artigo

Arquitetura e política
> Joana Mello de Carvalho e Silva

Nada é abstrato, neutro ou indiferente no ato de produção da arquitetura dos

equipamentos coletivos. Nele, o traço nunca é um risco: é um material, é uma dimensão,
é um custo, é uma resposta a demandas que são concretas em um tempo histórico.1

No contexto pós-Brasília, mais precisamente entre 1960 e 1990,

Mayumi Watanabe de Souza Lima (1934-1994)2 é uma das mais
ativas e destacadas personagens do debate arquitetônico brasileiro,
cuja centralidade é o problema construtivo. Sua carreira foi
inteiramente dedicada a pensar sobre a produção da arquitetura,
as possibilidades de democratização de seu acesso e os ajustes
exigidos pelas demandas sociais da época, mas também as
necessidades e especificidades de seus usuários.

Ao longo de sua carreira, Mayumi, como poucos 1. Sérgio de Souza Lima (Coord.),
profissionais de sua geração, articulou as ativida- Mayumi Watanabe de Souza Lima.
des de pesquisa, docência e prática profissional, São Paulo: Studio Nobel, 1995.
com foco especial nas questões construtivas e
2. Sobre a trajetória completa
o espaço educacional.3 Formada em 1960 pela da arquiteta, ver Cássia Schroeder
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Uni- Buitoni, Mayumi Watanabe
versidade de São Paulo (FAUUSP), a arquiteta Souza Lima: A construção
seguiu a sugestão de João Batista Vilanova Ar- do espaço para a educação.
Dissertação (Mestrado). Faculdade
tigas de realizar uma pesquisa de mestrado na
de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade de Brasília (UnB), partindo com Universidade de São Paulo.
o marido e também arquiteto Sérgio Pereira de São Paulo, SP, 2009.
Souza Lima para a nova capital em 1962.
3. Outro exemplo notável
A sugestão não era uma atitude isolada
dessa articulação foi a carreira
do professor, que segundo relatos orientava os de Hélio Duarte, também ele
ex-alunos ou ex-alunas a se engajarem em ati- especialmente interessado pelo
vidades consideradas importantes não apenas problema da produção do espaço,
para o desenvolvimento da profissão, como do notadamente o das escolas em
seus diversos níveis de formação.
próprio país, logo assimiladas à estrutura acadê- Ver Juliane Bellot Rolemberg
mica da FAUUSP a partir da reforma de ensino Lessa, O ensino na prancheta:
por ele liderada. Naquele momento, a USP ainda Da arquitetura escolar à docência
não dispunha de um curso de pós-graduação, e de arquitetura e urbanismo,
o legado de Hélio Duarte.
o indicado por ele estava a cargo do Ceplan que, Dissertação (Mestrado). Faculdade
além das atividades já mencionadas, tinha entre de Arquitetura e Urbanismo da
suas “atribuições a formação de professores em Universidade de Sâo Paulo.
uma pós-graduação profissionalizante”, envol- São Paulo, SP, 2017.
vendo, por isso, a realização de um projeto prá- 4. Maribel Aliaga Fuentes,
tico, além de uma pesquisa teórica.4 “Mayumi e Sérgio Souza Lima:
Edifício Lâmina da Foi no âmbito desse programa que ela de- Os blocos residenciais da Vila
Unidade de Vizinhança fendeu, em 1965, sob a orientação de João Fil- São Miguel”. Anais do X Seminário
São Miguel Docomomo Brasil, Arquitetura
gueiras Lima, a dissertação Aspectos da habita-
moderna e internacional:
Slab of São Miguel ção urbana – projeto de habitação para unidade Conexões brutalistas 1955-75.
Neighborhood Unit de vizinhança de São Miguel, aproveitando-se Curitiba, outubro 2013.
86 87

Corte transversal do
edifício Lâmina da
Unidade de Vizinhança
São Miguel
Cross section, slab
of São Miguel
Neighborhood Unit
da experiência compartilhada com Sérgio de
Souza Lima de desenvolvimento efetivo do
projeto da Unidade de Vizinhança São Miguel
(1963-1965), localizada na Asa Norte do Plano
Piloto (SQN 107, 108, 307 e 308). Para aten-
der à diversidade de habitantes, os arquitetos
elaboraram dois edifícios habitacionais, uma
lâmina e uma torre que se articulavam a equi-
pamentos sociais, áreas ajardinadas definidas
por caminhos distintos entre pedestres e veícu-
los. Ambos os edifícios foram concebidos com
elementos pré-moldados de concreto armado,
aproveitando a montagem de uma usina vin-
culada ao Ceplan no setor industrial do Plano
Piloto. Contudo, enquanto a lâmina era compos-
ta por montantes estruturais verticais externos
que definiam as áreas de caixilho e descarrega-
vam as forças em vigas de transição transversais
e longitudinais apoiadas em troncos de pirâmi-
de verticais, deixando-se o térreo livre, na torre
os mesmos montantes descarregavam os esfor-
ços diretamente em um piso-grelha em concre-
to armado moldado in loco junto ao térreo.5 A
solução dialoga tanto com a formação do casal
na FAUUSP na sua postura didática, deixando
à mostra os materiais e a lógica técnico-constru-
5. Mayumi Watanabe de tiva, quanto com a experiência em curso ao lado
Souza Lima, “Projeto de
habitação coletiva para a de Oscar Niemeyer e Lelé.
unidade de vizinhança São A proposta foi descrita por Mayumi em
Miguel/Brasília”. In: Sérgio sua dissertação, que se estruturava em três par-
de Souza Lima (Coord.), tes: as duas primeiras dedicadas às origens do
Arquitetura e educação.
São Paulo: Studio Nobel, problema habitacional urbano no exterior e no
1995, pp. 39-47. Brasil e a última, à Unidade de Vizinhança São
Miguel. Nela, a arquiteta recuperou princípios
6. Sobre a atividade centrais elaborados durante o 1º Seminário de
de planejamento das
Habitação e Reforma Urbana, como a importân-
unidades educacionais,
ver o trabalho já citado de cia da ação do Estado no planejamento urbano
Cássia Schroeder Buitoni. e na promoção da habitação, e investiu na refle-
88
xão e execução de elementos pré-moldados de
concreto armado, apontando dois campos de
atuação – o planejamento e a pesquisa construti-
va – que marcariam a sua carreira dali em diante.
Duas outras experiências foram, contudo, igual-
mente importantes na passagem de Mayumi
por Brasília.
Em 1963, participou do 7º Congresso In-
ternacional de Arquitetos (UIA), realizado em
Cuba, onde, ao que tudo indica, teve a oportu-
nidade de conhecer as políticas públicas para
educação daquele país – tema e ação com o qual
se envolveria a partir de 1965, quando retornou
a São Paulo e assumiu a Diretoria de Planeja-
mento do Fundo Estadual de Construções Es-
colares (Fece) do Estado de São Paulo.6 A partir
de então, ela se manteve ligada à construção
da rede escolar, participando de seminários e
consultorias e da gestão dos órgão estaduais
de arquitetura e educação até o início dos anos
1990. Tal como experimentara no mestrado,
Mayumi procurou refletir sobre essa atuação
na tese de doutorado Estado e movimentos po-
pulares na construção do prédio escolar: con-
fronto ou colaboração?, que iniciou em 1984 na
Faculdade de Educação da USP, no horizonte
de fortalecimento dos movimentos populares
que marcaram o processo de democratização e
um conjunto de ações do Estado, das quais ela
participaria ativamente. A proposta era avaliar
a produção de escolas considerando o proces-
so completo, desde a concepção à manutenção
do equipamento, dos profissionais aos usuários,
tendo como referência a reforma e ampliação da
EEPG João Kopke, coordenada por ela no âm-
bito da Companhia de Construções Escolares
do Estado de São Paulo (Conesp) entre 1976 e
1978. Nesse caso, o esforço foi o de envolver, por
meio de uma oficina multidisciplinar, as crian-
ças que estudavam na escola, para conhecê-las
e assim melhor projetar e estimular a sua par-
ticipação no cotidiano escolar.7 A tese não foi
concluída, pois em 1989 a arquiteta assumiu, a
convite da prefeita recém-eleita Luiza Erundi-
na, a direção do Departamento de Edificações
(Edif) da Secretaria de Serviços e Obras da Pre-
feitura de São Paulo, e na sequência, em 1990, o
Centro de Desenvolvimento de Equipamentos
Coletivos (Cedec). Contudo, não resta dúvida
de que as reflexões ali desenvolvidas teriam
desdobramentos.
Ainda na capital federal, Mayumi iniciou a
carreira docente que seguiria pelo resto da vida.
No ano seguinte à sua transferência integrou-
-se ao corpo docente da UnB como professora-
-assistente para lecionar as disciplinas de Física
Aplicada às Construções, Teoria da Arquitetura,
Técnica da Edificação Iluminação e Instalações
Elétricas. Do conjunto dessas experiências, vale
destacar duas.
A primeira foi vivida entre 1970 e 1971,
quando participou das atividades didáticas de-
senvolvidas no primeiro ano da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo de Santos. A experiên-
cia repercutia os debates travados no Fórum de
1968 da FAUUSP, que entre outras questões gi-
rava em torno dos modelos de desenvolvimento
técnico da nação. Buscando colocar em prática a
sua alternativa, Rodrigo Lefèvre e Sérgio Ferro,
com a participação ativa de Mayumi e Sérgio de
Souza Lima, propuseram uma ação integrada
entre várias disciplinas com o objetivo de estu-
dar as favelas da região, sua constituição, modos
de vida e forma de construção, e de propor solu-
ções urbanas e arquitetônicas para elas. Nesse
esforço, investigou-se, em tecnologia, a auto-
construção; em desenho industrial e projeto, as
escalas do objeto, da edificação e do bairro, e em
história a pesquisa se deu em torno da formação
daquele tipo de ocupação. A reflexão envolvia
o debate acerca da atuação dos arquitetos jun-
to às classes populares e dos tipos de respostas
possíveis de serem formuladas diante daquelas
condições sociais e urbanas. A pesquisa e as pro-
posições, portanto, partiam das condições efeti-
vas de produção da arquitetura e de um contato
com os usuários que mostra o engajamento de
Mayumi em um caminho diverso do testado
em Brasília, sem sombra de dúvida marcado
pela ruptura imposta pelo golpe civil-militar de
1964, quando a aposta em industrialização pesa-
da pareceu desvirtuada frente ao cerceamento
das liberdades políticas.
Luiz de Campos Júnior
A outra iniciativa docente importante se Erundina, Mayumi e
deu junto ao Departamento de Arquitetura e equipe na fábrica
Urbanismo da Escola de Engenharia de São Car-
Erundina, Mayumi and
los (EESC) da USP, onde ela ministrou, entre her team in the factory
1987 e 1993, a disciplina de Projeto. Ali ela se
aproximou da terceira alternativa de produção
da arquitetura, pela via da industrialização leve,
tal como ela fora formulada pelos engenheiros
Dante A. O. Martinelli e Frederico Schiel e pelos
arquitetos Paulo Camargo e Almeida8 e Lelé –
este último, também em outro momento da
carreira, quando já havia procedido a uma re-
visão das proposições formuladas no contex-
to de construção na capital federal frente aos
7. A experiência foi relatada
novos desafios colocados pelo programa de
ainda antes da formulação
saneamento básico de Salvador (1980-1982).9 do doutorado no artigo
Lelé então se dedicou à concepção de um ou- “A criança e a percepção
tro sistema construtivo, dessa vez calcado na do espaço” (Cadernos de
Pesquisa, nº31, Fundação
utilização de elementos leves de argamassa
Carlos Chagas, 1979).
armada, abrindo um caminho de investigação
que contou com o apoio dos professores de São 8. Ana Lúcia Cerávolo,
Carlos, notadamente Frederico Schiel, que seria Paulo de Camargo e
aprimorado ao longo de toda a sua carreira e dia- Almeida: Arquitetura
total na trajetória de
logaria com a formulação do Cedec, para qual um arquiteto brasileiro.
prestou inicialmente uma consultoria. Dissertação (Mestrado).
Escola de Engenharia de
Cedec: uma fábrica, múltiplas ações São Carlos da Universidade
de São Paulo. São Carlos,
O Cedec foi idealizado durante a gestão da SP, 2000.
prefeita Luiza Erundina dentro da Empresa
Municipal de Urbanização (Emurb), então 9. João Filgueiras Lima,
dirigida pelo engenheiro José Vitor Soalheiro “RENUNRB – Pré-fabricação
em argamassa armada/
(presidente) e pelo arquiteto Roberto McFad- Saneamento Básico de
den (vice-presidente). Nesse momento inicial Salvador, 1980-1982”.
de gestação, além de McFadden contribuem In: Giancarlo Latorraca
mais diretamente para a sua elaboração a ar- (Org.), João Filgueiras Lima,
Lelé. São Paulo/Lisboa:
quiteta Marilda Froes, funcionária da Emurb,
Instituto Lina Bo e
o arquiteto Paulo Eduardo Fonseca de Campos, P. M. Bardi/Editorial Blau,
que se integra à equipe a convite de McFadden, 1999, p. 105.
89

–, as atividades do Cedec abrangiam “a pesquisa
10. Entrevista com Paulo
Eduardo Fonseca de
Campos realizada pela
autora em maio de 2017.
11. Ver Cássia Schroeder
Buitoni, op. cit., p. 74.
12. Ver nome de todos os
membros da equipe do
Cedec no livro organizado
por Sérgio de Souza Lima
já citado.
13. O acervo da arquiteta
encontra-se no Centro de
Memória Sérgio Buarque
de Holanda da Fundação
Perseu Abramo.
90
deixando a Associação Brasileira de Cimento
Portland – onde vinha desenvolvendo pes-
quisas na área de pré-fabricação, com atenção
especial à argamassa armada –, e o arquiteto
Kristian Schiel, filho do Frederico Schiel, tam-
bém ele familiarizado com aquela tecnologia.
Quando assumiu a direção do Cedec, por indi-
cação de Lelé, Mayumi convida Paulo e Kristian
para iniciar a montagem e produção da fábrica,
compartilhando experiências e com eles reafir-
mando que, naquele momento, diante de áreas
muito carentes cujas demandas eram urgentes,
mas os custos disponíveis muito limitados e a
qualidade material e humana pouco desenvol-
vida, a alternativa da argamassa armada era a
resposta mais adequada à ação do Estado. Daí
a importância de levar a cabo a realização de
uma fábrica pública que garantisse o acompa-
nhamento sistemático da produção e o seu apri-
moramento para diminuir os custos e o tempo
de construção sem perder a qualidade.10
Atentas ao processo completo de produ-
ção da arquitetura – da concepção à obra; do ar-
quiteto aos operários; da prancheta ao canteiro
de materiais e de sistemas construtíveis indus-
trializáveis; o treinamento e a formação de qua-
dros técnicos e operacionais; o planejamento,
projeto, fiscalização e execução de obras; ela-
boração de programas arquitetônicos e dire-
trizes de projeto dos equipamentos públicos;
produção de material informativo; assessoria
técnica e orientação aos grupos envolvidos
na construção dos equipamentos”.11 Ademais,
com o auxílio dos colegas engenheiros de São
Carlos e com a participação ativa da equipe do
Cedec, formada pelos profissionais já citados
além de outras arquitetas e arquitetos,12 foi
possível aprimorar, testar e introduzir algumas
inovações importantes no sistema construtivo
adotado.
O Cedec produziu componentes para
urbanização de favelas e saneamento básico;
mobiliário urbano; equipamentos escolares;
elementos estruturais, de vedação e outros
componentes para construção de equipamen-
tos sociais. Muitos desses elementos e equipa-
mentos seguiram inicialmente os desenhos
de Lelé, mas com o tempo os mesmos foram
adaptados para atender às especificidades da
demanda e condições locais. Nesse redesenho
uma orientação compartilhada com o arquiteto
carioca e com aqueles que contribuíram com a
sua formação desde a FAUUSP seria mantido,
o interesse didático-pedagógico que a solução
técnico-construtiva carregava, tanto do ponto
de vista dos construtores quanto dos usuários.
Assim, os elementos estruturais em argamas-
sa armada se articulavam aos elementos das
instalações elétricas, hidráulicas, vedação, ilu-
minação e ventilação, deixando claras as suas
funções, ligações e o material de que eram com-
postos. Se esse aspecto aponta no sentido de
um aprimoramento, outras modificações signi-
ficaram inovações efetivas, sobretudo nos edi-
fícios escolares e espaços de lazer, introduzidas
por preocupações e compromissos específicos
da arquiteta e sua equipe no Cedec. É notável
uma melhor adequação dos ambientes à escala
das crianças, algo que recupera as experiências
pregressas de Mayumi e o seu cuidado com
uma valorização dos aspectos lúdicos por meio
das cores, mas também do desenho dos caixi-
lhos e da concepção de jardins internos entre as
salas de aula. Estes últimos ampliaram os cor-
redores, transformando-os em espaço de estar
qualificados pela vegetação e iluminação na-
tural, o que respondia de modo mais adequado
também ao clima de São Paulo. Vê-se também
uma maior integração entre os espaços da esco-
la e o bairro, de modo que o equipamento aten-
desse à população mesmo fora dos horários de
aula, tornando-se um marco e uma referência
importante. Isso tinha feito parte dos debates
e da atuação da arquiteta junto aos órgãos de
construção escolar. Nos playgrounds, as pas-
sarelas, escadas, escorregadores e obstáculos
davam suporte e ampliavam as possibilidades
de brincadeira e fantasia, próprias do público
aos quais se destinavam, ao mesmo tempo que
eram claros seus elementos construtivos e a
matéria de que eram feitos.
Desse ponto de vista, o Cedec parece arti-
cular e consolidar o conjunto de experiências e
compromissos firmados por Mayumi ao longo
de sua trajetória. Afinal, tratou-se de articular a
pesquisa tecnológica com a produção de equi-
pamentos públicos de várias escalas. Seu pro-
jeto, obra e manutenção deveriam contemplar
a participação dos usuários, atendendo às suas
necessidades específicas não apenas técnicas e/
ou funcionais, mas também políticas e afetivas.
A atuação e produção de Mayumi continuam
levantando questões importantes sobre o pro-
cesso de concepção e execução da obra, e, sobre-
tudo para a história da arquitetura, segue ilumi-
nando a complexidade do debate construtivo
da época, apontando a importância de se am-
pliar o conhecimento a respeito das arquitetas
e de outras formas de atuação profissional.13 n
article
Architecture and Politics
> Joana Mello de Carvalho e Silva
Nothing is abstract, neutral or indifferent in the act of producing the architecture of the collective equipment.
A draw is never a risk: it is a material, a dimension, a cost, it is a response to demands that are concrete in a
historical time.1
In the post-Brasilia context, precisely from 1960 to 1990, Mayumi Watanabe de 1. Sérgio de Souza Lima
Souza Lima2 is one of the most active and outstanding references of the debates (Coord.), Mayumi Watanabe
de Souza. São Paulo:
on architecture in Brazil, focused on the constructive problem. Her career was Studio Nobel, 1995.
entirely dedicated to thinking about the production of architecture, the possibilities 2. About her complete
of democratization of access and the adjustments required by the social demands trajectory, see Cássia
Schroeder Buitoni, Mayumi
of her time, as well as the needs and specificities of its users. Watanabe Souza Lima: a
construção do espaço para
a educação. Master thesis.
Throughout her career, Mayumi Watanabe de gram, and the course he indicated was under FAUUSP, 2009.
Souza Lima (1934-1994), as few professionals the management of Ceplan, which, in addition
3. Another remarkable
of his generation, articulated the activities of to the activities mentioned, had among its at-
example of this articulation
research, teaching and professional practice tributions “the training of teachers in a training is Hélio Duarte’s career,
specially focused on constructive issues and post-graduate program”, involving both practi- who was also particularly
educational space.3 Graduated in 1960 in Ar- cal activities and theoretical research.4 interested in the problem of
chitecture and Urbanism at the University of In the scope of this program, in 1965, un- space production, especially
of schools, in various levels
São Paulo (FAUUSP), she took up João Batista der the orientation of professor João Filgueira of education. See Juliane
Vilanova Artigas’ advice to carry out a master’s Lima, she defended the thesis Aspects of Ur- Bellot Rolemberg Lessa,
research at the University of Brasília (UnB), ban Housing – housing project for the São O ensino na prancheta:
and in 1962 moved to Brasília with her hus- Miguel Neighborhood Unit, benefitting from da arquitetura escolar à
docência de arquitetura
band and also architect Sérgio de Souza Lima the experience shared with Sérgio de Souza e urbanismo, o legado de
(1936-2000). Lima in the development of the São Miguel Hélio Duarte. Master thesis.
The suggestion was not an isolated at- Neighborhood Unit (1963-1965) in the North FAUUSP, 2017.
titude of the teacher: according to his former Wing – Plano Piloto (SQN 107, 108, 307 and
4. Maribel Aliaga Fuentes.
students, he used to stimulate them to engage 308). In order to meet different inhabitants, the “Mayumi e Sérgio Souza
in activities considered important not only for architects developed two residential buildings, Lima: os blocos residenciais
the development of the profession, but also a vertical slab and a tower articulated to host da Vila São Miguel”. Anais
for the country itself, and it was soon adopted social facilities and landscaping areas defined do X Seminário Docomomo
Brasil, Arquitetura moderna
by FAUUSP’s academic structure based on by distinct paths between pedestrians and
e internacional: conexões
the education reform led by him. At that time, vehicles. Both buildings were designed with brutalistas 1955-75, Curitiba,
USP still didn’t have a post-graduation pro- precast concrete elements, making the most October, 2013.
91

3 2
1
3
Edifício Torre
da Unidade de
Vizinhança São Miguel
Tower of São Miguel
Neighborhood Unit
of the assembly of a power plant attached to
Ceplan in the industrial sector of Plano Piloto.
However, while the slab was composed of ex-
ternal vertical structural frames that defined
the frame areas and discharged the forces in
transverse and longitudinal transition beams
supported on a vertical pyramid trunk, leaving
the ground floor free. In the tower, the same
frames unloaded the forces directly on a floor-
grid in reinforced concrete molded in loco near
the ground floor.5 The solution interacts with
the graduation area of them both at FAUUSP
in what concerns their didactic approach, since
they keep the material and the technical-con-
structive logic in the open, and with the experi-
ence in progress along with Oscar Niemeyer
and Lelé.
The project was described by Mayumi in
her thesis, divided into three parts: the first two
dedicated to the origins of the urban housing
5. Mayumi Watanabe de
Souza Lima, Projeto de problem abroad and in Brazil, and the third one
habitação coletiva para a to the São Miguel Neighborhood Unit. The ar-
unidade de vizinhança São chitect reintroduced key principles elaborated
Miguel/Brasília. In: Sergio during the 1st Seminar on Housing and Urban
de Souza Lima (Coord.).
Arquitetura e educação. Transformation, such as the importance of
São Paulo: Studio Nobel, state action in urban planning and housing de-
1995, pp. 39-47. velopment, and invested in the reflection and
execution of precast elements of reinforced
6. About the planning
activity of the concrete by pointing out two action fields
educational units, see the – planning and constructive research – that
aforementioned work by would mark his career from then on. Two other
Cássia Schroeder Buitoni. experiences, however, were equally important
7. The experience was also in Mayumi’s passage through Brasília.
reported before the PhD In 1963, when Mayumi attended the 7th
program in the paper “A International Congress of Architects (UIA)
criança e a percepção in Cuba, she apparently had the opportunity
do espaço”, published in
to be familiar with the public policies for edu-
1979, nº31 do Cadernos de
Pesquisa, Fundação cation in that country. Mayumi was involved
Carlos Chagas. with the theme and action in 1965, when she
92
1. Estar Living room
2. Cozinha Kitchen
3. Dormitório Bedroom
returned to São Paulo and took over the head
office of the State Fund Planning for School
Construction (Fece) of São Paulo.6 From
then on, she has been linked to the construc-
tion of public schools and attended seminars,
provided consultancies and managed state
architecture and education bodies until the
early 1990s. As experienced in the master’s
degree, Mayumi aimed to analyze this activ-
ity in her PhD dissertation State and popular
movements in the construction of the school
building: confrontation or collaboration? in
1984 at the Program of Education at USP. It
was as extension of the strengthening of the
popular movements that represented a land-
mark in the process of democratization and a
number of State actions which she would ac-
tively support. The proposal was to evaluate
the construction of schools, considering the
complete process, from conception to main-
tenance of equipment, from professionals to
users. The reference was the restoration and
expansion of the school João Kopke that Ma-
yumi coordinated as part of the School Build-
ing Company of State of São Paulo (Conesp)
from 1976 to 1978. In this case, the effort was
to involve, by means of a multidisciplinary
workshop, the children who studied at the
school to get to know them and thus better
design and stimulate their participation in the
daily school life.7 However, the study wasn’t
concluded because in 1989 she was invited by
the newly elected Mayor Luiza Erundina to
direct the Department of Buildings (Edif) at
the Secretariat of Services and Works of the
City of São Paulo, and in 1990, the Center of
Collective Equipment Development (Cedec).
However, there is no doubt that the reflections
developed on that study would soon unfold.
In Brasília, Mayumi started her teaching
career for the rest of her life, and soon trans-
ferred to UnB as an assistant professor of Phys-
ics Applied to Constructions; Theory of Archi-
tecture; Building Technique, and Lighting and
Electrical Installations. It is worth mentioning
two experiences:
The first one was in 1970 and 1971, when
she attended educational activities developed
in the first year of Architecture and Urban-
ism in Santos. The experience resulted from
debates held at FAUUSP in 1968, focused es-
pecially on technical development models in
Brazil. In an attempt to put into practice their
solutions, Rodrigo Lefèvre and Sérgio Ferro,
with the active participation of Mayumi and
Sérgio de Souza Lima, proposed an integrated
action among several school subjects in order
to study favelas in the region, their constitu-
tion, ways of life, and construction patterns,
as well as proposing urban and architectural
solutions. In this manner, self-construction
was investigated in Technology; object, build-
ing and neighborhood scales were analyzed
in Industrial Design, and the type of occupa-
tion was studied in History. The consideration
involved the debate about the action of the
architects towards lower classes and the pos-
sible answers to those social and urban condi-
tions. The research and propositions, therefore,
started from the actual conditions of architec-
ture production and from the contact with the
users that shows Mayumi’s engagement in a
different view from that in Brasília, which was
undoubtedly marked by the rupture imposed
by the civil-military coup of 1964, when the fo-
cus on heavy industrialization seemed to be
distorted in face of the curtailment of political
freedom.
Luiz de Campos Júnior
Paulo Eduardo Fonseca de Campos
Another important teaching initiative Erundina, Mayumi e
was given to the Department of Architecture Soalheiro a caminho
da fábrica. Atrás, entre
and Urban Planning of the São Carlos School
Mayumi e Soalheiro, a
of Engineering (EESC), where she taught the arquiteta Marilda Froes.
subject Project from 1987 to 1993. There, she Fábrica em
approached the third alternative architecture funcionamento
production by means of light industrializa-
tion, as formulated by the engineers Dante Erundina, Mayumi and
Soalheiro on the way
A. O. Martinelli and Frederico Schiel, and ar-
to the factory. Behind,
chitects Paulo Camargo e Almeida8 and Lelé, between Mayumi and
Lelé; the latter also contributed in a further Soalheiro, the architect
moment of her career, when she had reviewed Marilda Froes.
the proposals in the context of construction in Factory in operation
Brasília regardless the new challenges posed
by the project of basic sanitation in Salvador
(1980-1982).9 It was in this context that Lelé
dedicated himself to the conception of another
constructive system, now based on the use of
light elements of reinforced mortar and paving
the way to investigate supported by professors
of São Carlos such as Frederico Schiel. The con- 8. Ana Lúcia Cerávolo,
cept was improved throughout his career and Paulo de Camargo e
dialogued with the formulation of Cedec, for Almeida: arquitetura
which he initially provided consultancy. total na trajetória de
um arquiteto brasileiro.
Master thesis. Escola
Cedec: one factory, multiple actions de Engenharia de São
Cedec was conceived during the management Carlos da Universidade
of Mayor Luiza Erundina within the Munici- de São Paulo. São Carlos,
SP, 2000.
pal Urbanization Company (EMURB), head-
ed at the time by engineer José Vitor Soalheiro 9. João Filgueiras
(president) and architect Roberto McFadden Lima, “RENUNRB –
(vice-president). During the first phase of Pré-fabricação em
argamassa armada/
implementation, in addition to McFadden, Saneamento Básico de
the architect and EMURB employee Marilda Salvador, 1980-1982”.
Froes and the architect Paulo Eduardo Fon- In: Giancarlo Latorraca
seca de Campos contributed more directly to (Org.), João Filgueiras
Lima, Lelé. São Paulo:
the elaboration and joined the team invited
Instituto Lina Bo e P. M.
by McFadden. Fonseca left the Brazilian As- Bardi; Lisboa: Editorial
sociation of Cement Portland, where he had Blau, 1999, p. 105.
93
 board to construction site, Cedec’s activities
Fotos: Paulo Eduardo Fonseca de Campos

comprehends “the research of industrializable

Bruna Marchiori
materials and systems; education and training
of technical and operational staff, planning,
design, supervision and execution of works,
development of architectural programs and
guidelines for the design of public facilities,
production of information material, techni-
cal advice and guidance to groups involved
in the construction of equipment”.11 In addi-
tion, with the help of fellow engineers from
São Carlos and the active participation of the
team of Cedec formed by the professionals we
mentioned, besides other women architects,12
it was possible to improve, test and introduce
some important innovations in the construc-
tion system.
Cedec produced components to upgrade
favelas and offer them basic sanitation, street Entrada Jardim Robru.
6 No centro veem-se os
furniture, school equipment, structural and
elementos de cobertura
sealing elements, and other components for
desenvolvidos pelo Cedec.
the construction of social equipment. Many 7
Planta da EMEI Jardim Robru
of these elements and equipment initially fol- 4
3 3 3 3
Cestos de lixo produzidos lowed Lelé’s drawings, but over time they were Garden Robru entryway. At
pelo Cedec com a adapted to meet the specifics of local demand the center, cover elements
colaboração de Francisco 5 2 developed by Cedec.
Homem de Melo. and conditions. In this re-design, a shared ori- Plan of EMEI Jardim Robru
Urbanização do Córrego entation with the Rio architect and with those 3 3 3 3
Esperantinópolis, Zona Leste who contributed to their training since FAU- 7
de São Paulo. Utilização USP would be maintained, the educational-
de painéis de argamassa
pedagogical interest that the technical-con-
armada redesenhados para
structive solution carried, both from the point 1. Acesso principal Main access
acompanhar o traçado 9
2. Pátio Patio
orgânico do córrego of view of the constructors and the users. Thus, 3. Salas de aula Classroom
the structural elements in reinforced mortar 4. Cozinha Kitchen
Garbage bins produced by 5. Administração e coordenação
Cedec in collaboration with developed research on pre-fabrication mate- were articulated to the elements of the elec- Admnistration and coordination
Francisco Homem de Melo. rial (especially reinforced mortar), and joined trical, hydraulic, sealing, lighting and ventila- 6. Acesso lateral Lateral access
Urbanization of Kristian Schiel, Frederico Schiel’s son, also tion installations, making clear their functions, 8 1
7. Serviços Services
8. Estacionamento Parking
Esperantinópolis stream,
familiar with the technology. Indicated by connections and the material of which they 9. Playground Playground
east area. Use of redesigned
reinforced mortar panels in Lelé, Mayumi accepted Cedec’s head office were composed. This aspect points towards
accordance with the organic and invited Paulo and Kristian to start the as- an improvement, while other modifications
course of the stream sembly and production of the factory, sharing mean effective innovations introduced espe- the school and the neighborhood, so that the was a question of articulating technologi-
experiences and underlining that there were cially in school buildings and leisure spaces equipment served the population even when cal research with the production of public
very needy areas whose demands were urgent, because of concerns and specific commit- is not school time and become a landmark and equipment of various scales, whose design,
but also very limited available costs and under- ments of Mayumi and her team at Cedec. In an important reference, something that was work and maintenance should contemplate
developed material and human quality. Thus, this sense, it is notable a better adaptation of part of the debates and the activities Mayumi the participation of users, meeting not only
10. Interview conducted the alternative of reinforced mortar was the the environments to the scale of the children, performed in bodies of school construction. their technical and/or functional demand, but
by the author in May, 2017 most adequate response to the action of the something that recovers the past experiences Playgrounds, walkways, stairs, slides and ob- also political and affective needs. Her work
with Paulo Eduardo State at that time, hence the importance of car- of Mayumi and her care with a valuation of stacles supported and expanded the possibili- and production continue to raise important
Fonseca de Campos. rying out the construction of a public factory the playful aspects by using colors, but also of ties of playfulness and fantasy, appropriate to questions about the process of conception
11. Cf. Cássia Schroeder to guarantee the systematic follow-up of the the design of the frames and design of internal their primary target, while at the same time and execution of the work and especially of
Buitoni, p. 74. production and its improvement to reduce the gardens among the classrooms whose corri- their constructive elements and material are the history of architecture in order to clarify
costs and the time of construction with no re- dors were expanded and transformed into a made clear. the complexity of the constructive debate of 13. The architect’s
12. See names of all duction of quality. 10 living space qualified by vegetation and natu- According to this point of view, Cedec her time and to point out the importance of collection is in the
members of the Cedec team Memory Center Sérgio
Attuned to the complete process of pro- ral lighting, which responded more appropri- seems to articulate and consolidate the set expanding the knowledge about the women
in the aforementioned book Buarque de Holanda
organized by Sérgio de duction of architecture, from conception to ately to the weather in São Paulo. It is also seen of experiences and commitments signed by architects and other forms of professional ac- at the Perseu Abramo
Souza Lima. work; from architect to workers, from drawing a greater integration between the spaces of Mayumi throughout her career. After all, it tivity.13 n Foundation.
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