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Copyright © 2020 por Nathalia Santos

Todos os direitos reservados.

Título: Peculiar
Revisão: Maria Carlos Brito
Capa: Larissa Chagas
Diagramação: Nathalia Santos

Proibida a reprodução, no todo ou em parte, através de quaisquer meios, sem o


consentimento do(a) autor(a) desta obra.
Esta é uma obra de ficção. Todos os nomes, lugares, acontecimentos e descrições são
fruto da mente da autora. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.
Texto revisado conforme o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
Dedico esse livro a todas as mulheres desse mundo.
Lembre-se: você pode tudo aquilo que deseja, nada pode abater a grande mulher que
está em você.
Até que ponto o ditado “ os opostos se atraem” é verdadeiro?
Ela é conhecida como a garota peculiar.
Ele é conhecido como o garoto tímido e nerd.
Ela ama os flertes e as conquistas.
Ele cora só por ter um olhar sob si por mais de cinco segundos.
Ela só tem casos casuais.
Ele nunca namorou.
Ela acha que o amor a torna dependente.
Ele sonha com o amor.
Ela precisou de ajuda em um trabalho da faculdade.
Ele a ajudou.
Ela ficou devendo um favor a ele.
Ele cobrou.
Ela passa a dar aulas para ele de como conquistar a garota que gosta.
Ele faz dessas aulas a oportunidade de conquistar a garota que gosta.
Ela não sabe que é a paixão dele.
Ele está disposto a mostrar que relacionamentos não são o que ela pensa ser.
O amor é capaz de superar as diferenças entre duas pessoas?
Prologo

De todas as disciplinas da vida a de cálculos não era para mim. Por mais que eu tentasse
entender todos aqueles números, todos aqueles gráficos e todas aquelas fórmulas —detalhe:
que deveriam facilitar — eu não conseguia.
Por isso não fiquei surpresa quando recebi uma terceira e última chance do Sr. Carter,
meu professor de cálculo avançado da universidade de Campbell. Ele foi bem claro ao dizer:
será a última vez que tento lhe ajudar Srta. Blossom.
Felizmente eu tinha um anjo da guarda que apareceu na minha frente com bochechas
coradas e um sorriso bonito se dispondo a me ajudar no trabalho que o Sr. Carter me pediu
para fazer.
O anjo da guarda em questão era Caleb Lee Walker, o nerd da sala. Nem preciso dizer
que quase o abracei naquele momento que disse que poderia me ajudar. Minhas esperanças
foram renovadas e eu tive a certeza que seria aprovada com a ajuda desse garoto, ele era um
gênio. Não entendia o porquê ainda estava na universidade, já que deveria estar de férias por
ter sido aprovado na primeira prova, eu também nem fiz questão de perguntar, pois eu tive
muita sorte.
Agora eu olhava o Sr. Carter corrigir cada questão com a maior lerdeza do mundo. Qual
era a dificuldade, afinal? Até quando ele ficaria me torturando daquela forma? Eu precisava de
uma resposta.
— Estou impressionado Srta. Blossom — ele levantou o olhar para mim — Devo dizer
que a semana foi longa para você aprender tudo isso em tão pouco tempo. Teve ajuda?
Sorri e fingi a maior cara de sonsa.
— Nenhuma, Sr. Carter, apenas estudei bastante e consegui entender.
Por favor, não me peça uma prova dessa mentira deslavada.
— Acredito em você. Deve estar louca para as suas férias, fiquei sabendo que seus
irmãos já foram para casa.
Assenti enquanto pensava o quão azarada eu era para irmãos. Fala sério, não fizeram
nem questão de esperar a irmã querida deles.
Prendi a respiração ao ver o olhar do professor a minha frente na última questão do
trabalho, ele não marcava nada com caneta, o que me deixava mais ansiosa e nervosa.
— Apenas um erro, estou impressionado de verdade Srta. Blossom.
Sorri ao ouvir as palavras. A resposta errada era referente a questão seis, onde Caleb
deixou um erro proposital para o professor não desconfiar de eu ter gabaritado um trabalho
quando antes, não sabia nem o básico da matéria.
— Então estou oficialmente de férias?
Ele riu assentindo.
— Está oficialmente de férias.
Não consegui conter o gritinho que saiu do fundo da minha garganta. Levantei da
cadeira em que estava sentada e peguei minha bolsa em cima da mesa.
— Foi um prazer aprender com o Sr. neste semestre.
Sr. Carter balançou a cabeça sorrindo.
— Pode ser sincera, Srta. Blossom.
Dei de ombros e ri.
— Você que pediu — falei — Espero nunca mais ver o Sr. na minha frente com esses
cálculos.
Nós rimos.
— Essa é a última cadeira obrigatória, agora você está livre para fazer apenas o que
gosta.
— Aleluia! — exclamei — Adeus, Sr. Carter.
Caminhei em direção a saída daquela sala com um sorriso no rosto. Eu já sentia o calor
do Tennessee me recebendo, as brincadeiras com Safira e Dexter — os labradores da família —
os passeios com Tempestade e Olaf, junto com seus filhos: Raio e Pandora. Até que o Sr. Carter
me interrompeu:
— Diz para o Caleb ser mais discreto quando for ajudar alguém, outro professor pode
não ser tão bonzinho como eu.
Me virei e o encarei com meus olhos levemente arregalados.
— Como...?
— Aproveite suas férias, Skyller — piscou e deu aquele assunto como encerrado.
Sai da sala antes que ele mudasse de ideia e me peguei rindo quando fechei a porta,
professor Carter era uma pessoa muito generosa, no final das contas.
— Pelo o seu sorriso você foi aprovada — Caleb estava encostado na parede do corredor
em frente a porta da aula de cálculo avançado, com as mãos nos bolsos da calça e as
bochechas levemente coradas.
Pelos poucos dias que passamos juntos fazendo o trabalho percebi como ele era tímido,
conversava pouco e as vezes até gaguejava. Havia algo diferente nele que eu não conseguia
decifrar, mas era encantador mesmo assim.
Pele branca, cabelos escuros e olhos azuis, usa óculos de graus com lentes levemente
redondas e aro preto, sem músculos que costumo ver no corpo de atletas que caminham pelo
campus ou que já transei, mas mesmo assim, ele aparenta ser forte. Esse era Caleb Lee
Walker, o meu anjo da guarda.
— Estou aprovada, anjo da guarda — o respondi.
Me aproximei dele, não me contive e o abracei, o deixando paralisado por alguns
segundos até que com uma delicadeza surpreendente retribuiu o abraço, mas percebi que
parecia um pouco inseguro porque não me apertou contra o seu corpo, nem nada parecido.
— Pará...parabéns — ele gaguejou ao parabenizar.
Eu ri enquanto me desfazia do abraço, percebi que suas bochechas estavam mais
vermelhas e aquilo era incrivelmente fofo.
— Você não tem que me parabenizar já que fez todo o trabalho para mim — bati em seu
ombro de brincadeira — Mas o professor Carter disse para tomar mais cuidado da próxima
vez.
Caleb franziu a sobrancelhas.
— Como ele..sa.. sabia?
— Não sei, mas ele não se importou e estou muito aliviada por isso.
Meu anjo da guarda sorriu e abaixou a cabeça, a timidez dando as caras novamente.
— Muito obrigada por me ajudar, anjo da guarda — agradeci mais uma vez.
— Você merece — ele voltou a me olhar e disse — Merece muito, Skyller.
Sorri e me aproximei dele novamente apenas para deixar um beijo na sua bochecha.
Quando me afastei, vi sua reação: olhos levemente arregalados e as bochechas pareciam ter
ficado mais vermelhas, ele era um fofo.
— Estou devendo uma para você, Caleb — eu disse — Pode me cobrar hoje, amanhã ou
até mesmo quando acabarmos a faculdade, sempre vou me lembrar o que fez por mim.
— Se..Sempre? — A pergunta pareceu mais para si mesmo do que feita diretamente
para mim, mas assenti.
— Sempre.
Olhei o relógio no meu pulso e faltavam apenas duas horas para pegar o voo para
Tennessee, eu precisava me apressar.
— Nos vemos daqui alguns meses?
Caleb concordou ainda aéreo em pensamentos. Sorri.
— Até mais, anjo da guarda.
— Até mais, Skyller.
Me afastei dele e caminhei em direção a porta da liberdade. Finalmente eu estava de
férias.
Finalmente aproveitaria alguns meses com a minha família no rancho Star e ainda
curtiria as festas que só o pessoal da pequena cidade de Franklin sabia fazer.
Férias, Skyller Blossom está chegando!
1. Obrigada, próximo

A claridade do sol faz com que eu acorde e no mesmo momento feche os olhos
gemendo em desgosto. Fala sério, eu odeio acordar dessa forma!
Uma fisgada de dor na minha cabeça me lembra que eu não estou em casa. Claro que eu
não estou. Depois de beber todas com Tyler e seus amigos, acabei vindo para casa de John, um
dos amigos de meu irmãozinho mais velho.
A noite havia sido... divertida? É, com certeza essa é a palavra, transamos o bastante
para cairmos cansados na cama e dormir um sono profundo.
Merda! Eu não deveria ter dormido fora!
Levantei rapidamente pouco me importando com a claridade que antes era
incomodativa. Peguei meu telefone ao lado da cama de John e bufei ao ver que estava no
silencioso, não, não foi só isso que me fez bufar em desgosto e sim a mensagem clara de meu
pai perguntando onde eu estava há uma hora.

Eu como não era boba e nem nada parecido respondi tentando fazer uma gracinha, que
foi revidada no mesmo segundo.
Ele não respondeu em palavras, mas o seu silêncio foi o suficiente para saber que não
queria saber.
Suspirei. Era hora de encontrar o ciumento de meu pai e aguentar o drama do
grandalhão.
Diferente do que muitos pensam meus pais e todo o resto da minha família não me julga
pelo modo que levo minha vida amorosa. É claro que eles gostariam que eu fosse mais
reservada e que tivesse um namorado como a santa da minha irmã mais nova, se eu fosse
virgem como ela, seria um bônus muito bem recebido. Ciumentos!
Mas acontece que não é bem assim que funciona comigo... em um certo nível de
comparação eu sou como Nathaniel, meu outro irmão. Não curto relacionamento, não curto
estar presa a alguém, ser dependente daquele amor que um sente pelo o outro, porque sim,
independente do que as pessoas que são apaixonadas dizem, você se torna dependente
daquilo e o pior é que nem percebe. Eu com certeza não preciso disso na minha vida, estou
muito bem tendo os meus casos casuais quando eu preciso aliviar a tensão ou só me divertir.
Não. Ninguém me magoou como fizeram com o pobre coração de Nathaniel... só de
lembrar sinto pena do meu irmãozinho. Nunca me apaixonei e quando tentei namorar larguei
o garoto por me sentir em uma prisão e não em um relacionamento. Ele não me magoou ou
algo do tipo, acredito que eu tenha feito isso com o coração do meu pobre ex namorado.
E não. Eu não tenho medo do amor e seria estranho se eu tivesse, já que venho de uma
família muito amorosa. Meus pais até hoje são apaixonados um pelo o outro, como se todos os
dias se encantassem um pouco mais por cada pedacinho de seu parceiro.
Então não havia nenhum problema comigo. Eu sou apenas uma garota de dezenove
anos que aprecia a liberdade de ter um bom sexo casual sem estar presa a alguém que queira
exigir coisas fora do meu alcance.
E mulheres... não há nada de errado em ser livre e ter um sexo casual de vez em
quando. Não somos putas por isso, nem nada do tipo.
Acontece que o mundo é meio hipócrita e machista, felizmente eu sei lidar muito bem
com isso. Dando um chute no meio das pernas dos homens que acham que podem se
aproveitar por eu ser... como eles dizem? Ah, puta. E uma lição de palavras bem ditas para
mulheres que por algum motivo ridículo acham que irão ser ovacionadas por me tratarem
como uma vagabunda. Palavras delas, não minhas.
Feminista? Eu diria que realista. Estamos no século vinte e um, direitos iguais é tudo o
que eu quero.
Felizmente as coisas mudaram quando me mudei para Ohio com os meus irmãos.
Estudamos há um ano na Universidade de Campbell e sair de uma cidade pequena e um pouco
preconceituosa foi a melhor coisa para nós.
Nas festas dos universitários de Campbell o que você mais vê é meninas como eu, livres,
leves e soltas. Garotos como meu irmão mais velhos, Tyler, estilo bad boy e caras como
Nathaniel, divertidos e que só querem curtir uma noite de sexo quente e sem compromisso.
Acho que em todo o ano eu só tive que chutar as bolas de dois caras, um ótimo número
para quem chutava essa quantidade em uma semana.
Um resmungo ao meu lado me chamou atenção. John abria os olhos com a bochecha
direita marcada pelo travesseiro por ter dormido muito tempo em uma posição só.
Eu disse que a noite havia sido ótima.
— Bom dia, belo adormecido — sorri — Já estava pensando que teria que ir embora sem
me despedir.
— Bom dia, linda — retribuiu o sorriso — O que acha de tomarmos um café?
Observei seu corpo tapado apenas pelo lençol. Ele realmente faz o meu tipo, ombros
largos, músculos de quem malha todos os dias na academia, cabelos e olhos escuros, e muito
bom de cama.
Eu sabia que o café não era apenas um café, John com certeza gostaria de repetir o sexo
maravilho da madrugada, mas isso não iria rolar, não porque eu não repetia como o meu
irmãozinho idiota, mas porque a essa hora um homem alto e de cabelos compridos deveria
estar preste a ter um infarto pela a resposta atrevida que eu dei há pouco.
— Não vai rolar, John, mas essa noite foi divertida — falei enquanto pegava meu vestido
que usei na festa passada.
Meu parceiro fez um beicinho.
— Fica para a próxima?
Assenti, mesmo sabendo que seria impossível. Hoje à noite eu e meus irmãos
voltávamos para o nosso apartamento perto da Universidade de Campbell, as aulas
começariam daqui três dias e eu precisava comprar alguns materiais para esse semestre.
— Nas minhas próximas férias quem sabe — eu disse depois de colocar meu vestido.
— Não acreditei quando me disseram que você é uma garota com o coração de gelo,
mas acho que eles estavam certos.
Revirei meus olhos para o meu apelido do ensino médio. Há anos eu não ouvia aquilo e
nem me lembrava mais do quão ridículo era aquilo.
— O que foi? Já se apaixonou na primeira noite? — Brinquei.
Ele riu.
— Não, mas mais um pouquinho e seria impossível não me encantar por você, Srta.
Blossom.
Peguei meus sapatos jogados no canto do quarto e os calcei.
— Faz parte do meu charme.
— É...você tem um jeito peculiar mesmo — falou.
Arqueei as sobrancelhas sem entender.
— Um jeito peculiar? O que quer dizer com isso?
— Seu jeito é único, meio difícil de encontrar em todas as garotas por aí — piscou —
Você é única, Skyller.
Uma garota como minha irmã ficaria com as bochechas coradas pela forma tão intensa
que ele disse essa frase, mas eu, eu meio que temi, dei um sorriso gelado e peguei minha
bolsa.
— Nossa noite foi ótima, mas agora eu preciso mesmo ir — caminhei até ele e deixei um
selinho em seus lábios.
— Eu levo você até a porta — disse se levantando.
Estava de cueca, em algum momento da noite havia tapado seu magnífico órgão genital.
Não era tão grande assim, mas soube me fazer atingir um orgasmo legal.
Colocou uma bermuda e saiu do quarto comigo.
Como disse, me levou até a porta da saída de sua casa. Felizmente morava sozinho e eu
não teria que lidar com uma mãe que poderia ser ou ciumenta ou casamenteira.
— Até qualquer dia, Skyller.
— Até qualquer dia, John — sorri e me despedi.
Com as chaves da land rover de meu pai, destranquei o carro e entrei no mesmo, logo
dando a partida em direção ao rancho Star.

— Skyller onde você estava? — Foi a primeira pergunta que ouvi assim que coloquei os
pés dentro do casarão da família Blossom.
— Bom dia para você também, papai — sorri — Estava com o amigo de Tyler.
— John não é meu amigo — meu irmão passou na sala apenas para dizer isso — Vou
galopar com Pandora.
— Você poderia me esperar, estou com saudades de galopar com Raio — falei e ele
assentiu.
— Te espero lá fora — e saiu da sala.
— Filha, que bom que você chegou — minha mãe entrou na sala e me abraçou — Como
foi a noite?
— Muito...
— Por favor, sem detalhes — meu pai pediu colocando a mão no coração — Sinto que
terei um infarto a qualquer momento.
— Como você é dramático, Dylan Blossom — larguei minha mãe e fui até ele o
abraçando — Sabe que você é o único homem da minha vida, né?
Ele se fez de difícil ao não retribuir o abraço de primeira e olhar para a mulher linda que
ele tinha como esposa, Ravenna Blossom. Esse era o nome da melhor atleta de hipismo e
campeã de vários campeonatos, inclusive as olimpíadas. Eu tenho muito orgulho de ter essa
mulher como mãe.
— Não vai abraçar a sua preferida?
— Ei — Alex apareceu na sala com Jack, o seu furão — Eu sou a preferida e você sabe
disso.
Mostrei a língua para ela como fazíamos quando éramos pequenas enquanto Jack me
olhava com aquele olhar que aprontaria alguma para cima de mim.
Eu não suportava esse animal!
Ele destruía tudo o que via pela frente, mas parecia ter uma preferência por todas as
minhas coisas. Como carregador de celular, fone de ouvido, sapatos, roupas, tudo que era meu
ele parecia sentir e entender ao mesmo tempo que pensava: “vou tirar um pouquinho mais da
paciência de Skyller”.
Aquilo não era nem um animal de estimação na minha humilde opinião.
Não sei o que minha irmã via naquilo.
— Pensei que já havia se livrado desse roedor — fiz cara de nojo.
— Eu já te falei que Jack não é um roedor e sim um mamífero carnívoro — aproximou a
cabeça do animal no seu rosto — E nunca vou me livrar dele, mais fácil me livrar de você —
Implicou.
— Se vocês não fossem tão amigas diria que essa implicância é verdadeira — minha
mãe riu nos interrompendo.
Meu pai acompanhou ao mesmo tempo que finalmente me abraçava.
— Amo você, pequena — ele beijou minha testa — Só fiquei preocupado, não avisou
que dormiria fora.
— Eu disse para Tyler, mas provavelmente ele estava bêbado demais para se lembrar
em passar o recado para vocês.
— Maninho bebeu todas ontem — Nathaniel apareceu na sala com uma caixa de isopor
nas mãos — Quem olha diz que quem sofre de um coração partido é ele, não eu.
Eu e meu pai nos entreolhamos. Por mais que Nathan fingisse muito bem, não conseguia
passar que estava tudo bem para nós que o conhecemos de verdade. Há mais ou menos três
anos Clarke Hale deu um pé na bunda de meu irmão sem nenhuma explicação. Nada está
muito bem explicado nessa história e não podemos nem citar o nome da garota porque meu
irmão a detesta.
Nunca imaginei que o amor poderia virar ódio. Mas com meu irmão foi exatamente
assim que aconteceu.
O amor que sentia quando era um simples adolescente por Clarke deu lugar ao mais
puro ódio.
— Onde vai com esse isopor? — Perguntei, mudando de assunto.
— Estávamos só esperando você para fazer um piquenique no lago — meu pai disse —
Hoje é o último de vocês aqui no rancho e precisamos aproveitar.
— Você é o melhor pai, sabia?
Ele assentiu rindo.
— Claro que eu sei disso.
— Assim sua mãe fica com ciúmes — Ravenna dramática começou a falar.
Me desfiz do abraço com meu pai e mandei um beijo para ela.
— Você é a minha campeã, lembra?
Ela também mandou um beijo.
— Por que não vai tomar um banho e se trocar? No encontramos no lago — minha mãe
sugeriu.
Assenti.
Eles saíram de casa e eu subi as escadas em direção ao meu quarto. Parei ao ver o
grande quadro no corredor e admirei a beleza de meus pais no dia do casamento.
Era um retrato deles no altar improvisado aqui no rancho, minha mãe sorria lindamente
ao lado de meu pai que se encontrava da mesma forma. Eu estava sendo segurada por ela e
também olhava para câmera.
Mais a baixo estavam os grandes cupidos daquele relacionamento. Nina e Billy pareciam
sorrir para câmera como os donos. Dois Golden Retriever que não sossegaram até ver meus
pais finalmente juntos.
Eu me lembrava vagamente deles, mas as poucas lembranças eram o suficiente para
saber que aqueles dois não eram simples cachorros.
Era uma pena que eles não vivem para sempre... nem ao menos tem o período de vida
tão grande como um cavalo.
Observei Tempestade e Olaf no fundo da foto, atrás dos donos. Hoje estavam velhinhos,
mas ainda vivos e cheios de saúdes.
Por muitos anos minha mãe e Tempestade quebraram recordes dentro do hipismo,
aquelas duas arrasam no esporte. Infelizmente atualmente minha mãe está treinando e
competindo com Pandora, filha de Olaf e Tempestade, devido à idade avançada da égua.
Me virei e entrei no meu quarto. Eu tinha uma corrida com Raio para ganhar de Tyler e
Pandora.

Me aproximei do pequeno quiosque que meu pai havia construído perto do lago e que
tinha uma visão privilegiada de todo o rancho Star e de seu hospital veterinário do mesmo
nome. Todos estavam lá, inclusive os dois labradores da família: Safira e Dexter. O último não
era totalmente da raça, o pai ou a mãe dele eram SRD. Ambos foram adotados no abrigo de
cães da cidade há mais ou menos um ano.
Meus pais acharam que depois de anos da morte de Billy e Nina era hora de ter novos
cachorros em casa, nunca substituiriam, mas era uma alegria para família como os primeiros.
— Aí estão vocês — foi só ouvir a minha voz que vieram correndo até mim. Quase me
derrubaram ao pular em cima de mim pedindo por um carinho.
Alisei suas cabeças ao mesmo tempo.
— Estão se comportando? — Latiram ao mesmo tempo — Com certeza não estão.
— Finalmente — Tyler se aproximou com Pandora e Raio, já arrumados para galopar —
Achei que teria desistido por saber que vai perder.
Eu ri.
— Está blefando — dei dois tapinhas nas cabeças dos meus bebês e me aproximei do
meu irmão — Sabe que eu vou ganhar.
— Vocês vão mesmo fazer isso? — Minha mãe gritou do quiosque — Por favor, tomem
cuidado.
— Não quero ter que levá-la para o hospital por cair do cavalo novamente, Skyller —
Meu pai disse fazendo referência à quando eu tinha apenas dez anos e cai de cima de
Tempestade.
— Aquele dia foi um acidente — gritei de volta.
— Eles sempre lembraram desse dia — meu irmão disse.
Concordei.
Olhei para Raio, pelagem preta como a mãe. A única diferença estava no seu rostinho, o
lado direito era totalmente branco, dava um charme para ele. Já Pandora era branca como pai,
seu nariz que tinha uma pequena mancha preta.
Me aproximei do meu companheiro de galopes e alisei sua cabeça.
— Pronto para ganhar, amigão? — Ele soltou um sopro, movendo o nariz contra a minha
mão a procura de mais carinho.
— Tão iludida — Tyler murmurou — Vamos logo antes que eles nos chamem para
almoçar.
Subi em cima de Raio e segurei as rédeas firmemente enquanto esperava meu irmão
fazer o mesmo.
— Preparado para perder, maninho? — Brinquei com a sua cara.
— Você tem que me responder essa pergunta — piscou.
Nathaniel apareceu na nossa frente com uma lata de cerveja que bebia.
— Eu vou dar a largada — avisou ficando no meio de nós, mas um pouco mais afastado.
Tomou um gole de sua cerveja e levantou a mão fechada.
— Um — gritou, percebi que meus pais e minha irmã se aproximavam para observar
melhor a nossa corrida — Dois — Tempestade e Olaf estavam deitados na sombra observando
tudo com certa calma — Agora!
Não esperei um segundo a mais e como Raio conhecia bem aquela brincadeira, foi
preciso apenas um movimento com os pés no estribo para ele saber que era hora de fazer a
irmã comer poeira.
Corremos enquanto ouvíamos os gritos de Alex e Nathan, minha irmã obviamente torcia
para mim e meu irmão para Tyler.
A corrida era em direção ao início do rancho para depois dar a volta para onde
começamos. Sempre foi assim e dessa vez não foi diferente.
Avistei o cercado de Star e movimentei a rédea para direita fazendo Raio virar para
aquela direção. Damos a volta e corremos em direção de onde havíamos saído há poucos
minutos.
Meu irmão era muito bom. Eu tinha que admitir. Também estava indo bem porque
estava andando com uma campeã de hipismo.
Acontece que eu também sou muito boa nisso.
Orientei Raio a ir mais rápido quando estávamos quase chegando e parecia que iriamos
empatar.
Foi por pouca distância, mas eu consegui ganhar.
— Toma essa, Tyler — gritei enquanto voltava para perto da minha família com passos
mais calmos de Raio — Você foi muito bem, parceiro.
— Vocês foram ótimos — minha mãe elogiou — Se não quisesse ser estilista poderia
seguir no ramo de hipismo.
Eu ri negando.
— Com certeza isso não é para mim — desci de Raio e alisei sua cabeça — Mas amo esse
lugar e Raio, Pandora, Tempestade, Olaf e meus bebês — falei me referindo a Safira e Dexter.
Minha mãe assentiu.
— Eu deixei você ganhar — Tyler chegou com Pandora ao nosso lado — Só para você
saber.
Eu e meu pai rimos.
— Sempre a velha desculpa, não é mesmo? Você é bom com carros, não com cavalos —
eu provoquei.
Meu irmão revirou os olhos.
— Ainda continua com as corridas? Pensei que já havia parado — meu pai perguntou —
Não gosto disso.
Tyler Blossom amava correr com carros, mas mais que isso, amava a adrenalina de
participar de corridas clandestinas.
E deixa eu dizer uma coisa, as melhores corridas e as melhores festas clandestinas são
feita em Campbell.
— Melhor nem me responder — meu pai interrompeu Tyler antes que ele abrisse a boca
— Não vamos estragar esse dia maravilhoso.
— Ninguém gosta disso menos que eu — minha mãe suspirou — Você pode sofrer um
acidente, pode ser preso, tudo pode acontecer.
— Relaxa, Rav, eu sei me cuidar — foi a resposta que meu irmão deu para nossa mãe.
— Tirem os equipamentos de Pandora e Raio e se juntem a nós — meu pai pediu — Vou
ver como está a carne no fogo.
Ele e minha mãe se afastaram e voltaram para o quiosque, deixando eu sozinha com
meus irmãos.
— Às vezes eu penso que eu irei causar o infarto deles, mas com certeza vai ser você,
maninho — eu disse enquanto retirava o freio da boca de Raio.
Ele começou a fazer o mesmo com Pandora.
— Concordo com a Sky — Alex se pronunciou.
— Digo o mesmo que falei para Rav há pouco, relaxem — começou a retirar a sela da
égua — Sei o que faço.
— Claro que sabe — Nathaniel falou, não consegui decifrar se foi sarcástico ou não.
Olhei para o meu irmão mais velho e o mais quebrado de todos nós. Cabelos escuros da
mesma forma que os olhos, pele negra e alto, muito alto. Se eu não me engano, sua altura era
1,90.
Era o único que não chamava Ravenna de mãe.
Não por não gostar dela ou algo do tipo.
Mas porque chamar ela de mãe e Dylan de pai o fazia lembrar constantemente do
passado.
Um passado que ele preferia deixar no fundo da sua mente, pelo menos durante o dia
que conseguia controlar.
Meu pai não consegue ter filhos e por isso somos todos adotados.
Eu fui a primeira, a garotinha que abriu os olhos daquele casal maravilhoso que agora
dançavam uma música romântica que saia da pequena caixa de som, enquanto Safira e Dexter
latiam e se divertiam juntos. Onze meses depois meus pais adotaram Nathaniel que já estava
com dez meses. Eu sou alguns meses mais velha que ele, pouca coisa.
Eu e Nathan conseguiríamos passar por irmãos e filhos de Ravenna e Dylan facilmente se
não fosse pelos olhos. Enquanto meus pais são loiros de olhos azuis, eu sou loira de olhos
esverdeados e meu irmão loiro de olhos castanhos.
Já Alexandra que veio logo depois de nós, dez meses mais nova, é a caçula, tem olhos
verdes e cabelos escuros.
Tyler foi a última adoção, mas é um ano mais velho que nós. Meus pais o adotaram com
13 anos.
Meu irmão mais velho sofria com pais totalmente abusivos, minha mãe viu e os
denunciou. O conselho tentou intervir, mas não antes do garotinho ver uma cena que para
sempre estaria em seus pesadelos: o pai matando a mãe para logo depois se matar.
Eu não sei o inferno que ele passou com aquela família, isso é algo que só ele sabe e
guarda para si, o que psicologicamente falando faz muito mal.
Não estudo psicologia e nem me imagino fazendo algo tão complicado como tentar
entender a mente de um ser humano.
Mas eu sei que parte de Tyler ter desenvolvido TEI — Transtorno Explosivo Intermitente
a partir dos 13 anos, logo depois que foi adotado pelos meus pais, tem a ver com seu passado.
Foram anos de terapia para ele conseguir controlar os ataques de raiva, hoje em dia não
precisa de tantos medicamentos como precisava antes.
Já a minha caçula... a bebê da família, a pequena Alex, sofria de bipolaridade. Foi
diagnosticada aos quinze anos quando teve uma crise depressiva. Também foram anos de
visitas ao psicólogo e hoje tem um tratamento rígido de remédios, não são muitos, mas são
fundamentais para não ter outra crise.
Felizmente ela não teve mais nenhuma, seja ela depressiva ou de pura euforia. Parte
disso, além dos remédios, é porque ela namora, não quero ser ridícula a ponto de dizer que ela
está bem porque está com um homem e que as crises não podem voltar. Não estou
romantizando nada aqui, mas minha irmã está no que julga ser a melhor fase de sua vida:
cursando o curso dos sonhos — medicina veterinária — e com o homem que a levará para o
altar.
E é isso que eu estava falando no início do meu dia.
Sem perceber minha irmã é totalmente dependente de Jordan O’Connor, de tudo o que
ela sente pelo o namorado.
E eu não gosto nem de pensar o que aconteceria se ele chutasse a sua bunda para bem
longe.
Minha irmã se alto destruiria.
Eu tenho certeza disso.
— Amor — foi só falar no diabo que ele aparecia.
Jordan O’Connor se aproximou da gente com o sorrisinho irritante de sempre. Não, eu
não gostava do garoto, nem eu e nem meus irmãos. Apenas o suportávamos, por nossa caçula.
Ela o amava demais.
Alexandra conheceu Jordan no ensino médio. Ele era o capitão de time de futebol da
escola e despertou o interesse de minha irmã. Fizeram um trabalho juntos de inglês e adivinha
só? Começaram a se beijar.
Simples assim.
Desde então estão namorando e mesmo estando na mesma faculdade permanecem
firme no relacionamento. Mas por que você não gosta dele, Sky?
Meu instinto me diz que Jordan não é o cara certo para a minha irmã. Vamos lá, ele está
com ela há quatro anos e nos últimos meses vem pressionando Alex para perder a virgindade
com ele.
Eu não acredito no papinho que ele ainda é virgem.
Eu simplesmente não acredito em nada que sai da boca desse garoto.
Minha irmã não se sente preparada para isso e eu dou razão, cada um tem a sua hora.
Uns mais cedo — eu — outros mais tarde — ela—.
Na minha opinião ele trai Alex, nunca investiguei a fundo porque tenho medo de minha
irmã ter uma crise, tamanho a dependência que ela tem desse cara. Pode parecer ridículo o
que eu estou dizendo, mas só quem sofre com uma pessoa bipolar sabe o inferno que é estar
com ela em crise.
Eu e meus irmãos já tentamos ser sutis ao dizer que não confiávamos em Jordan, tudo o
que recebemos foi bufada e frases prontas como: “vocês estão sendo irmãos ciumentos”.
— Oi para você também, Jordan — Nathaniel cumprimentou.
— Olá irmãos da minha pequena — ele sorriu e beijou os lábios de Alex, que também
sorria como uma boba.
Onde está o balde mais próximo para eu vomitar?
— Como está, Jack? — alisou a cabeça do furão que já estava sonolento no colo de
minha irmã.
Era só isso que esse animal sabia fazer: comer, dormir e destruir todas as minhas coisas.
Eu e Tyler retiramos todos os equipamentos de Raio e Pandora. Meu irmão pegou os do
cavalo dos meus braços e se dispôs a ir guardar no galpão.
— Parece que perdi a corrida de vocês dois — Jordan disse.
— Infelizmente, amor, mas Sky ganhou — Alex falou.
— Sempre dando um show, não é, Skyller?
— Não para você — a minha resposta com ele era sempre curta e grossa.
Alex me repreendeu com o olhar e Nathan fez um certinho com a mão atrás dos dois.
— Crianças o almoço está na mesa — mamãe chamou como se tivéssemos dez anos de
idade.
— Vamos comer porque estou louco de fome — Nathan disse se encaminhando para a
mesa do quiosque.
Deixei Pandora e Raio soltos, fui para o quiosque junto com Alex e Jordan. Minha irmã
deixou Jack na gaiola grande dele, que só usava para emergência como essas e se sentou ao
lado do namorado.
— Jordan que bom que veio — Meu pai cumprimentou.
— Fico feliz que me convidaram para o almoço — sorriu — Adoro esses momentos em
família com vocês.
Minha mãe sorriu encantada e eu quase perdi o apetite.
Não era possível que só eu enxergasse falsidade nesse cara.
Tyler se aproximou de nós e se sentou ao meu lado. Nathan ocupou o lado esquerdo e
meus pais se sentaram na nossa frente ao lado de Alex.
— Para o almoço eu fiz o prato preferido de sua mãe — meu pai disse enquanto cortava
a carne no espeto.
Minha mãe ama churrasco. Ela sorriu enquanto meu pai colocava um pedaço de carne
no seu prato.
— E então, preparados para mais um ano letivo? — Jordan puxou assunto.
— Será como todos os outros — dei de ombros — Pensei que a faculdade mudaria
muita coisa da escola, mas não tem tanta diferença assim.
— Fala sério, maninha — Nathan riu enquanto se servia de salada — Sem nossos pais,
festas, professoras universitárias gosto...
— Nathaniel! — mamãe o repreendeu — Eu não acredito que está dado em cima das
professoras.
— Me diga onde está a professora gostosa porque eu não encontrei nenhuma ainda —
Tyler disse.
— A professora de cálculo inicial é uma gracinha — eu quase cuspi o suco que bebia.
— Ela tem idade para ser sua mãe! — exclamei.
— Gosto das mais velhas — piscou.
Revirei os olhos. Nunca vou me esquecer do dia que meus pais foram chamados na
direção da escola porque Nathan havia dado em cima de uma professora.
Ele é um cretino. Pior que eu.
— Tyler e Nathan, chega desse assunto! — Minha mãe os repreendeu como se fossem
crianças — Estão na faculdade para estudar.
Agora foi a minha vez de rir.
— Nem você acredita nisso, mamãe — soprei um beijo para ela, que me fuzilou.
Mas minutos depois riu.
— Sinto que esse semestre será diferente — Alex abriu a boca para fazer suas previsões.
— E lá vem você com isso...
— É sério, eu realmente acho que vai ser diferente — ela defendeu — Talvez você
encontre um amor.
Agora quem riu foi o meu pai e Nathan.
— Com certeza isso não vai acontecer — meu irmão disse — Você já viu como Skyller
trata os caras que se apaixonam por ela?
— Ei.
Ele não me deu ouvidos.
— Não é por menos que chamavam ela de coração de gelo na escola.
— É porque ela não encontrou o cara certo ainda — minha mãe disse toda sonhadora —
Quando Skyller encontrar esse homem vai perceber que tudo o que julga sobre o amor é
errado.
Eu abri a boca para responder que não era. Que a prova do que eu defendia estava bem
ali na minha frente, entre Alexandra e Jordan, mas tudo o que eu disse foi:
— Está pra nascer o homem que me fará mudar de ideia.
Poucos meses depois eu percebi que deveria ter simplesmente mantido a minha boca
fechada para tudo isso.
O homem não só já tinha nascido como eu já o conhecia.
2.Anônimo

Eu vou matar Jack Blossom.


O furão parecia rir da minha cara enquanto eu segurava o meu tênis novinho diante dos
meus olhos, o qual ele havia acabado de roer.
Roeu como se sua vida dependesse daquela simples tragédia. Tudo isso para me ver
furiosa.
Eu sabia.
Eu sabia pela forma que ele me olhava com aqueles olhinhos pequenos e do jeito que
parecia debochar com um sorriso no rosto.
Eu vou matar esse animal.
Me movimentei lentamente para pegá-lo e ensinar uma lição para nunca mais mexer
nas minhas coisas, mas ele foi mais rápido e correu para fora do meu quarto.
Isso não vai ficar assim!
Corri com o par de tênis atrás dele. Desci as escadas do apartamento a tempo de ver o
maldito pular nos braços da sua dona, como se fosse o bichinho mais inocente do mundo.
— Skyller, o que pensa que está fazendo com esse tênis e correndo atrás de Jack?
— O seu querido Jack, estragou o meu tênis novo que só usei uma única vez — mostrei
o estrago que aquele roedor havia feito no meu pobre calçado.
— Filho... eu não acredito que você fez isso de novo — Alex alisou a cabeça dele.
Minha irmã alisou a cabeça dele. Alisou.
Eu vou matar os dois!
— Como espera que esse roedor tenha modos quando você o “xinga” fazendo carinho?
— Ele não fez por mal, não é, Jack? E é mamífero, não roedor!
— Me dê ele aqui, irei ensinar uma lição para esse animal.
Alex o segurou mais contra o corpo. E eu juro que vi aquele animal rir da minha cara.
— Você não vai encostar um dedo nele furiosa desse jeito. Sobre o tênis, eu posso
comprar outro.
Revirei meus olhos.
— Não é sobre comprar, é sobre educar — larguei o tênis no chão — Jack vive
destruindo as minhas coisas. Só as minhas!
— Talvez seja porque você não dá atenção para ele.
Minha irmã beijou o topo da cabeça do furão e eu vi como ele olhava apaixonado para a
dona. Nem aquela cena foi o suficiente para espantar a raiva que eu estava sentindo.
— Ele começou — me defendi — Eu nunca fiz nada para esse roed...
— Mamífero — me corrigiu de novo.
Revirei meus olhos. Que seja! Eu estava furiosa ainda. Pretendia usar aquele tênis na
festa que teria esse final de semana.
— Quando vocês duas acordam é impossível continuar dormindo — Nathaniel desceu as
escadas com o velho costume: sem camisa e de bermuda.
— Bom dia para você também — resmunguei — E por que não desceu pronto? Daqui a
meia hora tem aula.
— Vou chegar atrasado — deu de ombros pouco se importando.
Eu não conseguia entender como meu irmão tinha notas boas na universidade para
manter a vaga no time de basquete, quando chegava atrasado em mais da metade das
disciplinas matriculadas. Ele é um gênio e não precisa de muito esforço para entender uma
matéria, um cálculo, um texto ou qualquer outra coisa.
— Bom dia, irmãos! — Tyler cumprimentou assim que desceu as escadas e se aproximou
de nós — Ouvi gritos, o que aconteceu dessa vez?
— Jack roeu os tênis de Sky — Alex explicou.
Meu irmão mais velho deu um sorriso de lado.
— Agora entendi. Relaxa, Sky, tenho certeza que pode comprar outro e ter mais cuidado
para Jack não pegar.
Arregalei meus olhos e coloquei a mão no peito sentindo o baque das palavras que ele
acabou de soltar.
— Está defendendo o roedor ao invés da sua irmã?
— O drama não combina com você, maninha — Nathan riu baixinho enquanto se servia
de café.
Não mesmo.
Me aproximei da bancada da cozinha e foi a minha vez de me servir de café. Precisava
de algo bem forte para aguentar a aula de hoje. Não que eu não gostasse de estudar moda,
mas eu já não via a hora de estar me formando e seguir os planos de ter o meu próprio ateliê.
— O que vamos fazer de divertido hoje? — Nathan perguntou.
— Eu irei estudar com Jordan — quase revirei os olhos quando ouvi Alex dizer. Foi por
pouco.
— Eu preciso terminar uns rascunhos de um trabalho que estou fazendo — respondi.
Vi o bico de tristeza de Nathaniel se formar.
— Poxa, eu pensei que teria companhia para a festa de hoje à noite.
— Uma festa? Logo na quarta-feira? — Alex se expressou com seus pensamentos de
santa.
— Você sabe que aqui em Campbell só não rola festa na segunda porque estão se
recuperando do dia anterior — Tyler disse uma verdade.
— E você, maninho? Pretende ficar em casa ou ir para o seu cantinho clandestino?
— Não tenho corridas em dia de semana, já deveria saber disso — meu irmão mais
velho respondeu.
— Então arrumei uma companhia — Nathaniel sorriu aparentemente contente.
— Não falei que iria.
— Deixa de ser careta, você pode ser um pouco mais sociável e acompanhar seu irmão
maravilhoso em uma festa, ainda por cima, fode...
— Olha a boca! — Alexandra repreendeu Nathan.
Bebi o café para não rir daqueles três. Tyler não gostava muito das festas que a
fraternidade masculina dava, ele até ia quando não tinha nada para fazer, porém o que meu
irmão gostava mesmo era das festas clandestinas que aconteciam na beira da estrada de
Campbell. Era o lugar perfeito para as corridas que também eram clandestinas. As festas
sempre iniciavam depois da meia noite junto com corridas, o horário era perfeito para não
chamar tanta atenção, mesmo que os barulhos dos pneus dos carros no asfalto chamassem
por si só.
Eu sabia que Ryder Fraser, o homem que comandava todo o mundo clandestino que
meu irmão fazia parte, tinha contatos com a polícia. Por isso nunca haviam sido presos e nem
procurados.
Eu gostava de qualquer tipo de festa, seja ela clandestina ou da república. Em todas eu
me divertia, por isso entendia o descontentamento de Nathaniel por não ter minha companhia
na de hoje à noite.
Mas infelizmente eu precisava focar naqueles desenhos, ou eu perderia a inspiração.
— Eu vou pensar se vou ou não com você, Nathaniel — Tyler concluiu.
De meus irmãos Nathaniel era o mais pegador e Tyler o mais reservado. Não que meu
irmão mais velho não gostasse de ter um caso de vez em quando, longe disso, eu já até tinha
visto aos beijos com uma garota no início do semestre passado.
Mas não passava disso.
Tyler Blossom era muito reservado e também fechado, em certos momentos cheguei a
me perguntar se o motivo de ser assim era por culpa do passado fodido que ele tinha.
Talvez fosse.
Tudo o que eu sabia era que meu irmão ainda sofria e usava de suas corridas para não
esmurrar a cara da primeira pessoa que o irritasse.
TEI é a pior coisa.
Mesmo que ele tomasse remédio para ficar um pouco mais sob controle, ainda sim,
quando fingia se esquecer para poder usar toda a sua energia em uma corrida, tinha que se
controlar para não explodir.
Eu odiava ver meu irmão sofrendo e não poder fazer nada.
Mas se havia alguma coisa que eu aprendi ao longo desses anos ao lado de Tyler é que
ele não suporta ser consolado por alguém. Não suporta se sentir fraco, não quando diz que
agora tem tudo o que sempre sonhou.
Agora ele tem uma família de verdade.
Mas o seu sonho não foi capaz de apagar os seus pesadelos.
Havia noites em que acordávamos com os seus gritos de pura angústia e não havia nada
pior do que a sensação de impotência, nada do que faríamos poderia mudar o que ele sentia.
— O que foi, maninha? Está muito pensativa — Nathan me observou.
Sorri tentando disfarçar os últimos pensamentos.
— Apenas ansiosa para o fim de semana — respondi.
— Isso eu também estou — meu irmão sorriu com aquele sorriso típico de safado que
falaria safadezas — Beca vai comandar a festa e eu estou louca por aquela buc...
Alexandra enfiou um pão na sua boca, o interrompendo.
— Olha a boca!

A minha professora de História da moda parecia muito empolgada em descrever como


os estilos haviam iniciado no mundo, já eu, estava mais empolgada em concluir aquele
rascunho na minha folha de caderno.
A inspiração para o vestido havia aparecido do nada. Foi apenas olhar a minha colega
com fones de ouvidos entrando na sala no início da aula vestindo uma camiseta com uma
única estampa de uma grande rosa na frente, para surgir a ideia de desenhar uma peça
delicada como aquela flor.
E estava dando certo se não fosse pela curiosidade extrema da minha colega de classe,
que parecia não se conter um minuto na cadeira, tão impaciente com a aula de teoria como
eu.
Ela não tinha nada para desenhar, não?
— Já terminou? — Anne Decker pergunta pela quarta vez.
— Você, como futura estilista deveria saber que não desenhamos tão rápido assim,
requer tempo e paciência. Isso aqui é só um esboço.
— É claro que eu sei disso — ela resmungou — Mas estou curiosa, geralmente quando
você tem esses momentos de criatividades momentânea só sai coisa boa.
— Obrigada pelo elogio — sorri agradecida — Mas eu realmente preciso de espaço se
você quiser ver esse rascunho pronto.
Falei devido a ela estar quase em cima de mim para espiar, de tão curiosa que era. Ane
voltou a se ajeitar no banco. Se passou no máximo um minuto com ela olhando para
professora Diana e fingindo estar compreendendo o que explicava, para se voltar para mim e
perguntar:
— Vai na festa do Brad hoje à noite? — Perguntou baixinho para não chamar a atenção
de Diana que voltava a colocar algumas datas na lousa branca.
— Não, preciso terminar uns desenhos.
— E Skyller Blossom recusando uma festa, essa é novidade.
— Sabe que levo o curso muito a sério e não estou nem um pouco animada para a festa
do Brad, mas sim para a do final de semana.
— Tenho que concordar com você, a festa de Beca promete — ela sorriu — Mas sabe...
eu fiquei sabendo que um certo jogador de basquete vai estar lá hoje à noite...
Parei de desenhar e olhei para Anne. Minha colega com seus olhos e cabelos castanhos
escuros me olhava com um sorriso no rosto. O jogador em questão, era Nathaniel, meu irmão.
Anne era simplesmente apaixonada por ele, mesmo eu dizendo que aquilo era perda de
tempo e que só quebraria o seu coração.
Nada adiantava, parecia minha prima com o capitão do time de basquete: Bradley
Aldrich. Aquela lá era outra apaixonada por alguém que nunca havia trocado meia dúzia de
palavras.
Fala sério, não é possível se apaixonar dessa forma.
Nem meus pais que tem o amor mais lindo desse mundo se apaixonaram à primeira
vista.
Talvez a segunda vista, mas com certeza não na primeira.
Vamos ser um pouquinho realistas aqui, o amor e paixão existem sim, mas você precisa
pelo menos conhecer a pessoa para sentir tudo isso. Não apenas observá-las de longe com um
maldito obsessivo.
Eu costumo dizer que o que elas sentem é fogo no meio das pernas, e costumo receber
um tapa no braço ou no peito por causa da minha sinceridade.
— Você não desiste mesmo, não é?
Anne sorriu balançando a cabeça.
— Você sabe que não. Um dia eu e seu irmão iremos nos casar, e você será a madrinha.
Segurei a risada.
— Agora você está exagerando.
— É sempre bom sonhar, né?
— No seu caso acho que deveria cair na realidade, Anne. Meu irmão não quer saber de
relacionamentos e eu não quero que vocês se envolvam e ele acabe quebrando o seu coração
— segurei sua mão por cima da mesa — Você merece conhecer uma pessoa, se apaixonar por
ela. Essa pessoa tem que te conhecer e se apaixonar exatamente por quem você é.
O sorriso de minha amiga morreu, ela sabia que no fundo eu estava certa e talvez não
tivesse gostado do que eu havia acabado de falar. Mas aquela era a pura verdade.
— Agora você é romântica? — Ela tentou quebrar o clima.
Eu neguei rindo, larguei sua mão e voltei a me concentrar no desenho.
— Você sabe que não sirvo para romances, estou muito bem dessa forma, mas sei o que
é certo e errado. E o que você está fazendo é errado.
Ela abriu a boca para dizer algo, mas o sinal alertando o fim da aula soou pelo prédio.
Felizmente o meu esboço havia ficado da forma que eu imaginava na cabeça, agora era
só chegar em casa e começar a construir melhor a ideia.
Guardei os materiais na bolsa, porque eu detestava mochila e sai da sala junto com
Anne. Faltavam dez minutos para o meio dia, eu e meus irmãos havíamos combinado de nos
encontrar no estacionamento com nossa prima, Mackenzie Brown para almoçarmos juntos em
uma hamburgueria que ficava perto do campus.
Hoje era o dia do lixo, como dizia meu irmão Nathaniel, o mais fitness de todos nós.
Segundo ele, um atleta deveria manter uma alimentação saudável e uma série de exercícios
que ele amava fazer e se exibir, com os músculos e tanquinho.
Não sei o que fiz para ter um irmão que se ache tanto como ele.
Tyler ama exercícios e é tão musculoso como ele, mesmo assim não fica se achando.
Mas voltando... Nathaniel havia especificado que todas as quartas feiras era dia do lixo,
onde poderíamos comer comidas com muito carboidrato, gordura e toda aquela guloseima
que todos nós amamos.
Hoje decidimos comer hambúrguer.
— Nos vemos mais tarde? — Anne perguntou ao meu lado.
— Claro.
Ela foi para o outro lado do corredor e eu segui para o estacionamento. De longe pude
ver Caleb Lee Walker, o meu anjo da guarda. Ele estava com as mãos no bolso do moletom
preto que usava, reservado como sempre e alheio demais para notar que eu estava o
observando.
Ao seu lado estava um garoto que falava e gesticulava com as mãos sobre alguma coisa.
Parecia ter aquela mania de conversar e não parar um segundo de demonstrar com as mãos.
Pensei em caminhar até eles e cumprimentar meu anjo da guarda com um beijo na
bochecha, só para vê-lo corar depois, mas eu realmente precisava me apressar para encontrar
meus irmãos no estacionamento ou aqueles idiotas eram capazes de me deixar para trás.
Quando me aproximei do carro de Tyler, todos já estavam me esperando da mesma
forma que eu previ.
— Mais um minuto e você pegaria um táxi — Tyler disse.
— Até parece que você permitiria isso, maninho — me aproximei dele e o abracei —
Você dentre todos eles faria questão de me esperar.
Ele revirou os olhos, mas riu enquanto me abraçava de volta.
— Como foi a aula? — Perguntou.
— Não prestei muita atenção, estava ocupadíssima desenhando um vestido.
— É mesmo? Estou ansioso para ver essa coleção que está desenhando.
— Eu juro que vou mostrar quando estiver pronto.
— Nossa como vocês dois são grudentos — Nathan expressou os seus pensamentos —
Desse jeito vai perder sua fama de bad boy, Tyler.
Mostrei a língua para Nathaniel e me afastei de Ty.
— Você está é com ciúmes que eu sei — estendi meus braços — Vem aqui abraçar a
maninha.
— Nem pensar, Sky, volte para o seu irmão favorito.
Prendi o riso e me aproximei mais dele com os braços abertos.
— Eu tenho uma fama a zelar.
— Eu também tenho — dei de ombros e continuei o meu caminho.
Cheguei na sua frente e ele nem fez questão de esquivar quando o abracei, assim como
nem demorou para retribuir.
— Sou o seu preferido, não é? — Perguntou convencido.
— Não acredito que meus pais não me deram irmãos — Mackenzie que até então estava
quieta, lamentou. — Olha essa relação incrível que vocês têm.
— Você pode até não ter irmãos de sangue, mas somos seus irmãos do coração — Alex a
abraçou de lado — Sabe disso, não é?
— Claro que eu sei.
Me desfiz do abraço com Nathaniel.
— Mack, como está? — Perguntei para minha prima, fazia alguns dias que não a via.
Desde a volta da viagem para ser exata.
Mackenzie Brown é filha da prima de minha mãe e minha tia, Alisson Brown e de
Matthew Brown, o melhor amigo de meu pai. Ela também estava passando as férias no
Tennessee, mas era em Nightfall, o rancho vizinho dos meus pais. Onde minha mãe havia
descoberto a paixão pelo hipismo e o mais puro amor por Dylan Blossom.
— Bem e louca de fome — ela colocou a mão na barriga — Não tive tempo de tomar
café da manhã.
— Então vamos comer — Tyler disse.
Entramos no carro. Eu e as meninas fomos atrás, Tyler na direção e Nathaniel ao lado.
Foi meu irmão mais velho dar a partida no veículo que percebi os olhos brilhantes de Mack
observarem Bradley Aldrich do outro lado do campus.
— E você não desiste mesmo — murmurei — Desde que entramos na faculdade está
encantada por ele.
— Ele é tão lindo... tão forte...tão...
— Por favor, não quero saber o que você acha do meu capitão de time — Nathaniel
interrompeu — Não seria mais fácil você pegar ele em uma festa? Sabe...homens amam
mulheres com atitudes, não é, Sky?
Arqueei as sobrancelhas.
— Eu não sou como a Sky — Mack disse me fazendo virar o rosto totalmente para ela.
Como assim “como a Sky?” — Ah, prima, você sabe... você nem cora quando um homem olha
para você por mais de cinco segundos.
— Por que eu ficaria corada com isso?
— Porque é normal na maioria das garotas — Alexandra se intrometeu — Eu mesma
coro até hoje com Jordan.
— Você é uma santa virgem, não conta — Nathan disse.
— Nathan! — Tyler o repreendeu — Isso é jeito de falar com Alex?
— O que foi? Ela sabe que eu amo ela, né maninha? — movimentou o braço para trás e
segurou a mão de Alex que estava atrás dele — Ela mesmo me chama de galinha. Isso que
temos é amor.
— Vocês são estranhos, felizmente eu não sei o que seria da minha vida sem vocês —
Mack falou — Mas voltando ao assunto, Sky... você é a garota que chega no cara que quer
transar e pronto, os dois fazem um sexo casual e no outro dia cada um para o lado. Eu não sei
nem como chegar no Brad.
— Brad? — Nathan riu.
— Pra mim ele sempre foi Brad.
— Meu Deus — murmurei para mim mesma.
As vezes sentia que não havia saído do ensino médio e ainda vivia na era dos crushs, fala
sério! Anne toda apaixonada pelo o galinha do meu irmão e Mack caidinha pelo o capitão de
time de basquete.
Já somos adultos!
Anne com certeza arrumaria uma decepção? Sem dúvidas! Falta de aviso minha é que
não foi.
Já Mackenzie tinha um pouco mais de sorte no quesito crush, Bradley Aldrich parecia ser
um cara legal e tenho certeza que se minha prima se aproximasse dele, ele não a afastaria.
— Vou entrevistar ele para o jornal da universidade — minha prima soltou de uma só
vez.
O que?
Essa foi a pergunta que todos fizeram quando ela jogou aquela bomba.
— Essa é a sua oportunidade — eu falei — Finalmente ele vai notar você.
— Estou pensando em mandar outra em meu lugar — ela disse e começou a mexer com
a cutícula da unha para não olhar nos meus olhos, porque ela sabia que eu estava chocada e
preste a bater nela.
— Como assim mandar outra em seu lugar? — Alexandra perguntou.
— Está com medo — Tyler a estudou pelo retrovisor — Pela primeira vez vai ficar de
frente com a pessoa que você admira e está com medo de passar vergonha.
— Sabe que sou uma máquina de desastres — ela sorriu envergonhada.
— Verdade — Nathaniel concordou, mas assim que viu o olhar de Tyler, concertou —
Mas quem não é desastrado nessa vida, não é mesmo?
Balancei a cabeça, meu irmão não ajudava nem um pouco.
Tyler estacionou o carro na frente da hamburgueria que iriamos almoçar, assim que ele
desligou o carro, voltei a prestar atenção em Mackenzie.
— Aí dentro de você mora uma garota confiante que nem a sua mãe — eu apontei para
o seu peito — E que nem eu, faça essa entrevista e chame atenção da sua paixão, dessa forma
que você é.
Ela sorriu.
— Quem diria que você me daria conselhos amorosos.
— É só porque quero ver logo esse tesão todo que você sente por ele acabar — pisquei.
— Você é ridícula, Skyller Blossom! — me deu um tapa no braço — Agora vamos comer,
porque eu tenho uma entrevista para marcar.
— Essa é a nossa prima — Alexandra sorriu.
Saímos do carro e entramos na pequena lanchonete que vendia o melhor hambúrguer
da cidade. Era ali o nosso lugar preferido. Grandes mesas redondas e bancos em estofados da
cor vermelha, dava um charme ao local.
Caminhamos até a nossa mesa de costume. Tyler que sabia que o que cada um
costumava a comer, foi fazer nossos pedidos e nós continuamos a conversar amenidades.
— E você, Skyller, vai na corrida de Tyler semana que vem? — Mack perguntou.
— Eu tenho escolha?
— Você sabe que não — Tyler disse ao se sentar ao meu lado — Quero todos vocês lá.
— Eu não perco por nada, depois rola aquele tipo de festa que nunca rolaria na
fraternidade — Nathaniel sorriu provavelmente visualizando a festa em sua cabeça — Mal
posso esperar para cair fundo...
— Não continua — Alexandra interrompeu — Eu sabia que viria uma bobagem a
qualquer momento.
Meu irmão mostrou a língua para ela.
— Isso porque você não sentiu como é o ato, espera só para você saber como é que
nunca mais vai deixar o Jordan em paz — piscou.
Todos riram.
— Espero que não seja com Jordan — acabei deixando passar.
— Nunca vai gostar dele, não é mesmo? — Alex questionou.
— Você sabe que eu já tentei — dei de ombros — Nossos santos não batem.
— No caso o dele não bate com o de ninguém — Tyler corrigiu — Mas se você está feliz,
é o que importa, maninha.
— Obrigada por me entenderem, eu realmente amo o Jordan — sorriu, toda
apaixonada.
Eu tenho tanto medo que ela se decepcione.
Ao olhar para Tyler do meu lado, percebi que ele pensava a mesma coisa que eu.
— Mas então, vai competir com quem semana que vem, maninho? — Nathaniel
percebeu que era hora de quebrar aquele clima tenso que começava a se alastrar na mesa.
— Eles ainda estão selecionando os corredores, mas...
Uma mensagem no meu celular fez com que eu parasse de prestar atenção no que eles
estavam conversando. Peguei o aparelho e franzi a testa ao ver uma nova mensagem de um
número desconhecido.
Senti a garganta ficar seca quando comecei a ler o que estava escrito.
“Tarde demais a conheci, por fim; cedo demais, sem conhecê-la, amei-a profundamente.
—William Shakespeare
Bastou um olhar para eu me apaixonar por você. Não quero que seja tarde demais para
conhecê-la, mas também tenho medo que seja o fim. Você se apaixonaria por um garoto como
eu? Olho os caras que você fica, e eu não sou nada perto deles. Não quero ser inseguro aqui,
mas essa é a mais pura verdade. A resposta para a minha pergunta com certeza é um não, mas
quero que saiba que como a frase dita acima sem conhecê-la eu a amei...”
Que porra é essa?
Olhei a mensagem novamente. Não havia mais continuação, não havia mais nada.
Apenas aquelas palavras que não fazia o menor sentido para mim.
E que número é esse? Eu não faço ideia de quem me enviou essa mensagem.
Olhei mais uma vez. Se apaixonou por mim? Um garoto como ele? Me ama? Eu não
conseguia raciocinar direito. Talvez fosse um engano, claro, poderia ser um engano e eu estava
recebendo uma mensagem de um amante querendo conquistar a garota dos sonhos. Engano,
isso.
“Oi, amigo? Acho que você enviou errado, mas tudo bem, não sei quem você é e também
não sei quem é a garota.”
— Tudo bem, maninha? — Tyler perguntou ao meu lado.
Assenti devolvendo o celular para a bolsa.
— Claro, apenas respondendo algumas mensagens.
Os lanches chegaram e eu peguei o meu, mas antes de prová-lo, recebi uma nova
mensagem. Pensei em deixar para depois, mas algo me fez pegar o telefone. A nova
mensagem recebida me fez estremecer levemente.
“Não foi um engano.”
3.Esse é o plano

Ela não lembra que eu existo.


Observo Skyller Blossom sorrir abraçada de lado ao irmão, Tyler Blossom, alheia a todos
os olhares que provoca nos outros universitários. Ela caminha devagar e com um charme
sensual que só ela tem, como se gostasse de ser admirada, ela gosta da atenção e tenho
certeza que sabe do poder que tem.
Por meses eu achei que Tyler era algum tipo de caso fixo, pela forma que eles vivem
grudados e não são nada parecidos. Skyller é loira, corpo curvilíneo, não é muito alta, deve ter
1,66m, seus olhos são ora verde, ora castanho, é engraçado a forma como aquelas íris mudam
de cor. Já o seu irmão é negro, musculoso, cabelos ralos e olhos de um castanho escuro.
Só então entendi o porquê um irmão era tão diferente do outro.
Todos eram adotados por Ravenna e Dylan Blossom, a primeira, uma famosa atleta do
hipismo, o segundo, dono de uma rede de hospitais veterinários.
Os irmãos Blossom eram muito famosos na Universidade de Campbell. Talvez fossem
por suas belezas, a forma como não se achavam por ter certo status devido aos pais serem
famosos, mas acredito que o mais diferente de tudo isso e que com certeza despertava a
curiosidade dos outros universitários era a forma como eles eram amigos. Não, melhores
amigos.
Sorri ao lembrar o que Skyller havia me corrigido quando elogiei a forma como eles
eram tão amigos no dia que a ensinava cálculos.
Skyller...
Era tão ridículo eu sonhar que um dia ela me notaria? Não como o garoto nerd que a
ajudou a ser aprovada na disciplina, mas sim como um homem de verdade.
Balancei a cabeça, chateado comigo mesmo.
Quem eu quero enganar?
Eu não consigo nem olhar dentro dos olhos dela por cinco segundos sem corar e
gaguejar.
Como um maldito idiota.
Maldita timidez.
Maldita fobia social.
Maldito eu.
Foram anos de tratamento psicológico para eu poder ficar dentro de uma sala de aula
sem sentir o coração acelerar de medo, de ansiedade.
Foram anos para ter um único amigo que eu carrego comigo para o resto da vida.
Foram anos para poder finalmente levar uma vida perto do normal para quem sofre de
transtorno de ansiedade social.
Foram meses para poder ficar na frente de Skyller e me oferecer para ajudar em um
simples trabalho.
Eu achei que poderia chamar sua atenção com aquilo, eu me iludi.
Ela nunca me notaria de verdade. Eu sou só o cara que a ajudou em um trabalho de
cálculo, eu sou só o seu anjo da guarda.
Lembro como se fosse ontem quando a vi chateada por não ter conseguido uma boa
nota, eu ouvi do professor que ele facilitaria para ela e daria um trabalho para fazer. Skyller
saiu sem esperanças daquela sala, porque de nada ajudaria um trabalho se ela não sabia o
conteúdo.
Foi então que eu me meti em sua frente.
“Ela parou e me olhou, tentando entender o que eu estava fazendo na sua frente e
provavelmente tentando entender quem eu era.
— Oi?
Foi a primeira vez que ela dirigiu sua voz para mim e a sensação que tive foi inexplicável
em palavras. Ela finalmente estava me olhando nos olhos e falando comigo, eu não podia errar
naquele momento, eu tinha que ser confiante e não deixar que minha ansiedade me
atrapalhasse, mas foi exatamente ao contrário.
— O...o
Por Deus! Eu não conseguia nem ao menos dizer oi, como me oferecia para ajudá-la?
Como conseguiria conversar com ela sobre o trabalho? Eram tantos “como” que eu tentei não
pensar em todos eles, ou poderia ter uma crise de pânico ali mesmo.
E só Deus sabe que eu preferia morrer a ter uma crise de pânico na frente da garota que
eu sou apaixonado.
Ela sorriu lindamente para mim, mesmo que por dentro estivesse muito chateada com os
últimos acontecimentos.
Todos estavam entrando de férias, menos ela.
— Respira — ela tocou no meu ombro, além do arrepio que senti por todo o meu corpo,
por algum motivo eu segui o que ela pediu, três vezes até me sentir um pouco melhor — Você é
o Caleb, não é?
Ela sabe meu nome.
Eu assenti, atordoado demais ao perceber que ela sabia o meu nome. Skyller Blossom
sabe o meu nome.
— Sou Skyller Blossom — se apresentou, como se eu não soubesse disso — Precisa de
alguma coisa?
Respirei fundo, tentando não gaguejar dessa vez.
— Vi que precisa de ajuda — consegui falar a frase sem nenhum gaguejo — Eu gabaritei
a prova, posso tentar a..a
Eu não consegui completar a frase, e se ela não quisesse? E se me achasse um ridículo?
Eu preciso sair daqui!
Era muito melhor quando só ficava a admirando.
— Você quer me ajudar? — os olhos dela brilharam e eu percebi.
Assenti, sentindo todo o meu rosto queimar de vergonha.
Skyller abriu um sorriso verdadeiro e que fez o meu coração tolo e apaixonado disparar
ainda mais.
— Meu Deus! Você apareceu na hora certa, é claro que eu quero e preciso da sua ajuda,
muito obrigada, Caleb — agradeceu — Mas você não vai entrar de férias? Não quero te
prender nessa universidade por mais alguns dias.
— Eu não me importo — falei, porque aquela era a verdade — Des...desde que você
consiga sua apro...aprovação.
— Você é um anjo — disse — O meu anjo da guarda.
Com certeza eu estava mais vermelho do que um pimentão.
— Podemos começar hoje mesmo? — Ela perguntou.
Concordei.
— Então nos encontramos na biblioteca às 15 horas.”
Eu a ajudei, ela foi aprovada e cada um seguiu o seu caminho.
Não deveria ter me iludido achando que aquele “até mais, Caleb” realmente significava
alguma coisa.
Ela não lembra que eu existo.
E tudo havia voltado ao normal, menos a minha paixão por ela.
Essa parecia ter aumentado conforme eu a conhecia nos dias em que passamos juntos
na biblioteca meses atrás.
Como um estudante de literatura e futuro escritor de romances, sou um romântico
incorrigível. Sempre acreditei em se apaixonar à primeira vista.
E foi exatamente isso que aconteceu quando eu vi Skyller Blossom pela primeira vez.
Há um ano atrás todos nós éramos calouros, mas mesmo sendo novatos, os irmãos
chamaram atenção e se tornaram populares imediatamente.
E Skyller mexeu comigo assim que coloquei os meus olhos nela.
Não era só a sua beleza chamativa, era o seu jeito peculiar, a forma como se movia de
forma confiante, o jeito que sorria lindamente, como se concentrava em seus desenhos
quando achava que ninguém a observava, como parecia esconder mil e uma qualidade dentro
de si mesmo e como parecíamos ser tão opostos um do outro.
Acho que aquele ditado que dizia: “os opostos se atraem” estava funcionando muito
bem, mas apenas para o meu lado.
Enquanto Skyller era uma garota experiente e confiante, que esbanjava uma vida sexual
ativa e sem compromisso.
Eu era um zero à esquerda.
Nunca havia namorado, era virgem, o que me fazia ser completamente inexperiente e
ter zero de confiança em mim mesmo.
Pelo menos eu já havia beijado.
Não que eu gostasse de lembrar desse momento trágico em minha vida.
O meu primeiro beijo também desencadeou a minha primeira crise de pânico.
Foi o mais horrível e único beijo da minha vida.
— Cara, tem uma baba bem aqui — Andrew, meu único amigo, encostou no canto da
minha boca — Você precisa ser mais discreto, bebê. Parece um maldito obsessivo olhando
para sua presa.
Revirei os olhos, tanto para o apelido idiota, como para o que ele estava falando.
Eu não parecia obcecado. Eu só estava completamente apaixonado por ela.
Agora ela ria de algo que Nathaniel, seu outro irmão, falava. A irmã, que se chamava
Alexandra, estava vermelha do que parecia ser vergonha e olhava de um lado para o outro,
provavelmente tentando ver se alguém havia escutado o que o irmão acabou de falar. Parecia
ser algo constrangedor pela forma que ela corou.
Mas eu não sou obcecado.
— Fique quieto — eu falei para Andrew.
Ele riu ajeitando os óculos de grau no rosto. Meu amigo era tão nerd como eu,
dividíamos o dormitório, a única diferença era que ele era viciado em vídeo games e fazia
faculdade de engenharia da computação.
— Quando vai se aproximar dela para dar pelo menos um oi? Vocês ficaram quatro dias
juntos há alguns meses, impossível não terem criado uma amizade.
— Não consigo — eu admiti.
Ele sorriu, compreendendo o que eu queria dizer. Andrew sempre me compreendeu
muito bem.
Somos amigos há anos, desde o ensino fundamental. Ele foi o único que não riu de mim
quando eu tive uma crise de pânico ao beijar uma garota, ele foi o garoto que me ajudou a
encontrar a minha própria respiração, ele me trouxe de volta a realidade e me acompanhou
até em casa naquele dia, prometendo a mim que não deixaria ninguém me zoar pelo o que
tinha acontecido.
Eu sabia que ele não tinha nenhum controle sobre isso.
Mas Andrew cumpriu o que disse.
Diferente de mim, ele é um nerd musculoso e que quando está bravo faz o mais
corajoso temer. Foi o que o meu amigo fez por mim nos dias que sucederam aquele pesadelo,
me protegeu de todos.
Eu sempre serei grato por ter ele ao meu lado.
— Você consegue, bebê — piscou um daqueles olhos azuis — Você é mais forte do que
esse medo e essa ansiedade, lembra?
Andrew sempre tentava me motivar, mas a verdade é que eu realmente não consigo
fazer isso. Eu gaguejaria como um idiota.
— Sei o que está pensando, mas você mesmo disse que conforme os dias foram
passando se sentia mais confortável ao lado dela a ponto de nem gaguejar.
— É verdade — admiti — Mas eu gaguejava.
— E você também gaguejava no início da nossa amizade, lembra? Parecia um disco
travado — brincou — Olha como se sente confortável comigo agora.
— Não é a mesma coisa.
— Claro que é, tirando o fato que você não é apaixonado por mim, é tudo a mesma
coisa.
Neguei. Não era.
Eu não conseguia.
Acho que estava destinado a apenas admirá-la, como um adolescente que não tem
coragem de falar com a garota mais bonita da escola.
Mas eu realmente não tinha.
Muitas coisas se passavam na minha cabeça e meu coração começava a acelerar um
pouco.
Esse era o mal de ter fobia social.
Por mais que eu tivesse feito um tratamento severo, por mais que eu tivesse sido
liberado para estudar em outra cidade porque não apresentava mais nenhum perigo a mim
mesmo, a ansiedade sempre estaria lá junto com tudo o que ela carregava: receio, medo,
preocupação, insegurança.
Quem me dera se ansiedade fosse apenas estar ansioso para algo.
— Sei que é difícil, bebê, mas estou aqui para te ajudar — se colocou na minha frente —
Vou ir falar com ela.
— O que? Não mesmo! Eu não sou nenhuma criança, Andrew, o que acha que ela vai
pensar?
Meu amigo revirou os olhos.
— Detesto quando você tem razão.
— Vamos mudar de assunto...como foi a festa da Beth? — Perguntei, tentando focar em
outra coisa que não fosse a garota que ocupava os meus pensamentos todos os dias.
— É Beca — ele riu ao corrigir— E foi muito divertida, é uma pena que você não gosta de
festas.
— Detesto — olhei mais uma vez para Skyller, a prima deles havia se aproximado e
ambas conversavam animadamente — Ela...ela ficou alguém?
A cara que Andrew fez entregava que sim, a garota que eu gosto ficou com alguém.
Sorri, tentando não demonstrar que me sentia um merda por dentro.
— Quem?
— Ninguém importante — deu de ombros — Sabe como é, apenas aquele casinho
casual e no outro dia, um para cada lado.
— Está me dizendo que eles fizeram...você sabe.
Andrew fechou os olhos ao se dar conta no que havia dito.
— Eu vi ela subindo para o quarto com ele — olhos nos meus olhos ao dizer —
Conversar é que não foram, não é?
Concordei.
— Tudo bem? — Perguntou.
— Claro — sorri de lado, tentando não me afetar com as últimas informações — Ela é
solteira, totalmente independente e aprecia a liberdade da forma dela, sem problemas.
O sinal avisando que as aulas começariam soou pelo campus e me salvou do olhar
avaliativo de Andrew.
— Vamos para a aula.

“Não é o tempo nem a oportunidade que determinam a intimidade, é só a disposição.


— Jane Austen.
Segundo uma das minhas autoras favoritas se uma pessoa está mesmo a fim de você não falta
tempo e oportunidade para estarem juntos, tudo é uma questão de disposição, de querer. Eu
sou a fim de você desde que a vi pela primeira vez, pode parecer meio doentio, mas lembro até
a roupa que usava. Certo, isso pareceu muito doentio. Mas vou ter que discordar de Austen,
não acredito que seja apenas o querer, porque eu a quero e nem por isso tenho coragem de
admitir isso na sua frente.”
Enviei a mensagem sem parar para pensar muito ou então acabaria desistindo.
Há seis dias eu mandava uma mensagem diária para Skyller Blossom citando frases dos
meus autores favoritos em anonimato. Eu havia pegado o número dela quando estávamos
estudando juntos e a ideia de mandar uma mensagem de outro número me pareceu uma
ótima forma de desabafar.
Ela nunca saberia que sou eu.
Mas eu também não ganhava nada com isso, já que ela não parecia interessada em
saber quem era o remetente daquelas mensagens.
Pelo menos ela não havia me bloqueado, apenas visualizava e não respondia.
Nada desde a minha resposta “não foi um engano”.
Será que ela me achava maluco? O que ela pensaria se descobrisse que eu mandava
essas mensagens?
Finalmente me notaria? Ou se manteria ainda mais distante?
Eu deveria me concentrar nos livros que estavam ali na minha frente. Daqui algumas
semanas teria um trabalho para entregar e ele valia uma nota muito boa para desperdiçar e foi
exatamente isso que eu fiz nos próximos minutos, afastei Skyller Blossom da minha mente e
apreciei o silêncio do meu lugar favorito naquela universidade: biblioteca.
Haviam duas bibliotecas no campus da Universidade de Campbell devido a quantidade
de alunos, uma afastada da outra. Eu sempre vinha na menos movimentada, ela era mais
afastada dos outros prédios e, portanto, os alunos preferiam ir na mais próxima.
Ali naquele lugar eu sentia que nada poderia me atacar, era apenas eu e os livros, tudo o
que eu mais apreciava. Desde romances clássicos de William Shakespeare e Jane Austen para
livros didáticos, que me ensinavam mais sobre a literatura inglesa.
Um dia eu serei um grande autor.
Já estava trabalhando no meu segundo romance e mal podia esperar para lançá-lo. O
que eu estava escrevendo era um desafio para mim.
Se tratava de uma garota que havia perdido tudo na sua vida e acabou entrando para a
prostituição. Ela se envolveria com o próprio cafetão e desencadearia a paixão de um homem
que até então não sentia nada além da dor. Envolvia mais coisas do que esse romance sensual
com pura luxúria, o homem era envolvido com a máfia e tudo poderia resultar em um banho
de sangue, já que o chefe da máfia gostava da garota.
Mas havia um problema nisso tudo.
Eu tinha uma pequena dificuldade para descrever cenas eróticas.
Mesmo lendo cenas eróticas e assistindo filmes pornôs eu não conseguia descrever nada
coerente, ou que pelo menos deixava a pessoa com aquele calorzinho na boca do estômago.
O livro não era totalmente erótico. Era mais romance e ação do que erotismo, mas como
falar da vida de uma garota de programa sem descrever uma única cena erótica? Sem falar que
ela se envolveria com o cafetão, um homem que tem uma vida sexual muito ativa, precisava
ter cenas de sexo.
E eu precisava me desafiar nisso.
Nada fora do comum para um autor.
Nós precisamos nos desafiar a cada obra e pelo menos nisso eu tinha confiança de que
conseguiria.
Tive um sobressalto quando mãos delicadas taparam os meus olhos impedindo a minha
visão.
Não foi só o meu corpo que teve um sobressalto, o meu coração pulou ao reconhecer o
perfume único de Skyller Blossom.
— Adivinha quem é? — ela murmurou contra o meu ouvido e eu juro que cada pelinho
do meu corpo se arrepiou.
Por um momento pensei que meu coração saltaria do peito. O que ela queria aqui na
biblioteca? Eu havia mandado a mensagem, será que ela sabia?
Não, para de paranoia, Caleb.
— Sk... — Merda! O que eu temia aconteceu, respirei fundo antes de conseguir: —
Skyller.
Ela riu e retirou as mãos dos meus olhos, se sentou ao meu lado, mas virada para mim.
Quando olhei para o seu rosto fui golpeado pela sua beleza e seu sorriso verdadeiro
direcionado a mim.
O rosto oval sem nenhuma maquiagem, os cabelos loiros presos em um coque frouxo
com alguns fios de cabelos caindo de cada lado de sua orelha.
— Fica mais fácil quando você já sabe a minha voz — ela disse me despertando do
transe — Estava fugindo de mim, anjo da guarda?
Skyller falava baixo para não chamar a atenção das poucas pessoas que estavam
estudando na biblioteca.
— Não.
Ia falar mais alguma coisa, mas temi gaguejar de novo.
— Os últimos dias foram corridos para você também? — assenti, mesmo que não
tivesse sido tanto assim — Mal começou o ano letivo e já estamos desesperados, faculdade é
um saco, né?
Eu sorri.
— Um pouco...
Ela olhou para os meus livros em cima da mesa e o meu caderno de anotação.
— Trabalho?
— Sim, vale quase metade da nota.
— Muito importante, então.
Não queria que o assunto acabasse.
Skyller veio até mim, isso quer dizer que o que eu pensava no início do dia era
totalmente errado.
Ela lembra que eu existo.
— E você? O qu...o que faz aqui?
— Tenho um trabalho para fazer da história da moda, tem um livro que eu preciso ler
para poder fazer algumas referências, vim até aqui pegá-lo.
— Sem cálculos?
Skyller riu.
— Graças a Deus sem cálculos.
O assunto morreu novamente e ela continuou a me olhar, senti que começava a ficar
vermelho. Detestava isso, gostaria de ser como os caras que ela fica, que sabem flertar, que
não deixam o assunto morrer, que sabem como conduzir uma garota.
Eu não sabia nada.
— Como foram as férias, Caleb?
Finalmente ela achou um assunto.
— Boas — percebi que não poderia responder apenas isso, ou voltaríamos de onde
saímos — Fiquei com minha mãe em Ohio, e você?
— Com minha família no Tennessee, meus pais tem um rancho — informou, como se eu
não soubesse disso.
— O rancho e hospital veterinário Star.
Skyller pareceu surpresa com o que eu disse.
— Como sabe?
— Não teria como não saber — dei uma pausa, feliz por não ter gaguejado — Sua mãe é
campeã de hipismo e seu pai já abriu mais de três hospitais veterinários pelo estado do
Tennessee.
— Às vezes eu me esqueço que sou filha de pais conhecidos — sorriu.
— Não é por menos que você e seus irmãos são famosos aqui na universidade.
Ela riu.
— Não somos famosos.
— Mas são pop...populares.
Skyller revirou os olhos ao mesmo tempo que dava de ombros.
— Talvez um pouquinho.
Percebi alguns olhares sobre nós e automaticamente voltei a corar. O que deveriam
estar pensando?
— Acho que chamei um pouco atenção — ela voltou a murmurar.
A pergunta era: quando ela não chamava atenção?
— Foi bom ver você, anjo da guarda — se levantou — Mas eu tenho que achar o meu
livro e ir para casa, hoje é a noite de cinema dos irmãos Blossom, se eu perco, sou caçada.
Sorri de lado, era realmente linda a relação que aqueles quatro tinham. Eu via de longe a
forma como um cuidava do outro.
Skyller se inclinou em minha direção e mais uma vez testou o meu coração ao beijar
minha bochecha rapidamente, voltou a se endireitar e sorria como se aquilo fosse normal.
Era normal.
Pelo menos para ela era totalmente normal, para mim, era como abrir mais uma chama
de esperança em mim, de que eu ainda teria essa garota.
— Nos vemos por aí?
Assenti, muito atordoado para abrir a boca. Provavelmente sairia apenas gaguejos e eu
me ridicularia ainda mais do que apenas ficar vermelho na sua frente.
— Até mais, anjo da guarda.
Ela se virou e estava se afastando quando eu finalmente consegui dizer:
— Até.
Mas ela já havia se encaminhado para o fundo da biblioteca para procurar seu livro.
E com muita dificuldade eu voltei a prestar atenção nos meus livros e no meu trabalho.
Mas nada me tirava do pensamento que Skyller Blossom se lembrava de mim.
Eu sai da biblioteca horas depois com o meu trabalho quase completo, voltaria daqui
alguns dias para terminar ele.
Entrei no dormitório e Andrew estava vidrado no seu vídeo game, parecia furioso com
alguma coisa.
Provavelmente estava perdendo.
Fechei a porta, larguei a mochila em cima da cama e fui procurar uma roupa confortável
para usar depois de tomar um banho.
Peguei uma calça de moletom, uma cueca e uma regata. Minutos depois eu saia de
banho tomado e me sentindo um pouco menos cansado.
Felizmente eu e Andrew tínhamos dinheiro o suficiente para bancar um quarto com um
banheiro que tem chuveiro e cozinha acoplada, não me imaginava tomando banho no
banheiro comunitário.
Me sentei na cama e retirei meu celular da mochila. Não havia nenhuma mensagem de
Skyller.
Ela estava ignorando o cara anônimo.
Será que ignoraria se soubesse que sou eu?
— Ainda continua com as mensagens? — a voz de Andrew me despertou, ele já não
jogava mais e sim me encarava de forma avaliativa.
Odiava quando me olhava dessa forma.
Porque isso significava que eu tinha que me preparar para o que quer que viesse de sua
boca.
— Ela não me responde.
— É claro que ela não vai responder um maluco que manda mensagens românticas. Ela
pode até pensar que você é um doente — disse — Por que não tenta falar com ela?
— Ela veio falar comigo hoje na biblioteca.
Meu amigo ficou surpreso.
— Isso é incrível — exclamou — O que conversaram?
— Nada tão interessante assim, ela estava lá para buscar um livro para um trabalho e
me contou que passou as férias com a família.
— Isso já é um começo, bebê.
Eu ri.
— Começo para que, Andrew? Eu gaguejei e fiquei vermelho como um garotinho.
— Mas vocês conversaram, ontem você achava que nem isso aconteceria.
— Somos muito opostos, eu deveria esquecê-la.
Foi a vez de Andrew rir.
— Isso não vai acontecer, já perdi a conta de quantas vezes você falou isso no último
ano — se aproximou e sentou ao meu lado — Por que manda as mensagens para ela se não vai
falar que é você?
Suspirei.
— Porque eu me sinto um pouco melhor, você sabe que sou melhor me expressando
com palavras escritas do que ditas.
— Então revele a sua identidade — segurou meu ombro — O máximo que vai acontecer
é ela dizer não.
— E isso me quebraria.
— Mas o abriria para nova paixões.
— Não quero novas paixões, quero Skyller.
— Então você tem que tomar uma atitude, bebê, ou então irá passar a sua chance para
outro garoto idiota que não irá dar nem metade do tratamento que você vai dar.
— E o que você sugere? — finalmente fiz a pergunta.
— Achei que você nunca me perguntaria — piscou — Estava falando com minha irmã
mais nova há alguns minutos e você sabe que Emma é uma devoradora de livros, me contou
todo o enredo de um livro chamado o acordo.
— Da Elle Kennedy?
Andrew assentiu. Eu conhecia esse livro, era o primeiro de uma série de livros que
acompanhava o time de hóquei de uma universidade chamada Briar. Cada livro era sobre o
romance de um jogador.
— O que esse livro tem a ver com a minha vida amorosa?
— Tudo — revirou os olhos e se levantou, pronto para encenar. Se havia algo que
Andrew sabia fazer bem era usar suas mãos para demonstrar tudo o que falava com mais
emoção — Já que você conhece o livro irei poupar do resumo e focar no principal, Hannah
estava apaixonada por Justin, acabou fazendo um acordo com Garret e no fim do livro por
quem ela se apaixonou de verdade?
— Garret.
— Exatamente — ergueu as mãos e logo em seguida as abaixou — Escuta o que eu vou
dizer, esse é o plano: você vai pedir ajuda para Skyller de como seduzir uma garota que você
está a fim. Ela vai aceitar e no final da história, com a aproximação e os momentos íntimos que
compartilharão nas aulas, Skyller irá se apaixonar perdidamente por você.
Arqueei as sobrancelhas. A ideia era pior do que eu imaginava.
— Eu sou um gênio — voltou a erguer as mãos.
— De todas as ideias malucas que você teve, essa com certeza é a pior.
Ele abaixou as mãos e me olhou como se eu tivesse criado uma segunda a cabeça.
— Essa foi a ideia mais genial que eu já tive, como consegue desprezá-la dessa forma?
— Como acha que eu vou olhar na cara de Skyller e dizer que quero aulas para seduzir
uma garota? Isso é ridículo!
— Você pode pedir aulas de socialização, sei lá, o que importa é que isso os aproximaria
e sua vida amorosa seria um clichê digno de um livro — me olhou e sorriu como o gato de
Alice no País das Maravilhas — Você pode até escrever isso.
— Sem chances!
Me levantei da cama e caminhei até o nosso armário de porcarias, não estava a fim de
fazer o jantar essa noite.
— Bebê, pensa com carinho — me seguiu — Você sabe que precisa tomar uma atitude e
se ainda não se sente preparado no primeiro momento de olhar na cara de Skyller e dizer que
está apaixonado, siga o meu plano.
— E se ela não se apaixonar por mim?
— Então você vai saber que ela não é a garota certa para você.
Peguei um pacote de bolacha recheada e abri, jogando a primeira na boca. Só depois de
mastigar e engolir, voltei a falar:
— Não acho que seria tão fácil assim.
— Pode não ser, mas também pode ser. Você só irá saber se tentar.
— Eu prometo pensar nesse seu plano ridículo.
Ele respirou aliviado.
— Amém!
Balancei a cabeça rindo.
— Quer jogar uma partida comigo? — convidou, mudando completamente de assunto.
— Fica para amanhã, estou cansado.
Ele assentiu e foi para frente da televisão. Eu voltei a me sentar na minha cama, dessa
vez acompanhado com o pacote de bolachas e pensativo, muito pensativo.
Aquela ideia era ridícula, não me restava dúvidas. Mas e se fosse o necessário para
Skyller finalmente me notar?
Eu deveria me arriscar dessa forma?
E o mais importante... eu teria coragem de olhar para ela e sugerir isso?
4.Não é não

“Somos todos tolos no amor.


— Jane Austen.
Acho que minha protagonista favorita nunca esteve tão certa. Somos estupidamente tolos
quando se trata do amor, mas...tão tolos a ponto de seguir um plano maluco? ”
Li aquela mensagem três vezes antes de guardar o celular na pequena bolsa que levaria
para a festa naquela noite. O cara não iria desistir nunca? Eu pensei que se parasse de
responder, acabaria percebendo que aquelas mensagens de amor estavam me deixando
desconfortáveis, mas não funcionou, pareceu ser um incentivo para ele continuar.
Talvez eu tivesse que ser direta.
Algo como: “não vai rolar, cara, sinto muito”. Era melhor quebrar o seu coração agora
do que iludi-lo achando que eu estava me derretendo com essas mensagens.
Confesso que citar Jane Austen e William Shakespeare era muito fofo, mas eu não sou
nem um pouco romântica.
De jantares a luz de velas, eu com certeza preferia uma lanchonete com um bom
hambúrguer com muitas babatas fritas.
De uma noite de filmes agarradinhos, eu com certeza preferia estar curtindo na festa
com os amigos.
Eu estava falando sério quando disse que não servia para relacionamentos.
O que me levava a pensar é.…será que eu já fiquei com esse cara? Mas isso não fazia
sentido, já que a primeira mensagem que me enviou dava a entender que eu nunca havia nem
conversado com ele.
Era confuso e tudo o que eu queria hoje era simplicidade.
Ver o meu irmão ganhar sua corrida e comemorar na melhor festa que só Ryder Fraser
sabia fazer.
Me olhei novamente no espelho. Os cabelos loiros lisos escorridos, o rosto coberto por
uma maquiagem básica, do jeito que eu gostava: sombra clara, bastante rímel para destacar os
cílios, blush quase invisível, um pouco de iluminador e para finalizar um batom cor da boca,
que apenas realçava meus lábios carnudos.
Eu estava um arraso.
Vestia um conjunto de coro que havia comprado na semana passada. Era uma saia preta
e uma blusinha branca básica por baixo da jaqueta também preta de couro. Nos pés eu preferi
usar um tênis com plataforma alta branco, combinava muito com o estilo.
Voltei a pegar meu telefone na bolsa bege para poder registrar esse look para os meus
dez mil seguidores.
Entrei no instagram, abri a câmera dos stories e me ajeitei melhor na frente do espelho
até tirar uma foto que eu considerava boa o bastante para publicar.
Gostei do resultado e antes de publicá-la coloquei uma enquete com as respostas, sim
ou não, referente a pergunta: look de hoje, aprovado?
Antes de fechar o aplicativo entrei nas notificações para ver os novos seguidores, me
surpreendi por ter ganhado mais cem nas últimas vinte e quatro horas. Por algum motivo
publicar sobre moda, tendências do mundo feminino me tornavam uma blogueira famosa,
mesmo que eu não me considerasse nem perto disso.
Mas devo admitir que gosto de ter toda aquela atenção.
Era um ótimo jeito de saber se o que eu desenhava agradava o resto das pessoas.
Felizmente o retorno que tive na única vez que publiquei um desenho foi muito positivo.
Minhas seguidoras já queriam até mesmo uma coleção, era engraçado e aumentava muito o
meu ego ver aquela reação.
Significava que eu estava no caminho certo.
Um nome entre os seguidores chamou minha atenção: Caleb Lee Walker. Então o nerd
tinha um instagram?
Entrei na sua conta, mas só havia a foto de perfil no feed. Era uma com um efeito roxo,
ele estava com a palma da mão virada para frente da câmera e tapava parte do seu rosto,
inclusive sua boca, deixando apenas os olhos azuis brilhantes atrás dos óculos de graus
redondos.
Ele era muito bonitinho, confesso.
E daquele jeito na foto, com os cabelos bagunçados o deixava ainda mais bonito. Mas
ele não fazia o meu tipo.
Não por ser nerd, longe disso.
Mas eu tenho quase certeza que ali dentro daquela timidez se encontrava um homem
muito romântico. E isso ficou muito claro quando nos conhecemos e eu perguntei que curso
ele fazia.
Literatura inglesa.
É claro que ele é um dos poucos homens nesse mundo que abrem a porta do carro para
a mulher entrar.
Então não fazia mesmo o meu estilo.
Mas não é porque não faz o meu estilo que não posso admirar um pouquinho, não é
mesmo? Deus fez olhos para enxergarem.
E vejam bem... aquela mão era grande. E tem um ditado que diz: mãos grandes,
atributos da mesma forma. Se é que me entendem.
— Skyller, você está pronta? — uma batida na porta me fez despertar dos meus
pensamentos maliciosos.
— Estou!
Antes de fechar o aplicativo, curti a foto e segui de volta Caleb. Coloquei meu celular na
bolsa novamente e sai do quarto. Meus irmãos já me esperavam na sala quando desci as
escadas do apartamento.
— Uau, maninha! — Nathaniel se aproximou, pegou a minha mãe e me fez dar uma
volta — Linda.
Eu sorri agradecida e dei um beijo em sua bochecha.
— Vamos arrasar essa noite, você também está um espetáculo.
Meu irmão estava com uma blusa branca por baixo de um casaco fino marrom, as calças
jeans com alguns rasgos nas pernas e um par de tênis novo da Nike.
— Vamos, antes que eu me atrase para a corrida — Tyler resmungou pegando a chave
do seu carro no chaveiro.
— Nervosinho, mano? — Fui até ele e o abracei de lado.
— Sempre fico, mas vou ganhar, como sempre — piscou.
— Disso eu não duvido e depois vamos comemorar muito! — Nathaniel sorriu.
Olhei para Alex que estava sentada no sofá, nos olhando com um brilho no olhar.
— Você vai ficar bem, maninha?
Ela detestava esse ambiente em especifico que frequentávamos, na verdade, as festas
em geral ela odiava. Segundo minha irmã, era muito barulho, muitas pessoas e as vezes até
confusão, preferia ficar em casa assistindo Netflix.
E adivinhem qual era o programa de hoje? Filmes abraçadinha com Jordan.
Deus me livre!
— Qualquer coisa que o idiota fizer e que não te agrade, não hesite em nos ligar — Tyler
a alertou.
Eu sabia do que ele tinha medo.
A minha relação com os meus irmãos era muito aberta, somos melhores amigos e não
escondemos nada um do outro. Há algumas semanas, Alexandra nos confessou que Jordan
parecia mais desesperado para tirar a virgindade dela, em minhas palavras, ele estava
pressionando ela.
E meu irmão tinha muito medo disso, mesmo que Alexandra insistisse dizendo que
Jordan nunca forçaria nada.
Eu havia ensinado ela a chutar o meio das pernas de um homem, mas duvido muito que
conseguiria.
— Não se preocupe, Ty, foque na sua corrida. Eu vou estar aqui torcendo por você.
— Amo você, pirralha — mandou um beijo para ela.
— Amo você, bad boy.
Acenei para minha irmã e Nathan fechou a porta.
— Finalmente! Achei que teria que chamar uma babá para ficar com Alexandra.
Eu ri.
— Engraçadinho, não finja que não está preocupado também.
Fomos para a garagem. Eu fui para o lado do motorista e Nathan teve que ir atrás, vi
quando revirou os olhos, mas não disse nada.
— É claro que estou — ele falou quando entramos no carro — Aquele cara nunca me
passou confiança, mesmo que até agora só tenha a tratado bem, mas não podemos fazer
nada, né?
— Podemos, mas não queremos — eu me meti.
Tyler balançou a cabeça enquanto saia da garagem e dirigia o carro em direção ao nosso
destino.
— Não podemos nos meter na vida de nossa irmã, ela é capaz de fazer suas escolhas e
vocês sabem o que ela pensaria se começássemos a falar mal do cara. Lembram muito bem
daquele dia, não é?
Eu assenti.
— Então vamos deixar as coisas como está, por enquanto ele não apresenta perigo para
ela, mas estaremos sempre de olho se isso mudar.
— Concordo com você, mano — Nathaniel deu uma batida no ombro de Tyler — Mas eu
realmente espero que ela perceba que ele não é o cara certo.
— Isso é o que todos nós queremos.
— Nunca demos um voto de confiança para o cara, né? — Tyler riu baixinho.
Eu neguei.
— Lembra quando ele veio se apresentar para a gente com aquela arrogância? E ainda
teve aquilo que Nathan ouviu no banheiro masculino no ensino médio. Nunca confiei nele
antes, depois daquilo foi o fim — eu falei.
— Nem me lembre disso — Tyler apertou com mais força o volante — Eu deveria ter
batido na cara dele.
— Não valeria a pena, mano. Nossa irmã ainda continuaria com ele — Nathan suspirou.
Infelizmente eu teria que concordar. Alexandra era completamente apaixonada por
Jordan e havia aceitado aquela brincadeira ridícula como se não fosse nada.
— E você, Sky? Continua recebendo as mensagens do admirador secreto? — Nathan
perguntou, curioso da forma que era.
Eu havia contado para os meus irmãos no mesmo dia sobre a mensagem estranha que
recebi. E eles acompanharam o desenrolar daquilo nos primeiros dias.
Nathan brincando comigo por eu ter arrumado um garoto apaixonado e Tyler
preocupado, pensando na possibilidade dele ser alguém perigoso.
Eu não sei de quem eu mais ria.
Com certeza o anônimo não era perigoso, né?
— Hoje recebi mais uma.
— Não acha melhor denunciar isso para o reitor? — Tyler perguntou, todo preocupado.
Dessa vez eu e Nathan rimos.
— E o que ela vai falar? — Nathan zombou — Com licença, estou recebendo mensagens
românticas de uma pessoa que não faço ideia de quem seja.
Me virei para bater em sua perna pela voz extremamente fina que ele havia feito.
— Eu não falo desse jeito!
— Eu sei que parece ridículo, mas estão te deixando desconfortável, não vejo motivos
para denunciar — Tyler disse.
— Ou bloqueia o número. Por que não bloqueou ainda, maninha?
Boa pergunta.
Por minutos fiquei encarando a opção bloquear número, mas por algum motivo acabava
desistindo.
— Não sei... — confessei.
— Ah, você sabe! No fundo do seu coração de gelo está gostando de ser a paixão de um
jovem romântico — Nathan riu.
— Você é um idiota! — Revirei os olhos — É claro que não, sabe que detesto esse
romance todo.
— Então é só bloquear o número e o problema será resolvido.
O assunto foi interrompido quando chegamos no lugar que acontecia as corridas.
Era chamado de desert e sim, o nome não era nada criativo, mas havia sentido nele.
Não havia uma alma viva que pudesse impedir as festas e as corridas clandestinas que
Ryder Fraser fazia naquele lugar.
Aquele era o seu território.
Tyler estacionou o seu carro com os dos outros e saímos do veículo. A música já estava
alta e de longe podíamos ver as bebidas e drogas sendo distribuída pelos cantos.
Não se engane achando que era apenas uma festa.
Fraser ganhava muito mais traficando drogas do que apostando corridas.
— Vou encontrar o pessoal para me preparar — Tyler avisou.
Ele já ia sair, mas eu o puxei para mim e o abracei com o coração apertado. Eu sabia que
meu irmão amava a adrenalina de estar correndo, ele gostava de apostar, ele gostava de
ganhar, mas eu sempre ficava com medo.
As corridas nem sempre poderiam ser um sucesso.
Eu não estava falando de 100km/h, às vezes era alcançado mais de 200km/h.
Eu lembro que no início todos fomos contra a isso, tanto meus pais como nós, mas
mesmo assim ele continuava a fazer. Parecia um escape, um tipo de terapia, por mais louca
que fosse.
E tudo o que tivemos que fazer foi aceitar.
— Eu vou ficar bem como sempre, maninha — beijou o topo da minha cabeça — Amo
você.
— Eu também amo muito você — o apertei mais forte contra mim uma última vez — Se
você morrer eu faço questão de te buscar só para matá-lo de novo com minhas mãos.
Nós rimos enquanto nos afastávamos.
— Boa sorte, mano — Nathan deu um tapinha nas costas de Tyler.
Ele foi encontrar os colegas de corridas e eu e Nathan nos aproximamos das pessoas.
Por mais que já estivesse cheio, a festa ainda não havia começado. Todos estavam em volta
dos corredores e de seus carros, todos automóveis de Fraser, que fazia questão de alugar por
um preço muito salgado.
Podia ver o olhar de cobiça que muitas garotas lançavam para o meu irmão mais velho.
Sorri.
Tyler realmente era um garoto muito bonito e é claro que fazia sucesso entre as garotas.
Nathaniel pegou uma bebida para nós dois e eu senti a garganta arder ao engolir o
pequeno gole de vodka misturado com alguma coisa que preferi não perguntar para meu
irmão. O gosto era bom.
Vi alguns universitários por perto, não eram tantos. Aquele não era o tipo de lugar que
frequentavam.
Me lembrei da festa do último fim de semana e a decepção tomou o meu rosto.
A expectativa que estava por a festa de Beca acabou assim que decidi transar com um
garoto e não gozei.
E isso não era o pior.
Ele gozou, sorriu satisfeito e me deixou na mão.
Sinto raiva só de lembrar. Babaca.
Nem sabia onde ficava o clitóris de uma garota. Simplesmente babaca.
Mas obviamente a culpa não era minha, já que ele não sabia fazer uma preliminar para
deixar pelo menos as coisas agitadas lá embaixo. O problema nem era o pau pequeno, porque
sabemos muito bem que independente do tamanho, se souber dar prazer para uma mulher na
cama, pode ser até um mindinho.
Ok. Talvez um pouco exagerado, mas completamente compreensível.
Ainda estou um pouco frustrada, confesso.
Sem falar que a semana toda foi tensa, os trabalhos da faculdade estão me deixando
maluca. Os professores têm uma mania ridícula de combinarem entre si para dar trabalho tudo
para o mesmo dia, o que eu odeio.
Eu até poderia encontrar um cara experiente nessa festa e me fazer gozar que nem uma
louca a noite toda.
Mas eu não estava nem um pouco a fim.
Então me contentaria em beber, apreciar a corrida de meu irmão e depois me divertir,
dançar bastante para cair na minha cama e dormir até a metade do dia seguinte.
Fazia tempo que eu não fazia isso.
— Vai começar — Nathaniel me despertou dos meus pensamentos — Vamos lá.
Tyler estava dentro do carro e já se posicionava onde dariam a arrancada. Alguns
minutos depois e todos já estavam ao seu lado, alinhados com a linha branca que marcava que
quem passasse por ela primeiro seria o vencedor.
A música parou e Ryder Fraser apareceu.
Os cabelos e a barba ruiva chamavam atenção de longe, mas não era apenas isso. Ele
tinha cara de gangster. Cara de quem destruiria qualquer um que fosse uma ameaça.
Era sexy.
Mas não para mim.
— Boa noite, corredores e plateia — saudou — Hoje só os melhores competirão, já
fizeram suas apostas?
Um coro de gritos.
— Docinho é com você — beijou os lábios de Sabrina.
Ela era a garota que dava a largada, tenho quase certeza que Sabrina e Ryder tem um
caso fixo, mas isso é apenas o que vejo de fora.
A garota ficou na frente da linha branca, entre um carro e o de Tyler, segurando a
bandeira vermelha.
— Um — ela gritou começando a contagem — Dois — começou a levantar a bandeira —
Agora!
Os cabelos de Sabrina balançaram quando os carros avançaram. Todos pareciam estar
na mesma posição quando viraram a curva que os fariam voltar até nós.
— Acha que Tyler vai ganhar? — perguntei para Nathan.
— Que tipo de pergunta é essa? É claro que vai ganhar!
Dois minutos. Foram dois minutos de pura aflição até ouvir as derrapadas de pneus
próximos de nós.
O carro de Tyler foi o primeiro a aparecer, sorri orgulhosa do meu irmão. Ele era ótimo!
Segundos mais tarde ele passava pela linha branca mostrando a todos que era o melhor dali,
levando toda a torcida aos gritos. Inclusive eu e Nathaniel.
Tyler saiu do veículo alguns minutos depois sendo recebido por todos. Eu percebia que
essa era a parte que ele menos gostava: bajulação. Meu irmão não estava ali para o dinheiro
que ganharia por ter ganhado aquela corrida, já que isso ele tinha de sobra, estava ali porque
amava a adrenalina em suas veias.
E aguentar as mulheres se oferecendo para ele quando não queria nada e homens
tentando amizade apenas por interesse deveria ser o inferno.
— Eu juro que se não fosse o dia que peguei Tyler transando acharia que ele é gay —
Nathaniel comentou ao meu lado — Todas essas mulheres querendo uma chance com
campeão e ele fazendo charminho.
Eu ri, mas não respondi, porque finalmente o meu ganhador estava na nossa frente. O
abracei, aliviada por estar bem e salvo.
— Parabéns, maninho.
— Você mandou muito bem — Nathan elogiou — Agora você poderia facilitar para o seu
irmão e apresentar uma dessas mulheres lindas.
Me afastei de Tyler.
— Obrigada pelos elogios — Ty agradeceu — E eu nem as conheço para apresentá-las.
— Não seria muito difícil de mudar isso, já que elas estão loucas para conhecê-lo.
Meu irmão mais velho balançou a cabeça e riu fraco.
— Você não muda, né?
Antes que Nathaniel pudesse responder, Ryder Fraser se aproximou de nós.
— Mais uma vez ganhador, Tyler Blossom — apertou o ombro do meu irmão.
— É o que parece.
— Depois vamos resolver seu pagamento.
Tyler assentiu.
— Aproveitem a festa, Blossom — piscou e se afastou.
— Só eu sinto que o clima fica muito pesado quando esse cara se aproxima da gente? —
Nathan desabafou ao nosso lado.
— Não, todos sentem — eu respondi.
Eu sabia que Tyler só pegaria o dinheiro para não ir para mãos erradas, ele fazia daquela
quantia doações para lares adotivos e famílias necessitadas. Eu disse que meu irmão era
bonito? Ele era ainda mais lindo por dentro.
A música já havia voltado e eu como não era nem boba nem nada, falei:
— Vamos nos divertir!

Eu não havia bebido o suficiente para estar bêbada, mas estava bem mais feliz do que
estava quando cheguei. Dançava ao som de Cheap Thrills da maravilhosa Sia e definitivamente
não me importava com os olhares de desejos lançados para mim. Aquela noite eu só me
divertiria dançando e bebendo.
Já havia dançado com alguns carinhas bonitinhos, mas não tive nenhum desejo de
estender a noite em uma cama, então assim que percebiam que eu não estava na mesma
onda, se afastavam.
Cafajestes!
Mas eu não era muito diferente.
Até que aconteceu.
Primeiro ele se aproximou como todos os outros, dançamos colados e eu pude observar
seu rosto: parecia conhecido. Com certeza algum universitário.
Loiro, olhos verdes e parecia ter um corpo maravilhoso.
Então ele tentou me beijar e eu recusei.
— Qual é, gatinha, vai se fazer de difícil? — o bafo de bebida podia ser sentido pelo DJ
da festa.
— Apenas a dança por hoje.
Ele riu e não me levou a sério. Novamente tentou me beijar, até eu me afastar
definitivamente.
— Você não me ouviu?
O garoto me puxou com uma força incomum para um bêbado.
— Se fazendo de difícil sendo que já deu para todo mundo naquela universidade — riu
— Comigo não, belezinha. Quero experimentar o porquê todos ficam louco por essa
bocetinha.
Eu quis vomitar bem na sua cara.
Todos os caras? Eu precisaria de muito mais que um ano para dar para todos os garotos
de Campbell, mas isso não vinha ao caso, porque esse idiota estava apertando o meu braço. As
pessoas ao nosso redor não pareciam perceber, dançavam e se divertiam ao som de outra
música, que nem fiz questão de saber qual era.
— Me solta, eu disse que não quero e você vai respeitar essa decisão — o encarei séria.
— Por que está fazendo esse teatrinho, em? — grudou seu corpo no meu — É isso que
chama a atenção dos outros caras?
Sorri, mas queria matá-lo tamanho o ódio que estava sentindo.
— Deixa eu te explicar uma coisinha, loirinho oxigenado — me aproximei bem do seu
rosto — Quando uma pessoa diz não, é não.
Dito isso o peguei desprevenido ao chutar bem no meio de suas pernas. Com a
experiência que eu tenho nisso, ele me soltou tamanho a dor da joelhada.
— Sua maluca! Você me paga!
Tyler se aproximou com a feição furiosa.
— O que pensou que faria com a minha irmã, seu bosta? — puxou o garoto pelo
colarinho do pescoço — Você não sabe ouvir um não?
O cara riu, parecendo achar tudo divertido.
— Sua irmã é uma vadia, por que não pode dar para mim?
Foi o suficiente.
Primeiro um soco do lado direito do seu rosto, depois um segundo soco, só que do lado
esquerdo.
— Repete o que você disse e vai ficar sem dentes.
Meu irmão ia bater nele novamente, mas eu preferi intervir, já que ao nosso redor
começava a formar uma roda de pessoas.
— Vamos embora — eu sussurrei no seu ouvido, segurando seu pulso — Ou isso aqui
poder ficar pior.
Meu irmão pareceu perceber a atenção que arrumou para nós e assentiu, largando o
idiota no chão, como o trapo que era.
Nathaniel apareceu com os olhos arregalados.
— O que você fez? — perguntou.
— Na volta para casa eu explico — falei e ele assentiu.
As pessoas deram passagem para nós passar e pela primeira vez na vida eu senti
vergonha. Por um momento, um misero momento pensei que se não levasse a vida da forma
que levo, isso não teria acontecido.
Mas foi apenas por um momento.
Porque nenhuma mulher está livre disso.
Seja ela reservada ou mais solta.
Nenhuma mulher está livre de idiotas como aquele garoto.
Seja ela o padrão de beleza ou não.
Quando entramos no carro e Tyler deu a partida em silêncio, eu soube que não tinha
culpa de nada.
O único culpado era o covarde que ficou naquele chão imundo.

Nathaniel estava furioso por não termos contado na hora o que realmente havia
acontecido. Ele também queria ter dado uma lição no idiota da festa.
Mas entendeu quando eu disse que não poderíamos criar problemas com Ryder Fraser,
o cara não gostava de brigas nas suas festas e provavelmente Tyler seria chamado para
explicar o que aconteceu.
Quando entramos dentro de casa eu senti o cansaço me tomar, as cenas das últimas
horas também não faziam questão de sair da minha cabeça.
Em um momento eu estava me divertido de forma livre e descomprometida.
No outro estava sendo prensada por um corpo masculino que faria de tudo para ter uma
noite de sexo comigo, inclusive me violentar.
Um arrepio passou por todo o meu corpo.
Essa não era a primeira vez que isso acontecia e também não seria a última, mas até
quando eu teria que aguentar isso? Até quando eu seria chamada de vadia simplesmente por
gostar de transar quando eu queria e com quem eu quisesse. Até quando, nós, mulheres
seriamos vítimas disso?
Aquilo sempre me deixava para baixo.
Porque era como um tapa na minha própria cara me mostrando que aquela era a nossa
cruel realidade.
— Maninha, vem aqui — Nathaniel me abraçou e foi o suficiente para eu desabar.
Eu não chorava com frequência, poderia contar quantas vezes chorava por ano.
Mas aquele era um assunto delicado, aquela era uma luta que eu não passava sozinha,
que todas nós, mulheres, passávamos juntas, mesmo que cada uma estivesse espalhada por
cada canto desse mundo.
Era a nossa luta.
Senti mais dois braços ao meu redor e soube que estaria bem com os melhores irmãos
que meus pais poderiam ter arrumado para mim.
— Eu sei que dói, mas você é forte, lembra? — a voz embargada de Tyler me deixou
mais sensível — Nem precisou de mim para colocar aquele idiota no chão, estou orgulhoso de
você.
Meu irmão sempre tomava nossas dores com louvor e por isso não me surpreendi por
ver lágrimas descerem pelo seu rosto. Ele sabia que doía.
— Não estou... não estou chorando só por mim — respirei fundo antes de continuar: —
E todas as mulheres que não tem força para colocar um idiota desses no chão? Todas as
mulheres que não tem ninguém ao seu redor para salvá-las? Todas as mulheres que sofrem
em silêncio por um acontecimento que se ela denunciar é capaz de ser chamada de culpada?
Eu estou sofrendo por elas também.
— Eu sei — Ty me abraçou mais forte — Eu sei, pequena. Queria que tudo fosse
diferente, mas nada que queremos acontece nesse maldito mundo.
— O que tem que continuar é vocês, mulheres, não se calarem — Nathan disse
enxugando minhas lágrimas, percebi que seus olhos também estavam úmidos — Tenho
orgulho de cada uma. Vocês são fodas só por existirem e aguentarem essas cólicas
demoníacas.
E claro que não seria o Nathan se não descontraísse um pouco. Por isso eu o amava.
Sorri fraco, um pouco mais calma, mas nem um pouco feliz.
— Eu vou subir, tudo bem?
— Não quer que eu deite com você? — Tyler perguntou — Como nos velhos tempos, eu
contanto uma história melhor que a de Rav até você dormir.
Beijei sua bochecha.
— Não precisa, eu irei achar minha própria história.
Eles respeitaram a minha decisão. Subi para o meu quarto, retirei minha roupa, meus
tênis e fui para o banho. Minutos depois eu vestia uma camisola e me enfiava debaixo do
cobertor.
Peguei meu celular que havia deixado em cima da cabeceira e comecei a futricar nele,
tentando não pensar nos últimos momentos, mesmo que ele estivesse ali, na minha frente.
Sem pensar muito, abri a conversa do estranho e fiquei surpresa ao ver que ele estava
online.
Foi também sem pensar que enviei as seguintes palavras:
“Há uma teimosia em relação a mim que nunca pode suportar ter medo da vontade dos
outros. Minha coragem sempre aumenta a cada tentativa de me intimidar.
—Jane Austen
Tento ser forte a todo momento, anônimo, e sei que não deveria estar mandando essa
mensagem para você. Na verdade, seu número deveria estar bloqueado, mas por algum
motivo não consigo. Tento ser forte por todas as mulheres que não são, mas hoje fui fraca. As
únicas coisas que passam pela minha cabeça nesse momento é: quantas vezes ele já fez isso?
Quantas vezes mulheres não tiveram a mesma sorte que eu? Quantas vezes mais passaremos
por injustiças como estas?
Elizabeth Bennet também é a minha protagonista favorita e é dessa frase que eu me
lembro quando me sinto fraca.”
5. O pedido
Caleb Lee Walker
Olhei para aquela mensagem sem saber ao certo como reagir.
Ela havia me respondido.
Só que havia algo de diferente em sua mensagem, eu notei ao ler a primeira linha.
Skyller parecia estar verdadeiramente abalada e eu que achava que ela nunca se abalava com
nada tive uma surpresa ao ver o desespero e tristeza em cada palavra naquela mensagem.
O que aconteceu?
Ignorei a frase “deveria ter bloqueado seu número” e prestei mais atenção na parte que
ela foi clara ao dizer que por algum motivo não conseguia. Talvez isso signifique que Skyller
gosta de receber minhas mensagens, talvez isso fosse um sinal para eu continuar.
Cliquei em escrever uma mensagem e pensei no que digitar a seguir.
“Quer conversar sobre o que aconteceu?”
Sem nenhuma citação. Apenas a minha preocupação impossibilitando que eu pensasse
em uma frase de um autor para estar à altura de Jane Austen.
A resposta não demorou a chegar.
Foi a primeira vez que senti Skyller Blossom frágil.
“Quero, por favor...”
Certo.
Ela queria conversar comigo e eu sempre quis conversar com ela. Disse a mim mesmo
para não ficar nervoso, era por mensagem, eu conseguiria fazer isso sem estragar tudo.
Mas o coração ainda acelerava. Cada vez mais rápido.
“Quem é ele?”
“Ele estava na festa de hoje. Geralmente eu gosto de sair e me divertir no final de
semana, mas esse, em especifico, queria apenas dançar e beber, nada de me envolver com
alguém e estender a noite. Ele se aproximou de mim, dançou comigo e tentou me beijar a
força. Se eu não tivesse chutado as suas bolas...não quero nem imaginar o que mais teria
acontecido.”
Senti minha pele formigar tamanha a raiva que senti dele.
Agora sua mensagem fazia todo o sentido para mim. Não imaginava o que uma mulher
poderia sentir ao tentar ser forçada a algo.
Até mesmo a mulher mais forte, como Skyller Blossom, desabaria.
Pela primeira vez senti muita raiva de uma pessoa e me assustei pelo caminho que meus
pensamentos estavam fazendo. Se eu estivesse com ela, provavelmente teria socado a cara
dele.
Quando nunca havia matado nem uma formiga.
“Ele é um ridículo. Acredita que disse que eu transei com mais da metade da faculdade?
ISSO É HORRÍVEL! Eu não transei nem com dez!”
Aquilo era informação demais.
Mesmo que Skyller tenha mandado a mensagem em um excesso de fúria e desabafo
aquilo foi como uma faca raspando no meu coração. Eu senti o exato momento que ele cortou,
um pedaço pequeno, mas ainda sim significativo.
Digitei a minha mensagem tentando não expressar o que eu estava sentindo. Felizmente
essa conversa não era pessoalmente ou eu já teria fugido.
“Sinto muito que vocês, mulheres, passam por isso. Em um século tão inovador como
esse não era para nada disso ainda acontecer, mas estou feliz por ter chutado ele. Me sinto
menos culpado por não estar lá e fazer o mesmo.”
Não. Eu não deveria ter falado isso. Da onde havia aparecido tanto coragem?
Mensagens...eu sempre fui melhor com textos do que a fala.
Quando pensei em excluir era tarde demais, ela já havia visualizado.
Olhei para Andrew que dormia tranquilamente na sua cama, já se passava das duas
horas da manhã. Seria engraçado ver sua reação amanhã, quando eu contasse que conversei
por mensagens com Skyller Blossom.
Ela também havia me seguido no instagram e meu coração quase disparou quando vi a
foto que postou no storie. Era simples, mas ainda sim eu sentia as batidas intensificarem por
ver tanta beleza em uma simples imagem.
Eu era totalmente tolo por aquela garota.
Austen nunca esteve tão certa quando disse que todos somos tolos quando amamos.
“Quem é você, anônimo?”
“Você provavelmente pararia de falar comigo se soubesse quem eu sou.”
Fui sincero, porque aquela era a verdade. Se Skyller descobrisse que o rosto de quem
manda mensagens românticas para ela é o nerd tímido e inseguro da faculdade, nunca mais
falaria comigo.
E não é apenas a minha insegurança falando mais alto.
É a verdade.
Há mais ou menos um ano Andrew ouviu uma conversa na cafeteria do campus. Eram
dois jogadores de futebol e um deles havia passado a noite com Skyller, pelo o que meu amigo
entendeu, estava ficando com ela frequentemente e estava se apaixonando. Naquela manhã
ele contava ao amigo que havia levado um fora quando fez um jantar romântico e a pediu em
namoro.
No mesmo dia que Andrew me contava o que havia escutado, ele me mostrou o garoto
que Skyller Blossom deu o fora.
Se ele não teve nenhuma chance, imagina eu?
O garoto era bonito, ombros largos, cabelos castanhos e com certeza malhava ao invés
de ler livros, como eu.
Andrew me aconselhou a esquecer a garota, porque provavelmente ela não queria
nenhum relacionamento. Que aquilo não tinha nada a ver com a aparência e sim com uma
escolha dela.
Tentei acreditar em suas palavras e também tentei seguir o seu conselho.
Mas aqui estou eu, um ano depois, ainda apaixonado por Skyller Blossom.
E Andrew? Como o amigo que era preferiu me ajudar do que dar conselhos que eu
deveria seguir, mas não conseguiria.
Não sei ao certo como esse sentimento surgiu.
Só sei que em um momento eu olhava para Skyller e no outro estava terrivelmente
atraído por ela.
Pelo o seu sorriso, pelo o seu olhar, pela a sua beleza, pela a sua concentração, pelo o
seu talento, por tudo que Skyller tinha.
E, portanto, não era fácil esquecê-la. Não quando parecia que o destino amava nos
trapacear e me fazia enxergá-la diante de tantos alunos pelo campus da universidade.
O que fazer quando sou apaixonado por uma garota popular, bonita e inteligente e não
tenho coragem de olhar nos olhos delas e dizer?
Não vou mentir dizendo que a ideia de Andrew não estava martelando em minha
mente, porque ela estava.
Era a chance que eu teria de saber se ela se apaixonaria por mim ou não, sem sair
totalmente machucado disso tudo.
Eu preferia saber que entre nós dois não aconteceria nada através dos sinais que ela
passaria, do que por sua boca.
Não aguentaria ouvir dela que eu não era o cara certo.
“Isso é ridículo, você sabe, né? O que acha que eu sou? Alguém que julga pela
aparência? Kkkk se você acha que eu sou dessa forma se apaixonou por uma versão errada de
mim.”
Sorri para a mensagem recebida.
Não, eu sabia que ela não julgava pela aparência.
A pessoa que achava que ela não ficaria comigo por causa disso sou eu, não ela.
Mas eu sabia que mesmo assim Skyller se afastaria de Caleb.
Da mesma forma que ela se afastou do cara que a pediu em namoro.
Simplesmente porque Skyller não aguentaria manter uma amizade quando sabia que
isso só machucaria o outro lado.
Pelo menos era isso que eu observava.
“Sei que você não julga pela a aparência, da mesma forma que sei que foge do amor.”
A mensagem não demorou a ser respondida.
“Eu não fujo do amor, só não gosto de depender de ninguém.”
Sorri com aquilo, porque entrelinhas era a mesma coisa.
“E não é a mesma coisa?”
Dessa vez a mensagem demorou um pouco a ser respondida, eu observava os três
pontinhos se mexendo indicando que ela estava digitando, mas em seguida ela parava, para
depois voltar novamente. Alguns minutos depois recebi a simples pergunta:
“Você realmente é apaixonado por mim?”
A pergunta não era nada simples e sabendo que ela nunca relacionaria o anônimo ao
Caleb, fui sincero na minha resposta.
“Desde o primeiro dia que a vi.”
Talvez eu tivesse assinado a carta de distanciamento a partir daquele momento. Porque
Skyller iria preferir se afastar do que me magoar. Pelo menos foi isso que pensei antes de
receber sua resposta.
“Como isso é possível? Eu nem o conheço, ficaria mais fácil se você tivesse um rosto. Eu
já falei com você? “
Eu fui sincero novamente em minha resposta.
“Não sei como é possível. Às vezes paro para pensar e me parece loucura, mas eu só
sinto e não tenho nenhum controle sobre isso. E já nos conhecemos, Skyller.”
“Não consigo imaginar quem é você.”
“Se eu revelasse me daria uma chance?”
Não sei como surgiu tanta coragem para mandar aquela mensagem, mas eu queria
saber, queria saber se eu tinha uma chance sem seguir aquele plano ridículo de Andrew.
Novamente a mensagem demorou a ser respondida e quando ela chegou senti o ardor
no meu coração novamente.
“Eu não estou procurando um relacionamento, sinto muito. Mas acho que ser sincera é o
melhor nessas horas, prefiro que você encontre outra garota, alguém que ama jantares
românticos e piquenique sob a luz do luar. Eu não sou essa garota, sinto muito.”
Diante daquela resposta eu deveria ter me privado de passar mais vergonha pelo o
anônimo, mas mesmo assim perguntei:
“Por quê?”
“Acho melhor pararmos de conversar, anônimo, foi bom me distrair com você, mas não
quero quebrar ainda mais o seu coração.”
Diante dessa resposta ela ficou off-line e eu soube que mesmo se mandasse cem
perguntas, ela não me responderia.
Eu definitivamente havia assinado a minha carta de distanciamento.

Andrew não funcionava sem o seu precioso café da manhã.


Foi por isso que acordamos de manhã, nos arrumamos e viemos para a cafeteria do
campus antes de seguir para a nossa aula.
Enquanto tomávamos o nosso café, olhei para o meu amigo que parecia me avaliar com
o olhar.
— Desembucha — foi o que ele mandou.
Eu era tão fácil de ler assim? Anos de amizade, isso explicava o porquê ele sabia que eu
estava ocultando algo.
— Conversei com Skyller ontem de noite.
Andrew cuspiu o café que tinha acabado de tomar um gole, por pouco não acertou em
mim. Revirei meus olhos.
Ele era muito exagerado.
Pegou um papel e limpou a boca como se nada tivesse acontecido.
— Como assim você falou com Skyller? Quando? Você nem saiu ontem!
— Para explicar melhor: foi o anônimo que conversou com ela.
— O que entrelinhas é você — sorriu — Como isso aconteceu? É bom que tenham
conversado, significa algo, né?
Sorri fraco e meu amigo percebeu na hora. O sorriso no seu rosto morreu e ele voltou a
pedir:
— Me explica melhor o que aconteceu.
Eu contei tudo, desde quando Skyller me chamou com uma citação de Jane Austen até o
momento que ela me dispensou de forma educada e elegante.
Quando terminei, Andrew me olhava com pesar nos olhos, provavelmente pensando o
mesmo que eu: eu tenho que superar isso.
— Lembra o que eu disse para você há um ano, bebê? — eu assenti — Eu falei que era
melhor esquecer ela ou você só se magoaria mais, não acha que é melhor repensar?
— Eu não consigo esquecer ela.
Ele assentiu, compreendendo.
— Isso é doentio, não é?
Andrew riu balançando a cabeça.
— Não, você só encontrou o seu primeiro amor e como na maioria das primeiras vezes
não é fácil. Só não quero que se machuque, bebê, você não merece um coração partido e
existe isso — mostrou com os dedos um espaço pequeno — de chance de não acontecer.
— Eu sei — bebi mais um gole do café tentando fazer com que a mágoa também
descesse.
— O que vai fazer? Ainda vai persistir?
— Não sei.
— A minha ideia continua sendo genial, você sabe — se gabou — Vai se aproximar dela
com a intensão de conquistar outra garota, conforme o tempo passa irão criar uma amizade e
assim que ela o conhecer melhor, será impossível não se apaixonar por você.
— Como pode ter certeza que ela se apaixonaria por mim?
— Qualquer um se apaixonaria por você, bebê — piscou — Eu só não sou apaixonado
por você porque sou hétero.
Joguei um biscoito na sua cara, mas acabei rindo. Andrew é um idiota.
— Como vou saber que ela está apaixonada por mim?
— Um homem sempre sabe quando uma mulher está apaixonada, da mesma forma que
uma mulher sempre sabe que um homem está caidinho por ela. Então tome cuidado ao se
expressar.
— Você sabe bastante para alguém que vive com vídeo games e nunca pegou uma
mulher.
Ele revirou os olhos.
— Quem está zoando com a cara de quem agora?
Rimos.
O sininho da porta da cafeteria tocou indicando que mais alunos entravam no
estabelecimento. Olhei para a porta e meu coração acelerou como todas as vezes em que
olhava para Skyller.
Ela estava linda. Como sempre.
Os cabelos presos em coque frouxo e sem maquiagem no rosto. Vestia uma camiseta
tapada por um cardigan branco que tapava boa parte do short jeans que usava. Nos pés ela
preferiu um tênis de plataforma alta preto com branco.
Não vestia nada chique demais, mas mesmo assim continuava perfeita.
Estava acompanhada de sua prima, Mackenzie Brown. Fizeram os pedidos e olhavam ao
redor a procura de um lugar para se sentar.
— Cara, tem uma baba bem aqui — Andrew brincou com a minha cara, como sempre
fazia.
— Cala a boca — desviei meu olhar das garotas e voltei a olhar para o meu amigo.
Ele sorriu.
— Se controle, elas estão vindo em nossa direção.
— O que?
Olhei para Mackenzie e Skyller, elas realmente estavam vindo em nossa direção. Agora
meu coração parecia que sairia do peito.
Skyller foi a primeira a sorrir enquanto nos observava.
— Podemos nos sentar com vocês? — ela perguntou.
Se sentar com a gente? Por que ela queria se sentar comigo e com Andrew? Abri a boca
para responder, mas a voz não saiu. Me senti envergonhado no mesmo momento. Estava
fazendo um papel de bobo, novamente.
— É claro que podem — Andrew sorriu me salvando do meu constrangimento.
Skyller me observou um pouco mais antes de se sentar ao meu lado. Seu perfume
chegou até mim e percebi que até nisso ela não errava. Era cheiroso, não muito doce, nem
muito enjoativo.
Mackenzie se sentou ao lado de Andrew e sorriu de forma educada para nós dois.
— Essa é minha prima, Mackenzie, priminha, esse garoto aqui — encostou no meu
ombro me fazendo arrepiar como um tolo — É o meu anjo da guarda, o que me ajudou a ser
aprovada na disciplina de cálculos.
Sorri, tentando não demonstrar o nervosismo que estava sentindo.
Percebi que eu tinha que apresentar Andrew para elas e respirei fundo antes de fazer.
— Esse é...Andrew, m...meu melhor amigo.
Skyller estendeu a mão para Andrew, que a apertou no mesmo momento.
— É um prazer conhecê-lo, Andrew.
Meu amigo sorriu e sabia que estava preste a fazer uma piadinha.
— É um prazer conhecer a garota que ocupou os pensamentos do meu bebê por uma
semana.
Chutei a sua canela.
— Aí.
Mackenzie riu.
— Seu bebê? — perguntou achando graça. Skyller parecia bem interessada em saber do
apelido “carinhoso” de meu amigo também.
Isso não tinha como piorar.
— Caleb é o meu bebê, sou alguns meses mais velho do que ele e o protejo de tudo e
todos, como um irmão mais velho — sorriu — Por isso ele é meu bebê.
Deus, me tire daqui!
— Isso é fofo — Skyller sorriu — Lembra a minha relação com Tyler. Ele é meu irmão
mais velho e só falta me chamar de bebê também.
— O moreno alto que bota medo em qualquer um? — Andrew perguntou e Skyller riu
assentindo — Se ele me olhasse com aquela cara de ameaçador eu me mijaria nas calças.
Os três riram, eu estava tenso demais, só me limitei a sorrir.
— Então, anjo da guarda, não se importa de estarmos sentadas aqui? — Skyller
perguntou para mim. Neguei rapidamente.
Eu não me importava, só não sabia como reagir a isso.
— Que bom! Porque não tem nenhum lugar vazio nessa cafeteria — ela riu — Parece
que como Mack, todos os alunos precisam de um café preto para iniciar o dia.
Andrew olhou para a prima surpreso.
— Eu sou exatamente assim.
Mackenzie sorriu.
— É impossível começar o dia sem um café, eu sempre digo isso — deu de ombros — Se
eu fico sem tomar parece que algo está faltando.
— É exatamente dessa forma que me sinto — Andrew concordou — Achei que eu era
exagerado.
— Com certeza você não é.
Meu amigo sorriu para ela, feliz por ter encontrado alguém tão viciado em café preto
como ele.
Eles continuaram conversando sobre os benefícios do café e eu preferi não prestar
atenção naquele assunto. Os pedidos das meninas chegaram e eles continuaram a falar,
enquanto Skyller estava em silêncio, como eu.
— Benefícios do café, isso não parece ridículo? — Ela sussurrou para mim.
Eu sorri.
— Achei que só eu achava isso, afinal tem muitos malefícios.
— É o que eu sempre digo.
A olhei, ela comia um donut de chocolate e parecia se deliciar com o sabor.
— Eu sei o que está pensando — ela riu depois de engolir um pedaço — Quem é você
para falar sobre benefícios e malefícios de alimentação quando come um donut no café da
manhã.
Arregalei os olhos. Não era aquilo que eu estava pensando, por isso neguei. A verdade é
que começava a pensar que até comendo uma rosquinha ela era bonita.
— Eu só não consigo resistir quando venho a essa cafeteria — fez um bico fofinho — Por
isso evito de vir aqui com Mack, porque corro o sério risco de engordar comendo isso sempre
que posso.
— Você fic...ficaria linda de qu...qualquer jeito.
O elogio saiu sem que eu pensasse direito e assim que percebi o que falava comecei a
gaguejar. Skyller sorriu para mim e uma de suas mãos apertou minha bochecha vermelha de
vergonha.
— Você é um fofo, anjo da guarda.
Desviei meu olhar para Andrew, que piscou para mim, me fazendo quase cavar um
buraco e me enterrar ali mesmo.
Eu só precisava das ferramentas.
Felizmente Mackenzie estava entretida com suas panquecas, que olha a ironia, era o
mesmo pedido que Andrew havia feito.
— Como foi o seu final de semana? — Skyller perguntou para mim.
— N...Normal e o seu?
— Aconteceu algumas coisas que não me agradaram, mas estou maravilhosamente bem
agora — sorriu — Nada que uma boa conversa e bons irmãos não fazem por você.
Será que ela se referia a conversa com o anônimo?
Tentei não me iludir com isso. Seria muito.
— O que é um fim de semana normal para você? — Perguntou curiosa.
— Leit... — respirei fundo — Leituras, livros e escrita.
— Você escreve? — Ela perguntou surpresa.
— E muito bem por sinal — Andrew se meteu no assunto — Tenho certeza que meu
bebê adoraria mostrar alguns de seus textos.
— Eu adoraria ler.
Fiquei mais nervoso ainda, eu mataria Andrew.
— Será um prazer most... mostrar.
— Isso é incrível, quando você for um autor famoso não esqueça dos amigos, em —
Skyller brincou.
Ela era minha amiga?
— Quanta modéstia — Mackenzie riu — A garota que vai se tornar uma estilista famosa.
— Não diria famosa, mas acho que posso tentar chegar nesse nível.
— Tenho certeza que irá — eu disse.
Ela sorriu para mim. Já falei como o seu sorriso é lindo? É como se pudesse iluminar a
alma mais sombria.
— Se você está dizendo, anjo da guarda.
Novamente senti minhas bochechas corarem. Abaixei a cabeça, desviando o olhar.
— Eu gostaria de passar mais tempo com vocês, mas já está na hora da minha primeira
aula — Andrew comunicou se levantando — Foi um prazer conhecer vocês.
— Eu... eu também tenho que ir — falei. A minha aula começava daqui cinco minutos.
— Tudo bem, nós só vamos acabar aqui e já temos que ir também — Mackenzie disse.
— Até mais, Caleb — Skyller se despediu.
— Até mais, Skyller.
Me levantei e me afastei com Andrew. Foi só sairmos da cafeteria que ele começou a
falar.
— Cara, você tem que seguir o meu plano. Vendo a interação de vocês ao vivo e em
cores, tenho mais certeza que ela irá se apaixonar por você.
— Você tem certeza?
— É claro que sim — abraçou meus ombros enquanto seguíamos para a aula. O prédio
que eu teria a primeira era ao lado do de Andrew. — Analise comigo, todos os caras que essa
garota fica são parecidos, tanto de personalidade como de físico. Eu tenho certeza que ela
precisa de alguém como você para abrir o coração dela para o amor, alguém peculiar, como
ela.
Eu ri.
— Você está lendo romances com sua irmã?
— Não, mas sou um cara romântico, assim como você é.
Eu tinha que concordar que ele estava certo. Eu definitivamente era um cara
romântico...mas será que Andrew estava certo sobre sua teoria? Skyller precisava de alguém
como eu para se apaixonar?
— E então...vai seguir o meu plano?
Respirei fundo mais uma vez e dessa vez não pensei muito ao responder.
— Vou.
Meu amigo sorriu e bagunçou meus cabelos com a mão livre.
— Esse é o meu bebê.

Eu não vou conseguir.


Isso é demais para mim.
Meu coração parecia que ia saltar pela a boca enquanto observava Skyller fazer os seus
desenhos concentrada. Ela estava sozinha embaixo de uma árvore ocupando toda uma das
mesas que haviam por ali.
— Como você não consegue? — Andrew perguntou — Você estava decidido a fazer isso.
— Mudei de ideia.
— Está com medo.
Bufei.
— É claro que eu estou com medo! Estamos falando de eu ir até Skyller, a garota que
sou a fim desde o primeiro ano e pedir para ela me ajudar na arte da conquista para conquistar
outra garota, quando na verdade eu sou a fim dela.
— Falando desse jeito parece um plano idiota.
Eu ri forçado.
— Só agora que você percebeu?
Meu amigo revirou os olhos e me segurou pelos ombros.
— Você vai até Skyller e irá conversar exatamente isso com ela, vamos seguir o plano.
Neguei.
— Eu desisto, vou dar um jeito de esquecê-la.
Andrew riu alto.
— Nem você acredita nisso.
É, ele tem razão.
— Quer que eu vou junto com você?
O olhei como se fosse louco.
— Está de brincadeira com a minha cara? — ele negou— É claro que não!
— Então vai.
Eu fui.
Caminhei até Skyller e estava preste a dar meia volta devido ao coração acelerado e o
nervosismo, quando ela me viu.
— Ei, anjo da guarda — acenou.
Respirei fundo tentando me acalmar, não era nada demais. Repeti isso mais umas duas
vezes antes de me sentar ao seu lado.
— O...oi.
Meus olhos caíram para os desenhos belos que ela fazia. Skyller realmente tinha um
talento incrível.
Eram peças únicas e da sua própria imaginação. Havia de tudo, camisas, calças, saias e
vestidos.
— São lind...lindos — eu elogiei.
— Obrigada — olhei para o seu rosto novamente e ela sorria para mim. Meu coração
acelerou mais. — Geralmente eu não mostro para ninguém antes de estar pronto, mas já que
você está aqui, sinta-se lisonjeado.
— Des...des..
— Ei — ela encostou no meu ombro — Está tudo bem, só estava brincando.
Assenti, tentando me acalmar. Estava só passando vergonha.
— Você parece nervoso — observou — O que aconteceu?
— Precisodasuaajuda — falei rapidamente.
Skyller franziu a testa sem entender.
— Precisa do que?
— Da..s...sua ajuda.
— Finalmente! Eu pensei que você nunca iria me pedir nada em troca do que você fez
por mim — ela se virou totalmente para mim — No que eu posso ajudá-lo?
Aquela era a hora.
— Tem uma g...garota — Skyller me ouvia atentamente — Go..gosto dela.
— Sim e o que mais?
Senti minhas bochechas ficarem quentes.
— N...não sei como c...chegar nel...nela — fechei os olhos tamanho a vergonha. Aquilo
era péssimo, eu deveria saber antes de ter concordado sem pensar.
— E você precisa da minha ajuda? — assenti abrindo os olhos a encontrando batendo
palmas muito animada — Que incrível! Quem é a sortuda?
— O..o que?
— A garota, quem é?
Senti que desmaiaria a qualquer momento. Quem é a garota?
Como uma luz no fim do túnel vi Mackenzie Brown derrubar um livro no chão do outro
lado do campus e novamente sem pensar, soltei:
— Mackenzie.
Os olhos de Skyller quase saltaram.
— A minha prima? Claro! Agora tudo faz sentido — a olhei confuso — Você estava bem
nervoso hoje de manhã.
Era por sua causa.
Eu quis dizer, mas fiquei calado, como se concordasse.
— Temos apenas um problema — Skyller disse — Minha prima é a fim do capitão de
time do futebol.
Graças a Deus!
Fiz a minha maior cara de decepcionado, mesmo que estivesse aliviado.
— Mas eu já disse que ela nem o conhece para ser apaixonada por ele. Então vou te
ajudar a ser a única opção dela.
— Vai me...mesmo?
— É claro que sim! Eu tenho um tempo livre todas as terças e quintas, podemos nos
encontrar e eu te passo algumas dicas — piscou — Você vai ser um conquistador de primeira.
— Não sei se consigo.
— É por isso que eu vou te ajudar, mas... — ela pareceu pensar no que dizer a seguir —
Se Mack não prestar atenção em você, por estar muito fissurada pelo jogador, não perca as
esperanças, ok? Tenho certeza que a mulher da sua vida está por aí.
Aquilo era tão irônico, de todas as formas.
— Eu vou su...superar.
— Então vamos começar nossas aulas o mais rápido possível — estendeu a mão para
mim — Vai ser um prazer ajudar você, Caleb.
Apertei a mão estendida para mim, sentindo a maciez e a delicadeza de sua pele.
— Nos encontramos amanhã? No meu apartamento?
— E seus irmãos?
— Eles não mordem, não se preocupe — riu.
— Nos encontramos amanhã — concordei.
Uma coisa não passou despercebida por mim naquele momento: enquanto selávamos o
acordo, nossas mãos demoraram a se separar.
6. A arte da comunicação
Skyller Blossom
— Está me dizendo que concordou em ajudar o nerd que a ajudou no trabalho de
cálculos, a conquistar a nossa prima que é a fim do capitão do time de futebol? — Nathaniel
me olhava com as sobrancelhas arqueadas.
Certo.
Olhando por esse lado realmente parecia ridículo.
Mas eu devo admitir que a forma que Caleb Lee Walker me pediu fez com que algo em
mim nem pensasse muito para aceitar.
Ele havia me ajudado a passar de ano em uma matéria. Graças a sua inteligência eu não
teria que repetir tudo de novo aquela disciplina chata.
E ajudá-lo com algo que era tão simples para mim seria muito fácil. Eu iria passar
algumas teorias, algumas experiências que tive e também o informaria tudo sobre Mackenzie,
afinal, a garota era a minha prima.
Só tenho medo de Caleb acabar se machucando no final de tudo isso. Minha prima era
muito fissurada pelo capitão do time de futebol para notar outras pessoas ao seu redor.
— Estou dizendo exatamente isso — por fim, respondi — E por favor, ele é tímido, não o
envergonhe.
Estávamos na sala e eu decidi informar meus irmãos que teríamos um visitante, é claro
que eles não se contentaram com apenas uma desculpa do tipo: colega de faculdade. Tive que
explicar desde o início o que aconteceu e como eu não escondia nada deles, não tive problema
em falar abertamente.
— Um puritano? Tipo a Alex? — Nathaniel brincou.
— Ei — com a mão livre, minha irmã pegou uma almofada e jogou em Nathaniel.
— Não se preocupe, irmã, não vamos envergonhá-lo — Tyler garantiu — Mas você tem
certeza disso? Como serão essas aulas? Eu não consigo imaginar nada aqui além de você
ensinar as coisas para ele de forma prática.
De forma prática? Franzi as sobrancelhas. Mas bastou um segundo a mais se passar para
eu entender o que Tyler estava dizendo.
— Não, pelo amor de Deus! O que vocês acham que eu sou?
— Uma safada que quer se aproveitar da inocência de um crente — Nathaniel disse sem
nem piscar — Vai ver se cansou dos experientes.
Foi a minha vez de jogar uma almofada em sua cara.
— Idiota!
Alexandra revirou os olhos enquanto alisava a cabeça do furão, que adivinhem? Estava
dormindo, como sempre.
— Você é tão sem graça, Nathan, por que não vai procurar alguém para incomodar? —
ela perguntou, mas eu sabia que no fundo apreciava a presença do nosso irmão tanto quanto
nós.
Como uma criança mimada meu irmão mostrou a língua.
— É impressionante como você não cresce, irmãozinho — Ty falou.
— É impressionante como você é responsável, maninho — Nathan rebateu.
Eu e Alex rimos.
— Respondendo a sua pergunta, Sky, não sou como esse idiota que acha que quer se
aproveitar de um inocente, mas estou intrigado em como irá dar aulas para alguém que
provavelmente nunca beijou — Tyler explicou.
Eu não tinha pensado nisso.
— Talvez ele não seja tão inexperiente como a gente imagina — Alexandra se meteu no
assunto — Só não tem prática em chegar em uma garota e pediu a ajuda de nossa irmã porque
gosta da nossa prima.
— Isso ainda é estranho — Nathan falou — Quem precisa de aulas para conquistar uma
garota?
— Deixa eu te dizer uma coisa, maninho: nem todos nasceram com o dom dos flertes e
conquistas como você e a Sky — Alex disse.
— Você é a prova viva disso — meu irmão piscou provocando — Com certeza o nível de
inexperiência de você e Caleb estão quase empatados, tirando a diferença de que você
namora.
— Meu Deus! Estou começando a me arrepender de ter contado tudo para vocês —
expressei o que eu estava sentindo.
— Só estamos debatendo o assunto enquanto o puritano não chega — Nathaniel tentou
se explicar.
— Pare de chamá-lo de puritano — Tyler o repreendeu — É capaz do garoto chegar e
você acabar soltando o apelido.
Meu irmão sorriu culpado.
— Nisso eu vou ter que concordar com você, irmão.
— Respondendo a pergunta de vocês, eu não sei como irei conduzir essas aulas,
satisfeitos? Mas acredito que vamos bater um papo legal e compartilhar experiências.
— E eu tenho cabelos castanhos escuros — Nathan zombou.
Revirei meus olhos.
— Você não tem nenhuma garota para perturbar, não? — perguntei.
— Hoje é o dia de folga do meu pau.
— Meu Deus! Estou fora, vou fazer a janta — Alexandra se levantou e deixou Jack
dormindo no sofá enquanto ia para a cozinha preparar a refeição.
Preferi não me meter dizendo que ainda era muito cedo, faltavam cinco minutos para as
seis horas.
— Eu deveria fazer alguma coisa também, ao invés de ficar ouvindo as idiotices que sai
da sua boca, Nathan — meu irmão disse.
— Você me ama e não consegue viver sem a minha presença — mandou um beijinho
para Tyler.
— Tudo bem. Daqui a pouco Caleb vai chegar, por favor não me envergonhem — pedi
mais uma vez.
— Em outras palavras: Nathaniel se mantenha de boca fechada — Tyler corrigiu.
Meu irmão fez a sua maior cara de ofendido, colocou uma mão sobre o peito e
lamentou:
— Quanta injustiça, eu apenas divirto a vida tediosa de vocês.
Nós acabamos rindo.
Jack acordou com as risadas, olhou para os lados a procura de Alex e quando a viu
entretida com as panelas, procurou uma nova presa, no caso, eu.
— Nem pense nisso, roedor.
Mas ele não me deu ouvidos, saiu de seu lugar, correu até mim e pulou no meu colo.
— Ele é um mamífero! — Alexandra gritou do outro lado.
— Que seja! O que está fazendo, Jack? Saia do meu colo! Agora!
Ele me olhou como se não tivesse entendido e se aninhou ainda mais nas minhas
pernas, até se sentir confortável o bastante para deitar e fazer a minha barriga de travesseiro.
— Ele gosta de você — Nathan disse — Por isso que vive infernizando a sua vida, para
dar um pouquinho de atenção para ele.
— Que bela forma de demonstrar que gosta de mim — sorri irônica — Jack está sempre
estragando as minhas coisas.
— Olha como ele é dócil, talvez ele queira fazer as pazes com você — Ty falou.
Olhei para o roedor que estava com a cabeça grudada em minha blusa contra a minha
barriga. Nós sempre tivemos uma relação de ódio, agora ele queria transformar em amor? Eu
não sou tão fácil assim.
Precisa muito mais que olhares apaixonados e carinha fofinha para me fazer esquecer
tudo o que ele fez contra mim.
Estranhei ao perceber que ele movia a cabeça, era quase imperceptível, mas ainda assim
eu notei.
Quando eu peguei Jack e o distanciei de mim percebi o que aquele monstrinho estava
aprontando: roeu metade do botão da minha camiseta.
Com muita paciência o larguei no chão, ou seria capaz de jogá-lo contra a parede.
Mentira.
Eu nunca mataria um animal.
— Ai meu Deus — Nathan exclamou ao perceber o que o roedor havia feito — Alex é
melhor pegar o seu filho, porque ele está cada vez mais próximo da forca.
Minha irmã veio correndo e o danadinho do roedor foi até ela, pulando em seu colo.
— Eu vou dar um minuto para você sumir com esse roedor da minha frente, maninha —
declarei.
Alexandra nem ao menos me corrigiu, saiu disparada para cozinha enquanto xingava e
alisava a cabeça de Jack.
— Calma, você pode comprar uma nova — Tyler tentou tranquilizar.
— Nem mais uma palavra — me levantei do sofá ao mesmo tempo que a campainha
tocava.
Ótimo.
Fui atender a porta. Caleb estava parado do outro lado com as mãos nos bolsos do
moletom preto que usava, quando nossos olhos se encontraram ele sorriu timidamente.
— Oi — cumprimentou sem jeito.
— Oi — dei espaço para ele entrar.
Assim que ele entrou fechei a porta e me virei, percebendo que meus irmãos olhavam
para Caleb sem nem disfarçar. Revirei os olhos, eu havia acabado de pedir para não
envergonhá-lo.
— Irmãos, esse é Caleb — comecei a apresentação — Caleb esses são Tyler, Nathaniel e
Alexandra.
Minha irmã havia até mesmo deixado as panelas para ficar observando.
— O...oi — Caleb gaguejou devido a atenção.
— E aí, cara — Nathan foi o primeiro a falar.
— É um prazer conhecer o garoto que ajudou nossa irmã no final do semestre passado
— Tyler disse.
— Olá — Alexandra acenou com a mão que não segurava o diabinho.
Caleb apenas sorriu, totalmente desconfortável com a atenção. Percebi no mesmo
momento que nossas primeiras aulas deveriam ser sobre comunicação, ele precisava falar com
mais segurança.
— Estaremos no meu quarto, nos chamem quando a janta estiver pronta — falei e puxei
Caleb pela mão em direção as escadas.
Mas é claro que Nathaniel não poderia perder a graça.
— Se comportem, crianças.
Vi o exato momento em que Tyler jogou uma almofada na sua cara.
Subimos até o meu quarto e eu só larguei a mão de Caleb quando entramos no cômodo.
Ele estava visivelmente com vergonha com as bochechas levemente coradas.
— Desculpa pelo o idiota do meu irmão — eu falei enquanto fechava a porta — Ele ama
fazer gracinhas.
— Tud...tudo bem.
— Pode sentar — eu apontei para a minha cama — Eu não sei como faremos isso, para
ser sincera, nunca dei aulas para ninguém de como conquistar alguém.
Caleb se sentou na beirada da cama e eu fiz o mesmo ao seu lado. Ele parecia ainda mais
tímido do que as outras vezes.
— Podemos começar pela a sua comunicação — eu sugeri — Você é bem tímido e antes
que pense que isso é um problema, não é. Só precisamos trabalhar mais na parte da fala.
Ele assentiu.
— É um g...grande trabalho — falou enquanto olhava para as suas mãos unidas em cima
de suas pernas — Você d...deve ter per...percebido que gaguejo tod...toda hora.
Soltou a respiração. Caleb parecia muito nervoso, talvez fosse por isso que gaguejasse.
Segurei suas mãos unidas o fazendo olhar para mim.
— Está tudo bem gaguejar, vamos trabalhar nisso juntos, ok?
Ele assentiu.
— Ótimo — me levantei — Finja que eu sou a Mackenzie.
Caleb franziu as sobrancelhas sem entender.
— O que?
Apontei para mim mesma.
— Sou a Mackenzie, mas ainda falta alguma coisa... — olhei ao redor e percebi
exatamente o que faltava — Espera aí!
Caminhei até a minha estante e peguei alguns livros, mas antes prendi o meu cabelo em
um rabo de cavalo, deixando a franja cair para frente, em seguida voltei a ficar na frente de
Caleb.
— Melhorou, né?
Mack sempre andava com os livros e os cabelos presos dessa forma, era raro as vezes
em que estava com os cabelos soltos.
— Só faltou os cabelos escuros — sorri ao perceber que ele estava brincando. Já era
alguma coisa.
— Isso vai ter que ficar para sua imaginação. Vamos fazer o seguinte: eu serei Mackenzie
Brown e o meu quarto será o campus da universidade, o que acha?
— Ó...ótimo, o que eu ter...terei que fazer?
— Uma hora você vai ter que se aproximar de Mackenzie e é isso que vamos treinar
hoje.
Caminhei até o canto do quarto e abri um livro que segurava.
— Vou estar aqui entretida na minha leitura e você vai se aproximar, tudo bem?
Ele sorriu.
— E o que direi?
— Sem cantadas ridículas, por favor — eu brinquei — Como a do padeiro, a do
caminhoneiro ou até mesmo aquela ridícula do mapa.
Caleb prendeu o riso.
— Mapa?
— Sorte sua você não conhecer — pensando em descontrair um pouco e deixá-lo mais
confortável, perguntei: — Quer ouvir?
Ele assentiu.
— Você tem um mapa?
Foi a minha vez de prender o riso. Eu já havia me perdido no número de vezes que havia
recebido aquela cantada ridícula.
— Não, por quê? — Ele ainda prendia o riso.
— Porque me perdi no brilho dos seus olhos.
Foi o suficiente para ele rir e eu me peguei o acompanhando. Aquela cantada era
mesmo ruim ao mesmo tempo que muito engraçada.
Não me passou despercebido que Caleb Lee Walker tem um sorriso muito bonito, ainda
mais quando se sentia confortável e sua risada ecoava pelo o quarto sem nenhuma timidez.
Ele tem até mesmo duas covinhas, o que o deixava ainda mais fofo.
— O que foi? — Perguntou. Só então percebi que havia parado de gargalhar e estava o
olhando como uma idiota.
Balancei a cabeça.
— Nada. A cantada é horrível, não é mesmo?
— Totalmente, você recebe muitas delas?
— Já até perdi as contas — sorri — Felizmente é um bom sinal porque geralmente quem
me fala essas cantadas não é nada inteligente, então já sei que não posso me envolver.
— Só fica com caras inteligentes?
— Não — eu ri — Mas não tão burros a ponto de me cantar com essas cantadas
horríveis.
— E como... — ele balançou a cabeça negando para si mesmo — Esquece.
— Não mesmo, continue a frase.
Caleb voltou a ficar com as bochechas vermelhas, ajustou os óculos no rosto em um
sinal claro de nervosismo, já que ele estava correto.
— Como um gar...garoto deve chegar em vo...você?
Eu sorri, larguei os livros em cima da minha cômoda e caminhei até a cama me sentando
ao seu lado. Talvez uma conversa seria melhor do que um teatro.
— Não acho que tenha que ter uma forma específica, tudo acontece conforme o
momento e a química. Se gosto dele, fico com ele, se não gosto, não fico, simples assim.
Ele assentiu, voltando a olhar para as mãos enlaçadas uma na outra sobre a perna,
parecia pensativo.
— E você? O que chamou a atenção de você em Mack?
— Não sei ao certo. Eu estava no campus tentando fazer uma sinopse para o meu livro
quando a vi pela primeira vez — seus olhos encontraram os meus, estavam mais brilhosos,
com mais sentimentos. — Tudo o que eu sei é que quando coloquei meus olhos em...nela, me
apaixonei perdidamente. Há uma áurea sobre... Mackenzie, que nem ela consegue enxergar,
seu jeito é único e difícil de encontrar, eu diria até mesmo peculiar.
Ele estava mesmo falando sobre Mack?
Foi a primeira coisa que pensei porque eu definitivamente não enxergava um jeito
peculiar em minha prima, nem mesmo uma áurea. Na verdade, minha priminha parecia muito
com mil alunas dessa universidade: mais reservada, não tão tímida, mas também não muito
social. Curtia as festas, mas era difícil ficar com alguém sem compromisso como eu.
Com certeza na minha visão, Mackenzie se encaixava no jeito comum de ser, mas eu
nunca iria contra um coração apaixonado.
Parecia que aquele ditado que dizia: o amor é cego, realmente era verdadeiro.
Ou apenas eu não enxergava essas características em Mack.
— Você parece mesmo apaixonado por ela. Vamos fazer o possível para conseguir a
garota, Caleb.
— Acha qu...que ela pode me dar uma ch...chance?
— Lembra que eu falei sobre ela ser fissurada por Bradley Aldrich? — Ele assentiu —
Não quero que fique magoado, mas sou sincera e vou ser honesta com você, ela realmente
gosta daquele cara.
Ele não pareceu tão decepcionado como eu achei que ficaria.
— Tudo b...bem se não der certo.
— Vamos tentar, ok? — Ele assentiu — Eu não entendo como vocês conseguem se
apaixonar por alguém que nunca conversou — admiti — Minha colega é apaixonada por meu
irmão, Nathaniel, você por Mackenzie, Mack por Bradley. Isso é tão estranho.
— Não é e...estranho — defendeu — Talvez se...sem explicação, mas já fiquei meses
demais com esse s...sentimento para per...perceber que não é estranho.
Sorri, dando de ombros.
— Já se apaixonou? — A pergunta que ele fez me pegou de surpresa.
Neguei.
— Não e nem quero.
Ele franziu as sobrancelhas, provavelmente sem entender a minha resposta.
— O amor nos torna dependente, eu sou uma garota livre, não me imagino dentro de
um relacionamento dependendo emocionalmente de alguém.
Notei que Caleb engoliu em seco e voltou a prestar atenção em suas mãos. Estranhei a
atitude, que provavelmente era por causa de sua timidez.
— E sobre o que você escreve, Caleb? — Perguntei, querendo desesperadamente mudar
de assunto.
— Romance.
A resposta não me surpreendeu, combina com ele o gênero.
— Gosta de ler? — Perguntou.
— Não romances — sorri culpada — Prefiro os suspenses e os terror.
Pensei que a minha resposta o surpreenderia, afinal, muitos acham que eu não gosto de
ler, apenas festejar, mas ele pareceu mais curioso do que surpreso. Me levantei, pronta para o
mostrar o meu segredinho para Caleb, apenas meus irmãos e pessoas mais próximas de mim,
como minha prima, sabiam deles.
Ao lado da minha cômoda eu tinha uma estante fechada. Percebi que Caleb prestava
atenção em cada movimento que eu fazia. Abri as portas e me virei para ver sua reação ao ver
a minha coleção de livros de Stephen King, Charlie Donlea e Josh Malerman, meus autores
favoritos.
Caleb levantou da cama muito surpreso e parou ao meu lado, observando tudo com
certa admiração.
— Eu sabia que você é muito mais do que aparenta ser — ele murmurou.
O olhei, sem entender qual era o significado real daquela frase.
— Como assim?
Suas bochechas ficaram vermelhas e percebi naquele momento que ele não queria ter
falado aquela frase em voz alta.
— To...todos os livros de St... Stephen King? — Ele mudou de assunto e eu preferi não
deixá-lo mais envergonhado ao insistir em uma resposta.
Assenti, pegando o meu livro favorito: Carrie.
— Foi o primeiro livro que li na vida e também se tornou o meu favorito — mostrei a
versão original, que meu pai havia me dado de presente de aniversário de quinze anos.
— É um clássico. Perdi a conta de quantas vezes já li — disse.
— Então também gosta de um suspense?
— Gosto muito de misturar o suspense com o romance.
— Isso é interessante — falei enquanto guardava Carrie na estante, no meio de tantos
outros de Stephen King — Conte-me mais sobre suas obras, Caleb.
Peguei sua mão e o levei até a cama, voltamos a nos sentar lado a lado. Percebi que
falar sobre livros o deixava mais confortável e iriamos começar por aí, criar uma intimidade até
podermos conversar mais abertamente sobre nossas aulas, assim conseguiríamos evoluir mais
na questão da comunicação.
— Meu primeiro livro é um romance policial — ele revelou olhando para nossas mãos
ainda juntas, com calma separei elas, não queria deixá-lo mais vermelho do que já estava.
— É sobre o que? — Perguntei o fazendo olhar para mim.
— Uma mulher busca explicação para o sumiço de sua irmã mais nova. O caso foi dado
como encerrado, sem nenhuma explicação, até que o novo delegado chega a pequena cidade.
Ele é um homem justo e conhece Rebeca brigando com um dos policiais, exigindo uma
explicação, até que decide assumir o caso — sorri ao perceber que em nenhum momento ele
gaguejou, estava confortável — Os dois acabam se envolvendo e descobrem segredos ligados
ao desaparecimento da irmã que pode destruir o que ambos estão sentindo um pelo o outro.
Pela primeira vez fiquei interessada em um romance e fiquei muito surpresa com isso,
parecia ser um livro incrível e foi isso que disse a Caleb, que voltou a corar.
— O...obrigada — gaguejou.
— Você disse que já tem ele pronto... eu fiquei curiosa, poderia ler?
— Vo...você? — Perguntou, muito surpreso. Assenti. — Eu posso te en...enviar o
arquivo.
— Ótimo!
— Tem romance e você não gosta.
— Mas também tem suspense e mistérios. Você não notou a minha coleção de Charlie
Donlea?
Caleb sorriu assentindo.
— Sou apaixonada por um suspense policial, é o meu tipo de filme favorito também —
declarei.
— Tem um favorito?
Pensei um pouco, mas com certeza eu já tinha a resposta desde que o vi pela primeira
vez.
— Um contratempo.
Caleb pensou um pouco, provavelmente procurando o nome dentre vários filmes que já
assistiu, até que respondeu:
— Nunca assisti.
Levei a mão ao coração fingindo uma dor que não existia.
— Infelizmente eu não me surpreendo, é um filme espanhol, poucas pessoas assistiram
— ainda com a mão no peito continuei: — Precisamos mudar isso.
— O que?
— Uma de nossas aulas vai ser assistir um contratempo. Um dia você vai assistir um
filme com Mack, a minha prima é viciada em filmes e séries, então é uma ótima oportunidade
de aprender, o que acha?
— B...Bom.
Sorri.
— Estou animada, todos os meus irmãos assistiram ao filme comigo e amaram, tenho
certeza que vai gostar.
— Também tenho — sorriu mostrando suas covinhas fofas.
— Vamos combinar um dia — pensei um pouco — Pode ser na quinta, o que acha?
Caleb concordou.
Uma batida na porta e uma Alex sorridente abriu, colocando a cabeça para dentro do
quarto.
— O jantar está pronto — anunciou.
— Janta com a gente? — Convidei Caleb.
Ele arregalou os olhos, surpreso.
— Ach...acho melhor ir pa...para o dormitório.
Com certeza ele deveria estar pensando que teria que jantar com meus irmãos e devido
a sua timidez preferiu recusar. Deixaria para outro momento questionar o porquê ele era tão
tímido assim.
— Tudo bem.
Nos levantamos e saímos do quarto. Meus irmãos já estavam se sentando para jantar
quando chegamos na sala aberta.
— Vai ficar para jantar com a gente, Caleb? — Tyler perguntou.
— Não — ele respondeu — Ma...mas agradeço o con...convite.
— Então fica para a próxima — Nathaniel sugeriu.
Caleb assentiu.
— Vou levá-lo até a porta, esperem sua querida irmãzinha para comer — falei.
— É claro — Ty disse.
— Que não — Nathaniel completou levando um tapa na nuca de Tyler — Aí!
Balancei a cabeça rindo dessas idiotices de Nathaniel e guiei Caleb até a porta.
— Se...seus irmãos são engraçados — ele comentou quando estávamos do lado de fora
do apartamento.
— Nathaniel é, Tyler é um pouco mais sério.
— Alguns universitários têm medo dele.
Eu ri, concordando.
— Eu soube disso. O que posso fazer se meu irmão decidiu viver a adrenalina em um
mundo clandestino?
— Nada — ele respondeu.
— Exatamente, é a vida que ele gosta, que o distrai dos seus demônios. Em um mundo
que podemos julgar e acabar nos afastando, prefiro apoiá-lo a fazer a coisa certa, mesmo que
seja em um lugar errado — percebi que Caleb não entendeu muito do que eu disse, por isso
expliquei: — Tyler só participa das corridas clandestinas, nada de drogas, tráficos ou algo tão
ruim quanto. E quando ganha uma partida, o dinheiro sujo é doado para um abrigo.
Caleb sorriu.
— É um lindo gesto e tenho cer...certeza que muitos não acreditariam.
— A comida vai esfriar, Sky — Alex gritou lá de dentro.
— Eu vo...vou indo — falou.
— Sei que nossa primeira aula pode não ter sido muito produtiva, mas sou nova nisso
também. Na próxima iremos assistir ao filme e treinar algumas coisas, ok?
— Ok.
Sorri e antes que ele se afastasse, beijei sua bochecha.
— Até mais, anjo da guarda.
O tom rosado voltou a dominar suas bochechas.
— Até mais, Skyller.
Fechei a porta quando ele se afastou. Me aproximei da mesa e provavelmente graças a
Tyler, meus irmãos ainda me esperavam para iniciarmos a refeição.
— E então, tirou a virgindade do puritano?
Quase me afoguei com o suco que bebia.
— Você não cansa de ser inconveniente? — Perguntei.
— Só estou curioso — deu de ombros enquanto comia um pedaço do seu filé de frango
— Quem mal tem?
— Todo — respondi — Já falei que as aulas não serão dessa forma maliciosa que você
está pensando.
— Não vejo forma melhor do que ensinar sobre sexo fazendo-o.
— Eu prefiro não responder sobre isso — falei enquanto comia um pouco da minha
salada.
Meu celular vibrou contra o bolso traseiro da minha calça, peguei o aparelho e vi que se
tratava de uma mensagem do anônimo.
Pensei muito se abria ou não, desde que conversamos há alguns dias não trocamos mais
nenhuma mensagem, por um momento eu acreditei que ele havia desistido.
Por fim, decidi que minha curiosidade vencesse a batalha.
“O maior sonho de alguém que não sabe amar com certeza é o amor.
—William Shakespeare
Na nossa última conversa você foi honesta ao dizer que não quer relacionamentos. Mas
a minha dúvida permanece em minha cabeça: é medo ou simplesmente uma escolha? ”
Guardei o celular no bolso novamente. Eu não poderia responder, não deveria continuar
com aquilo.
Havia sido confortante desabafar com alguém que eu não conheço, mas ao mesmo
tempo eu não podia continuar com aquilo e acabar o iludindo. O cara gostava de mim e
deixava seus sentimentos bem expostos.
O que eram aquela pergunta? Eu não tenho medo do amor! Nunca tive.
É claro que o que eu sinto é uma escolha. Não querer depender de alguém, poder curtir
minha vida sem dever nada, poder ir a festas e ficar com quem quiser. Tudo isso faz parte do
meu espírito livre.
Eu não nasci para ficar presa em alguém.
E eu até poderia responder aquela mensagem com toda essa resposta, mas eu falei sério
quando disse que não posso voltar a falar com o anônimo.
Não quero que crie esperanças para algo que não existe.
Eu nem o conheço.
Havia sido apenas bom conversar com ele em um momento difícil, apenas isso.
— Outra mensagem? — Tyler perguntou baixinho, só para mim ouvir. Alexandra e
Nathaniel não ouviram e nem prestaram atenção porque estavam entretidos conversando
sobre algum assunto que não fiz questão de saber o que é.
Assenti para o meu irmão.
— Vai responder?
Havia contado apenas para Tyler sobre eu ter conversado com o anônimo naquela noite
difícil. No início, meu irmão mais velho ficou com ciúmes por eu ter conversado com um
estranho e não com ele, depois se tornou compreensível e até curioso para saber sobre o que
conversamos.
Não entrei em muitos detalhes.
— Não — respondi — É melhor não dar esperanças.
Meu irmão assentiu, compreendendo o que eu queria dizer.
Voltamos a jantar ao som das implicâncias de Alex e Nathan, que por mais que sempre
se bicavam, compartilhavam um amor tão gigante como o meu com Tyler.
Aquela era a única forma de amor que eu conhecia e permitia conhecer.
Aquele amor não me tornava dependente, me tornava forte.
Era um amor de irmãos, um amor de melhores amigos, um amor que poucos entendem
e que muitos desejam.
Por um bom tempo eu achei que aquele era o único amor que precisava.
E por um bom tempo eu estive enganada.
7- Um bom roteiro
Caleb Lee Walker
Nenhuma resposta.
Skyller havia mesmo decidido que não responderia mais o anônimo e talvez eu não
devesse mais enviar mensagens.
Agora que eu estava me aproximando dela como Caleb, não via a necessidade de
arriscar mandar aquelas mensagens que nunca mais seriam respondidas.
Mas algo dentro de mim ainda queria continuar.
E foi esse lado que falou mais alto quando decidi mandar outra mensagem no dia
seguinte.
“O amor é a única loucura de um sábio e a única sabedoria de um tolo.
— William Shakespeare
Sem respostas suas. Eu deveria saber que isso aconteceria, mas como diz Shakespeare: o
amor é a única sabedoria de um tolo. Você poderia ao menos responder se as mensagens
incomodam você? Eu pararia, faria isso apenas porque deseja.”
Não pensei muito antes de enviar, mesmo que me respondesse com uma mensagem
concordando que aquilo tudo a incomodava.
Voltei a pensar nas sensações que tive ao estar no quarto de Skyller com ela tão
confortável com a minha presença a ponto de revelar um hobby que poucos sabiam sobre ela.
Eu ainda me sentia feliz por ter descoberto algo em comum com a mulher que sou
apaixonado.
Skyller Blossom também gostava de ler.
Não eram romances, mas ainda gostava de ler dois gêneros que eu também apreciava
muito: terror e suspenses.
E ela queria ler o meu primeiro livro.
Aquilo era fantástico, eu me sentia um pouco mais íntimo dela, era pouca coisa, mas
ainda assim, me sentia confortável em sua presença a ponto de construir frases sem gaguejar
como um idiota.
Eu pensei que nunca conseguiria formular uma frase na frente de Skyller.
Ter transtorno de ansiedade social afetava muito o meu desenvolvimento. Mesmo que
eu tivesse evoluído nos últimos anos por causa da Psicoterapia que fiz até vir para a faculdade,
ainda existiam empecilhos. Não há um botão de liga e desliga para o meu transtorno, tudo
depende de mim mesmo com a ajuda de profissionais e as vezes até de medicamentos.
Felizmente eu não precisei de remédios.
Meus pais foram muito cuidadosos ao me tratarem com psicólogos altamente
profissionais desde cedo.
Eu não tinha um ataque de pânico a mais de dois anos.
Eu não tinha mais medo da ideia de andar pelo campus da universidade.
Eu coloquei os pés nesse lugar confiante. Algo que não imaginava que seria possível há
alguns anos.
Eu não tinha mais medo de tirar uma dúvida com um professor, mesmo que esperasse
todos saíssem da sala para perguntar, mesmo assim, ainda era um progresso.
Tudo ao seu tempo, garoto. Um passo de cada vez.
Eram esses os conselhos que recebia do meu amigo e psicólogo Zac Layne, e estava
seguindo-os à risca.
Eu me sentia confortável com Skyller.
Mesmo que ela não me visse como um homem para ela, podíamos nos tornar amigos.
Mesmo que isso me quebrasse em mil pedacinhos.
— Quando você vai me dizer o que aconteceu nessa aula? — Andrew se sentou ao meu
lado comendo salgadinhos. Doritos.
— Não aconteceu nada demais — eu falei — Conversamos, apenas.
— Nenhum beijinho?
— O que? — franzi as sobrancelhas e percebi que elevei a voz. O que ele estava
pensando?
Meu amigo revirou os olhos.
— Talvez ela pudesse ensinar você a beijar. Afinal estão tendo aulas, né?
Senti minhas bochechas ficarem vermelhas.
— Você é ridículo! Não vamos nos beijar desse jeito.
— Anota aí: uma hora vocês vão se beijar e vai ser incrível — Andrew disse com aquele
olhar sonhador.
Automaticamente temi e se ele tivesse certo? E se Skyller quisesse me mostrar como
beija? O simples pensamento fez com que eu sentisse meu coração acelerar e as palmas das
mãos começarem a umedecer.
— Vo-cê acha que isso pode acontecer?
— Vai acontecer, bebê — me ofereceu o pacote de Doritos, recusei — Essas aulas são
para conquistar a garota que você gosta. Tudo bem que Skyller pensa que é Mackenzie e é
exatamente por isso que ela irá ajudar você desde como chegar na garota até o beijo — fez
uma pausa dramática — Pensando melhor, ela pode até ensinar você a transar.
Me levantei da cama rapidamente.
— O-o-o — não consegui nem formular uma frase.
Meu amigo percebeu o meu nervosismo, largou o salgadinho e veio até mim. Com as
mãos sobre os meus ombros, me olhou sério:
— Não estou brincando, bebê. Talvez na parte do sexo sim, mas com certeza vai rolar
um beijo e você tem que estar preparado para isso. Precisa usar toda a confiança que existe
aqui dentro — apontou para o meu peito — Para conquistar a garota que gosta de verdade.
— Não tenho confiança — admiti.
Meu amigo riu.
— É claro que tem, bebê. Você acha que eu o deixaria se envolver nessa loucura se não
tivesse certeza que você está preparado para tudo? Eu estou do lado de fora observando,
Caleb — quando ele dizia o meu nome, é porque o negócio é sério — Desde os seus 11 anos
quando você não conseguia formular uma palavra direito, lembra? — assenti — E agora você
caminha por esse campus com confiança, mesmo que você não note, eu noto. Você evoluiu,
bebê, e estou muito orgulhoso de ser seu amigo.
Senti meus olhos marejarem.
Outro fato sobre mim: eu amava esse cara nerd com músculos e sorriso bonito. Andrew
além de meu melhor amigo é o irmão que eu nunca tive.
O garoto que esteve comigo nos meus piores momentos e nas minhas melhores
conquistas.
Como essa que ele mesmo citou: eu havia evoluído.
E saber que o meu irmão havia notado isso é importante para mim.
Eu começava a achar que era coisa da minha cabeça, porque eu sou assim...em um
momento confiante, em outro totalmente inseguro.
— Belas palavras, Andrew — sorri de lado tentando não demonstrar que estava quase
derramando lágrimas.
— Você sabe que também sei falar palavras bonitas — piscou — Está tranquilo com tudo
o que te falei sobre Skyller?
— Mais ou menos — admiti a verdade.
— Você tem que ficar tranquilo quanto a isso, bebê. Não pode deixar a sua ansiedade
atrapalhar todo o seu desenvolvimento com Skyller.
— Sei disso. Hoje iremos nos encontrar novamente para ver um filme — falei — Ela acha
que em algum momento vou assistir algo com Mackenzie e tenho que saber me comportar em
uma situação como essa.
— Pontos para Skyller — Andrew sorriu — Ela sabe o que faz, hum? Só não fique
nervoso, tenho certeza que vai conseguir relaxar ao lado dela.
— Você estava falando sério...da parte do... — ele arqueou as sobrancelhas, esperando
eu completar a pergunta, bufei, frustrado. — Sexo. Você estava falando sério sobre isso?
— Isso está te incomodando tanto assim?
Neguei.
— Não de forma negativa, mas...Andrew, eu não sei nada, nada — frisei a última
palavra.
— E não é por isso que está tendo aula com Skyller?
— As aulas não eram para ser sexuais — senti minhas bochechas ficarem quentes — Eu
acho.
— Imagine comigo, ok? Você pediu aulas para a garota que gosta de como conquistar
uma garota que não gosta, até aí tudo bem. Nessas aulas não pode ser apenas Skyller falando
como deve fazer com Mackenzie, em alguns momentos ela terá que demonstrar. Talvez eu
tenha exagerado na parte do sexo, mas não na do beijo.
Me senti incrivelmente aliviado.
Eu não gostaria que a minha primeira vez com Skyller fosse uma aula para conquistar
sua prima.
Seria ridículo.
— Não está atrasado? — Andrew perguntou olhando para o relógio preso na parede do
nosso dormitório.
Olhei e faltavam exatamente dez minutos para encontrar com Skyller. Confesso que
estava com um pouco de receio de ir agora que havia escutado as maluquices do meu amigo.
Onde eu fui me meter?
Me levantei decidido a não pensar muito naquilo e seguir o fluxo das aulas que estava
tendo com Skyller. Sem nenhuma paranoia, ou poderia acabar estragando qualquer que fosse
o nosso relacionamento no futuro.

Toquei a campainha do apartamento dos irmãos Blossom quinze minutos depois.


Eles moravam duas ruas atrás do campus, por algum motivo resolveram alugar um
apartamento para continuarem juntos ao invés de dormirem em dormitórios na universidade.
Foi Nathaniel que abriu a porta, usava uma bermuda esportiva e uma regata cinza.
Assim que me reconheceu, sorriu.
— Caleb, né? — Assenti — Entra aí, cara. Skyller está no banho.
Entrei no apartamento me deparando com todos na sala vidrados na televisão. Inclusive
um garoto que eu não conhecia, mas pela forma que segurava a mão de Alexandra diria que
era o seu namorado.
— Jordan esse é Caleb, amigo da Skyller. Caleb esse é Jordan, namorado da Alexandra —
Nathaniel apresentou-me.
O garoto me observou de cima a baixo e sorriu logo em seguida.
— Amigo da Skyller? Agora a sua irmã transa com nerds? — A forma que me chamou de
nerd e me olhou era como se me desprezasse, apenas por eu ser desse jeito.
— Amor! — Alexandra pareceu o repreender.
Já Tyler o fuzilou com o olhar enquanto eu abaixava a cabeça levemente desconfortável.
Mentira.
Totalmente desconfortável.
— É melhor você cuidar as coisas que fala da minha irmã e dos amigos dela, não quer
aparecer com um olho roxo qualquer dia desses, não é mesmo? — A ameaça de Tyler me fez
levantar o olhar para observar melhor aquilo.
— Desculpa por isso, Caleb, ele é um idiota — Nathaniel murmurou para eu ouvir.
Me limitei apenas a assentir.
— Ty, por favor, foi uma brincadeira né, Jordan? — Alexandra tentou amenizar o clima.
— Claro que sim, desculpa aí, Caleb — por algum motivo não acreditei em suas palavras,
então apenas dei de ombros.
— Com quem eu transo ou deixo de transar não deveria interessar a você, idiota —
Skyller desceu as escadas e se colocou ao meu lado, pegando na minha mão — Você deveria
cuidar mais da sua vida e tratar melhor a sua namorada, antes que eu mesma tenha a coragem
que ela não tem para te dar um pé na bunda.
O que Skyller disse me deixou surpreso, não só a mim, como também Nathaniel. Meus
olhos desviaram da garota que eu sou apaixonado para a irmã que já estava com os olhos
marejados e visivelmente abalada com aquela pequena discussão.
— Vamos, Caleb! — Skyller me puxou em direção ao seu quarto, deixando o clima tenso
para trás.
Quando entramos no seu quarto, ela respirou fundo, soltando o ar logo em seguida.
Largou a minha mão e fechou a porta.
— Me desculpe, Caleb, por favor — pediu perdão pelo o idiota do cunhado — Eu não sei
como a minha irmã consegue ser apaixonada por aquela coisa.
— Tudo bem — eu disse, porque estava. Aquilo não era nada comparado a tudo o que já
ouvi por boa parte da minha infância e adolescência.
— Não está tudo bem — bufou, frustrada e se sentou na cama — Ele é um idiota e
estamos cada vez mais perto de perder o restante de paciência que nos resta. Jordan não
serve para a minha irmã, mas infelizmente ela é cega quando se trata dele.
— Ela o ama.
Skyller me olhou.
— É o que ela acha que sente, mas isso não é amor, eu tenho certeza — ela voltou a
pegar a minha mão e eu estremeci ao sentir seu toque na minha pele — Eu vi que ficou
desconfortável com aquilo, mas também... quem não ficaria? Sinto muito mesmo.
Assenti.
— El...ele só estava tentando ser engraçado.
— Esse não é o tipo de brincadeira que gosto e compactuo. A qualquer momento vou
colocar aquele idiota no lugar dele, pode deixar — piscou.
Sorri de lado.
— E sua irmã? Ela parecia ch...chateada.
— É complicado, minha irmã é toda complicada — suspirou — Acho que no fundo ela
sabe que Jordan é um idiota, sabe? Mas está tão presa a esse relacionamento
emocionalmente que não se imagina sem ele.
— Ent...entendo.
— Eu não consigo entender — admitiu — E toda vez que tentamos conversar sobre isso,
ela vem com a desculpa que estamos sendo irmãos ciumentos, mas não estamos, só queremos
o bem dela. E aquele cara lá na sala, não a faz bem.
Eu vi no olhar de Skyller o quanto ela se preocupava com a irmã, mas mais que isso,
parecia haver algo entrelinhas, não era apenas uma grande preocupação.
Era medo.
Skyller parecia sentir medo e eu me perguntava do que ela temia. E o que aquilo tinha a
ver com Alexandra e Jordan.
— Mas vamos falar sobre outra coisa.
Ela se levantou largando a minha mão e se aproximou da cômoda do seu quarto, onde
se encontrava o controle da televisão grudada na parede em frente a cama.
— Vamos assistir ao melhor filme de suspense e com o plot twist mais incrível desse
universo cinematográfico — ligou a televisão.
Skyller se colocou na minha frente.
— Você tem que saber que minha prima é uma viciada em filmes e séries, então quando
vocês estiverem mais próximos é óbvio que ela vai convidá-lo para assistir alguma coisa, ou
você pode fazer isso, tanto faz.
— Certo — falei, sem saber direito o que falar.
— O que vamos fazer hoje, além de eu mostrar o melhor filme de todos os tempos, é te
preparar para um momento como este — continuou — Nada de beijos durante o filme, porque
minha prima e qualquer pessoa com senso o dispensaria. Estamos aqui para ver o filme, né?
Mas isso não quer dizer que você não pode investir em toques ou até mesmo um simples
abraço de lado.
— Toques?
— Pegar na mão ou até mesmo fazer um carinho...
— Carinho?
Eu me sentia uma criança que não sabia o significado das palavras.
— Tudo bem — ela estava prendendo o riso, provavelmente me achando um tolo —
Deita daquele lado — apontou o lado esquerdo da cama. — E eu deito desse, ok?
Assenti, mesmo sentindo a súbita vontade de me esconder em um buraco. Que
vergonha! Eu não sabia nem ao menos ver um filme com uma garota.
Fiz o que ela pediu, tirei meus tênis e logo em seguida me encostei na cabeceira do lado
esquerdo. Skyller vai para o lado direito, ajeita os travesseiros antes de fazer o mesmo.
— Preparado para assistir Um Contratempo, anjo da guarda?
— Estou cu...curioso para sab...saber porque é seu fi...filme favorito — gaguejei e me
senti ainda mais idiota.
Skyller me olhou, pegou minha mão e passou o braço ao redor de seus ombros e
continuou segurando-a ao dizer:
— Não precisa ficar nervoso — ela me tranquilizou — Estamos nos tornando amigos,
não é? — assenti — Então não tem motivos para ficar nervoso na minha presença. Eu estou
aqui para ajudar você.
Se ela soubesse que sim, existe motivos para eu estar nervoso e ansioso na sua frente.
Não era apenas a fobia social, era o fato de que a garota que eu gostava era Skyller e
não Mackenzie.
Skyller deu play no filme com a mão que não segurava a minha e encostou mais a
cabeça em meu peito, me fazendo quase não querer prestar atenção no filme que ela tanto
amava.
— É disso que eu estava falando — ela murmurou com os olhos vidrados na tela, que
ainda aparecia os nomes dos atores, produtores e diretor — Estamos abraçados e de mãos
dadas, é um contato íntimo, que mostra que você está interessado na garota.
Meu coração estava batendo mais forte, eu senti, mesmo que eu quisesse que ele não
batesse tão freneticamente a ponto de chamar atenção da garota ao meu lado.
Aquilo era uma aula.
Repeti para mim mesmo, não podia me iludir mais do que já estava ou então a queda
poderia ser grande.
Aquele talvez fosse o caminho para fazer Skyller se apaixonar por mim, mas ainda não
era nada demais, ainda era uma simples aula.
— Tudo bem? — Ela desviou o olhar para mim apenas para se certificar que eu estava
bem.
Assenti, me limitando a apenas sorrir. Skyller voltou a olhar para tela, onde o filme já
começava.
Com o pouco de coragem que eu ainda tinha a trouxe para mais perto de mim e
entrelacei meus dedos nos seus. Meus olhos capitaram quando ela olhou para as nossas mãos
mais unidas do que antes e sorriu.
Fazendo o meu coração tolo bater ainda mais forte.

Skyller parecia que olhava o filme pela primeira vez. Suas expressões, além de lindas,
eram engraçadas. Seus olhos brilhavam, seu rosto chocado com os acontecimentos como se
não soubesse que aquilo aconteceria me deixaram extremamente tranquilo.
Tranquilo o suficiente para as batidas do meu coração voltarem a bater normalmente e
eu apenas admirá-la ainda mais.
Tão perto, tão linda.
Será que ela sabia do poder que tinha? Com certeza sim.
Skyller é confiante, sabe que é o sonho de muitos garotos universitários e é invejada por
muitas garotas que não conseguem chamar nem a metade da atenção que ela consegue.
Na metade do filme ela se moveu e ficou ainda mais próxima de mim, o topo da cabeça
próximo ao meu rosto me fez sentir o perfume de seus cabelos. Era um shampoo muito
cheiroso, me lembrava morangos.
Quando o plot twist final do filme foi revelado eu entendi o porquê aquele era o seu
filme preferido. Não vou mentir, era fantástico.
Contava a história de um empresário bem-sucedido que foi incriminado pela morte de
sua amante. No dia do julgamento, ele teria apenas uma hora e quarenta e oito minutos para
contar toda a verdade com detalhes para a advogada Virginia Goodman, para conseguir
inocentá-lo.
Mas o filme é muito mais que isso.
Há segredos entre os casais de amantes que poderiam arruinar a sua inocência. E o
final... caramba!
— E então? — Skyller levanta o rosto para poder estudar a minha reação.
Até aquele momento eu estava chocado com o final do filme, mas quando ela ergueu
seu rosto e ficou ainda mais perto de mim esqueci até mesmo do que estava surpreso.
Esverdeados.
Seus olhos eram dos mais lindos esverdeados que eu já havia visto. Seu rosto sem
maquiagem, os lábios bem delicados e uma pele que eu tenho certeza ser macia.
Incrivelmente linda.
Eu sabia que ela era linda, mas constatar tão de perto, com seus olhos sem desviar dos
meus era ainda mais intenso.
Ela esperava uma resposta minha.
Lembrei-me. Havia um sorrisinho nos seus lábios que não consegui defini-lo, mas
provavelmente estava na cara que eu estava abobado com a sua proximidade e sua beleza.
Lembrei do que Andrew disse mais cedo e automaticamente fiquei nervoso. O
sentimento só se intensificou quando seus olhos desviaram para a minha boca.
O pensamento de que ela fosse me beijar fez com que minhas mãos ficassem úmidas de
suor. Por Deus! Eu era um idiota!
— Estou esperando uma resposta, anjo da guarda — ela sussurrou e eu senti o seu
hálito de menta adentrar minhas narinas.
Skyller definitivamente não tinha nenhum defeito. Nem um mau hálito se quer!
Tentei ignorar o arrepio que senti ao ouvir sua voz em um sussurro, mas era impossível.
Ela me afetava em todos os sentidos.
— E... — Parei de falar, não conseguiria dizer palavras completas para formular uma
frase decente.
— Respira — ela sorriu, mas não era nada zombeteiro, era compreensível e mesmo
assim me senti ainda mais envergonhado.
Em nenhum momento ela se afastou.
— Gostei — consegui dizer.
Skyller largou a minha mão e se afastou apenas para se ajeitar na cama, colocar um
braço sobre o meu peito e apoiar sua cabeça em cima dele. Continuou a ficar próxima de mim,
confundindo a minha cabeça e intensificando os meus sentimentos.
— Só um gostei? Vamos lá! Sei que tem muito mais para dizer desse filme do que uma
simples palavra.
Era só eu que estava afetado ali.
Era só eu que estava abobalhado.
Por isso tentei expulsar tudo o que estava sentindo para um cantinho do meu coração e
lidar com a resenha que Skyller queria que eu fizesse do filme.
— É incrível — eu disse a fazendo sorrir — Um plot twist que eu não imaginava no
fin...final.
— E o que mais?
Sorri, sabendo exatamente o que ela queria ouvir.
— Provavelmente o melhor filme que já vi no ano.
Ela fez um beicinho que a deixou ainda mais linda.
— No ano? E na vida?
— Já assistiu Os sete crimes capitais? — ela negou — Esse fica em primeiro lugar para
mim.
— Então teremos que assistir esse também — sugeriu.
Eu concordei. Aquele filme era incrível de todas as formas e também tinha um final
surpreendente.
Skyler ainda me olhava com um brilho indecifrável no olhar, eu queria saber o que se
passava na sua mente, seria algo bom ou ruim?
— O que foi? — Consegui perguntar.
— Você está vermelho — a sua mão livre foi até a minha bochecha.
Estremeci ao sentir seu toque sutil em minha pele quente de vergonha. Em outro
momento eu teria saído daquela cama e fugido como o diabo foge da cruz, mas algo em seu
toque e em seu olhar me manteve preso.
Preso a ela.
— Está com vergonha, né?
Assenti, preso em seu olhar. Nem um pouco desconfortável ou mais envergonhado ao
admitir aquilo.
— Não precisa ter vergonha de mim, anjo da guarda — seu toque ainda queimava minha
bochecha. Mas em um bom sentido. — Somos amigos, né?
— Somos — infelizmente.
— Eu vou te fazer uma pergunta extremamente pessoal agora — declarou ao deixar de
tocar minha bochecha, permanecendo perto de mim — Já esteve assim tão próximo de uma
garota?
Novamente a conversa com Andrew me veio na cabeça. Ela com certeza gostaria de
querer saber mais sobre minhas experiências, ou melhor, minhas inexperiências.
Será que o beijo que eu dei aos onze anos contava? Não.
Aquilo havia sido um desastre.
— Não — murmurei.
Ela assentiu, parecendo compreender minhas reações.
Era muito mais que isso.
Mas eu não estava preparado para falar sobre meus problemas pessoais para a garota
que sou apaixonado.
A porta foi aberta abruptamente e um Nathaniel entrou no quarto, ao ver nossa
proximidade sorriu maliciosamente.
Skyller se afastou e encarou o irmão com as sobrancelhas arqueadas.
— Desculpa atrapalhar, mas a janta está pronta — anunciou — E dessa vez queremos
que fique, Caleb.
Neguei.
— E..eu vou...
— Não mesmo — Skyller interrompeu — Hoje você fica, tudo bem?
Ela parecia realmente querer isso e mesmo sabendo que era difícil estar no meio de
muitas pessoas e que ainda eram importantes para Skyller, eu assenti, concordando em ficar.
— Ótimo! Espero vocês lá embaixo — Nathaniel disse e saiu do quarto, deixando a porta
aberta.
Me levantei da cama e calcei meus tênis, Skyller fez o mesmo com a sandália aberta que
usava. Quando estávamos prontos, descemos para o jantar, encontrando os irmãos Blossom
ao redor da mesa. Nenhum sinal de Jordan, o que eu agradeci profundamente.
— O que temos para comer hoje, hum? — Skyller se sentou ao lado de Tyler e apontou
para eu sentar no banco a sua frente.
— Como não fizemos o dia do lixo ontem, decidi preparar uma lasanha para hoje —
Alexandra trouxe um prato grande de lasanha e colocou no meio da mesa.
— Hum... — Nathaniel apreciou o cheiro — Caleb você vai se apaixonar pela lasanha de
minha irmã.
Sorri em resposta.
Eles começaram a se servir e enquanto faziam, Alexandra aproveitou o momento para
falar:
— Quero pedir desculpas pela forma que Jordan tratou você, Caleb. Ele está um pouco
irritado nos últimos dias e acabou fazendo uma piada sem graça como aquela.
— Tu...tudo bem.
— Não vamos tocar no assunto Jordan, por favor — Tyler pediu — Ou então eu perco o
apetite.
Percebi os olhos de Alexandra fitarem Tyler — que estava concentrado em cortar um
pedaço de sua lasanha — com certa tristeza.
Ela provavelmente queria que os irmãos se dessem bem com o namorado.
Mas era impossível quando o cara parecia ser um idiota. Isso foi a primeira impressão
que tive, ao me tratar daquela forma sem nem me conhecer.
Me servi de um pedaço de lasanha e comecei a comer em silêncio. Eles conversavam
bastante, inclusive Nathaniel, que percebi que entre os quatro era o que mais gostava de falar.
Em um momento do jantar levantei meu olhar e encontrei Skyller me olhando. Ela sorriu
para mim me fazendo retribuir automaticamente. Seu olhar, seu sorriso, tudo nela era
contagiante.
— E então...como estão as aulas? — Nathaniel perguntou fazendo Skyller cuspi o suco
que tomava, se afogando e eu querer cavar um buraco para enfiar meu rosto nele.
Todos sabiam sobre as aulas?
Tyler tentava trazer Skyller de volta, batendo em suas costas. Já eu estava vermelho
como um pimentão.
— Meu Deus! — Skyller finalmente falou — Você é tão inconveniente, Nathaniel.
— Foi apenas uma pergunta simples — deu de ombros — Estou curioso.
Não acredito que eles sabiam.
Skyller me olhou e sussurrou um pedido de desculpas, me limitei apenas a assentir. Era
desconfortável saber que seus irmãos sabiam o motivo de eu estar aqui duas vezes por
semana.
— Qual curso está fazendo, Caleb? — Tyler perguntou tentando amenizar o clima.
— Literatura.
— Caleb vai ser um grande escritor — Skyller sorriu orgulhosa, me fazendo sorrir junto.
— Incrível, eu amo livros — Alexandra se meteu no assunto — O que escreve?
— Ro...romances — respondi.
— Tipo Nicholas Sparks? — Nathaniel perguntou.
— Minhas histórias têm finais felizes.
Os irmãos riram.
— Último livro que li de Sparks, chorei até dormir — Alexandra disse — É incrível a
forma como ele me faz chorar como um bebê.
— É por isso que prefiro meu Donlea e King — Skyller falou.
— Nunca li um livro de ficção — Nathaniel admitiu pensativo — Talvez eu mude isso.
— Um dia eu peguei It a coisa para ler, é mais interessante do que o filme — Tyler falou.
— Todos os livros são mais interessantes que as adaptações — Skyller disse o óbvio —
Não concorda, Caleb?
— Concordo.
O restante do jantar continuamos conversando sobre livros e suas adaptações, percebi
que Alexandra era muito fã de Harry Potter e qualquer crítica de Nathaniel, ela defendia com
louvor.
Me senti confortável o bastante para falar minhas adaptações favoritas e conversar um
pouco mais com os irmãos Blossom.
Percebi naquele jantar como aquela cumplicidade entre eles existia, como um olhava
para o outro com carinho e como um cuidava do outro. Era difícil de ver aquela irmandade por
aí, era muito raro.
Mais uma vez percebi que permaneceram no assunto de livros porque eu me sentia
confortável.
Igual Skyller fez comigo na aula anterior.
Eram boas pessoas e quando o jantar acabou, e o horário de ir embora se fez presente,
senti vontade de ficar um pouco mais e rir das implicâncias de Nathaniel e Alexandra, olhar
mais para o sorriso lindo da garota que eu sou apaixonado e conversar mais com Tyler.
Era estranho me sentir assim com pessoas que até semana passada eu só havia visto de
longe, mas era bom.
— Ficou bravo por eles saberem sobre as aulas? — Skyller perguntou assim que saímos
do apartamento.
Neguei.
— No início fiquei desconfortável, mas conforme o jantar pas...passava percebi que
vocês contam tudo um para o out...outro.
Ela assentiu.
— Não escondemos nada, é meio que uma regra entre nós.
— Tudo bem, não fiquei br...bravo.
— Obrigada por entender — se aproximou mais e me abraçou — Até a próxima aula?
A abracei de volta, sentindo seu corpo pequeno e delicado contra o meu, junto com o
seu perfume estupidamente perfeito.
— Sim, até.
Skyller se desfez do abraço e antes de se afastar beijou o meu rosto, fazendo meu
coração palpitar no peito ao sentir seus lábios mais próximos da minha boca do que a minha
bochecha.
— Até mais, Caleb.
— At...até.
Ela sorriu e entrou dentro do seu apartamento, fechando a porta logo em seguida.
Com o coração ainda querendo disparar no peito eu fui para os dormitórios com um
pouco mais de confiança do que sai de lá.
8. Um brinde aos idiotas
Skyller Blossom
Na sexta-feira eu acordei com o telefone tocando, peguei o aparelho e ainda sonolenta
atendi a ligação, sem me importar em ver quem estava do outro lado.
— Skyller Blossom — a pessoa em questão, é Ravenna, minha mãe — Eu nunca pensei
que seria o tipo mãe que dramatiza tudo, mas vocês fazem eu ser dessa forma. O que estão
fazendo de tão interessante que não tiveram tempo de ligar para a sua querida mãe a semana
toda?
— Oi, mãe. Desculpa por isso, mas as coisas estão corridas por aqui — não era uma
mentira, afinal.
— Corridas a ponto de não ligar para a sua mãe? Combinamos que nos falaríamos todos
os dias, agora não recebo uma ligação por semana — dramatizou.
— Eu sei o que combinamos, sinto muito, mas eu realmente não tive tempo, agora dos
meus irmãos não posso falar por eles.
— Deixa que com eles eu me entendo.
Ouvi um movimento no fundo da ligação e a voz do meu pai perguntando se estava
falando comigo, minha mãe concordou e logo em seguida colocou no viva voz.
— Filha, estamos com saudades — Dylan Blossom falou — Eu e sua mãe estamos
pensando em ir aí passar um final de semana com vocês.
— Seria ótimo, mas vocês não têm mais nada de interessante para fazer ao invés de vir
para Campbell? — Não foi grosseiro, foi uma pergunta direta e simples.
Meus pais passaram vinte anos de suas vidas tomando conta da gente, eles mereciam
um descanso e a nossa ausência no rancho poderia proporcionar isso, afinal, minha mãe e meu
pai dedicaram parte de seu tempo juntos para criar uma família ainda muito cedo.
Eu participei do casamento deles.
— Eu só quero que saibam que entendo a preocupação de vocês, mas eu estou bem,
Nathaniel também e principalmente Alex e Tyler, nenhum teve uma crise nos últimos anos e
continua igual.
— Sabemos disso, querida, mas meio que nos acostumamos com vocês — minha mãe
admitiu — É estranho ter esse casarão tão vazio.
— Tenho certeza que vocês arrumam o que fazer quando estão no tédio — a afirmativa
foi inocente.
— Claro que encontramos, muitas coisas interessantes — O tom malicioso de minha
mãe poderia ser notado até mesmo por uma pessoa desconhecida.
— Por favor, não preciso saber da intimidade de vocês dois por esse rancho — reclamei.
Eles riram.
— E você? Como estão com os gatinhos? — Minha mãe perguntou e ouvi meu pai bufar.
Sorri.
— Estou parada nas últimas semanas, mas pretendo mudar isso hoje à noite na festa
que teremos.
— Não se esqueça de usar camisinha — minha mãe lembrou como se fosse a minha
primeira transa.
— Podemos mudar de assunto? — Meu pai ciumento perguntou — O que pode nos
contar de novidades que não se relacione com sua vida sexual?
Eu ri ao mesmo tempo que me espreguiçava na cama.
— Estou ajudando um garoto a conquistar uma menina que ele está apaixonado — falei
e omiti que a garota que Caleb está a fim é Mackenzie, ou então minha mãe falaria para minha
tia Alisson que acabaria contando para minha prima.
— Ajudando? — Meu pai questionou, provavelmente confuso.
— Ele é bem tímido e pelo o que eu notei não tem experiência com garotas, é o mesmo
garoto que me ajudou a ser aprovada no trabalho final no semestre passado, não vi mal em
retribuir o favor.
— E como está o ajudando? — Mamãe questionou.
— Aí você já quer saber demais, Sra. Blossom — ri baixinho.
— Só fiquei curiosa sobre o garoto, você não, amor? — Perguntou ao meu pai.
— Sim, estou muito curioso. Não é um idiota se passando de santo para se aproveitar de
você, né, querida?
Dessa vez eu ri alto. Se eles conhecessem Caleb perceberiam que aquilo que meu pai
disse não faz o menor sentido.
— Não precisa se preocupar, pai, ele é uma boa pessoa.
Com certeza ele é.
Pensei comigo mesmo. Me lembrando das horas agradáveis que passei ao lado do meu
anjo da guarda no dia anterior.
Assistir filme abraçada a ele com minha cabeça sobre o seu peito incrivelmente não me
incomodou como eu achei que aconteceria em algum momento.
Talvez fosse porque a companhia de Caleb era agradável.
Por mais que ele fosse tímido e ainda não soubesse como conduzir uma conversa por
muito tempo, ainda sabia como chamar atenção, se mantendo fofo com aquelas bochechas
coradas e suas falas cortadas pelo o gaguejar.
Mackenzie tinha sorte de ter alguém como ele apaixonado por ela.
Pensando melhor, ambos combinavam. Ela sonha com o príncipe encantado — mesmo
que ache que esse príncipe seja Bradley Aldrich — e Caleb parece ser o cara que faria tudo
para vê-la sorrir todos os dias.
Eles com certeza combinam.
Por isso me senti extremamente mal por pensar —mesmo que seja por alguns segundos
— em beijá-lo.
Quando o filme acabou e ergui minha cabeça para saber o que ele tinha achado. Foi por
um misero segundo, mas o pensamento de beijá-lo passou por minha cabeça, pelo menos até
ele responder a minha pergunta e negado sobre ter ficado tão próximo a uma garota daquela
forma que ficamos.
O que eu estava pensando? Estava ali para ajudá-lo a conquistar a minha prima. Não
para ensiná-lo a beijar ou qualquer coisa do tipo.
Modos, Skyller.
Caleb não era como os outros garotos, ele é romântico.
Repeti isso mentalmente, até a voz da minha mãe me chamar para a realidade.
— Skyller, você me ouviu?
— Desculpa, me distrai — admiti.
Eles soltaram um risinho, parecia uma piadinha interna, franzi as sobrancelhas e
perguntei:
— O que foi?
— Só estávamos pensando o quanto Caleb é uma boa pessoa — meu pai disse risonho.
Não entendi e preferi nem fazer questão de entender.
— Mãe, pai, eu preciso me arrumar para a aula — me levantei da cama ainda com o
telefone no ouvido — Tudo bem se conversarmos mais tarde?
— É claro que sim — minha mãe respondeu — Só queríamos saber como vocês estavam.
— E agora que sabemos, iremos tomar um banho no lago e aproveitar o dia bonito aqui
no rancho — meu pai falou.
Eu sabia bem como eles iriam “aproveitar”, ri comigo mesma.
— Não direi para usarem camisinha, já que não corro o risco de ter um irmão bem mais
novo — alfinetei.
— Nossa — meu pai resmungou, ao mesmo tempo que lamentava: — Essa doeu, você é
muito má, Sky.
Por anos meu pai sofreu por não poder ter filhos biológicos, mas essa não era a nossa
realidade agora. Conforme os anos passaram, ele se tornou um homem mais confiante e
percebeu que estava destinado a ter nós como família. Hoje em dia, ele brinca com o próprio
problema, da mesma forma que eu fiz agora.
— Te amo, papai.
— Eu também, filha, demais.
— Impossível se manter passível com vocês dois se declarando assim na minha frente —
mamãe disse — Amo vocês todos.
Sorri.
— Agora eu vou desligar, ok? Até a próxima, amo vocês — repeti.
— Até, meu amor. Também amamos você — minha mãe se despediu.
Desliguei a ligação e concentrei-me em me arrumar para a faculdade. Finalmente hoje
era sexta e eu pretendia aproveitar o meu dia, tanto nas aulas de desenhos de hoje, como na
festa que Bradley Aldrich daria.

Logo que chegamos no campus, fomos recepcionados por duas garotas sorridentes que
entregavam convites para uma festa, mas não era uma festa qualquer.
— Baile de máscaras? — Nathaniel avaliou o convite em sua mão com a testa franzida —
Isso não é tão ensino médio?
— Na verdade, não — Alexandra respondeu com aquele ar de sonhadora — Não
acredito que pela primeira vez estou animada para uma festa dessa universidade.
— Vejam só, será organizada por Beca Rayven — Tyler observou o seu convite — Ela não
cansa de dar festas?
Beca Rayven é a líder da fraternidade feminina e também das líderes de torcidas. Então
é claro que ela não se cansa de dar festas, faz parte para manter o status dela.
— As festas de Beca são boas, vamos ir, né? — Nathaniel perguntou — Conto com todos
para irmos combinando nas máscaras.
Arqueei as sobrancelhas. Ele estava falando sério? Se tratando de Nathan, é claro que
estava.
— Nem você acredita que vou combinar fantasia com você — Tyler falou o que todos
estavam pensando, até mesmo eu, que assenti concordando — E não sei se vou, talvez eu
tenha uma corrida nessa noite.
Nathan revirou os olhos.
— Queria tanto combinar máscaras, vocês são péssimos irmãos.
Olhei para o convite dourado em minha mão, havia uma máscara desenhada nele e
letras pretas cursivas convidando para o baile de máscaras de Beca, junto com o endereço da
casa da fraternidade, como se ninguém aqui soubesse onde se encontrava.
— Eu vou — decidi — Não perco uma festa, mesmo que ela seja neste estilo, mas sem
combinar fantasias ou máscaras, Nathan.
— Eu combino com você, maninho — Alexandra enlaçou o braço no seu.
Meu irmão sorriu satisfeito.
— Pelo menos Alex me ama — dramatizou — Por isso você é a minha preferida.
Eu até iria retrucar, mas alguém chamou a minha atenção do outro lado do campus.
Olhei no relógio em meu pulso e ainda faltavam dez minutos para começar a minha primeira
aula, por isso me despedi dos meus irmãos rapidamente e caminhei até Caleb com uma ideia
em mente.
Ele estava acompanhado de Andrew, assim que notaram a minha presença encerraram
o assunto.
— Oi — sorri e olhei para as suas mãos que também seguravam o convite — Vejo que
também receberam o convite para o baile de máscaras.
Caleb assentiu.
— Oi — cumprimentou.
— Oi, Skyller — Andrew também cumprimentou — Preciso ir mais cedo para a aula, nos
vemos depois, bebê?
A pergunta foi para Caleb, que fechou os olhos por alguns segundos antes de assentir.
Quando o amigo se afastou ele voltou a abrir suas pálpebras e me encarou.
— Acho fofo o relacionamento de vocês — fui sincera.
— El...ele é um bo...bom amigo — falou.
Assenti.
— Concordo, mas não foi pra isso que me aproximei de você — balancei o convite em
sua frente — Já sei o que faremos na nossa próxima aula.
Ele não entendeu, percebi isso ao ver sua testa se franzir.
— Vamos ao baile.
Foi apenas ouvir o que eu disse para começar a negar freneticamente.
— Não.
— Não? Por que não?
— Não go...gosto de fes...festas — admitiu, ficando com as bochechas levemente
vermelhas.
Eu já disse, mas tenho que repetir novamente: ele ficava ainda mais bonito com as
bochechas vermelhas e elas realmente ficavam quentes de vergonha, percebi isso ao tocá-las
no dia anterior.
Ok. Foco, Skyller.
Não gosta de festas? Isso não deveria me surpreender, estava na cara que Caleb é o tipo
de pessoa que prefere ficar lendo um livro, jogando um vídeo game ou até mesmo assistir um
filme do que ir a uma festa.
— Mas não é uma festa comum — apontei para o canto do convite onde indicava o tipo
de trajes: época. — Viu? É um baile com o tema de época, vai ser interessante e podemos
fazer você se aproximar de Mackenzie lá.
Ele continuou negando.
— Não po...posso — disse.
— Por quê?
— Não me sin...sinto bem em lug...lugares com muitas pe...pessoas.
— Mas posso ficar com você — insisti — E é uma ótima oportunidade de se aproximar
de Mack, tenho certeza que ela irá ao baile. Faz o tipo dela.
Caleb ainda parecia pensativo e muito indeciso, por isso peguei sua mão pouco me
importando com alguns olhares nada discretos que estávamos recebendo.
— Prometo ficar com você até se sentir confiante o bastante para ir falar com a garota
que você gosta.
Ele olhou para nossas mãos juntas para depois olhar dentro dos meus olhos, engoliu em
seco e assentiu.
— Tudo bem — concordou.
Sorri animada por ter conseguido o convencer.
— Nossa próxima aula será no domingo, ok?
— Domingo?
— Sabe dançar, Caleb?
As bochechas dele ficaram ainda mais vermelhas quando negou.
— Eu já imaginava e é exatamente por isso que faremos uma aula extra, precisa
aprender a dançar.
— Acho que não é necessário — tentou argumentar, mas ao ver o meu semblante,
perguntou: — Ou é?
— É claro que é necessário! Você vai perceber que a melhor forma de chegar na garota
que você gosta é através da dança.
— Tudo bem — sorriu.
— Ótimo! Fico feliz que tenha concordado — percebi que os minutos haviam passado
voando, por isso, tratei de me despedir — Conversamos depois?
Ele assentiu.
Beijei sua bochecha antes de largar sua mão e me afastar para ir em direção ao prédio
que eu teria aula.
Estava contente por ter conseguido convencê-lo de ir ao baile e ainda aprender a
dançar. Seria muito divertido e com isso eu esperava quebrar mais a timidez que Caleb ainda
sentia comigo.
Eu sabia que era questão de tempo até ele parar de gaguejar na minha presença.
Eu ainda não era 100% sua amiga e tudo bem, Caleb é um garoto tímido e reservado, se
expressar em palavras é difícil para ele. Consegui notar isso logo nos primeiros dias que
passamos juntos.
Mas eu tenho certeza que em breve seriamos bons amigos e ele ficaria 100%
confortável comigo.
Entrei no prédio que seria a minha próxima aula e Anne Decker já estava na sala de
desenhos me esperando.
— Finalmente! Onde você estava? — Perguntou.
— Precisei conversar com um amigo antes — respondi — Por que tanta ansiedade para
falar comigo?
— Recebeu o convite para o baile?
Assenti.
— Estou animada — ela continuou — Estava pensando...e se eu convidasse o seu irmão
para ir comigo?
— O que?
— Isso que você ouviu — sorriu, toda sonhadora — Hoje irei na festa de Bradley e vou
aproveitar para me aproximar do seu irmão.
— O que você bebeu? — Perguntei, porque aquilo que ela estava falando era muito
informação para simplesmente jogar na minha cara. Ela enlouqueceu? Ou está só bêbada?
— Digamos que a poção da coragem.
— Eu prefiro chamar de poção da burrice — bufei enquanto retirava o caderno de
desenhos e o estojo com os materiais que precisava para hoje de dentro da bolsa — Quantas
vezes vou ter que te dizer que só vai quebrar o seu coração tentar se envolver com meu
irmão?
— Você não precisa repetir, eu já entendi tudo isso, mas não quero ficar com o benefício
da dúvida. Vou tentar e se eu ver que não vai dar certo, vou cair fora, ok?
Sem alternativas, dei de ombros.
— Só não quero ter que te dizer que eu te avisei.
A professora entrou na sala interrompendo a nossa conversa.
— Mais tarde conversamos sobre isso — eu falei.
Mas eu sabia que qualquer coisa que falasse não seria o suficiente para fazer com que
Anne esquecesse essa ideia maluca.
Eu só espero que meu irmão não parta seu coração ao meio.
Mesmo sabendo que isso é provável.

Terminei de passar o batom vermelho nos lábios e antes de pegar a minha bolsa me
olhei novamente no espelho.
Para a festa de hoje decidi colocar um vestido preto brilhoso e curto que marcava todas
as minhas curvas, me deixando ainda mais bonita. Gostosa.
Eu estava muito gostosa.
Nos pés eu decidi usar um salto, não muito alto, mas que dava um ar de poder
complementando com o vestido.
Peguei a bolsa e sai do quarto indo encontrar os meninos na sala, mas tive uma surpresa
ao chegar no primeiro andar e encontrar meus irmãos tentando consolar minha irmã mais
nova.
— O que aconteceu? — larguei a bolsa no outro sofá e me ajoelhei na frente de Alex —
O que Jordan fez?
Eu não era idiota.
Para a minha irmã estar chorando dessa forma tão desesperada e triste, era porque
havia acontecido alguma coisa relacionada ao idiota.
— Ela não quer falar — Nathan respondeu — Já tentamos.
O rosto de Alex estava escondido pelas suas mãos, por isso as peguei e com delicadeza
as afastei para ficar segurando-as.
— O que aconteceu, irmã? — Perguntei novamente.
Ela suspirou, tremeu o queixo ao tentar falar e por isso voltou a respirar fundo outra vez.
— Nós... Nós brigamos.
Aquilo era novidade.
Quatro anos de relacionamento e eles nunca haviam brigado, agora eu entendia o seu
estado de desespero.
— Por quê? — Foi Tyler que perguntou.
Quando minha irmã se negou a falar o motivo eu entendi o que havia acontecido.
Tive que me afastar para poder respirar ou seria capaz de descontar a raiva que eu
começava a sentir daquele idiota nela.
— Não me diga que... — Nathaniel não terminou a frase, percebendo o mesmo que eu e
levando Tyler a perceber também.
Meu irmão mais velho fez o mesmo que eu, se afastou como se tivesse levado um
choque, começou a andar de um lado para o outro e ficou assim por alguns segundos, até se
virar totalmente para Alex e perguntar:
— Por causa da sua virgindade?
Quando minha irmã assentiu levemente com a cabeça e Tyler estourou, derrubando o
vaso caro que havíamos comprado com tanto carinho para decorar o nosso apartamento no
chão, o quebrando em mil pedacinhos e fazendo Alex pular de susto no sofá.
— Eu não posso acreditar nisso, porra! — Meu irmão procurava outra coisa para
quebrar, mas eu o interrompi, pedindo com o olhar que se mantivesse calmo.
Nathaniel estava ficando vermelho de raiva e eu provavelmente estava da mesma
forma.
— Vocês... acham que — Alex soluçou — Os remédios que eu tomo podem estar
afetando o meu interesse...sexual?
Fechei os olhos, respirei fundo e ergui a cabeça para o teto pedindo paciência a
qualquer santidade que estivesse disposta a me ajudar naquele momento.
Não podia acreditar que havia escutado isso.
E ao abrir meus olhos percebi que meus irmãos estavam da mesma forma.
— Alexandra, olhe para mim — Tyler pediu, com a voz um pouco mais grossa devido a
raiva que ele estava sentindo do idiota — Tomamos esses remédios porque precisamos deles,
mas esses medicamentos não controlam quem somos ou o que queremos. Eles são específicos
para os nossos transtornos, nada mais, nada menos, que isso.
Ela engoliu em seco, assentindo. Ainda estava visivelmente abalada.
— Jordan está fazendo você pensar que são os medicamentos que a mantem viva, que a
mantem sóbria, que a faz viver uma vida tranquila os culpados por você não abrir as pernas
para ele? — Nathaniel perguntou indignado — Você percebe que isso é ridículo, mana?
— Ele não... não fez por mal, foi um comentário ino...inocente — soluçou.
Bufei.
— O caralho que foi! Inferno! Até quando você vai ficar defendendo esse idiota? Desde
o início ele só quer te comer, eu tenho certeza que esse babaca te trai e também tenho
certeza que você sabe disso, ou ao menos desconfia. Então por qual motivo ainda está com
esse infeliz? — Explodi.
Os olhos magoados de minha irmã me fitaram, ela provavelmente não esperava essa
explosão de mim, mas caramba.
Quatro anos.
Quatro anos aguentando esse relacionamento que nunca foi saudável na minha visão.
Ele sempre a manipulou a fazer tudo o que ele queria, será que minha irmã não
percebia?
— É só uma fase — ela disse, me fazendo querer esganá-la — Sabe que nem sempre
fomos assim.
Eu ri, porque naquele momento eu só conseguia fazer isso. Tyler segurou meu ombro e
pediu para me manter calma. Logo ele.
— Você não acha que está na hora de dar um fim nisso? — Tyler questionou para Alex
— Esse relacionamento só está deixando você doente por dentro, maninha.
— Eu o amo.
Mais uma vez pedi paciência, mais uma vez fechei os olhos para não explodir
novamente.
Amor.
O que ela sabia de amor? O que nós sabíamos de amor?
Amar não é isso, amar é respeitar a decisão do outro, é abraçar os seus defeitos, é
querer estar com a pessoa a cada momento do seu dia, é pensar naquela pessoa em todos os
momentos, é ter uma explosão de sentimentos dentro do seu coração a ponto de você não
conseguir expressar em palavras o que sente.
Amar é isso.
E eu não vejo nada de bonito do sentimento na relação que Alexandra tem com Jordan.
Eu só vejo a mais pura e complexa dependência.
Eu só vejo o lado ruim do amor.
— Você não o ama — falei — Você só é dependente dele.
Alex riu fraco.
— E pra você não é a mesma coisa? Amor e dependência não andam juntos?
Neguei.
— Não no seu caso, irmã.
Vi quando ela engoliu em seco, provavelmente percebendo que eu estava certa e ela
estava se enganando novamente.
— Eu estou me segurando para não ir até esse idiota e socá-lo até ele ver estrelas —
Tyler confessou seus pensamentos maldosos — Me dê um bom motivo para eu não fazer isso,
Alex.
— Não — seus olhos marejaram mais — Por favor, ele não tem culpa, sou eu que....
— Não continua — Nathaniel a interrompeu — Se você falar que é culpada eu vou
ignorá-la e ir junto com Tyler encher aquele babaca de porrada.
Ela se calou.
E nós também ficamos em silêncio.
Não reconhecíamos mais a nossa própria irmã e talvez nem ela se reconhecesse,
tamanho a bagunça que estava dentro da sua mente e do seu coração.
Retirei os meus saltos, dando aquela noite como encerrada. Não existia mais clima para
ir em uma festa e deixar a nossa caçula sofrendo por um idiota que não merecia nem um terço
de sua atenção.
Nathaniel entendeu porque em seguida se levantou e puxou Alexandra junto, ela sem
entender se levantou e Tyler fez o resto.
Nosso sofá era um sofá cama, ele o arrumou em formato de cama e indicou com a
cabeça para Alex se deitar.
— Não, vocês têm uma festa para ir — ela disse — Não quero interromper isso.
— E você acha que vamos para uma festa e deixá-la assim? — perguntei me deitando ao
seu lado — Podemos escolher um bom filme e comer uma boa pipoca.
— Eu vou fazer a pipoca — Nathaniel foi para a cozinha.
— Logo você querendo ficar uma sexta à noite assistindo filme abraçadinha com a irmã
ao invés de ir em uma festa? — Alex provocou ainda com os olhos marejados e um sorriso
triste.
Pobre irmãzinha.
— Só você tem o poder de fazer isso comigo, caçula — a abracei de lado, trazendo-a
para o meu peito e beijando o topo de sua cabeça — Sinto muito por ter explodido.
— Você só foi sincera — fungou — Podemos não falar mais sobre isso por hoje?
Olhei para Tyler que ainda parecia contrariado, mas ao ver o estado de nossa irmã,
assentiu. Concordei também.
— Como quiser.
Nathaniel trouxe a pipoca minutos depois, se deitou ao lado de Tyler e compartilhou a
bacia cheia de pipoca com nós. Para nos animar, decidi escolher um terror que a dias estava a
fim de assistir, era uma série “A maldição da residência bly”, já havia visto a da residência Hill e
gostei muito.
— Terror? — Ty perguntou.
— Precisamos tomar uns sustos para nos distrair — peguei um punhado de pipoca.
Pelas próximas horas ficamos assistindo a série sem tocar no assunto Jordan.
Eu sabia que não seria nada fácil e que provavelmente amanhã ele viria com uma
desculpa esfarrapada, conseguindo o perdão de minha irmã.
Infelizmente ela não se valorizava o bastante.
E nós como bons irmãos teríamos que aceitar para não a perdemos. Era melhor ter os
nossos olhos por perto do que de longe, era isso que pensávamos sempre que algo acontecia
dentro desse relacionamento tóxico.
Mesmo olhando para a tela e prestando atenção na série eu desejei profundamente que
minha irmã encontrasse o amor verdadeiro um dia.
Um amor com todo o significado e com toda a forma inexplicável que ele aparecia.
Um amor que a fizesse bem, principalmente.
Olhei para os meus irmãos concentrados na tela de cinquenta polegadas da sala atentos
a qualquer susto que poderiam ter.
Em nenhum momento nos incomodamos por não poder ir na festa de Bradley —
provavelmente Mackenzie e Anne estavam surtando nos procurando. — Mas aquela era uma
regra que criamos juntos com nossos pais e que fazíamos questão de cumprir com louvor.
Não importava o problema, seja ele grande ou pequeno, sempre estaríamos ali um para
o outro.
9. Flertes e Conquistas
Não fuja para longe de mim
Eu não tenho Nada
Nada
Nada, Se eu não tenho você
I Have Nothing — Whitney Houston
Caleb Lee Walker
Eu queria cavar um buraco e me enterrar nele.
Literalmente.
Aulas de dança? Eu já não estava constrangido o suficiente na frente de Skyller para ter
mais essa vergonha na lista?
Eu poderia mandar uma mensagem recusando, seria melhor do que olhar nos seus olhos
e dizer, mas um Andrew empolgado demais insistiu dizendo que essas aulas seriam A
oportunidade.
Oportunidade do que, exatamente? Segundo meu melhor amigo aprender a dançar com
a garota que eu sou apaixonado era uma boa forma de fazê-la prestar atenção em mim.
Quem eu quero enganar? Andrew estava se divertindo com tudo isso, mesmo que eu
tenho certeza que ele nunca faria ou concordaria com algo que me deixasse mal, ainda assim,
ele estava se divertindo com todos os relatórios que eu era obrigado a passar depois de todas
as aulas com Skyller.
Em certos momentos eu achava que ele era mais iludido do que eu.
Cometi o erro de comentar sobre o beijo próximo a boca e meu amigo só faltou gritar
para o prédio todo que seu plano estava dando certo.
Não vou mentir e dizer que não sinto uma esperança de que Skyller pode se apaixonar
por mim da mesma forma que eu estou, mas de vez em quando, mais especificamente quando
não consigo dormir, penso que tudo não passa de uma ilusão e que meus sentimentos nunca
serão correspondidos.
Vi quando a land rover vermelha fez a curva e entrou na rua dos prédios dos
dormitórios. Skyller fez questão de vir até aqui e me buscar.
Eu falei que iria a pé, mas ela disse que estava próxima do campus e que passaria aqui.
Mesmo que o apartamento dos irmãos Blossom não fosse longe da universidade eu aceitei.
Skyller parou o carro na minha frente e abriu os vidros, usava um óculos escuro e estava
com os cabelos soltos, assim que virou o rosto para mim ainda segurando a direção, sorriu.
— Oi, anjo da guarda — cumprimentou — Preparado para as danças?
Me esforcei para não ficar com vergonha, mesmo sabendo que o vermelho em minhas
bochechas era automático. Que garoto de vinte anos não sabe dançar?
— Oi — abri a porta do carro e entrei — Estou.
— Não se preocupe, amo dançar e já até ensinei Alex, vai ser fácil — tentou me
tranquilizar enquanto dava partida no carro.
Só então percebi a música que tocava baixinho no carro. Aquela era Whitney Houston?
— My Love Is Your Love? — O questionamento da música saiu sem eu pensar.
Ela sorriu assentindo. Levou a mão até o botão de aumentar e aumentou o som da
música, a voz sonora e relaxante de Houston ocupou o veículo.
— Eu amo Whitney Houston — Skyller confessou — Ela foi uma diva e continua me
inspirando desde sempre.
Aquilo era surpreendente. Quando eu poderia imaginar que Skyller Blossom gosta de
Whitney Houston? Acabei sorrindo percebendo que eu estava certo sobre ela desde o início.
Só quem realmente conhece Skyller sabe quem realmente ela é.
Meus olhos focaram apenas nela, mesmo prestando atenção na estrada na nossa frente,
ela balançava a cabeça ao som da música com um rastro de sorriso no rosto.
— Cause your love is my love — ela cantou o refrão — And my love is your love...
Eu não deveria estar surpreso com o quanto Skyller ficava bonita a cada gesto diferente
que ela mostrava na minha frente, mas a forma que ela estava relaxada e cantava sem se
importar se sua voz era horrível ou linda — com certeza a última opção — era deslumbrante.
Só percebi que ela estacionou o carro na garagem do seu apartamento quando ela se
virou para mim. A quanto tempo eu fiquei encarando?
— Sei que está nervoso com a festa, mas eu falei sério quando disse que não iria
abandoná-lo — falou, parecia alheia a atenção que eu dava para ela há segundos.
— Obrigada — agradeci, sem saber onde enfiar a cara.
— Vamos! Estamos sozinhos até de noite — informou.
Sozinhos?
— E se....seus irmãos? — Perguntei.
— Nathaniel arrastou Tyler para um jogo de basquete entre amigos e Alex está com
Jordan — a cara de desgosto que Skyller fez poderia ser notada por qualquer um.
Ela não gostava nem um pouco de Jordan.
Descemos do carro e entramos no apartamento. Skyller acendeu a luz da sala e
continuou o caminho até o seu quarto, a segui.
— Não parece feliz com o rel...relacionamento de Alex.
— Não estou — ela abriu a porta do quarto e deu espaço para eu entrar, assim que
entrei, fechou a porta — Ele é um idiota e só confirmou isso nesse fim de semana, eles
brigaram e bastou apenas uma ligação pedindo desculpas que minha irmã passou pano, como
se estivesse tudo bem.
Percebi que aquele assunto a chateava demais, pelo o seu semblante, Skyller se
preocupava muito com a irmã.
— E não está tudo bem, Caleb — se sentou na beirada da cama — Minha irmã nem
percebe que está em um relacionamento tóxico com apenas dezenove anos de idade.
Me sentei ao seu lado.
— Sinto muito po... por isso. É difícil para elas perceberem que estão vivendo um
relacionamento tóxico, espero que sua irmã não demore tanto a notar.
— Já tentamos avisar, mas ela sempre foge do assunto — suspirou. Para depois me
olhar, levantar da cama e me puxar para fazer o mesmo — Vamos deixar esses assuntos
pesados para outro momento. Estamos aqui para ensiná-lo a dançar e você não vai sair desse
quarto até saber me conduzir por esse quarto.
Skyller foi até a cama de casal e a empurrou até o canto do quarto deixando um espaço
maior para podermos ensaiar.
Ao perceber que estávamos mais próximos de ensaiarmos comecei a ficar nervoso
automaticamente. Eu não queria mais passar vergonha na sua frente, o que ela pensaria de
mim?
— Flertes e conquistas — Skyller começou a falar — Já sabe como vai se aproximar de
Mackenzie?
Neguei. Eu nem queria me aproximar de Mackenzie.
Observei seu corpo coberto por um short curto preto e uma regata branca de alcinhas
bem finas, mesmo não usando maquiagem e com roupas simples ficava extremamente linda.
— Precisamos pensar em uma forma — ela continuou — Acredito que convidá-la para
dançar no dia do baile é a melhor opção. Uma dança pode expressar tudo o que você não
consegue dizer em palavras, aprendi isso com uma...amiga.
Skyller foi até uma caixa de som que estava em cima da sua cômoda e a ligou. Logo
reconheci a música.
— Whitney Houston?
Ela sorriu.
— Não é porque sou fã, conheço bem essas festas que Beca dá. É uma festa dos anos
oitenta e noventa, o que acha que vai tocar? I wanna dance with somebody é lei em um baile
desse estilo.
Não neguei e nem concordei, tenso demais ao prestar atenção nos seus quadris se
remexendo conforme a música começava.
Skyller se aproximou e segurou os meus braços, realmente parecia não perceber o efeito
que me causava.
— É uma música antiga, todos estarão bêbados então ninguém vai perceber que você
não é um profissional — brincou — Mas precisamos conquistar ou pelo menos deixar
Mackenzie interessada em você com essa dança.
Não era uma música sexy, estava mais para divertida, mas Skyller conseguia fazer o
contrário ao rebolar os quadris, segurar minha mão e rodopiar enquanto eu permanecia
parado como uma estátua ou um idiota, tanto faz.
Ela percebeu, sorriu e parou de se remexer.
— Vou me aproximar mais de você e te guiar tudo bem?
Assenti, mesmo sabendo que isso não daria certo.
Ela fez o que disse que faria. Se virando de costas, Skyller colou o corpo no meu e eu
automaticamente prendi a minha respiração.
Seu perfume.
Seu toque.
Tudo nela fez com que eu me sentisse em outra dimensão.
Skyller pegou minhas mãos, como se controlasse um boneco, e colocou uma de cada
lado de seu quadril.
Pensei que morreria ali mesmo.
Só então voltei a respirar ou realmente poderia morrer.
E começou a dançar conforme a música, remexendo os quadris e fazendo com que eu
me movimentasse também. Para falar a verdade eu não sabia o que estava fazendo, naquele
momento me deixei ser guiado pelo o corpo de Skyller e embriagado pelo o seu perfume.
Eu sabia que não estava fazendo nada direito, mas ela estava próxima de mim e aquilo
bastava.
— Agora você vai me rodopiar e me puxar para si, tudo bem? — Ela murmurou a
pergunta.
Assenti sentindo seu cabelo roçar em minha bochecha.
Ela segurou uma de minhas mãos e se afastou, a girei conforme pediu a trazendo para
mim logo em seguida. Agora Skyller estava de frente, seus olhos encontraram os meus e ela
sorriu de lado.
Suas mãos guiaram as minhas para os seus quadris e seu corpo grudou mais ao meu da
mesma forma que nossos rostos ficaram mais próximos.
— Acompanhe os meus movimentos, ok?
Assenti, incapaz de dizer uma palavra em concordância. Sentia sua respiração bater em
meu pescoço, já que devido à altura, Skyller batia em meus ombros.
Ela voltou a movimentar os quadris e com suas mãos nos meus me guiou a fazer o
mesmo.
— Isso — aprovou.
Mesmo que eu não soubesse nada do que eu estava fazendo.
Ficamos treinando aquela parte por alguns segundos, talvez um minuto, até que ela
voltou a se afastar apenas para se virar de costas e grudar seu corpo no meu novamente.
Segurou o meu braço e fez com que ele a abraçasse enquanto o outro ainda segurava o
seu quadril.
Com o movimento a minha mão acabou encostando em uma parte comprometedora.
Foi um pedacinho.
Mas eu senti.
Skyller estava sem sutiã.
Engoli em seco. Eu nunca fui de ter pensamentos maliciosos com uma garota, mas foi
impossível não pensar como eles seriam.
Ela continuou de costas para mim, me guiando a remexer os quadris conforme a música.
Naquela posição eu sentia mais o corpo pequeno, com curvas e a forma que sua bunda estava
pressionada contra a minha virilha, em movimentos lentos e que naquele momento se tornou
torturante. Nada sensual, nada sexy, mas mesmo assim aconteceu.
Simplesmente por ter o seu corpo colado ao meu eu senti o meu pênis endurecer.
E naquele momento eu quis realmente morrer.
Me afastei abruptamente. Me virei de costas e corri para uma porta desconhecida, que
até hoje eu não havia aberto.
— Caleb — ela chamou, mas eu ignorei.
Entrei no cômodo e fiquei aliviado ao ver o banheiro. Fechei a porta antes que Skyller
viesse até mim.
Olhei para baixo e vi o maldito erguido como se desse oi.
Tentei controlar a minha respiração e a minha vergonha. Novamente o pensamento de
cavar um buraco e me enterrar passou pela minha cabeça, mas dessa vez havia muito mais
sentido de fazê-lo.
Eu estava excitado apenas porque o corpo de Skyller estava próximo a mim, porque seus
quadris se remexiam com os meus e porque ela estava sem sutiã.
Tudo isso me afetava. Tudo nela me afetava.
Mas nunca havia ficado excitado por ela. Na minha opinião seria uma falta de educação,
totalmente desrespeitoso.
Será que ela sentiu?
Olhei novamente e não havia jeito dele abaixar.
Quis morrer. Novamente.
— Caleb — uma batida na porta e a voz de Skyller se fizeram presente no silêncio do
apartamento — Tudo bem? Posso entrar?
O que?
— Nã...Não — gaguejei nervoso.
Tentei pensar em qualquer coisa que não fosse todas as sensações que o seu perfume e
o seu corpo próximos a mim faziam. Tudo para fazer esse negócio abaixar.
Não estava dando certo.
Eu ainda sentia o seu corpo grudado ao meu, meu quadril contra o seu, minha mão
raspando por uma parte de seu seio sobre uma regata.
Tudo. Eu ainda sentia tudo.
— Caleb? Por favor, me deixe entrar.
O que ela queria? Me ver envergonhado a ponto de nunca mais querer olhar na sua
cara? Não é como se eu já não tivesse feito isso.
— Bai...baixa, por favor — pedi como se o meu pênis fosse obedecer.
— Eu só quero saber se está tudo bem — Skyller continuou a tentar falar comigo — Eu
fiz algo?
Não sei. Fez?
Ela não havia percebido? Pensei que era quase impossível não perceber, devido a calça
elevada e ele estar extremamente ereto como se eu tivesse visto um pornô e não dançado
poucos minutos com uma garota.
— Tudo bem — ela suspirou — Eu sei porque está aí, mas não se envergonhe, é uma
reação normal do nosso corpo.
Olhei para cima, se Deus quisesse me levar naquele momento eu aceitaria de bom
grado.
Era muita vergonha.
Eu sabia que não deveria ter aceitado essas aulas de dança, desde o início eu estava com
um pressentimento ruim, mas eu os ignorei porque confiei em Andrew, achando que ele
estava certo e que essa seria A oportunidade.
Erro meu.
— Caleb?
Fechei os olhos tentando pensar em alguma coisa que me distraísse.
— Eu vou fazer um chá para nós, espero que você esteja aqui fora quando eu voltar.
Ouvi os passos de Skyller se afastando da porta do banheiro e torcia para que quando
ela voltasse eu tivesse coragem o suficiente para olhar em seus olhos.

Levou alguns minutos para o meu pênis voltar ao estado normal, tempo o suficiente
para Skyller fazer o chá e daqui a pouco voltar a bater na porta pedindo para que eu saísse
desse banheiro.
Em algum momento eu deveria sair, não é mesmo?
Minhas mãos estavam suando quando eu encostei na maçaneta, nem me dei ao
trabalho de me olhar no espelho porque tinha certeza que minhas bochechas estavam
queimando.
Quando você estiver em uma situação que se sinta ameaçado, respire fundo inúmeras
vezes e erga a cabeça, confiante o suficiente para saber que você pode passar por tudo o que o
aflige.
Lembrei do que Zac sempre dizia para mim quando eu tinha medo de enfrentar algo que
para muitas pessoas é simples.
Aquela era uma situação.
Outros garotos se aproveitariam daquele momento para tentar beijar Skyller e talvez
conseguir algo a mais.
Enquanto eu fugi com tanto medo que ainda ouvia as batidas frenéticas do meu
coração.
— Cheguei e você ainda não saiu daí — ouvi a voz de Skyller do outro lado.
Respirei fundo, uma, duas, três vezes, até abrir a porta. Ela bebia o chá sentada na
beirada da cama, olhou para mim e apontou para o chá em cima da sua escrivaninha. Peguei a
xícara e sem dizer uma palavra me sentei ao seu lado.
Percebi que em nenhum momento olhou entre as minhas pernas, o que eu agradeci
internamente, ela não queria me constranger mais.
Bebi um gole do chá ainda me sentindo muito envergonhado para tentar dizer algo.
Foi Skyller que quebrou o silêncio. Olhava para a sua xícara pela metade, quando
perguntou:
— Quer falar sobre o que aconteceu?
— M...e..
Ela largou a xícara no chão e pegou na minha mão que estava livre.
— Eu não estou incomodada, é uma reação normal do nosso corpo, não tem motivos
para se envergonhar disso.
Minhas bochechas pareciam que pegariam fogo, eu provavelmente estava da cor de um
pimentão.
Bebi outro gole do chá delicioso que ela preparou para poder disfarçar. Nada poderia
ser mais vergonhoso que isso.
— Se estivéssemos dançando por mais tempo naquela posição eu provavelmente teria
ficado excitada também.
Me engasguei.
Skyller teve que pegar a xícara da minha mão e colocar de volta na escrivaninha, voltou
a ficar próxima de mim e bateu em minhas costas.
O que ela queria dizer com aquilo? Skyller teria ficado excitada por causa daquela dança
também? Por causa de mim?
Voltei ao normal alguns segundos depois. Quando olhei para Skyller, ela sorria culpada.
— Direta demais, né? Sinto muito. O que eu quis dizer é que.... — balançou a cabeça —
Deixa pra lá.
Quis perguntar o que ela queria dizer com aquilo, quis muito, mas não tive coragem o
suficiente para fazer.
— O que acha de voltarmos a treinar? — ao ver a minha cara de espanto ela riu — Não
se preocupa, eu tenho outra ideia.
— Que ide...ideia? — consegui perguntar, mesmo que tivesse gaguejado.
Ela caminhou até o som novamente. Ligou o aparelho e a voz de Whitney Houston
começou a tocar novamente.
— Eu tenho certeza que Beca irá colocar essa música na playlist — Ela disse falando
sobre I Have Nothing — É uma música lenta e mais fácil de dançar.
Caminhou até mim e estendeu a mão, sem alternativas e ouvindo a parte que queria
muito dançar aquela música com ela, a peguei.
Skyller nos guiou até o meio do quarto, colocou minha mão sobre a sua e a outra nas
suas costas. Quando a voz de Whitney Houston começou a cantar, começamos a nos
movimentar conforme a música.
Fui incapaz de desviar meus olhos dela.
Um passo para o lado direito e um passo para o lado esquerdo, em sincronia e em
nenhum momento conseguimos quebrar aquele contato.
Eu havia dançado música lenta uma única vez.
Quando não fui ao baile da escola e minha mãe o trouxe para mim.
No meu quarto, tendo ela como acompanhante e meu pai como plateia. Dançamos por
minutos, até ela me ensinar como não pisar nos seus pés e deixar a música me guiar.
Minha mãe sempre acreditou que um dia eu dançaria com uma mulher que não fosse
ela.
O que ela diria se soubesse que estou dançando com a garota que sou apaixonado?
— Você é muito bom em dança lenta — Skyller elogiou admirada.
— Uma vez dan...dancei com min...minha mãe.
— Sua mãe é uma ótima professora.
Ela se afastou e eu entendi na hora que era para girá-la, assim fiz, a trazendo novamente
para mim. Seus braços circularam o meu pescoço e as minhas mãos seguraram sua cintura,
voltamos a nos balançar conforme a música.
— Eu amo essa música — ela murmurou fechando os olhos e apreciando o som.
— Você ama Whitney Houston — consegui brincar, voltando a ficar confortável em sua
presença.
Ela abriu os olhos, estava tão próxima de mim que senti minha garganta secar.
Incrivelmente linda.
Skyller é incrivelmente maravilhosa.
— Culpada — riu baixinho.
A música estava próxima do fim quando Skyller me surpreendeu ao fechar os olhos
novamente e jogar o corpo e os braços para trás, a segurei firme pela cintura enquanto nos
girávamos devagar pelo quarto, tornando aquele momento único e memorável.
I have nothing, nothing, nothing
If I don't have you, you
If I don't have you
Oh, oh, oh
Quando ela voltou a erguer a cabeça seus olhos se abriram da mesma forma que o
sorriso em seu rosto. A música acabou, mas mesmo assim me senti preso aos seus braços que
voltaram a circular meu pescoço e ao seu rosto, que expressava inúmeras coisas que naquele
momento era indecifrável para mim.
O brilho também estava em seu olhar, ou sempre estiveram ali e só vi agora devido a
aproximação?
Uma de suas mãos escorregaram para a minha bochecha enquanto a outra continuou na
minha nuca.
— Continua vermelho — ela alisou com o polegar, provocando-me um arrepio — Algum
dia não vai corar na minha presença?
— Isso te in...incomoda? — temi pela resposta.
Seus olhos se arregalaram.
— É claro que não! Você fica ainda mais bonito quando está corado.
Foram os meus olhos que se arregalaram agora. Ela me acha bonito? Sorri, um pouco
nervoso.
— Mas você corar significa que está com vergonha de mim — ela continuou a falar,
realmente não percebia todo o efeito que me causava — E não podemos ter vergonha um do
outro, somos amigos, né?
Assenti, mesmo que odiasse essa palavra quando se tratava de nós dois.
— Nunca havia dançado uma música lenta com alguém que não fosse o meu pai — ela
confessou — Você foi o primeiro, Caleb.
— Primeiro?
Ela concordou.
— E você dança muito bem esse estilo de dança — elogiou — Pode esperar a música
certa para chamar Mackenzie para dançar.
Quase havia me esquecido o motivo de estarmos ali próximos e quase abraçados. Ela
acha que eu gosto de Mackenzie. Sua prima.
— Vamos treinar mais na semana que vem, o que acha? — Perguntou ao começar a se
afastar.
Quis continuar com meus braços em sua cintura.
Quis continuar sentindo o seu perfume e sua respiração próxima a minha.
Quis continuar vendo aquele brilho mais próximo do seu olhar.
Mas eu a soltei, a deixando se afastar e caminhar até a sua cômoda. Ela pegou o seu
celular e começou a mexer nele.
Observei sua testa se franzir ao ler algo e seu suspiro, não consegui identificar se era de
desgosto ou o contrário.
Percebi que o que ela leu era uma mensagem do anônimo ao vê-la largar o telefone na
cômoda novamente e perguntar:
— Eu sou bonita o suficiente para ter um admirador secreto?
Eu havia mandado uma citação de Jane Austen: “Ninguém jamais poderá amar mais do
que uma vez na vida.”
Ela não parecia incomodada ao não me responder à mensagem anterior a essa, eu havia
sido claro ao perguntar se aquilo a deixava desconfortável e levei o seu silêncio como uma
negativa.
A observando melhor, vendo como reagia ao ler uma mensagem do anônimo, parecia
mais confusa do que incomodada.
— E quando digo bonita não é só de aparência — continuou a falar — É tanto por dentro
como por fora, sabe?
— Você é...
— Sou? — incentivou a completar a frase.
— Lin...linda.
Um sorriso tomou seus lábios. Skyller se aproximou da cama novamente e se sentou,
indicando para eu fazer o mesmo ao seu lado, assim fiz.
— Obrigada — agradeceu — Pelo visto eu tenho mesmo um admirador secreto.
Curioso para saber o que ela pensava sobre o anônimo, questionei:
— Desconfia quem pode ser?
Negou.
— Eu não faço ideia! Ele manda essas mensagens estranhas com citações de
Shakespeare e Austen, acho que nunca fiquei com o garoto porque ele parece ter medo de eu
descobrir sua identidade.
— Talvez ele seja tímido?
— Talvez — suspirou — Uma vez eu conversei com ele.
— É mesmo? E como foi?
Skyller virou o rosto para mim e semicerrou os olhos.
— Curioso você, em? — com o cotovelo cutucou meu braço — Até que foi divertido. O
garoto me distraiu de uma noite ruim que estava tendo, foi legal até a parte que ele foi sincero
sobre os sentimentos que sente por mim, então encerrei o assunto e parei de responder as
suas mensagens, mas parece que ele não desiste tão fácil assim.
Ela havia gostado de conversar com o anônimo. Comigo.
Isso era um bom sinal, isso tinha que ser um bom sinal.
— As mensagens incom...incomodam você? — Perguntei.
— Se incomodassem eu já teria bloqueado o número, né? — sorriu, sem graça — A
verdade é que não sei o que as mensagens fazem comigo. Eu meio que me acostumei nos
últimos dias a pegar o celular de manhã e ter uma mensagem não lida do anônimo.
Tentei disfarçar o sorriso. O que tudo isso significava? Skyller gostava, mesmo querendo
não gostar, do anônimo.
— Poderia se...apaixonar por ele?
Ela riu, negando com a cabeça.
— Não — a afirmativa tão confiante foi direto ao meu coração — Eu não me apaixono,
Caleb.
Tentei não expressar o desapontamento ao perguntar:
— Por quê?
— Não é medo e muito menos por não acreditar, meus pais são tão apaixonados um
pelo o outro que seria difícil não acreditar no sentimento que eles compartilham. Mas eu não
consigo me ver presa a alguém.
— Aquele dia você disse que o amor nos torna dependente, é por causa disso? —
Lembrei-me do que ela disse na nossa primeira aula.
— Esse é um dos principais motivos. Minha irmã é totalmente dependente do idiota que
ela chama de namorado e meus pais, mesmo que não percebam também são um pelo o outro.
Minha mãe não participou de um dos campeonatos desse ano porque queria ficar com meu
pai, segundo ela, já havia participado o bastante daquele, um ano ausente não faria diferença.
— Foi uma escolha.
— Uma escolha baseada em um sentimento que acaba por nos tornar dependente.
Não respondi. Era uma decisão dela não se apaixonar, alguém teria que entrar em sua
vida e mudar aquela escolha.
Será que eu seria capaz disso?
— Eu namorei uma vez — admitiu — E acabei quebrando o coração dele por não
corresponder tudo o que ele sentia por mim. Foi então que percebi que não sirvo para o
amor... sabe qual era o meu apelido na escola?
Neguei.
— Qual?
— Coração de gelo.
O apelido me fez sorrir. Querendo ou não, parecia combinar com a forma fria que ela
lidava sobre o amor.
— É um bom a...apelido.
— Está afirmando que tenho um coração de gelo? — Colocou a mão no peito, fingido
estar ofendida — Não posso acreditar nisso, anjo da guarda.
Eu ri.
— Para alguém que não liga para o amor, está ofendida demais — brinquei.
Skyller riu.
— Gosto assim — disse me fazendo não entender do que ela estava falando — Quando
você está totalmente confortável na minha presença.
— Nunca fico desco...desconfortável na sua presença — admiti — Só sou um garoto
tímido demais.
— Eu sei e vamos quebrar essa timidez juntos, ok? — se levantou e estendeu a sua mão
— O que acha de treinarmos mais um pouco?
Peguei sua mão em resposta.
Skyller colocou outra música calma para tocar e por mais alguns minutos admirei sua
beleza em silêncio, enquanto nos balançávamos ao som da música que saia da caixa de som.
Temi que não se apaixonasse por mim.
Temi que eu tivesse apenas me iludido com o que eu achava ser sinais.
Temi por um futuro que talvez ela não fizesse parte.
Só então percebi que eu não só sou apaixonado por Skyller Blossom como a amo com
tudo que há dentro de mim.
Um amor à primeira vista como em livros e em filmes.
Um amor que corre o risco de nunca ser correspondido.
“Um passo de cada vez, garoto” as palavras de Zac vieram novamente em minha cabeça.
Era melhor eu manter a calma e continuar seguindo o fluxo do plano ridículo do meu melhor
amigo.
E o que fosse para acontecer, aconteceria.
10. Um passo de cada vez | parte 1
Skyller Blossom
Jack me olhava com um sorrisinho no rosto de quem havia aprontado alguma coisa.
— O que foi que você fez agora, roedor?
Ele saiu correndo do quarto e eu desconfiada olhei ao redor. Tudo parecia normal, por
isso voltei a me concentrar nos meus desenhos.
Estava tentando terminar os rascunhos da minha primeira coleção de roupas. Não
conseguia acreditar que havia chegado tão longe... haviam vestidos, saias, blusas e também
biquínis.
Agora, eu dava vida a um vestido que me veio em sonho. Ele era apertado na cintura,
ainda não havia decidido a sua cor, já que ainda era apenas um esboço, mas ele seria com
alguns detalhes em renda. Sua saia alcançaria o chão, mas na parte da frente seria acima do
joelho.
Na minha cabeça ele era lindo.
Meu celular vibrou em cima da mesa, indicando que havia chegado uma nova
mensagem. Dei os toques finais no vestido antes de pegar o aparelho e ficar surpresa ao ser
uma nova mensagem de Caleb.
“Oi.”
Sorri. Conseguia ver como era tímido até mesmo por mensagem.
“Oi, anjo da guarda, como está?”
Ele não demorou a responder.
“Bem e você?”
“Estou ótima, aproveitando o tempo livre para desenhar  ”
“Então não irei atrapalhar você...”
Fofo, admito.
“Você não atrapalha, Caleb. No que posso ajudar?”
“Certeza?”
“Absoluta.”
“Andrew acha que eu devo ir de terno na festa, mas acho que não devo pedir a opinião
de alguém que nunca foi a esse tipo de festa.”
A festa aconteceria hoje à noite. E por mais que eu tivesse animada, ainda não havia
comprado a minha máscara, foi por isso que uma ideia passou pela a minha cabeça e logo
respondi a mensagem de Caleb.
“Podemos ir no shopping, o que acha? Eu ajudo você comprar a sua roupa e
aproveitamos para escolher nossas máscaras.
Ps: Com certeza um terno não é adequado para hoje.”
“Podemos ir.”
“Ótimo! Passo aí em meia hora.”
Guardei meus desenhos na minha pasta e os lápis no meu estojo. Me levantei e fui até o
banheiro lavar as mãos das manchas da caneta que usei para contornar alguns desenhos.
Sempre acabava pintando os meus dedos também.
Foi então que entendi o que Jack havia feito.
O banheiro estava espalhado de papel higiênico. O roedor havia pego o papel e
arrastado por todo o cômodo.
Fechei meus olhos, respirei fundo e depois os abri.
Eu que não limparia aquela bagunça.
Lavei minhas mãos calmamente e sai do banheiro. Peguei minha bolsa, coloquei o
telefone nela e sai do quarto.
— Seu roedor bagunçou todo o meu banheiro, trate de arrumar — falei para Alex que
estava segurando o diabinho escorada no ombro do idiota, mais conhecido como Jordan.
— O que Jack aprontou agora? — Tyler perguntou do outro lado da sala.
Nathaniel estava do seu lado, ambos pareciam tentar evitar o ser indesejável ao lado de
minha irmã, mas não saiam de casa porque queriam observar tudo e cuidar dela, como os dois
irmãos protetores que são.
— Espalhou todo o papel higiênico pelo banheiro — respondi.
— Cada dia mais inteligente, impressionante — Nathan comentou admirado.
O fuzilei com os olhos. Eu diria inconveniente, ao invés de impressionante.
— Posso saber para onde você vai? — Ty observou minha bolsa para depois continuar —
Pensei que ficaria a tarde toda desenhando.
— Caleb precisa de mim.
As sobrancelhas de Nathaniel se arquearam e ele me lançou aquela cara de malicioso.
— Estão cada vez mais próximos... — falou com segundas intenções.
— Nada do que você está pensando, seu safado. Vou ajudá-lo a escolher uma roupa e
também comprar a minha máscara, já compraram a de vocês?
— Ontem — Ty respondeu.
— Você e Caleb não combinam e acho que isso os tornam o casal perfeito — Alexandra
abriu a boca para sonhar, como sempre fazia.
Jordan riu.
— Os nerds não fazem o tipo de Skyller — a tranquilidade em que disse aquilo me
irritou, como se ele me conhecesse o bastante para dizer aquilo.
Na verdade, eu estava com tanta raiva daquele garoto que era só ele dizer um “oi”, que
eu já achava um motivo para ter mais nojo dele.
— O que não faz meu tipo é garotos idiotas que forçam algo que não vai acontecer — vi
o momento que ele fechou o punho com raiva. Toma essa, idiota!
Coloquei meu tênis que havia ficado no canto da sala e antes de sair me despedi dos
meus irmãos.
— Nos vemos mais tarde — beijei a bochecha de Tyler e Nathaniel, me limitando a
apenas acenar para Alex.
Eu ainda estava chateada por ela ter perdoado tão rápido Jordan.
Não levou nem 24h.
Tentando não pensar nessas coisas que me deixavam nervosa e preocupada demais,
liguei o som antes de dar partida no carro. A voz tranquila de Whitney Houston me acalmou
imediatamente, assim como me levou a pensar o que havia acontecido na primeira aula de
dança que dei para Caleb.
O que aconteceu era normal, mesmo que ele sentisse muito envergonhado para me
olhar por alguns minutos.
Nossos corpos estavam muito colados e devido a sua inexperiência acabou
acontecendo. Era normal.
Senti tanta vontade de falar sobre isso com ele nas duas aulas seguidas que tivemos,
mas eu sabia que iria apenas o constranger e acabar quebrando o clima bom que estávamos
tendo ultimamente.
Às vezes ele nem gaguejava e isso era incrível.
Não queria trazer um assunto que havia o deixado nervoso e envergonhado o bastante
para fugir.
Mas eu havia sentido e como uma mulher sexualmente ativa havia gostado.
Pelo pouco que senti ele era grande... e foi exatamente por isso que deixei escapar
naquele dia que se ficássemos mais tempo dançando com Caleb daquela forma, eu
provavelmente ficaria excitada.
Olha para onde meus pensamentos estavam me levando...será que era a falta de sexo?
A última transa que tive não me rendeu nenhum orgasmo, talvez seja por isso que eu estava
pensando mais em Caleb e de uma forma que eu não deveria.
O garoto é apaixonado pela minha prima.
Repeti para mim mesma.
E é um cara romântico, não faz o meu tipo.
Repeti de novo para mim mesma.
Quando cheguei na frente do prédio dos dormitórios, Caleb já me esperava. Vestia uma
calça preta, botas da mesma cor e uma camiseta branca que estava embaixo de uma jaqueta
jeans.
Para um garoto tímido e nerd, Caleb tem estilo.
— Entra, anjo da guarda — ele sorriu e entrou no carro.
Me inclinei apenas para deixar um beijo em sua bochecha e dei partida no carro, nos
levando para o shopping da cidade.
— Animado para a festa?
— Estou nervoso — admitiu — E ansioso, mas não é no bom sentido.
Caleb é um garoto tímido. Isso nunca me restou dúvidas, mas em alguns momentos
como este, ou então, como quando fugiu de mim para se esconder no banheiro do meu
quarto, me faziam pensar que não era apenas um garoto tímido e sim um cara com problemas
de comunicação.
Nunca havíamos conversado sobre isso.
Estávamos no início da nossa amizade ainda, então não seria inconveniente de
perguntar algo que o poderia deixar desconfortável.
— Vai ficar tudo bem — garanti e sorri para tranquilizá-lo — Vou ficar com você o tempo
todo, pelo menos até você conseguir a dança com sua garota.
— E se eu não tiver coragem de me aproximar dela?
Pensei um pouco, aquilo com certeza poderia acontecer.
— Então vamos aproveitar o baile juntos — pisquei.
Chegamos no shopping minutos depois, estacionei o carro em uma vaga disponível e
subimos pelo o elevador para o primeiro andar.
Entramos em uma loja que parecia ser especializada em roupas de festas. Haviam
muitos ternos, roupas mais casuais e vestidos, cada um mais lindo que o outro.
— Tenho certeza que encontraremos alguma coisa legal aqui — falei para Caleb.
— Boa tarde — uma atendente se aproximou — Sou Julia, no que posso ajudar vocês?
— Procuramos roupas para ir a um baile de máscaras — respondi.
Julia sorriu.
— Vieram ao lugar certo, temos até alguns modelos de máscaras — disse me fazendo a
garota mais feliz do dia, já que não precisaria caminhar até outra loja para achar as máscaras.
Tudo seria comprado ali.
— Vocês têm alguma ideia do que querem vestir?
— A festa é temática, mas sei que ninguém vai ir vestido como nos anos 80, então não
queremos nada muito formal — olhei para Caleb, tentando imaginar o que ficaria bom nele —
Gosta de jaqueta de couro, anjo da guarda?
As bochechas estavam levemente vermelhas.
— Sim — respondeu.
— Vamos procurar alguma coisa por aqui.
Caminhamos juntos com Julia até a área masculina.
Ela nos apresentou vários modelos de jaquetas de couro, mas Caleb se interessou por
uma mais simples e que com certeza ficaria incrível nele.
Para a minha surpresa ele escolheu uma calça jeans preta com um rasgo em cada joelho,
junto com uma camiseta preta.
Sorri, aprovando o estilo.
— Vai ficar lindo — eu elogiei — Quer provar?
Ele negou.
— São do meu tama...tamanho.
Assenti, compreendendo que estava tímido demais para querer provar uma simples
roupa. Havia algo que eu não sabia, tenho certeza.
Quando me virei para agradecer o atendimento de Julia me deparei com um vestido
lindo do outro lado da loja.
Vermelho vivo com alcinhas extremamente finas, a saia ficava acima do vestido, mas no
lado direto da coxa tinha uma abertura que ia quase até o início das coxas.
Aquele vestido havia sido feito para mim.
— Quero prová-lo — apontei para a peça de roupa.
— Vai ficar lindo em você — Julia disse.
Caminhamos atrás dela, falei o meu tamanho e ela pegou um modelo, me entregando.
— Os provadores ficam daquele lado — apontou mais para frente.
— Obrigada. Vamos? — Perguntei a Caleb.
Ele assentiu e me seguiu até os provadores.
Caleb se sentou em um dos bancos de frente para as cabines que provamos as roupas.
Segurava a sacola com as suas, deixei minha bolsa com ele e fui provar aquele vestido.
Tirei minhas roupas, meus tênis e coloquei o vestido. Só depois percebi que ele tem que
ser fechado atrás.
Nada a fim de chamar a atendente, puxei as cortinas do provador para um lado e
coloquei a cabeça para fora.
— Caleb? — ele me olhou — Pode vir aqui me ajudar? O vestido precisa ser amarrado
atrás.
Em um primeiro momento ele pareceu incerto, mas levantou e veio até mim. Me virei
de costas no momento que ele entrou na caixa, que acabou por se tornar pequena com nós
dois, e fechou a cortina.
Observei pelo espelho em nossa frente seus olhos azuis percorrerem todo o meu corpo.
Havia certa admiração e acabei por notar o brilho naquele momento.
O vestido havia ficado mesmo muito bonito no meu corpo. Destacou mais as minhas
curvas e o contraste da cor com a minha pele deu um ar mais sensual para a peça.
Caleb olhou para as minhas costas nuas e pareceu trancar a respiração ao pegar um
lacinho de um lado e do outro para começar a amarrar o vestido.
— O que achou? — Perguntei, querendo saber o que estava pensando.
Seus olhos encontraram os meus através do espelho. Ainda amarrando um lacinho no
outro, ele elogiou:
— Você está linda — sem gaguejar, aquilo provocou um sorriso no meu rosto.
Seus dedos se arrastaram até um outro lacinho, não foi proposital, mas mesmo assim
senti um arrepio involuntário pelo o meu corpo.
Engoli em seco, estranhando a sensação boa de ter seu toque sobre mim.
Quando ele acabou, nossos olhos voltaram a se encontrar através do espelho. Os azuis
brilhantes contra os meus esverdeados da mesma forma.
— Acho que vou levá-lo — quebrei aquele clima estranho que começava a se alastrar
pelo o ambiente pequeno.
Era impressão minha ou o lugar havia ficado mais pequeno?
— Ótima escolha — disse.
— Pode desamarrar para mim?
Ele assentiu e o fez, desamarrando laço por laço. Mais uma vez senti um arrepio, mas
dessa vez não dei muita atenção aquelas reações que meu corpo estava tendo.
Agradeci Caleb assim que ele desamarrou todos os laços. E quando ele saiu da cabine,
consegui respirar um pouco melhor.
O que acabou de acontecer?

— Uau! Você está incrível — Mackenzie me elogiou ao entrar no apartamento — Vocês


todos estão.
— Obrigada, priminha — Nathan mandou um beijo para ela.
Minha prima não estava nada mal, vestia um vestido preto básico com mangas curtas e
no rosto usava uma maquiagem básica por trás da máscara branca, do jeito que ela sempre
gostou.
Havíamos combinado de ela ir conosco para o baile, já que Alex foi com Jordan mais
cedo.
— E Alex? Perdoou fácil demais o babaca, hum? — Minha prima fez uma careta.
— Infelizmente sim — Tyler respondeu — Estamos todos com receio do que vai
acontecer no futuro.
— Estou aqui se precisarem.
— Obrigado, Mack — Nathan abraçou nossa prima de lado — Vamos?
Assentimos. Saímos do apartamento e fomos para a garagem.
Deixei minha prima ir na frente com Nathaniel — que queria ir dirigindo — e entrei na
parte de trás com Tyler.
— Mamãe mandou uma mensagem — Ty falou — Queria saber o que iriamos fazer hoje,
ficou animada quando disse que o nosso destino era um baile de máscaras.
— Como eles estão? — Perguntei, havia falado com papai há três dias.
— Melhor impossível, estão aproveitando, mas estão com saudades.
Acenei com a cabeça, disso eu sabia, eles haviam sido bem claros na última ligação.
— Pediram para irmos no próximo feriado, mas acho que só vai dar no dia de ação de
graças — comentou.
— Vamos tentar ir antes — Nathan disse.
Meu celular acendeu a tela. Era uma mensagem de Caleb avisando que já estava na
frente da casa da fraternidade.
Ele provavelmente teria uma surpresa ao ver Mackenzie descer do carro junto comigo e
meus irmãos.
Chegamos alguns minutos depois, Nathan estacionou o carro e descemos. Quando nos
aproximamos da entrada da casa percebi que a festa já havia iniciado, peguei a máscara preta
rendada na minha pequena bolsa e coloquei no meu rosto.
— É uma pena que não combinamos as máscaras — Nathan disse colocando a sua
dourada.
— Só você acha que eu viria a um baile de máscara combinando com você — Ty riu
baixinho.
— E Alexandra resolveu combinar máscaras com Jordan — Nathaniel fez uma cara de
nojo — Odeio aquele garoto.
Nós rimos.
— E lá está o seu...amigo — meu irmão mais novo apontou para alguém atrás de mim —
Ele tem estilo, né?
Com certeza Nathaniel estava falando de Caleb. Me virei e o vi parado, um pouco
afastado da porta de entrada e olhava diretamente para mim.
Será que estava nervoso por Mack estar com a gente?
— Vou ir até ele — avisei — Nos vemos mais tarde?
Eles assentiram.
— Já sabem, né? Se forem passar a noite fora ou ir embora antes, avisem — Ty
relembrou uma de nossas regras.
Quando saímos juntos temos que avisar qual será a conclusão da noite para não deixar
ninguém preocupado.
— Sempre, maninho — beijei sua bochecha antes de me afastar deles.
Me aproximei de Caleb logo em seguida e foi intrigante a forma que em nenhum
momento seus olhos desviaram dos meus.
Pensei que neste momento ele poderia estar nervoso e que não pararia de olhar para
Mackenzie, mas, ou eu estava ficando maluca, ou ele nem ao menos havia notado a presença
da minha prima.
Ele estava lindo.
As roupas compradas de mais cedo combinou perfeitamente com ele. O preto lhe caia
muito bem.
— Você está incrível — elogiei.
Suas bochechas ficaram levemente vermelhas e ele sorriu, tímido.
— Você também está.
Meus irmãos e minha prima entraram na casa, que ao passarem por nós, acenaram para
Caleb.
— Pensei que Andrew viria — notei a ausência do amigo.
— Ele veio, mas está lá dentro — explicou.
— Mack veio com nós — não sei porque, mas acabei falando — Como está o seu
coração?
Ele ainda me olhava quando respondeu:
— Batendo freneticamente.
Sorri de lado.
— Dizem que é o que amor faz — imediatamente mudei de assunto — E a sua máscara?
Ele retirou do bolso a máscara cinza escura, não haviam muitos detalhes nela, era bem
masculina, mas havia ficado linda nele.
— Deixa que eu coloco em você — pedi.
Assentiu ao me entregar a máscara.
Me aproximei e a peguei, encaixando em seu rosto. Com os saltos, eu não ficava tão
abaixo de sua altura. Prendi a fita atrás, não querendo que ele virasse de costas, amarrei com
maior dificuldade ainda virada de frente para ele.
— Pronto — abaixei as minhas mãos e peguei uma de suas — Pronto para entrar?
Seus olhos azuis pareciam mais brilhante atrás das lentes de contatos. Seu rosto ainda
continuava corado e por um momento achei que ele estivesse afetado com nossa
aproximação.
Acho que eu é que estava ficando louca.
— Pr....pronto — respondeu.
Como prometido entrei de mãos dadas com o meu mais novo amigo. Como estávamos
de máscaras e já haviam jovens bêbedos, pouco se importaram com a nossa entrada.
I Wanna Dance With Somebody tocava e muitos estavam dançando ela na pista
improvisada no meio da sala da casa.
Olhei para Caleb com um sorriso no rosto.
— Eu falei que Whitney Houston tocaria.
Suas bochechas pareciam ter ficado mais vermelhas, provavelmente se lembrando o que
a dança e a música haviam provocado na nossa primeira aula.
Puxei Caleb para o bar, percebi que seu aperto na minha mão se tornou mais forte e
quando chegamos perto dos banquinhos me sentei e ele fez o mesmo ao meu lado.
— Tudo bem?
Assentiu, mas ele estava suando. Notei ao olhar sua testa que escorria um fio pequeno
de suor.
Não estava tão quente assim.
— Certeza?
Novamente ele concordou.
Beca havia contratado alguém para improvisar e cuidar de um bar na casa, como em
todas as festas que ela dava.
Pedi uma água para nós dois. Mesmo que eu gostasse de beber não faria isso na
presença de Caleb, já que estava óbvio para mim que ele estava mentindo e estava totalmente
desconfortável no local.
Se eu bebesse com certeza ficaria ainda mais.
O garoto que cuidava do bar estranhou o meu pedido, mas apenas concordou e nos
trouxe duas garrafas logo em seguida. Abri uma e entreguei para Caleb.
— Vai se sentir melhor.
Ele me olhou.
— Mas est...estou bem.
— Você não me engana — falei — Está nervoso e parece que está desconfortável.
Caleb demonstrou surpresa ao ver que eu percebi o que estava tentando esconder. Eu
não era mesmo idiota, foi apenas colocar os pés dentro da casa que ele ficou nervoso, ansioso
e desconfortável.
— Quer sair?
Negou.
— Vai aproveitar — disse — Não precisa fic...ficar de babá.
Eu ri.
— Não estou de babá.
— Está. Sei que gosta destes lugares, então pode ir se di..divertir.
— Lembra do que eu disse? Falei que não iria largar da sua mão — apontei para nossas
mãos ainda unidas — Até você se sentir confortável o bastante.
Ele sorriu de lado.
— Obrigado.
— Não precisa me agradecer, é o que amigos fazem.
Mack e Andrew se aproximaram de nós e ao ver nossas mãos unidas, minha prima
franziu as sobrancelhas sem entender nada e o amigo de Caleb pareceu alargar mais o sorriso.
— Skyller — ele cumprimentou — É bom ver você de novo.
— Digo o mesmo, Andrew — sorri e com delicadeza, afastei minha mão de Caleb.
A garota que ele gostava estava na nossa frente.
— Encontrei Mackenzie na pista de dança e quando vimos vocês dois aqui, decidimos
nos aproximar — Andrew explicou, como se devesse isso para nós.
Mack se sentou do meu lado.
— Só na água hoje? — Perguntou estranhando todo o meu comportamento.
É claro que ela estranharia.
Em outro momento eu estaria dançando naquela pista de dança depois de ter bebido
dois drinks preparado pelo barman improvisado da festa.
Mas eu havia feito uma promessa a Caleb. E eu não quebrava nenhuma.
— Apenas água — concordei.
— O que estão achando da festa? — Andrew perguntou, ajeitando a máscara preta que
usava no rosto.
— Por enquanto está sem graça — Mack respondeu olhando ao redor.
Eu sabia exatamente quem ela estava procurando. Bradley Aldrich.
Olhei para Caleb ao meu lado, que parecia inerte a tudo. Ele realmente estava estranho
e eu começava a me preocupar. Era a festa ou a presença da garota que ele gosta?
— Você está bem, bebê? — Foi Andrew que fez a pergunta que eu estava me fazendo.
Caleb pareceu acordar de um transe e assentiu.
— Não quer tomar um ar lá fora? — O amigo voltou a perguntar. Provavelmente
notando o mesmo que eu: ele estava mentindo.
— Estou bem — ele sorriu para tranquilizá-lo.
— Tudo bem — Andrew falou, mas parecia não ter se convencido — O que acha de
voltarmos a dançar, Mack?
— Dançar com você é a única coisa com graça até agora — minha prima sorriu — Vamos
lá!
E se afastaram, me deixando chocada.
Não havia sido um flerte da parte de Mackenzie, foi apenas sua sinceridade devido a
festa estar sem graça até o momento que dançava com Andrew.
Mas...
Olhei para Caleb novamente.
— Seu melhor amigo convidou a garota que você gosta para dançar? — Foi uma
pergunta idiota, mas eu não conseguia acreditar no que havia acabado de ver.
Afinal, se Andrew gostava mesmo de Caleb deveria facilitar a vida do amigo ao
aproximar Mack dele e não o contrário.
Os olhos de Caleb se arregalaram levemente e rapidamente.
— Ele só está... tentando facilitar as coisas.
Franzi as sobrancelhas, sem entender.
— E como ele facilitaria dançando com a garota que você gosta?
— Fa...falando bem de mim para ela? — Perguntou, sem saber ao certo o plano do
melhor amigo.
— Eu espero que ele não seja um amigo fura olho — expressei o que estava pensando
— E você nem tentou se aproximar dela, acho que nem olhou para ela.
Não foi uma repreensão, só estava falando o que estava passando pela a minha cabeça
desde o início da noite.
Se Caleb olhou para Mackenzie duas vezes foram muitas.
— Andrew não é um am...amigo fura olho, não se preo...preocupe — o gaguejos
estavam mais frequente — E eu estou com ver...vergonha, por isso não fiz na...nada.
— Tudo bem — tranquilizei-o — Ainda estamos no início das aulas e se aproximar de
Mack com certeza vai ser a parte difícil, de resto, tenho certeza que você vai conseguir tirar de
letra.
A música se tornou mais alta e Michael Jackson começou a tocar, levando os alunos a
loucura.
— O que acha de dançarmos?
Ele negou rapidamente.
— Acho mel...melhor não.
Assenti. Me lembrei do que Caleb disse quando eu o convidei para o baile, que não
gostava de ambientes com muitas pessoas. Será que tudo isso estava o incomodando? Ele
também foi claro ao dizer que não gostava de festas. Talvez eu tivesse forçado algo muito cedo
ainda.
Um grupo de amigos se aproximou do bar, estavam bêbados e conversavam muito alto.
Olhei no relógio do meu pulso e ainda eram onze horas da noite para estarem quase caindo.
Um deles acabou esbarrando em Caleb, que se esquivou rapidamente, como se tivesse
levado um choque.
— Desculpa aí, cara — e riu.
O cheiro de bebida poderia ser sentido de onde eu estava.
Olhei para Caleb e estava claro que ele não aguentava mais aquele lugar. Por isso peguei
sua mão e sem dizer mais nada atravessei a pista de dança para o levar para fora daquela casa.
Tivemos que passar pelo o meio da pista, que infelizmente era um empurra atrás de
outro. Com certeza, aquela festa daria o que falar na semana seguinte.
Todos estavam bêbados e gritando como loucos.
O tema das máscaras já havia sido esquecido por muitos. Foi o que observei ao ver
muitos sem suas máscaras e pouco se importando com beijar e quase transar no canto da sala.
A mão de Caleb estava suada quando conseguimos sair da casa.
A larguei e me afastei para observar melhor. Estávamos sozinhos, todos estavam
festejando lá dentro, agradeci mentalmente por isso.
— Me desculpa — foi o que eu falei ao respirarmos ao ar livre da noite — Eu deveria
imaginar que a festa não seguiria conforme o convite indicava.
Quando olhei para Caleb, ele estava encostado na parede da casa e respirava com
dificuldade. Me preocupei no mesmo momento.
— Caleb? — me aproximei dele, seus olhos estavam sobre mim, mas parecia não prestar
atenção — Você não está bem, está suando.
Foi o que eu notei ao tocar sua testa.
— Esto...estou...
— O que?
Uma de suas mãos trêmulas tocaram o seu peito, mais especificamente, em cima do seu
coração.
— Ataq...ataque de p....pânico.
Meus olhos se arregalaram. Eu já ouvi falar sobre ataques de pânicos, não era nenhuma
idiota e sabia que isso acontecia quando a pessoa estava muito ansiosa, com medo ou até
mesmo se sentindo ameaçada, mesmo que se não houvesse nenhum perigo ao redor.
— Olha para mim — segurei seu rosto — Se concentre em mim, ok? Tenta respirar, uma,
duas, três vezes.
Ele negou. Não estava conseguindo.
— Eu vou pedir ajuda — fiz que ia pegar meu celular, mas a mão ainda trêmula segurou
a minha.
Ele não queria ajuda? Eu não sabia o que fazer! Sentia que era o meu coração que
começava a acelerar agora tamanho a preocupação.
— Você não quer ajuda, ok — voltei a segurar o seu rosto — Então tente voltar ao
normal, não sei! Eu não sei o que fazer.
Acabei deixando o meu desespero falar mais alto.
Caleb ainda tentava se concentrar na sua respiração quando uma ideia absurda me veio
na cabeça. Era um filme, ou uma série, que Alexandra era viciada e que eu achava ridícula, mas
em um dos episódios eu vi o que a garota fez com o garoto que estava tendo um ataque de
pânico.
Torci para o único episódio que eu vi daquela série me ajudasse a controlar a situação
naquele momento.
Sem pensar se isso pioraria ou melhoraria a situação, fechei meus olhos e grudei meus
lábios nos seus em uma tentativa de controlar a sua respiração.

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