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Primeiro livro publicado por uma mulher negra no Brasil, Úrsula é também
obra pioneira na ficção abolicionista do país. A autora, Maria Firmina dos
Reis (1822 - 1917), assinou durante anos com o pseudônimo “Uma
Maranhense”, em referência ao estado em que nasceu. Natural de São
Luís, foi também a primeira professora concursada do Maranhão. Em seu
romance de estreia, datado de 1859, ela conta a história de um triângulo
amoroso, enredo comum da época, mas sob uma perspectiva inédita: a de
três personagens negros e escravizados, construídos de maneira positiva.
Por ter uma narrativa simples, a obra foi por muito tempo subestimada entre
os críticos literários. Mas o trunfo da escritora é justamente o de usar uma
história universal – a de amor – para denunciar as injustiças sociais do
século 19, tratando da situação escravocrata e também das mulheres
negras.
“Há de existir alguém que lendo o que eu escrevo dirá… isto é mentira!
Mas, as misérias são reais”, escreveu Carolina Maria de Jesus (1914 -
1977) em seu livro de estreia. Mulher negra, mãe solo de três filhos e
moradora da extinta favela do Canindé, em São Paulo, a autora trabalhava
como catadora de material reciclável e usava os cadernos que encontrava
no lixo para escrever os diários que viriam a se tornar Quarto de despejo:
diário de uma favelada. A partir de relatos duros da sua própria realidade,
Carolina fala de questões de raça, classe e gênero em um cenário de
extrema pobreza, narrando temas como violência doméstica e o
encarceramento da população negra. Publicado originalmente em 1960, o
livro já vendeu mais de 1 milhão de cópias e foi traduzido para quatorze
idiomas.
A teus pés é o único livro de Ana Cristina Cesar (1952 - 1983) lançado por
uma editora, e também o último escrito pela autora, que morreu aos 31
anos. A obra reúne poemas inéditos e outros já publicados de forma
independente em seus três livros anteriores – Luvas de Pelica,
Correspondência Completa e Cenas de Abril. Na coletânea, Ana C. derruba
as barreiras entre prosa e poesia e, ao usar os formatos de carta e diário,
dá um tom de confissão muito íntimo às narrativas – a sensação é de estar
lendo às escondidas o diário de alguém. Pegando pedaços do cotidiano e
de sua própria intimidade, a escritora carioca consegue traçar um
panorama do contexto político da época, no auge da ditadura militar. Ela foi
um dos ícones da chamada geração mimeógrafo da década de 70, quando
artistas buscavam meios alternativos para espalhar suas obras.
Referência: