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dicotomia: NATUREZA x CIDADE

por Luigi Zorzella Franco


pergunta: COMO É POSSÍVEL FAZER DA “NATUREZA”: CIDADE,
USANDO COMO BASE AS FORMAS DE TERRITORIALIZAÇÃO DO
ESPAÇO DOS POVOS TRADICIONAIS COSTEIROS?
objeto: CANÇÕES PRAIEIRAS, DISCO DE DORIVAL CAYMMI
objetivo: RELACIONAR O ESPAÇO E O TEMPO NAS CANÇÕES
PRAIEIRAS, APROVEITAR DOS DESFECHOS HERMÉTICOS E COMO
ELES PODERIAM ATENTAR PARA FORMAS DE CONSTRUIR NOVAS
CIDADES.
A paisagem de Itapuã, José Pancetti, 1953
Quem vem pra beira do mar, ai
Nunca mais quer voltar, ai
Quem vem pra beira do mar, ai
Nunca mais quer voltar

Andei por andar, andei


E todo caminho deu no mar
Andei pelo mar, andei
Nas águas de Dona Janaína
A onda do mar leva
A onda do mar traz
Quem vem pra beira da praia, meu bem
Não volta nunca mais

Quem vem pra beira do mar, Dorival Caymmi, 1954


O mar quando quebra na praia Pedro saiu no seu barco
É bonito, é bonito Seis horas da tarde
Passou toda a noite
O mar... pescador quando sai Não veio na hora do sol raiá
Nunca sabe se volta, nem sabe se fica Deram com o corpo de Pedro
Quanta gente perdeu seus maridos seus Jogado na praia
filhos Roído de peixe
Nas ondas do mar Sem barco sem nada
Num canto bem longe lá do arraiá
O mar quando quebra na praia
É bonito, é bonito Pobre Rosinha de Chica
Que era bonita
Pedro vivia da pesca Agora parece
Saia no barco Que endoideceu
Seis horas da tarde Vive na beira da praia
Só vinha na hora do sol raiá Olhando pras ondas
Andando rondando
Todos gostavam de Pedro Dizendo baixinho
E mais do que todas Morreu, morreu, morreu, oh…
Rosinha de Chica
A mais bonitinha O mar, Dorival Caymmi, 1954
E mais bem feitinha
De todas as mocinha lá do arraiá
Coqueiro de Itapoã, coqueiro
Areia de Itapoã, areia
Morena de Itapoã, morena
Saudade de Itapoã me deixa

Oh vento que faz cantiga nas folhas


No alto dos coqueirais
Oh vento que ondula as águas

Eu nunca tive saudade igual


Me traga boas notícias daquela terra toda manhã

E joga uma flor no colo de uma morena de Itapoã


Coqueiro de Itapoã, coqueiro

Areia de Itapoã, areia


Morena de Itapoã, morena
Saudade de Itapoã me deixa
Me deixa, me deixa…

Saudade de Itapoã, Dorival Caymmi, 1954


Dorival Caymmi compos músicas inovadoras, arrojadas em sua
síntese melódica e despojamento temático, mas que soavam também como
se sempre tivessem existido.

Não só a Bahia, até os anos 1950, estava parcialmente


desconectada das ambições modernizantes produtivas e sociais do
centro-sul do país, como a Bahia cantada por Caymmi se mostrava em
versão idealizada: pré-moderna, pesqueira, integrada com a natureza,
voltada para o mar, sem conflitos sociais explícitos, miscigenada e
sincrética em suas religiões, símbolos, festas, alimentos, vocábulos e
ritmos. Uma “utopia de lugar”, como chamou o poeta e antropólogo Antonio
Risério.

Não bastasse sua relevância musical, pode-se, partindo da


interpretação arguta de Risério, tomar esse álbum como um marco cultural
e especulativo sobre nossa relação com o território, o tempo, o espaço e a
natureza litorânea, não só na Bahia, mas na orla brasileira de forma geral.
Tal é a abordagem que esta exposição explora, tomando as canções
praieiras como motivo para pensar em um modelo de civilização
contrastante com a abordagem prioritariamente extrativista,
exploradora e intervencionista que caracteriza a relação da maior parte
das médias e grandes cidades litorâneas com o território em que foram
implantadas.

MIYADA, Paulo DE ANGELIS, Carolina LIMA, Julia NIGRO Marcella ARDUI Olivia GOMES, Priscyla
Gomes, Aprendendo com dorival caymmi: civilização praieira. caderno de textos. São Paulo, 2016.
Nas canções praieiras de Dorival Caymmi, o ponto de vista de
onde se vivencia a paisagem muitas vezes aproxima-se daquele dos
pescadores e suas famílias, que vão ao mar em busca de sustento e
encontram na natureza sua maior fonte de aventura, fartura,
pertencimento e, também, perigo, mistério e morte. Existe dor, mas
prevalece a contiguidade entre homem e ambiente, na qual os caprichos do
mar jogam com a vida sem se abalar com o prazer e o medo de quem dele
vive. Há drama sem revolta e, mais importante, sem a crença de que é
possível ou desejável domar o ambiente, domesticá-lo ou sobrepujá-lo por
tecnologias, máquinas e cidades. Tudo o que se passa no mundo cantado de
pesca e navegação poderia estar acontecendo agora ou há muitos anos, sem
depender 8 dos adventos da modernidade do século XX.

MIYADA, Paulo DE ANGELIS, Carolina LIMA, Julia NIGRO Marcella ARDUI Olivia GOMES, Priscyla
Gomes, Aprendendo com dorival caymmi: civilização praieira. caderno de textos. São Paulo, 2016.
No que diz respeito à dimensão temporal, Thompson (1998)
fornece um interessante contraponto para entendermos a situação dos
pescadores artesanais na contemporaneidade: o tempo natural – expressão
do ritmo das chamadas sociedades tradicionais – e o tempo do relógio –
expressão do ritmo dominante nas sociedades capitalistas industriais –,
duas ordens temporais que estão presentes, de forma simultânea e
contraditória, no ritmo de vida do pescador artesanal, quer no universo
produtivo, quer em suas repre- sentações simbólicas.

CUNHA, Lucia Helena de Oliveira. O mundo costeiro: temporalidades, territorialidades...


Nesse sentido, é possível constatar, no interior das comunidades
pesqueiras investigadas, a presença de um tempo cósmico regulando suas
atividades ecoprodutivas e o horário do dia a dia. A lua, o sol e as estrelas
atuavam no mundo da pesca e da agricultura, no passado, como mar-
cadores de tempo, e ainda se pronunciam no presente do mundo costeiro,
ainda que, muitas vezes, de modo difuso e fragmentário face às mudanças
sociais que atingem as comunidades pesqueiras, desde a metade do século
pas- sado. Por exemplo, a lua é um dos astros que, de acordo com o tempo
cósmico do pescador, atua em seu universo produtivo, ambiental e
sociocultural, favorecendo boas ou más pescarias.

CUNHA, Lucia Helena de Oliveira. O mundo costeiro: temporalidades, territorialidades...


Para efeito deste estudo, define-se territorialidade como formas
específicas de apropriação de um determinado espaço ou “como o esforço
coletivo de um grupo social para ocupar, usar, controlar e se identificar com uma
parcela específica de seu ambiente biofísico, convertendo-o em seu território”
(LITTLE, 2002, p.2). Na perspectiva de focar a relação que um determinado
grupo social possui com seu território, Paul Little se vale do conceito de
cosmografia, conceito esse muito valioso para os propósitos da presente
reflexão, centrada nas dinâmicas pesqueiras de caráter artesanal. Assim,
cosmografia é, segundo esse autor, entendida “como os saberes ambientais,
ideologias e identidades – coletivamente criados e historicamente situados –
que um grupo social utiliza para estabelecer e manter seu território. A
cosmografia de um grupo inclui seu regime de propriedade, os vínculos afetivos
que mantém com seu território específico, a história da sua ocupação guardada
na memória coletiva, o uso social que dá ao território e as formas de defesa
dele”

CUNHA, Lucia Helena de Oliveira. O mundo costeiro: temporalidades, territorialidades...


COSMOGONIA

cos·mo·go·ni·a

sf

Conjunto de teorias, princípios ou doutrinas, com base científica, religiosa ou meramente


mítica, que procura explicar e descrever a origem e a formação do Universo; cosmogênese
FENOMENOLOGIA

fe·no·me·no·lo·gia

sf

Tratado dos fenômenos; análise comparativa ou estudo descritivo dos fenômenos, de tudo que
se pode observar na natureza.

[Filosofia] E. Husserl (1859-1938). Metodologia filosófica que sugere uma descrição da


experiência praticada pela consciência, sendo suas manifestações analisadas no âmbito da
generalidade essencial.
Aprendendo com dorival caymmi: civilização praieira,
caderno de textos, Paulo Miyada Carolina de Angelis
Julia Lima Marcella Nigro Olivia Ardui Priscyla Gomes
Jangada de pau, cortes e estudo de tamanhos
Assentamento individual numa ilha hipotética: projeto “Isola”
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Assentamento individual e uma capela/santuário em homenagem a Yemanjá
Assentamento coletivo
Ilha de São Pedro e São PAulo
Ilha de alcatraz
Tadao Ando, 4x4 house, Tarumi-ku, Kobe, Hyogo
Tribo do lago Titicaca, Peru
Avatar: the legend of Aang, episode “The painted lady”
Avatar: the legend of Aang, episode “The painted lady”
Paumaris, Amazonia
“Cada cidade recebe a forma do deserto a que se opõe […]” (p. 22)
CALVINO, Italo. Cidades Invisíveis. 1972
como fazer a cidade receber a forma do deserto a que se constitui?
28/04 19/05 02/06 16/06

definir textos e escrever, relacionar organização entrega


materias e desenhar

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