Filosofia,
Cidadania e
Emancipação
Antonio Glaudenir Brasil Maia
Marcos Fábio Alexandre Nicolau
O RG A NI Z A DO RES
UFPB UFPI
Reitor
Fabianno Cavalcante de Carvalho
Vice-Reitora
Izabelle Mont’Alverne Napoleão Albuquerque
Diretor da Imprensa Universitária
Marcos Fábio Alexandre Nicolau
Conselho Editorial
Agenor Soares e Silva Junior
Aline Vieira Landim
Antonio Glaudenir Brasil Maia
Izabelle Mont’Alverne Napoleão Albuquerque
Marcos Fábio Alexandre Nicolau
Maria Somália Sales Viana
Maristela Inês Osawa Vasconcelos
Virgínia Célia Cavalcante de Holanda
Revisão
Raimundo Francisco Gomes
Ilustração da Capa
A chuva das horas – Wescley Braga
Serviços gráficos
SertãoCult
ISBN.: 978-85-87906-93-9
CDD 370.1
Filosofia,
Cidadania e
Emancipação
Antonio Glaudenir Brasil Maia
Marcos Fábio Alexandre Nicolau
O RG A NI Z A DO RES
UFPB UFPI
Apresentação........................................................................... 10
Etica y emancipación.................................................................. 13
José María Aguirre Oraa
Novos desafios no trato dos direitos humanos: As tensões entre mera formalidade
e demandas por sua efetividade (Uma análise ético-filosófica sob viés crítico-
realista)................................................................................ 143
Lorena Freitas
Situando o tema
Os temas da Justiça e da Ética são fundamentais para
pensar as condições pelas quais podem ser enfrentados os
desafios de um projeto de emancipação. As questões associadas
a direitos e valores convocam-nos para refletir sobre as relações
democráticas na sociedade civil.
O impacto da razão iluminista, entre os séculos XVII
a XIX, parece ter fracassado e esse movimento evidencia a
fragilidade do sujeito, que não conseguiu triunfar em seu
projeto individualista de emancipação, bem como se viu às
voltas com totalitarismos e ditaduras que dificultaram avanços
políticos e econômicos significativos. A nossa América Latina
atesta essa situação ainda de opressão e dominação em setores
importantes, como democracia, educação e tecnologia, para
ficarmos nos elementos mais debilitados nesse universo de
avanços e recuos culturais.
Quais condições de emancipação podem ser pensadas,
hoje, na América Latina? Para análise dessas condições,
tomamos os setores problemáticos como eixos de análise
e assim referimos democracia, educação e tecnologia, de
uma forma vinculante, porque entendemos que são os eixos
necessários que conduzem ao debate sobre a imprescindível
autonomia política e econômica dos povos latino-americanos.
A questão reiterativa dos direitos humanos fundamentais ainda
se faz presente, no âmbito dessa análise, uma vez que os
eixos referidos se associam nas compreensões teóricas e nas
atividades práticas à ideia de direitos e de valores.
Referências
CALDERA, Alejandro Serrano. Filosofia e Crise. Pela filosofia
latino-americana. Petrópolis: Vozes, 1985.
Introdução a um dilema
Há uma linha de continuidade na violência vivida e sofrida
numa sociedade que perpetua a violência como normalidade
institucional ou cotidiana quando é ocultada por atos políticos
de esquecimento. A história moderna dos povos latino-
americanos foi inaugurada como tragédia de uma conquista
e continuada por uma história de violências. O mais recente
episódio de violência Estatal foi vivido de forma generalizada
em toda a América Latina nas ditaduras que, a partir da década
de sessenta do século XX, se espraiaram como sementes do
mal na quase totalidade dos países. O Brasil registra a fatídica
data de 1 de abril de 1964, na qual os militares destituíram
o governo legítimo de João Goulart. Argentina o 28 de julho
de 1966, Uruguai 27 de junho de 1973, Chile 11 setembro de
1973, data do assassinato de Allende pela ditadura de Pinochet,
Bolívia 21 de agosto de 1971, e ainda Paraguai tinha seu ditador
particular, Alfredo Stroessner, que se perpetuou no poder desde
1954 até 1989. Estas são as tristes datas que conectam o Cone
Sul do continente latino-americano em torno de uma estratégia
política de violência de Estado.
Cabe-nos analisar traços comuns a está violência de Estado
com o objetivo de captar alguns dos fios ocultos da violência
estrutural. Esta análise crítica da violência nos permitirá
desenhar estratégias que possam neutralizá-la. Num primeiro
ponto, penetrando pela fina capa dos eventos históricos, nos
propomos mergulhar na análise de uma das constantes da
8 Para Levinas o rosto tem uma relação não violenta, desarma a violência:
“O rosto recusa-se à posse, aos meus poderes. Na sua epifania, na expressão,
o sensível ainda captável transmuda-se em resistência total à apreensão”.
(Id. op.cit. p. 176)
13 Neste ponto remetemos aos estudos de Benjamin, em especial suas Teses
sobre filosofia da história. Na tese V, diz: “A verdadeira imagem do passado
perpassa veloz. O passado só se deixa fixar, como imagem que relampeja
irreversivelmente, no momento que é reconhecido”. (Id. Magia e técnica,
arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1996, p. 224).
15 Sobre a relação entre memória e história, cf. RICOEUR, Paul. A memória,
a história e o esquecimento. Campinas: Unicamp, 2007.
Introducción
Este trabajo se enmarca en la búsqueda de un concepto
articulador del reconocimiento demandado por los pueblos
indígenas en América Latina, con cuyo propósito nos hemos
empeñado en dar cuenta de los debates teóricos más relevantes
y principales paradigmas en disputa frente al reconocimiento
de la diversidad indígena y las tensiones que ello supone en un
contexto democrático –labor que supera los objetivos de este
trabajo-, considerando, entre otras, las cuestiones de la libertad,
la igualdad, el multiculturalismo y la interculturalidad.
En particular, aquí revisamos los caminos y las eventuales
limitaciones que ofrece la racionalidad comunicativa y la
propuesta de deliberación democrática de Habermas. Para
ello, explicamos aspectos centrales de su noción de consenso
y de la legitimidad del derecho; luego entramos en la cuestión
del universalismo recogido desde el denominado “patriotismo
constitucional”, confrontándolo con algunos contrapuntos
teóricos que nos parecen pertinentes atendida la especificidad
de la demanda por reconocimiento de la identidad cultural de
los pueblos indígenas en Latinoamérica. Finalmente planteamos
algunas reflexiones a la luz de estos debates y procuramos
ofrecer respuestas posibles a un problema que sigue abierto.
Bibliografía
ANDREU, Joan (2012). Teoría de la acción comunicativa, ética
del discurso y racionalidad democrática. Una aproximación a
alguno de los planteamientos de J. Habermas. En:
http://www.cesag.org/ghcs/tempsdecomunicar/?p=325 (28
febrero 2014).
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BENHABIB, Seyla (2006). Las reivindicaciones de la cultura.
Igualdad y diversidad en la era global. Buenos Aires: Katz.
CORTINA, Adela (2010). Justicia cordial. Valencia: Trotta.
DURÁN, Carlos (2010). Proyecto desigualdades. Tendencias y
proyectos emergentes en la estratificación social. En:http://
Introdução
A teoria do agir comunicativo de Habermas suscitou – e
continua propiciando – uma infinidade de considerações. No
final do século passado, ela foi motivo de inúmeras análises.
Ainda hoje, é tema de estudos, pesquisas, encontros, textos
etc. A listagem é enorme e parece que não vai a se encerrar
tão cedo.
O que está por detrás da proposta de Habermas?
Em poucas palavras, Habermas pretende salientar um
tipo de “racionalização social em termos de reificação da
consciência” (2012, II, p. 3). Na verdade, sua preocupação
se volta a um tipo de racionalização, sublinha o aspecto
individual das pessoas. Como diz Habermas, a reificação da
consciência é uma das características das sociedades modernas
e atuais, e isso salienta o aspecto impessoal e meritocrático
dos indivíduos. A consequência é o esmaecimento do social e
da intersubjetividade comunicativa, a ponto de afiançar um
descompromisso com os demais.
Esse é um dos pontos chaves para entender a teoria do agir
comunicativo. Por isso, a manifestação em contra ou a favor não
pode ser o parâmetro de uma filosofia interessada no momento
presente. Nem mesmo a acusação de europeísmo ou de qualquer
outra característica regionalista pode esmaecer a repercussão
da teoria do agir comunicativo. Por certo, o pensamento de
Habermas não se resume à obra Teoria do Agir Comunicativo,
mas ela é, sem dúvidas, um dos aspectos fundamentais de sua
Referências
Lorena Freitas
Introdução
O objeto deste artigo é o exame da crise e dos limites
heurísticos da matriz liberal-individualista a qual, no que
concerne aos direitos humanos, tenta circunscrever sua
exegese a um caráter de mera promessa formal, confundindo
(deliberadamente ou não) o aspecto (necessário, porém não
suficiente) de sua garantia instrumental com as demandas
sociais por sua concretização.
Tal objeto será efetivado através do exame de um
problema secular em nosso país, qual seja a questão do acesso
à terra, isto é, da (não) implementação de uma reivindicação
histórica de nossa sociedade, a reforma agrária, a qual, por
mera via da aplicação da Constituição vigente, no que concerne
à função social da propriedade, andaria bastante naquilo que
envolve a sua expressão real na vida social.
Por isso, e para abordar o esgotamento teórico e prático
da mencionada matriz paradigmática liberal-individualista, é
que se faz uso dessa questão premente na realidade brasileira
- mais especificamente, nordestina a qual ganha a forma
do problema a ser enfrentado. Isto significa que se trata de
responder a seguinte questão: quais as causas pelas quais
o secular problema agrário resta como questão pendente de
solução em nossos tribunais, em termos de concretização
Referências
BENTON, Ted (edited by). The greening of marxism. New York:
Guilford press, 1996.
CARDIM, Silvia; VIEIRA, Paulo de Tarso; Viegas, José. Análise da
estrutura fundiária brasileira. In: Boletim interno do Ministério
de Desenvolvimento Agrário / INCRA.Texto disponível em:
Introdução
Este trabalho é fruto de uma experiência de intercâmbio
entre as culturas jurídicas brasileiras e moçambicanas. Três
pressupostos orientam a tese especifica aqui defendida e estão
conectados na medida em que procuram tratar de questões
correlatas entre si: o primeiro deles é que os atuais processos
de integração e complementaridade econômica em vigor no
mundo, embora não recentes e dirigidos para o aprofundamento
e não para a eliminação de desigualdades, têm chamado nossa
atenção na medida do que significam em termos de trocas de
experiências entre contextos sociais que, embora de uma raiz
social comum, portuguesa, tiveram interações distintas, as
quais moldaram diversamente cada uma das culturas jurídicas;
o segundo busca apontar para os esforços de integração
horizontal, por exemplo, entre nosso país e países latinos
1 No livro “O leão e o caçador: uma história da África subsaariana dos séculos
XIX e XX”, a pesquisadora Ana Gentili menciona Chinua Achebe, famoso
escritor nigeriano. Ela recorda-nos, com essa sugestiva metáfora, que “a
história da África subsaariana foi quase sempre interpretada a partir dos feitos
da penetração, da conquista e das exigências colonizadoras das colonizadoras
das potências européias”. O contexto da citação se coaduna com as funções de
controle e dominação que a cultura jurídica do colonizador cumpriu naquela
região. Como temos defendido em outros trabalhos, o direito das potências
imperiais se tornou instrumento da dominação e da institucionalização “por
cima” do controle social (Ver: FEITOSA, 2008, passim).
Introdução
Este artigo tem o objetivo de apresentar o Tratado da União
de Nações Sul-Americanas - UNASUL – como uma alternativa
política e sustentável para a organização das nações latino-
americanas a partir da cidadania compartilhada. Sabendo das
diferenças que caracterizam o continente, especificamente,
a tradição e formação cultural e, com igual evidência, as
desigualdades gritantes que assolam a maioria da população.
É necessário a proposição de um modelo de planejamento e
atuação de forma integrada e com perspectiva de entendimento
e efetivação de longo prazo que alcancem além das fronteiras
territoriais. Esse contexto demanda um modelo de organização,
desenvolvimento e relações entre os povos que abarque além
dos seres humanos, a relação com os recursos naturais e
ambientais, o direito dos animas, o direito das culturas e as
futuras gerações orientadas pela sustentabilidade.
A Natureza, especificamente, precisa ser reconhecida
como sujeito a ser respeitado pelas suas próprias
características. Nota-se que se interpõem um novo contexto
e outra dinâmica, menos antropocêntrica, e mais integrada e
interdependente. Num cenário com essa característica opera-
se uma transformação na dinâmica da ação política, do direito
e das relações interpessoais e dos povos.
A Alteridade Ecosófica é a [nova] matriz que orienta, ou
10 “Tudo é feito mercadoria. E somente pode ter acesso aos bens de mercado
quem tem poder aquisitivo. A grande maioria está fora do mercado, porque o
poder aquisitivo é insuficiente. O mercado, nesse sentido, é sacrificialista. É
como um Moloc que cria vítimas e exige mais e mais vítimas. Entre as vítimas
estão a própria natureza e a humanidade como um todo, cujo futuro se vê
seriamente ameaçado”. (BOFF, Leonardo. Ética da vida: a nova centralidade.
Rio de Janeiro: Record, 2009, p. 50).
11 ACOSTA, Alberto. Extractivismo e neoextractivismo: dos caras de la
misma maldición. Disponível em: http://www.cronicon.net/paginas/
Documentos/paq2/No.23.pdf. Acesso em 20 de agosto de 2015.
Introdução
O artigo parte de um pressuposto fundamental da
epistemologia habermasiana, a categoria de Mundo da Vida
(Lebenswelt) que na sua atribuição específica representa no
pensamento habermasiano o lugar da cultura, da arte, da
estética e principalmente da sedimentação de valores como a
cooperação e a solidariedade.
O nosso intuito fundamental é de reconhecer os
pressupostos da análise habermasiana no que tange a uma
possível leitura e interpretação das biografias educativas e da
possibilidade de uma educação não-escolar relidas a partir dos
parâmetros habermasianos.
De fato, o contexto não-escolar ou a ideia dominante
de território educativo pode nos ajudar a compreender outras
dimensões da teoria habermasiana aplicada ao contexto
educativo. O que nos faz recuperar a ideia de ator social dentro
deste prisma de interpretação de uma educação que prima pelo
esclarecimento e pela emancipação.
Considerações finais
A intuição habermasiana centra-se numa epistemologia da
comunicação, em que a razão não pode ser reduzida aos meros
mecanismos da técnica e da ciência.
O conceito de Emancipação aplicado ao tema educacional
foi o tema gerador do presente estudo. De fato, tentamos aqui
perceber como a epistemologia e a metodologia da teoria do
agir comunicativo podiam interagir com os espaços educativos,
sejam eles escolares ou não. A postulação aqui de um diálogo
entre filosofia e educação foi o que resultou na discussão
das teses do pensador alemão para o âmbito educativo na
contemporaneidade.
Neste sentido, Habermas não trata de temas educacionais
de forma direta, mas o seu postulado teórico-metodológico
pode servir e tem servido de base e fundamento para as teorias
educacionais na contemporaneidade.
Os horizontes educativos, relidos à luz da teoria do agir
Referências
ADORNO, Theodor. Educação e Emancipação. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1995.
CANÁRIO, Rui. A Escola tem Futuro? Das promessas às incertezas.
Porto Alegre: Artmed, 2006.
CORREIA, José Alberto. Para uma Teoria Crítica em Educação.
Portugal: Porto Editora, 1998.
______. “Relações entre a Escola e a Comunidade: da lógica
da exterioridade à lógica da interpelação”, Aprender, 22,
PortoAlegre, 1999, pp. 129-134.
DOMINICE, Pierre. L’Histoire de Vie comme Processus de
Formation. Paris: L’Harmattan, 1996.
ILLICH, Ivan. Sociedade sem Escolas. Rio de Janeiro: Vozes,
1973.
Introdução
É fato que se vive hoje em sociedades cuja marca
fundamental é a diversidade de valores e horizontes
interpretativos. A diversidade cultural e de perspectivas
hermenêuticas nos põe diante de um quadro teórico, que tem
como marca a pluralidade e a provisoriedade de perspectivas,
e que se pergunta como é possível conviver harmoniosamente
se os valores são tão díspares. A pergunta que emerge diante de
tal realidade é esta: quais valores irão ser o substrato que darão
normatividade às configurações históricas intersubjetivas? A
partir de quais valores iremos pautar nossas configurações/
relações interpessoais? Não dispomos mais de uma moral
unívoca que nos dá um sentido unitário e a partir da qual
pautamos nossas relações. Ao que no mundo antigo cabia à
religião e à ética dar regras de conduta, hoje cabe ao direito
essa tarefa. Em sociedades complexas como a nossa, cabe ao
Direito, através do monopólio estatal, solucionar a carência de
normatividade. Isso se dá por meio da prescrição de condutas,
que combinam legalidade e exercício legítimo do poder
(MOREIRA, 2004, p. 177). Isso é o resultado das conquistas
advindas com a democracia moderna. O que se pergunta é se
isso é suficiente, ou seja, basta ao Estado, mediante a ameaça
de sanção, garantir a prescrição pelo uso da força? Um Estado
que pauta sua conduta pelo puro uso da força não estaria
condenado a extinguir-se justamente porque não encontra
Introdução
Desde sua publicação, em 1982, a obra Uma Voz Diferente,
da psicóloga norte-americana Carol Gilligan1, suscitou grande
interesse entre teóricos de diversas áreas de conhecimento,
sobretudo entre aqueles que se ocupam dos estudos de
gênero. Na obra, a autora apresenta os princípios da sua ética
do cuidado, bem como defende a tese de que mulheres e
homens alcançariam graus diferenciados de maturidade moral
percorrendo caminhos diversos. Ao sustentar tal tese, Carol
Gilligan está colocando em questão a pretensão à universalidade
da teoria do desenvolvimento moral do psicólogo e filósofo
Lawrence Kohlberg, de quem foi aluna e colaboradora. Assim
sendo, mesmo não tendo formação filosófica sistematizada,
mesmo tendo construído sua teoria a partir da observação
empírica, a crítica de Gilligan ao modelo de Kohlberg pode ser
vista como uma contribuição importante para a discussão ética
contemporânea, uma vez que contesta o ainda predominante
paradigma da moralidade autônoma, que vincula maturidade
Referências
BENHABIB, S. O outro generalizado e o outro concreto:
a controvérsia Kohlberg-Gilligan e a teoria feminista. In:
Feminismo como crítica da Modernidade. Rio de Janeiro: Rosa
dos Tempos, 1987, p. 87-106.
Introdução
O texto apresenta as reflexões de Hannah Arendt e Gianni
Vattimo, levando em consideração o panorama do pensamento
político do século XX para o qual se demonstraram os esforços
teóricos de enfrentamento de toda e qualquer pretensão
totalitária. Desse modo, o totalitarismo figura como um fenômeno
antipolítico e violento, que impulsionou muitos pensadores
a concentrarem suas reflexões sobre as questões políticas.
Arendt e Vattimo se inserem nessa constelação, considerando
que Política e Filosofia são dois âmbitos intransponíveis para
a compreensão crítica do existente e, por isso, devem ser
pensadas com base na efetivação da emancipação humana.
Tanto Hannah Arendt quanto Gianni Vattimo, para além
das diferenças, se esforçaram para fazer valer as razões
políticas em detrimento das econômicas que, na sociedade
capitalista globalizada, o aspecto econômico se sobrepôs à
dimensão da politicidade que deve configurar uma sociedade
(democrática), organizada politicamente em função de garantir
o espaço público e, especialmente, a prática da liberdade e
consequentemente a efetivação da emancipação, não mais a
imposição arbitrária de ‘verdades’ absolutas tampouco como
um metarelato, que na história assumiu caráter totalitário.
Ora, a crítica da metafísica, da verdade absoluta como
algo privilegiado de um grupo que conduziria a anulação da
pluralidade, da diferença e da esfera pública são os pontos de
interseção entre ambos. A concepção arendtiana de política e
as reflexões sobre política de Vattimo repelem frontalmente
3 Esse tema, que aglutina política e liberdade em Hannah Arendt, é por ela
discutido ao longo de sua obra e ganha ressonância em grande parte de seus
comentadores de tal monta que não podemos considerar esse par conceitual,
entendido como cooriginário, como um assunto de segunda ordem. Pelo
contrário, revela o alicerce do que Arendt vai propor como política e, nesse
sentido, se distanciar do que se tinha feito até então. Ela reforça esse
argumento quando assevera que “Somente na liberdade de falarmos uns com
os outros é que surge, totalmente objetivo e visível desde todos os lados, o
mundo sobre o que se fala [...] A liberdade de partir e começar algo novo
e inaudito [...] a liberdade de interagir oralmente com muitos outros e
experimentar a diversidade que é a totalidade do mundo – com toda certeza
não era e não é o objetivo da política, isto é, algo que possa ser alcançado
por meios políticos,mas, ao contrário, a substância e o significado de tudo
que é político. Nesse sentido, política e liberdade são idênticas”. (ARENDT,
2010, p. 35)
118). Temos, pois, no espaço público via deliberação e cultivo do espírito das
revoluções a melhor resistência via lexis e práxis.
Introdução
Hannah Arendt (1906-1975) é uma das pensadoras mais
festejadas da contemporaneidade, em especial a partir da
publicação de sua obra Origens do Totalitarismo (1951),
no interior da qual reserva ao interlocutor a proposta
de compreender os desígnios e o alcance que os regimes
totalitários operaram na primeira metade do século XX. Este
trabalho reflete, além de uma postura intelectual elevada, a
visão bastante particular da autora acerca dos acontecimentos,
muitos dos quais pessoalmente experimentados por ela.
Afirma Kohn (2013, p. 36) que, para Arendt, o totalitarismo
tornou-se o pano de fundo de seu trabalho porque, ao adentrar no
mundo com o bolchevismo e o hitlerismo, nunca mais o deixou.
O esforço empreendido pela sua obra tem grande relevância
porquanto, na época presente, ganha relevo um estranhamento
pelo mundo público, e, desse modo, “estamos em posição de
sermos arrastados para o mal, como para o inferno; de cair num
espaço vazio […] onde não há nada que nos individualize”.
Este alerta nada tem de exagero ou pieguismo, mas,
ao contrário, exorta de forma lúcida a reflexão acerca da
necessidade de valorização da vida política que, sob mais de
um viés, pode ser alienada e abandonada pelos homens. Sob as
luzes das considerações de Arendt, a liberdade e a política são
termos sinônimos, e, caso o indivíduo encontre-se distante da
Considerações finais
Young-Bruehl (1997, p. 211) traz uma curiosa afirmação
acerca de Origens do Totalitarismo: Arendt gerou este
livro como se fosse um filho seu, e, nesse papel, agiu como
historiadora e cientista política. Uma criação vasta, de
densidade filosófica profunda, realizada por uma pensadora
que não quis ser qualificada como filósofa. A culminação de
seu esforço de compreensão foi marcado com um poema curto:
“Os pensamentos vêm a mim./ Eu não sou mais uma estranha
para eles./ Eu cresço neles como num lugar,/ Como num campo
arado”.
A tarefa de compreender a ruptura e a inovação que o
totalitarismo significou, a um só tempo, leva o intérprete a
encontrar um campo arado, onde é possível depositar suas
próprias considerações e, a partir delas, colher os frutos para a
compreensão de seu próprio contexto. A liberdade e a política
são sempre ameaçadas, e vislumbrar os modos pelos quais
podem ser fundamentadas, em especial em sinonímia, é uma
notável conquista.
A ação humana é o ato de trazer para o mundo algo que
antes não existia. Esta é a noção máxima da identificação do
Referências
AGUIAR, Odílio Alves. Injustiça e banalidade do mal em Hannah
Arendt. In: ASSAI, José Henrique Sousa; SILVA, Ricardo George de
Araújo; MAIA, Antonio Glaudenir Brasil (Org.) Filosofia Política:
emancipação e espaço público. Curitiba: Juruá Editora, 2013.
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ação, São Paulo, SP, ano 30, n. 1, p. 11-24, 2007.
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ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo: antissemitismo,
imperialismo, totalitarismo. Tradução de Roberto Raposo. São
Paulo: Companhia das Letras, 2012.
______. A promessa da política. Organização e introdução de
Jerome Kohn e tradução de Pedro Jorgensen Jr. 3. ed. Rio de
Janeiro: Difel, 2013.
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Barbosa. 7. ed. São Paulo: Perspectiva, 2014.
______. A condição humana. Tradução de Roberto Raposo. 10.
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______. A dignidade da política: ensaios e conferências.
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e outros. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1993.
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