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Universidade de São Paulo - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas

Departamento de Letras Orientais – Cultura Japonesa I - 2021


Professora Doutora Lilian Mitsuko Yamamoto

Luciane Yuri Sato – 999165

Misoginia ou tradição xintoísta? Reflexões acerca das narrativas e uma memória


narrativa sexista

https://www1.folha.uol.com.br/fsp/newyorktimes/ny0111201008.htm

Introdução

O sumô é uma luta tradicional japonesa, cujo objetivo da disputa é forçar o


oponente a sair do círculo, ou fazê-lo tocar no solo com qualquer parte do seu corpo que
não seja a sola dos pés. As mulheres são proibidas de praticarem profissionalmente este
esporte, já que conforme a tradição xintoísta são impuras e não podem pisar no dohyo,
ou seja, o ringue. Todavia, é a partir dessa mesma tradição que encontramos as
evidências de mulheres praticando sumô no passado, conforme documentados nos
clássicos da literatura japonesa, tais como Kojiki (Registros de Fatos Antigos) e
Nihonshoki (Crônicas do Japão). (incluir Konjaku:)?).

Essa literatura clássica traz reflexões. A reforma do sumô na Era Meiji proibiu
as mulheres de praticarem o sumô em tradições antigas, e que pouco se encaixam na
sociedade moderna, evidenciando um preconceito sexista totalmente descabido.
Símbolo de misoginia, não um ritual tradicional xintoísta. Manter esse discurso impede
que um esporte tão belo faça parte das Olimpíadas, e perpetua a imagem de um país que
não consegue lidar com o universo onde mulheres e homens podem dividir os mesmos
espaços na sociedade.

Desenvolvimento

Primeiro mito: mulheres são proibidas de lutar sumō por ser uma tradição xintoísta.

Ao longo da história, as mulheres sempre estiveram presentes nos rigues de


sumō. E isso está registrado nas obras clássicas que contam a história do Japão.

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De acordo com Yoshida (1999), durante a era Nara (710 a 794) surgiram as
primeiras obras literárias japonesas de vulto. O Kojiki (Registro de Fatos Antigos) e o
Nihonshoki (Crônicas do Japão) foram compilados sob a ordem imperial,
respectivamente nos anos de 712 e 720. O Kojiki é o mais antigo dos clássicos e foi
compilado por Ō no Yasumaro para legitimar o poder imperial japonês, e narra a
história japonesa desde as suas origens. Seu conteúdo inclui lendas e relatos
mitológicos, o que o diferencia do Nihonshoki. Compilado sob a liderança do príncipe
Toneri, dá realce aos fatos históricos que se encontram ordenados cronologicamente. É
nesta última obra que encontramos o primeiro registro do sumô feminino.

O primeiro registro do sumō feminino aparece no volume quatorze do ano treze


do imperador Yūryaku (por volta do ano 469 D.C. (SAKAMOTO et al., 1990 apud
IKKAI, 2003, p. 178, tradução nossa).

Conta-se que durante o Império de Yūryaku (418-79), havia um mestre


carpinteiro chamado Inabeno-Mane que dizia ser capaz de cortar toras sem deixar
qualquer marca sobre o seixo ao longo de um dia inteiro. Destarte, o imperador
perguntou:

- Você nunca acerta no seixo ? - E Inabeno-Mane respondeu:

- Nunca!

O imperador então ordenou que duas mulheres vestissem apenas tanga e


disputassem uma partida de sumō enquanto Inabeno-Mane cortava as toras.
Desnorteado, ele acabou atingindo e danificando o seixo. O imperador ordenou a sua
execução, mas Inabeno-Mane foi salvo da morte pela benevolência de seus colegas.

IKKAI (2007) sugere duas possíveis interpretações. Em uma delas, o sumô


feminino é usado para descrever a natureza tirânica do imperador, além de transparecer
que o sumô feminino serviria apenas para diversões frívolas a serem apreciadas pelos
homens. As competidoras não teriam o real desejo de vencer a luta, sendo apenas
sujeitadas a performar um teatro. De outro espectro, pode ser interpretado como o
desejo dos espectadores de assistir e desfrutar a luta das mulheres, uma forma de
reconhecimento desse tipo de embate desde os primórdios da história do Japão.

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Seja qual for a interpretação, o fato é que, apesar do sumō feminino ter sido
proibido especialmente após a construção do Kokujikan em 1954, há registro da prática
de sumō nos antigos contos japoneses.

Segundo mito: O poder pertence aos homens, e as mulheres não esperam ou não podem
exercer um poder puramente físico.

De acordo com YOSHIDA (2020), o registro mais antigo de uma luta entre dois
homens está também no Nihonshoki, que relata a disputa de forças entre Nomi no
Sukune, de Izumo, e Taima no Kehaya, do país Yamato. Sukune demonstra ser um
homem muito forte e vence a luta, matando o oponente. Sukune é considerado um
ancestral e uma divindade do sumō.

As narrativas que giram em torno do sumō destacam lutadores masculinos,


apresentando seus feitos ou fracassos. Tais narrativas encontram-se dispersas em vários
tomos de Konjaku Monogatarishū (Coletânea de Narrativas que Agora São do Passado)
uma coletânea monumental de 31 tomos (restam atualmente 28) que reúne mais de mil
narrativas, e foi concluída provavelmente no início do século XII. Há, entretanto, uma
narrativa interessante que conta sobre a irmã de um lutador de sumô, que teria uma
força descomunal. Trata-se do tomo XXIII, narrativa 24 – “Sobre a força descomunal da
irmã mais nova do lutador de sumō Ōi no Mitsutō”.

O setsuwa começa com o famoso “O agora é passado”, marca característica do


Konjaku. Havia um renomado lutador de sumô chamado Ōi no Mitsutō, da província de
Kai (atualmente Yamanashi). Certo dia, um homem é perseguido por uma pessoa. Para
fugir, ele saca a sua espada e invade a casa da irmã mais nova de Ōi no Mitsutō. Um
servo que estava na casa vê o que acontece e sai correndo para pedir ajuda. Ele conta a
história a Ōi no Mitsutō, mas ele não esboça nenhuma intenção de ajudar a irmã.
Somado a isso, ele diz calmamente que somente Ujinaga, um antigo lutador da
província de Satsuma poderia tomar sua irmã como refém.

A cena se volta novamente para o quarto onde o fugitivo mantém a irmã como
refém. Ele a intimida com uma grande espada. Porém, a mulher parece segurar
levemente o braço com o qual o homem lhe apontava a espada, e com a esquerda cobre
seu rosto, e parecendo estar chorando. Com a mão direita ela pressiona as flechas de

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bambu que estavam espalhadas à sua frente, e as flechas acabam esmigalhadas como se
fossem uma árvore apodrecida. O sequestrador fica estarrecido e foge
desesperadamente, mas é capturado e levado diante de Ōi no Mitsutō.

O conto termina com Ōi no Mitsutō dizendo ao sequestrador que a força de sua


irmã superava em dobro a sua própria, e que era uma grande pena ela ser uma mulher.
Se fosse um lutador de sumō, certamente não teria adversários à altura.

YOSHIDA (2020) conta que as mulheres da época costumavam cobrir a boca


com a mão ou a manga do quimono por estarem constrangidas diante de pessoas do
sexto oposto. Esse comportamento feminino de “cobrir o rosto” revelaria a fragilidade
da irmã de Ōi no Mitsutō, todavia o ato de esmagar as flechas somente com a ponta dos
dedos revela que por trás desse aspecto frágil há um pode descomunal e violento. Esse é
o motivo de seu irmão não tê-la acudido, e de mencionar que somente um lutador de
sumô muito forte (o Ujinaga) teria coragem de sequestrá-la.

Este setsuwa levanta duas questões. A primeira é a de que não se deve


subestimar um livro pela capa: a fragilidade feminina esconderia uma força descomunal.
A segunda, e provavelmente a mais importante, é que essa força estaria sendo
desperdiçada já que ela não poderia ser um lutador de sumō por ser mulher. Concluímos
então que, sim, o poder pertence aos homens, mas este poder também pode ser exercido
pelas mulheres, inclusive o poder puramente físico.

Terceiro mito: o sumo é um ritual xintoísta, e os impuros não podem pisar sobre o
dohyo

O sumō é uma luta tradicional japonesa, e se tornou um esporte profissional


somente a partir do período Edo (1600-1868). De acordo com o site da Embaixada do
Japão, o objetivo da disputa é forçar o oponente a sair do círculo, o chamado dohyo, ou
fazê-lo tocar no solo com qualquer parte do seu corpo que não seja a sola dos pés.

YOSHIDA (2000) cita que, na formação do sumō, coexistem questões de


diversas naturezas. Além de ser uma luta de medidas de forças, relaciona-se com rituais
religiosos, eventos sazonais da corte, bem como entretenimento. No passado, o sumō
era realizado todos os anos como um ritual de festa pela colheita. Durante o período
Tokugawa (1603-1868), o sumō era praticado no pátio de um santuário ou templo.
Atualmente, o dossel suspenso sobre o círculo onde ocorre a disputa do sumō é uma
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reminiscência de um santuário xintoísta. Os trajes do juiz são semelhantes ao de um
sacerdote xintoísta, e o constante lançar de sal serve para purificar o local da disputa.
Essas características revelam de fato uma estreita relação entre o sumō e o xintoísmo.

A associação de sumô se baseia em “impurezas” para banir as mulheres no


dohyo. Dentro do xintoísmo, a ideologia da impureza está associada à “morte”,
“sangue” e “parto”. A morte seria uma “impureza negra”, o sangue uma “impureza
vermelha”, e o parto uma “impureza branca”. As mulheres estariam associadas à
impureza vermelha, por conta da menstruação, e à impureza branca, relacionada ao
parto (YOSHIZAKI, INANO, 2008, tradução nossa).

Todavia, para YOSHIZAKI e INANO (2008), esta é uma justificativa


“oportunista”, que se apropriou do xintoísmo para impedir a participação de mulheres
no sumō. A proibição pode remontar ao onna-zumō - lutas de mulheres populares desde
o período Edo (1603-1867) até a era Meiji (1868-1912).

MIKI (2018, tradução nossa), em seu texto para o jornal Yomiuri Shinbum,
descreve que nessa forma de entretenimento, os organizadores faziam com que
mulheres quase nuas participassem do sumô. Tratava-se de um ritual lascivo, em que as
mulheres de topless às vezes competiam com homens com deficiência visual. As lutas
visavam obviamente atrair o olhar curioso dos espectadores, e isso levou o xogunato
Tokugawa e o governo Meiji a reprimir estritamente os organizadores, que foram
considerados "entidades que corrompem a moral pública na sociedade". Esse seria o
verdadeiro motivo das mulheres serem proibidas de subirem no dohyo.

O caso das jmulheres coreanasa acompanhantes que fez os autores revisarem o


conteúdo.

https://freespeechdebate.com/pt-pt/case/a-polemica-sobre-o-livro-didatico-de-
historia-do-japao/

Fundamento 3

Mulheres no esporte. O japão não pôde inserir o Sum}o nas olimpiadas por não
ser para os dois sexos.

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Fundamento 4

O caso das mulheres que foram socorrer um o prefeito e reegueu a discussão


sobre mulheres no ringue

Fundamento 5

Existência deeventos de competição de sumo feminiono, mas não tem apoio, não
podem ser profissionais. Tratamento diferente do Japão, que limita a idade em 20 anos,
pois a mulher perderia sua performance.

Conclusao

O xintoísmo é usado como base para justificar a proibição de mulhesrtes


entrarem no ringue. Ao longo do tempo, as

Desde xxx as mulheres são proibidas de participares do Osumo, , o A presente


monografia tem como objetivo apresentar algumas reflexões sobre a relação entre a
mulher e o sumô, esporte nacional do Japão, nas obras produzidas no Período Antigo do
Japão. A tentativa é comparar duas obras antigas da literatura japonesa que tratam do
sumô, e quais seus reflexos sobre a proibição de mulheres lutarem sumô.

Serão explicados sucintamente o que é o sumô, e como ele é representado dentro


das obras antigas do Japão: Kojiki, Nihonshoki e Konjaku monogatarishû. Trataremos
também de como o sumô se relaciona com o xintoísmo. Por fim, serão comparados
especificamente a Narrativa 24 do Tomo XXIII, que fala “Sobre a força descomunal da
irmã mais nova do lutador de sumô Ôi no Mitsutô” e um conto que faz parte do
Nihonshoki, cujo tema são mulheres lutando sumô.

Sumô: um esporte tradicional japonês

O sumô é uma luta tradicional japonesa, e se tornou um esporte profissional a


partir do período Edo (1600-1868). De acordo com o site da Embaixada do Japão, o
objetivo da disputa é forçar o oponente a sair do círculo, o chamado dohyo, ou fazê-lo
tocar no solo com qualquer parte do seu corpo que não seja a sola dos pés. As origens
do sumô no Japão incluem os mitos da comparação de poder em Kojiki e Nihonshoki, e
a lenda de Nomi no Sukune e Taima no Kehayaza. O sumô também é citado no Konjaku
monogatarishû, cujas histórias trabalharemos brevemente à frente.

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O sumô era realizado todos os anos como um ritual de festa pela colheita. Desta
forma o sumô tem uma estreita relação com o xintoísmo. Durante o período Tokugawa
(1603-1868), o sumô era praticado no pátio de um santuário ou templo. Atualmente, o
dossel suspenso sobre o círculo onde ocorre a disputa do sumô é uma reminiscência de
um santuário xintoísta. Os trajes do juiz são semelhantes ao de um sacerdote xintoísta, e
o constante lançar de sal serve para purificar o local da disputa.

Origens do sumô

Não há certeza sobre as origens do sumô, e o que se descobriu até o momento


são registros históricos e mitológicos nos textos antigos. De acordo com a autora
Sawada Tôko, em um artigo de 2019 publicado no jornal japonês Mainichi, há um
episódio no Nihonshoki, em que o vigésimo primeiro imperador Ryûyaku teve a ideia de
testar as habilidades de um artesão. Para tanto, ordenou que oficiais mulheres ficassem
apenas de tanga e lutassem na frente do artesão, enquanto ele trabalhava. A mensagem
transmitida é a de que o artesão foi incapaz de se concentrar, a ponto de ser quase morto
como forma de punição.

Quanto ao Kojiki, há um episódio que faz referência à disputa territorial. De


acordo com YOSHIDA (2020), conta-se que, conforme ordens da deusa Amaterasu,
Ôkunishi no Mikoto cede o país de Ashihara no Nakatsukuni para Ninigi no Mikoto. Os
deuses Takeminakata e Takemikazushi travam uma disputa de forças em Izumo, atual
Shimane. Até os dias de hoje, o deus Takemikazushi é celebrado na província de
Ibaraki, no templo Kashima, e o deus Takeminakata é celebrado no santuário
Suwataisha, localizado na Província de Nagano. Neste mesmo local também é realizada
a cerimônia do sumô, que evidencia a sua aproximação com xintoísmo.

Ainda de acordo com YOSHIDA (2020), o registro mais antigo de uma luta
entre dois homens está no Nihonshoki, que relata a disputa de forças entre Nomi no
Sukune, de Izumo, e Taima no Kehaya, do país Yamato. Sukune demonstra ser um
homem muito forte e vence a luta, matando o oponente. Atualmente Sukune é
considerado um ancestral e uma divindade do sumô.
Quanto ao Konjaku monogatarishû, há muitas narrativas cuja temática é o sumô.
Vamos abordar aqui especificamente do tomo XXIII, narrativa 24 – “Sobre a força
descomunal da irmã mais nova do lutador de sumô Ôi no Mitsutô”.

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O setsuwa começa com o famoso “o agora é passado”, marca característica do
Konjaku. Havia um lutador de sumô muito forte chamado Ôi no Mitsutô, da província
de Kai. Certo dia, um homem está sendo perseguido por uma pessoa e foge. Ele saca a
sua espada e invade a casa da irmã mais nova de Ôi no Mitsutô. Um servo que estava na
casa vê o que acontece e sai correndo para pedir ajuda. Ele conta a história a Ôi no
Mitsutô, mas ele não esboça nenhuma intenção de ajudar a irmã. Somado a isso, ele diz
calmamente que somente Ujinaga, um antigo lutador da província de Satsuma poderia
tomar sua irmã como refém. Em seguida, a cena se volta novamente para o quarto onde
o fugitivo mantém a irmã como refém. Ele a intimida com uma grande espada. Porém, a
mulher parece segurar levemente o braço com o qual o homem lhe apontava a espada, e
com a esquerda cobre seu rosto, e parecendo estar chorando. Todavia, com a mão direita
ela pressiona as flechas de bambu que estavam espalhadas à sua frente estas são
esmigalhadas como se fosse uma árvore apodrecida.

YOSHIDA (2020) conta que as mulheres da época costumavam cobrir a boca


com a mão ou a manga do quimono por estarem constrangidas diante de pessoas do
sexto oposto. Esse comportamento feminino de “cobrir o rosto” revela a fragilidade da
irmã de Ôi no Mitsutô, todavia o ato de esmagar as flechas somente com a ponta dos
dedos revela que por trás desse aspecto frágil há um pode descomunal e violento. Esse é
o motivo de seu irmão não tê-la acudido, além de mencionar que somente um lutador de
sumô muito forte (o Ujinaga) teria coragem de sequestrá-la.

Comparando dois contos: como a mulher foi representada em cada um?

Interessante comparar como a mulher é representada no setsuwa que faz parte do


Konjaku Monogatarishû, e no conto presente no Nihonshoki. No primeiro, ainda que a
mulher não seja uma lutadora de sumô, ela é tão forte, talvez até mais forte que seu
irmão que é lutador de sumô, sendo capaz de esmagar com facilidade as flechas de
bambu. Essa demonstração de força reforça o que seu irmão tenta transmitir ao servo:
ele zomba do sequestrador, como se dissesse: “Melhor não mexer com a minha irmã, ele
vai se arrepender. Ele ignora a força dela, que está escondida nesse aspecto feminino e
frágil.”

O que parece ser transmitido é que a feminilidade é sinônimo de fragilidade. Por


outro lado, no Nihonshoki, não se fala da fragilidade, mas sim quanto ao fato de que a

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nudez feminina ser desconcertante, a ponto de ser capaz de levar o artesão a morrer por
isso. Parece que o feminino é algo que traz desgraça, enquanto no Konjaku
Monogatarishû, sua força não é algo necessariamente ruim. Ou seja, quando o irmão
zomba do servo, ele está na verdade revelando que sua irmã é forte, e que isso é bom, a
ponto de ele não precisar acudi-la.

Mulheres proibidas de entrar em um dohyo

Atualmente as mulheres não podem praticar o chamado Ôzumo, ou seja, sumô


oficial praticado no Japão. Não existe categoria feminina, portanto não podem participar
das competições anuais. Ainda que existam mulheres que pratiquem esse esporte, isso é
tratado como amadorismo, e realizado especialmente por estrangeiros ou nikkeis.

De acordo com Maruyama, em uma matéria publicada em 2018 no jornal


Yomiuri, até o início da era Meiji a luta de sumô masculino e feminino era realizada
como um espetáculo, e a luta de sumô feminino sem roupas também era realizada em
vários lugares. Todavia, após a construção do Kokujikan em 1954 em Ryôgoku,
aparentemente foi utilizada a conexão com o xintoísmo como base para argumentar que
o venerável esporte nacional não poderia suportar lutas que atentassem ao pudor. Daí a
luta entre mulheres passou a ser proibida.

Outro argumento que parece ter sido usado baseia-se na história antiga do Japão.
De acordo com um ex-membro do comitê de sumô, a história descrita no Nihonshoki
justifica que as mulheres não podem lutar sumô uma vez que isso seria sinônimo de
abuso de poder e de assédio sexual.

Conclusão

Não há dúvida quanto ao valor dos antigos contos históricos e mitológicos do


Japão presentes nos Kojiki, Nihonshoki e Konjaku monogatarishû.. A construção dos
contos é concisa, e a cosmogonia, ainda que mitológica, apresenta uma sequencia
lógica. Aliados ao tom próprio da narrativa, a leitura torna-se fluída e agradável,
desvelando um estilo de escrita único. Por outro lado, seria certo justificar a proibição
de mulheres praticarem o sumô, um esporte tão valorizado no Japão, baseado nesses

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belos contos? Talvez, por serem histórias folclóricas transmitidas oralmente, de alguma
maneira elas continuam fazendo parte da cultura japonesa, e assim permanecem sendo
transmitidas, servindo de base para a cultura japonesa contemporânea.

Bibliografia

https://web.archive.org/web/20180423232756/http://the-japan-
news.com/news/article/0004365275

IKKAI OpinionsaboutWomen’sSumoWrestlinginJapanandtheirTransition 2007

IKKAI, C. Women´s Sumo Whrestling in Japan. International Journal of Sport


and Health Science Vo.1 (1) 178-181
https://www.jstage.jst.go.jp/article/ijshs/1/1/1_1_178/_pdf

Yoshida, L. N. (1999). A época clássica japonesa e suas manifestações


literárias. Estudos Japoneses, (19), 59-75. https://doi.org/10.11606/issn.2447-
7125.v0i19p59-75

Yoshida, L. N. (2020). Konjaku monogatarishû: sumô e os lutadores. Estudos


Japoneses, (44), 101-121. Disponível em: <https://doi.org/10.11606/issn.2447-
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