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Jornalismo regional e cidadania

João Correia
Universidade da Beira Interior

Será que a imprensa regional tem virtua- tificação do que é relevante resultaria de um
lidades para se constituir como um dos pila- esquematismo pré-determinado. "Assim, a
res possíveis para a criação de um espaço pú- construção da notícia implica a utilização de
blico, na medida em que a proximidade en- enquadramento (frames), um conceito apli-
tre a decisão política, o espaço mediático e a cado por Erwin Goffman à forma como or-
vida quotidiana anula os efeitos indesejáveis ganizamos a vida quotidiana para compre-
da massificação? A questão tem vindo a ser endermos e respondermos às situações soci-
reflectida por diversos autores. ais."1 A novidade limita-se ao incidente que
O jornalismo como indústria cultural. O assegura, pela negativa, através do seu carác-
conceito de cultura de massas é fundamental ter excepcional, a permanência das grandes
para a compreensão dos contextos económi- regularidades.
cos, sociais e culturais em que surgiu o jor- A primeira hipótese que se coloca neste
nalismo, entendido no seu sentido contem- texto é a de que o jornalismo de massa, ape-
porâneo como indústria jornalística. sar de fundado à luz de uma racionalidade
Os jornais, na sociedade de massa, ganha- que se pretende intersubjectiva, tem traços
ram cada vez mais o perfil de um bem que de uma indústria cultural com caracteristi-
resulta de uma produção em série, para a cas bem vincadas do paradigma da produção
qual se encontrou uma fórmula e um mer- reflectidas na existência de normas específi-
cado. O jornalismo contribuiu assim para cas, escritas ou não, sobre a construção dos
para a rotinização da própria dinâmica so- seus produtos, a escolha das suas matérias
cial, estabilizando-a em acontecimentos - primas e a preparação dos seus profissionais.
tipo, comportamentos previsíveis e irupções Há um esquematismo dominante que está re-
controladas. A linguagem jornalística, em lacionado com as normas e hábitos que es-
vez de ser, como se usa pensar, a linguagem truturam o funcionamento do campo jorna-
do acontecimento puro - correntemente rela- lístico, e de cada jornal enquanto instituição
cionada com uma espécie de inflacção anár- social. São essas normas e hábitos que de-
quica da realidade imprevista - seria, então, 1
Nelson Traquina, O Paradigma do "Agenda- Set-
uma forma de estabilização e de controlo da ting": Redescoberta do Poder no Jornalismo in Re-
experiência. Esta estabilização seria tanto vista de Comunicação e Linguagens- Comunicação e
mais violenta quanto deveria deveria resultar Política, no s 21/22, Lisboa, Edições Cosmos, 1995,
de uma composição de normas onde a iden- pg. 202.
2 João Correia

finem as rotinas produtivas de selecção, pro- ológicos.2 Esta pretensão de independên-


dução e confecção do produto noticioso, os cia proclamada pela maior parte dos jornais
comportamentos prescritos nas relações com identificados com a imprensa de massa foi
as fontes e a socialização dos profissionais aceite por vezes de forma acrítica numa con-
no interior do campo jornalístico . cepção liberal da história da imprensa.3 Esta
Jornalismo, espectáculo e integração so- posição merece ser relativizada.
cial. A segunda hipótese é a de que o jor- Com o advento da imprensa de massa, os
nalismo e os media de massa em geral, exer- governos criaram taxas e impostos sobre a
cem um efeito poderoso de normalização e publicidade de forma a que os jornais ficas-
integração sociais. O carácter industrial do sem (como dizia um dos legisladores) nas
jornalismo pode reforçar o conformismo da mãos de homens "dotados de respeitabili-
esfera pública moderna, na medida em que dade e propriedade."4 Os anunciantes manti-
reforça o conhecimento do mundo como ele veram uma relação com a imprensa que pro-
é, assinalando o que é desvio e o que é vocou um reforço dos valores dominantes,
norma, naturalizando as relações sociais e designadamente pelo interesse em atigirem
as construções culturais vigentes e dominan- públicos -alvo dotados de meios económicos
tes. Neste contexto, o espectáculo consti- avultados.
tui uma das formas pelas quais algum jorna- A análise do caso inglês é exemplar.
lismo se furta ao exercício da racionalidade Os jornais conotados com os movimen-
e se centra na mera agradabilidade. Nesse tos trabalhistas e socialistas depararam com
sentido ainda, a publicidade pode ter cons- pouca receptividade por parte dos anunci-
tituído uma poderosa forma de constrangi- antes predominantemente conservadores re-
mento em ordem à consolidação deste devir ceosos de suportar económicamente jornais
espectacularizante das mensagens. Como to- com tendências que contrariassem os seus
dos sabem, a publicidade, no Século XIX, interesses económicos ou preconceitos polí-
possibilitou a baixa dos preços dos jornais, titicos. Uma crescente sofisticação das agên-
tornando-os acessíveis às massas. Os edito- cias levou os publicitários a analisarem a
res e proprietários buscavam (e buscam) for- composição do universo de leitores dos jor-
mas e conteúdos do produto jornalístico que nais, através de sondagens. Os consumidores
proporcionassem maiores tiragens e o tor- dos jornais trabalhistas e reformistas coin-
nassem mais apetecível aos olhos dos anun- cidiam em grande parte com públicos alvo
ciantes enquanto mero suporte publicitário. de mais fracos interesses económicos.5 Al-
Esta transformação catalizou o surgimento guns dos jornais optaram por se despolitiza-
do jornalismo como indústria do-tadas de re- rem adoptando fórmulas sensacionalistas. A
gras de fabricação do produto às quais o lu- publicidade teve um papel de controlo bene-
cro não é, de modo algum, alheia. Alguns ficiando jornais que se identificavam com os
autores consideram que a introdução da pu- 2
James Curran, Power Without Responsability,
blicidade resulta numa maior autonomia so- Londres, Routledge, 1980, pg. 9.
bretudo em relação a projectos político ide- 3
Curran, pp. 7-9.
4
Curran,pg . 13.
5
Curran, pp. 39-41.

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valores sociais dominantes, restingindo in- res.6 A narrativa é condicionada pela pers-
directamente outras possibilidades de pensa- pectiva do "maior denominador comum". O
mento que veiculassem valores alternativos. conteúdo, muitas das vezes, enfatiza o este-
Por outro lado, beneficiou de forma explí- reotipo. A problematização da experiência,
cita ou emplícita opçõesmercantis, assentes muitas das vezes, é abandonada em detri-
numa escrita avessa à crítica e ao efeito ca- mento do maniqueísmo e da distinção fácil,
talizador do debate público. O relato de um ainda que inconsciente, entre o que é soci-
crime ou a identificação da notoriedade de almente inaceitável e o socialmente aceitá-
uma personalidade são mensagens que pres- vel. Os estudos empíricos, mesmo por parte
supõem ou denotam opções sociais, cultu- de autores que não partilham de pressupos-
rais, políticas e éticas. Tais mensagens são tos críticos, evidenciam que o jornal "serve
comunicadas todos os dias a uma audiência como fonte de segurança num mundo con-
que lhes dedica quotidianamente um tempo turbado."7 Ora a segurança é, muitas vezes,
decerto escasso. Se for tido em conta que es- um sossego conformista que induz à alegre
sas mensagens são sancionadas ao nível eco- ausência de problematização.
nómico na compra e na publicidade - no caso O resultado pode reforçar uma opinião
da imprensa - e apenas ao nível da publi- pública acomodada e consumista, seduzida
cidade no caso da rádio e da televisão, te- e embrenhada na contemplação das mensa-
remos de admitir também que um vasto le- gens e nos múltiplos efeitos cada vez mais
que dessas mensagens e consequentes cono- aperfeiçoados pelos mecanismos técnicos. À
tações, muitas das vezes, serão construídas opinião pública falta-lhe o público: atento,
tendo em conta critérios de aceitabilidade fá- participativo, questionante, instado a passar
cil coincidentes com o gosto médio e a com- do pensamento à acção. Muitas das vezes, na
prensão rápida em detrimento do raciocínio sociedade de massas o pensamento é o con-
crítico, mesmo que isso não seja consciente- sumo e a acção é a mudança de canal.
mente percebido ou intencionado. É do lugar de espectadores que contem-
Com o reforço da categoria do espectáculo plamos o Mundo trazido sobre a forma de
tudo se torna mais complexo. A categoria espectáculo mediático à nossa mesa. Com o
do espectáculo que se torna hegemónica na fortalecimento da indústria cultural, estamos
informação de massa dá lugar ao puro con- diante de um novo tipo de acontecimento de
sumo de mensagens. No produto mediático novo tipo, cujo significado intelectual se es-
em geral, mas também no jornalismo em par- vazia em detrimento das suas potencialida-
ticular, o estilo como já vimos é determinado des emocionais. Hoje, em especial depois
pela obcessão da acessibilidade psicológica. do novo movimento de privatização das tele-
A informação e a sedução tornam-se perigo- 6
Neil Postman, Amusing Ourselves to Death,
samente inseparáveis. Neil Postman relata 1986, pg. 6.
a emergência dos comunicadores, aos quais 7
B. Berelson, What Missing the Newspaper Me-
ele aplica o epíteto de grandes abreviado- ans, apud John W. Riley Jr. e Matilde W. Riley, A
Comunicação de Massa e o Sistema Social in Gabriel
Cohn (Org.), Comunicação e Indústria Cultural, São
Paulo, T A Queiroz Editora, 1987, pg. 124.

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visões, o acontecimento sobreleva cada vez Não esquecendo as inevitabilidades dos


mais a sua dimensão espectacular. mecanismos de selecção e dos constrangi-
A lógica do acontecimento gera uma vo- mentos organizacionais que existem em to-
racidade autofágica. A actualidade vive se- das as organizações jornalísticas o que im-
gundo uma lógica da proliferação do acon- porta é, no que respeita ao produto informa-
tecimento que desemboca numa cruel am- tivo, defender claramente que os contributos
biguidade: ao invés do silêncio acerca do para uma formação da opinião pública escla-
que é novo, é a inflacção da novidade que recida impõem algumas condições susceptí-
anula a emergência do novo. Os factos, ou veis de serem fundadas apenas e só numa
aquilo que como tal é identificado, diluem- perspectiva normativa. É o caso da recusa da
se na busca de efeitos. Mais: os factos são, manipulação; da tentativa de obter informa-
desde logo, configurados em função dos efei- ções completas e confirmadas sobre a maté-
tos. A ausência de participação na esfera pú- ria noticiável; da obrigação de proporcionar
blica é complementada pelo carácter discur- ao leitor informação adequada ao exercício
sivo dos acontecimentos mediáticos: acon- esclarecido da cidadania; da rejeição do sen-
tecem ao dizerem-se e o seu relato consti- sacionalismo que explora a emoção alheia;
tui um acontecimento que nos é apresentado de suscitar a participação cívica em detri-
sempre envolta na estratégia do espectáculo mento dos consumismos passivos suscitadas
de massas: apelativo, envolto em retóricas pela pura informação- espectáculo.
pesuasivas. A crise da realidade como referência se-
O político, enquanto espaço de mediação gura não pode ser um alibi para esquecer a
da opinião dos cidadãos, esvazia-se do seu ética nem da deontologia. ". (...)Justamente
conteúdo racional para ser contaminado por a derrocada do modelo referencial de comu-
este devir espectacular. A diferença entre in- nicaçao constitui uma das causas da actual
formação e entretenimento, ainda na lógica crise ética dos MCS, no parecer de investi-
do velho debate entre objectividade e agradi- gadores como Boris Libois e Niceto Blas-
bilidade, se salda cada vez mais por um pre- quez. Este último escreve: A grande novi-
domínio da segunda. Nesse sentido, o preen- dade produziu-se com a introdução técnica
chimento dos tempos vazios passa cada vez da voz, da música e da imagem viva com
mais por uma certa trivialidade: divertirmo- os seus correspondentes silêncios, insinua-
nos até à morte.8 ções e manipulações distorcedoras. Qual a
Jornalismo, ética e liberdade. A terceira objectividade de uma imagem de primeiro
hipótese é a que os dois primeiros pressupos- plano do criminoso levado a tribunal ou dos
tos não conduzem necessariamente a uma es- familiares da vítima nomomento da dor? E
pécie de fatalidade: os media são, apesar de questões semelhantes também se podem co-
tudo, uma encruzilhadada de possibilidades locar à imprensa. A mesma notícia nao é a
que se jogam no campo do político, do so- mesma consoante a página em que é inse-
cial e do cultural. rida, o local da página, o tamanho de letra
8
Neil Postman, Amusing Oursellves to Death, do título e do corpo da notícia, e as notícias
Nova Iorque, Penguin Books, 1986, pg. 4. ao lado das quais é colocada. Pelo menos
desde os primórdios da fenomenologia sa-

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bemos que a percepçao do objecto tem um mito da notícia como espelho da realidade)
campo de percepçao e que o campo condici- continuam a ser as respostas possíveis. Isto
ona de modo essencial o objecto percebido. não impede que devamos reflecir, de uma
Uma primeira página, um tamanho de letra forma mais vasta sobre algumas oções éti-
de 18, são completamente diferentes de uma cas, susceptíveis de serem traduzidas de uma
página esquerda do interior ou de um tama- nova filosofia de serviço público.
nho de letra de 12. (...) Na situação actual, Jornalismo, cidadania e regionalização.
de mutaçao acelerada dos media, de altera- Uma quarta hipótese prende-se desta forma
ção de paradigmas, de crise ética, de embria- com um olhar sério sobre a imprensa regi-
guez do poder, a virtude da distância consti- onal. Na hipótese que aqui tornamos pú-
tui, em meu entender, uma das principais vir- blica, o jornalismo terá tudo a ganhar com
tudes de quem trabalha na comunicaçao."9 o aprofundamento das especificidade de al-
Se a estas preocupações aduzirmos o facto de gumas formas de Comunicação Social que
que muitas destas opções são feitas a pensar mantém, infelizmente, uma situação margi-
num mercado, ditadas pelo desejo de sedu- nal, sob o ponto de vista da consideração
ção, ainda que legitimadas por uma crença que lhes é dada nomeadamente por parte das
genuína num genuíno interesse público que organizações profissionais e das instituições
justifica a vontade de comunicar, há razões de ensino. Pensamos que na Comunicação
de sobra para uma preocupação ética. Social Regional portuguesa, sobrevivem al-
Será sempre através da consciência crítica guns dos traços típicos do jornalismo pré-
e deontológica que passam as condi-ções ne- industrial que não devem ser absolutamente
cessárias para que o jornalismo não passe descartados como se tratassem apenas e só
cada vez mais ao lado do exercício da cida- de puros anacronismos. Referimo-nos à co-
dania. Por isso, respostas tão evidentes como nexão escassa com a publicidade, a uma re-
a formação de conselhos de opinião que re- lação forte entre as elites locais e os media,a
presentem a "sociedade civil", a aposta na in- uma enfâse no artigo de opinião e na cola-
vestigação jornalística, a defesa do rigor, a boração externa, a uma contiguidade acentu-
declaração dos compromissos editoriais em ada entre os artigos e colaborações e as pre-
tempo de debates públicos como sejam cam- ocupações manifestadas nos espaços de reu-
panhas eleitorais ou de referendo, a presença nião dos públicos, à tendência para estrutu-
de procuradores de leitor, a defesa cerrada rar o discurso em torno de alguns assuntos
da investigação, da abundância de pormenor, recorrentes em torno dos quais se veiculam
a insistência numa análise distanciada que opiniões, debates e polémicas, a presença de
não deve ser confundida com a objectividade marcas discursivas que remetem para formas
cega (nada há de mais enganador do que o de sociabilidade que pressupõem um saber
9
comum partilhado pelos produtores de men-
António Fidalgo, Universidade da Beira Interior
A distância como virtude. Considerações sobre ética sagens e pelos públicos, o conhecimento re-
e deontologia da comunicação. (comunicação apre- cíproco e partilhado pelos produtores e re-
sentada no Painel Ética, Deontologia e Direito da Co- ceptores quanto aos factos e realidades que
municação, no âmbito do Seminário, Ética e Credibi- servem de referentes para as mensagens jor-
lidade dos Media)
nalísticas. Ao invés, na Comunicação Social

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Nacional já se terá verificado todo o ciclo de dia de massa e que podem ser mantidas den-
industrialização do jornalismo que coincide tro do âmbito de uma proposta que tenha em
com a formação de um tipo de empresas es- conta, nomeadamente, a necessidade de su-
pecializadas no tratamento da matéria prima perar os anacronismos que ainda residem no
informativa. específico campo da comunicação social re-
Assim, curiosamente pode ser profícuo gional.
tentarmos estabelecer um paralelo entre o Trata-se de um pensamento utópico e pro-
projecto regionalista ou regionalizador e o vavelmente ingénuo, mas cuja sedução com-
projecto subjacente e a uma certa ideia de partilho convosco: um campo jornalístico re-
interactividade que ainda pode sobreviver no gional que mantenha tais especificidades e
interior do campo dos media regionais, dos que simultaneamente, supere a presença dos
existentes e dos que se anunciam. Num caso caciquismos, o constrangimento resultante
e noutro, as intenções são, sob o ponto de da omnipresença dos poderes locais e a au-
vista da sua idealização e concepção, seme- sência da formação e da profissionalização
lhantes. No plano explicitamente político que ainda imperam em muitas empresas jor-
tornar-se-ia necessário voltar a ligar o que nalísticas localizadas fora da capital.
a representação diferira. No caso das ambi-
ções interactivas que se encontram por de-
trás dos media tratar-se-ia de fornecer men-
sagens que não fossem destinadas ao mero
consumo dos tempos vazios mas que dis-
sessem respeito à "próprio vida"dos públi-
cos, entendida esta "própria vida"como a sua
quotidianeidade. Em suma, em ambos os ca-
sos tratar-se-ia de superar a massificação e
a virtualização crescentes resultantes do gi-
gantismo introduzido pela transformação da
noção de espaço, tentando voltar a relacionar
os assuntos que dizem respeito à polis com a
própria vida quotidiana.
Dito isto, parece-nos que a definição de
um campo jornalístico regional pode com-
portar estas hipóteses. A identidade de re-
giões comporta a necessidade de mecanis-
mos de produção simbólica que contemplem
o reforço do sentimento de pertença. Não se
trata de propor um engajamento panfletário
da imprensa regional a esta ou aquela região.
Os traços atrás descritos podem constituir re-
miniscências de uma forma de exercício da
racionalidade parcialmente banida dos me-

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