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Título: Peculiar
Revisão: Maria Carlos Brito
Capa: Larissa Chagas
Diagramação: Nathalia Santos
De todas as disciplinas da vida a de cálculos não era para mim. Por mais que eu tentasse
entender todos aqueles números, todos aqueles gráficos e todas aquelas fórmulas —detalhe:
que deveriam facilitar — eu não conseguia.
Por isso não fiquei surpresa quando recebi uma terceira e última chance do Sr. Carter,
meu professor de cálculo avançado da universidade de Campbell. Ele foi bem claro ao dizer:
será a última vez que tento lhe ajudar Srta. Blossom.
Felizmente eu tinha um anjo da guarda que apareceu na minha frente com bochechas
coradas e um sorriso bonito se dispondo a me ajudar no trabalho que o Sr. Carter me pediu
para fazer.
O anjo da guarda em questão era Caleb Lee Walker, o nerd da sala. Nem preciso dizer
que quase o abracei naquele momento que disse que poderia me ajudar. Minhas esperanças
foram renovadas e eu tive a certeza que seria aprovada com a ajuda desse garoto, ele era um
gênio. Não entendia o porquê ainda estava na universidade, já que deveria estar de férias por
ter sido aprovado na primeira prova, eu também nem fiz questão de perguntar, pois eu tive
muita sorte.
Agora eu olhava o Sr. Carter corrigir cada questão com a maior lerdeza do mundo. Qual
era a dificuldade, afinal? Até quando ele ficaria me torturando daquela forma? Eu precisava de
uma resposta.
— Estou impressionado Srta. Blossom — ele levantou o olhar para mim — Devo dizer
que a semana foi longa para você aprender tudo isso em tão pouco tempo. Teve ajuda?
Sorri e fingi a maior cara de sonsa.
— Nenhuma, Sr. Carter, apenas estudei bastante e consegui entender.
Por favor, não me peça uma prova dessa mentira deslavada.
— Acredito em você. Deve estar louca para as suas férias, fiquei sabendo que seus
irmãos já foram para casa.
Assenti enquanto pensava o quão azarada eu era para irmãos. Fala sério, não fizeram
nem questão de esperar a irmã querida deles.
Prendi a respiração ao ver o olhar do professor a minha frente na última questão do
trabalho, ele não marcava nada com caneta, o que me deixava mais ansiosa e nervosa.
— Apenas um erro, estou impressionado de verdade Srta. Blossom.
Sorri ao ouvir as palavras. A resposta errada era referente a questão seis, onde Caleb
deixou um erro proposital para o professor não desconfiar de eu ter gabaritado um trabalho
quando antes, não sabia nem o básico da matéria.
— Então estou oficialmente de férias?
Ele riu assentindo.
— Está oficialmente de férias.
Não consegui conter o gritinho que saiu do fundo da minha garganta. Levantei da
cadeira em que estava sentada e peguei minha bolsa em cima da mesa.
— Foi um prazer aprender com o Sr. neste semestre.
Sr. Carter balançou a cabeça sorrindo.
— Pode ser sincera, Srta. Blossom.
Dei de ombros e ri.
— Você que pediu — falei — Espero nunca mais ver o Sr. na minha frente com esses
cálculos.
Nós rimos.
— Essa é a última cadeira obrigatória, agora você está livre para fazer apenas o que
gosta.
— Aleluia! — exclamei — Adeus, Sr. Carter.
Caminhei em direção a saída daquela sala com um sorriso no rosto. Eu já sentia o calor
do Tennessee me recebendo, as brincadeiras com Safira e Dexter — os labradores da família —
os passeios com Tempestade e Olaf, junto com seus filhos: Raio e Pandora. Até que o Sr. Carter
me interrompeu:
— Diz para o Caleb ser mais discreto quando for ajudar alguém, outro professor pode
não ser tão bonzinho como eu.
Me virei e o encarei com meus olhos levemente arregalados.
— Como...?
— Aproveite suas férias, Skyller — piscou e deu aquele assunto como encerrado.
Sai da sala antes que ele mudasse de ideia e me peguei rindo quando fechei a porta,
professor Carter era uma pessoa muito generosa, no final das contas.
— Pelo o seu sorriso você foi aprovada — Caleb estava encostado na parede do corredor
em frente a porta da aula de cálculo avançado, com as mãos nos bolsos da calça e as
bochechas levemente coradas.
Pelos poucos dias que passamos juntos fazendo o trabalho percebi como ele era tímido,
conversava pouco e as vezes até gaguejava. Havia algo diferente nele que eu não conseguia
decifrar, mas era encantador mesmo assim.
Pele branca, cabelos escuros e olhos azuis, usa óculos de graus com lentes levemente
redondas e aro preto, sem músculos que costumo ver no corpo de atletas que caminham pelo
campus ou que já transei, mas mesmo assim, ele aparenta ser forte. Esse era Caleb Lee
Walker, o meu anjo da guarda.
— Estou aprovada, anjo da guarda — o respondi.
Me aproximei dele, não me contive e o abracei, o deixando paralisado por alguns
segundos até que com uma delicadeza surpreendente retribuiu o abraço, mas percebi que
parecia um pouco inseguro porque não me apertou contra o seu corpo, nem nada parecido.
— Pará...parabéns — ele gaguejou ao parabenizar.
Eu ri enquanto me desfazia do abraço, percebi que suas bochechas estavam mais
vermelhas e aquilo era incrivelmente fofo.
— Você não tem que me parabenizar já que fez todo o trabalho para mim — bati em seu
ombro de brincadeira — Mas o professor Carter disse para tomar mais cuidado da próxima
vez.
Caleb franziu a sobrancelhas.
— Como ele..sa.. sabia?
— Não sei, mas ele não se importou e estou muito aliviada por isso.
Meu anjo da guarda sorriu e abaixou a cabeça, a timidez dando as caras novamente.
— Muito obrigada por me ajudar, anjo da guarda — agradeci mais uma vez.
— Você merece — ele voltou a me olhar e disse — Merece muito, Skyller.
Sorri e me aproximei dele novamente apenas para deixar um beijo na sua bochecha.
Quando me afastei, vi sua reação: olhos levemente arregalados e as bochechas pareciam ter
ficado mais vermelhas, ele era um fofo.
— Estou devendo uma para você, Caleb — eu disse — Pode me cobrar hoje, amanhã ou
até mesmo quando acabarmos a faculdade, sempre vou me lembrar o que fez por mim.
— Se..Sempre? — A pergunta pareceu mais para si mesmo do que feita diretamente
para mim, mas assenti.
— Sempre.
Olhei o relógio no meu pulso e faltavam apenas duas horas para pegar o voo para
Tennessee, eu precisava me apressar.
— Nos vemos daqui alguns meses?
Caleb concordou ainda aéreo em pensamentos. Sorri.
— Até mais, anjo da guarda.
— Até mais, Skyller.
Me afastei dele e caminhei em direção a porta da liberdade. Finalmente eu estava de
férias.
Finalmente aproveitaria alguns meses com a minha família no rancho Star e ainda
curtiria as festas que só o pessoal da pequena cidade de Franklin sabia fazer.
Férias, Skyller Blossom está chegando!
1. Obrigada, próximo
A claridade do sol faz com que eu acorde e no mesmo momento feche os olhos
gemendo em desgosto. Fala sério, eu odeio acordar dessa forma!
Uma fisgada de dor na minha cabeça me lembra que eu não estou em casa. Claro que eu
não estou. Depois de beber todas com Tyler e seus amigos, acabei vindo para casa de John, um
dos amigos de meu irmãozinho mais velho.
A noite havia sido... divertida? É, com certeza essa é a palavra, transamos o bastante
para cairmos cansados na cama e dormir um sono profundo.
Merda! Eu não deveria ter dormido fora!
Levantei rapidamente pouco me importando com a claridade que antes era
incomodativa. Peguei meu telefone ao lado da cama de John e bufei ao ver que estava no
silencioso, não, não foi só isso que me fez bufar em desgosto e sim a mensagem clara de meu
pai perguntando onde eu estava há uma hora.
Eu como não era boba e nem nada parecido respondi tentando fazer uma gracinha, que
foi revidada no mesmo segundo.
Ele não respondeu em palavras, mas o seu silêncio foi o suficiente para saber que não
queria saber.
Suspirei. Era hora de encontrar o ciumento de meu pai e aguentar o drama do
grandalhão.
Diferente do que muitos pensam meus pais e todo o resto da minha família não me julga
pelo modo que levo minha vida amorosa. É claro que eles gostariam que eu fosse mais
reservada e que tivesse um namorado como a santa da minha irmã mais nova, se eu fosse
virgem como ela, seria um bônus muito bem recebido. Ciumentos!
Mas acontece que não é bem assim que funciona comigo... em um certo nível de
comparação eu sou como Nathaniel, meu outro irmão. Não curto relacionamento, não curto
estar presa a alguém, ser dependente daquele amor que um sente pelo o outro, porque sim,
independente do que as pessoas que são apaixonadas dizem, você se torna dependente
daquilo e o pior é que nem percebe. Eu com certeza não preciso disso na minha vida, estou
muito bem tendo os meus casos casuais quando eu preciso aliviar a tensão ou só me divertir.
Não. Ninguém me magoou como fizeram com o pobre coração de Nathaniel... só de
lembrar sinto pena do meu irmãozinho. Nunca me apaixonei e quando tentei namorar larguei
o garoto por me sentir em uma prisão e não em um relacionamento. Ele não me magoou ou
algo do tipo, acredito que eu tenha feito isso com o coração do meu pobre ex namorado.
E não. Eu não tenho medo do amor e seria estranho se eu tivesse, já que venho de uma
família muito amorosa. Meus pais até hoje são apaixonados um pelo o outro, como se todos os
dias se encantassem um pouco mais por cada pedacinho de seu parceiro.
Então não havia nenhum problema comigo. Eu sou apenas uma garota de dezenove
anos que aprecia a liberdade de ter um bom sexo casual sem estar presa a alguém que queira
exigir coisas fora do meu alcance.
E mulheres... não há nada de errado em ser livre e ter um sexo casual de vez em
quando. Não somos putas por isso, nem nada do tipo.
Acontece que o mundo é meio hipócrita e machista, felizmente eu sei lidar muito bem
com isso. Dando um chute no meio das pernas dos homens que acham que podem se
aproveitar por eu ser... como eles dizem? Ah, puta. E uma lição de palavras bem ditas para
mulheres que por algum motivo ridículo acham que irão ser ovacionadas por me tratarem
como uma vagabunda. Palavras delas, não minhas.
Feminista? Eu diria que realista. Estamos no século vinte e um, direitos iguais é tudo o
que eu quero.
Felizmente as coisas mudaram quando me mudei para Ohio com os meus irmãos.
Estudamos há um ano na Universidade de Campbell e sair de uma cidade pequena e um pouco
preconceituosa foi a melhor coisa para nós.
Nas festas dos universitários de Campbell o que você mais vê é meninas como eu, livres,
leves e soltas. Garotos como meu irmão mais velhos, Tyler, estilo bad boy e caras como
Nathaniel, divertidos e que só querem curtir uma noite de sexo quente e sem compromisso.
Acho que em todo o ano eu só tive que chutar as bolas de dois caras, um ótimo número
para quem chutava essa quantidade em uma semana.
Um resmungo ao meu lado me chamou atenção. John abria os olhos com a bochecha
direita marcada pelo travesseiro por ter dormido muito tempo em uma posição só.
Eu disse que a noite havia sido ótima.
— Bom dia, belo adormecido — sorri — Já estava pensando que teria que ir embora sem
me despedir.
— Bom dia, linda — retribuiu o sorriso — O que acha de tomarmos um café?
Observei seu corpo tapado apenas pelo lençol. Ele realmente faz o meu tipo, ombros
largos, músculos de quem malha todos os dias na academia, cabelos e olhos escuros, e muito
bom de cama.
Eu sabia que o café não era apenas um café, John com certeza gostaria de repetir o sexo
maravilho da madrugada, mas isso não iria rolar, não porque eu não repetia como o meu
irmãozinho idiota, mas porque a essa hora um homem alto e de cabelos compridos deveria
estar preste a ter um infarto pela a resposta atrevida que eu dei há pouco.
— Não vai rolar, John, mas essa noite foi divertida — falei enquanto pegava meu vestido
que usei na festa passada.
Meu parceiro fez um beicinho.
— Fica para a próxima?
Assenti, mesmo sabendo que seria impossível. Hoje à noite eu e meus irmãos
voltávamos para o nosso apartamento perto da Universidade de Campbell, as aulas
começariam daqui três dias e eu precisava comprar alguns materiais para esse semestre.
— Nas minhas próximas férias quem sabe — eu disse depois de colocar meu vestido.
— Não acreditei quando me disseram que você é uma garota com o coração de gelo,
mas acho que eles estavam certos.
Revirei meus olhos para o meu apelido do ensino médio. Há anos eu não ouvia aquilo e
nem me lembrava mais do quão ridículo era aquilo.
— O que foi? Já se apaixonou na primeira noite? — Brinquei.
Ele riu.
— Não, mas mais um pouquinho e seria impossível não me encantar por você, Srta.
Blossom.
Peguei meus sapatos jogados no canto do quarto e os calcei.
— Faz parte do meu charme.
— É...você tem um jeito peculiar mesmo — falou.
Arqueei as sobrancelhas sem entender.
— Um jeito peculiar? O que quer dizer com isso?
— Seu jeito é único, meio difícil de encontrar em todas as garotas por aí — piscou —
Você é única, Skyller.
Uma garota como minha irmã ficaria com as bochechas coradas pela forma tão intensa
que ele disse essa frase, mas eu, eu meio que temi, dei um sorriso gelado e peguei minha
bolsa.
— Nossa noite foi ótima, mas agora eu preciso mesmo ir — caminhei até ele e deixei um
selinho em seus lábios.
— Eu levo você até a porta — disse se levantando.
Estava de cueca, em algum momento da noite havia tapado seu magnífico órgão genital.
Não era tão grande assim, mas soube me fazer atingir um orgasmo legal.
Colocou uma bermuda e saiu do quarto comigo.
Como disse, me levou até a porta da saída de sua casa. Felizmente morava sozinho e eu
não teria que lidar com uma mãe que poderia ser ou ciumenta ou casamenteira.
— Até qualquer dia, Skyller.
— Até qualquer dia, John — sorri e me despedi.
Com as chaves da land rover de meu pai, destranquei o carro e entrei no mesmo, logo
dando a partida em direção ao rancho Star.
— Skyller onde você estava? — Foi a primeira pergunta que ouvi assim que coloquei os
pés dentro do casarão da família Blossom.
— Bom dia para você também, papai — sorri — Estava com o amigo de Tyler.
— John não é meu amigo — meu irmão passou na sala apenas para dizer isso — Vou
galopar com Pandora.
— Você poderia me esperar, estou com saudades de galopar com Raio — falei e ele
assentiu.
— Te espero lá fora — e saiu da sala.
— Filha, que bom que você chegou — minha mãe entrou na sala e me abraçou — Como
foi a noite?
— Muito...
— Por favor, sem detalhes — meu pai pediu colocando a mão no coração — Sinto que
terei um infarto a qualquer momento.
— Como você é dramático, Dylan Blossom — larguei minha mãe e fui até ele o
abraçando — Sabe que você é o único homem da minha vida, né?
Ele se fez de difícil ao não retribuir o abraço de primeira e olhar para a mulher linda que
ele tinha como esposa, Ravenna Blossom. Esse era o nome da melhor atleta de hipismo e
campeã de vários campeonatos, inclusive as olimpíadas. Eu tenho muito orgulho de ter essa
mulher como mãe.
— Não vai abraçar a sua preferida?
— Ei — Alex apareceu na sala com Jack, o seu furão — Eu sou a preferida e você sabe
disso.
Mostrei a língua para ela como fazíamos quando éramos pequenas enquanto Jack me
olhava com aquele olhar que aprontaria alguma para cima de mim.
Eu não suportava esse animal!
Ele destruía tudo o que via pela frente, mas parecia ter uma preferência por todas as
minhas coisas. Como carregador de celular, fone de ouvido, sapatos, roupas, tudo que era meu
ele parecia sentir e entender ao mesmo tempo que pensava: “vou tirar um pouquinho mais da
paciência de Skyller”.
Aquilo não era nem um animal de estimação na minha humilde opinião.
Não sei o que minha irmã via naquilo.
— Pensei que já havia se livrado desse roedor — fiz cara de nojo.
— Eu já te falei que Jack não é um roedor e sim um mamífero carnívoro — aproximou a
cabeça do animal no seu rosto — E nunca vou me livrar dele, mais fácil me livrar de você —
Implicou.
— Se vocês não fossem tão amigas diria que essa implicância é verdadeira — minha
mãe riu nos interrompendo.
Meu pai acompanhou ao mesmo tempo que finalmente me abraçava.
— Amo você, pequena — ele beijou minha testa — Só fiquei preocupado, não avisou
que dormiria fora.
— Eu disse para Tyler, mas provavelmente ele estava bêbado demais para se lembrar
em passar o recado para vocês.
— Maninho bebeu todas ontem — Nathaniel apareceu na sala com uma caixa de isopor
nas mãos — Quem olha diz que quem sofre de um coração partido é ele, não eu.
Eu e meu pai nos entreolhamos. Por mais que Nathan fingisse muito bem, não conseguia
passar que estava tudo bem para nós que o conhecemos de verdade. Há mais ou menos três
anos Clarke Hale deu um pé na bunda de meu irmão sem nenhuma explicação. Nada está
muito bem explicado nessa história e não podemos nem citar o nome da garota porque meu
irmão a detesta.
Nunca imaginei que o amor poderia virar ódio. Mas com meu irmão foi exatamente
assim que aconteceu.
O amor que sentia quando era um simples adolescente por Clarke deu lugar ao mais
puro ódio.
— Onde vai com esse isopor? — Perguntei, mudando de assunto.
— Estávamos só esperando você para fazer um piquenique no lago — meu pai disse —
Hoje é o último de vocês aqui no rancho e precisamos aproveitar.
— Você é o melhor pai, sabia?
Ele assentiu rindo.
— Claro que eu sei disso.
— Assim sua mãe fica com ciúmes — Ravenna dramática começou a falar.
Me desfiz do abraço com meu pai e mandei um beijo para ela.
— Você é a minha campeã, lembra?
Ela também mandou um beijo.
— Por que não vai tomar um banho e se trocar? No encontramos no lago — minha mãe
sugeriu.
Assenti.
Eles saíram de casa e eu subi as escadas em direção ao meu quarto. Parei ao ver o
grande quadro no corredor e admirei a beleza de meus pais no dia do casamento.
Era um retrato deles no altar improvisado aqui no rancho, minha mãe sorria lindamente
ao lado de meu pai que se encontrava da mesma forma. Eu estava sendo segurada por ela e
também olhava para câmera.
Mais a baixo estavam os grandes cupidos daquele relacionamento. Nina e Billy pareciam
sorrir para câmera como os donos. Dois Golden Retriever que não sossegaram até ver meus
pais finalmente juntos.
Eu me lembrava vagamente deles, mas as poucas lembranças eram o suficiente para
saber que aqueles dois não eram simples cachorros.
Era uma pena que eles não vivem para sempre... nem ao menos tem o período de vida
tão grande como um cavalo.
Observei Tempestade e Olaf no fundo da foto, atrás dos donos. Hoje estavam velhinhos,
mas ainda vivos e cheios de saúdes.
Por muitos anos minha mãe e Tempestade quebraram recordes dentro do hipismo,
aquelas duas arrasam no esporte. Infelizmente atualmente minha mãe está treinando e
competindo com Pandora, filha de Olaf e Tempestade, devido à idade avançada da égua.
Me virei e entrei no meu quarto. Eu tinha uma corrida com Raio para ganhar de Tyler e
Pandora.
Me aproximei do pequeno quiosque que meu pai havia construído perto do lago e que
tinha uma visão privilegiada de todo o rancho Star e de seu hospital veterinário do mesmo
nome. Todos estavam lá, inclusive os dois labradores da família: Safira e Dexter. O último não
era totalmente da raça, o pai ou a mãe dele eram SRD. Ambos foram adotados no abrigo de
cães da cidade há mais ou menos um ano.
Meus pais acharam que depois de anos da morte de Billy e Nina era hora de ter novos
cachorros em casa, nunca substituiriam, mas era uma alegria para família como os primeiros.
— Aí estão vocês — foi só ouvir a minha voz que vieram correndo até mim. Quase me
derrubaram ao pular em cima de mim pedindo por um carinho.
Alisei suas cabeças ao mesmo tempo.
— Estão se comportando? — Latiram ao mesmo tempo — Com certeza não estão.
— Finalmente — Tyler se aproximou com Pandora e Raio, já arrumados para galopar —
Achei que teria desistido por saber que vai perder.
Eu ri.
— Está blefando — dei dois tapinhas nas cabeças dos meus bebês e me aproximei do
meu irmão — Sabe que eu vou ganhar.
— Vocês vão mesmo fazer isso? — Minha mãe gritou do quiosque — Por favor, tomem
cuidado.
— Não quero ter que levá-la para o hospital por cair do cavalo novamente, Skyller —
Meu pai disse fazendo referência à quando eu tinha apenas dez anos e cai de cima de
Tempestade.
— Aquele dia foi um acidente — gritei de volta.
— Eles sempre lembraram desse dia — meu irmão disse.
Concordei.
Olhei para Raio, pelagem preta como a mãe. A única diferença estava no seu rostinho, o
lado direito era totalmente branco, dava um charme para ele. Já Pandora era branca como pai,
seu nariz que tinha uma pequena mancha preta.
Me aproximei do meu companheiro de galopes e alisei sua cabeça.
— Pronto para ganhar, amigão? — Ele soltou um sopro, movendo o nariz contra a minha
mão a procura de mais carinho.
— Tão iludida — Tyler murmurou — Vamos logo antes que eles nos chamem para
almoçar.
Subi em cima de Raio e segurei as rédeas firmemente enquanto esperava meu irmão
fazer o mesmo.
— Preparado para perder, maninho? — Brinquei com a sua cara.
— Você tem que me responder essa pergunta — piscou.
Nathaniel apareceu na nossa frente com uma lata de cerveja que bebia.
— Eu vou dar a largada — avisou ficando no meio de nós, mas um pouco mais afastado.
Tomou um gole de sua cerveja e levantou a mão fechada.
— Um — gritou, percebi que meus pais e minha irmã se aproximavam para observar
melhor a nossa corrida — Dois — Tempestade e Olaf estavam deitados na sombra observando
tudo com certa calma — Agora!
Não esperei um segundo a mais e como Raio conhecia bem aquela brincadeira, foi
preciso apenas um movimento com os pés no estribo para ele saber que era hora de fazer a
irmã comer poeira.
Corremos enquanto ouvíamos os gritos de Alex e Nathan, minha irmã obviamente torcia
para mim e meu irmão para Tyler.
A corrida era em direção ao início do rancho para depois dar a volta para onde
começamos. Sempre foi assim e dessa vez não foi diferente.
Avistei o cercado de Star e movimentei a rédea para direita fazendo Raio virar para
aquela direção. Damos a volta e corremos em direção de onde havíamos saído há poucos
minutos.
Meu irmão era muito bom. Eu tinha que admitir. Também estava indo bem porque
estava andando com uma campeã de hipismo.
Acontece que eu também sou muito boa nisso.
Orientei Raio a ir mais rápido quando estávamos quase chegando e parecia que iriamos
empatar.
Foi por pouca distância, mas eu consegui ganhar.
— Toma essa, Tyler — gritei enquanto voltava para perto da minha família com passos
mais calmos de Raio — Você foi muito bem, parceiro.
— Vocês foram ótimos — minha mãe elogiou — Se não quisesse ser estilista poderia
seguir no ramo de hipismo.
Eu ri negando.
— Com certeza isso não é para mim — desci de Raio e alisei sua cabeça — Mas amo esse
lugar e Raio, Pandora, Tempestade, Olaf e meus bebês — falei me referindo a Safira e Dexter.
Minha mãe assentiu.
— Eu deixei você ganhar — Tyler chegou com Pandora ao nosso lado — Só para você
saber.
Eu e meu pai rimos.
— Sempre a velha desculpa, não é mesmo? Você é bom com carros, não com cavalos —
eu provoquei.
Meu irmão revirou os olhos.
— Ainda continua com as corridas? Pensei que já havia parado — meu pai perguntou —
Não gosto disso.
Tyler Blossom amava correr com carros, mas mais que isso, amava a adrenalina de
participar de corridas clandestinas.
E deixa eu dizer uma coisa, as melhores corridas e as melhores festas clandestinas são
feita em Campbell.
— Melhor nem me responder — meu pai interrompeu Tyler antes que ele abrisse a boca
— Não vamos estragar esse dia maravilhoso.
— Ninguém gosta disso menos que eu — minha mãe suspirou — Você pode sofrer um
acidente, pode ser preso, tudo pode acontecer.
— Relaxa, Rav, eu sei me cuidar — foi a resposta que meu irmão deu para nossa mãe.
— Tirem os equipamentos de Pandora e Raio e se juntem a nós — meu pai pediu — Vou
ver como está a carne no fogo.
Ele e minha mãe se afastaram e voltaram para o quiosque, deixando eu sozinha com
meus irmãos.
— Às vezes eu penso que eu irei causar o infarto deles, mas com certeza vai ser você,
maninho — eu disse enquanto retirava o freio da boca de Raio.
Ele começou a fazer o mesmo com Pandora.
— Concordo com a Sky — Alex se pronunciou.
— Digo o mesmo que falei para Rav há pouco, relaxem — começou a retirar a sela da
égua — Sei o que faço.
— Claro que sabe — Nathaniel falou, não consegui decifrar se foi sarcástico ou não.
Olhei para o meu irmão mais velho e o mais quebrado de todos nós. Cabelos escuros da
mesma forma que os olhos, pele negra e alto, muito alto. Se eu não me engano, sua altura era
1,90.
Era o único que não chamava Ravenna de mãe.
Não por não gostar dela ou algo do tipo.
Mas porque chamar ela de mãe e Dylan de pai o fazia lembrar constantemente do
passado.
Um passado que ele preferia deixar no fundo da sua mente, pelo menos durante o dia
que conseguia controlar.
Meu pai não consegue ter filhos e por isso somos todos adotados.
Eu fui a primeira, a garotinha que abriu os olhos daquele casal maravilhoso que agora
dançavam uma música romântica que saia da pequena caixa de som, enquanto Safira e Dexter
latiam e se divertiam juntos. Onze meses depois meus pais adotaram Nathaniel que já estava
com dez meses. Eu sou alguns meses mais velha que ele, pouca coisa.
Eu e Nathan conseguiríamos passar por irmãos e filhos de Ravenna e Dylan facilmente se
não fosse pelos olhos. Enquanto meus pais são loiros de olhos azuis, eu sou loira de olhos
esverdeados e meu irmão loiro de olhos castanhos.
Já Alexandra que veio logo depois de nós, dez meses mais nova, é a caçula, tem olhos
verdes e cabelos escuros.
Tyler foi a última adoção, mas é um ano mais velho que nós. Meus pais o adotaram com
13 anos.
Meu irmão mais velho sofria com pais totalmente abusivos, minha mãe viu e os
denunciou. O conselho tentou intervir, mas não antes do garotinho ver uma cena que para
sempre estaria em seus pesadelos: o pai matando a mãe para logo depois se matar.
Eu não sei o inferno que ele passou com aquela família, isso é algo que só ele sabe e
guarda para si, o que psicologicamente falando faz muito mal.
Não estudo psicologia e nem me imagino fazendo algo tão complicado como tentar
entender a mente de um ser humano.
Mas eu sei que parte de Tyler ter desenvolvido TEI — Transtorno Explosivo Intermitente
a partir dos 13 anos, logo depois que foi adotado pelos meus pais, tem a ver com seu passado.
Foram anos de terapia para ele conseguir controlar os ataques de raiva, hoje em dia não
precisa de tantos medicamentos como precisava antes.
Já a minha caçula... a bebê da família, a pequena Alex, sofria de bipolaridade. Foi
diagnosticada aos quinze anos quando teve uma crise depressiva. Também foram anos de
visitas ao psicólogo e hoje tem um tratamento rígido de remédios, não são muitos, mas são
fundamentais para não ter outra crise.
Felizmente ela não teve mais nenhuma, seja ela depressiva ou de pura euforia. Parte
disso, além dos remédios, é porque ela namora, não quero ser ridícula a ponto de dizer que ela
está bem porque está com um homem e que as crises não podem voltar. Não estou
romantizando nada aqui, mas minha irmã está no que julga ser a melhor fase de sua vida:
cursando o curso dos sonhos — medicina veterinária — e com o homem que a levará para o
altar.
E é isso que eu estava falando no início do meu dia.
Sem perceber minha irmã é totalmente dependente de Jordan O’Connor, de tudo o que
ela sente pelo o namorado.
E eu não gosto nem de pensar o que aconteceria se ele chutasse a sua bunda para bem
longe.
Minha irmã se alto destruiria.
Eu tenho certeza disso.
— Amor — foi só falar no diabo que ele aparecia.
Jordan O’Connor se aproximou da gente com o sorrisinho irritante de sempre. Não, eu
não gostava do garoto, nem eu e nem meus irmãos. Apenas o suportávamos, por nossa caçula.
Ela o amava demais.
Alexandra conheceu Jordan no ensino médio. Ele era o capitão de time de futebol da
escola e despertou o interesse de minha irmã. Fizeram um trabalho juntos de inglês e adivinha
só? Começaram a se beijar.
Simples assim.
Desde então estão namorando e mesmo estando na mesma faculdade permanecem
firme no relacionamento. Mas por que você não gosta dele, Sky?
Meu instinto me diz que Jordan não é o cara certo para a minha irmã. Vamos lá, ele está
com ela há quatro anos e nos últimos meses vem pressionando Alex para perder a virgindade
com ele.
Eu não acredito no papinho que ele ainda é virgem.
Eu simplesmente não acredito em nada que sai da boca desse garoto.
Minha irmã não se sente preparada para isso e eu dou razão, cada um tem a sua hora.
Uns mais cedo — eu — outros mais tarde — ela—.
Na minha opinião ele trai Alex, nunca investiguei a fundo porque tenho medo de minha
irmã ter uma crise, tamanho a dependência que ela tem desse cara. Pode parecer ridículo o
que eu estou dizendo, mas só quem sofre com uma pessoa bipolar sabe o inferno que é estar
com ela em crise.
Eu e meus irmãos já tentamos ser sutis ao dizer que não confiávamos em Jordan, tudo o
que recebemos foi bufada e frases prontas como: “vocês estão sendo irmãos ciumentos”.
— Oi para você também, Jordan — Nathaniel cumprimentou.
— Olá irmãos da minha pequena — ele sorriu e beijou os lábios de Alex, que também
sorria como uma boba.
Onde está o balde mais próximo para eu vomitar?
— Como está, Jack? — alisou a cabeça do furão que já estava sonolento no colo de
minha irmã.
Era só isso que esse animal sabia fazer: comer, dormir e destruir todas as minhas coisas.
Eu e Tyler retiramos todos os equipamentos de Raio e Pandora. Meu irmão pegou os do
cavalo dos meus braços e se dispôs a ir guardar no galpão.
— Parece que perdi a corrida de vocês dois — Jordan disse.
— Infelizmente, amor, mas Sky ganhou — Alex falou.
— Sempre dando um show, não é, Skyller?
— Não para você — a minha resposta com ele era sempre curta e grossa.
Alex me repreendeu com o olhar e Nathan fez um certinho com a mão atrás dos dois.
— Crianças o almoço está na mesa — mamãe chamou como se tivéssemos dez anos de
idade.
— Vamos comer porque estou louco de fome — Nathan disse se encaminhando para a
mesa do quiosque.
Deixei Pandora e Raio soltos, fui para o quiosque junto com Alex e Jordan. Minha irmã
deixou Jack na gaiola grande dele, que só usava para emergência como essas e se sentou ao
lado do namorado.
— Jordan que bom que veio — Meu pai cumprimentou.
— Fico feliz que me convidaram para o almoço — sorriu — Adoro esses momentos em
família com vocês.
Minha mãe sorriu encantada e eu quase perdi o apetite.
Não era possível que só eu enxergasse falsidade nesse cara.
Tyler se aproximou de nós e se sentou ao meu lado. Nathan ocupou o lado esquerdo e
meus pais se sentaram na nossa frente ao lado de Alex.
— Para o almoço eu fiz o prato preferido de sua mãe — meu pai disse enquanto cortava
a carne no espeto.
Minha mãe ama churrasco. Ela sorriu enquanto meu pai colocava um pedaço de carne
no seu prato.
— E então, preparados para mais um ano letivo? — Jordan puxou assunto.
— Será como todos os outros — dei de ombros — Pensei que a faculdade mudaria
muita coisa da escola, mas não tem tanta diferença assim.
— Fala sério, maninha — Nathan riu enquanto se servia de salada — Sem nossos pais,
festas, professoras universitárias gosto...
— Nathaniel! — mamãe o repreendeu — Eu não acredito que está dado em cima das
professoras.
— Me diga onde está a professora gostosa porque eu não encontrei nenhuma ainda —
Tyler disse.
— A professora de cálculo inicial é uma gracinha — eu quase cuspi o suco que bebia.
— Ela tem idade para ser sua mãe! — exclamei.
— Gosto das mais velhas — piscou.
Revirei os olhos. Nunca vou me esquecer do dia que meus pais foram chamados na
direção da escola porque Nathan havia dado em cima de uma professora.
Ele é um cretino. Pior que eu.
— Tyler e Nathan, chega desse assunto! — Minha mãe os repreendeu como se fossem
crianças — Estão na faculdade para estudar.
Agora foi a minha vez de rir.
— Nem você acredita nisso, mamãe — soprei um beijo para ela, que me fuzilou.
Mas minutos depois riu.
— Sinto que esse semestre será diferente — Alex abriu a boca para fazer suas previsões.
— E lá vem você com isso...
— É sério, eu realmente acho que vai ser diferente — ela defendeu — Talvez você
encontre um amor.
Agora quem riu foi o meu pai e Nathan.
— Com certeza isso não vai acontecer — meu irmão disse — Você já viu como Skyller
trata os caras que se apaixonam por ela?
— Ei.
Ele não me deu ouvidos.
— Não é por menos que chamavam ela de coração de gelo na escola.
— É porque ela não encontrou o cara certo ainda — minha mãe disse toda sonhadora —
Quando Skyller encontrar esse homem vai perceber que tudo o que julga sobre o amor é
errado.
Eu abri a boca para responder que não era. Que a prova do que eu defendia estava bem
ali na minha frente, entre Alexandra e Jordan, mas tudo o que eu disse foi:
— Está pra nascer o homem que me fará mudar de ideia.
Poucos meses depois eu percebi que deveria ter simplesmente mantido a minha boca
fechada para tudo isso.
O homem não só já tinha nascido como eu já o conhecia.
2.Anônimo
Eu não havia bebido o suficiente para estar bêbada, mas estava bem mais feliz do que
estava quando cheguei. Dançava ao som de Cheap Thrills da maravilhosa Sia e definitivamente
não me importava com os olhares de desejos lançados para mim. Aquela noite eu só me
divertiria dançando e bebendo.
Já havia dançado com alguns carinhas bonitinhos, mas não tive nenhum desejo de
estender a noite em uma cama, então assim que percebiam que eu não estava na mesma
onda, se afastavam.
Cafajestes!
Mas eu não era muito diferente.
Até que aconteceu.
Primeiro ele se aproximou como todos os outros, dançamos colados e eu pude observar
seu rosto: parecia conhecido. Com certeza algum universitário.
Loiro, olhos verdes e parecia ter um corpo maravilhoso.
Então ele tentou me beijar e eu recusei.
— Qual é, gatinha, vai se fazer de difícil? — o bafo de bebida podia ser sentido pelo DJ
da festa.
— Apenas a dança por hoje.
Ele riu e não me levou a sério. Novamente tentou me beijar, até eu me afastar
definitivamente.
— Você não me ouviu?
O garoto me puxou com uma força incomum para um bêbado.
— Se fazendo de difícil sendo que já deu para todo mundo naquela universidade — riu
— Comigo não, belezinha. Quero experimentar o porquê todos ficam louco por essa
bocetinha.
Eu quis vomitar bem na sua cara.
Todos os caras? Eu precisaria de muito mais que um ano para dar para todos os garotos
de Campbell, mas isso não vinha ao caso, porque esse idiota estava apertando o meu braço. As
pessoas ao nosso redor não pareciam perceber, dançavam e se divertiam ao som de outra
música, que nem fiz questão de saber qual era.
— Me solta, eu disse que não quero e você vai respeitar essa decisão — o encarei séria.
— Por que está fazendo esse teatrinho, em? — grudou seu corpo no meu — É isso que
chama a atenção dos outros caras?
Sorri, mas queria matá-lo tamanho o ódio que estava sentindo.
— Deixa eu te explicar uma coisinha, loirinho oxigenado — me aproximei bem do seu
rosto — Quando uma pessoa diz não, é não.
Dito isso o peguei desprevenido ao chutar bem no meio de suas pernas. Com a
experiência que eu tenho nisso, ele me soltou tamanho a dor da joelhada.
— Sua maluca! Você me paga!
Tyler se aproximou com a feição furiosa.
— O que pensou que faria com a minha irmã, seu bosta? — puxou o garoto pelo
colarinho do pescoço — Você não sabe ouvir um não?
O cara riu, parecendo achar tudo divertido.
— Sua irmã é uma vadia, por que não pode dar para mim?
Foi o suficiente.
Primeiro um soco do lado direito do seu rosto, depois um segundo soco, só que do lado
esquerdo.
— Repete o que você disse e vai ficar sem dentes.
Meu irmão ia bater nele novamente, mas eu preferi intervir, já que ao nosso redor
começava a formar uma roda de pessoas.
— Vamos embora — eu sussurrei no seu ouvido, segurando seu pulso — Ou isso aqui
poder ficar pior.
Meu irmão pareceu perceber a atenção que arrumou para nós e assentiu, largando o
idiota no chão, como o trapo que era.
Nathaniel apareceu com os olhos arregalados.
— O que você fez? — perguntou.
— Na volta para casa eu explico — falei e ele assentiu.
As pessoas deram passagem para nós passar e pela primeira vez na vida eu senti
vergonha. Por um momento, um misero momento pensei que se não levasse a vida da forma
que levo, isso não teria acontecido.
Mas foi apenas por um momento.
Porque nenhuma mulher está livre disso.
Seja ela reservada ou mais solta.
Nenhuma mulher está livre de idiotas como aquele garoto.
Seja ela o padrão de beleza ou não.
Quando entramos no carro e Tyler deu a partida em silêncio, eu soube que não tinha
culpa de nada.
O único culpado era o covarde que ficou naquele chão imundo.
Nathaniel estava furioso por não termos contado na hora o que realmente havia
acontecido. Ele também queria ter dado uma lição no idiota da festa.
Mas entendeu quando eu disse que não poderíamos criar problemas com Ryder Fraser,
o cara não gostava de brigas nas suas festas e provavelmente Tyler seria chamado para
explicar o que aconteceu.
Quando entramos dentro de casa eu senti o cansaço me tomar, as cenas das últimas
horas também não faziam questão de sair da minha cabeça.
Em um momento eu estava me divertido de forma livre e descomprometida.
No outro estava sendo prensada por um corpo masculino que faria de tudo para ter uma
noite de sexo comigo, inclusive me violentar.
Um arrepio passou por todo o meu corpo.
Essa não era a primeira vez que isso acontecia e também não seria a última, mas até
quando eu teria que aguentar isso? Até quando eu seria chamada de vadia simplesmente por
gostar de transar quando eu queria e com quem eu quisesse. Até quando, nós, mulheres
seriamos vítimas disso?
Aquilo sempre me deixava para baixo.
Porque era como um tapa na minha própria cara me mostrando que aquela era a nossa
cruel realidade.
— Maninha, vem aqui — Nathaniel me abraçou e foi o suficiente para eu desabar.
Eu não chorava com frequência, poderia contar quantas vezes chorava por ano.
Mas aquele era um assunto delicado, aquela era uma luta que eu não passava sozinha,
que todas nós, mulheres, passávamos juntas, mesmo que cada uma estivesse espalhada por
cada canto desse mundo.
Era a nossa luta.
Senti mais dois braços ao meu redor e soube que estaria bem com os melhores irmãos
que meus pais poderiam ter arrumado para mim.
— Eu sei que dói, mas você é forte, lembra? — a voz embargada de Tyler me deixou
mais sensível — Nem precisou de mim para colocar aquele idiota no chão, estou orgulhoso de
você.
Meu irmão sempre tomava nossas dores com louvor e por isso não me surpreendi por
ver lágrimas descerem pelo seu rosto. Ele sabia que doía.
— Não estou... não estou chorando só por mim — respirei fundo antes de continuar: —
E todas as mulheres que não tem força para colocar um idiota desses no chão? Todas as
mulheres que não tem ninguém ao seu redor para salvá-las? Todas as mulheres que sofrem
em silêncio por um acontecimento que se ela denunciar é capaz de ser chamada de culpada?
Eu estou sofrendo por elas também.
— Eu sei — Ty me abraçou mais forte — Eu sei, pequena. Queria que tudo fosse
diferente, mas nada que queremos acontece nesse maldito mundo.
— O que tem que continuar é vocês, mulheres, não se calarem — Nathan disse
enxugando minhas lágrimas, percebi que seus olhos também estavam úmidos — Tenho
orgulho de cada uma. Vocês são fodas só por existirem e aguentarem essas cólicas
demoníacas.
E claro que não seria o Nathan se não descontraísse um pouco. Por isso eu o amava.
Sorri fraco, um pouco mais calma, mas nem um pouco feliz.
— Eu vou subir, tudo bem?
— Não quer que eu deite com você? — Tyler perguntou — Como nos velhos tempos, eu
contanto uma história melhor que a de Rav até você dormir.
Beijei sua bochecha.
— Não precisa, eu irei achar minha própria história.
Eles respeitaram a minha decisão. Subi para o meu quarto, retirei minha roupa, meus
tênis e fui para o banho. Minutos depois eu vestia uma camisola e me enfiava debaixo do
cobertor.
Peguei meu celular que havia deixado em cima da cabeceira e comecei a futricar nele,
tentando não pensar nos últimos momentos, mesmo que ele estivesse ali, na minha frente.
Sem pensar muito, abri a conversa do estranho e fiquei surpresa ao ver que ele estava
online.
Foi também sem pensar que enviei as seguintes palavras:
“Há uma teimosia em relação a mim que nunca pode suportar ter medo da vontade dos
outros. Minha coragem sempre aumenta a cada tentativa de me intimidar.
—Jane Austen
Tento ser forte a todo momento, anônimo, e sei que não deveria estar mandando essa
mensagem para você. Na verdade, seu número deveria estar bloqueado, mas por algum
motivo não consigo. Tento ser forte por todas as mulheres que não são, mas hoje fui fraca. As
únicas coisas que passam pela minha cabeça nesse momento é: quantas vezes ele já fez isso?
Quantas vezes mulheres não tiveram a mesma sorte que eu? Quantas vezes mais passaremos
por injustiças como estas?
Elizabeth Bennet também é a minha protagonista favorita e é dessa frase que eu me
lembro quando me sinto fraca.”
5. O pedido
Caleb Lee Walker
Olhei para aquela mensagem sem saber ao certo como reagir.
Ela havia me respondido.
Só que havia algo de diferente em sua mensagem, eu notei ao ler a primeira linha.
Skyller parecia estar verdadeiramente abalada e eu que achava que ela nunca se abalava com
nada tive uma surpresa ao ver o desespero e tristeza em cada palavra naquela mensagem.
O que aconteceu?
Ignorei a frase “deveria ter bloqueado seu número” e prestei mais atenção na parte que
ela foi clara ao dizer que por algum motivo não conseguia. Talvez isso signifique que Skyller
gosta de receber minhas mensagens, talvez isso fosse um sinal para eu continuar.
Cliquei em escrever uma mensagem e pensei no que digitar a seguir.
“Quer conversar sobre o que aconteceu?”
Sem nenhuma citação. Apenas a minha preocupação impossibilitando que eu pensasse
em uma frase de um autor para estar à altura de Jane Austen.
A resposta não demorou a chegar.
Foi a primeira vez que senti Skyller Blossom frágil.
“Quero, por favor...”
Certo.
Ela queria conversar comigo e eu sempre quis conversar com ela. Disse a mim mesmo
para não ficar nervoso, era por mensagem, eu conseguiria fazer isso sem estragar tudo.
Mas o coração ainda acelerava. Cada vez mais rápido.
“Quem é ele?”
“Ele estava na festa de hoje. Geralmente eu gosto de sair e me divertir no final de
semana, mas esse, em especifico, queria apenas dançar e beber, nada de me envolver com
alguém e estender a noite. Ele se aproximou de mim, dançou comigo e tentou me beijar a
força. Se eu não tivesse chutado as suas bolas...não quero nem imaginar o que mais teria
acontecido.”
Senti minha pele formigar tamanha a raiva que senti dele.
Agora sua mensagem fazia todo o sentido para mim. Não imaginava o que uma mulher
poderia sentir ao tentar ser forçada a algo.
Até mesmo a mulher mais forte, como Skyller Blossom, desabaria.
Pela primeira vez senti muita raiva de uma pessoa e me assustei pelo caminho que meus
pensamentos estavam fazendo. Se eu estivesse com ela, provavelmente teria socado a cara
dele.
Quando nunca havia matado nem uma formiga.
“Ele é um ridículo. Acredita que disse que eu transei com mais da metade da faculdade?
ISSO É HORRÍVEL! Eu não transei nem com dez!”
Aquilo era informação demais.
Mesmo que Skyller tenha mandado a mensagem em um excesso de fúria e desabafo
aquilo foi como uma faca raspando no meu coração. Eu senti o exato momento que ele cortou,
um pedaço pequeno, mas ainda sim significativo.
Digitei a minha mensagem tentando não expressar o que eu estava sentindo. Felizmente
essa conversa não era pessoalmente ou eu já teria fugido.
“Sinto muito que vocês, mulheres, passam por isso. Em um século tão inovador como
esse não era para nada disso ainda acontecer, mas estou feliz por ter chutado ele. Me sinto
menos culpado por não estar lá e fazer o mesmo.”
Não. Eu não deveria ter falado isso. Da onde havia aparecido tanto coragem?
Mensagens...eu sempre fui melhor com textos do que a fala.
Quando pensei em excluir era tarde demais, ela já havia visualizado.
Olhei para Andrew que dormia tranquilamente na sua cama, já se passava das duas
horas da manhã. Seria engraçado ver sua reação amanhã, quando eu contasse que conversei
por mensagens com Skyller Blossom.
Ela também havia me seguido no instagram e meu coração quase disparou quando vi a
foto que postou no storie. Era simples, mas ainda sim eu sentia as batidas intensificarem por
ver tanta beleza em uma simples imagem.
Eu era totalmente tolo por aquela garota.
Austen nunca esteve tão certa quando disse que todos somos tolos quando amamos.
“Quem é você, anônimo?”
“Você provavelmente pararia de falar comigo se soubesse quem eu sou.”
Fui sincero, porque aquela era a verdade. Se Skyller descobrisse que o rosto de quem
manda mensagens românticas para ela é o nerd tímido e inseguro da faculdade, nunca mais
falaria comigo.
E não é apenas a minha insegurança falando mais alto.
É a verdade.
Há mais ou menos um ano Andrew ouviu uma conversa na cafeteria do campus. Eram
dois jogadores de futebol e um deles havia passado a noite com Skyller, pelo o que meu amigo
entendeu, estava ficando com ela frequentemente e estava se apaixonando. Naquela manhã
ele contava ao amigo que havia levado um fora quando fez um jantar romântico e a pediu em
namoro.
No mesmo dia que Andrew me contava o que havia escutado, ele me mostrou o garoto
que Skyller Blossom deu o fora.
Se ele não teve nenhuma chance, imagina eu?
O garoto era bonito, ombros largos, cabelos castanhos e com certeza malhava ao invés
de ler livros, como eu.
Andrew me aconselhou a esquecer a garota, porque provavelmente ela não queria
nenhum relacionamento. Que aquilo não tinha nada a ver com a aparência e sim com uma
escolha dela.
Tentei acreditar em suas palavras e também tentei seguir o seu conselho.
Mas aqui estou eu, um ano depois, ainda apaixonado por Skyller Blossom.
E Andrew? Como o amigo que era preferiu me ajudar do que dar conselhos que eu
deveria seguir, mas não conseguiria.
Não sei ao certo como esse sentimento surgiu.
Só sei que em um momento eu olhava para Skyller e no outro estava terrivelmente
atraído por ela.
Pelo o seu sorriso, pelo o seu olhar, pela a sua beleza, pela a sua concentração, pelo o
seu talento, por tudo que Skyller tinha.
E, portanto, não era fácil esquecê-la. Não quando parecia que o destino amava nos
trapacear e me fazia enxergá-la diante de tantos alunos pelo campus da universidade.
O que fazer quando sou apaixonado por uma garota popular, bonita e inteligente e não
tenho coragem de olhar nos olhos delas e dizer?
Não vou mentir dizendo que a ideia de Andrew não estava martelando em minha
mente, porque ela estava.
Era a chance que eu teria de saber se ela se apaixonaria por mim ou não, sem sair
totalmente machucado disso tudo.
Eu preferia saber que entre nós dois não aconteceria nada através dos sinais que ela
passaria, do que por sua boca.
Não aguentaria ouvir dela que eu não era o cara certo.
“Isso é ridículo, você sabe, né? O que acha que eu sou? Alguém que julga pela
aparência? Kkkk se você acha que eu sou dessa forma se apaixonou por uma versão errada de
mim.”
Sorri para a mensagem recebida.
Não, eu sabia que ela não julgava pela aparência.
A pessoa que achava que ela não ficaria comigo por causa disso sou eu, não ela.
Mas eu sabia que mesmo assim Skyller se afastaria de Caleb.
Da mesma forma que ela se afastou do cara que a pediu em namoro.
Simplesmente porque Skyller não aguentaria manter uma amizade quando sabia que
isso só machucaria o outro lado.
Pelo menos era isso que eu observava.
“Sei que você não julga pela a aparência, da mesma forma que sei que foge do amor.”
A mensagem não demorou a ser respondida.
“Eu não fujo do amor, só não gosto de depender de ninguém.”
Sorri com aquilo, porque entrelinhas era a mesma coisa.
“E não é a mesma coisa?”
Dessa vez a mensagem demorou um pouco a ser respondida, eu observava os três
pontinhos se mexendo indicando que ela estava digitando, mas em seguida ela parava, para
depois voltar novamente. Alguns minutos depois recebi a simples pergunta:
“Você realmente é apaixonado por mim?”
A pergunta não era nada simples e sabendo que ela nunca relacionaria o anônimo ao
Caleb, fui sincero na minha resposta.
“Desde o primeiro dia que a vi.”
Talvez eu tivesse assinado a carta de distanciamento a partir daquele momento. Porque
Skyller iria preferir se afastar do que me magoar. Pelo menos foi isso que pensei antes de
receber sua resposta.
“Como isso é possível? Eu nem o conheço, ficaria mais fácil se você tivesse um rosto. Eu
já falei com você? “
Eu fui sincero novamente em minha resposta.
“Não sei como é possível. Às vezes paro para pensar e me parece loucura, mas eu só
sinto e não tenho nenhum controle sobre isso. E já nos conhecemos, Skyller.”
“Não consigo imaginar quem é você.”
“Se eu revelasse me daria uma chance?”
Não sei como surgiu tanta coragem para mandar aquela mensagem, mas eu queria
saber, queria saber se eu tinha uma chance sem seguir aquele plano ridículo de Andrew.
Novamente a mensagem demorou a ser respondida e quando ela chegou senti o ardor
no meu coração novamente.
“Eu não estou procurando um relacionamento, sinto muito. Mas acho que ser sincera é o
melhor nessas horas, prefiro que você encontre outra garota, alguém que ama jantares
românticos e piquenique sob a luz do luar. Eu não sou essa garota, sinto muito.”
Diante daquela resposta eu deveria ter me privado de passar mais vergonha pelo o
anônimo, mas mesmo assim perguntei:
“Por quê?”
“Acho melhor pararmos de conversar, anônimo, foi bom me distrair com você, mas não
quero quebrar ainda mais o seu coração.”
Diante dessa resposta ela ficou off-line e eu soube que mesmo se mandasse cem
perguntas, ela não me responderia.
Eu definitivamente havia assinado a minha carta de distanciamento.
Skyller parecia que olhava o filme pela primeira vez. Suas expressões, além de lindas,
eram engraçadas. Seus olhos brilhavam, seu rosto chocado com os acontecimentos como se
não soubesse que aquilo aconteceria me deixaram extremamente tranquilo.
Tranquilo o suficiente para as batidas do meu coração voltarem a bater normalmente e
eu apenas admirá-la ainda mais.
Tão perto, tão linda.
Será que ela sabia do poder que tinha? Com certeza sim.
Skyller é confiante, sabe que é o sonho de muitos garotos universitários e é invejada por
muitas garotas que não conseguem chamar nem a metade da atenção que ela consegue.
Na metade do filme ela se moveu e ficou ainda mais próxima de mim, o topo da cabeça
próximo ao meu rosto me fez sentir o perfume de seus cabelos. Era um shampoo muito
cheiroso, me lembrava morangos.
Quando o plot twist final do filme foi revelado eu entendi o porquê aquele era o seu
filme preferido. Não vou mentir, era fantástico.
Contava a história de um empresário bem-sucedido que foi incriminado pela morte de
sua amante. No dia do julgamento, ele teria apenas uma hora e quarenta e oito minutos para
contar toda a verdade com detalhes para a advogada Virginia Goodman, para conseguir
inocentá-lo.
Mas o filme é muito mais que isso.
Há segredos entre os casais de amantes que poderiam arruinar a sua inocência. E o
final... caramba!
— E então? — Skyller levanta o rosto para poder estudar a minha reação.
Até aquele momento eu estava chocado com o final do filme, mas quando ela ergueu
seu rosto e ficou ainda mais perto de mim esqueci até mesmo do que estava surpreso.
Esverdeados.
Seus olhos eram dos mais lindos esverdeados que eu já havia visto. Seu rosto sem
maquiagem, os lábios bem delicados e uma pele que eu tenho certeza ser macia.
Incrivelmente linda.
Eu sabia que ela era linda, mas constatar tão de perto, com seus olhos sem desviar dos
meus era ainda mais intenso.
Ela esperava uma resposta minha.
Lembrei-me. Havia um sorrisinho nos seus lábios que não consegui defini-lo, mas
provavelmente estava na cara que eu estava abobado com a sua proximidade e sua beleza.
Lembrei do que Andrew disse mais cedo e automaticamente fiquei nervoso. O
sentimento só se intensificou quando seus olhos desviaram para a minha boca.
O pensamento de que ela fosse me beijar fez com que minhas mãos ficassem úmidas de
suor. Por Deus! Eu era um idiota!
— Estou esperando uma resposta, anjo da guarda — ela sussurrou e eu senti o seu
hálito de menta adentrar minhas narinas.
Skyller definitivamente não tinha nenhum defeito. Nem um mau hálito se quer!
Tentei ignorar o arrepio que senti ao ouvir sua voz em um sussurro, mas era impossível.
Ela me afetava em todos os sentidos.
— E... — Parei de falar, não conseguiria dizer palavras completas para formular uma
frase decente.
— Respira — ela sorriu, mas não era nada zombeteiro, era compreensível e mesmo
assim me senti ainda mais envergonhado.
Em nenhum momento ela se afastou.
— Gostei — consegui dizer.
Skyller largou a minha mão e se afastou apenas para se ajeitar na cama, colocar um
braço sobre o meu peito e apoiar sua cabeça em cima dele. Continuou a ficar próxima de mim,
confundindo a minha cabeça e intensificando os meus sentimentos.
— Só um gostei? Vamos lá! Sei que tem muito mais para dizer desse filme do que uma
simples palavra.
Era só eu que estava afetado ali.
Era só eu que estava abobalhado.
Por isso tentei expulsar tudo o que estava sentindo para um cantinho do meu coração e
lidar com a resenha que Skyller queria que eu fizesse do filme.
— É incrível — eu disse a fazendo sorrir — Um plot twist que eu não imaginava no
fin...final.
— E o que mais?
Sorri, sabendo exatamente o que ela queria ouvir.
— Provavelmente o melhor filme que já vi no ano.
Ela fez um beicinho que a deixou ainda mais linda.
— No ano? E na vida?
— Já assistiu Os sete crimes capitais? — ela negou — Esse fica em primeiro lugar para
mim.
— Então teremos que assistir esse também — sugeriu.
Eu concordei. Aquele filme era incrível de todas as formas e também tinha um final
surpreendente.
Skyler ainda me olhava com um brilho indecifrável no olhar, eu queria saber o que se
passava na sua mente, seria algo bom ou ruim?
— O que foi? — Consegui perguntar.
— Você está vermelho — a sua mão livre foi até a minha bochecha.
Estremeci ao sentir seu toque sutil em minha pele quente de vergonha. Em outro
momento eu teria saído daquela cama e fugido como o diabo foge da cruz, mas algo em seu
toque e em seu olhar me manteve preso.
Preso a ela.
— Está com vergonha, né?
Assenti, preso em seu olhar. Nem um pouco desconfortável ou mais envergonhado ao
admitir aquilo.
— Não precisa ter vergonha de mim, anjo da guarda — seu toque ainda queimava minha
bochecha. Mas em um bom sentido. — Somos amigos, né?
— Somos — infelizmente.
— Eu vou te fazer uma pergunta extremamente pessoal agora — declarou ao deixar de
tocar minha bochecha, permanecendo perto de mim — Já esteve assim tão próximo de uma
garota?
Novamente a conversa com Andrew me veio na cabeça. Ela com certeza gostaria de
querer saber mais sobre minhas experiências, ou melhor, minhas inexperiências.
Será que o beijo que eu dei aos onze anos contava? Não.
Aquilo havia sido um desastre.
— Não — murmurei.
Ela assentiu, parecendo compreender minhas reações.
Era muito mais que isso.
Mas eu não estava preparado para falar sobre meus problemas pessoais para a garota
que sou apaixonado.
A porta foi aberta abruptamente e um Nathaniel entrou no quarto, ao ver nossa
proximidade sorriu maliciosamente.
Skyller se afastou e encarou o irmão com as sobrancelhas arqueadas.
— Desculpa atrapalhar, mas a janta está pronta — anunciou — E dessa vez queremos
que fique, Caleb.
Neguei.
— E..eu vou...
— Não mesmo — Skyller interrompeu — Hoje você fica, tudo bem?
Ela parecia realmente querer isso e mesmo sabendo que era difícil estar no meio de
muitas pessoas e que ainda eram importantes para Skyller, eu assenti, concordando em ficar.
— Ótimo! Espero vocês lá embaixo — Nathaniel disse e saiu do quarto, deixando a porta
aberta.
Me levantei da cama e calcei meus tênis, Skyller fez o mesmo com a sandália aberta que
usava. Quando estávamos prontos, descemos para o jantar, encontrando os irmãos Blossom
ao redor da mesa. Nenhum sinal de Jordan, o que eu agradeci profundamente.
— O que temos para comer hoje, hum? — Skyller se sentou ao lado de Tyler e apontou
para eu sentar no banco a sua frente.
— Como não fizemos o dia do lixo ontem, decidi preparar uma lasanha para hoje —
Alexandra trouxe um prato grande de lasanha e colocou no meio da mesa.
— Hum... — Nathaniel apreciou o cheiro — Caleb você vai se apaixonar pela lasanha de
minha irmã.
Sorri em resposta.
Eles começaram a se servir e enquanto faziam, Alexandra aproveitou o momento para
falar:
— Quero pedir desculpas pela forma que Jordan tratou você, Caleb. Ele está um pouco
irritado nos últimos dias e acabou fazendo uma piada sem graça como aquela.
— Tu...tudo bem.
— Não vamos tocar no assunto Jordan, por favor — Tyler pediu — Ou então eu perco o
apetite.
Percebi os olhos de Alexandra fitarem Tyler — que estava concentrado em cortar um
pedaço de sua lasanha — com certa tristeza.
Ela provavelmente queria que os irmãos se dessem bem com o namorado.
Mas era impossível quando o cara parecia ser um idiota. Isso foi a primeira impressão
que tive, ao me tratar daquela forma sem nem me conhecer.
Me servi de um pedaço de lasanha e comecei a comer em silêncio. Eles conversavam
bastante, inclusive Nathaniel, que percebi que entre os quatro era o que mais gostava de falar.
Em um momento do jantar levantei meu olhar e encontrei Skyller me olhando. Ela sorriu
para mim me fazendo retribuir automaticamente. Seu olhar, seu sorriso, tudo nela era
contagiante.
— E então...como estão as aulas? — Nathaniel perguntou fazendo Skyller cuspi o suco
que tomava, se afogando e eu querer cavar um buraco para enfiar meu rosto nele.
Todos sabiam sobre as aulas?
Tyler tentava trazer Skyller de volta, batendo em suas costas. Já eu estava vermelho
como um pimentão.
— Meu Deus! — Skyller finalmente falou — Você é tão inconveniente, Nathaniel.
— Foi apenas uma pergunta simples — deu de ombros — Estou curioso.
Não acredito que eles sabiam.
Skyller me olhou e sussurrou um pedido de desculpas, me limitei apenas a assentir. Era
desconfortável saber que seus irmãos sabiam o motivo de eu estar aqui duas vezes por
semana.
— Qual curso está fazendo, Caleb? — Tyler perguntou tentando amenizar o clima.
— Literatura.
— Caleb vai ser um grande escritor — Skyller sorriu orgulhosa, me fazendo sorrir junto.
— Incrível, eu amo livros — Alexandra se meteu no assunto — O que escreve?
— Ro...romances — respondi.
— Tipo Nicholas Sparks? — Nathaniel perguntou.
— Minhas histórias têm finais felizes.
Os irmãos riram.
— Último livro que li de Sparks, chorei até dormir — Alexandra disse — É incrível a
forma como ele me faz chorar como um bebê.
— É por isso que prefiro meu Donlea e King — Skyller falou.
— Nunca li um livro de ficção — Nathaniel admitiu pensativo — Talvez eu mude isso.
— Um dia eu peguei It a coisa para ler, é mais interessante do que o filme — Tyler falou.
— Todos os livros são mais interessantes que as adaptações — Skyller disse o óbvio —
Não concorda, Caleb?
— Concordo.
O restante do jantar continuamos conversando sobre livros e suas adaptações, percebi
que Alexandra era muito fã de Harry Potter e qualquer crítica de Nathaniel, ela defendia com
louvor.
Me senti confortável o bastante para falar minhas adaptações favoritas e conversar um
pouco mais com os irmãos Blossom.
Percebi naquele jantar como aquela cumplicidade entre eles existia, como um olhava
para o outro com carinho e como um cuidava do outro. Era difícil de ver aquela irmandade por
aí, era muito raro.
Mais uma vez percebi que permaneceram no assunto de livros porque eu me sentia
confortável.
Igual Skyller fez comigo na aula anterior.
Eram boas pessoas e quando o jantar acabou, e o horário de ir embora se fez presente,
senti vontade de ficar um pouco mais e rir das implicâncias de Nathaniel e Alexandra, olhar
mais para o sorriso lindo da garota que eu sou apaixonado e conversar mais com Tyler.
Era estranho me sentir assim com pessoas que até semana passada eu só havia visto de
longe, mas era bom.
— Ficou bravo por eles saberem sobre as aulas? — Skyller perguntou assim que saímos
do apartamento.
Neguei.
— No início fiquei desconfortável, mas conforme o jantar pas...passava percebi que
vocês contam tudo um para o out...outro.
Ela assentiu.
— Não escondemos nada, é meio que uma regra entre nós.
— Tudo bem, não fiquei br...bravo.
— Obrigada por entender — se aproximou mais e me abraçou — Até a próxima aula?
A abracei de volta, sentindo seu corpo pequeno e delicado contra o meu, junto com o
seu perfume estupidamente perfeito.
— Sim, até.
Skyller se desfez do abraço e antes de se afastar beijou o meu rosto, fazendo meu
coração palpitar no peito ao sentir seus lábios mais próximos da minha boca do que a minha
bochecha.
— Até mais, Caleb.
— At...até.
Ela sorriu e entrou dentro do seu apartamento, fechando a porta logo em seguida.
Com o coração ainda querendo disparar no peito eu fui para os dormitórios com um
pouco mais de confiança do que sai de lá.
8. Um brinde aos idiotas
Skyller Blossom
Na sexta-feira eu acordei com o telefone tocando, peguei o aparelho e ainda sonolenta
atendi a ligação, sem me importar em ver quem estava do outro lado.
— Skyller Blossom — a pessoa em questão, é Ravenna, minha mãe — Eu nunca pensei
que seria o tipo mãe que dramatiza tudo, mas vocês fazem eu ser dessa forma. O que estão
fazendo de tão interessante que não tiveram tempo de ligar para a sua querida mãe a semana
toda?
— Oi, mãe. Desculpa por isso, mas as coisas estão corridas por aqui — não era uma
mentira, afinal.
— Corridas a ponto de não ligar para a sua mãe? Combinamos que nos falaríamos todos
os dias, agora não recebo uma ligação por semana — dramatizou.
— Eu sei o que combinamos, sinto muito, mas eu realmente não tive tempo, agora dos
meus irmãos não posso falar por eles.
— Deixa que com eles eu me entendo.
Ouvi um movimento no fundo da ligação e a voz do meu pai perguntando se estava
falando comigo, minha mãe concordou e logo em seguida colocou no viva voz.
— Filha, estamos com saudades — Dylan Blossom falou — Eu e sua mãe estamos
pensando em ir aí passar um final de semana com vocês.
— Seria ótimo, mas vocês não têm mais nada de interessante para fazer ao invés de vir
para Campbell? — Não foi grosseiro, foi uma pergunta direta e simples.
Meus pais passaram vinte anos de suas vidas tomando conta da gente, eles mereciam
um descanso e a nossa ausência no rancho poderia proporcionar isso, afinal, minha mãe e meu
pai dedicaram parte de seu tempo juntos para criar uma família ainda muito cedo.
Eu participei do casamento deles.
— Eu só quero que saibam que entendo a preocupação de vocês, mas eu estou bem,
Nathaniel também e principalmente Alex e Tyler, nenhum teve uma crise nos últimos anos e
continua igual.
— Sabemos disso, querida, mas meio que nos acostumamos com vocês — minha mãe
admitiu — É estranho ter esse casarão tão vazio.
— Tenho certeza que vocês arrumam o que fazer quando estão no tédio — a afirmativa
foi inocente.
— Claro que encontramos, muitas coisas interessantes — O tom malicioso de minha
mãe poderia ser notado até mesmo por uma pessoa desconhecida.
— Por favor, não preciso saber da intimidade de vocês dois por esse rancho — reclamei.
Eles riram.
— E você? Como estão com os gatinhos? — Minha mãe perguntou e ouvi meu pai bufar.
Sorri.
— Estou parada nas últimas semanas, mas pretendo mudar isso hoje à noite na festa
que teremos.
— Não se esqueça de usar camisinha — minha mãe lembrou como se fosse a minha
primeira transa.
— Podemos mudar de assunto? — Meu pai ciumento perguntou — O que pode nos
contar de novidades que não se relacione com sua vida sexual?
Eu ri ao mesmo tempo que me espreguiçava na cama.
— Estou ajudando um garoto a conquistar uma menina que ele está apaixonado — falei
e omiti que a garota que Caleb está a fim é Mackenzie, ou então minha mãe falaria para minha
tia Alisson que acabaria contando para minha prima.
— Ajudando? — Meu pai questionou, provavelmente confuso.
— Ele é bem tímido e pelo o que eu notei não tem experiência com garotas, é o mesmo
garoto que me ajudou a ser aprovada no trabalho final no semestre passado, não vi mal em
retribuir o favor.
— E como está o ajudando? — Mamãe questionou.
— Aí você já quer saber demais, Sra. Blossom — ri baixinho.
— Só fiquei curiosa sobre o garoto, você não, amor? — Perguntou ao meu pai.
— Sim, estou muito curioso. Não é um idiota se passando de santo para se aproveitar de
você, né, querida?
Dessa vez eu ri alto. Se eles conhecessem Caleb perceberiam que aquilo que meu pai
disse não faz o menor sentido.
— Não precisa se preocupar, pai, ele é uma boa pessoa.
Com certeza ele é.
Pensei comigo mesmo. Me lembrando das horas agradáveis que passei ao lado do meu
anjo da guarda no dia anterior.
Assistir filme abraçada a ele com minha cabeça sobre o seu peito incrivelmente não me
incomodou como eu achei que aconteceria em algum momento.
Talvez fosse porque a companhia de Caleb era agradável.
Por mais que ele fosse tímido e ainda não soubesse como conduzir uma conversa por
muito tempo, ainda sabia como chamar atenção, se mantendo fofo com aquelas bochechas
coradas e suas falas cortadas pelo o gaguejar.
Mackenzie tinha sorte de ter alguém como ele apaixonado por ela.
Pensando melhor, ambos combinavam. Ela sonha com o príncipe encantado — mesmo
que ache que esse príncipe seja Bradley Aldrich — e Caleb parece ser o cara que faria tudo
para vê-la sorrir todos os dias.
Eles com certeza combinam.
Por isso me senti extremamente mal por pensar —mesmo que seja por alguns segundos
— em beijá-lo.
Quando o filme acabou e ergui minha cabeça para saber o que ele tinha achado. Foi por
um misero segundo, mas o pensamento de beijá-lo passou por minha cabeça, pelo menos até
ele responder a minha pergunta e negado sobre ter ficado tão próximo a uma garota daquela
forma que ficamos.
O que eu estava pensando? Estava ali para ajudá-lo a conquistar a minha prima. Não
para ensiná-lo a beijar ou qualquer coisa do tipo.
Modos, Skyller.
Caleb não era como os outros garotos, ele é romântico.
Repeti isso mentalmente, até a voz da minha mãe me chamar para a realidade.
— Skyller, você me ouviu?
— Desculpa, me distrai — admiti.
Eles soltaram um risinho, parecia uma piadinha interna, franzi as sobrancelhas e
perguntei:
— O que foi?
— Só estávamos pensando o quanto Caleb é uma boa pessoa — meu pai disse risonho.
Não entendi e preferi nem fazer questão de entender.
— Mãe, pai, eu preciso me arrumar para a aula — me levantei da cama ainda com o
telefone no ouvido — Tudo bem se conversarmos mais tarde?
— É claro que sim — minha mãe respondeu — Só queríamos saber como vocês estavam.
— E agora que sabemos, iremos tomar um banho no lago e aproveitar o dia bonito aqui
no rancho — meu pai falou.
Eu sabia bem como eles iriam “aproveitar”, ri comigo mesma.
— Não direi para usarem camisinha, já que não corro o risco de ter um irmão bem mais
novo — alfinetei.
— Nossa — meu pai resmungou, ao mesmo tempo que lamentava: — Essa doeu, você é
muito má, Sky.
Por anos meu pai sofreu por não poder ter filhos biológicos, mas essa não era a nossa
realidade agora. Conforme os anos passaram, ele se tornou um homem mais confiante e
percebeu que estava destinado a ter nós como família. Hoje em dia, ele brinca com o próprio
problema, da mesma forma que eu fiz agora.
— Te amo, papai.
— Eu também, filha, demais.
— Impossível se manter passível com vocês dois se declarando assim na minha frente —
mamãe disse — Amo vocês todos.
Sorri.
— Agora eu vou desligar, ok? Até a próxima, amo vocês — repeti.
— Até, meu amor. Também amamos você — minha mãe se despediu.
Desliguei a ligação e concentrei-me em me arrumar para a faculdade. Finalmente hoje
era sexta e eu pretendia aproveitar o meu dia, tanto nas aulas de desenhos de hoje, como na
festa que Bradley Aldrich daria.
Logo que chegamos no campus, fomos recepcionados por duas garotas sorridentes que
entregavam convites para uma festa, mas não era uma festa qualquer.
— Baile de máscaras? — Nathaniel avaliou o convite em sua mão com a testa franzida —
Isso não é tão ensino médio?
— Na verdade, não — Alexandra respondeu com aquele ar de sonhadora — Não
acredito que pela primeira vez estou animada para uma festa dessa universidade.
— Vejam só, será organizada por Beca Rayven — Tyler observou o seu convite — Ela não
cansa de dar festas?
Beca Rayven é a líder da fraternidade feminina e também das líderes de torcidas. Então
é claro que ela não se cansa de dar festas, faz parte para manter o status dela.
— As festas de Beca são boas, vamos ir, né? — Nathaniel perguntou — Conto com todos
para irmos combinando nas máscaras.
Arqueei as sobrancelhas. Ele estava falando sério? Se tratando de Nathan, é claro que
estava.
— Nem você acredita que vou combinar fantasia com você — Tyler falou o que todos
estavam pensando, até mesmo eu, que assenti concordando — E não sei se vou, talvez eu
tenha uma corrida nessa noite.
Nathan revirou os olhos.
— Queria tanto combinar máscaras, vocês são péssimos irmãos.
Olhei para o convite dourado em minha mão, havia uma máscara desenhada nele e
letras pretas cursivas convidando para o baile de máscaras de Beca, junto com o endereço da
casa da fraternidade, como se ninguém aqui soubesse onde se encontrava.
— Eu vou — decidi — Não perco uma festa, mesmo que ela seja neste estilo, mas sem
combinar fantasias ou máscaras, Nathan.
— Eu combino com você, maninho — Alexandra enlaçou o braço no seu.
Meu irmão sorriu satisfeito.
— Pelo menos Alex me ama — dramatizou — Por isso você é a minha preferida.
Eu até iria retrucar, mas alguém chamou a minha atenção do outro lado do campus.
Olhei no relógio em meu pulso e ainda faltavam dez minutos para começar a minha primeira
aula, por isso me despedi dos meus irmãos rapidamente e caminhei até Caleb com uma ideia
em mente.
Ele estava acompanhado de Andrew, assim que notaram a minha presença encerraram
o assunto.
— Oi — sorri e olhei para as suas mãos que também seguravam o convite — Vejo que
também receberam o convite para o baile de máscaras.
Caleb assentiu.
— Oi — cumprimentou.
— Oi, Skyller — Andrew também cumprimentou — Preciso ir mais cedo para a aula, nos
vemos depois, bebê?
A pergunta foi para Caleb, que fechou os olhos por alguns segundos antes de assentir.
Quando o amigo se afastou ele voltou a abrir suas pálpebras e me encarou.
— Acho fofo o relacionamento de vocês — fui sincera.
— El...ele é um bo...bom amigo — falou.
Assenti.
— Concordo, mas não foi pra isso que me aproximei de você — balancei o convite em
sua frente — Já sei o que faremos na nossa próxima aula.
Ele não entendeu, percebi isso ao ver sua testa se franzir.
— Vamos ao baile.
Foi apenas ouvir o que eu disse para começar a negar freneticamente.
— Não.
— Não? Por que não?
— Não go...gosto de fes...festas — admitiu, ficando com as bochechas levemente
vermelhas.
Eu já disse, mas tenho que repetir novamente: ele ficava ainda mais bonito com as
bochechas vermelhas e elas realmente ficavam quentes de vergonha, percebi isso ao tocá-las
no dia anterior.
Ok. Foco, Skyller.
Não gosta de festas? Isso não deveria me surpreender, estava na cara que Caleb é o tipo
de pessoa que prefere ficar lendo um livro, jogando um vídeo game ou até mesmo assistir um
filme do que ir a uma festa.
— Mas não é uma festa comum — apontei para o canto do convite onde indicava o tipo
de trajes: época. — Viu? É um baile com o tema de época, vai ser interessante e podemos
fazer você se aproximar de Mackenzie lá.
Ele continuou negando.
— Não po...posso — disse.
— Por quê?
— Não me sin...sinto bem em lug...lugares com muitas pe...pessoas.
— Mas posso ficar com você — insisti — E é uma ótima oportunidade de se aproximar
de Mack, tenho certeza que ela irá ao baile. Faz o tipo dela.
Caleb ainda parecia pensativo e muito indeciso, por isso peguei sua mão pouco me
importando com alguns olhares nada discretos que estávamos recebendo.
— Prometo ficar com você até se sentir confiante o bastante para ir falar com a garota
que você gosta.
Ele olhou para nossas mãos juntas para depois olhar dentro dos meus olhos, engoliu em
seco e assentiu.
— Tudo bem — concordou.
Sorri animada por ter conseguido o convencer.
— Nossa próxima aula será no domingo, ok?
— Domingo?
— Sabe dançar, Caleb?
As bochechas dele ficaram ainda mais vermelhas quando negou.
— Eu já imaginava e é exatamente por isso que faremos uma aula extra, precisa
aprender a dançar.
— Acho que não é necessário — tentou argumentar, mas ao ver o meu semblante,
perguntou: — Ou é?
— É claro que é necessário! Você vai perceber que a melhor forma de chegar na garota
que você gosta é através da dança.
— Tudo bem — sorriu.
— Ótimo! Fico feliz que tenha concordado — percebi que os minutos haviam passado
voando, por isso, tratei de me despedir — Conversamos depois?
Ele assentiu.
Beijei sua bochecha antes de largar sua mão e me afastar para ir em direção ao prédio
que eu teria aula.
Estava contente por ter conseguido convencê-lo de ir ao baile e ainda aprender a
dançar. Seria muito divertido e com isso eu esperava quebrar mais a timidez que Caleb ainda
sentia comigo.
Eu sabia que era questão de tempo até ele parar de gaguejar na minha presença.
Eu ainda não era 100% sua amiga e tudo bem, Caleb é um garoto tímido e reservado, se
expressar em palavras é difícil para ele. Consegui notar isso logo nos primeiros dias que
passamos juntos.
Mas eu tenho certeza que em breve seriamos bons amigos e ele ficaria 100%
confortável comigo.
Entrei no prédio que seria a minha próxima aula e Anne Decker já estava na sala de
desenhos me esperando.
— Finalmente! Onde você estava? — Perguntou.
— Precisei conversar com um amigo antes — respondi — Por que tanta ansiedade para
falar comigo?
— Recebeu o convite para o baile?
Assenti.
— Estou animada — ela continuou — Estava pensando...e se eu convidasse o seu irmão
para ir comigo?
— O que?
— Isso que você ouviu — sorriu, toda sonhadora — Hoje irei na festa de Bradley e vou
aproveitar para me aproximar do seu irmão.
— O que você bebeu? — Perguntei, porque aquilo que ela estava falando era muito
informação para simplesmente jogar na minha cara. Ela enlouqueceu? Ou está só bêbada?
— Digamos que a poção da coragem.
— Eu prefiro chamar de poção da burrice — bufei enquanto retirava o caderno de
desenhos e o estojo com os materiais que precisava para hoje de dentro da bolsa — Quantas
vezes vou ter que te dizer que só vai quebrar o seu coração tentar se envolver com meu
irmão?
— Você não precisa repetir, eu já entendi tudo isso, mas não quero ficar com o benefício
da dúvida. Vou tentar e se eu ver que não vai dar certo, vou cair fora, ok?
Sem alternativas, dei de ombros.
— Só não quero ter que te dizer que eu te avisei.
A professora entrou na sala interrompendo a nossa conversa.
— Mais tarde conversamos sobre isso — eu falei.
Mas eu sabia que qualquer coisa que falasse não seria o suficiente para fazer com que
Anne esquecesse essa ideia maluca.
Eu só espero que meu irmão não parta seu coração ao meio.
Mesmo sabendo que isso é provável.
Terminei de passar o batom vermelho nos lábios e antes de pegar a minha bolsa me
olhei novamente no espelho.
Para a festa de hoje decidi colocar um vestido preto brilhoso e curto que marcava todas
as minhas curvas, me deixando ainda mais bonita. Gostosa.
Eu estava muito gostosa.
Nos pés eu decidi usar um salto, não muito alto, mas que dava um ar de poder
complementando com o vestido.
Peguei a bolsa e sai do quarto indo encontrar os meninos na sala, mas tive uma surpresa
ao chegar no primeiro andar e encontrar meus irmãos tentando consolar minha irmã mais
nova.
— O que aconteceu? — larguei a bolsa no outro sofá e me ajoelhei na frente de Alex —
O que Jordan fez?
Eu não era idiota.
Para a minha irmã estar chorando dessa forma tão desesperada e triste, era porque
havia acontecido alguma coisa relacionada ao idiota.
— Ela não quer falar — Nathan respondeu — Já tentamos.
O rosto de Alex estava escondido pelas suas mãos, por isso as peguei e com delicadeza
as afastei para ficar segurando-as.
— O que aconteceu, irmã? — Perguntei novamente.
Ela suspirou, tremeu o queixo ao tentar falar e por isso voltou a respirar fundo outra vez.
— Nós... Nós brigamos.
Aquilo era novidade.
Quatro anos de relacionamento e eles nunca haviam brigado, agora eu entendia o seu
estado de desespero.
— Por quê? — Foi Tyler que perguntou.
Quando minha irmã se negou a falar o motivo eu entendi o que havia acontecido.
Tive que me afastar para poder respirar ou seria capaz de descontar a raiva que eu
começava a sentir daquele idiota nela.
— Não me diga que... — Nathaniel não terminou a frase, percebendo o mesmo que eu e
levando Tyler a perceber também.
Meu irmão mais velho fez o mesmo que eu, se afastou como se tivesse levado um
choque, começou a andar de um lado para o outro e ficou assim por alguns segundos, até se
virar totalmente para Alex e perguntar:
— Por causa da sua virgindade?
Quando minha irmã assentiu levemente com a cabeça e Tyler estourou, derrubando o
vaso caro que havíamos comprado com tanto carinho para decorar o nosso apartamento no
chão, o quebrando em mil pedacinhos e fazendo Alex pular de susto no sofá.
— Eu não posso acreditar nisso, porra! — Meu irmão procurava outra coisa para
quebrar, mas eu o interrompi, pedindo com o olhar que se mantivesse calmo.
Nathaniel estava ficando vermelho de raiva e eu provavelmente estava da mesma
forma.
— Vocês... acham que — Alex soluçou — Os remédios que eu tomo podem estar
afetando o meu interesse...sexual?
Fechei os olhos, respirei fundo e ergui a cabeça para o teto pedindo paciência a
qualquer santidade que estivesse disposta a me ajudar naquele momento.
Não podia acreditar que havia escutado isso.
E ao abrir meus olhos percebi que meus irmãos estavam da mesma forma.
— Alexandra, olhe para mim — Tyler pediu, com a voz um pouco mais grossa devido a
raiva que ele estava sentindo do idiota — Tomamos esses remédios porque precisamos deles,
mas esses medicamentos não controlam quem somos ou o que queremos. Eles são específicos
para os nossos transtornos, nada mais, nada menos, que isso.
Ela engoliu em seco, assentindo. Ainda estava visivelmente abalada.
— Jordan está fazendo você pensar que são os medicamentos que a mantem viva, que a
mantem sóbria, que a faz viver uma vida tranquila os culpados por você não abrir as pernas
para ele? — Nathaniel perguntou indignado — Você percebe que isso é ridículo, mana?
— Ele não... não fez por mal, foi um comentário ino...inocente — soluçou.
Bufei.
— O caralho que foi! Inferno! Até quando você vai ficar defendendo esse idiota? Desde
o início ele só quer te comer, eu tenho certeza que esse babaca te trai e também tenho
certeza que você sabe disso, ou ao menos desconfia. Então por qual motivo ainda está com
esse infeliz? — Explodi.
Os olhos magoados de minha irmã me fitaram, ela provavelmente não esperava essa
explosão de mim, mas caramba.
Quatro anos.
Quatro anos aguentando esse relacionamento que nunca foi saudável na minha visão.
Ele sempre a manipulou a fazer tudo o que ele queria, será que minha irmã não
percebia?
— É só uma fase — ela disse, me fazendo querer esganá-la — Sabe que nem sempre
fomos assim.
Eu ri, porque naquele momento eu só conseguia fazer isso. Tyler segurou meu ombro e
pediu para me manter calma. Logo ele.
— Você não acha que está na hora de dar um fim nisso? — Tyler questionou para Alex
— Esse relacionamento só está deixando você doente por dentro, maninha.
— Eu o amo.
Mais uma vez pedi paciência, mais uma vez fechei os olhos para não explodir
novamente.
Amor.
O que ela sabia de amor? O que nós sabíamos de amor?
Amar não é isso, amar é respeitar a decisão do outro, é abraçar os seus defeitos, é
querer estar com a pessoa a cada momento do seu dia, é pensar naquela pessoa em todos os
momentos, é ter uma explosão de sentimentos dentro do seu coração a ponto de você não
conseguir expressar em palavras o que sente.
Amar é isso.
E eu não vejo nada de bonito do sentimento na relação que Alexandra tem com Jordan.
Eu só vejo a mais pura e complexa dependência.
Eu só vejo o lado ruim do amor.
— Você não o ama — falei — Você só é dependente dele.
Alex riu fraco.
— E pra você não é a mesma coisa? Amor e dependência não andam juntos?
Neguei.
— Não no seu caso, irmã.
Vi quando ela engoliu em seco, provavelmente percebendo que eu estava certa e ela
estava se enganando novamente.
— Eu estou me segurando para não ir até esse idiota e socá-lo até ele ver estrelas —
Tyler confessou seus pensamentos maldosos — Me dê um bom motivo para eu não fazer isso,
Alex.
— Não — seus olhos marejaram mais — Por favor, ele não tem culpa, sou eu que....
— Não continua — Nathaniel a interrompeu — Se você falar que é culpada eu vou
ignorá-la e ir junto com Tyler encher aquele babaca de porrada.
Ela se calou.
E nós também ficamos em silêncio.
Não reconhecíamos mais a nossa própria irmã e talvez nem ela se reconhecesse,
tamanho a bagunça que estava dentro da sua mente e do seu coração.
Retirei os meus saltos, dando aquela noite como encerrada. Não existia mais clima para
ir em uma festa e deixar a nossa caçula sofrendo por um idiota que não merecia nem um terço
de sua atenção.
Nathaniel entendeu porque em seguida se levantou e puxou Alexandra junto, ela sem
entender se levantou e Tyler fez o resto.
Nosso sofá era um sofá cama, ele o arrumou em formato de cama e indicou com a
cabeça para Alex se deitar.
— Não, vocês têm uma festa para ir — ela disse — Não quero interromper isso.
— E você acha que vamos para uma festa e deixá-la assim? — perguntei me deitando ao
seu lado — Podemos escolher um bom filme e comer uma boa pipoca.
— Eu vou fazer a pipoca — Nathaniel foi para a cozinha.
— Logo você querendo ficar uma sexta à noite assistindo filme abraçadinha com a irmã
ao invés de ir em uma festa? — Alex provocou ainda com os olhos marejados e um sorriso
triste.
Pobre irmãzinha.
— Só você tem o poder de fazer isso comigo, caçula — a abracei de lado, trazendo-a
para o meu peito e beijando o topo de sua cabeça — Sinto muito por ter explodido.
— Você só foi sincera — fungou — Podemos não falar mais sobre isso por hoje?
Olhei para Tyler que ainda parecia contrariado, mas ao ver o estado de nossa irmã,
assentiu. Concordei também.
— Como quiser.
Nathaniel trouxe a pipoca minutos depois, se deitou ao lado de Tyler e compartilhou a
bacia cheia de pipoca com nós. Para nos animar, decidi escolher um terror que a dias estava a
fim de assistir, era uma série “A maldição da residência bly”, já havia visto a da residência Hill e
gostei muito.
— Terror? — Ty perguntou.
— Precisamos tomar uns sustos para nos distrair — peguei um punhado de pipoca.
Pelas próximas horas ficamos assistindo a série sem tocar no assunto Jordan.
Eu sabia que não seria nada fácil e que provavelmente amanhã ele viria com uma
desculpa esfarrapada, conseguindo o perdão de minha irmã.
Infelizmente ela não se valorizava o bastante.
E nós como bons irmãos teríamos que aceitar para não a perdemos. Era melhor ter os
nossos olhos por perto do que de longe, era isso que pensávamos sempre que algo acontecia
dentro desse relacionamento tóxico.
Mesmo olhando para a tela e prestando atenção na série eu desejei profundamente que
minha irmã encontrasse o amor verdadeiro um dia.
Um amor com todo o significado e com toda a forma inexplicável que ele aparecia.
Um amor que a fizesse bem, principalmente.
Olhei para os meus irmãos concentrados na tela de cinquenta polegadas da sala atentos
a qualquer susto que poderiam ter.
Em nenhum momento nos incomodamos por não poder ir na festa de Bradley —
provavelmente Mackenzie e Anne estavam surtando nos procurando. — Mas aquela era uma
regra que criamos juntos com nossos pais e que fazíamos questão de cumprir com louvor.
Não importava o problema, seja ele grande ou pequeno, sempre estaríamos ali um para
o outro.
9. Flertes e Conquistas
Não fuja para longe de mim
Eu não tenho Nada
Nada
Nada, Se eu não tenho você
I Have Nothing — Whitney Houston
Caleb Lee Walker
Eu queria cavar um buraco e me enterrar nele.
Literalmente.
Aulas de dança? Eu já não estava constrangido o suficiente na frente de Skyller para ter
mais essa vergonha na lista?
Eu poderia mandar uma mensagem recusando, seria melhor do que olhar nos seus olhos
e dizer, mas um Andrew empolgado demais insistiu dizendo que essas aulas seriam A
oportunidade.
Oportunidade do que, exatamente? Segundo meu melhor amigo aprender a dançar com
a garota que eu sou apaixonado era uma boa forma de fazê-la prestar atenção em mim.
Quem eu quero enganar? Andrew estava se divertindo com tudo isso, mesmo que eu
tenho certeza que ele nunca faria ou concordaria com algo que me deixasse mal, ainda assim,
ele estava se divertindo com todos os relatórios que eu era obrigado a passar depois de todas
as aulas com Skyller.
Em certos momentos eu achava que ele era mais iludido do que eu.
Cometi o erro de comentar sobre o beijo próximo a boca e meu amigo só faltou gritar
para o prédio todo que seu plano estava dando certo.
Não vou mentir e dizer que não sinto uma esperança de que Skyller pode se apaixonar
por mim da mesma forma que eu estou, mas de vez em quando, mais especificamente quando
não consigo dormir, penso que tudo não passa de uma ilusão e que meus sentimentos nunca
serão correspondidos.
Vi quando a land rover vermelha fez a curva e entrou na rua dos prédios dos
dormitórios. Skyller fez questão de vir até aqui e me buscar.
Eu falei que iria a pé, mas ela disse que estava próxima do campus e que passaria aqui.
Mesmo que o apartamento dos irmãos Blossom não fosse longe da universidade eu aceitei.
Skyller parou o carro na minha frente e abriu os vidros, usava um óculos escuro e estava
com os cabelos soltos, assim que virou o rosto para mim ainda segurando a direção, sorriu.
— Oi, anjo da guarda — cumprimentou — Preparado para as danças?
Me esforcei para não ficar com vergonha, mesmo sabendo que o vermelho em minhas
bochechas era automático. Que garoto de vinte anos não sabe dançar?
— Oi — abri a porta do carro e entrei — Estou.
— Não se preocupe, amo dançar e já até ensinei Alex, vai ser fácil — tentou me
tranquilizar enquanto dava partida no carro.
Só então percebi a música que tocava baixinho no carro. Aquela era Whitney Houston?
— My Love Is Your Love? — O questionamento da música saiu sem eu pensar.
Ela sorriu assentindo. Levou a mão até o botão de aumentar e aumentou o som da
música, a voz sonora e relaxante de Houston ocupou o veículo.
— Eu amo Whitney Houston — Skyller confessou — Ela foi uma diva e continua me
inspirando desde sempre.
Aquilo era surpreendente. Quando eu poderia imaginar que Skyller Blossom gosta de
Whitney Houston? Acabei sorrindo percebendo que eu estava certo sobre ela desde o início.
Só quem realmente conhece Skyller sabe quem realmente ela é.
Meus olhos focaram apenas nela, mesmo prestando atenção na estrada na nossa frente,
ela balançava a cabeça ao som da música com um rastro de sorriso no rosto.
— Cause your love is my love — ela cantou o refrão — And my love is your love...
Eu não deveria estar surpreso com o quanto Skyller ficava bonita a cada gesto diferente
que ela mostrava na minha frente, mas a forma que ela estava relaxada e cantava sem se
importar se sua voz era horrível ou linda — com certeza a última opção — era deslumbrante.
Só percebi que ela estacionou o carro na garagem do seu apartamento quando ela se
virou para mim. A quanto tempo eu fiquei encarando?
— Sei que está nervoso com a festa, mas eu falei sério quando disse que não iria
abandoná-lo — falou, parecia alheia a atenção que eu dava para ela há segundos.
— Obrigada — agradeci, sem saber onde enfiar a cara.
— Vamos! Estamos sozinhos até de noite — informou.
Sozinhos?
— E se....seus irmãos? — Perguntei.
— Nathaniel arrastou Tyler para um jogo de basquete entre amigos e Alex está com
Jordan — a cara de desgosto que Skyller fez poderia ser notada por qualquer um.
Ela não gostava nem um pouco de Jordan.
Descemos do carro e entramos no apartamento. Skyller acendeu a luz da sala e
continuou o caminho até o seu quarto, a segui.
— Não parece feliz com o rel...relacionamento de Alex.
— Não estou — ela abriu a porta do quarto e deu espaço para eu entrar, assim que
entrei, fechou a porta — Ele é um idiota e só confirmou isso nesse fim de semana, eles
brigaram e bastou apenas uma ligação pedindo desculpas que minha irmã passou pano, como
se estivesse tudo bem.
Percebi que aquele assunto a chateava demais, pelo o seu semblante, Skyller se
preocupava muito com a irmã.
— E não está tudo bem, Caleb — se sentou na beirada da cama — Minha irmã nem
percebe que está em um relacionamento tóxico com apenas dezenove anos de idade.
Me sentei ao seu lado.
— Sinto muito po... por isso. É difícil para elas perceberem que estão vivendo um
relacionamento tóxico, espero que sua irmã não demore tanto a notar.
— Já tentamos avisar, mas ela sempre foge do assunto — suspirou. Para depois me
olhar, levantar da cama e me puxar para fazer o mesmo — Vamos deixar esses assuntos
pesados para outro momento. Estamos aqui para ensiná-lo a dançar e você não vai sair desse
quarto até saber me conduzir por esse quarto.
Skyller foi até a cama de casal e a empurrou até o canto do quarto deixando um espaço
maior para podermos ensaiar.
Ao perceber que estávamos mais próximos de ensaiarmos comecei a ficar nervoso
automaticamente. Eu não queria mais passar vergonha na sua frente, o que ela pensaria de
mim?
— Flertes e conquistas — Skyller começou a falar — Já sabe como vai se aproximar de
Mackenzie?
Neguei. Eu nem queria me aproximar de Mackenzie.
Observei seu corpo coberto por um short curto preto e uma regata branca de alcinhas
bem finas, mesmo não usando maquiagem e com roupas simples ficava extremamente linda.
— Precisamos pensar em uma forma — ela continuou — Acredito que convidá-la para
dançar no dia do baile é a melhor opção. Uma dança pode expressar tudo o que você não
consegue dizer em palavras, aprendi isso com uma...amiga.
Skyller foi até uma caixa de som que estava em cima da sua cômoda e a ligou. Logo
reconheci a música.
— Whitney Houston?
Ela sorriu.
— Não é porque sou fã, conheço bem essas festas que Beca dá. É uma festa dos anos
oitenta e noventa, o que acha que vai tocar? I wanna dance with somebody é lei em um baile
desse estilo.
Não neguei e nem concordei, tenso demais ao prestar atenção nos seus quadris se
remexendo conforme a música começava.
Skyller se aproximou e segurou os meus braços, realmente parecia não perceber o efeito
que me causava.
— É uma música antiga, todos estarão bêbados então ninguém vai perceber que você
não é um profissional — brincou — Mas precisamos conquistar ou pelo menos deixar
Mackenzie interessada em você com essa dança.
Não era uma música sexy, estava mais para divertida, mas Skyller conseguia fazer o
contrário ao rebolar os quadris, segurar minha mão e rodopiar enquanto eu permanecia
parado como uma estátua ou um idiota, tanto faz.
Ela percebeu, sorriu e parou de se remexer.
— Vou me aproximar mais de você e te guiar tudo bem?
Assenti, mesmo sabendo que isso não daria certo.
Ela fez o que disse que faria. Se virando de costas, Skyller colou o corpo no meu e eu
automaticamente prendi a minha respiração.
Seu perfume.
Seu toque.
Tudo nela fez com que eu me sentisse em outra dimensão.
Skyller pegou minhas mãos, como se controlasse um boneco, e colocou uma de cada
lado de seu quadril.
Pensei que morreria ali mesmo.
Só então voltei a respirar ou realmente poderia morrer.
E começou a dançar conforme a música, remexendo os quadris e fazendo com que eu
me movimentasse também. Para falar a verdade eu não sabia o que estava fazendo, naquele
momento me deixei ser guiado pelo o corpo de Skyller e embriagado pelo o seu perfume.
Eu sabia que não estava fazendo nada direito, mas ela estava próxima de mim e aquilo
bastava.
— Agora você vai me rodopiar e me puxar para si, tudo bem? — Ela murmurou a
pergunta.
Assenti sentindo seu cabelo roçar em minha bochecha.
Ela segurou uma de minhas mãos e se afastou, a girei conforme pediu a trazendo para
mim logo em seguida. Agora Skyller estava de frente, seus olhos encontraram os meus e ela
sorriu de lado.
Suas mãos guiaram as minhas para os seus quadris e seu corpo grudou mais ao meu da
mesma forma que nossos rostos ficaram mais próximos.
— Acompanhe os meus movimentos, ok?
Assenti, incapaz de dizer uma palavra em concordância. Sentia sua respiração bater em
meu pescoço, já que devido à altura, Skyller batia em meus ombros.
Ela voltou a movimentar os quadris e com suas mãos nos meus me guiou a fazer o
mesmo.
— Isso — aprovou.
Mesmo que eu não soubesse nada do que eu estava fazendo.
Ficamos treinando aquela parte por alguns segundos, talvez um minuto, até que ela
voltou a se afastar apenas para se virar de costas e grudar seu corpo no meu novamente.
Segurou o meu braço e fez com que ele a abraçasse enquanto o outro ainda segurava o
seu quadril.
Com o movimento a minha mão acabou encostando em uma parte comprometedora.
Foi um pedacinho.
Mas eu senti.
Skyller estava sem sutiã.
Engoli em seco. Eu nunca fui de ter pensamentos maliciosos com uma garota, mas foi
impossível não pensar como eles seriam.
Ela continuou de costas para mim, me guiando a remexer os quadris conforme a música.
Naquela posição eu sentia mais o corpo pequeno, com curvas e a forma que sua bunda estava
pressionada contra a minha virilha, em movimentos lentos e que naquele momento se tornou
torturante. Nada sensual, nada sexy, mas mesmo assim aconteceu.
Simplesmente por ter o seu corpo colado ao meu eu senti o meu pênis endurecer.
E naquele momento eu quis realmente morrer.
Me afastei abruptamente. Me virei de costas e corri para uma porta desconhecida, que
até hoje eu não havia aberto.
— Caleb — ela chamou, mas eu ignorei.
Entrei no cômodo e fiquei aliviado ao ver o banheiro. Fechei a porta antes que Skyller
viesse até mim.
Olhei para baixo e vi o maldito erguido como se desse oi.
Tentei controlar a minha respiração e a minha vergonha. Novamente o pensamento de
cavar um buraco e me enterrar passou pela minha cabeça, mas dessa vez havia muito mais
sentido de fazê-lo.
Eu estava excitado apenas porque o corpo de Skyller estava próximo a mim, porque seus
quadris se remexiam com os meus e porque ela estava sem sutiã.
Tudo isso me afetava. Tudo nela me afetava.
Mas nunca havia ficado excitado por ela. Na minha opinião seria uma falta de educação,
totalmente desrespeitoso.
Será que ela sentiu?
Olhei novamente e não havia jeito dele abaixar.
Quis morrer. Novamente.
— Caleb — uma batida na porta e a voz de Skyller se fizeram presente no silêncio do
apartamento — Tudo bem? Posso entrar?
O que?
— Nã...Não — gaguejei nervoso.
Tentei pensar em qualquer coisa que não fosse todas as sensações que o seu perfume e
o seu corpo próximos a mim faziam. Tudo para fazer esse negócio abaixar.
Não estava dando certo.
Eu ainda sentia o seu corpo grudado ao meu, meu quadril contra o seu, minha mão
raspando por uma parte de seu seio sobre uma regata.
Tudo. Eu ainda sentia tudo.
— Caleb? Por favor, me deixe entrar.
O que ela queria? Me ver envergonhado a ponto de nunca mais querer olhar na sua
cara? Não é como se eu já não tivesse feito isso.
— Bai...baixa, por favor — pedi como se o meu pênis fosse obedecer.
— Eu só quero saber se está tudo bem — Skyller continuou a tentar falar comigo — Eu
fiz algo?
Não sei. Fez?
Ela não havia percebido? Pensei que era quase impossível não perceber, devido a calça
elevada e ele estar extremamente ereto como se eu tivesse visto um pornô e não dançado
poucos minutos com uma garota.
— Tudo bem — ela suspirou — Eu sei porque está aí, mas não se envergonhe, é uma
reação normal do nosso corpo.
Olhei para cima, se Deus quisesse me levar naquele momento eu aceitaria de bom
grado.
Era muita vergonha.
Eu sabia que não deveria ter aceitado essas aulas de dança, desde o início eu estava com
um pressentimento ruim, mas eu os ignorei porque confiei em Andrew, achando que ele
estava certo e que essa seria A oportunidade.
Erro meu.
— Caleb?
Fechei os olhos tentando pensar em alguma coisa que me distraísse.
— Eu vou fazer um chá para nós, espero que você esteja aqui fora quando eu voltar.
Ouvi os passos de Skyller se afastando da porta do banheiro e torcia para que quando
ela voltasse eu tivesse coragem o suficiente para olhar em seus olhos.
Levou alguns minutos para o meu pênis voltar ao estado normal, tempo o suficiente
para Skyller fazer o chá e daqui a pouco voltar a bater na porta pedindo para que eu saísse
desse banheiro.
Em algum momento eu deveria sair, não é mesmo?
Minhas mãos estavam suando quando eu encostei na maçaneta, nem me dei ao
trabalho de me olhar no espelho porque tinha certeza que minhas bochechas estavam
queimando.
Quando você estiver em uma situação que se sinta ameaçado, respire fundo inúmeras
vezes e erga a cabeça, confiante o suficiente para saber que você pode passar por tudo o que o
aflige.
Lembrei do que Zac sempre dizia para mim quando eu tinha medo de enfrentar algo que
para muitas pessoas é simples.
Aquela era uma situação.
Outros garotos se aproveitariam daquele momento para tentar beijar Skyller e talvez
conseguir algo a mais.
Enquanto eu fugi com tanto medo que ainda ouvia as batidas frenéticas do meu
coração.
— Cheguei e você ainda não saiu daí — ouvi a voz de Skyller do outro lado.
Respirei fundo, uma, duas, três vezes, até abrir a porta. Ela bebia o chá sentada na
beirada da cama, olhou para mim e apontou para o chá em cima da sua escrivaninha. Peguei a
xícara e sem dizer uma palavra me sentei ao seu lado.
Percebi que em nenhum momento olhou entre as minhas pernas, o que eu agradeci
internamente, ela não queria me constranger mais.
Bebi um gole do chá ainda me sentindo muito envergonhado para tentar dizer algo.
Foi Skyller que quebrou o silêncio. Olhava para a sua xícara pela metade, quando
perguntou:
— Quer falar sobre o que aconteceu?
— M...e..
Ela largou a xícara no chão e pegou na minha mão que estava livre.
— Eu não estou incomodada, é uma reação normal do nosso corpo, não tem motivos
para se envergonhar disso.
Minhas bochechas pareciam que pegariam fogo, eu provavelmente estava da cor de um
pimentão.
Bebi outro gole do chá delicioso que ela preparou para poder disfarçar. Nada poderia
ser mais vergonhoso que isso.
— Se estivéssemos dançando por mais tempo naquela posição eu provavelmente teria
ficado excitada também.
Me engasguei.
Skyller teve que pegar a xícara da minha mão e colocar de volta na escrivaninha, voltou
a ficar próxima de mim e bateu em minhas costas.
O que ela queria dizer com aquilo? Skyller teria ficado excitada por causa daquela dança
também? Por causa de mim?
Voltei ao normal alguns segundos depois. Quando olhei para Skyller, ela sorria culpada.
— Direta demais, né? Sinto muito. O que eu quis dizer é que.... — balançou a cabeça —
Deixa pra lá.
Quis perguntar o que ela queria dizer com aquilo, quis muito, mas não tive coragem o
suficiente para fazer.
— O que acha de voltarmos a treinar? — ao ver a minha cara de espanto ela riu — Não
se preocupa, eu tenho outra ideia.
— Que ide...ideia? — consegui perguntar, mesmo que tivesse gaguejado.
Ela caminhou até o som novamente. Ligou o aparelho e a voz de Whitney Houston
começou a tocar novamente.
— Eu tenho certeza que Beca irá colocar essa música na playlist — Ela disse falando
sobre I Have Nothing — É uma música lenta e mais fácil de dançar.
Caminhou até mim e estendeu a mão, sem alternativas e ouvindo a parte que queria
muito dançar aquela música com ela, a peguei.
Skyller nos guiou até o meio do quarto, colocou minha mão sobre a sua e a outra nas
suas costas. Quando a voz de Whitney Houston começou a cantar, começamos a nos
movimentar conforme a música.
Fui incapaz de desviar meus olhos dela.
Um passo para o lado direito e um passo para o lado esquerdo, em sincronia e em
nenhum momento conseguimos quebrar aquele contato.
Eu havia dançado música lenta uma única vez.
Quando não fui ao baile da escola e minha mãe o trouxe para mim.
No meu quarto, tendo ela como acompanhante e meu pai como plateia. Dançamos por
minutos, até ela me ensinar como não pisar nos seus pés e deixar a música me guiar.
Minha mãe sempre acreditou que um dia eu dançaria com uma mulher que não fosse
ela.
O que ela diria se soubesse que estou dançando com a garota que sou apaixonado?
— Você é muito bom em dança lenta — Skyller elogiou admirada.
— Uma vez dan...dancei com min...minha mãe.
— Sua mãe é uma ótima professora.
Ela se afastou e eu entendi na hora que era para girá-la, assim fiz, a trazendo novamente
para mim. Seus braços circularam o meu pescoço e as minhas mãos seguraram sua cintura,
voltamos a nos balançar conforme a música.
— Eu amo essa música — ela murmurou fechando os olhos e apreciando o som.
— Você ama Whitney Houston — consegui brincar, voltando a ficar confortável em sua
presença.
Ela abriu os olhos, estava tão próxima de mim que senti minha garganta secar.
Incrivelmente linda.
Skyller é incrivelmente maravilhosa.
— Culpada — riu baixinho.
A música estava próxima do fim quando Skyller me surpreendeu ao fechar os olhos
novamente e jogar o corpo e os braços para trás, a segurei firme pela cintura enquanto nos
girávamos devagar pelo quarto, tornando aquele momento único e memorável.
I have nothing, nothing, nothing
If I don't have you, you
If I don't have you
Oh, oh, oh
Quando ela voltou a erguer a cabeça seus olhos se abriram da mesma forma que o
sorriso em seu rosto. A música acabou, mas mesmo assim me senti preso aos seus braços que
voltaram a circular meu pescoço e ao seu rosto, que expressava inúmeras coisas que naquele
momento era indecifrável para mim.
O brilho também estava em seu olhar, ou sempre estiveram ali e só vi agora devido a
aproximação?
Uma de suas mãos escorregaram para a minha bochecha enquanto a outra continuou na
minha nuca.
— Continua vermelho — ela alisou com o polegar, provocando-me um arrepio — Algum
dia não vai corar na minha presença?
— Isso te in...incomoda? — temi pela resposta.
Seus olhos se arregalaram.
— É claro que não! Você fica ainda mais bonito quando está corado.
Foram os meus olhos que se arregalaram agora. Ela me acha bonito? Sorri, um pouco
nervoso.
— Mas você corar significa que está com vergonha de mim — ela continuou a falar,
realmente não percebia todo o efeito que me causava — E não podemos ter vergonha um do
outro, somos amigos, né?
Assenti, mesmo que odiasse essa palavra quando se tratava de nós dois.
— Nunca havia dançado uma música lenta com alguém que não fosse o meu pai — ela
confessou — Você foi o primeiro, Caleb.
— Primeiro?
Ela concordou.
— E você dança muito bem esse estilo de dança — elogiou — Pode esperar a música
certa para chamar Mackenzie para dançar.
Quase havia me esquecido o motivo de estarmos ali próximos e quase abraçados. Ela
acha que eu gosto de Mackenzie. Sua prima.
— Vamos treinar mais na semana que vem, o que acha? — Perguntou ao começar a se
afastar.
Quis continuar com meus braços em sua cintura.
Quis continuar sentindo o seu perfume e sua respiração próxima a minha.
Quis continuar vendo aquele brilho mais próximo do seu olhar.
Mas eu a soltei, a deixando se afastar e caminhar até a sua cômoda. Ela pegou o seu
celular e começou a mexer nele.
Observei sua testa se franzir ao ler algo e seu suspiro, não consegui identificar se era de
desgosto ou o contrário.
Percebi que o que ela leu era uma mensagem do anônimo ao vê-la largar o telefone na
cômoda novamente e perguntar:
— Eu sou bonita o suficiente para ter um admirador secreto?
Eu havia mandado uma citação de Jane Austen: “Ninguém jamais poderá amar mais do
que uma vez na vida.”
Ela não parecia incomodada ao não me responder à mensagem anterior a essa, eu havia
sido claro ao perguntar se aquilo a deixava desconfortável e levei o seu silêncio como uma
negativa.
A observando melhor, vendo como reagia ao ler uma mensagem do anônimo, parecia
mais confusa do que incomodada.
— E quando digo bonita não é só de aparência — continuou a falar — É tanto por dentro
como por fora, sabe?
— Você é...
— Sou? — incentivou a completar a frase.
— Lin...linda.
Um sorriso tomou seus lábios. Skyller se aproximou da cama novamente e se sentou,
indicando para eu fazer o mesmo ao seu lado, assim fiz.
— Obrigada — agradeceu — Pelo visto eu tenho mesmo um admirador secreto.
Curioso para saber o que ela pensava sobre o anônimo, questionei:
— Desconfia quem pode ser?
Negou.
— Eu não faço ideia! Ele manda essas mensagens estranhas com citações de
Shakespeare e Austen, acho que nunca fiquei com o garoto porque ele parece ter medo de eu
descobrir sua identidade.
— Talvez ele seja tímido?
— Talvez — suspirou — Uma vez eu conversei com ele.
— É mesmo? E como foi?
Skyller virou o rosto para mim e semicerrou os olhos.
— Curioso você, em? — com o cotovelo cutucou meu braço — Até que foi divertido. O
garoto me distraiu de uma noite ruim que estava tendo, foi legal até a parte que ele foi sincero
sobre os sentimentos que sente por mim, então encerrei o assunto e parei de responder as
suas mensagens, mas parece que ele não desiste tão fácil assim.
Ela havia gostado de conversar com o anônimo. Comigo.
Isso era um bom sinal, isso tinha que ser um bom sinal.
— As mensagens incom...incomodam você? — Perguntei.
— Se incomodassem eu já teria bloqueado o número, né? — sorriu, sem graça — A
verdade é que não sei o que as mensagens fazem comigo. Eu meio que me acostumei nos
últimos dias a pegar o celular de manhã e ter uma mensagem não lida do anônimo.
Tentei disfarçar o sorriso. O que tudo isso significava? Skyller gostava, mesmo querendo
não gostar, do anônimo.
— Poderia se...apaixonar por ele?
Ela riu, negando com a cabeça.
— Não — a afirmativa tão confiante foi direto ao meu coração — Eu não me apaixono,
Caleb.
Tentei não expressar o desapontamento ao perguntar:
— Por quê?
— Não é medo e muito menos por não acreditar, meus pais são tão apaixonados um
pelo o outro que seria difícil não acreditar no sentimento que eles compartilham. Mas eu não
consigo me ver presa a alguém.
— Aquele dia você disse que o amor nos torna dependente, é por causa disso? —
Lembrei-me do que ela disse na nossa primeira aula.
— Esse é um dos principais motivos. Minha irmã é totalmente dependente do idiota que
ela chama de namorado e meus pais, mesmo que não percebam também são um pelo o outro.
Minha mãe não participou de um dos campeonatos desse ano porque queria ficar com meu
pai, segundo ela, já havia participado o bastante daquele, um ano ausente não faria diferença.
— Foi uma escolha.
— Uma escolha baseada em um sentimento que acaba por nos tornar dependente.
Não respondi. Era uma decisão dela não se apaixonar, alguém teria que entrar em sua
vida e mudar aquela escolha.
Será que eu seria capaz disso?
— Eu namorei uma vez — admitiu — E acabei quebrando o coração dele por não
corresponder tudo o que ele sentia por mim. Foi então que percebi que não sirvo para o
amor... sabe qual era o meu apelido na escola?
Neguei.
— Qual?
— Coração de gelo.
O apelido me fez sorrir. Querendo ou não, parecia combinar com a forma fria que ela
lidava sobre o amor.
— É um bom a...apelido.
— Está afirmando que tenho um coração de gelo? — Colocou a mão no peito, fingido
estar ofendida — Não posso acreditar nisso, anjo da guarda.
Eu ri.
— Para alguém que não liga para o amor, está ofendida demais — brinquei.
Skyller riu.
— Gosto assim — disse me fazendo não entender do que ela estava falando — Quando
você está totalmente confortável na minha presença.
— Nunca fico desco...desconfortável na sua presença — admiti — Só sou um garoto
tímido demais.
— Eu sei e vamos quebrar essa timidez juntos, ok? — se levantou e estendeu a sua mão
— O que acha de treinarmos mais um pouco?
Peguei sua mão em resposta.
Skyller colocou outra música calma para tocar e por mais alguns minutos admirei sua
beleza em silêncio, enquanto nos balançávamos ao som da música que saia da caixa de som.
Temi que não se apaixonasse por mim.
Temi que eu tivesse apenas me iludido com o que eu achava ser sinais.
Temi por um futuro que talvez ela não fizesse parte.
Só então percebi que eu não só sou apaixonado por Skyller Blossom como a amo com
tudo que há dentro de mim.
Um amor à primeira vista como em livros e em filmes.
Um amor que corre o risco de nunca ser correspondido.
“Um passo de cada vez, garoto” as palavras de Zac vieram novamente em minha cabeça.
Era melhor eu manter a calma e continuar seguindo o fluxo do plano ridículo do meu melhor
amigo.
E o que fosse para acontecer, aconteceria.
10. Um passo de cada vez | parte 1
Skyller Blossom
Jack me olhava com um sorrisinho no rosto de quem havia aprontado alguma coisa.
— O que foi que você fez agora, roedor?
Ele saiu correndo do quarto e eu desconfiada olhei ao redor. Tudo parecia normal, por
isso voltei a me concentrar nos meus desenhos.
Estava tentando terminar os rascunhos da minha primeira coleção de roupas. Não
conseguia acreditar que havia chegado tão longe... haviam vestidos, saias, blusas e também
biquínis.
Agora, eu dava vida a um vestido que me veio em sonho. Ele era apertado na cintura,
ainda não havia decidido a sua cor, já que ainda era apenas um esboço, mas ele seria com
alguns detalhes em renda. Sua saia alcançaria o chão, mas na parte da frente seria acima do
joelho.
Na minha cabeça ele era lindo.
Meu celular vibrou em cima da mesa, indicando que havia chegado uma nova
mensagem. Dei os toques finais no vestido antes de pegar o aparelho e ficar surpresa ao ser
uma nova mensagem de Caleb.
“Oi.”
Sorri. Conseguia ver como era tímido até mesmo por mensagem.
“Oi, anjo da guarda, como está?”
Ele não demorou a responder.
“Bem e você?”
“Estou ótima, aproveitando o tempo livre para desenhar ”
“Então não irei atrapalhar você...”
Fofo, admito.
“Você não atrapalha, Caleb. No que posso ajudar?”
“Certeza?”
“Absoluta.”
“Andrew acha que eu devo ir de terno na festa, mas acho que não devo pedir a opinião
de alguém que nunca foi a esse tipo de festa.”
A festa aconteceria hoje à noite. E por mais que eu tivesse animada, ainda não havia
comprado a minha máscara, foi por isso que uma ideia passou pela a minha cabeça e logo
respondi a mensagem de Caleb.
“Podemos ir no shopping, o que acha? Eu ajudo você comprar a sua roupa e
aproveitamos para escolher nossas máscaras.
Ps: Com certeza um terno não é adequado para hoje.”
“Podemos ir.”
“Ótimo! Passo aí em meia hora.”
Guardei meus desenhos na minha pasta e os lápis no meu estojo. Me levantei e fui até o
banheiro lavar as mãos das manchas da caneta que usei para contornar alguns desenhos.
Sempre acabava pintando os meus dedos também.
Foi então que entendi o que Jack havia feito.
O banheiro estava espalhado de papel higiênico. O roedor havia pego o papel e
arrastado por todo o cômodo.
Fechei meus olhos, respirei fundo e depois os abri.
Eu que não limparia aquela bagunça.
Lavei minhas mãos calmamente e sai do banheiro. Peguei minha bolsa, coloquei o
telefone nela e sai do quarto.
— Seu roedor bagunçou todo o meu banheiro, trate de arrumar — falei para Alex que
estava segurando o diabinho escorada no ombro do idiota, mais conhecido como Jordan.
— O que Jack aprontou agora? — Tyler perguntou do outro lado da sala.
Nathaniel estava do seu lado, ambos pareciam tentar evitar o ser indesejável ao lado de
minha irmã, mas não saiam de casa porque queriam observar tudo e cuidar dela, como os dois
irmãos protetores que são.
— Espalhou todo o papel higiênico pelo banheiro — respondi.
— Cada dia mais inteligente, impressionante — Nathan comentou admirado.
O fuzilei com os olhos. Eu diria inconveniente, ao invés de impressionante.
— Posso saber para onde você vai? — Ty observou minha bolsa para depois continuar —
Pensei que ficaria a tarde toda desenhando.
— Caleb precisa de mim.
As sobrancelhas de Nathaniel se arquearam e ele me lançou aquela cara de malicioso.
— Estão cada vez mais próximos... — falou com segundas intenções.
— Nada do que você está pensando, seu safado. Vou ajudá-lo a escolher uma roupa e
também comprar a minha máscara, já compraram a de vocês?
— Ontem — Ty respondeu.
— Você e Caleb não combinam e acho que isso os tornam o casal perfeito — Alexandra
abriu a boca para sonhar, como sempre fazia.
Jordan riu.
— Os nerds não fazem o tipo de Skyller — a tranquilidade em que disse aquilo me
irritou, como se ele me conhecesse o bastante para dizer aquilo.
Na verdade, eu estava com tanta raiva daquele garoto que era só ele dizer um “oi”, que
eu já achava um motivo para ter mais nojo dele.
— O que não faz meu tipo é garotos idiotas que forçam algo que não vai acontecer — vi
o momento que ele fechou o punho com raiva. Toma essa, idiota!
Coloquei meu tênis que havia ficado no canto da sala e antes de sair me despedi dos
meus irmãos.
— Nos vemos mais tarde — beijei a bochecha de Tyler e Nathaniel, me limitando a
apenas acenar para Alex.
Eu ainda estava chateada por ela ter perdoado tão rápido Jordan.
Não levou nem 24h.
Tentando não pensar nessas coisas que me deixavam nervosa e preocupada demais,
liguei o som antes de dar partida no carro. A voz tranquila de Whitney Houston me acalmou
imediatamente, assim como me levou a pensar o que havia acontecido na primeira aula de
dança que dei para Caleb.
O que aconteceu era normal, mesmo que ele sentisse muito envergonhado para me
olhar por alguns minutos.
Nossos corpos estavam muito colados e devido a sua inexperiência acabou
acontecendo. Era normal.
Senti tanta vontade de falar sobre isso com ele nas duas aulas seguidas que tivemos,
mas eu sabia que iria apenas o constranger e acabar quebrando o clima bom que estávamos
tendo ultimamente.
Às vezes ele nem gaguejava e isso era incrível.
Não queria trazer um assunto que havia o deixado nervoso e envergonhado o bastante
para fugir.
Mas eu havia sentido e como uma mulher sexualmente ativa havia gostado.
Pelo pouco que senti ele era grande... e foi exatamente por isso que deixei escapar
naquele dia que se ficássemos mais tempo dançando com Caleb daquela forma, eu
provavelmente ficaria excitada.
Olha para onde meus pensamentos estavam me levando...será que era a falta de sexo?
A última transa que tive não me rendeu nenhum orgasmo, talvez seja por isso que eu estava
pensando mais em Caleb e de uma forma que eu não deveria.
O garoto é apaixonado pela minha prima.
Repeti para mim mesma.
E é um cara romântico, não faz o meu tipo.
Repeti de novo para mim mesma.
Quando cheguei na frente do prédio dos dormitórios, Caleb já me esperava. Vestia uma
calça preta, botas da mesma cor e uma camiseta branca que estava embaixo de uma jaqueta
jeans.
Para um garoto tímido e nerd, Caleb tem estilo.
— Entra, anjo da guarda — ele sorriu e entrou no carro.
Me inclinei apenas para deixar um beijo em sua bochecha e dei partida no carro, nos
levando para o shopping da cidade.
— Animado para a festa?
— Estou nervoso — admitiu — E ansioso, mas não é no bom sentido.
Caleb é um garoto tímido. Isso nunca me restou dúvidas, mas em alguns momentos
como este, ou então, como quando fugiu de mim para se esconder no banheiro do meu
quarto, me faziam pensar que não era apenas um garoto tímido e sim um cara com problemas
de comunicação.
Nunca havíamos conversado sobre isso.
Estávamos no início da nossa amizade ainda, então não seria inconveniente de
perguntar algo que o poderia deixar desconfortável.
— Vai ficar tudo bem — garanti e sorri para tranquilizá-lo — Vou ficar com você o tempo
todo, pelo menos até você conseguir a dança com sua garota.
— E se eu não tiver coragem de me aproximar dela?
Pensei um pouco, aquilo com certeza poderia acontecer.
— Então vamos aproveitar o baile juntos — pisquei.
Chegamos no shopping minutos depois, estacionei o carro em uma vaga disponível e
subimos pelo o elevador para o primeiro andar.
Entramos em uma loja que parecia ser especializada em roupas de festas. Haviam
muitos ternos, roupas mais casuais e vestidos, cada um mais lindo que o outro.
— Tenho certeza que encontraremos alguma coisa legal aqui — falei para Caleb.
— Boa tarde — uma atendente se aproximou — Sou Julia, no que posso ajudar vocês?
— Procuramos roupas para ir a um baile de máscaras — respondi.
Julia sorriu.
— Vieram ao lugar certo, temos até alguns modelos de máscaras — disse me fazendo a
garota mais feliz do dia, já que não precisaria caminhar até outra loja para achar as máscaras.
Tudo seria comprado ali.
— Vocês têm alguma ideia do que querem vestir?
— A festa é temática, mas sei que ninguém vai ir vestido como nos anos 80, então não
queremos nada muito formal — olhei para Caleb, tentando imaginar o que ficaria bom nele —
Gosta de jaqueta de couro, anjo da guarda?
As bochechas estavam levemente vermelhas.
— Sim — respondeu.
— Vamos procurar alguma coisa por aqui.
Caminhamos juntos com Julia até a área masculina.
Ela nos apresentou vários modelos de jaquetas de couro, mas Caleb se interessou por
uma mais simples e que com certeza ficaria incrível nele.
Para a minha surpresa ele escolheu uma calça jeans preta com um rasgo em cada joelho,
junto com uma camiseta preta.
Sorri, aprovando o estilo.
— Vai ficar lindo — eu elogiei — Quer provar?
Ele negou.
— São do meu tama...tamanho.
Assenti, compreendendo que estava tímido demais para querer provar uma simples
roupa. Havia algo que eu não sabia, tenho certeza.
Quando me virei para agradecer o atendimento de Julia me deparei com um vestido
lindo do outro lado da loja.
Vermelho vivo com alcinhas extremamente finas, a saia ficava acima do vestido, mas no
lado direto da coxa tinha uma abertura que ia quase até o início das coxas.
Aquele vestido havia sido feito para mim.
— Quero prová-lo — apontei para a peça de roupa.
— Vai ficar lindo em você — Julia disse.
Caminhamos atrás dela, falei o meu tamanho e ela pegou um modelo, me entregando.
— Os provadores ficam daquele lado — apontou mais para frente.
— Obrigada. Vamos? — Perguntei a Caleb.
Ele assentiu e me seguiu até os provadores.
Caleb se sentou em um dos bancos de frente para as cabines que provamos as roupas.
Segurava a sacola com as suas, deixei minha bolsa com ele e fui provar aquele vestido.
Tirei minhas roupas, meus tênis e coloquei o vestido. Só depois percebi que ele tem que
ser fechado atrás.
Nada a fim de chamar a atendente, puxei as cortinas do provador para um lado e
coloquei a cabeça para fora.
— Caleb? — ele me olhou — Pode vir aqui me ajudar? O vestido precisa ser amarrado
atrás.
Em um primeiro momento ele pareceu incerto, mas levantou e veio até mim. Me virei
de costas no momento que ele entrou na caixa, que acabou por se tornar pequena com nós
dois, e fechou a cortina.
Observei pelo espelho em nossa frente seus olhos azuis percorrerem todo o meu corpo.
Havia certa admiração e acabei por notar o brilho naquele momento.
O vestido havia ficado mesmo muito bonito no meu corpo. Destacou mais as minhas
curvas e o contraste da cor com a minha pele deu um ar mais sensual para a peça.
Caleb olhou para as minhas costas nuas e pareceu trancar a respiração ao pegar um
lacinho de um lado e do outro para começar a amarrar o vestido.
— O que achou? — Perguntei, querendo saber o que estava pensando.
Seus olhos encontraram os meus através do espelho. Ainda amarrando um lacinho no
outro, ele elogiou:
— Você está linda — sem gaguejar, aquilo provocou um sorriso no meu rosto.
Seus dedos se arrastaram até um outro lacinho, não foi proposital, mas mesmo assim
senti um arrepio involuntário pelo o meu corpo.
Engoli em seco, estranhando a sensação boa de ter seu toque sobre mim.
Quando ele acabou, nossos olhos voltaram a se encontrar através do espelho. Os azuis
brilhantes contra os meus esverdeados da mesma forma.
— Acho que vou levá-lo — quebrei aquele clima estranho que começava a se alastrar
pelo o ambiente pequeno.
Era impressão minha ou o lugar havia ficado mais pequeno?
— Ótima escolha — disse.
— Pode desamarrar para mim?
Ele assentiu e o fez, desamarrando laço por laço. Mais uma vez senti um arrepio, mas
dessa vez não dei muita atenção aquelas reações que meu corpo estava tendo.
Agradeci Caleb assim que ele desamarrou todos os laços. E quando ele saiu da cabine,
consegui respirar um pouco melhor.
O que acabou de acontecer?