Você está na página 1de 4

Como lidar com o bloqueio para escrever – 7 Dicas

por Professor Felipe de Souza | Dicas Práticas

Conheça 7 dicas fundamentais para superar o bloqueio na escrita, seja a escrita de um


texto como uma redação para escola, um trabalho como TCC, dissertação ou tese ou
um romance.

Olá amigos!
Nestes últimos anos, nos quais escrevi centenas de textos aqui para o site, em meio a
uma dissertação de mestrado e uma tese de doutorado, aprendi algumas coisas sobre os
bloqueios na escrita. Neste texto, quero passar o que aprendi e como você pode superar
tais bloqueios, o famoso writer’s block.

1) Escrever é como falar


Escrever é como falar. Só que diferente. A semelhança consiste no uso da
linguagem. A diferença é que na escrita você pode fazer diversas revisões. Muito mais
do que falando. Falando podemos pensar antes de falar ou ir modificando o nosso
pensamento junto do discurso. Já na escrita, podemos escrever e rever infinitas vezes.
Assim como a pessoa que está acostumada a falar muito não se preocupa tanto
com o que fala, a pessoa que escreve muito também não se preocupa com o que escreve.
Se escreve uma palavra errada, se escreve com erro gramatical, se uma palavra não é
bem aquela que se almejava, não importa. Na correção há a reescrita.
A primeira dica, portanto, é essa. Escreva. Ainda que seja bobagem. Ainda que
99% possa ser reescrito depois.

2) Mude o jeito de escrever

A criatividade tem tudo a ver com novidades. Se você escreve sempre do mesmo
jeito, por exemplo, em um computador, tente escrever a lápis, a caneta. Tente utilizar
aplicativos de tablets e celulares que transformam o som da sua voz em texto. Depois
tente fazer o inverso, utilize programas que transformam o texto em áudio para você ver
como fica a versão na voz de uma outra pessoa (ainda que seja um robô).
Você também pode modificar os lugares nos quais escreve. Se escreve no
quarto, mude para a sala. Ou os horários. Se escreve de manhã, teste a noite. Mas
perceba o porquê de a mudança ter ou não efeito. Por exemplo, algumas pessoas relatam
que preferem escrever à noite. No fundo, não é o horário que importa e sim o fato de
não ter que lidar com interrupções de outras pessoas. Neste caso, também é possível
mudar totalmente de ambiente e ir para uma biblioteca. Bibliotecas são bastante
estimulantes porque vemos outras pessoas estudando, o que traz motivação.

3) Menos cobrança, mais diversão

Quem escreve muito, escreve porque gosta de escrever. É um prazer, uma


diversão e não uma obrigação. Quando se transforma em um escritor profissional, talvez
apareça um paradoxo. A escrita deixa de ser algo prazeroso para ser algo que tem que
ser feito.
É como o músico que adora tocar violão com os amigos. Quando começa a
trabalhar como músico nos finais de semana, passa a não se divertir tanto. A diversão
vira cobrança.
O bom é que é tudo uma questão de perspectiva. Por exemplo, para escrever
minha dissertação de mestrado, eu frequentemente abria arquivos com títulos
despretensiosos. Em vezes de escrever Dissertação_23.4 eu preferia dar um título
qualquer, como se fosse uma redação de escola ou responder a perguntas específicas:
O_que_é_identidade_para_Ricouer?
A ideia é mudar o foco de algo grandioso e trabalhoso (uma dissertação que é
séria) para algo despretensioso e até sem sentido. Em um trabalho, não podemos correr
riscos. Pelo menos, deveríamos correr menos. Então, sem risco, a criatividade diminui.
Sem criatividade, não escrevemos tanto. O processo deve se inverter: poder escrever
qualquer coisa (até um desabafo apaixonado) permite com quem nos libertemos do certo
e do errado, do que tem que ser feito e do que não pode ser feito. Mais liberdade
significa mais criatividade e mais criatividade resulta em uma escrita mais rápida e
fluida.

4) Comece pelos sentimentos


Às vezes o que bloqueia é um afeto. Se você tem que escrever um artigo e tudo o
que consegue pensar é naquela pessoa amada, ou no término terrível que está
enfrentando ou na preocupação de pagar o cartão de crédito, o que está te impedindo é
um complexo. Complexo = emoção + palavras.
Coloque essas palavras para fora. Fale ou escreva. Depois você perceberá como
as emoções terão sido jogadas para fora e darão livre lugar para escrever o que você
quer ou precisa.

5) Devagar e sempre ou rápido e nunca

Muitas pessoas preferem escrever um pouco por vez. Um pouco por vez. Um
pouco por vez e ir enchendo uma página, um capítulo, um livro. Como observou muito
bem Isabel Allende, uma página por dia dá origem a um livro de 365 páginas depois de
um ano.
Porém, porque não deixar livre e escrever 10 páginas em um dia? O problema,
argumentam os defensores do “de grão em grão a galinha enche o papo” é que muita
energia em um só dia talvez se transforme em nenhuma energia nos dias seguintes. De
modo que em um mês, em vez de 30 páginas, teríamos 10, 12, 15.
Dica: escreva o máximo que conseguir. Não se limite em um quadrado rígido de
páginas ou de tempo por dia. Mas estabeleça sim um limite mínimo. Pode ser 500
palavras ou 1.000. Ou 8 pomodoros ou 12. Você tem que definir um pouco que não seja
tão pouco. Um pouco que seja desafiador sem ser esmagador.

6) Supere o não está bom o bastante

Aceite: um texto nunca estará bom o bastante. Não existe perfeição na escrita
assim como não existe perfeição na fala (em uma apresentação pública). Por isso gosto
tanto da frase de um mestre zen ao seu discípulo: “Você é perfeito como é, mas ainda
pode melhorar”…
Um texto sempre pode melhorar. Nos cursos em vídeo que dou, vejo como
grandes autores da psicologia sempre acrescentaram e mudaram certos trechos de seus
livros em edições posteriores. Isso significa que eles perceberam falhas e omissões ou a
necessidade de complementar aqui e ali. O que comprova a tese de que não existe algo
como está perfeito para sempre.
Se é assim, escreva, escreva, escreva. Corrija. Revise o melhor que
puder. Enough is enough. Em um ponto você terá que colocar um ponto final.

7) Do elogio ao autoelogio

Grandes escritores tem uma autoestima estratosférica. Quando James Joyce,


então um jovem desconhecido e sem publicações, conheceu Yeats, já reconhecido como
um escritor de talento, ele diz: “Nós dois seremos esquecidos”. O que significava que
ele se reconhecia como um grande escritor desde o princípio.
Na escola e em outros contextos sociais, podemos ser elogiados por certos
comportamentos como escrever. Depois, temos que passar da necessidade de um elogio
externo para o autoelogio. Ainda que o autoelogio traga resquícios de elogios dos
outros.
Se as críticas fossem úteis para a criatividade, todo crítico seria um escritor ou
um artista. Razão pela qual a história lembrará dos escritores e artistas mas não dos
críticos.
PS: é curioso quando recebo uma crítica pesada aqui no site e peço para que o
crítico escreva um texto melhor ou, pelo menos, um texto completo que mostre a sua
opinião. Até hoje nunca recebi um texto de um crítico. O que demonstra que criticar é
fácil. Fazer é uma outra história…

Você também pode gostar