 1903 -
Brofferio (A.) Per lo spiritismo, 1º ed., Milano, Briola, 1892,
3º ed., Torino, Bocca, 1903, tradução alemã, Berlim, 1894 -
Delanne (G.) Le spiritisme devant la science, Paris,
Channuel, 1895, 5º edit. 1897. Les apparitions matérialisées,
Paris, Leymarie, 2 vols., 8.°-, 1911. Recherches sur la
médiumnité, Paris, 1896 - Myers (Fred.) The humam
personality and its survival to bodily death, London,
Longmans, 2 vols., 8.°-, 1902, trad. fr., Paris, Alcan, 1905 -
Oliver Lodge, La survivance humaine, trad. fr., Paris, Alcan,
1912 - A. de Rochas, L'extériorisation de la motricité, Paris,
Channuel, 1895, 5º ed., Chacornac, 1905. Les états profonds
de I'hypnose, Paris, Chacornac, 1892. Les états superficiels
de I'hypnose, Paris, Chacornac, 1902 - J. Maxwell, Les
phénoménes psychiques. Recherches, observations, métodos,
74
§ 4. - Os médiuns (1)
LIVRO SEGUNDO
DA METAPSÍQUICA SUBJETIVA
CAPÍTULO I
91
_______1_________
100.000.000.000.000
§ 3. - Os erros de observação
CAPÍTULO II
§ 1 – Definição e classificação
científico... A ciência nada sabe e não pode entregar-se a devaneios. O sábio que ri do
possível não passa de um idiota. O inesperado deve sempre ser esperado pela ciência
(Shakespeare). Na Revue des Deux Mondes, 1 ° de agosto de 1922, M. P. Berret
escreveu um artigo sobre Vitor Hugo espírita (555-583).
Jules Bois, numa interessante obra (3) dá-nos
pormenores curiosos a respeito de Victor Hugo espírita. Foi
convertido pela Senhora Èmile de Girardin, em Jersey, no
dia 16 de setembro de 1853. Na primeira sessão, pergunta
Vacquerie: "Em que palavra estou pensando?" Responde-lhe
a mesa: "Você está pensando na palavra sofrimento". Não;
era "amor" a palavra. Resposta ingênua e precipitada.
(3) - Le Mirage moderne, Paris, Ollendorff, 1907.
Victor Hugo, nas sessões ulteriores, não tomava parte na
mesa. O médium era Charles Hugo, que não conhecia a
língua inglesa. Um cidadão inglês invocou lorde Byron, que
lhe respondeu na língua materna:
CAPÍTULO III
CRIPTESTESIA EXPERIMENTAL
Napoleão Carruagem
Carlos Magno Navio
Presidente Carnot Fuzil
EFLÚVIOS MAGNÉTICOS
§ 3 - A criptestesia no hipnotismo
Figs. 4 e 5 - Quando de fotografia que foi colocado num envelope opaco lacrado e
no qual Alice viu a fotografia seguinte (fig.5), que não estava dentro do envelope, mas
que, em casa do Senhor Héricourt, estava posta no quadro. Houve, portanto, duas
criptestesias sucessivas
FIG. 8 - Desenho (um cacho de uvas) posto num envelope opaco, e do qual ignoro
o conteúdo. Desenho feito por Alice. Sucessivamente ela fez cinco desenhos (que não
dou aqui, brevi tatis causa) aproximando-se, mais e mais, do resultado final.
B – CONCLUSÕES
Osty diz com razão que é pedir à lucidez o que ela não nos
pode dar.
Quando experimento fazer adivinhar as cartas ou
números a Léonie, não tenho senão fracassos desastrosos
(talvez porque sua vontade intervenha, que disfarça os
ensinamentos de seu senso criptestésico), enquanto, trata-se
de um incêndio em meu laboratório, ou da queimadura de
meu amigo Langlois, ela diz a realidade com muita exatidão
(sem que, no entanto, eu lhe haja feito o pedido) com uma
precisão tal que a probabilidade (ainda que ela não possa ser
expressa por um número determinado) é muito fraca.
Os fatos de lucidez nos sonâmbulos apresentam-se na
maioria das vezes com a mesma imprevisão como com a
queda dos aerólitos. Não se pode - salvo raras circunstâncias
- contar com sucesso quando se faz uma experiência, muito
mais não se pode gozar com antecedência, com hora
marcada, em um determinado lugar, a chegada de uma
bólide.
Coisas verdadeiras, inacessíveis aos nossos sentidos
normais, são indicadas, mas muitas vezes - o que é
desagradável - não são respostas precisas dadas a perguntas
precisas. Os sonâmbulos (e também os médiuns) não
respondem exatamente às perguntas que lhes são feitas e,
mesmo dizendo coisas verdadeiras que seus sentidos normais
não puderam fazê-los conhecer, dizem coisas "à margem".
Confesso, é triste, que com pacientes hipnotizados, cuja
sensibilidade moral é muito aguda, não se pode agir como se
faria com uma máquina de calcular. Mas "uma viagem"
interessa-os muito mais do que a indicação de um oito de
paus. Interessar-se-ão muito mais por uma casa que está
pegando fogo ou por um navio que chega do que contar os
231
§ 4 - Criptestesia Espirítica
A - EXPOSIÇÃO DE FATOS
vos dizer que, se vós o vistes, era bem ele, e não um sonho, e
que Jeanne viu também". Com efeito, a jovem Jeanne, que
não conhecia em absoluto a Senhora Brittain, também tinha
visto a aparição.
O capitão James Burton, por meio da escrita automática,
comunica-se (4) com seu pai falecido: "Eu não sabia, diz ele,
que minha mãe, que residia a uma distância de sessenta
milhas aproximadamente, havia perdido um cão que meu pai
lhe havia dado. Na mesma noite, recebi pela minha escrita
automática uma carta dele tomando parte na dor de minha
mãe. Um segredo, dos mais sagrados, conhecido apenas de
meu pai e de minha mãe, concernente a uma coisa que
aconteceu muitos anos antes do meu nascimento, me foi
revelado com esta recomendação: "Diga isto a sua mãe, e ela
compreenderá que sou eu, seu pai, quem escreve". Quando
contei isto a minha mãe, até ali incrédula, desmaiou".
(4) - Citado por CONAN DOYLE, La Nouvelle révélation, trad. fr., 1919, 159.
E de se notar que a escrita automática do capitão Burton
é de tal modo miúda, que é preciso uma lente para lê-la.
Eis um relato feito a C. de Vesme, relato que agiu sobre
ele com forças bastantes para decidi-lo a ocupar-se dali em
diante das ciências ocultas. O narrador era Albert de M...,
que havia sido testemunha em Roma.
Uma noite, em 1871, a mãe do Senhor de N...
repentinamente pôs-se a dar gritos desesperados. O jovem
Albert de N... e seu pai, o Senhor de N..., acorreram. A
Senhora de N... estava no chão, aterrorizada, os cabelos em
desalinho. Contou que havia sido transportada pelos
"espíritos" para baixo da cama.
No dia seguinte, às sete horas da manhã, batem na porta.
É o coronel barão Daviso que chega, absolutamente
250
Le Ber teve com seu irmão, meu filho Albert, morto durante
a guerra, e esta conversação íntima, pessoa alguma viva, sem
ser a Senhora Le Ber, a conhecia.
Arnaud de Gramont, com o pseudônimo de Doutor X...,
vai ver a Senhora Briffaut e lhe diz que perdeu um filho na
guerra. A Senhora B... lhe diz, o que é verdade: "Foi morto
por um ferimento na cabeça, caiu de muito alto: ele estava na
aviação..." Ela vê o prenome S... Mont. (O prenome do filho
de A. de Gramont era Sanche).
O Bulletin de 1'Institut Métapsychique de Paris, 1920,
números 1 e 2, contém ainda diversas indicações muito
interessantes sobre as criptestesias da Senhora Briffaut. Ao
Senhor Jean Lefebre, completamente desconhecido dela, a
Senhora Briffaut diz o nome de seu irmão Pierre e do outro
irmão Joseph. Diz que a mulher de Joseph morreu há menos
de um ano, em conseqüência de uma operação do fígado, o
que é exato. Ao Senhor Lange, a Senhora Briffaut dá
detalhes que pessoa alguma podia conhecer. Ao Senhor
Lemerle, observador avisado e sagaz, que a Senhora Briffaut
não pôde conhecer, diz imediatamente: "Vejo Jacques, um
rapaz morto de uma maneira trágica... Ouço-o chamar; ele
escreve Jean, Henri..." Realmente, os dois filhos do Senhor
Lemerle haviam sido vítimas de um grave acidente de
automóvel: chamava-se Henri e Jacques. Henri foi morto e
Jacques escapou da morte. Há também da Senhora Forthuny
(Revue spirite, maio de 1921), um belíssimo caso de
clarividência dado pela Senhora Briffaut.
Fatos igualmente análogos a esses da Senhora Briffaut,
em Paris, e da Senhora Leonard, em Londres, foram obtidos
por um sensitivo chamado Ludwig Aub, de Munique. (1)
Um estudante de medicina, não dando seu nome, nem sua
276
(2) - A narração bem detalhada desta «monição» foi dada pela Senhora
HESTHER TRAVERS-SMITH, Voices from the void, London, W. Rider, 1919, 35.
Não é possível considerar esta monição como muito
probante, pois o médium sabia que houvera torpedeamento
no "Lusitânia". Sir Hugh Lane havia partido para a América
havia alguns dias. Daí, para o inconsciente, seria fácil
concluir que Sir Hugh Lane era uma das vítimas.
Parece que a experiência seguinte, muito análoga no
entanto, relatada também pela Senhora H. Travers-Smith, é
bem melhor. Uma noite, após uma sessão infrutífera, de
repente a mesa disse: "Ship sinking, all bands lost, William
East over board. Women and children weeping and wailing;
sorrow, sorrow, sorrow, sorrow!!" Nesse momento, um
jornaleiro na rua anuncia: uma grande notícia! A Senhora
Smith vai buscar o jornal. Era o naufrágio do "Titanic".
William East significava "inverossimilmente" William
Stead.
Se estes casos não são definitivamente convincentes pela
própria monição, resta pelo menos a produção de mensagens
pelo alfabeto oculto, assim como a Senhora Travers-Smith
deu muitas, é uma belíssima e decisiva prova de criptestesia.
Um sábio professor de filosofia na Universidade de
Groningen, o Senhor Hetnann, empreendeu, por método um
pouco diferente, experiências que lhe deram resultados
admirável. Experimentava com um médium que não era
profissional, um estudante. Enviou-me, por esse motivo, uma
carta muito explícita, que transcrevo textualmente:
"Nossas experiências de telepatia são executadas em dois
quartos superpostos ao meu laboratório; no quarto inferior,
que está iluminado, encontra-se o paciente, com os olhos
vendados e colocado numa espécie de armário fechado de
três lados, e por cima, tendo na parede da frente uma
293
C. - CORRESPONDÊNCIA CRUZADA
§ 5. - Leituras de Livros
A - A PSICOMETRIA OU A CRIPTESTESIA
PRAGMÁTICA
como vimos, não pode ser negada - exerce-se quase tão bem
sem contato material com contato material.
Portanto, é possível que os objetos, apesar de sua
aparência inerte, emitam algumas vibrações (desconhecidas)
capazes de despertar a criptestesia. Porém a inclusão de
vibrações crípticas num objeto é apenas uma hipótese
apresentável e estamos reduzidos a lamentáveis conjecturas
para a apreciação das forças que excitam o sentido
criptestésico.
"Os mares são ainda agitados pelo sulco dos navios de
Pompéia". Certamente. Mas quantos outros navios agitaram
essas vagas! Todas as vezes que falamos de criptestesia, não
podemos falar senão do fenômeno em si mesmo. É um fato:
eis tudo. E estamos impedidos de citar as modalidades, as
condições e os limites.
A clarividência, diz G. Delanne (1) é uma faculdade cuja
existência é certa. Porém, diz ele, desejar servir-se dela para
tudo explicar, é ir contra a lógica e as regras do método
científico, e ajunta: "Ela obedece a leis e se produz em
condições determinadas".
(1) - Loc. cit., 334.
Certamente que sim, a clarividência ou criptestesia,
obedece a leis, porém estas leis, nós a ignoramos totalmente.
Elas não são, ai de mim!, de modo algum ainda
determinadas, se bem que Delanne orgulhosamente assim o
pretenda. Sabemos que certas pessoas são mais bem dotadas
do que outras e que talvez a criptestesia, embora em grau
mínimo, não faça falta a pessoa alguma. Sabemos que há
pacientes pouco sensíveis e pacientes muito sensíveis.
Sabemos que, na hipótese, a criptestesia desenvolve-se;
sabemos que, nos médiuns, nas experiências "espiríticas",
309
(1) - Loc. cit., pg. 240. - Sobre a origem da metaloterapia e a ação a distância dos
metais, fenômenos que não entram em absoluto na metapsíquica, consultar-se-ão
BURCO (V.), Étude expérimentale sur la métallothérapie et la métatloscopie,
Relatórios feitos à Sociedade de Biologia, 1877-1878, 8°, Paris, 1879. - MORICOURT
(J.), Manuel de métallothérapie et de métalloscopie, appliquées au traitement des
maladies nerveuses, etc., 12°, Paris, 1888. - DUMONT PALLIER, Métalloscopie et
métallothérapie. Union médicale, Paris, 1879, XXVI I I, 333, 381, 421, 457, 473, 567.
Será preciso fazer entrar na criptestesia pragmática todas
as superstições relativas aos amuletos, aos fetiches, que não
somente os selvagens, mas também os civilizados olham
como protetores eficazes? Os antigos magnetizadores
acreditavam firmemente que se pode magnetizar a água e um
objeto qualquer, de maneira a dar a esses objetos uma
virtude particular. Porém não o demonstraram
suficientemente, mesmo como A. de Rochas que esboçou
esse estudo e eliminou a sugestão.
Posso dar, com efeito, um caso que conheço e é um belo
exemplo de sugestão, que não tem nada de feitiçaria, apesar
das aparências.
Um dos meus alunos, rapaz muito leal, muito ingênuo,
de uma probidade e delicadeza raras, o Dr. Mar..., algumas
semanas depois de sua tese, veio fazer-me uma dolorosa
confidência. Era atormentado por idéias de suicídio, tão
tenazes, tão ameaçadoras, que me disse: "Estou convencido
de que acabarei por me matar. Será que não me podeis
salvar?". Entretanto, não tinha nenhum motivo, nem de
amor, de dinheiro, ou de saúde, que justificasse essas idéias
sombrias. Então tive uma inspiração. Havia sobre a minha
mesa de trabalho um sinete tendo na parte inferior uma
figurinha de bronze, um capacete de cavaleiro (o cavaleiro
da Morte) cuja viseira se levantava e deixava ver os ossos da
cabeça. Eu disse ao meu amigo, o Dr. Mar...: "Tome esta
estatueta e guarde-a para sempre consigo: ela tem virtudes
316
§ 7. – Xenoglossia
com todo o rigor, que esta nova língua não era senão o
francês modificado. Que memória espantosa! Que
estupefaciente riqueza de invenção! Hélène Smith em seis
meses chegou a falar corretamente a nova língua que sua
imaginação havia criado. Hélène, tendo-lhe Flournoy feito
algumas objeções, mudou sua linguagem marciana e
encontrou a ultramarciana. É admirável.
Inspirada pelo romance marciano de Hélène Smith, a
Senhora Smead, na América, imaginou também outra
linguagem marciana. (2)
(2) - Veja HYSLOP, La médiumnité de Mme. Smead, (A. S. P., 1906, 461).
Essas criações indicam a fecundidade do inconsciente.
Elas não têm nada a ver com a criptestesia. A xenoglossia
permanece ao se falar uma língua estrangeira que era
desconhecida do médium e que é uma linguagem verdadeira
existente.
O caso mais extraordinário é o de Laura Edmunds, a
filha do juiz Edmunds, que foi presidente do Senado e
membro da Corte Suprema de Justiça de Nova York, pessoa
de elevada inteligência e de uma lealdade irrefutável. Laura,
sua filha, católica fervorosa, muito piedosa, não falava senão
o inglês. Aprendera na escola algumas palavras de francês,
mas era tudo quanto sabia de línguas estrangeiras. Ora um
dia (em 1859) o Senhor Edmunds recebe a visita do Senhor
Evangélidès, de nacionalidade grega, "que pôde entreter-se
em grego moderno" com Laura Edmunds.
No decorrer dessa conversa, à qual assistiram diversas
pessoas, o Senhor Evangélidès chorou, pois Laura Edmunds
comunicou-lhe a morte (na Grécia) de seu filho. Ela
encarnava, ao que parece, a personalidade de um amigo
íntimo de Evangélidès, morto na Grécia, o Senhor Botzaris.
357
CAPÍTULO IV
A VARINHA MÁGICA
§ 1. Histórico
imóvel: foi ele quem bateu as doze pancadas. Mas ele "não
quis fazê-lo" e não percebeu seus movimentos. Teria podido
assim também ditar qualquer frase pelos movimentos do anel
à volta do círculo alfabético: é o seu subconsciente que, após
haver "pensado" essa frase, traduziu-a por movimentos
musculares quase imperceptíveis nas letras designadas pelo
anel.
Esses fatos são atualmente incontestáveis. Chevreul teria
tido o mérito de indicar esse princípio, em 1833, embora
vagamente (4). Segundo Chevreul, Balbinet, Barret e a
maioria dos autores que se ocuparam da matéria, os
movimentos da varinha são unicamente determinados pelas
contrações musculares inconscientes do varinheiro.
(4) - H. MAGER, loc. cit., PAUL LEMOINE, Quelques observations sur la
baguette divinatoire (Boletim da Sociedade Filomática de Paris), 1913, V, 10, 17.
A questão, vista assim, parece muito simples; mas esta
simplicidade não é senão aparente.
§ 3. Da força rábdica
CAPÍTULO V
METAPSÍQUICA ANIMAL
CAPÍTULO VI
MONIÇÕES
§ 1. - Classificação e definição
2.°- - Têm relação com tal ou qual fato real, que não
pôde ser conhecido do percipiente pelas vias comuns do
conhecimento.
Percipientes.....Homens...........161 54 p.100
Mulheres.........139 46 p.100
(89) - O relato desse caso muito antigo não poderia em si somente ter grande
força probatória: pois com o tempo as lembranças, se deformam. No entanto é
provável que esses casos antigos, tão análogos aos contemporâneos sejam exatos no
conjunto. Encontram-se três bons exemplos, muito longos para ser reproduzidos,
narrados por C. FLAMMARION: Les apparitions au moment de la mort (Revue
spirite, fevereiro de 1921, 33).
Elsa Barker, autora de diversos romances (The son of
Mary Bethel, etc.) estando em Paris, é subitamente, sem
causa conhecida, levada a escrever pela escrita automática:
"Estou aqui, posso ver-vos; encontrei-me diante do
inevitável, etc." A assinatura era de X... uma pessoa viva na
América, que ela apenas conhecia, magistrado de uns setenta
anos, filósofo e escritor. Elsa Barker interroga uma de suas
amigas para saber quem era esse X... que ela não via senão
de tempos em tempos. Um ou dois dias depois, Elsa Barker
vem a saber que o Senhor X... morrera alguns dias antes de
ter ela recebido a mensagem. Ela pensa que é a primeira
pessoa na Europa que tenha tido conhecimento da morte do
Senhor X...
Esse escrito de X .. foi seguido de numerosas escritas
automáticas publicadas num volume que não tem, sob o
ponto de vista científico, senão um interesse secundário. Mas
deve-se lê-lo com cuidado para se dar conta do poder do
inconsciente em uma escritora tão eminente como Elsa
Barker (90).
(90) - Letters from a Living dead man, London, W. Rider, 1917.
No dia 4 de maio, Lorde Beresford, navegando entre
Gibraltar e Marselha, vê em sua cabine um caixão de
defunto, e no caixão reconhece seu pai, tão distintamente
como se fosse uma realidade. Conta aos seus companheiros.
Chegando a Marselha, vem a saber que seu pai morreu no
dia 29 de abril e foi enterrado no dia 4 de maio (91).
(91) - A. S. P., 1907, XVII, 727.
494
curto, que lhes parece muito longo, a forma de seu pai, que
reconhecem. A forma estende a mão e mostra a seus dois
filhos que tinha os olhos fechados. Eles consignaram o fato
em seu logbook. Parece que o momento desta visão
coincidia, minuto por minuto, com o momento em que
morria o pai de J. e G. Christman (112).
(112) - Phantasms of the Living, II, 17
Eis um fato de grande interesse que foi dirigido ao
Senhor Oliver Lodge (113) pelo tenente-aviador Larkin. No
dia 7 de dezembro de 1908, um companheiro do tenente
Larkin, o tenente D. M. Connell, às 11,30 horas da manhã,
entra no quarto do tenente Larkin e lhe diz que vai conduzir
um aeroplano a Tadcaster, mas que estará de volta na hora
do chá. Três horas depois, aproximadamente, como o Senhor
Larkin estava no seu quarto, diante do fogo, a porta abre-se e
Connell aparece e diz: "Flallo! boy!" alegremente. O Senhor
Larkin vira-se e o vê com seus trajes de aviador, seu boné,
seu capote de hidroavião, e diz-lhe então: "Ei-lo já de
volta..." Connell lhe responde: "Correu tudo bem, fiz boa
viagem". Depois fecha a porta e vai-se. Eram 3,30 horas.
Então Larkin desce à sala de jantar dos oficiais, espanta-se
por não ver Connell. Dizem-lhe, que durante à tarde, Connell
tivera uma queda e se espatifara todo, juntamente com sua
máquina, nas proximidades de Tadcaster, às 3,25 horas.
(113) - Apparition at the time of Death, Journ, S. P. R., julho de 1919, 76.
Ê impossível admitir que Larkin tivesse falado a um
outro oficial, que teria confundido com seu amigo Connell.
O quarto era pequeno e bem claro.
O Senhor Vicary Boyle (114), estando em Simla, vê em
sonho seu sogro que residia em Brighton (na Inglaterra),
pálido, estendido na cama, enquanto a sogra,
silenciosamente, atravessava o quarto e prodigalizava
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