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Para: Memória Social: questões teóricas e metodológicas

Série Memória e Patrimônio, 5 - 2013


Org. por Cleusa Graebin e Nadia W. Santos

Estratégias memoriais na sociedade contemporânea


Zilá Bernd

Pensar o esquecimento não como o


oposto ou como a perda da memória, mas como uma função que faz
parte da faculdade humana da memória. Tratar-se-ia, portanto, de
pensar o esquecimento como parte de uma economia global da memória
a ser articulada como uma dialética “esquecimento-e-memória”.
Walter Moser, 2009: 19.

Introdução

A partir de três estudos clássicos sobre memória: os lugares de memória (Pierre


Nora); os quadros e atores sociais da memória (Maurice Halbwachs) e a emergência
das noções de dever e abusos de memória, perdão e anistia (Paul Ricoeur), o artigo
busca avaliar a fecundidade da abordagem multi, inter e transdisciplinar de Memória
Social no âmbito das sociedades contemporâneas, com ênfase para a importância do
resgate dos vestígios (resíduos, rastros, fragmentos, traços) do passado que permitem
iluminar nosso presente, como ensina Walter Benjamin, figura fulcral nos estudos
sobre Memória.

As questões associadas à Memória constituem-se em fundamento de várias


disciplinas como Hístória, Patrimônio, Literatura, Psicanálise, Psicologia,
Antropologia, Museologia, mas também de estudos sobre a moda, as práticas
alimentares, a genealogia e os álbuns de família, entre tantas outras em que faz-se
imperativo reexaminar o passado para melhor entender o presente. Logo, no que
concerne às questões ligadas ao identitário, seja individual ou coletivo, a Memória é

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também essencial, pois como afirmar-se como indivíduo ou como cidadão – ou seja
como trabalhar a identidade individual ou nacional - sem conhecer a trajetória de
seus ancestrais ou os mitos, lendas e narrativas da comunidade em que se está
inserido?
Partimos, no âmbito do presente artigo, de uma concepção de memória como
processo, em movimento constante de construção/desconstrução. Como processo,
memória não é, portanto, um objetivo a ser atingido, nem uma totalidade a ser
alcançada, mas algo que se persegue e que se atinge sempre de forma fragmentária,
inacabada, algo que se situa em um espaço intervalar entre memória e esquecimento.
Como referimos em epígrafe, memória não está em oposição binária a
esquecimento. O esquecimento é uma necessidade operacional da memória como tão
belamente foi demonstrado por Jorge Luis Borges no conto “Funes, o memorioso”,
em que o personagem principal que dá nome ao conto, depois de um acidente, torna-
se possuidor de uma memória sem limites. Não esquecer nunca de nada torna-se
para Funes uma desgraça, pois, o acúmulo de conhecimentos em seus mínimos
detalhes faz com que ele não possa mais raciocinar nem produzir conhecimentos
novos. “Minha memória, senhor, é como um monte de lixo.” (BORGES, 2005, p.
105) Fica, através dessa genial metáfora do indivíduo que não esquece nada,
comprovada a necessidade do esquecimento para a sanidade mental e também para
lembrar e, sobretudo para imaginar: “Pensar é esquecer diferenças, é generalizar,
abstrair. No mundo entulhado de Funes não havia senão detalhes, quase imediatos”
(BORGES, 2005, p. 108).
Esquecer para lembrar é o título do último volume das memórias poéticas de
Carlos Drummond de Andrade, iniciadas com Boi tempo e seguidas de Menino
antigo. Nenhum dos poemas dessa antologia tem por título Esquecer para lembrar,
mas parece que, ao finalizar sua autobiografia poética, a lição que tira desse exercício
de rememoração é que, por contraditório que possa parecer, para lembrar é preciso
esquecer, é preciso que a lembrança se atualize em percepção, como nos ensina
Henri Bergson, em Matière et mémoire.
Pode-se depreender a partir dessas considerações iniciais que a Memória não é
propriamente uma disciplina, mas um vasto campo interdisciplinar. Sua abordagem

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requer, portanto, que se adote uma perspectiva inter e ou transdisciplinar. Jô Gondar
(2005, p. 14) ressalta que o conceito de Memória Social vem “sendo trabalhado por
disciplinas distintas”. Diferentemente da multidisciplinaridade em que várias
disciplinas são convocadas para dar conta de um determinado objeto, na perspectiva
interdisciplinar os discursos a cerca de um referido objeto são postos em diálogo,
buscando-se basicamente chegar a um consenso. Salienta a pesquisadora que, nos
estudos da Memória, seria a perspectiva transdisciplinar a mais rica, pois ela “não
toma a síntese como horizonte” (p. 14), remetendo à ultrapassagem, ao “ir além”.
Como a memória é um conceito que se constrói como processo, é no atravessamento
das disciplinas que regras são desestabilizadas e novos conceitos e práticas
discursivas são criados.
Para Patrick Imbert, que vem se dedicando nos últimos anos a refletir sobre a
multi, inter, trans-culturalidade e/ou disciplinaridade, sendo que é a
transculturalidade que leva em conta relações múltiplas que entram em cena em
qualquer encontro cultural. Só a transculturalidade leva “a uma releitura e a uma
recontextualização das perspectivas” (2012, p. 29), colocando como base da cultura a
relação. O impacto da cultura do outro sobre si e de nossa própria cultura sobre o
outro, dá origem a algo novo que surge da relação com o outro na diversidade. Logo
não apenas as questões ligadas à identidade são relevantes mas também aquelas
atinentes à alteridade e sobretudo ao caráter relacional das relações culturais.
O autor relembra que o multiculturalismo prevê o reconhecimento da
permanência de uma ordem, enquanto o transculturalismo visa “a recomposição do
mundo no reconhecimento das exclusões cometidas pela dominação tanto dos mitos
das origens quanto do mito do progresso” (Imbert, 2012, p. 27).

Três problemáticas sobre a memória:

1. Lugares de Memória

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Pierre Nora (1931-) está associado à expressão “lugar de memória” que se
celebrizou e é usada muitas vezes em palestras e artigos de forma equivocada. Para o
autor, que notabilizou-se pela organização de um monumental compêndio coletivo
intitulado Les lieux de mémoire (Gallimard, 1984, em 2 volumes de mais de 800
páginas cada um), a noção de “lugares de memória” é um tanto negativa senão
pessimista, pois parte da tese de que a necessidade que temos hoje de falar em
memória, origina-se do fato de que ela não mais existe em nossas sociedades. O
texto que ora citamos é a introdução a essa obra em tradução para o português e
publicado na revista Projeto História, em 1993.
“Há locais de memória porque não há mais meios de memória” (Nora, 1993, p.
7). Tal afirmação um tanto bombástica, precisamos admitir, pressupõe o fim da
“história-memória”, de onde a tendência à cristalização da memória em
lugares/locais (como museus, monumentos, memoriais, mausoléus, etc.). Entende
que a globalização determinou o fim das sociedades-memória que asseguravam a
conservação e a transmissão de valores. A razão de criarem-se lugares de memória é
a de imortalizar o tempo (embalsamar o corpo de um herói, por exemplo) ou seja
fazer parar o tempo, bloqueando o trabalho do esquecimento, ou seja, no dizer de
Nora “imortalizar a morte, materializar o imaterial”. Se habitássemos nossa memória
não haveria necessidade de criar lugares específicos para que a comunidade não
esqueça determinadas figuras ou determinados fatos históricos. Museus, arquivos,
cemitérios, coleções, aniversários, tratados, santuários, etc. são, para Nora, lugares de
memória que ele percebe como restos, ou seja, vestígios memoriais a evocar uma
memória compartilhada que tende a desaparecer na sociedades contemporâneas.
De acordo com o autor haveria três tipos de lugares de memória: material,
simbólico e funcional os quais podem existir de modo simultâneo: “mesmo um lugar
de aparência puramente material, como um depósito de arquivos, só é lugar de
memória se a imaginação o investe de uma aura simbólica. Mesmo um lugar
puramente funcional como um manual de aula, um testamento, uma associação de
antigos combatentes, só entra na categoria se for objeto de um ritual. Mesmo um
minuto de silêncio, que parece o exemplo extremo de uma significação simbólica, é

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ao mesmo tempo o recorte material de uma unidade temporal e serve periodicamente
para uma chamada concentrada da lembrança” (Nora, 1993, p. 23-24).
Na verdade, o conceito de Pierre Nora que é constantemente citado, consiste em
um jogo entre a memória e a história, alertando para o fato de que na falta de
intenção de memória, “os lugares de memória serão lugares de história” (p. 14).

2. Memória individual, memória coletiva e memória social

Maurice Halbwachs (1887-1945), discípulo do respeitado sociólogo Émile


Durkheim, considerado o pai da Sociologia, foi um dos pioneiros nos estudos da
memória individual e coletiva. Ele próprio considerou a complexidade de separação
entre uma e outra, no clássico exemplo de um viajante que visita uma cidade
desconhecida e, ao retornar a seu país natal, tenta recompor as lembranças de suas
vivências nessa cidade estrangeira. As lembranças que rememora são fruto de uma
memória individual, pois viajou sozinho, contudo no percurso encontrou com
pessoas que lhe deram informações, visitou museus e outros lugares de memória, leu
livros, portanto, de certa forma, essa memória, associada aos quadros sociais que
compartilhou com demais pessoas, constitui também uma memória coletiva. É
interessante notar também a importância que esse autor dá à memória coletiva, já que
é esse o título de seu livro A memória coletiva, contudo não há uma separação em
capítulos para discorrer sobre memória coletiva e memória individual. Em um
mesmo capítulo, intitulado “Memória individual e coletiva”, tenta abarcar os dois
conceitos, mas confessa que a distinção é impossível (Halbwachs, 2006, p. 29-70).

Nossas lembranças permanecem coletivas e nos são


lembradas por outros, ainda que se trate de eventos em que somente nós
estivemos envolvidos e objetos que somente nós vimos. Isso acontece
porque jamais estamos sós. (2006, p.30)

Lucas Graeff, em verbete para o E-dicionário (2011), apóia sua definição de


Memória coletiva nos estudos de Halbwachs:

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Por memória coletiva, entende-se as interações possíveis
entre as políticas da memória histórica e social concebida como uma
relação de forças que resulta em definições e redefinições do que é
considerado como passado e heranças comuns de um dado grupo ou
classe social – e as lembranças de fatos vividos em comum ou
individualmente. Nesse sentido a Memória coletiva se situa no encontro
entre o individual e o coletivo, entre o psíquico e o social (Graeff,
http://edicionario.unilasalle.edu.br/?s=mem%C3%B3ria+coletiva

Outro aspecto importante a ser retido, no verbete de Lucas Graeff, é o alerta que
ele faz para a grande diferença de enfoque entre Maurice Halbwachs e Henri Bergson
cuja teoria da memória alicerçava-se nas percepções e imagens da consciência,
evacuando os fatos sociais desse processo:

A tese central da obra póstuma de Halbwach, A memória coletiva,


consiste em afirmar que é impossível conceber o problema da evocação e da
lembrança sem considerar os quadros sociais como pontos de referência para a
memória. Os quadros sociais são ´instrumentos utilizados pela memória coletiva
para reconstruir uma imagem do passado, a qual está de acordo em cada época
com a mentalidade predominante da sociedade´ ”. (Halbwachs, 1952, p.40, apud
Graeff)

Se Halbwachs já considerava impossível fazer uma separação estanque entre


Memória individual e coletiva, Jô Gondar em artigo publicado em 2008 na revista
Morpheus, amplia o debate para a noção de Memória social, problematizando sua
separação e sobretudo a oposição entre as três noções. Partindo do princípio de que o
conceito de Memória social é transdisciplinar, a autora percorre vários autores de
diferentes campos do saber como a história cultural (Jacques Le Goff, Roger
Chartier), a psicanálise (Freud) e a filosofia (Castoriadis e Francis Yates) entre
outros, concluindo pela valorização “da memória enquanto relação, para além de
qualquer oposição entre individual e coletivo” (2008).
A autora faz um longo inventário através das teses dos autores citados, indicando
que para J. Le Goff, a designação de memória coletiva era reservada para os povos
de cultura oral, enquanto memória social era utilizada para as comunidades onde a
escrita já havia se fixado. Tal oposição entre memória coletiva e memória social
baseada na ausência ou presença da escrita será questionada por diversos autores.
Ainda seguindo o pensamento de Gondar, em texto de 1938, Lucien Febvre, da

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Escola dos Analles, rejeita a oposição entre indivíduo e sociedade já que o indivíduo
seria sempre o que permitem que ele seja, isto é, o meio social influenciaria de tal
modo os hábitos e os modos de pensar e agir dos indivíduos, que passaria a ter uma
ação determinante.
O artigo de Gondar finaliza com Freud para quem a distinção entre memória
individual e memória social não se aplica. Segundo a autora, Freud privilegia nos
“aparelhos de memória”, a forma pela qual os “traços mnemônicos se constituem, se
distribuem num registro pré-consciente ou inconsciente e se rearranjam segundo
novas circunstâncias” (Gondar, 2008, p.? ). A autora conclui enfatizando que, para
Freud, os traços mnemônicos se constituem na relação com o outro, o que a levará a
pensar a memória como relação que propicia ao indivíduo recordar e, ao mesmo
tempo, reinventar o passado.

3. Dever e abusos da Memória

Não é possível no âmbito de um artigo dar conta da importância para os estudos


da memória da obra de um autor como Paul Ricoeur. Um recorte se impõe e
decidimos retomar sua reflexão sobre um dos temas cruciais da sociedade
contemporânea: dever e abusos (ou excessos) da memória. No artigo “La mémoire
saisie para l´histoire” (A memória apreendida pela história)1, o autor discute a
polêmica causada quando do lançamento de sua obra maior A memória, a história, o
esquecimento que, apesar da boa receptividade, foi criticada sobretudo no que tange
à questão do “dever de memória” (genocídios, Holocausto, guerras coloniais, etc.).
Na verdade esse artigo, publicado na Revista de Letras da UNESP (n. 2, 2003), é a
íntegra da conferência proferida pelo autor por ocasião do surgimento da polêmica,
logo após a publicação do livro (em 2000, em francês e em 2007, em português) e se
constitui em uma espécie de síntese esclarecedora das teses defendidas no livro.
Nele o autor afirma que o tema maior de sua obra-testamento é a questão da
representação do passado através da memória e da história, do ponto de vista da
verdade e não da moral.

1
Os trechos traduzidos do presente artigo (inexistente em português) são de minha autoria.

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Ricoeur, em sua obra-testamento (A memória, a história, o esquecimento),
aborda a polêmica questão do “dever de memória”, que suscita preocupações e
suspeitas, e cuja justificativa última é fazer justiça às vítimas de exclusões, de
perseguições e de extermínio, já que, na maioria das vezes, uma história escrita
pelos vencedores corre o risco de esquecer ou simplesmente deletar episódios
obscuros de sua história, que se constituem, no dizer de Gérard Bouchard, nos nós
de memória de determinadas comunidades.
Para Ricoeur, o papel do historiador é o de entender e não o de julgar ou
reprovar os fatos históricos. Seu discurso (do historiador) vai competir com outros
em circulação na comunidade, como o da ficção e o das utopias, por exemplo.
“Dever de memória significa dever de não esquecer” (2003, p. 25), tendo o papel
de contrapor-se a certas estratégias de esquecimento. A essa altura, Ricoeur
distingue dever de memória do fato de lembrar incessantemente sofrimentos e
humilhações, o que impediria uma determinada comunidade de vislumbrar o
futuro e superar traumas do passado. É interessante a distinção estabelecida pelo
autor entre trabalho de memória e dever de memória. Da associação de ambos
pode surgir o que ele chama de lembrança ativa. Essas reflexões são de vital
importância para se entender, no âmbito da sociedade brasileira, questões como a
da anistia e da lei de cotas, por exemplo.
Com essa ressalva, o autor de A memória, a história e o esquecimento (2000)
espera esclarecer sua posição que foi duramente criticada por intelectuais como
Tzvetan Todorov, para quem reviver a memória de nossos sofrimentos passados
nos impediria de prestar atenção ao sofrimento atual de nossos contemporâneos.
Jacques Le Goff posiciona-se de modo semelhante, afirmando que a memória
coletiva deve servir para libertar os homens e não para mantê-los na condição de
dominados, com os olhos voltados para o passado (Le Goff, 2003).
Todorov, no pequeno e saboroso livro Les abus de la mémoire (primeira
edição 1995), contrapõe o tema dos “abusos de memória” ao do “dever de
memória”. Assim como a memória costuma ser ameaçada pela supressão de
informações (própria dos regimes autoritários), ela também pode ser ameaçada

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pela superabundância de informações. O processo seletivo da memória, está,
portanto, intimamente associado aos processos mnemônicos. Para o autor há um
uso que ele chama de exemplar da memória que consiste em utilizar as
lembranças do passado para iluminar o presente, desligando-se das comemorações
obsessivas do passado, e dos excessos de ressentimento que criam o fenômeno da
vitimização onde cada grupo reclama a si o estatuto de vítima. Conclui afirmando
que: “Tenemos que conservar viva la memoria del pasado: no para pedir una
reparación del daño sufrido sino para estar alerta frente a situaciones nuevas y sin
embargo análogas” (Todorov, 2004, p. 58).

Voltando às reflexões de Paul Ricoeur, lembramos que, em tom conciliatório,


ele evoca o ideal da “Justa memória” que seria um equilíbrio entre o lembrar e o
esquecer. Devemos fazer trabalhar a memória contra o esquecimento por
apagamento profundo dos rastros mnésicos. Nesse sentido, o esquecimento não
seria um auxiliar da memória, mas uma ameaça. Quanto ao “Dever do
esquecimento”, equivaleria a uma amnésia comandada; a memória individual e
coletiva seria privada da salutar crise de identidade que propicia uma
reapropriação do passado e de sua carga traumática. Segundo Ricoeur, em A
memória, a história, o esquecimento, a fronteira entre anistia e amnésia pode ser
preservada graças ao trabalho de memória e do luto, evitando ao grupo vitimado
por experiências traumáticas cair na melancolia. Nesse processo, evocam-se os
acontecimentos traumáticos, saindo deles de forma positiva, podendo encará-los
sem cair no estado patológico da melancolia. O trabalho do luto tem um caráter de
salvação, de cura, logo o esquecimento não deve ser um dever; devemos ser
capazes de lembrar do trauma de forma apaziguada, sem cólera. Na anistia, é
como se a comunidade recebesse uma ordem para esquecer. O esquecimento
deveria acontecer como um desejo, ou seja, ter um caráter opcional. (Ricoeur,
2007, p. 451-462)

Vestígios/rastros memoriais (traces)

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Para abordar a instigante questão dos vestígios memoriais (trace, em francês,
spuren, em alemão), cabe evocar alguns dos principais autores que nos legaram
valiosos estudos sobre esse aspecto relevante da memória. Tais autores nos ajudarão
a perceber “a presença de uma ausência”, definição de vestígios ou rastros dada por
Platão e retomada por Paul Ricoeur (2007, p. 27-39). A erudita reflexão de Paul
Ricoeur sobre rastros parte da célebre metáfora platônica da marca de um sinete na
cera quente. Depois de retirado o sinete, permanece apenas a marca, evocando a
“presença de uma ausência”. A rememoração é, portanto, tratada como um
reconhecimento da impressão deixada por algo que esteve presente e se ausentou ou
foi retirado (no exemplo, o sinete). A partir dessa marca (traço) pode-se recuperar a
forma, o peso e demais características do sinete. No mesmo trecho, cita Marc Bloch,
para quem a história pretende ser “uma ciência dos rastros” (apud Ricoeur, 2007, p.
32). Distingue três empregos da palavra rastro a fim de dissipar possíveis confusões
relativas a seu emprego: a) os rastros com os quais trabalha o historiador, ou seja, o
rastro escrito num suporte material; b) a impressão enquanto afecção na alma (os
afetos) e c) a impressão cerebral, cortical que diz respeito à neurociência.
Depois de Platão outros filósofos da Antiguidade como Tucídides (460 a.c – 396
a.c.) também mencionaram o fato de os acontecimentos deixarem marcas ou ruínas
ao passarem. Já no Cristianismo, Santo Agostinho (534-430), nas Confissões,
preocupa-se com as marcas que o passado – que já não existe – deixou. São imagens
(imagines), rastros (vestigia), impressos no espírito, “rastros como os gravados na
areia, imagem de quem as deixou” (Agostinho, apud Schüler, 2012, p. 159).
Dando um salto de alguns séculos, chegamos ao pensamento do filósofo francês,
Paul Ricoeur, para quem o esquecimento pode significar o apagamento dos rastros,
mas também sua permanência uma vez que as marcas deixadas pelos afetos tendem a
ser duradouras e podem aflorar ao consciente através de associações de ideias e da
memória involuntária que se organiza no nível do subconsciente. Para Freud, “parte
da memória se afunda em nós, bloqueada e censurada, o inconsciente, cofre de que
perdemos a chave, tesouro a que não temos acesso sem o auxílio de especialistas”.
(Schüller, 2012, p. 161)

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Um estudo sobre a noção de rastro/vestígio que não recupere os ensinamentos
seminais de Walter Benjamin não estaria completo. Em muitos de seus textos, o
autor refere-se ao conceito de rastro/resto/detrito como essencial para a compreensão
da modernidade e poder-se-ia dizer que o mesmo está disseminado em toda a sua
obra, culminando em Passagens (2006). É, contudo, em “Sur quelques thèmes
baudelairiens” (2002, p. 147-207) e “A Paris do segundo império em Baudelaire”
(1985, p. 44-122) que podemos seguir melhor seu pensamento sobre o tema. Em “A
Paris do segundo império em Baudelaire” (escrito entre abril de 1937 e setembro de
1938, logo, poucos anos antes de sua morte), o autor parte do célebre poema do poeta
francês C. Baudelaire – “Le vin des chiffoniers” - que recupera a figura do trapeiro,
catador (chiffonier) que percorre as ruas de Paris atrás de detritos, de restos
encontrados no lixo. Baudelaire identifica a sua função de poeta com a do catador:
trapeiro ou poeta o lixo importa aos dois, já que o poeta – como o trapeiro - erra pela
cidade à noite catando restos de rimas. Elementos do submundo e da marginalidade,
fenômenos residuais e de decadência, são transformados em matéria da poesia,
sendo, ao mesmo tempo, precursores de novos tempos e instrumentos para entender
o passado.
Em texto recente, Jaime Ginzburg (2012, p. 107-132) ressalta a atualidade do
pensamento de Benjamin a cerca dos rastros, conceito que se constitui, segundo o
autor, em “uma contribuição produtiva para as ciências humanas” (p. 107). O
pesquisador da USP alerta para a importância do papel do leitor na valorização do
resíduo: ele tem que ser capaz de agir como um detetive, atento à potencialidade
significativa do que foi dito e do que foi silenciado.
O interesse de Benjamin pela fotografia (1985, p. 219-240) está em certa medida
associado à questão do resíduo, pois a fotografia capta uma imagem em um
determinado período da vida de uma pessoa ou grupo, podendo ser interpretada
também como rastro, como captação do efêmero, que permite ao observador, anos
mais tarde, a partir de um pequeno detalhe (um sorriso ou um olhar) recompor um
traço da personalidade do fotografado ou um episódio marcante de sua trajetória.
Permanece como “impressão”, marca do vivido. Velhas fotografias estabelecem
uma conexão entre passado e presente: seguir os rastros, as pistas deixadas por fotos,

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cartas e diários fazem não apenas com que o passado de uma família seja lembrado
como o de toda a comunidade na qual ela está inserida.
Outra fonte indispensável de ser consultada, quando se trata de entender a
questão dos rastros, são as obras da professora e pesquisadora da Unicamp e da PUC-
SP, Jeanne Marie Gagnebin, estudiosa de Walter Benjamin e em particular da
questão dos rastros e restos. Lembramos especialmente, no âmbito do presente
artigo, seu ensaio “O rastro e a cicatriz: metáforas da memória” (2009: 107-118),
bem como a retomada desse ensaio para o coletivo organizado por J. Ginzburg e S.
Seldmayer: “Apagar os rastros, recolher os restos” (IN: SELDMAYER, Sabrina;
GINZBURG, Jaime (orgs.), 2012, p. 27-38).
Em ambos os ensaios, Gagnebin relembra, na esteira de Jean-Pierre Vernant
(1989, p. 70-73), que a etimologia de vestígio ou rastro é sema que significa
igualmente signo, mas originariamente referia-se a túmulo. A luta dos heróis gregos
por serem enterrados e terem um túmulo significava uma luta contra o esquecimento.
Não podia haver castigo mais cruel do que deixar um corpo insepulto, porque, sem
túmulo, desapareceriam os últimos vestígios da passagem de uma pessoa na terra.
A autora lembra ainda um ponto crucial no que se poderia chamar de uma
“teoria dos rastros” - embora Benjamin detestasse as totalizações - que os
restos/detritos não são intencionais do sujeito, são aquilo que “escapa ao controle da
consciência em Freud e da memória voluntária em Proust; rastros involuntários ou
inconscientes de algo que não está explícito” (Gagnegin, 2012:32). Contudo, para
Benjamin o rastro não tem a mesma importância que tinha para Freud, cuja teoria
recolhe os detalhes do subconsciente para chegar à interpretação e à cura, nem para o
detetive para quem a observação das pistas deixadas pelo criminoso servem para
levar à elucidação do crime ou ainda para o caçador que segue as pegadas de um
animal, visando sua captura. Para Benjamin, a importância de rastros, insignificantes
para a maioria, pode levar à valorização de pessoas de menor importância na escala
social sobre as quais não há registros historiográficos, iluminando, assim, a partir de
um outro ponto de vista, aspectos da história descurados pelas elites dominantes.
Essa possibilidade de resgatar elementos que a historiografia oficial deixou de
lado é, na verdade, a grande importância do estudo dos rastros e que levou Benjamin

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a voltar a eles em muitos momentos de sua obra. A literatura migrante no RS
(Moacyr Scliar, Letícia Wierzchowski, José Clemente Pozenato entre outros), ao
não permitir que os rastros de seus antepassados imigrantes pobres, cidadãos
comuns, sejam apagados, encaixa-se na perspectiva benjaminiana de preservar os
detalhes que nos permitem hoje vislumbrar não apenas a vida de um imigrante judeu,
polonês ou italiano, mas o papel que representaram esses estrangeiros recém
chegados ao Novo Mundo. É a valorização da micro-história como contraponto à
História oficial preocupada apenas em glorificar os feitos das camadas dominantes
de uma época. Sabemos que, muitas vezes, é o que está na margem, naquilo com
quem ninguém se preocupa e que foi relegado ao esquecimento, que podem estar
elementos reveladores para a história cultural e/ou para uma história das
sensibilidades.
Outro autor cujo nome é frequentemente associado à questão dos rastros é
Carlo Ginzburg. Em “Raízes de um paradigma indiciário” (2011, p. 143-180), o
autor compara curiosamente Morelli, Sherlock Holmes e Freud, todos interessados
em examinar pormenores negligenciados, baseando suas análises em índices
imperceptíveis. Giovanni Morelli era reconhecido especialista em artes plásticas,
capaz de reconhecer imitações tidas como perfeitas. Em que se baseava o “método
morelliano” do qual os historiadores da arte falam ainda hoje? Não era pelos grandes
traços que ele descobria as falsificações, mas por ínfimos pormenores como os
lóbulos de orelhas, os dedos dos pés, o formato das unhas. O método indiciário de
Morelli foi comparado ao do famoso personagem de Arthur Conan Doyle, Sherlock
Holmes, detetive capaz de decifrar crimes baseado em indícios imperceptíveis para a
maioria, como pegadas na lama, cinzas de cigarro, etc. Os escritos de Morelli
(pseudônimo de Ivan Lermoliev) interessaram Sigmund Freud que julgou seu
método estreitamente aparentado à técnica da psicanálise: “Esta também tem por
hábito penetrar em coisas concretas e ocultas através de elementos pouco notados ou
despercebidos, dos detritos ou refugos da nossa observação” (FREUD. O Moisés de
Michelangelo, 1914, citado por GINZBURG, op. cit.: 147). Segundo Ginzburg, o
que interessou ao jovem doutor Freud nos estudos de Morelli foi “a proposta de um
método interpretativo centrado sobre os resíduos, sobre os dados marginais,

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considerados reveladores. Desse modo, pormenores, considerados sem importância
ou até triviais, ´baixos´, forneciam a chave para aceder aos produtos mais elevados
do espírito humano” (GINZBURG, op.cit.: 150). As pistas infinitesimais eram para
Freud, sintomas, para Sherlock Holmes, indícios e, para Morelli, signos pictóricos.
Do longo e instigante artigo de Carlo Ginzburg – que não nos cabe aqui
comentar na íntegra, restringimo-nos a apontar a enorme repercussão que teve, sendo
citado inclusive por Paul Ricoeur, em A história, a memória, o esquecimento, entre
outros como Jeanne Marie Gagnebin e Jaime Ginzburg. Como acabamos de
mencionar acima, é importante distinguir o interesse pelos indícios e pormenores por
Freud, Morelli ou Sherlock Holmes do interesse de Benjamin que conferia ao
detalhe, ao resto “um papel constitutivo do passado” (GINZBURG, Jaime, 2012:
115).

Memória e pós-memória....

um acontecimento vivido é finito, ou pelo menos


encerrado na esfera do vivido, ao passo que o acontecimento
lembrado é sem limites, porque é apenas uma chave para tudo
o que veio antes e depois.
(BENJAMIN, Walter. A imagem de Proust. 1994: 37)

A Memória está presente tanto em nosso quotidiano quanto no pensamento


filosófico desde as origens até os dias de hoje. Poetas da Antiguidade recorriam às
Musas em busca de inspiração e de informações sobre os acontecimentos cantados
nos longos poemas épicos. As Musas são filhas de Mnemosine - a deusa da
Memória – fruto de sua ligação com Zeus. Entre as Musas está Clio, deusa da
História. A Memória está, pois, ligada à tradição oral da literatura, transmitida de
geração em geração, sendo entendida ao mesmo tempo como retenção de um
conhecimento e como ativadora da imaginação, permitindo que o sujeito que
recorda possa reinventar o acontecido.
Nada somos além daquilo que recordamos: “Somos aquilo que
lembramos”, ensina Norberto Bobbio em O tempo da Memória (1997, p. 30). Se a

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memória é tão importante para a humanidade por que esquecemos tanto? pergunta-
se Ivan Izquierdo em A arte de esquecer (2004). Esquecemos para poder pensar,
“para não enlouquecer, para poder conviver e sobreviver” (2004, texto da contra-
capa).
Alertando sobre a importância e até mesmo sobre o “dever de memória”, a
pesquisadora hispano-americana, Beatriz Sarlo (2007), insiste também nos perigos
dos excessos de memória que podem levar a cisões e até mesmo a guerras. Chama
de pós-memória, a memória da geração seguinte àquela que protagonizou os
acontecimentos, citando o exemplo dos filhos e netos de quem viveu traumas
como os da Shoah. Seria a geração seguinte que narra a memória dos que, por
terem vivido o trauma, não conseguem ou não desejam falar sobre ele. É nesses
casos que se fala também em literatura de testemunho: aquela que testemunha de
forma fragmentária a memória vivida pelos ancestrais do narrador. Embora as
narrativas sejam baseadas não nas memórias de quem as vivenciou, mas na dos
familiares de uma geração passada, e apesar de o produto dessas narrativas ser
lacunar e fragmentário, não se costuma desqualificá-los. Elas não se diferenciam
muito da narrativa de quem experienciou acontecimentos trágicos, uma vez que a
rememoração é sempre fragmentar já que trabalha sobre algo que não está mais
presente.
O trabalho da memória é portanto vital: ele está tão associado à vida dos
indivíduos em sociedade, que se torna nuclear na vida comunitária, determinando a
constituição da subjetividade. O trabalho da memória social viabiliza a sensação
de pertença do indivíduo a uma determinada comunidade. Pertencer a uma
comunidade significa (com)partilhar memórias, comemorar (= lembrar com) as
mesmas festas e seguir os mesmos rituais que nada mais são do que reatualizações
de acontecimentos de anos e até de séculos passados que sobrevivem nos dias de
hoje graças à capacidade humana de lembrar e de agenciar vestígios memoriais.

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Zilá Bernd
É professora titular aposentada do Instituto de Letras da UFRGS. É docente
convidada do PPG-Letras/UFRGS e permanente do Mestrado em Memória Social e
Bens Culturais do Unilasalle/Canoas-RS. É doutora em Letras pela USP com pós-
doutorado na Université de Montreal, em Literatura Comparada. É editora assistente
da Revista Interfaces Brasil-Canadá e presidente pro tempore da Abecan (2012-
2013). Tem Bolsa PQ do CNPq (2011-2015). Publicou, entre outros, o Dicionário de
mobilidades culturais; percursos americanos (Literalis, 2010) e Tributo a Moacyr
Scliar (PUCRS, 2012), em colaboração com Maria Eunice Moreira e Ana Maria L.
de Mello.

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