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Seminario

Internacional
Profesionales, expertos y vanguardistas.

Cultura arquitectónica en el Cono Sur



UM CANTEIRO DE EXPERIMENTAÇÕES:
o Ceplan e a Unidade de Vizinhança de São Miguel

Autor: Joana Mello de Carvalho e Silva
Universidad o Institución a la que pertenece: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São
Paulo
email: joana-mello@usp.br


RESUMO
A Unidade de Vizinhança São Miguel (Brasília, 1963-1971), cujos edifícios foram idealizados por Mayumi
Watanabe de Souza Lima e Sérgio de Souza Lima, é tomada como um artefato que permite problematizar as
representações historiográficas da nova capital e discutir o problema da industrialização no Brasil entre os anos
de 1960 e 1970. De modo mais geral, busca-se refletir sobre a dimensão política e técnica da construção de
Brasília, patente nos esforços de desenvolvimento da indústria da construção civil no país sintetizados pela
criação do Centro de Estudos e Planejamento Arquitetônico e Urbanístico (Ceplan) da Universidade de Brasília
(UnB). De modo específico, interessa analisar a estruturação desses esforços e seus limites, a partir do projeto
e construção da referida Unidade. Por fim, intenta-se apontar como, à luz dessa experiência e de novas
encomendas, foram formuladas alternativas de desenvolvimento econômico e técnico à industrialização
pesada de elementos de concreto armado, pelo mesmo grupo de arquitetos, entre os anos 1980 e 1990.
Palavras-chave: Brasília, Industrialização, Souza Lima


ABSTRACT
The São Miguel Neighborhood Unit (Brasilia, 1963-1971), whose buildings were designed by architects Mayumi
Watanabe de Souza Lima and Sérgio de Souza Lima, is taken as an example that allows to problematize the
historiographical representations of the new capital, and to discuss the problem of industrialization in Brazil
between the 1960s and 1970s. The macro-level perspective seeks to think about the political and technical
dimension of the construction of Brasilia, as evidenced by the development efforts of the civil construction
industry in Brazil, with the creation of the Center of Studies and Architecture and Urban Planning (Ceplan) of
the University of Brasilia (UnB). The micro-level view analyzes the structuring of such efforts and their limits,
based on the design and construction of this Unit. Ultimately, it intents to points out how, from the light of this
experience and of new commissions, some economic and technical development alternatives to the heavy
industrialization of elements of reinforced concrete, formulated by the same group of architects in the 1980s
and 1990s.
Key words: Brasilia, industrialization, Souza Lima



Brasília e a pré-fabricação: outros ângulos de uma experiência múltipla
Por muito tempo na narrativa da historiografia da arquitetura, Brasília foi simultaneamente retratada como o
sucesso e o fracasso de um projeto de modernidade forjado a partir dos anos 1930 sob a batuta do presidente
Getúlio Vargas e consolidado na segunda metade dos anos 1950, durante o governo de Juscelino Kubitschek.
As avaliações que orientaram essa narrativa dual enfatizaram, no polo positivo, o êxito da empreitada de
garantir coesão cultural e política da nação graças à força inventiva da síntese identitária alcançada pela dupla
Lucio Costa e Oscar Niemeyer. No polo negativo, as explicações destacaram os aspectos excludentes,
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autoritários e abstratos do Plano Piloto que revelavam os limites das ambições reformadoras e progressistas do
Estado moderno brasileiro (Gorelik, 2005, p. 151-190). Apesar das dissonâncias, as análises compartilham o
mesmo enfoque, privilegiando aspectos simbólicos e sociais da construção da nova capital, em detrimento de
outros ângulos igualmente relevantes para a compreensão daquela experiência múltipla.
De fato foi apenas mais recentemente, por volta dos anos 2000, que alguns estudiosos começaram a apontar
que para além das questões formais, da inconteste precariedade dos canteiros de obra, e da manutenção dos
mecanismos clássicos de exclusão sócio-espacial, houve durante a construção de Brasília um investimento
muito significativo na racionalização e industrialização da construção civil. Este investimento extrapolaria os
limites do campo profissional para se configurar também como um projeto político de cunho nacional, ainda
que em outros termos. Nesse sentido, Brasília não seria apenas o vértice das vanguardas arquitetônicas
modernas e o início de sua derrocada, mas um ponto de inflexão importante a marcar a mudança de enfoque
da questão identitária – dominante entre as décadas de 1930 e 1950 (Martins, 1987; Liernur, 1999; Gorelik,
2005) –, para o problema produtivo, em um esforço de desenvolver alternativas construtivas capazes de
garantir independência não apenas cultural, mas também técnica e econômica ao país (Koury, 2005).
Já nos anos iniciais de construção da nova capital são flagrantes certas iniciativas de industrialização pesada,
envolvendo inclusive nomes como o de Oscar Niemeyer. Normalmente identificado com obras de alto valor
estético, mas erguidas sob o signo da exploração do trabalho, Niemeyer se engajou em projetos de pré-
fabricação, premido certamente pela exiguidade do prazo de execução das obras, mas também animado pelas
possibilidades de desenvolvimento da indústria nacional e de programas de cunho social, como habitações,
escolas e outros equipamentos urbanos, para os quais a seriação faria sentido. Silva e Macedo (2013) apontam
que uma das primeiras iniciativas do arquiteto nesse sentido foi a construção do Brasília Palace Hotel (1956-
1958). Tomado como um laboratório construtivo, cujos resultados poderiam ser assimilados em outros
edifícios da capital, notadamente nos futuros Ministérios, o hotel atendia à intenção de Kubitschek de envolver
na construção de Brasília a Fábrica de Estruturas Metálicas, subsidiária da recém criada Companhia Siderúrgica
Nacional (CSN), e assim fomentar a indústria da construção civil no país.
A iniciativa, como mostram os autores, foi abortada diante das pressões dos Estados Unidos, principal
financiador da obra e logo fornecedor de peças metálicas pré-fabricadas (Silva & Macedo, 2013). Nesse
exemplo, fica patente que os limites da industrialização brasileira foram impostos também por disputas
político-econômicas de alcance mundial. Mas elas não foram os únicos motores de impedimento da iniciativa
estatal, como se pode ver analisando outra iniciativa de industrialização da construção civil, na qual Niemeyer
esteve mais uma vez envolvido: a criação, em 1962, do Centro de Estudos e Planejamento Arquitetônico e
Urbanístico (Ceplan) da Universidade de Brasília (UnB).
Destinado inicialmente à concepção e à execução dos edifícios da UnB, o Ceplan alargou a sua área de atuação
com o objetivo de atender demandas sociais consideradas urgentes não só no Brasil, como em outras cidades
da América Latina (Koury, 2005; Latorraca, 1999). Dessa forma, sob a coordenação de Niemeyer e a direção
executiva do arquiteto João Filgueiras Lima (Lelé), no período em que Darcy Ribeiro esteve a frente do
Ministério da Educação (1962-1963), investiu-se na pesquisa e na execução de elementos pré-fabricados e pré-
moldados de concreto armado, desenvolvidos por membros do Ceplan, professores e alunos do curso de pós-
graduação profissionalizante criado pelo centro na UnB no mesmo ano de 1962 (Ficher & Schlee, 2010). Essa
iniciativas contemplaram a idealização de edifícios da própria universidade, modelos habitacionais e
equipamentos urbanos, alguns deles efetivamente executados (Pessina, 1964; Latorraca, 1999; Koury, 2005). É
no âmbito desse curso que se insere o projeto da Unidade de Vizinhança São Miguel (UVSM), por meio do qual
é possível investigar as propostas desenvolvidas pelo Ceplan nos seus vínculos políticos mais amplos, seus
objetivos, limites e desdobramentos.

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1. Projetos pré-moldados desenvolvidos no Ceplan-UnB: a. Módulo Habitacional (Niemeyer, 1962); b. Galpões de Serviços Gerais (Lelé, 1962); c.
Habitações Funcionais/Professores (Lelé, 1962); d. Instituto Central de Ciências (Niemeyer, 1963). Fonte: Pessina, 1964 (a-c) e Acrópole, 1970 (d).

Unidade de Vizinhança São Miguel: seus objetivos, limites e desdobramentos
A UVSM é um dos exemplos mais bem acabados do projeto acadêmico da UnB de articular teoria e prática,
ação docente e exercício profissional com vistas a traçar um novo perfil de arquiteto e urbanista apto a
contribuir para construção da nova capital e do próprio país (Silva, 2017). Sua encomenda partiu do ministro
Wladimir do Amaral Murtinho que, como Presidente da Comissão de Transferência para Brasília do Ministério
das Relações Exteriores e do Corpo Diplomático, empenhou-se na construção da sede do Itamaraty (1960-
1970), projeto de Niemeyer (Rossetti, 2016), e de apartamentos funcionais. A intermediação entre o ministro e
o Ceplan-UnB, iniciada em 1963, partiu do próprio Niemeyer (Fuentes, 2017, p. 1618; Simões, 1969, p.1),
revelando o seu comprometimento com a proposta didático-pedagógica que ajudara a formular.
No ano seguinte, em 1964, é assinado um convênio entre a universidade, o ministério e a Companhia
Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), envolvendo professores, instrutores e membros do Ceplan no
desenvolvimento de projetos de urbanização, paisagismo, elementos pré-fabricados, edifícios habitacionais,
comerciais e educacionais para as quadras 107, 108, 307 e 308 da Asa Norte, que compunham a unidade de
vizinhança (Souza Lima, 1965; Ferreira & Gorovitz, 2007). Cada um desses projetos resultou em dissertações de
mestrado específicas que procuraram subsidiar, descrever e refletir sobre essas iniciativas (Fuentes, 2017).

Nome do arquiteto/a Dissertação de Mestrado (data de defesa) Orientador Projeto da UVSM
Fernando Lopes Urbanismo
Burmeister
Alfonso Leiva Galvis Paisagismo da área de Vizinhança de São Miguel (1965) Lelé Paisagismo
Mayumi Watanabe de Aspectos da habitação urbana (1965) Lelé Arquitetura – Edifícios
Souza Lima residenciais
Sérgio de Souza Lima Arquitetura – Edifícios
residenciais
José Geraldo de Santana Centro de educação elementar anteprojeto das escolas de uma Glauco Arquitetura – Centro de
área de vizinhança de Brasília (1965) Campelo Educação
Márcia Aguar Nogueira Escolas Primárias (1965) Glauco Arquitetura – Escola primária
Batista Campelo
Geraldo Nogueira Batista Um estudo do comércio local de Brasília (1965) Jayme Zettel Arquitetura – Centro comercial
Luiz Henrique Gomes Aspectos gerais da pré-fabricação: estudo de cronograma de Lelé Elementos pré-fabricados de
Pessina obra com pré-fabricados (1964) concreto armado
Quadro elaborado a partir da Tese de Doutorado de Fuentes (2017)

A complexidade e a qualidade da proposta foram louvadas à época por atender às demandas do Ministério das
Relações Exteriores – havia agenciamentos habitacionais pensados especificamente para os modos de vida
estrangeiro, sem quartos de empregada, e escolas destinadas à formação integral “como acontece com os
Institutos da ONU em Nova Iorque”, afirmava o jornal Correio Brasiliense (CB, 04.07.1964, p. 6). O elogio se
estendia ainda à iniciativa de equilibrar o desenvolvimento urbano das Asas Sul e Norte do Plano Piloto (CB,
04.07.1964, p. 6) e por envolver as experiências realizadas com pré-fabricação na universidade (CB, 17.01.1964,
p. 8). Entre os entusiastas, a proposta permitiria “a inteira absorção da mão-de-obra virtualmente disponível
em Brasília” com vistas a solucionar “o problema do desemprego” (CB, 23.01.1964, p. 1); a modernização da
construção civil como nos países centrais (CB, 23.05.1965, p. 8); o desenvolvimento econômico da nova capital
com a atração de outras empresas do setor (CB, 29.05.1965, p. 9); e o enfrentamento do problema da
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habitação (CB, 07.03.1965, p. 8) que vinha se agravando com a explosão demográfica e a intensificação do
processo de urbanização no país (CB, 07.03.1965, p. 8; CB 23.05.1965, p. 8; CB, 25.05.1965. p. 8).
Argumentando-se que “Brasília não era um fim em si mesma, mas um meio de ocupação e desenvolvimento do
interior do Brasil”, Murtinho; Plínio Cathanhede, Prefeito do Distrito Federal; José Luiz Pinto Coelho de
Oliveira, Presidente da Novacap; Zeferino Vaz, reitor da UnB; e Lelé, pelo Ceplan firmaram, em julho de 1964, o
contrato da UVSM, exigindo das firma construtoras uma usina de pré-fabricados de concreto armado que seria
empregada inicialmente “na produção de materiais destinados” a unidade, para em seguida atender às
demandas da NOVACAP, em especial as de habitação (CB 17.01.1965, p. 8). Previa-se também a construção de
um Laboratório de Pesquisas, ao lado da usina, para o aprimoramento técnico e o oferecimento de “subsídios
aos engenheiros civis de todo o Brasil para a aplicação do novo processo” (CB, 30.05.1965, p. 8). Fica explícita a
articulação entre projeto arquitetônico e projeto de desenvolvimento nacional.
Em consonância com essa proposta, os arquitetos responsáveis pelos edifícios da UVSM empregaram em seus
projetos elementos pré-fabricados de concreto armado, ficando a cargo de Pessina a concepção dos mesmos.
No caso específico dos edifícios habitacionais – 4 lâminas e 5 torres por quadra, que atenderiam cerca de 10
mil pessoas – foram desenvolvidos dois sistemas. Nas lâminas, elementos pré-fabricados compostos por dois
pares de vigas longitudinais que receberiam todos os esforços e os distribuíram para os pilares moldados in
loco e que facilitariam a descida das tubulações; vigas transversais dispostas a cada 0,75m no primeiro piso que
transfeririam os esforços dos montantes verticais externos para as vigas longitudinais; lajes que se apoiariam
nos demais pisos nos montantes verticais externos. Nas torres, o sistema era semelhante, com a diferença de
que as cargas eram “diretamente transmitidas no solo, através dos montantes; o primeiro piso – grelha de
concreto armado, moldada no local – [receberia] também os esforços incidentes da linha das paredes
divisórias” (Souza Lima, 1964, p. 53-4). A solução dispensava o emprego de acabamentos, garantia grande
flexibilidade à planta dos pisos com o desenvolvimento de 4 tipologias na lâmina e de 3 na torre, já que a
estrutura vertical era distribuída junto às fachadas externas do edifício, eliminando-se a estrutura interna dos
apartamentos e, nesse contexto, figurava como um modelo técnico ideal “capaz de resolver graves problemas
econômicos e sociais” (CB, 23.05.1965, p. 8).


2. Implantação Unidade de Vizinhança São Miguel e Quadras SQN 108 e 107. Fonte: Galvis, 1965.
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3. Edifício Lâmina – Fachada e Corte – e Maquete das duas tipologias. Fonte: Mayumi, 1965.


4. Edifício Torre – Fachada e Corte. Fonte: Mayumi, 1965.

Na linha do que então se desenvolvia no Ceplan, investia-se na industrialização pesada de elementos pré-
fabricados de concreto armado que exigiriam além da usina, a utilização de maquinário de grande porte no
canteiro de obras. Estas exigências foram o principal alvo de resistência à proposta enfrentada desde a
publicação do Edital de Concorrência Pública n. 004/ 1965 para construção dos edifícios residenciais da quadra
SQN 107 da UVSM. No mês seguinte, em março, firmas construtoras solicitaram uma reunião com o Ceplan e a
Novacap, pedindo esclarecimentos. Ali surgiram críticas que seriam recorrentes até a suspensão da
obrigatoriedade daqueles condicionantes. A primeira, de que se tratando “de construção de fino acabamento,
o pré-moldado não seria aconselhável” (CB, 07.03.1965, p. 8). Contrariando a concepção original dos
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arquitetos, para quem a qualidade do sistema pré-fabricado estava na economia construtiva e, por isso, no
emprego massivo de elementos que permitiriam uma produção em série de larga escala, independentemente
do fato do edifício ser de luxo, médio ou popular (CB, 25.05.1965, p. 8), os construtores marcavam em sua
crítica uma concepção classista que se fiava justamente na distinção, como deixa ver o argumento de que em
virtude da clientela, era necessário que os apartamentos fossem “luxuosos e com fino acabamento” (CB,
16.06.1966, p. 7). Outra crítica recorrente, era a de que a indústria de pré-fabricação, ao contrário do que
afirmavam os técnicos, poderia causar desemprego (CB, 10.06.1965, p. 2). Nesse caso, a defesa articulava-se
com a solução, ainda hoje recorrente, do emprego maciço de mão de obra em canteiros tradicionais e de baixo
impacto tecnológico. Uma solução imediatista, de cunho político e econômico – uma vez que o custo da mão
de obra era ainda mais barato do que o investimento em tecnologia –, e que não enfrentava o problema
estrutural da má distribuição de recursos, baixa qualificação e falta de oportunidades de trabalho.
Num primeiro momento, essas críticas não demoveram a comissão de obra da UVSM de investir na pré-
fabricação. Ela teve continuidade, recebendo 5 propostas que contemplavam o desenvolvimento dos
elementos pré-fabricados e o projeto da usina (CB 08.08.1965, p. 2). Após avaliação das propostas, num
processo que levou cerca de um ano, a comissão surpreendentemente rejeitou todas elas, anulando a
concorrência sob a alegação de que havia “dificuldades insuperáveis no momento para a produção da indústria
de pré-moldado em nossa Capital” (CB, 10.08.1965, p. 9).
Mesmo que não se saiba detalhes sobre a decisão, é possível supor que ela tenha sido decorrente mais da
pressão política econômica das construtoras do que da capacidade técnica do país, ainda mais considerando
que no mesmo período o Ceplan desenvolvia obras pré-moldadas de qualidade nos canteiros da UnB. Não se
pode perder de vista também as dificuldades de investimento do próprio Estado e as resistências de setores do
corpo funcional de se transferirem para Brasília, algo que explica, por outro ângulo, as alterações sucessivas do
projeto da UVSM, com o emprego de técnicas tradicionais e a suspensão da execução da totalidade de edifícios
residenciais, comerciais e educacionais, além do paisagismo e das obras de urbanização. Deve-se destacar
também o impacto do golpe-civil militar de 1964 sobre a UnB e todas as iniciativas a ela vinculadas, resultando
em demissão de vários professores, fechamento de cursos e encerramento de projetos, num processo se
completou em 1965.


5. Vista aérea da SQN 107 e vistas atuais dos edifícios lâmina e torre. Fonte: Google Maps, 2018. Fotos da autora.

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O desvirtuamento e a interrupção das propostas da UVSM e do Ceplan trazem dados para se pensar nas
dificuldades de desenvolvimento de uma indústria de pré-fabricação no Brasil. Dificuldades externas relativas
às pressões políticas, sobretudos dos Estados Unidos, interessados em exportar elementos pré-fabricados para
o Brasil e assim fomentar a sua indústria nacional. Dificuldades internas decorrentes da vitória sistemática de
um projeto nacional dependente e excludente, ou seja, de um modelo industrial fortemente apoiado no setor
da construção civil, pautado no emprego maciço de mão de obra não qualificada e de uma organização social
apoiada na diferença, na qual a produção massificada parecia não ter lugar.
Os arquitetos que participaram daquela experiência, entretanto, seguiram investindo nesse caminho, a partir
de uma reflexão crítica que ponderou os limites daquela proposta tanto do ponto de vista técnico e da mão de
obra, quanto político, econômico e social. A partir dela, de outras demandas e de novos contextos de atuação,
Lelé, Mayumi e Sérgio de Souza Lima apostaram, dos anos 1980 em diante, na industrialização leve que
envolvia uma mão de obra abundante mas qualificada, em usinas públicas, criadas e coordenadas pelo Estado,
teoricamente independentes das pressões privadas. Mas esta é uma outra história.

Bibliografia
Textos críticos
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Dissertações de Mestrado UnB
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Dissertação de Mestrado, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de Brasília, Brasília, Brasil.
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Depoimento de Murtinho na CPI aponta medidas para consolidação de Brasília (1965, Junho 10). Correio
Brasiliense, p. 2.
Fazenda libera 6 bilhões para moradias no DF (1964, Janeiro 23). Correio Brasiliense, p. 1.
Inversão de 50 milhões de dólares no DF ao término das obras do Itamarati (1964, Janeiro 17). Correio
Brasiliense, p. 8.
Ministério da Educação Construirá quase 2.000 moradias na Asa norte (1964, Julho 04). Correio Brasiliense, p.
6.
Processo moderno de construção terá livro editado pela Novacap (1965, Maio 23). Correio Brasiliense, p. 8.
Mendes, M. (1965, Agosto 8). Correio Diplomático. Correio Brasiliense, p. 2.
Mendes, M. (1965, Agosto 10). Mais 18 países receberão terreno até o fim do ano para embaixadas. Correio
Brasiliense, p. 9.
Niemeyer, O. (1970, Janeiro). Habitações coletivas. Acrópole, p. 29.
Niemeyer, O. (1970, Janeiro). Instituto Central de Ciências. Acrópole, p. 21.
Novacap vê propostas para construir blocos no conjunto S. Miguel (1966, Junho 16). Correio Brasiliense, p. 7.
14 firmas (DF, SP e GB) interessadas na construção do Conjunto S. Miguel (1965, Março 07). Correio Brasiliense,
p. 8.
Transferências das embaixadas: medidas do Ministro Murtinho (1965, Maio 25). Correio Brasiliense, p. 8.
Usina de Pré-moldados de Brasília manterá laboratório de pesquisas (1965, Maio 30). Correio Brasiliense, p. 8.

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