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FUNDAGAO EDITORS DA UNESP Presidente clo Conselho Curodor 0x6 Carlos Souro Trndede Dietoc Presidente Jove Cathe Marques Neto Editor Eecutivo {co Hernan Borin Gore CConstho Etorial Acadéaico Alberto Ikeda . | ‘Antonio Carlos Cererd de Souz0 Steven Mithen Antonio de Pédua Fon Cytino Beoadho Animes, leabal Moro ER Lowi LUpio M. Vetlorto Teva ‘i oho / A pré-historia da mente Rnd Tania Regina de Luca i Uma busca das origens da arte, da religido e da ciéncia Mowio, Cena Jnforke- Moloch’ . Traducéo Laura Cardellini Barbosa de Oliveira Revisdio técnica ‘Max Blum Ratis e Silva Editora NESP Steven Mithen transparece nos utensilios de pedra. Mas hé tanta coisa que definiti- vamente parece estranha: a monotonia das tradigées industriais, a au- séncia da arte, Tudo isso se encontra resumido na ferramenta-“tfpica” dos humanos arcaicos: 0 machado de mao. Citando um comentario recente do arqueslogo Thomas Wynn (1995, p21), “seria dificil enfatizar excessivamente quanto um machado de mio patece estranho comparado aos produtos da cultura moderna”. ‘Tenho a irnpresstio de que a tinica forma de explicar o registro arqueolé- gico dos hiumanos arcaicos é evocando um tipo de mente fundamental- mente diferente do que existe nos humanos modernos. " Notas 1. Block (1995) discute diferentes tipos de consciéncia. 2. As conseqiiéncias de ataques epiléticos estio descritas em Penfield (1975) e resumidas em Block (1995). 246 sSarelee seen 9 © big bang da cultura humana: as origens da arte e da religiao No final do quarto e iiltimo Ato ¢o nosso passado ha uma exploséo cultural. Aconteceu no periodo entre trinta e sessenta mil anos atrés, que marca o indistinto comeso da cena 2. O ato em si tem infcio ha cem mil anos, com a entrada do tiltimo e énico ator sobrevivente, o H. sapiens sapiens. Nosso ator parece adotar rapidamente certos comportamentos até entio inéditos na pega, entre os quais destacam-se a fubricagdo de artefatos de 0ss0 no sul da Africa e a colocagdo de partes de animais nos ttimulos do Oriente Médio — as duas tinicas regi6es do mundo onde fo- am encontrados os fésseis de cem mil anos de idade do H. sapiens sapiens. Afora esses vislumbres de algo novo, os objetos de cena da nossa espécie so quase idénticos aos dos humanos arcaicos; portanto, ao me referir ‘20s primeitos H. sapiens sapiens, vou usar o termo “primeiros homens ‘modernos”. A explosao cultural somente aconteceu depois que eles per- ‘maneceram no palco por quase quarenta mil anos. Por conseguinte, © que os arquedlogos consideram um dos momentos decisivos da pré-his- téria ndo € 0 instante em que o H. sapiens sapiens pisa o paleo pela primei- ra vez, e sim 0 inicio da cena 2, que eles nomearam, usando uma frase tum tanto complexa, a “transigo do Paleolitico Médio 20 Superior”. Neste capitulo, pretendo analisar 0 comportamento do H. sapiens sa- piens nas primeiras cenas do Ato 4 — ou seja, imediatamente antes ¢ de- pois dessa transigdo ~e questionar por que suas mentes e as dos huma- 247 Steven Mithen 1hos arcaicos eram diferentes. Contudo, quero utilizar as cenas na ordem Jnversa, comecando com as draméticas mudancas culturais que aconte- Considero-as todas incorretas: ou so meras conseqiiéncias e ndo causas da transicao ou ndo conseguem reconhecer a complexidade da vida social e econémica dos humanos arcaicos. Na minha opin, o big bang da cultura humana & 0 momento em que 4 grande refosmulagéo do projeto da mente acontecet, quando portas € janelas foram colocadas nas paredes das capelas, ou talvez quando a “st percapela” foi construida. A mente moderna poderia entio ser imaginada como 0 esquema da Figura,17. Com essas novas caracteristicas arquitet®- nnicas, as inteligncias especializadas da mente do humano arcaico néo precisavam mais funcionar isoladamerte. Alids, acredito que, durante as dduas tiltimas décadas de pesquisa, a explicaglo para a transigZo do Paleo- Iitico Médio ao Superior foi encontrada nao por arquedlogos, mas por cientistas cognitivos, cujos trabalhos examinamos no Capftulo 3. 249 I } Steven Mithen FIGURA 17 ~ A mente do cagador-colesor modemo, 250 iperringenteaeeetnee A pré-histria ds mente Lembrem-se de como Jerry Fodor considera que a “paixéo pelo anal6gico” a principal caracterfstica de processos mentais centrais ni- tidamente néo modulares,.e de como Howard Gardner acreidita que, na mente humana, inteligéncias miltiplas operam “juntas, harmonio- samente, para poder realizar atividades complexas”. Vimos como Paul Rozim concluiu que “a marca da evolucdo da inteligéncia ... é que a capacidade aparece primeiro em um contexto restrito e depois estende- se até outros dominios’; Dan Sperber chegou a umia nogo parecida pelo seu médulo da metarrepresenta;ao, cuja evolucfo criaria nada menos que a “exploséo cultural”. Lembrem-se também das idéias de Annette Karmiloff-Smith sobre como amente humana “re-representa 0 conhecimento” ¢ “dessa forma, permite que a aplicagio do conheci- ‘mento ultrapasse os propésitos especticos para os quais normalmente € itilizado, criando novas ligacbes representacionais entre dominios diferentes”. Essas idéias aproximam-se muito da nogio de “mapeamento mediante sistemas de reconhecimento” proposta por Suzan Carey & Elizabeth Spelke, e da concepsio de Margareth Boden sobre como a ctiatividade emerge da “transformagao de espacos conceituais”.* Nenhum desses cientistas cognitivos estava se referindo & transigdo do Paleolitico, ou necessariamente aos mesmos aspectos da mente moderna: alguns trataram do desenvolvimento infantil enquanto outros discutiram aevolugao cognitiva, ou simplesmente a maneira como pensamos enquanto vvivemos nosso dia-a-dia. Mas suas idéias possuem um tema comum: que tanto o desenvolvimento como a evolugio da mente humana passam (ou passaram) pela mudanca que transformauma série de dominios cognitivos relativamente independentes numa outra série onde as idéias, as formas de pensamento € 0 conhectmento fluem livremente entre os dominios. ‘Mesmo sem saber, Gardner, Rozin, Boden e outros estavam fornecendo a resposta para a transicao do Paleolitico Médio ao Superior. Pelo menos acredito que eles forneceram. A funcdo deste e do proxi- mo capitulo é avaliar essa proposigao. Comerarei perguntando se esses desenvolvimentos,conseguem explicar 98 novos tipos de comportamen- to que observamos no inicio do Ato 4, quando os individuos continua- ram vivendo da caga ¢ da coleta durante o periodo que chamamos Paleolitico Superior. No epflogo, vou aproximar-me um pouco mais dos 251 ‘Steven Mithen dias atuais, e dos modos de vida que nos séo familiares, ao considerar a corigem da agricultura. “Vamos iisir como ponto de partida o evento d6 Ato 4, que pelo me- 1nos dé um colorido a peca: 0 aparecimento da arte. Oqueé arte [Nao podemos discutir a origem da arte sem chegar a um entendimen- to do que isso significa, Arte é mais uma dessas palavras sempre presen- tes neste livro que sio diffceis de definir, como “mente”, “linguagem’ e “inteligéncia”. Assim como no caso desses exemplos, a definigao de arte 6 especifica de cada cultura. Na verdade, muitas sociedades que criam ‘maravilhosas pinturas rupestres nfo tém uma palavra que denote a arte nas suas linguas.” © conceito de arte das comunidades do Paleolitico Superior (se é que existiu algum) provavelmente era muito diferente do que é comum atualmente: objetos ndo-utilitarios, a serem expostos nos pedestais de galerias. Entretanto, esses cacadores-coletores do Paleolitico produziam artefatos que hoje em dia consideramos inestimaveis e que sfo prontamente exibidos nas galerias e museus. Vamos considerar por ‘um instante as primeiras pecas de arte de que temos conhecimento, an- tes de fazer generalizagdes sobre suas qualidades essenciais. Entre 0s debris do Ato 3, foi encontrado um pequeno niimero de objetos de pedra ou oss0 riscados, aos quais algumas pessoas atribuem ‘umn significado simbblico; um exemplo 60 oss0 proveniente de Bilzingsle- ben, na Alemanha, onde se observam incis6es de linhas paralelas.* Nao creio que essas atribuigdes de significados sejam justificadas e conside- ro que devemos excluir esses objetos da nossa categoria “arte”, admiti- damente maldefinida. A maioria dessas peas pode ser interpretada como uum subproduto de outras atividades, do tipo cortar material vegetal so- bre um suporte de osso; entretanto, podem existir excecSes, que discu- tirei mais adiante, A incluso de algum artefato nessa elite de objetos que chamamos “arte” deve restringir-se Aqueles que sio figurativos ou que indicam pertencer a um cédigo simbético, por exemplo, pela repeticao dos mes- ‘mo motivos. A fase mais inicial do Paleotitico Superior oferece muitos exemplos de ambos 08 casos. 252 A pré-histéria da mente Em relagao arte figurativa, nadz melhor que comegar por uma esta- tueta de marfim de trintaa 33 mil anos de idade, proveniente de Hohlens- tein-Stadel, no sudeste da Alemanha (ver Figura 18). Esculpida na pre- sa de um mamute e demonstrando uma extraordinéria combinago de habilidade técnica e imaginagéo fértl, ela representa um homem com cabega de led. Foi encontrada quebrada em pequenos pedacos e meti- culosamente restaurada para oferecer-nos a mais antiga obra de arte ‘conhecida (cf. Marshack, 1990, p.457-98). Também existe uma série de figuras de animais talhados em marrim desse mesmo perfodo e localida- de no sudoeste da Alemanha, que inclui felinos e espécies herbivoras, ‘como 0 mamute, o cavalo ¢ o bisdo. Algumas dessas figuras apresentam. incis6es de marcas nos seus corpos? [No sudoeste da Franga, foram ercontradas imagens contemporancas da arte figurativa e que parecem fazer parte de um cédigo simbélico (ver Figura 19). Correspondem predominantemente a simbolos em formato de V, gravados em blocos de pedira calcéria nas cavernas da Dordogne. Embora tenham sido tradicionalmente descritas como imagens de vulvas, atualmente 0s arqueélogos descartam a idéia de terem algum status f- gurativo simples. A’ caracteristica crucial & que os motivos de formato igual aparecem gravados repetidas vezes (cf. Delluc & Delluc, 1978). FIGURA 18 ~ Estarueta de marfim de um ho- ‘mem-lefo, proveniente de Hohlenstein- ‘Stadel, no sudeste da Alemania. A pega tem aproximadamente de trinta a 33 mil anos Ge idade. Aleura: 28 em. 253 Stoven Mithon FIGURA 19 - (Direita) Simbolos gravados em um pequeno selxo de 60 cm de ‘comprimento de cerca de 30-25 mil anos de idade, proveniente de Abri Cellier, na regifo da Dordogne, Franca. Imagens como essas e desse mesmo periodo enconttam-se repetidas em outros sitios do sudoeste da Franca, incluindo ‘Abri Blanchard, Abri de Castanet e La Ferrassie, como mostra a llustracio & ‘esquerda, © perfodo entre quarenta e trinta mil anos atrés incluiu, além dessas pesas, a produgao de omamentos pessoais, tais como contas, pingentes e dentes de animais perfurados. No s{tio de La Souquette, no sudoeste da Franga, contas de marfim foram gravadas imitando con- ‘chas do mar." Na mesma época ou logo depois que esses objetos foram produzidos, as cavernas do sudoeste europen estavam sendo decoradas ‘com imagens de animais, sinais e figuras antropomérficas, uma tradi- o que culminaria com as pinturas rupestres da caverna de Lascaux, em torno de dezessete mil anos atrés.!' Na verdade, algumas pinturas rupestres descobertas muito recentemente, no dia 18 de dezembro de 1994, foram datadas de trinta mil anos atrés. As trezentas ou mais ima~ gens de animais nessa caverna ~ incluindo rinocerontes, leGes, renas, cavalos e uma coryja ~ so extraordinérias. Algumas s%0 muito realistas ce demonstram um conhecimento impressionante da anatomia animal e também incriveis habilidades artisticas. Essa caverna talvez esteja no ‘mesmo nfvel da caverna de Lascaux, ¢ certamente da de Altamira, na Espanha, no que diz respeito & natureza espetacular da sua arte.” Em- bora essa seja a primeira arte de que o homem tem conhecimento, no hd nada primitivo a seu respeito. Enquanto a produgao de arte era extremamente prolifica na Europa, ‘4 trinta mil anos, ou logo depois disso, ela assumiu propor;Ses glo- 254 A pet-histiia da mente bais. No sudeste da Aftica, as placas de pedra da Caverna de Apolo da- tam de 27,5 mil anos atrés, enquanto as gravagdes em paredes da Aus: tilia sfo de.antes de quinze mil e talver de quarenta mil anos." A arte continua um fendmeno raro, ou mesmo ausente, em varias regides do ‘mundo até vinte mil anos atrés. Mas isso significa apenas vinte mil anos depois da sua primeira manifestago na Europa — um intervalo de tem- ‘po quase insignificante comparado aos mais de 1,5 milhao de anos em ‘que os humanos arcaicos viveram sem arte. As diferentes intensidades na producto artistica podem ser atribut- das a variag6es na organizaclo econdmica e social, que, por sua vez, podem ser, em grande parte, atribuidas a condigSes ambientais. O re- gistro arqueol6gico nos mostra que a arte da Idade da Pedra nfo é um ‘produto de circunstancias confortéveis - quando as pessoas tém tempo de sobra; ela foi com mais freqlléncia criada por individuos que viviam sob condigées de grande estresse. 0 fldrescimento da arte paleolitica na Europa aconteceu num periodo em que as condig6es ambientais eram extremamente duras, & epoca do auge da iltima era glacial." Entretan- 10, € improvavel que alguma populacéo humana tenha vivido sob um estresse adaptativo maior que o do neandertal da Europa Ocidental — ‘mas eles nfo produziram arte. Faltava-Ihes a capacidade para isso. ‘Nao hé como duvidar de que, por volta de trinta mil anos atras, essa capacidade era um atributo universal da mente humana moderna. O ‘que ela implica? Embora a definicéo de um simbolo visual seja notoria- mente dificil, pelo menos cinco propriedades sao cruciais: 1 A forma do simboJo pode ser arbitraria em relagio ao referente. Essa é umas das caracteristicas fundamentais da linguagem, mas tam- \bém se aplica aos simbolos visuais, Por exemplo, o simbolo “2” nfo se parece com dois itens de nada." 2 Um simbolo é criado com a intengéo de comunicar.!* 3 Pode'ocorrer uma defasagem espicio-temporal considerdvel entre ‘um simbolo e seu refetente. Por exemplo, eu poderia desenhar uma imagem de algo que aconteceu h4 muito tempo, ou de algo que penso que possa acontecer no futuro. 4 0 sentido especifico de um sirbolo pode variar enti individuos e, de fato, entre culturas. Isso freqiientemente depende dos seus conheci- 255 Steven Mithen ‘mentos ¢ experiéncias. Uma suéstica nazista pode significar algo dife- rente para uma crianga do que para um judeu que perdeu a familia no Holocausto. A suéstica é na verdade um sfmbolo antigo, encontrado em cultaras tdo distantes quanto 0 México e o Tibete. 5 0 mesmo s{mbolo pode tolerar um certo grau de variabilidade, seja la imposta deliberadamente ou nfo. Por exemplo, somos capazes de entender a letra de diferentes pessoas, embora as formas especificas de cada letrd nao sejam iguais. Essas propriedades dos simbolds visuais tornam-se particularmente cevidentes ao considerar a arte criada por cacadores-coletores recentes, como as Comunidades aborigines da Australia. A dltima década teste- munhou um avango considerdvel na nossa compreensio dessa arte.” ‘Atualmente, sabemos que mesmo a imagem mais simples, como um circulo, pode ter diferentes referentes. Entre os walpiri do deserto cen- ‘tral australiano, por exemplo, um circulo pode representar um ntimero ilimitado de referentes: acampamentos, fogos, montanhas, seios de mulher, ovos, frutas e outros itens. A intengéo semantica de um simbo- Jo dentro de uma composigéo somente pode ser identificada em associa- ¢4o com outros motivos. Esses motivos geométricos simples podem ter ‘uma gama de significados mais ampla que a das complexas imagens naturalistas" (ver Quadro da p.257). ‘Imagens naturalistas, talvez. de animais ou de seres ancestrais, tam- ‘bém podem ter significados complexos e miiltiplos. Uma crianga abo- rigine que nao sabe nada sobre sonhos (0 passado/presente mitico) ini- cialmente pode interpreta: imagens de maneira literal. Para essa crianca, 1s imagens de peixe, por exemplo, réferem-se & pesca, uma atividade ‘economicamente importante em muitos grupos aborigines. Essas inter~ pretacées literais podem ser descritas como os significados “externos” da arte ~ que se aprendem no contexto da vida quotidiana e so de dominio piblico. A medida que a crianga amadurece e adquire conheci- mento sobre o mundo ancestral, a mesma imagem serd interpretada de ‘modo mais metaforico, freqiientemente relacionado com as ag6es dos cada qual exigindo um co- mhecimento adicional sobre o passado ancestral, que pode restringir-se a certas classes de individuos. Conseqiientemente, esses significados 256 A pré-histria de mente Significados complexos em desenhos simple da arte de cagaderes-coletores © tgicaos compleos« miipls que pedem st ercondes nos mel simples deseshos goomcos da ete poeofce podem se lusts po um expla do ate dos abergines estroanes. O enoptigs soc Howard Morphy desceveu ome mits dos suc pints lim Um mal gernica bane subjcarte oo deseo, Coda ports do molds pose codicar uma sie de sprifcados or enempl, conten ‘imagom que sop, com dois Te" fe) « fo No oa (0 eure significado ete ccicados: po" “ogo, “agne. No lc) or titendon pu. corar, "i" apn eto ceeodon Conagirtomet, te ierpreagser aes dso roger ean: un Ho funds pora umn lop, un poder sand nado pra ae un pose ‘ravi, Arse“, ron cod uma ade ‘cis Ali duo or werprelogias podem eur conan dento de ua ica ‘eeginc mien Um ances eagur toe excovondo lm page com um porde-covr Quando tle cau, ura pequee mea eagoru agochouse pra bebera bq fee, 00 Earguiy oprovelov som oporinidede para {exer amo com oa. men fis do corpo dela pora ‘om pav-dovanecr qu pose ser vito como um ‘= desenhos goomicns 60 srpesconsoguen "eaicor”sigricados G0 compleos 0, ‘ofa, expretor of spats rnsfommacanis dos SresAncesis, podemoe spenos nue aderorgo pels Fen de igiiendoscodfeaos rox deseahos goods > pevado Plain bw Om aff 253 Steven Mithen so desctitos como “intemos”. Por exemplo, a crianga pode aprender gradualmente como os peixes s40 um simbolo poderoso de transforma- ‘cdo espiritual da vida-e damorte. & bom pinté-los, néo somente porque bom comé-los, mas porque também é bom pensar sobre eles. Os sen- tidos metaféricos das imagens de peixes, referentes vida e & morte, no substituem a interpretagdo literal, referente 4 pesca — so comple- ‘mentares. Como resultado disso, muitas imagens possuem sentidos diferentes pata pessoas diferentes, dependendo do acesso que tenham 20 conhecimento do passedo ancestral.” Qualquer que seja o sentido atribuido a uma imagem, ela provavel- mente sofrera um distanciamento temporal e espacial daquilo que a inspirou. © pogo de agua a que se refere um cfrculo pode estar bem longe, ¢ 0 Ser Ancestral nao possui uma localizago certa no tempo e no cespago. Podemos encontrar muita’ dessas caracteristicas na tradigéo da arte rupestre de outros cagadores-coletores, como os san do sudeste da Afri ca Realmente, ndo ha como duvidar que as imagens criadas no Paleo- litico Superior também possufam significados miltiplos e simbdlicos complexos, que envolvem as cinco propriedades jé relacionadas. Os ar- ‘queélogos tém mais chances de reconstruir o sentido “externo” da arte {que 0s significados “intemos”, os quais exigem um acesso ao mundo mitolégico perdido da mente pré-hist6rica ~ um mundo a que retornarei no fim deste capitulo, quando considerar as origens das idéias religiosas. A fluidez cognitiva e as origens da arte ‘Tendo mencionado algumas das propriedades dos simbolos visuais, ‘vamos considerar quais so 0s atributos mentais envolvidos na sua cria~ ‘do e leitura, Existem pelo menos trés: 1A produgdo de uma imagem visual envolve o planejamento e a execugio de um molde mental preconcebido. 2.A comunicagéo intencional com referéncia a um evento ou objeto no presente. 258 A pré-hiséria do mente 3 A atribuigéo de um significado a uma imagem visual ndo associada com seu referente. Segundo 0 que estabeleceriios no capitulo anterior — e pelo que vou * ‘explicar a seguir ~ é provavel que os humanos arcaicos tivessem compe- téncia para cada um desses processos cognitives. Eles provavelmente cxistiram em um estado tio complexo e avansado quanto o da mente humana moderna, Entéo, por que a auséncia da arte? A resposta pode- ria ser que eles possufam os processos, mas estes se encontravam em dominios cognitivos diferentes. Nao estavam acessiveis uns aos outros, €@ origem da arte somente aconteceu depois de ocorrer um aumento ‘marcante nas conexées entre dominios. Sendo assim, onde estavam lo- calizados esses processos na mente humana primitiva? A.incisio de marcas em objetos algo que acontece involuntariamente durante as atividades de muitos animais ~ marcas como as impress6es deixadas por cascos, as arranhaduras em érvores e sinais de mordidas fem ossos. Alguns animais ndo-humanos também deixam marcas inten-

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