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ENTREVISTA
DOUGLAS ZAIDAN
26/07/2021 10:56
Reprodução/Twitter
Prof. Marcelo Neves, poderia contar um pouco da sua experiência como advogado
público?
Eu iniciei a carreira como advogado público muito jovem. Fiz o concurso com 23
anosleu
Você e entrei
5 de 10na Procuradoria
matérias a que temda Cidade
direito do Recife,
no mês. ainda
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ilimitado? ditadura militar.
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Como foi trabalhar numa Procuradoria Municipal de uma capital como Recife? Que
questões poderia destacar sobre a relação entre a Procuradoria e a Prefeitura?
Em todos aqueles casos em que não for adequada a posição do detentor de poder
eventual (seja o Presidente da República, sejam os governadores, sejam os ministros
ou secretários de estados e municípios, ou seja, em todos esses níveis), é
fundamental que a advocacia pública, por meio da consultoria, atue de forma
esclarecedora com base na Constituição e na lei. No contexto da atuação
contenciosa, é preciso que o advogado público esclareça aos detentores do poder
que, em muitos casos, certas ações judiciais são incabíveis em um formato
puramente político, vinculado aos interesses pessoais do detentor do poder. Antes
de qualquer ação que seja ajuizada contra alguém, ou contra uma entidade qualquer,
cabe à advocacia do Estado esclarecer ao eventual detentor do poder se aquela ação
tem algum sentido jurídico ou se é um mero ato de intimidação, de assédio judicial
contra alguém. Principalmente nessa área do assédio judicial, a Advocacia-Geral da
União tem um papel fundamental de evitar a sua utilização pelo poder dominante do
momento para fins escusos, contra jornalistas, contra professores, contra
funcionários públicos, contra integrantes diversos de movimentos sociais.
Nos casos difíceis o caminho mais correto da advocacia pública é aquele que não
crie limitações ao debate público, que não crie limites à democracia. A postura em
casos difíceis tem que ser aquela que reconheça os limites do sistema jurídico e
procure atuar com sensibilidade para o sistema político. Dessa maneira, aliando a
consistência com essa sensibilidade para o ambiente político do sistema jurídico,
criam-se condições propícias para oferecer respostas politicamente adequadas, ou
seja, respostas democraticamente adequadas. Essa é a minha perspectiva para a
atuação da advocacia pública dentro de um Estado Democrático de Direito, que é
Estado de Direito, mas é democrático. A dimensão jurídica é primária em um Estado
de Direito. A dimensão política é a democracia. Se o Judiciário se expande
excessivamente, em casos difíceis principalmente, para limitar a representatividade
democrática e as lutas políticas democráticas, ele acaba fragilizando a democracia.
Acho que hoje esse diagnóstico se fortificou. Teve um momento em que estava
havendo um avanço no sentido da consolidação do Estado de Direito. E o que é o
Estado de Direito? O Estado de Direito, de certa maneira, é marcado pela autonomia
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operacional do direito, que se reproduz com seus próprios critérios, seus próprios
códigos de diferença, licitude/ilicitude. Além disso, o Direito é também um segundo
código para o sistema político (para o poder) no Estado de Direito. No momento em
que não há esses elementos, o que ocorre é uma subordinação difusa do direito a
pactos e pressões diretas do poder, do dinheiro. Isso vai minando a capacidade do
direito de se reproduzir consistentemente e, portanto, de dar respostas adequadas.
Nesse sentido, ter consistência é um pressuposto para que a resposta seja
socialmente adequada. Então, mantenho esse diagnóstico, em especial diante da
situação mais recente de degradação constitucional pela qual estamos passando,
principalmente a partir do Governo Bolsonaro, mas ainda antes, a partir do
impeachment, um golpe parlamentar com apoio do Judiciário, que não tinha base
jurídicas consistentes. A partir desse momento o jogo do poder passou a prevalecer
destrutivamente em relação à linguagem do direito. Assim, estamos nessa situação
muito mais grave do que aquela anterior, que eu dizia que era de
constitucionalização simbólica. Na constitucionalização simbólica a referência
constitucional, de certa maneira, podia ser um ponto de partida para a construção do
Estado de Direito e da democracia.
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