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Maria Tymoczko
Tradução de Ana Carla Teles2
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Primeiramente publicado em BAKER, Mona. Critical readings in Translation
Studies. London: Routledge, 2009, p. 213-28
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Revisão da tradução por Roberto Schramm Júnior.
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Sobre teoria do ato discursivo, ver Austin (1975), Searle (1969), Sperber e
Wilson (1995). Os aspectos ideológicos do relato foram discutidos por Volosin-
ov (1971, p.149.ff) e Parmentier (1993). Um estudo abrangente da tradução en-
quanto relato pode ser encontrado em Folkart (1991); ver também Gutt (2000),
Hermans (2000, p.269) e Mossop (1998).
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Antígona é a primeira das peças tebanas escritas por Sófocles e encenada em
Atenas em 442 ou 441 antes de Cristo. Naquele tempo, o sistema democrático
estava firmemente estabelecido em Atenas e a ideologia prevalecente enfatizava
o discurso livre, livre associação e acesso livre ao poder, limitado pelo cumpri-
mento das leis da cidade. Esses ideais eram ativamente negociados com a Liga
de Delos e com Sarnos, especialmente estabelecidos em Sarnos inicialmente
com uma campanha de dez navios que partiram de Atenas. Contudo, na época
da peça de Sófocles, a oligarquia de Sarnos parecia fomentar separação do co-
mando ateniense. Em 441-440, após a encenação da peça, Atenas reagiu com
uma segunda expedição a Sarnos, desta vez com 60 navios sob a liderança de
Péricles e do próprio Sófocles, designados para remover os rebeldes e restaurar
a democracia e o comando ateniense na ilha. Desse modo, a peça foi encenada
em um contexto histórico altamente politizado e seus discursos provavelmente
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Essas noções têm sido acirradamente debatidas. Ver, por exemplo, Pym (1998,
p.179 ff.), bem como as fontes citadas. O impacto da tradução em muitos au-
tores contemporâneos – de Borges a Kundera – dos quais a posição “em casa”
foi imediatamente ressaltada pela tradução de seus trabalhos para o inglês ou
francês é uma refutação banal para a visão de Toury, apesar da importância de
suas percepções sobre abordagens descritivas da tradução de modo geral.
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Esse é um tópico sobre o qual mais pessoas além de mim têm se debruçado.
Sou grata a Annie Brisset que publicou sobre este tópico (1997) e com quem
pude conversar sobre o mesmo. Embora tenhamos chegado a conclusões se-
melhantes, abordamos o assunto partindo de direções distintas. A importância
de se compreender as implicações do discurso e das metáforas sobre tradução
para ambas, a história e a teoria da tradução, tem sido crescentemente recon-
hecida. Estudos inovadores com implicações para a ideologia da tradução po-
dem ser encontrados em Hermans (1985b) e em Chamberlain (1992). Sobre a
importância geral de metáforas para a estruturação do pensamento, ver Lakoff
e Jonhson (1980). Visto que as metáforas possuem poder ideológico e também
estruturam nossos pensamentos e nossas vidas, se faz importante investigar sua
implicação e verificar se elas possuem integridade intelectual.
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Por exemplo, a figura de linguagem é integral ao argumento de Iser (1995).
Brisset (1997) oferece uma crítica excelente à posição de Iser, argumentando
que sua visão é, em última análise, mais utópica que pragmática para a tradução
em si.
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Os estudos da tradução não são a única disciplina que utiliza metáforas espaciais.
Elas se tornaram populares em outros domínios da cultura contemporânea e
talvez mais notavelmente na linguagem relativa a atividades computacionais,
como exemplificado em termos como cyberspace, chat rooms, Web sites e assim
por diante. Koppell (2000) sugere que o vocabulário com termos que denotam
espaço foi adotado no domínio da computação para lhe conferir importância,
especialmente para evitar comparação com a televisão, para evitar rebaixamento
à posição de um simples meio de comunicação e para evitar a sugestão de que
habitantes da rede são recipientes passivos de sinais eletrônicos. Metáforas
de espaço fazem com que a internet pareça mais excitante, ajuda a vender
computadores e produtos da área. Além disso, tais metáforas são parte daquilo
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que permite aos governos consignar decisões sobre a internet para empresas
que visam ao lucro e a interesses comerciais, enviesando seu desenvolvimento
em favor de corporações ao invés do indivíduo ou da sociedade como um todo.
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Também preocupado com as questões de causalidade, Pym sustenta uma dis-
cussão semelhante sobre os tipos de causalidade assinalados por Aristóteles: a
causa material, a causa final, a causa formal e a causa eficiente (1998, p. 144-59).
Aqui adoto uma estrutura de alguma forma mais abrangente que Pym,
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Este é talvez um fator que inspirou Christine Brooke Rose para utilizar o título
Between em seu romance sobre um intérprete simultâneo que literalmente me-
dia no canal de som entre a voz do falante e o ouvido dos ouvintes. Em estudos
escritos sobre tradução, também se refere à representação grafológica do tradu-
tor (e à mediação do tradutor) enquanto posicionado entre a língua fonte e o
texto à mão, e a língua-alvo e o texto na outra, REALIZED em vários diagramas,
como o seguinte: LA + LF → Tradutor → Texto-Alvo + Língua-Alvo.
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Procedimentos de tradução vernácula na Idade Média mostram certas con-
gruências com o processo de tradução na tradução oral. (TYMOCZKO, 1990)
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Por exemplo, poucos estão inclinados a aceitar, num período pós-darwinia-
no, a visão de Descartes de que os animais (mas não os humanos) são máqui-
nas, à luz de vasta prova construída pelas ciências biológicas no último século,
ilustrando as continuidades essenciais entre seres humanos e outros animais.
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A dicotomia dos estruturalistas do cru e do cozido não convence mais, em
parte porque as experiências em nossas próprias cozinhas mostram outras op-
ções. O cru, o cozido e o estragado. O cru, o cozido e o queimado. O cru, o
marinado e o cozido. O cru, o fermentado, o salgado, o em conserva, o seco e
o cozido. Ou mesmo coisas ao ponto perfeitamente cru-cozido. Enquanto me
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junto aos pós-estruturalistas aqui, simultaneamente, fica claro que estas alterna-
tivas não cabem numa escala única entre o cru e o cozido. Por exemplo, o seco
é mais ou menos cozido que o salgado? E como cada um deles se relaciona com
o estragado? Impossível afirmar, pois não há um critério único que governe tais
atribuições. Ver como abordo esses assuntos quando eles se relacionam com
tradução em Tymoczko. (1999, capítulo 4)
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Os lógicos frequentemente oferecem como exemplo a característica “grávida”:
uma mulher está ou não está grávida. Não se pode estar meio grávida, um pouco
grávida ou num contínuo entre grávida e não grávida.
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É isto que está por trás do conceito de Pym de uma intercultura (1988, capí-
tulo 11). O diagrama de Pym sobre a posição do tradutor (1998, p. 177) indica
que o tradutor habita a junção ou união de dois sistemas linguísticos e culturais,
representado como o espaço partilhado por dois círculos sobrepostos. Contudo,
alguém poderia talvez diagramar a situação mais precisamente como dois círcu-
los pequenos dentro de um maior, um esquema mais compatível com algumas
concepções de bilinguismo exploradas nos estudos da tradução (ver, por exem-
plo, OKSAAR, 1978). Na realidade, ambas as representações são bastante es-
quematizadas e, por fim, são representações inadequadas da complexidade das
culturas e linguagens humanas as quais são sistemas mais abertos que fechados
como sugerem os círculos em tais diagramas.
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Desse modo, as implicações para uma avaliação de Spivak, por exemplo, são
claras: embora ela esteja na vanguarda, por trazer a teoria pós-estruturalista
francesa para um contexto em inglês, a visão dela da tradução como um movi-
mento entre sistemas formais é paradoxalmente bastante regressiva (em termos
filosóficos) e ao mesmo tempo inocente, ironicamente implicando uma visão
platônica de linguagem.
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Nos primórdios da tradução na China, havia ainda mais estágios com recita-
ção ou leitura de um texto-fonte por um falante da língua fonte juntamente
com tradução oral do texto, trecho por trecho, feita por uma pessoa bilíngue. O
material era, então, transcrito para o inglês por um terceiro membro da equipe,
revisado e finalizado por um quarto membro (os dois últimos não conheciam
nada da língua fonte).
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Sem mencionar a mentalidade de abandono da escola da geração de 68 nos
Estados Unidos.
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HALL, E.T. “The Local and the Global: Globalization and Ethnicity”.
In: KING, A.D. (Org.). Culture, Globalization, and the World-System:
Contemporary Condition for the Representation of Identity.
Minneapolis: University of Minneapolis Press, 1997.
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