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Aula 1: Introdução

Foco
-> O foco das aulas será:

- Plot
- Ambientação
- Personagens
- Mercado

Você não precisa ser um profissional


- É algo bem chato ter receio de dizer para as pessoas que você é um escritor,
quando perguntam o que você faz da vida. Esse receio se dá pelo medo da pergunta
que virá a seguir, que provavelmente será: "E aí, já publicou algum livro?"
- É muito importante saber que: você não precisa ter como objetivo se tornar um
escritor profissional. Você pode escrever simplesmente porque é bom pra você.
- Quando alguém diz pra você que adora jogar futebol, você não sai perguntando:
"E aí, quando é que tu vai entrar na seleção brasileira?". Ao contrário, você diz:
"Isso é ótimo! Isso é bom pra você. Sair, ser ativo, produtivo, praticar um esporte,
ter um hobby, isso tudo é ótimo pra você, vai te fazer muito bem." Escrever
histórias também funciona do mesmo jeito. O simples ato de aprender a se
comunicar melhor, a passar histórias da sua cabeça para o papel de uma forma que,
quem leia, se sinta engajado e conectado emocionalmente... Tudo isso é bom pra
você.
- No entanto, para o propósito desta aula, vamos fingir que você quer ser o
Brandon Sanderson dentro dos próximos 10 anos, vivendo da sua escrita como um
trabalho em tempo integral e sendo bem sucedido nisso. Desse jeito, você irá
absorver melhor todas as informações de que precisa.

As chances são poucas, mas elas não são uma em um milhão


- É importante focar em obter uma publicação, mas o verdadeiro foco deve ser no
fato de que você quer contar histórias, que é algo bom pra você, que é algo que
você quer aprender a fazer. No momento em que você percebe que não se importa
em viver o resto da sua vida, vamos dizer até os 80, tendo escrito 150 manuscritos
e nunca tendo publicado nenhum, é um peso que você tira das suas costas.
- Esteja avisado de que você pode não conseguir. Você pode passar 20 anos
escrevendo histórias e nunca vender nenhuma. É mais provável que aconteça isso
do que você se tornar um Brandon Sanderson, na verdade. Dito isso, de todo
mundo que já viveu essa experiência, passando anos e anos escrevendo e, no
entanto, sem nunca ser publicado, NENHUM DELES JAMAIS SE ARREPENDE.
Todos ficam: "Sim, foi ótimo, sou muito feliz por ter feito isso, por ter continuado
a escrever as minhas histórias. Estou triste por não tê-las vendido? Sim, claro,
óbvio que eu quero vender milhões de cópias como você, Brandon. Mas foi bom
pra mim, é bom pra mim, eu gosto muito de fazer isso. Histórias são ótimas e eu as
adoro. E talvez um dia eu consiga."
- Você pode mirar na menor taxa de sucesso possível, que é: "Eu escrevi minhas
histórias. Eu me tornei um escritor melhor. Eu estou orgulhoso do que escrevi, e
talvez um dia eu ainda consiga", e estar satisfeito com isso. Tenha isso em mente.

Aprender a escrever
- É mesmo possível ensinar alguém a escrever? O papel mais útil de um instrutor
de escrita criativa provavelmente é te dizer: "Você precisa treinar a sua escrita. Tem
que passar 10 anos escrevendo um monte de livros diferentes, se esforçar, escrever
constantemente." Essa frase provavelmente cobre 90% do que você precisa fazer.
- Provavelmente a resposta para a maioria das suas perguntas, durante esse curso
todo, será: "Tente essas coisas aqui, pratique-as mais, veja se consegue melhorar
nelas. Se não conseguir, tente essa outra coisa." A maior parte do ensino de escrita
criativa se resume a isso.

Conselhos contraditórios
- Cuidado: escritores vão te dar conselhos contraditórios o tempo todo.
- Por exemplo: a diferença entre Escritor Desbravador (aquele que não faz
planejamentos, descobre a história enquanto a escreve) e Escritor Arquiteto (aquele
que planeja muito, fazendo muitos esboços antes de começar a escrever de fato). O
desbravador trabalha com a "Escrita de Descoberta" (se apoiando mais nas revisões
pra tapar os buracos que surgem no processo), enquanto o arquiteto trabalha com
"Escrita de Outline" (esboços com anotações e planejamento de tudo o que vai
acontecer na história).
- Para muitos desbravadores, trabalhar intensamente em um Outline faz seus
cérebros sentirem como se já tivessem escrito a história, e o processo de ter que
escrevê-la uma segunda vez se torna tedioso. Ele perde todo o entusiasmo em
trabalhar naquela história e fica entediado no momento em que começa.
- Por outro lado, arquitetos trabalham muito melhor quando já têm uma estrutura
sobre a qual possam apoiar a história. O que eles fazem é planejar um monte de
coisas antecipadamente e, no momento em que estão trabalhando em determinado
capítulo, ou seja, num determinado segmento de todo esse planejamento, eles não
precisam mais se preocupar com todas as outras coisas, porque elas já estão fixadas
como eventos que ocorrerão em outros momentos. Assim fica mais fácil focar
somente nesse capítulo e nas coisas que precisam acontecer nele, escrevendo-o da
maneira que querem. O resto poderá ser observado depois, no seu devido tempo.
- O segredo é: mesmo arquitetos são desbravadores, eles só estão desbravando em
saltos menores. O arquiteto salta entre dois pontos, enquanto o desbravador se
lança no completo desconhecido. Arquitetos tendem a odiar revisão, e a se saírem
melhor quando têm um outline bem estruturado.
- Todo mundo tende a se encaixar em algum lugar nesse espectro, onde
desbravador e arquiteto se mantém como dois pontos completamente opostos. Se
você é o tipo de pessoa que sente que fazer um Outline arruina o processo pra
você, e destrói a sua habilidade de continuar escrevendo, você não deve seguir os
conselhos de quem diz que você “precisa” de um Outline.
- Você precisa, então, aprender a ignorar certos ensinamentos. Escrever é algo
muito individual e subjetivo, e não existe um jeito certo de fazê-lo. O que pode
existir são muitos jeitos errados para você, assim como muitos jeitos certos para
você. Isso faz parte da diversão, muitos escritores usam diferentes combinações de
táticas, tanto de desbravadores quanto de arquitetos, dependendo do livro que estão
escrevendo no momento. Eles tendem a evoluir e a crescer conforme passam a
entender melhor como funcionam seus próprios processos, ao longo de suas
carreiras.
- É por isso que “desbravador x arquiteto” é considerada uma falsa dicotomia. É,
na verdade, um modelo através do qual discutimos como diversos escritores
trabalham, e o que pode, ou não, ajudar você.
- Aprenda que, quando um escritor te dá um conselho, ele na verdade está
colocando um "PARA MIM…" implícito no início da frase. Ex.: "[PARA MIM],
isso é o que funciona. Isso me ajuda a escrever as histórias que eu gosto". Você
precisa ser capaz de responder "Ok, talvez eu tente isso. Vamos ver no que dá" e a
tratar essas coisas como ferramentas em sua caixinha, para te ajudar a escrever
histórias melhores. E o que não funcionar, você joga fora ou deixa guardado na
caixinha para o futuro, caso você mude seu processo durante a sua carreira. Todos
os “modelos” de histórias e tipos de “estruturas narrativas” que você encontrar por
aí são, na verdade, coisas que inventamos para explicar o que fazemos e para nos
ajudar em caso de problemas.

Internalização de regras em seu instinto


- Muito do que falarmos durante o curso serão coisas que escritores profissionais
passam a fazer por instinto, em vez de coisas que sempre seguem à risca.
- (Metáfora de Magic The Gathering) Quando começam em suas carreiras como
jogadores, se deparam com tantas minúcias, que acabam precisando focar muito
nelas, só pra se certificar de que não estão cometendo erros. Quanto mais jogam,
mais percebem que, de tanto focarem nessas minúcias, acabam fazendo-as por
instinto, deixando assim mais espaço livre no cérebro para pensar em outras táticas
de jogo, de níveis cada vez mais profundos e elevados, durante a partida. Se tornar
profissional é um processo de se fazer cada vez mais por instinto, e ter cada vez
mais espaço sobrando dentro do cérebro para focar em diferentes aspectos de se
escrever, ou de jogar o jogo.
Exemplos do Brandon: ser capaz de perceber, por instinto, coisas simples como
eliminar a voz passiva ao escrever um rascunho, entender que o ritmo de certo
capítulo está muito lento e que precisa acelerar; cortando aqui ou ali; fazendo a
próxima parte acontecer mais rápido ou colocar algo ali no meio que nos dê algum
senso de Progresso. Fazendo isso por instinto, você é capaz de pensar grande, em
diferentes maneiras de melhorar sua escrita.
- Com a prática, você basicamente vai estar socando coisas dentro do seu instinto.
É por isso que a melhor coisa que você pode fazer para se tornar um escritor
melhor é criar bons hábitos para Escrever Consistentemente*.

O que significa "Escrever Consistentemente"?


- Vai significar algo diferente dependendo da pessoa. Para alguns escritores
significa trabalhar em seus Outlines, todos os dias, durante 8 meses, e depois gastar
mais 4 meses, trabalhando 12 horas por dia, em escrever um livro. Para o Brandon,
significa acordar e escrever de 2000 a 3000 palavras por dia, dividindo-se em duas
sessões de 4 horas. Colocando um tijolinho por vez e seguindo em frente, sem
parar. Quem não tem esse tempo, porque trabalha ou seja lá o que for, pode, por
exemplo, gastar a hora do almoço trabalhando no Outline daquilo que vai escrever
naquele dia, e, ao chegar em casa, usar 1h de tempo livre para escrever sua história,
antes de ir dormir. Para outras pessoas, o único tempo livre para escrever pode ser
4 horas durante um sábado, e isso é o melhor que conseguem fazer. Vai ser
diferente para cada pessoa.
- Mas o objetivo aqui não é competir pra ver quem fica mais tempo com a bunda
sentada na cadeira, escrevendo. O objetivo aqui é CONSISTÊNCIA.
- O escritor médio escreve algo entre 300 e 700 palavras por hora, em média 500.
Se você se encaixa um pouco abaixo ou um pouco acima, não importa, cada pessoa
é diferente. Pode acontecer também de você passar a semana pensando numa cena
incrível e, na hora de escrever, cuspir 1200 pu 1400 palavras de uma vez só.
- Significa que, se você puder arrumar 4 horas por semana, você pode
escrever 2000 palavras. Um livro tem, em média, 100.000 palavras. Significa
dizer que, em um ano, você escreve um livro, mesmo escrevendo 4 horas por
semana. Se for só 2 horas por semana, você escreve um livro em dois anos, o
que é um ritmo perfeitamente aceitável.
Obs.: Você pode ser um binge writer. Alguém que precisa escrever sem parar por
loooongos períodos de tempo, sem ser interrompido. Escrever consistentemente às
vezes pode exigir isso de todos nós, mas, se você for um binge writer natural, você
deve aprender a lidar com isso, e talvez até tentar outras maneiras que não essa,
porque podem existir outras opções mais fáceis de se trabalhar para você. Mas se
não, ok, abrace isso, assuma que essa é a sua forma de escrever e organize a sua
rotina semanal pensando nisso.
- Escrever é um daqueles trabalhos que é meio difícil de se fazer quando você tem
uma outra profissão que ocupa muito espaço no seu cérebro. Qual a profissão
perfeita para quem quer ser escritor? Impossível de se dizer, mas é possível nomear
algumas profissões que você pode não querer seguir, caso deseje ser um escritor.
Por exemplo, programador (escrever códigos pode te levar à exaustão, te deixando
cansado demais para escrever histórias) e professor (porque é um trabalho que você
leva pra casa, mesmo ao sair da escola). Um exemplo de trabalho bom: empilhar
tijolos (risos), porque você não tem que pensar. Você pode passar horas pensando
no seu Outline e, ao chegar em casa, estar relaxado para escrever suas histórias.
Muitos estudantes se perguntam qual é a carreira perfeita a seguir para se tornarem
bons escritores, e aí está uma resposta. Labor doméstico e mão-de-obra tendem a
ser ótimos trabalhos para escritores, por essa razão. Meio bizarro e contrário ao que
você pode ter passado a vida inteira acreditando. No entanto, poucos de nós
podemos ter esse luxo de sermos empilhadores de tijolos. (risos)
Obs.: Não leve tão a sério o lance de programação e tecnologia, ou qualquer outra
profissão. É diferente para cada pessoa.
- Resumindo, você precisa descobrir o que funciona pra você. Mas tenha em mente
que, se você puder aprender a ser consistente, escrever pode se tornar uma
aspiração profissional muito realista para você, mesmo que você não tenha a
intenção de se tornar profissional ou nunca chegue a ser um.

Ser escritor x Ter uma vida


- Ter uma vida é meio que importante. Um escritor, presumivelmente, escreve
sobre as vidas de outras pessoas, e conta histórias sobre as experiências delas. Se
você não viver a sua própria vida, isso vai ser bem mais difícil.
- "Você não pode se casar. Não pode ter filhos. Não pode ter uma família. Isso vai
te distrair do seu objetivo de ser um escritor." Um amigo do Brandon responde a
isso dizendo: "Eu descobri que ter tido uma família me deu muito mais coisas para
escrever sobre, do que se eu não tivesse."
- O ideal é que você escreva todos os dias, por 1 ou 2 horas. O ideal é que você
aprenda a fazer isso profissionalmente nos próximos 10 anos. Então o ideal é que
você escreva por 1 ou 2 horas, todos os dias, nos próximos 10 anos. Achar 2 horas
por dia pode ser difícil, particularmente se você tem uma vida social.
- Mas tenha em mente que, em se tratando de relações interpessoais, quanto mais
consumido você for pela sua escrita, mais as pessoas na sua vida vão sentir que
estão sendo deixadas de fora, trocadas, por algo pelo o qual você se dedica e é
apaixonado. Escritores ficam em seus próprios mundinhos fazendo algo que, para
eles, é super legal, mas podem ficar tão investidos nisso que as pessoas que são
importantes em suas vidas podem se sentir largadas.
- Nesse curso vamos tentar te impulsionar a escrever muito, mas é importante que
você também busque equilíbrio na sua vida pessoal, porque é muito fácil se sentir
esgotado (Burn Out) sendo um escritor. Se tornar tão consumido por isso a ponto
de destruir certos aspectos da sua vida.
- Dica do Brandon: "Eu percebi que, quando eu estava com a minha família, eu
precisava estar com a minha família. Isso foi uma transição difícil porque eu me
casei depois dos 30, tendo passado a vida inteira aprendendo a escrever. Uma coisa
que você aprende a fazer, sendo um escritor, particularmente quando também se
trabalha e se estuda, é procurar aqueles momentos em que ninguém está querendo
que você faça nada e usar esses momentos para escrever suas histórias."
- Carregue com você o seu notebook, caderno ou celular, para onde você for.
Escritores não ficam entediados, o que é ótimo. Alguém diz "Ooooh, você ficou
sozinho aqui na praça, esperando por mim por uma hora inteiras?? Eu sinto
muito!!", e são nesses momentos em que você se dá conta de que foi a única hora
do dia em que ninguém te incomodou, e também a que você mais produziu, mesmo
sendo tudo dentro da sua cabeça.
- Sua imaginação pode dominar tudo à sua volta e, se você aprender a estabelecer
barreiras para contê-la, para, assim, poder estar com a sua família quando precisar
estar com a sua família, ou com as pessoas que são importantes pra você, sua vida
vai ser melhor. Defina uma parte do seu dia em que você estará proibido de
trabalhar em seus livros, não importando se sua família está fora ou se você tem
tempo livre. Assim, você pode viver sua vida como ela deve ser vivida e interagir
com outras pessoas. Além disso, torna o seu retorno à escrita muito mais
revitalizador. Quando você vai fazer alguma outra coisa, você volta mais
empolgado para escrever de novo. Por isso o Brandon faz 2 sessões por dia com
uma pausa substancial entre elas: de 1h às 5h, e depois 10h às 14h.
- O importante disso tudo é você tomar providências para se certificar de que sua
escrita não consuma você a ponto de destruir a sua habilidade de ter boas relações.
- Por outro lado, existem algumas dicas que você pode dar à sua esposa, ou ao seu
colega de apartamento, para ajudá-los a entender melhor o que você faz.
- Para muitos escritores, leva um tempo até você entrar naquele mundo, naquela
“zona”. Para o Brandon, a primeira hora não é uma hora de 500 palavras, é mais
tipo 200. A terceira hora é por volta de 1000, bem produtiva, e aí na quarta hora
começa a baixar a estamina. Se, após escrever por 45 minutos, você for
interrompido por 15 minutos, o que isso faz com você é te levar de volta para o
início daquela primeira hora de 200 palavras. Ou seja, uma interrupção de 5 a 15
minutos pode significar um atraso de 45 minutos para que você entre de novo na
“zona”, onde a escrita está realmente fluindo pra você. Esse espaço de tempo é
muito precioso para escritores e, se você conseguir fazer com que os seus amigos e
a sua família sejam os guardiões desse tempo, de forma que eles, de certa forma,
desempenhem um papel nele, vai ser ótimo. Descubra como você funciona, como é
o seu tempo para entrar na zona, e peça para que as pessoas não te interrompam
nesse período de tempo. Mostre que, passado esse tempo, você vai estar muito
mais relaxado para passar tempo com elas, já que conseguiu produzir. Assim eles
criam uma certa conexão com a sua escrita. Vocês estão juntos nisso.

46min - perguntas (outro dia digito mais, quero focar na aula)


- Como superar o desespero por pensar que você não vai conseguir?
Primeiro, sempre há a possibilidade. Não ouça ninguém que diga a você que, se
não foi capaz de conseguir em 10 anos, significa que nunca conseguirá. Diga isso
ao George R. R. Martin que, durante 30 anos, mal conseguia fazer com que seus
livros fossem lidos e, de repente, se tornou o autor de fantasia mais famoso do
mundo.
Segundo, foque em saber se você está satisfeito com a sua escrita. Terminar algo é
uma conquista muito grande. Muitas pessoas que querem ser escritores sequer
terminam um livro, portanto, se você termina um, você já está num grupo mais
seleto. Então fique orgulhoso por finalizar suas obras.
Foque-se em coisas sobre as quais você tem poder, que você pode controlar. Você
tem poder sobre finalizar ou não a sua história, sobre escrever consistentemente,
sobre o seu entusiasmo pelas histórias que você está criando. Mas você não tem
poder sobre conseguir ser publicado ou não.

Grupos de escrita
- Também são o tipo de ferramenta que, para uns, funcionam, e para outros não.
Mas, se funciona, é uma das ferramentas mais úteis que você poderá ter na sua
carreira como escritor, principalmente para balancear ideias. No entanto, isso não
significa dizer que não exista um lado ruim.
1) O lado ruim dos grupos de escrita
- Alguns escritores não sabem fazer workshops, particularmente os novos. Eles
podem tentar transformar a sua história na história que ELES escreveriam, em vez
de tornar ela uma versão melhor da história que você quer escrever. O pior tipo de
feedback é o de alguém que não está apreciando a história que você quer contar, e
fica tentando fazê-la virar outra coisa.
- Às vezes não é por maldade, às vezes eles só querem te ajudar, fazer você se
tornar um escritor melhor, mas a única forma que eles têm de fazer isso é te dizer
como eles fariam, o que pode ser completamente errado para a sua história.
- Isso pode ser particularmente perigoso se você for um desbravador, que não
pensa à frente, nem usa outline. "Oh, meu deus, a minha história precisa disso que
esse cara falou! Era um romance, mas agora precisa de um mistério! E vampiros! E
eu preciso também mudar o gênero do protagonista, óbvio!"
2) O lado bom dos grupos de escrita
- Eles podem ser um ótimo suporte. Um grupo de pessoas que está passando pelas
mesmas coisas que você está passando, e que está trabalhando com você há um
tempo, a ponto de eventualmente aprender o seu estilo de escrita, e a apreciar o que
você está fazendo, poderá te dar bons feedbacks e te ajudar a fazer a história do
jeito que você quer fazer. É algo que você pode cultivar.
- Antes de ser publicado, ter uma meta aliada a um prazo é muito útil. Está tudo
bem em precisar de um prazo para entregar trabalho. Todos nós temos psicológicos
diferentes, e alguns de nós precisamos de prazos. Se esse é o seu caso, defina um
para você, ou deixe que um grupo de escrita o faça.

Conselhos para grupos de escrita


- Se você é um workshopper dando conselhos, siga essas diretrizes:
- Tente ser descritivo em relação às suas emoções, não proscritivo. Dizer "Eu fiquei
entediado" é um feedback válido em qualquer situação, mas dizer "Você devia
colocar uma cena de luta aí" pode ser um bem ruim, dependendo da situação. Se
você conhece a pessoa e entende o que ela está tentando fazer, pode ser uma boa,
mas também pode ser ruim. "Eu estava entediado" nunca pode ser ruim, sempre é
uma resposta aceitável. Mas o workshopee não precisa aceitá-la, ele pode concluir
que "Bem, talvez essa parte tinha que ser entediante mesmo" ou concluir que talvez
essa história simplesmente não esteja se conectando com aquela pessoa em
específico, e tudo bem.
- "Tô confuso", também é sempre válido. O escritor precisa saber onde ele está
perdendo os leitores, porque talvez ele não esteja sendo claro o suficiente. Ou
talvez você só se perdeu mesmo, seu cachorro latiu enquanto você estava lendo,
você se lembrou de alguma coisa, seu filho chorou, etc. Mas sempre é uma
resposta válida, deixe o escritor saber que você ficou confuso. O que o escritor
precisa é da sua reação natural para que, a partir dela, possa concluir se era isso o
que ele queria provocar, ou se a sua reação o surpreendeu completamente.
- Certifique-se de dizer primeiro o que ficou bom. Diga logo de cara o que estiver
funcionando, para que o escritor não o mude acidentalmente. Além disso, é ótimo
ouvir o que funcionou na sua escrita, e que ela não é uma bosta, antes de ouvir o
quanto ela é terrível.
- No grupo do Brandon eles primeiro dizem o que está funcionando e depois
passam para as "Coisas que você poderia rever", em vez de “Coisas que ficaram
uma bosta”.
- Se você é o workshopee, escreva e não mude nada ainda. Dê um tempo para a
história, dê espaço para ela.
- Ouça o feedback e tente entender o que aconteceu, compreender de onde esse
feedback está vindo, e o que o provocou. Entenda se a reação que você obteve foi,
na verdade, a que você queria. Algumas vezes você quer que as pessoas fiquem
meio confusas. Ou quer que elas desejem algo que elas não obtiveram ainda,
porque você vai dar, alguns capítulos depois. Ou talvez você tenha feito algo
errado mesmo, e está todo mundo rindo de algo que deveria ser sério.
- Em todo caso, fique em silêncio. Não diga nada. Finja que você é uma mosca na
parede ouvindo eles discutirem a sua história num Clube do Livro. Não se defenda,
não se explique. Se você fizer isso, só vai fazer com que as pessoas se sintam
desencorajadas a te dar feedback, no futuro. Se você se explica na hora, isso pode
te impedir de se explicar na própria história, usando a sua escrita para fazê-los
entender o que você quis fazer. E, assim, não vai saber se conseguiu fazê-los
entender por meio da sua escrita ou das suas explicações, contaminando-os com
elas.

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