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RESENHA CRÍTICA
É nesse contexto histórico que se insere a poesia dos cancioneiros, tratada no livro Do
Cancioneiro de Amigo, de Stephen Reckert e Helder Macedo. Trata-se de uma obra
considerada de referência, e não existe outro estudo tão imaginativo e seguro sobre a lírica
medieval.
As obras dos cancioneiros, não apenas as de amigo, são quase todas em verso, uma
vez que a forma de transmissão das obras literárias era oral nas civilizações do passado. O
ritmo do verso facilitava a memória e consequentemente a sua transmissão. Além do ritmo,
Reckert apresenta de modo muito sublime o poder de encantamento da repetição:
Grande parte das cantigas possui uma estrutura rítmica e versificatória própria,
chamada paralelismo. A unidade rítmica se torna o par de estrofes, e o par de estrofes diferem
entre si nas palavras da rima. Esse sistema chama-se paralelismo (SARAIVA e LOPES, s.d.,
pg. 47).
O paralelismo acaba por reforçar o processo de repetição, uma vez que somente parte
das estrofes, ou mais precisamente os dísticos sofrem pequenas modificações. O paralelismo
e o refrão permitem ao poeta jogar artisticamente com as palavras, e constituem um processo
eficaz de imprimir às cantigas uma energia expressiva, capaz de traduzir a obsessão amorosa
do amante. Trata-se de um técnica de reiteração praticado conscientemente pelo trovador.
Mas, se a repetição tem o seu encantamento, por outro lado, o leitor pode facilmente se
fatigar com o excesso de repetições de versos e estrofes. O que há de tão extraordinário nas
composições que afasta a monotonia?
RECKERT (s.d., pg.37) cita o trabalho de Eugenio Asensio, filólogo e crítico literário
espanhol (1902 - 1996). Asensio cita que uma repetição serve para embalar, a segunda
repetição agrada, mas a terceira provavelmente já é em demasia. O grande esforço dos
trovadores era o de criar técnicas para refletir na progressiva modulação desde o paralelismo
verbal puro através do sinonímico ou semi-sinonímico até ao puramente semântico, em que a
repetição é limitada ao enunciado.
Levantou-s'a velida,
levantou-s'àlva,
em o alto.
Levantou-s'a louçana,
levantou-s'àlva,
eno alto:
levantou-s'àlva,
eno alto.
levantou-s'àlva,
eno alto.
levantou-s'àlva;
meteu-s'alva en ira
em o alto.
levantou-s'àlva;
meteu-s'àlva em sanha
em o alto:
BIBLIOGRAFIA
SARAIVA, António José e LOPES, Óscar. História da literatura portuguesa. Porto: Porto
editora, s.d, capítulo 1.