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(Cltra popu ma Udde Moder, Sho Paul Cia das Leas, 1988, Venza e Amstedd, Um exado das lites no sealo XVI, Sto Paul, Bases, 1991, A escola do Amales, So aslo, Ves, 1990. ‘eset da bistro Palo, Une, 92 A fabrcacio do et, Rio de Jan, Jose Zab, 1994. da comers, So Paul, Usp, 199 Peter Burke Variedades de historia cultural TRADUGAODE lds ors Rio de Jairo Fide oihaient por Pay Pcs em tech com Blak le ads 7 Hirao oniamac motes Vanes of Clara History Evel Grace Enel Grwmacle Joo de Svea ete PREPARACAO DE ORIGINAIS Leny Carder Eorronagao eLeTRONICA At Line GUEBASIL. CaTaLoGAcKO Na towre }O NACIONAL BOS EOIFORES DE LIVROS, Rj Bae, Fe 97 ele Sea el te Bake; eadogio ‘Aids. = Ro de fos. Cee fei Sa Trap deans of earl isery 3. Cato "isonegran Ein tele Het. 00-509 oo786 fore Todos on dios sas Pe eed aemaenameno 08 season pes dere sede enous moe pc ‘neodagto por earee icon det bs ol BD Uo de ders SA. ‘no aa 9730 an,DDO04, Re “edo 23208 fed ese (Gea Ms 23.052 Ride Jae, RY, 20822 570 Sumario eraco 7 1. Origens da bist6ria cultural 11 2. A historia cultural dos sonhos 39 3. Historia como memoria social 67 4. A linguagem do gesto no inicio da Itlia moderna 91 5. Froateiras do cémico no inicio da Ilia moderna 113 6.0 discreto charme de Milo: viajantesingleses no séeulo XVIL 137 7. Esieras plilicae privada na Génova de fins do Renascimento 159 8, Cultura eruditae cultura popular na Ilia renascentista 177 9. Acavalaria no Novo Mundo 195 10. A tradugio da eultara: 0 Carnaval em dois ou trés mundos 213 11, Unidade e variedade na historia cultural 231 wocraria 269 twoiee 307 Prefacio (© objetivo desta coleténea de ensaios é discutire exemplifiar algumas das principas variedades de historia cultural surgidas desde ‘oquestionamenta do que se poderia chamar de sua forma “clissca”, exemplilicada na obra de Jacob Burckhardt ¢ Johan Huizinga. Esse ‘modelo cldssico no foi gubstiruido por nenhuma ortodoxia nova, apesar da importincia das vsbesinspiradas pela antropologia social € cultural ‘A coletanea comssa com um capitulo sobre as origens da bist ‘que suscita questbesgerais sobre a identidade do tema. Os substantivos, mas também cule capitulos sobre sonhos e meméria si omparativos, alm de tentar abordar problemas gerais na prética da historia cultral ‘Sequem-se cinco estudos de caso detalhados do inicio da Ilia moderna, principal érea de minha pesquisa, de meados da década de 41960 a meados da de 1980. Todos esses estados se situatm nas fron teiras da historia cultural (no sentido de consttuirem éreas 56 reeen remente examinadas)e também nas fronteias culturais —enere a eu tua eruditae a cultura popular as esfera pablicae privada, osério€ ‘Seguem-se dois ensaios sobre o Novo Mundo, em especial o Brasil {um mando novo, que descabr hi apenas uma dads). Esse secon centram nos romances de cavalaria € no Carnaval, mas sux preoct ppacio esencial écom a “etadugao” cultural nos sentidos etiologic, Ttcrale metaforico do term. Dew-se particular énfase as consequn descrelsem ten de maton sinresna usin ‘0 volume termina “ sedads de istra utralcomparando cconestano clan sico com o *novo", ou “antropoigice tenn responds a quotio de saber sea chamas “nor hist ula etscondens dh genagio As ieas age apresentads se desenvo “Asi sentra a pari de uma src de dogo ete fonts dos slo» XVTEXVI, tends sis evens (acobBurckharh, Aby Warharts Marc Bese Toon Haina tenis clan modern, de mand Faend, Noe Eas Mihail Bakitina Mel Foul Mite de Cane ban Bourdies. Nos ensaos a ei testa iar spon opt constraiismo” (a idea da costo cultural ou dacorave dy sldae) do “posvsmo” able in semido de enperncon Thante em que “os documentos” revelario “os fatos”) Dedico exe iro minha amadn mulher e olga hioridor, Maria Liicia Garcia Pallares-Burke. “ ° Agradecimentos No decorter da elaboragio destes ensaios, aprendi muito nos didlogos aque mantive a0 longo dos anos com Jim Amelang, Anton Blok, Jan Bremer, Maria Licia Garcia Pallaes-Burke, Rogee Chartier Bob Darnton, Natalie Davis, Rudolf Dekker, Florike Egmond, Carlo Ginzburg, Eric Hobsbawmn, Gabor Klaniczay, Reinhart Koselleck, Giovanni Levi, Eva Osterberg, Krzysztof Pomian, Jacques Revel, Peter Ricthergen, Herman Roodenburg, Joan Pat Rubies i Mirabet, Bob Scribner e Keith Thomas. No estudo dos sonhos, muito me aju- daram Alan Macfarlane, Norman Mackenaie, Anthony Ryle © Riccardo Steiner. Gwyn Prins e Vincent Viaenefaclitaram meu aces- 50. histria africana. Pelo titulo do Capieuo 6, meus agradecimentos 44 Aldo da Maddalena ‘© Capitulo 1 € uma versdo revista de “Reflections on the Origins ‘of Cultural History”, in Interpretation in Cultural History, org Joan Pittock e Andrew Wear (1991), pp. 5-24, com a autorizagio da ‘Macmillan Press. © Capitulo 2 foi revisto a partic da versio em inglés de “LiHlistoire sociale des reves", Annales: Economies, Sociétés, Civilsations, n, 28 (1973), pp. 329-42. Foi a primeira publicagdo em inglés. © Capitulo 3 & uma versio revista de “History as Social Memory", in Mevrory, org: Thomas Butler (1989); pp. 97-113, com autorizagio de Blackwell Publishers (© Capitulo 4 é uma versio revista de “The Language of Gesture in Early Modern Italy”, in A Cultural History of Gesture, org, Jan Bremmer e Herman Roodenburg (1981), pp. 71-83. Copyright © Peter Burke 1991, com autorieagéo da Polity Press e Cornell University Press. © Capitulo 5 ¢ uma versio revista de “Frontiers of the Comic in Early Modern Italy", in A Cultural History of Humour, org. Jan Bremmer e Herman Roodenburg (1997), pp. 61-75, cam atrorizasao dda Polity Fess. © Capitulo 9 ¢ uma versio revisada de “Chivalry in the New World”, in Chivalry inthe Renaissance, org. Sydney Anglo (1990), pp. 253-62, com autorizagio da Boydell e Brewer Lads Origens da historia cultural Nio hi concordincia sobre o que constitu histria cultural, menos ‘ainda sobre 0 que constiui eultues. HA mais de quarenta anos, dois ‘studiosos americanos comegaram a mapearas vaiagBes do emprego ddo tcrmo em inglés, © ceuniram mais de duzentas definigdes concor- fentes Levando-se em conta outeas linguas eas iltimas quatro déa- Gas, seria fell reunie muito mais. Portanto, na busea de nosso tema talvee fosse adequado asaptar a definigio de homem dos existencia- Tistase dizer que a hist6ria cultural nio tem esséncia. 86 pode ser nida em termos de nossa propria historia ‘Como pode alguém escrever uma histria de alguma coisa sem ‘uma identidade definida? & um tanto como tentar prender uma rnuvem em uma rede de cagar borboletas. Contudo, cada um & sua imaneira muito diferente, Herbert Butterfield Michel Foucault demonstraram que todos os hstoriadores enfrentam esse problema, Butetfild criticou 0 que chamou de “interpretasio Whig da histo- fia", em outtas palavras, 0 uso do passado para identificar 0 presen- te,¢ Foucault enfatizou as “rupruras” epstemoligicas. Se quisermos evita atribuigio anacrénica de nossasintengbes, interesses e valores laos mortos, nfo podemos escrever a hstéria continua de nada De tum lado, enfrentemos o perigo da “intencionalidade presente”, e do ‘outro corremos 6 rsco de ficar de todo impossibilitados de escrever. “Talvez haja um meio-temo, uma abordagem do passado que faga penguntas motivadas pelo presente, mas que se recuse a dar respostas Tecbere Kiso | eer 1931 Fours (1966. smotivadas pelo ‘continua reinterpretagiose que observe a importincia das conseqién- ente; que se relacione ao presente mas permita sua Heper (1970 inglesa a partic de Chaucer num tratado initulado The Arte of English Poesie, publicado em 1589 e atribuido a George Puttenham. “Tamibém foi publicada em 1606 uma histria do espanhol, Del origen yy principio de la lengua castellana, de Bernardo Aldrete, no mesmo ‘ano que um estudo semelhante do portugués, Origem: da lingua por fuguesa, do bachare! Duarte Nunes de Leo, Os alemacstiveram de esperar até 0 século XVII por uma histéria equivalent assim como tiveram de esperar até o século XVII por um equivalente dos poetas dda Pléiade, mas a bisria, quando chegou, ea mais elaborada e com- patativa,O polimata Daniel Morhof psa histéria da lingua eda poe sia alemas numa estrutra européia comparativa em Unterricht vor der Teutschen Sprache wd Poesi (1682).* ‘Com base nesses fundamentos, muitos eruditos do século XVIIT _apresentaram histérias em miltiplos volumes de iteraturas nacionais, sobretudo as da Franca (de uma equipe de pesquisa de monges bene dlitinos liderados por Rivet de la Grange) eda Ilia (compilads$ por Girolamo Tiraboschi sozinho, sem ajuda). A amplidio da nogio de “literatura” de Tiraboschié digna de nota? Na Gr5-Bretanha, surg ram movimentos semelhantes. Alexander Pope publicou um “esque ma da hist6ria da poesia inglesa”; Thomas Gray aprimorou-a. Enquanto isso, a histéria era assegurada por Thomas Warton, que jamais foi além do inicio do séeulo XVII, embora sua inacabada “History of English Poetry (4 vols, 1774-8) continue sendo impressio- “Também se escreveram monografias sobre a historia de determi nados gineros literiris. © erudito prorestante francés Isaac Casau- bon publicou um estudo da sitira grega em 1605, e John Dryde, se {guindo-the o exemplo, escreveu um Discourse Concerning the Ort ‘Binal and Progress of Satire (1693), que discutia seu desenvolvimento ‘desde o que chamou de sitira exterpordnea “tosca, nfo trabalhada”, Ts (1957) ‘cp (1958 Goal (1986) Spe (199, Welle 1941 Liking (1970, 82 F sk (1973, ap 5 dda Roma antiga até as eriagSes aperfeigoadas de um periodo em que (0s romanos “comegavam a ficar um tanto mais bem-educados, € 2 ‘entrar, com a permissio da palavra, nos rudimentas da conversa poli dda”, Mais uma ver, 0 surgimento do romance nos séculos XVI e XVIII veio acompanhado de pesquisas sobre suas origens orienta e ‘medievais,feitas pelo bispo polimata Pierre-Daniel Huet, em sua Latire sur Vorigine des romans (1669), logo seguido por Thomas ‘Warton, que insriu em sua historia da poesia uma digressio “Sobre 1 origem da fice romantica na Europa”. HISTORIA DE ARTISTAS, ARTE E MUSICA [Nido chega a ser uma surpresa o fato de se encontrarem homens de letras que dedicavam atengio & histéeia literatura. A arte era um fbjeto menos dbvio para a atengio do historiador, mesmo no Renascimento, Os eruditos nem sempre levaram os pintores a sério, ‘40 mesmo tempo que faltava aos pintores aquela preparasio necesss pesquisa historia. Quando, na Florenca do século XV, 0 escul tor Lorenzo Ghiberti apresentou um esbogo lteriio da histéria da arte, no autobiogrifico Comentiros, fazia uma coisa meio inco ‘Também no podemos dar por certo 0 caso de Vasari. Ele foi ‘notivel em sua época porque tinba uma formacio culeural dupla, nio apenas o aprendizado no atelié de um pinto, mas também uma edu cago humanista subvencionada pelo cardeal Passerni!® Seu Vidas dos pintores, escultores ¢ arqutetos, langado em 1550, foi escrito, diz-nos 6 autor, para que jovens pintores aprendessem com 0 exem: plo de seus grandes antevessores,e também (pode-se agui cer razoavel

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