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Kraybill nasceu
em 1946. É autor, palestrante
e especialista na Fé e Cultura
Anabatista. Kraybill é
amplamente reconhecido
por seus estudos sobre os
Anabatistas, mas sua maior
especialidade é na cultura Amish.
Kraybill é Professor
sobre Cultura Anabatista
na Elizabethtown College,
Pensylvania, onde já liderou o
Departamento de Trabalho Social
e de Sociologia de 1979 a 1985.
Ele também foi diretor
administrativo da Messiah
College de 1996 a 2002,
antes de retornar para
Elizabeth College em 2003.
0 REINO
DE PONTA
CABECA
lâjesuscopy®
O REINO DE PONTA CABEÇA
Donald B. Kraybill
SUMÁRIO
PREFÁCIO DA VERSÃO EM INGLÊS 5
POLÍTICA DA MONTANHA 41
A PIEDADE DO TEMPLO 75
PÃO DO DESERTO 97
NOTAS 375
PREFACIO DA
VERSÃO EM INGLÊS
5
DONALD B. KRAYBILL
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0 REINO ΟΕ PONTA CABEÇA
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DONALD B. KRAYBILL
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0 REINO DE PONTA CABEÇA
Graças a Deus.
Donald B. Kraybill
Elizabethtown, Pennsylvania
April 2003
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0 REINO DE PONTA CABEÇA
PREFÁCIO DA VERSÃO
EM PORTUGUÊS
π
DONALD B. KRAYBIU
Boa leitura.
Douglas Gonçalves
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0 REINO DE PONTA CABEÇA
M ontanhas planas
Voz do que clama no deserto:
Preparai o caminho do Senhor;
Endireitai as suas veredas.
Todo o vale se encherá,
E se abaixará todo o monte e outeiro;
E o que é tortuoso se endireitará,
E os caminhos escabrosos se aplanarão;
E toda a carne verá a salvação de Deus.
(Lc. 3:4-6)
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0 REINO DE PONTA CABECA
Um reino invertido
O tema central no ministério e no ensino de Jesus é o rei-
no de Deus, ou como Mateus chama: o reino dos céus. Essa
ideia chave amarra toda a mensagem. O “reino de Deus”
permeia o ministério de Jesus, dando coerência e clareza a
ele. Esse é o coração inquestionável, a própria essência da
Sua vida e ensino1.
O que Jesus quis dizer quando anunciou a vinda do rei-
no de Deus? Seus companheiros judeus esperavam um reino
político que protegeria e preservaria a fé judaica. Ao longo
dos séculos, estudiosos, teólogos e igrejas desenvolveram
visões diferentes. Debates ao longo dos século agiram em
torno do que Jesus quis dizer.
Nas páginas a seguir, iremos explorar como o reino de Deus
aponta para um estilo de vida invertido, de ponta-cabeça, que
desafia a ordem social predominante. Ele certamente desafia
os antigos padrões da sociedade palestina e faz o mesmo com
nosso mundo hoje. Podemos perceber a ideia de inversão pen-
sando em duas escadas lado a lado —uma representando o
reino de Deus, e outra o reino desse mundo2. Uma relação
inversa entre essas duas escadas significa que algo muito valo-
rizado, colocado em um degrau elevado em uma escada, cias-
sifica-se bem embaixo na outra. Encontramos essa inversão no
refrão de uma música da escola dominical, em que a chuva e a
enchente se movem em direção opostas:
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0 REINO DE PONTA CABEÇA
Um reino relacional
O que exatamente é o reino de Deus? O termo desafia a
definição porque carrega dentro de si muitos diferentes sig-
nificados. Isso, na verdade, é a sua genialidade —esse poder
de estimular nossa imaginação vez após vez.
Em linhas gerais, a maioria dos estudiosos bíblicos con-
corda que o “reino de Deus” significa o reinado ou domínio
dinâmico de Deus. O reino envolve as intenções de Deus, a
autoridade e o poder de governo. Não se refere a um território
ou local específico. Não é algo estático. Ele é dinâmico - sem-
pre vindo, se espalhando e crescendo1. O reino não aponta
para um lugar de Deus, mas para as atividades de governo
de Deus. Não é um reino no céu, mas do céu —um reino que
prospera aqui e agora. O reino aparece onde quer que homens
e mulheres submetam suas vidas à vontade de Deus.
Ele significa mais do que Deus governando no coração
das pessoas, mais do que um sentimento místico. A própria
palavra reino implica em uma ordem coletiva além da expe-
riência de qualquer pessoa. Um reino em seu sentido lite-
ral significa que um rei governa sobre um grupo de pessoas.
Acordos ditam as obrigações que os cidadãos têm uns para
com os outros e para com o seu rei. A atividade de governo
do rei transforma as vidas e relacionamentos de seus súditos.
Nas palavras de um estudioso, “O reino é algo em que as
pessoas entram, não algo que entra nelas. E um estado de
relações, não um estado de mente”5.
O viver no reino é fundamentalmente social. Envolve ser
membro, envolve cidadania, lealdade e identidade. Cidada-
nia em um reino acarreta relacionamentos, políticas, obri-
gações, fronteiras e expectativas. Essas dimensões da vida
no reino ultrapassam os caprichos da experiência individual.
Ser um membro do reino esclarece uma relação do cidadão
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J e s u s m o r a v a e m u m p e q u e n o v ila r e jo r u r a l, sé c u lo s a n -
te s d e c o m p u ta d o r e s , I n t e r n e t , ro b ô s , s a té lite s , a r m a s n u d e -
are s e e m p r e s a s m u ltin a c io n a is . D e a c o rd o c o m esse s in a l d e
d e s v io , a é tic a d o r e in o p o d e f u n c io n a r e m p e q u e n o s v ila re -
jo s o n d e S im ã o c o n h e c e M a r ta — e m p e q u e n a s c o m u n id a d e s
o n d e é p o s s ív e l a m a r os in im ig o s e p e r d o a r o v iz in h o - m a s,
n ã o h o je . A v id a n o r e in o p o d e r ia s e r a d e q u a d a p a r a s im p le s
p a s to r e s e c a m p o n e s e s , m a s n ã o p a r a n ó s. O e n s in a m e n to d e
J e s u s , d e a c o rd o c o m esse d e s v io , e s tá p re s o a u m a p ito re s c a
c u l t u r a r u r a l, m u i to s s é c u lo s d i s t a n t e s d o m u n d o te c n o ló -
g ic o d e a r m a s la s e r e c o m u n ic a ç ã o s e m fio. C e r ta m e n te n ão
p o d e m o s tr a z e r n e n h u m a p e r c e p ç ã o , m u i t o m e n o s a é tic a
d e sse s a n tig o s c a m in h o s e m p o e ir a d o s p a r a n o sso m u n d o d i-
g i t a l a tu a l.
D e a c o rd o c o m e ssa a d v e r tê n c ia , p o d e m o s e s tu d a r as
E s c r itu r a s p a r a a p r e n d e r s o b re é tic a b íb lic a n o s te m p o s d o
N o v o T e s ta m e n to , m a s n ã o d e v e m o s a r r a s tá - la p e lo s sé c u lo s
e a p lic á - la a n o ssa s v id a s . A d if e r e n ç a é m u i t o g r a n d e . E sse
d e s v io n o s d iz p a r a c r ia r m o s n o s s a p r ó p r ia é tic a c r is tã d o
ze ro . E le n o s fa la p a r a f u n d a m e n t á - l a n o b o m se n so p o r q u e
o s a n tig o s e n s in a m e n to s b íb lic o s n ã o fa z e m s e n tid o e m n o s-
so m u n d o c o m p lic a d o - e le s são s im p le s m e n te irre le v a n te s .
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DONALD B. KRAYBILL
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0 REINO DE PONTA CABEÇA
O te r c e ir o d e s v io n o s a d v e r te q u e J e s u s b r in c o u ao p e n -
sa r q u e o m u n d o t e r m i n a r ia e m b re v e . A s s im , t u d o q u e E le
d is s e d e v e s e r v is to c o m u m a p i t a d a d e c a u te la , se E le d e fa to
s u p u n h a q u e o m u n d o e s ta v a p r e s te s a e n t r a r e m co la p so .
Isso n ã o a c o n te c e u e e n tã o , d e a c o rd o c o m esse d e s v io , n ão
p o d e m o s a p lic a r S e u s e n s in a m e n to s s o b re o fim d o m u n d o
à n o ssa s itu a ç ã o .
E ssa v is ã o r e g u l a o c a r á t e r r a d ic a l d a v id a d e J e s u s . E s-
p e r a n d o q u e o m u n d o a c a b a s s e e m p o u c o s a n o s , E le o fe-
r e c e u d i r e t r i z e s t e m p o r á r i a s p a r a se v iv e r. E la s e r a m a p li-
c á v e is a p e n a s a o b r e v e i n t e r v a lo d e t e m p o e à c h e g a d a d o
r e in o . S e v o c ê e s p e r a q u e 0 m u n d o a c a b e e o r e in o ir r o m p a
a q u a lq u e r m o m e n to , você p o d e a m a r seu s in im ig o s e d a r
o s e u m a n t o . D e a c o r d o c o m e ssa i n t e r p r e t a ç ã o , os e n s in a -
m e n t o s “t e m p o r á r i o s ” d e J e s u s sã o ir r e le v a n te s p a r a re la -
ç õ e s s o c ia is d u r a d o u r a s .
A lg u n s e s tu d io s o s a c r e d ita m q u e J e s u s e s p e ra v a a c o n s u -
m a ç ã o fin al d o r e in o d u r a n t e S u a p r ó p r ia v id a 9. E m M a te u s
1 0 :2 3 , p o r e x e m p lo , J e s u s d iz à q u e le s a q u e m e s tá e n v ia n d o
q u e “E u lh e s g a r a n t o q u e v o cê s n ã o te r ã o p e r c o r r id o to d a s as
c id a d e s d e Is ra e l a n te s q u e v e n h a o F ilh o d o h o m e m . M a te u s
1 0 : 2 3 ” . E m L u c a s 9 : 2 7 , d e p o is d e fa la r c o m os d is c íp u lo s
s o b re a c r u z , J e s u s d iz “G a r a n to - lh e s q u e a lg u n s q u e a q u i
se a c h a m d e m o d o n e n h u m e x p e r im e n ta r ã o a m o r te a n te s
d e v e r e m o R e in o d e D e u s L u c a s 9 : 2 7 ” . E ssas e o u tr a s p as-
s a g e n s s u g e r e m q u e J e s u s e s p e ra v a q u e 0 r e in o v ie sse lo g o .
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II I
inn
1 ווו
in 1
CAPÍTULO 2
POLÍTICA
DA MONTANHA
0 REINO DE PONTA CABEÇA
A rmadilhas triplas
s escritores dos evangelhos sinóticos relatam que rrês
opções do lado direito seduziram Jesus antes que Ele
lançasse o reino de ponta-cabeça. Sua tentação tripla foi uma
provação de quarenta dias. O número quarenta representa
prova e opressão na história hebraica. O dilúvio durou qua-
renta dias e quarenta noites e os hebreus andaram pelo de-
serto por quarenta anos. Moisés ficou em cima da montanha
por quarenta dias e quarenta noites e Golias provocou os
israelitas pela mesma quantidade de tempo. Independente-
mente do número real de dias, o número quarenta assinalou
escolhas dolorosas para Jesus.
Cinco símbolos-chave na história da tentação ajudam
a desvendar o seu significado: o pão, o diabo, o deserto, a
montanha e o templo1. Cada símbolo recorda episódios-cha-
ve na história hebraica. O diabo, a ameaça à santidade, leva
as coisas à total ruína. Os israelitas enfrentaram muitas ten-
tações no árido deserto, onde comeram pão do céu (maná).
Deus revelou os Dez Mandamentos a eles em uma alta mon-
tanha; e, finalmente, Deus habitava no santo templo.
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DONALD B- KRAYBILL
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0 HEIN□ ΟΕ PONTA CABECA
J esus, 0 G rande
De acordo com Mateus (4:8), o cenário para a tentação
política era “uma montanha muito alta” onde “todos os rei-
nos do mundo e o seu esplendor” foram oferecidos a Jesus.
Essa era a chance de Jesus para ser o novo Alexandre, O
Grande, sua oportunidade de exercer poder político sobre
todo o vasto mundo mediterrâneo. Outra vez Israel seria su-
premo, uma luz e um poder para todas as nações. A vingança
de Deus viría sobre os impérios do Oriente Médio. O eixo
de autoridade e influência mundiais mudaria de Roma para
Jerusalém. César não podería mais tributar e insultar os ju-
deus, pois o próprio Cesar serviría a Israel.
Do alto daquela montanha Jesus podia ver a Si mesmo
exercendo extraordinário poder político. Ele não apenas go-
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0 REINO DE PONTA CABECA
06 Arquelau deposto
06 Controle Romano direto
(Procurador)
06 Impostos Romanos
25- 28 Ministério de Jesus
Era Comum 26- 30 Pôncio Pilatos
(EC / dC) 66-70 Levante geral e revolta
70 Romadestrói o templo e
Jerusalém
132 Revolta de Bar Kochba
135 Destruição romanade
Jerusalém
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0 Louco
Em 198 aC a Síria capturou o reino judeu dos egípcios.
Em torno de 175 aC, o rei sírio Antíoco IV chegou ao poder
e causou mais danos aos judeus. Apelidado de “O Louco”,
ele se chamava de “o ilustre”. Ele se chamava “Epifânio”,
significando Deus encarnado!
O rei sírio prontamente estabeleceu políticas para dou-
trinar os judeus à vida grega. A cultura estrangeira grega
brotou em Jerusalém, incluindo a construção de um giná-
sio para treinamento atlético. Jovens homens judeus foram
constrangidos por sua circuncisão, que foi abertamente reve-
lada nas competições nuas que ocorriam no ginásio. Alguns
foram submetidos a operações para esconder sua circuncisão.
Eles também usavam roupas gregas, particularmente um
elegante chapéu de aba larga associado ao deus Hermes.
O judeu, escritor de II Macabeus (4:14) lamenta que até
os sacerdotes judeus tenham abandonado suas responsabili-
dades sagradas para assistir a eventos esportivos —luta livre,
lançamento de discos e corridas de cavalo. A língua grega se
tornou popular em Jerusalém. Todas essas atividades ameaça-
vam a identidade e a herança judaica. Os hebreus resistiram à
helenização, mas não conseguiram deter as agressivas táticas
do louco, Antíoco IV, para acabar com a cultura hebraica.
Duas vezes o louco sírio saqueou o tesouro judeu para
financiar sua atividade de guerra. Ele levou preciosos móveis
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0 REINO DE PONTA CABEÇA
im p o s to s c o m u n itá r io s , im p o s to d a c o ro a;
im p o s to d o t e m p lo , p a r a n ã o fa la r d o d ir e i t o
s o b e r a n o d e a p r e e n d e r o g a d o e as lo ja s e m
n o m e d a c o n s c riç ã o m i l i t a r - t u d o isso fo -
m e n to u a g ita ç ã o 6.
E m b o r a os s u m o s s a c e rd o te s e a lg u n s d o p o v o te n h a m re -
c e b id o a c u l t u r a g r e g a , u m p e q u e n o g r u p o d e ju d e u s t r a d i -
c io n a is r e s s e n tiu - s e d a in flu ê n c ia e s tr a n g e ir a . E s te e le m e n to
c o n s e rv a d o r, os H a s s íd ic o s ( q u e s ig n ific a p ie d o s o ), p r o te s ta -
v a c o n tr a a a c e ita ç ã o ju d a ic a d a c u l t u r a g r e g a . P o r é m , eles
n ã o se re v o lta v a m c o n tr a as p o lític a s d o lo u c o . A lg u n s o u -
tr o s ju d e u s , e n t r e t a n t o , p e n s a v a m q u e d e v e r ía m l u t a r p o r
s u a c u l t u r a , a d o ra ç ã o e i d e n t i d a d e p a r a s o b re v iv e re m a q u i
e m s u a te r r a n a ta l. E les e r a m c o n h e c id o s c o m o M a c a b e u s.
OS MARTELADORES
A re b e liã o v e io n o c a m p o . U m a n t i g o s a c e rd o te c h a m a -
d o M a ta tia s e se u s c in c o filh o s m o ra v a m e m u m a p e q u e n a
a ld e ia c e rc a d e t r i n t a q u ilô m e tr o s a n o ro e s te d e J e r u s a lé m .
Q u a n d o u m d o s in s p e to r e s d o re i e n tr o u n a a ld e ia p a r a for-
ç a r os ju d e u s a o fe re c e re m s a c rifíc io s p a g ã o s , M a ta tia s se
re c u s o u . E le m a to u o in s p e to r. C h a m a n d o to d o s q u e e ra m
z e lo so s e m s e g u ir a le i, p a i e filh o s f u g ir a m p a r a as c a v e rn a s
n a e n c o s ta . L á, os ju d e u s H a s s íd ic o s , d is p o s to s a f in a lm e n te
l u t a r p a r a liv r a r a te r r a d a m ã o d o s s írio s , se ju n ta r a m a eles.
D a s u a b a se n o d e s e r to , os re b e ld e s ju d e u s a ta c a v a m d ir e -
t a m e n t e e d i r i g i a m c a m p a n h a s p e la s a ld e ia s p a r a d e s t r u i r
a lta r e s p a g ã o s e p e r s e g u ir ju d e u s a p ó s ta ta s .
E m u m a o ca siã o , a lg u n s re b e ld e s , p o r re s p e ito ao sá b a d o ,
se re c u sa ra m a re ta lia r as tro p a s sírias. O s re b e ld e s fo ra m a ta -
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סREINO OE PONTA CABEÇA
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0 R EW Q D E PONTA CABEÇA
G rande H erodes
Em 37 aC, Herodes, o Grande, um judeu, chegou ao po-
der na palestina como um fantoche romano. Um símbolo
da tirania opressiva, ele governou até a sua morte em 4 aC,
pouco depois do nascimento de Jesus. Ele segurava firme
as rédeas do reino sobre o povo, contratando soldados es-
trangeiros, construindo fortalezas e orquestrando uma rede
de informantes secretos. Este Herodes consultou homens
sábios, e então matou todos os meninos em Belém, porque
estava assustado com a perspectiva de um novo rei.
Sob o reino de Herodes, o território da palestina quase
dobrou. Ele atingiu um delicado equilíbrio entre o poder
romano e o nacionalismo judeu. Ele só conseguia manter sua
coroa enquanto pudesse agradar o imperador em Roma. He-
rodes não tinha que pagar impostos a Roma, mas era obriga-
do a enviar tropas em tempo de guerra. Ele podería manter
seu próprio exército, desde que não representasse ameaça ao
império. Acima de tudo, ele deveria manter a paz e governar
com eficiência.
O traço marcante do reinado de trinta e três anos de He-
rodes foi um extravagante programa de construção. Embora
ele não tenha forçado a cultura grega aos judeus, a arquite-
tura de Herodes seguiu os padrões romanos. Ele construiu
templos, ginásios, claustros, aquedutos e anfiteatros em
grande escala. Ele construiu várias novas cidades incluindo
Cesaréia, com seu porto artificial na costa do Mediterrâneo.
Fortalezas e palácios surgiram por todo interior. Grandes
projetos de construção incluindo templos pagãos, também
foram realizados nas terras dos gentios de Sidom, Tiro, Ni-
cópolis, Esparta e Atenas, apenas para citar algumas.
Como Herodes provavelmente tinha algum ancestral
gentio, os líderes judeus nunca confiaram plenamente nele.
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0 REINO DE PONTA CABEÇA
A LIGAÇÃO ROMANA
Após a sua morte, o reino de Herodes foi dividido em três
partes. Seu filho, Herodes Antipas, governou o distrito da Ga-
lileia a oeste do mar, incluindo a cidade natal de Jesus, Nazaré.
Os dois Herodes são frequentemente confundidos. Herodes,
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DONALO 8 KRAYBILL
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IDUMEIA
DONALD B KRAYBILL
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0 REINO DE PONTA CABEÇA
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0 R E IN O Ο Ε P O N T A C A B E Ç A
TABELA 2.1
TIPOS DE PROTESTOS CAMPONESES NA PALESTINA
Tipo N úm ero Data
Grandes protestos
7 4 aC a 65dC
públicos
Profetas 10 30 aC a 73 dC
Messias 5 4 aC a 70 dC
Grupos de Bandidos 11 47 aC a 69 dC
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0 REINO DE PONTA CABEÇA
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P0NCI0 P1LAT0S
Pôncio Pi latos foi nomeado o quinto procurador romano
da Judeia em 26 dC. Comparado a outros líderes judeus, Pi-
latos aparece neutro em relação a Jesus em alguns relatos do
julgamento de Jesus. Porém, há outro lado de Pilatos —um
lado brutal. Sua administração implacável ofendeu muitas
vezes a sensibilidade judaica.
Pouco depois de assumir o poder, Pilatos ordenou que as
tropas fossem de Cesareia para Jerusalém. Eles entraram na
cidade na calada da noite e colocaram bandeiras que levavam
a imagem do imperador Tibério. Isso violava a lei judai-
ca, que proibia uma imagem na cidade santa. Na manhã
seguinte, as bandeiras idólatras foram descobertas. Judeus
indignados reuniram-se em Cesareia exigindo que as ima-
gens fossem removidas. No sexto dia de manifestação Pi-
latos reuniu a multidão em uma pista de corrida, cercou-os
com soldados e ameaçou matá-los. Quando percebeu que a
multidão preferia morrer a violar sua lei religiosa, ele orde-
nou que as bandeiras ofensivas fossem retiradas.
Em outra ocasião, em Jerusalém, Pilatos dedicou alguns
escudos contendo a inscrição do imperador Tibério. Os lí-
deres judeus que queriam Jerusalém consagrada exclusiva-
mente à adoração de Yahweh ficaram, naturalmente, insul-
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0 REINO DE PONTA CABEÇA
S uicídio em M assada
Após a morte de Jesus, as relações entre judeus e romanos
continuavam a se deteriorar. A crise chegou a tal ponto em
66 dC que o procurador romano, Floro, roubou dezessete
talentos do tesouro do templo. Judeus indignados andaram
por Jerusalém pedindo dinheiro para o “pobre Floro”. Fu-
rioso, Floro enviou seus soldados para saquear a cidade. O
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0 REINO ΟΕ PONTA CABECA
A MONTANHA BAIXA
Embora os judeus pudessem realizar seus sacrifícios
prescritos durante a ocupação romana, havia irritantes
implícitos. Desde a era de Herodes, o Grande, os gover-
nantes contratavam e demitiam os sumos sacerdotes. As-
sim, até o sumo sacerdote era, em última instância, um
fantoche romano. Além disso, o uniforme de oito peças
que o sumo sacerdote usava para simbolizar a essência da
fé judaica era guardado por soldados romanos na Forta-
leza Antônia para evitar possíveis revoltas. Os soldados
entregavam-no ao sumo sacerdote somente nos dias fes-
tivos. Um insulto final era a exigência de um sacrifício
diário, oferecido no templo de Yahweh, em nome do im-
perador romano.
Esse turbulento contexto político formava o cenário do
enfrentamento de Jesus com o diabo no alto daquela mon-
tanha. Revolta revolucionaria enchia os vales. A Palestina
da infância de Jesus não era serena. Ela era um caldeirão de
fervor revolucionário. Apenas frente a esse contexto conse-
guimos compreender o significado de sua tentação política.
A possibilidade de uma realeza política não era uma oferta
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0 REINO DE PONTA CABEÇA
tomo uma ameaça política, mas isso não significa que Jesus
agiu de forma violenta.
Limpar o templo do dinheiro dos cambistas não era uma
ordem para a violência, ainda que Jesus tenha sido dramático
e vigoroso. Se uma grande revolta estourasse, os 600 soldados
da Fortaleza Antônia, com vista para o templo, iriam intervir
rapidamente. A cena no templo era uma condenação profética
da profanação dos cambistas e um sinal de que o templo de-
veria ser aberto para adoração dos gentios. A Palavra profética
- não a ação - estava no centro da purificação do templo.
Jesus repreendeu severamente o episódio da orelha cortada
por seu discípulo em resistência quando Ele foi “capturado”
no Getsêmani. Se os discípulos estivessem fortemente arma-
dos, um confronto maior provavelmente teria se desenvolví-
do. Se os discípulos fossem considerados uma ameaça violen-
ta, eles certamente teriam sido capturados e crucificados, não
teriam permitido que eles fugissem no meio da escuridão.
Talvez a evidência mais contundente de que Jesus não
estava no campo revolucionário foi o abraço caloroso aos co-
letores de impostos e publicanos. Os rebeldes zelosos odia-
vam os coletores de impostos - traidores que exploravam os
judeus sob o poder do governo romano. Os rebeldes estavam
dispostos a matar coletores de impostos judeus, mas Jesus
os abraçou. Ele até os convidou para se juntar ao seu grupo
de discípulos. Jesus ensinou que o chamado radical do reino
ultrapassava a lealdade a outras instituições humanas. Esta
mensagem única estava fora das táticas coercitivas e, às ve-
zes, violentas dos zelosos.
Evidências persuasivas de que Jesus rejeitou a violência per-
meiam Sua mensagem e Sua vida. Como já vimos, Ele recusou
a tentação política de governar pela força. Ele nos instruiu, ao
invés disso, a amar os inimigos, abençoar aos que amaldiçoam e
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DONALD B. KRftYBILL
perdoar 490 vezes. Em suma, Ele nos chama a servir, não a go-
vernar. Ele mostra o caminho do amor em histórias nas quais os
inimigos ajudam uns aos outros. A lição suprema, obviamente,
é o Seu próprio exemplo na cruz. Embora desrespeitado e tortu-
rado, Ele recusou a retaliação. Com cravos rasgando seu corpo,
Ele se recusou a amaldiçoar. Ele pede, em vez disso, o perdão
para aquele que “não sabem o que fazem” - perdoando de uma
só vez a ignorância e a estupidez.
A evidência final para um Jesus não-violento vem dos
ensinamentos da igreja primitiva. Durante os primeiros dois
séculos e meio após a Sua morte, a igreja primitiva proi-
biu os membros de entrarem no serviço militar. Essa prática
dificilmente teria se desenvolvido se, de fato, Jesus tivesse
adotado o uso de resistência violenta durante Sua vida23.
Jesus era um revolucionário ao violar as leis do sábado,
criticar os gananciosos, comer com os pecadores e provocar
os Fariseus. Sua mensagem do reino ameaçava o poder de
grupos com interesses pessoais. Os romanos O consideravam
uma ameaça à sua falsa tranquilidade política. Os Saduceus
de direita O odiavam porque Ele condenava sua lucrativa
operação no templo. Os Fariseus progressistas criticavam
seu desrespeito pelas suas leis de pureza ritual. E os que
lutavam por liberdade não suportavam sua conversa sobre
sofrimento. A tentação de usar a violência era difícil de es-
quecer. Porém, endossar a violência teria negado toda sua
plataforma de um amor que sofre.
Jesus foi revolucionário quando atacou a raiz do proble-
ma —o mal que muitas vezes amarra as intensões e institui-
ções humanas. Ele chamou ao arrependimento; Ele pediu
por amor; Ele anunciou que somente Deus deveria ser adora-
do. Porém sua revolução de ponta-cabeça substituiu a força
pelo sofrimento e a violência pelo amor.
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73
וווו
II I
ιιιιι
1 ווו
in 1
CAPÍTULO 3
A PIEDADE
DO TEMPLO
0 REINO DE PONTA CABEÇA
Um paraquedas celestial
overnar o mundo pela força não era a única tentação
que Jesus enfrentava. Havia a própria religião contra a
qual lutar. O próximo truque do diabo convidou Jesus para
abraçar a religião institucionalizada. Havia muitos judeus
devotos no primeiro século; entretanto, como pode acon-
tecer em qualquer fé, alguns aspectos da religião formal se
tornaram obsoletos. Um complexo código - entrelaçado en-
tre o que deve ou não deve ser feito, as peregrinações e os
sacrifícios - abrangia grande parte da vida dos judeus, do
direito civil às festas nacionais. Alguns rituais se tornaram
vazios e egoístas.
O fervor religioso, porém, corria firme e forte. A maneira
de ponta-cabeça de Jesus entrava em conflito com os pesos
pesados que guardavam os ritos sagrados hebraicos no santo
nome de Deus. As autoridades se revoltavam à medida que
Jesus demolia suas queridas pressuposições e práticas. Eles
rangiam os dentes com a blasfema sugestão de que o embai-
xador de Deus estava no meio deles, derrubando as mesas no
santo templo - o auge de todo o seu sistema.
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R itual de purificação
As imagens contemporâneas do templo como um santu-
ário majestoso num subúrbio tranquilo são distorções histó-
ricas. Pense novamente! Imagine um enorme matadouro à
beira de um pátio de 35 acres cercado por muros. Os animais
grunhiam quando suas gargantas eram cortadas. Litros de
sangue fluíam para dentro dos dutos especialmente cons-
truídos para esse fim na parte inferior do altar externo. O
massacre era de dezenas de milhares de animais por ano.
O ritual de sacrifício era um enorme sistema de purifi-
cação. Como um grande rim, ele filtrava as impurezas do
pecado de vidas coletivas tornando-as aceitáveis a um Deus
santo que exigia pureza. Cerca de seis tipos diferentes de
oferta exigiam um sacrifício no templo: a oferta queimada,
a oferta de cereal, a oferta de paz, a oferta de purificação, a
oferta de reparação e a oferta de gratidão’. Três grandes gru-
pos de ocupações - sacerdotes, levitas e escribas, serviam a
grande operação do templo.
O sumo sacerdote, o sacerdote dos sacerdotes, era a cabeça
simbólica tanto da fé quanto da nação. Ele usava uma vesti-
menta esplêndida, de oito partes, com cada peça invocando
poder para expiar todos os pecados específicos. Apenas o sumo
sacerdote, em perfeita pureza, podería abrir as cortinas e en-
trar no Santo dos Santos na presença de Deus, uma vez por
ano no Dia da Expiação. Ele oferecia os sacrifícios no sábado
e durante as festas de peregrinação. Até a sua morte tinha
poder expiatório. Os assassinos que fugiram para uma cidade
de refúgio após acidentalmente matar alguém, só poderíam
retornar para casa depois da morte do sumo sacerdote.
O sumo sacerdote estava sujeito a estritas leis de pureza
cerimonial. Ele não podia tocar em um cadáver nem entrar
em uma casa de luto. Um “cuspe árabe” certa vez contaminou
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E stabelecendo a L ei
A piedade e a paixão judaicas estavam enraizadas no
templo e na Torá. No centro das atividades do templo e no
centro da religião judaica estava a Torá7 Normalmente co-
nhecida como “Lei”, é melhor traduzida como “doutrina" ou
“ensino religioso”. Tecnicamente se refere aos cinco livros
de Moisés. Além disso, os estudantes da Torá compunham
interpretações orais ou comentários sobre a Escritura. Estas
“cercas orais em torno da Torá” traduziam a Torá em di-
versas diretrizes práticas para a vida diária. Assim, a Torá
incluía não apenas os cinco livros de Moisés, mas também o
comentário oral que crescia em torno dela.
A Torá, acreditavam os judeus, continha a vontade ab-
soluta e inquestionável de Deus. Obedecê-la era obedecer
a Deus. Um culto de adoração se desenvolveu em torno da
Torá, personificando-a como a “muito amada filha de Deus”.
Dizia-se que Yahweh dedicava horas de lazer ao estudo da
Torá, até mesmo lendo-a em voz alta no sábado. Os judeus
consideravam-na como o padrão absoluto para todos os as-
pectos da vida religiosa. Ela era fonte da verdade de Deus.
A leitura e discussão contínuas da Torá era uma atividade
sagrada primordial. No comentário oral que cercava a Torá,
os judeus piedosos poderíam descobrir se era lícito comer
um ovo colocado no sábado. Eles podiam descobrir se a água
derramada de um balde limpo em um impuro contaminava
aquele que era limpo do qual ela foi derramada. A Torá re-
gia os sacrifícios no templo em Jerusalém e a adoração nas
sinagogas das aldeias.
Como vimos, sacerdotes e levitas forneciam a perícia e a
mão de obra para o trabalho no templo. Além de seus papéis
clericais, os escribas explicavam os segredos da Torá*. Os es-
cribas mais instruídos e de nível mais alto, desvendavam as
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P artidos políticos
Em nossa exploração pela religião judaica, examinamos
os papéis formais do sacerdote, do levita e do escriba. Vi-
mos brevemente o templo, o Sinédrio e a sinagoga. Além
desses papéis e organizações, existiam dois partidos polí-
ticos religiosos - os saduceus e os fariseus. Esses partidos
desenvolveram-se no século II aC devido a diferenças reli-
giosas e sociais.
O divisor de águas entre eles era a sua compreensão da
Torá. Os saduceus consideravam a Torá escrita, os cinco li-
vros de Moisés, sua autoridade final eles rejeitavam o co-
mentário oral sobre a Torá, que os fariseus aceitavaml<). Os
saduceus também negavam a ressurreição, a imortalidade e
a vida futura. Além disso, eles eram céticos quanto a anjos e
demônios. Em suma, os saduceus representavam o elemento
conservador do judaísmo. Eles eram defensores da verdadei-
ra fé de Israel transmitida por Moisés.
Os saduceus viviam principalmente em Jerusalém. Eles
vinham da classe de governo e da rica aristocracia. Alguns
dos principais sacerdotes eram membros do partido sadu-
ceu. Eles estavam intimamente envolvidos nas operações
do templo e dominavam o Sinédrio. Em suma, os saduceus
dirigiam tanto as relações religiosas quanto sociais da rica
classe alta de Jerusalém. Os saduceus apoiavam o status quo
tanto político quanto religioso de Jerusalém. Eles aceitavam
e colaboravam com o controle romano desde que eles pudes-
sem manter o sangue fluindo sobre o altar e manter o seu
status privilegiado.
Em contraste, o partido farisaico representava a ala pro-
gressista do judaísmo11. Como progressistas em busca de
santidade, os fariseus aplicavam a Torá a questões práticas e
cotidianas. Conhecidos como “separados” os fariseus desen
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E speranças messiânicas
Independentemente das opiniões políticas, saduceus, fa-
riseus, essênios e os combatentes por liberdade esperavam
um messias que expulsaria os romanos e colocaria tudo no
lugar novamente na Palestina.
Eles tinham suas diferenças, obviamente, sobre o quanto
pensavam que Deus precisava de sua ajuda. Assim, no nasci-
mento de Jesus, as esperanças messiânicas estavam vivas na co-
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CAPÍTULO 4
DESERTO
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R ei do bem - estar
esus rejeitou o poder pomposo e a religião espetacu-
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A ristocratas de pelúcia
Jerusalém era mais do que um alto pico religioso —ela se
elevava acima do país em prestígio social e econômico. Uma
aristocracia de elite, incluindo líderes dos sacerdotes, ricos
proprietários de terras, comerciantes, cobradores de impos-
tos e saduceus, chamavam Jerusalém de casa\A classe alta -
os proprietários de terra que viviam do seu aluguel, artistas
habilidosos, comerciantes inteligentes e poetas -todos iam
para a cidade do grande templo.
A extravagância escorria da elite afluente. Amarrações de
ouro prendiam os ramos de palma que eles levavam para fes-
tividades. Eles traziam ofertas de primícias em vasos de ouro
no dia de Pentecostes. Uma ordenança municipal proibia de
cobrir seus filactérios com ouro. Conta-se que dois homens,
sabendo disso apostaram o equivalente a mais do que o sa-
lário de um ano para ver quem conseguiría irritar um dos
principais rabinos. A evidência arqueológica documenta o
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AS MASSAS POBRES
No campo, a maioria das pessoas era pobre. As massas
pobres eram chamadas de “pessoas da terra”. Havia um tem-
po em que isso significava simplesmente pessoas comuns,
que moravam fora da cidade. Mais tarde, tornou-se um rótu-
lo colocado naqueles que não observavam as leis religiosas7.
Os fariseus, para evitar o contato com as “pessoas da terra”,
se recusavam até a comer com elas. Os religiosamente des-
cuidados eram tão desprezados que não podiam testemunhar
no tribunal nem ser o guardião de um órfão. Os fariseus
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0 F ilho do C arpinteiro
Vemos Jesus crescendo neste cenário de camponeses. Di-
versos fragmentos de evidências O colocam junto aos pobres
da Galileia. Maria descreve-se como uma pessoa de “posição
baixa” em seu canto de exaltação (Lcl :48). A oferta prescrita
para a dedicação de uma criança em Jerusalém era um cor-
deiro e uma pomba. Porém,Maria e José trouxeram apenas
duas pombas, uma prática aceitável para famílias pobres e
incapazes de pagar por um cordeiro.
Embora esta evidência sugira que Jesus veio de uma fa-
mília pobre, Ele provavelmente não veio dos mais pobres
dentre os pobres. Seu pai era um artesão - um trabalhador
habilidoso, provavelmente um pedreiro, um carpinteiro ou
um artesão de carroças18. Jose provavelmente pertencia às
classes mais altas da classe pobre da Galileia - assim tam-
bém Jesus, que era um artesão. Entre os seguidores de Jesus
havia pescadores independentes e cobradores de impostos.
Assim, Jesus e pelo menos alguns de seus seguidores vieram
dos níveis mais altos do campesinato da Galileia19.
Mesmo sendo um artesão habilidoso, Jesus identificou-se
com os mais pobres dentre os pobres211. Ele disse aos Seus
entusiastas seguidores que não tinha lugar onde repousar a
cabeça. As raposas e os pássaros estavam melhores do que ele
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Pão vivo
A tentação de Jesus com o pão envolvia mais do que ali-
viar a fome pessoal. Ele foi tentado a voltar à Galileia e ali-
mentar milagrosamente as massas. Não podemos pensar em
todas as dimensões do teste. Talvez Ele tenha pensado em
pegar o manto de Judas, o Galileu, e juntar-se a outros com-
batentes da liberdade para resistir aos impostos romanos.
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ESCRAVOS
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P irâmides niveladas
Mais importantes do que os detalhes do Jubileu são os prin-
cípios teológicos que o sustentam. Não pode haver dúvida de
que a visão do Jubileu causava uma perturbação social, por agi-
tar a ordem social. Como o modelo social para o povo de Deus,
o Jubileu abordava três fatores que podem gerar desigualdade.
(1) 0 controle da terra representa o acesso aos recursos naturais.
(2) A propriedade dos escravos simboliza o trabalho humano
necessário para a produção. (3) Emprestar e tomar emprestado
dinheiro envolve a gestão de capital e crédito.
O uso e a distribuição desses recursos - naturais, huma-
nos e financeiros —pendem para o equilíbrio da justiça em
qualquer sociedade. No mundo moderno, a tecnologia tor-
nou-se uma quarta variável na equação. Ao controlar esses
recursos, algumas pessoas se tornam ricas enquanto outros
caem na pobreza. Seis princípios do Jubileu destacam a visão
divina para o velho problema da injustiça social.
(1) Propriedade Divina. Uma mensagem ousada reverbe-
ra através das Escrituras do Jubileu: Deus possui os recursos
naturais e humanos.
Por que a terra não deveria ser vendida perpetuamente?
“Porque a terra é minha” (Lv 25:23).
Por que os escravos devem ser libertos periodicamente?
“Porque são meus servos, que tirei da terra do Egito; não
serão vendidos como se vendem os escravos” (Lv 25:42;55).
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O hábito do J ubileu
Um ritmo redentor surge do Jubileu. Ele ecoa do jar-
dim ao túmulo vazio. Os bateristas da história sagrada dão
o ritmo de uma mensagem de quatro tempos, ou quatro
batidas,ressoando ao longo dos tempos:
Jardim - Egito —Êxodo - Jubileu
Perfeição —Pecado - Salvação —Misericórdia
Liberdade - Opressão - Restauração - Perdão.
A primeira batida nos lembra da criação perfeita de Deus.
A segunda batida lembra a opressão no Egito. A poderosa
intervenção de Deus traz restauração e salvação. Finalmente,
podemos responder à salvação de Deus, estendendo miseri-
córdia e perdão aos outros.
Uma vez éramos oprimidos. Uma vez éramos cativos. Po-
rém agora, o Jubileu nos lembra, somos devedores perdoa-
dos. Somos escravos libertos. Qual deve ser a nossa resposta?
De repente, a regra recíproca de Deuteronômio 15:14 faz
sentido: “Dê-lhe com generosidade dos animais do seu reba-
n h o ,... conforme a bênção que o Senhor, o seu Deus, lhe tem
dado.”. Jesus ecoa uma reação em cadeia. Perdoe como Eu
perdoei. Seja misericordioso como Eu tenho sido misericor-
dioso. Ame como Eu amei. Dê livremente como Eu lhe dei.
No modelo do Jubileu, a graça de Deus nos leva a per-
doar os outros. A misericórdia de Deus nos move a cancelar
dívidas. Libertamos nossos escravos porque Deus nos liber-
tou. Em suma, passamos o Jubileu a diante - estendendo
graça aos outros.
Da mesma forma que a resposta dos hebreus à libertação
de Deus tinha consequências reais, também deve ter a nossa.
Não basta sentar e refletir sobre a beleza teológica do Jubi-
leu. Temos de agir. O modelo bíblico nos chama a começar
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0 REINO DE ΡΟΝΙΑ CABEÇA
a p e r d o a r n ã o só os in s u lto s in te r p e s s o a is , m a s ta m b é m os
fin a n c e iro s . N ó s b a ix a m o s os lu c ro s e a u m e n ta m o s o s sa lá -
rio s. N a s p a la v r a s d a o ra ç ã o d o P a i n o sso , “P e r d o a as n o ssa s
d ív id a s , a s s im c o m o p e r d o a m o s ao s n o sso s d e v e d o r e s .” ( M t
6 : 12 ).
D o is p o n to s se d e s ta c a m a q u i. U m d e le s é q u e a c e ita r e
c o n c e d e r o p e r d ã o e s tã o lig a d o s . S o m o s e le g ív e is p a r a re c e -
b e r o p e rd ã o d e D e u s à m e d id a q u e nos a rre p e n d e m o s e p er-
d o a m o s aos o u tr o s . A lé m d is s o , a lg u n s e s tu d io s o s o b s e r v a m
q u e a p a la v r a dívidas n a O ra ç ã o d o P a i N o s s o p o d e re fe rir-s e
a p e c a d o s o u a d ív id a s fin a n c e ira s 12. D e v e m o s p e r d o a r n ã o
a p e n a s s e n tim e n to s r u in s , m a s ta m b é m d ív id a s fin a n c e ira s ?
D e q u a l q u e r fo r m a , n o c o ra ç ã o d a O ra ç ã o d o P a i N o s s o , e n -
c o n tr a m o s o p r i n c í p i o d o J u b i l e u .
A p a r á b o la d o s e rv o im p la c á v e l ( M t 18: 2 3 - 3 5 ) t a m b é m
r e s s a lta a p o s tu r a d o J u b i l e u . U m re i p e r d o a a g r a n d e d ív id a
d e u m se rv o . O se rv o p e r d o a d o a g a r r a o u t r o s e rv o p e la g a r -
g a n t a e e x ig e o r e e m b o ls o d e u m a p e q u e n a d ív id a . Q u a n d o
o a m ig o n ã o p o d e p a g a r, o s e rv o p e r d o a d o o tr a n c a n a p ris ã o .
Q u a n d o 0 re i fica s a b e n d o isso , e le fica fu r io s o e jo g a o se rv o
p e r d o a d o n a c a d e ia a té q u e e le p a g u e a d ív id a . A h is tó r ia
t e r m i n a c o m u m a m o r a l c la r a d o J u b i l e u : “A s s im ta m b é m
lh e s fa rá m e u P a i c e le s tia l, se c a d a u m d e v o cês n ã o p e r d o a r
d e c o ra ç ã o a se u i r m ã o ” ( M t 1 8 :3 5 ).
O p r i n c í p i o d o p e r d ã o re c íp ro c o d o ju b ile u p e r m e i a o
e n s in o d o N o v o T e s ta m e n to . A s p a la v r a s d e J e s u s s o b re a
r iq u e z a d e r e p e n te fa z e m s e n tid o n o c o n te x to d o m o d e lo
J u b i l e u . N e s t e c o n te x to , se u s e n s in a m e n to s a s s u m e m u m
n o v o s ig n ific a d o . E le s n o s c o n v id a m a r e s p o n d e r d e m a n e ir a
c o n c r e ta e e c o n ô m ic a à in ic ia tiv a lib e r ta d o r a d e D e u s.
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A CAUDA DOCÃO
Vimos como o Jubileu conecta as esferas espiritual e so-
cial.Embora ligadas, elas representam diferentes pontos de
partida.Na verdade, a forma como elas se engrenam tem
gerado muita controvérsia filosófica.Os cientistas sociais ar-
gumentam que nossas crenças refletem nosso ambiente ma-
terial. Eis aí a questão da galinha e do ovo. As nossas idéias
influenciam os nossos estilos de vida econômicos ou os nos-
sos estilos de vida influenciam nossas idéias?13
Filósofos e teólogos tendem a se alinhar em um lado deste
argumento. Eles afirmam que nossas crenças moldam nosso
comportamento econômico. Por outro lado, muitos cientis-
tas sociais argumentam que nossas convicções são apenas um
espelho de nosso status econômico.
No último ponto de vista, nosso segmento econômico
molda as crenças a que nos apegamos. Por exemplo, uma
pessoa nascida em uma família rica provavelmente acredita-
rá que abundância é um sinal de benção de Deus. Em con-
trapartida, aqueles nascidos na pobreza são mais propensos a
acreditar que Deus os abençoará no céu, com um belo man-
jar divino. Os camponeses que têm uma vida dura e miserá-
vel provavelmente sonharão com a futura bênção celestial de
Deus enquanto seus opressores veem o aqui e agora como já
bastante celestial.
As canções dos escravos americanos, por exemplo, enfo-
cavam a esperança futura de atravessar o tempestuoso Jordão
e entrar na Terra Prometida. Enquanto isso, seus mestres ci-
tavam versos bíblicos para apoiar sua crença em um sistema
escravocrata que os tornava ricos aqui e agora. Da mesma
forma hoje, a abundante nata da sociedade, cercada por casas
e carros luxuosos, pouco precisa de uma saída divina para
infortúnios financeiros.
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CAPITULO 6
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J ubileu P erpétuo
'esus dá uma grande atenção à riqueza. Especialmente no
J; Evangelho de Lucas, Ele liga a conversão econômica ao
novo reino. Vamos seguir a história de Lucas com referências
cruzadas aos outros Evangelhos1.
Jesus não condena a propriedade privada. Ele não pede
uma nova comuna cristã. Contudo, Ele condena a ganância.
E, como vimos, havia muito a criticar. Jesus sustenta o mo-
delo do Jubileu como o novo caminho para seus discípulos.
Pessoas no caminho com Ele respondem ao amor gracioso de
Deus compartilhando com os necessitados em torno deles.
A riqueza não cai simplesmente do céu. Conjuntos de re-
gras sociais regulam a sua aquisição e utilização da riqueza.
Ao repreender os gananciosos, Jesus questionou as normas
econômicas de sua época, que permitiam que os ricos opri-
missem os pobres. Ele não disse que as coisas materiais são
inerentemente más. Porém Ele advertiu sobre 0 perigo. Di-
nheiro e bens materiais podem rapidamente se tornar ídolos,
que podem nos controlar e tirar o governo de Deus do trono
de nossas vidas. Começaremos explorando seis perigos de
riqueza que, segundo Jesus, podem minar nossa fidelidade
ao reino.
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C uidado: 0 sufocador
Escondido na parábola do semeador está um sermão sobre
a ameaça de riquezas para os cidadãos do reino3. A semente é a
Palavra de Deus4. Seu crescimento simboliza o surgimento do
reino. A semente que cai entre arbustos espinhosos é sufocada.
“As que caíram entre espinhos são os que ouvem, mas, ao se-
guirem seu caminho, são sufocados pelas preocupações, pelas
riquezas e pelos prazeres desta vida, e não amadurecem”(Lc
8:14 NVI, Marcos 4: 18-19 e Mateus 13:22). As sementes
brotam. Há crescimento e vida nova. Porém afiados espinhos
rapidamente sufocam a vitalidade. Os cuidados, riquezas e
prazeres da vida sufocam as novas plantas.
Os escritores sinóticos usam a palavra asfixiar. A vida es-
pi ritual fica amordaçada. Brotos de frutas aparecem, mas não
há colheita. Os pequenos frutos nunca amadurecem. Hoje, os
cuidados, riquezas e prazeres da vida podem incluir avanço
profissional, casas, casas de férias, férias de luxo, passatempos
exóticos, investimentos financeiros, roupas de grife, carros de
alto desempenho e muitas outras coisas. Esses prazeres da vida
podem abortar o crescimento do reino. Eles nos desviam de
nosso verdadeiro ministério e estragam a colheita.
C uidado: 0 preocupado
O ontem traz culpa. O amanhã traz preocupação. Jesus
entendeu que a riqueza gera ansiedade. Estaremos seguros
amanhã? E se um ataque terrorista tornar a economia em
um caos? E se o mercado de ações cair? Podería o alarme
contra assaltantes falhar? Ter propriedades faz com que nos
preocupemos com sua defesa e proteção. Em Lucas (12: 22-
34) e em Mateus (6:19-21, 25-33) Jesus exorta os discípulos
quatro vezes a não se preocuparem com alimentos e roupas.
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C uidado: 0 C hefe
Em outra parábola, Jesus nos informa que as riquezas
não só cegam, mas elas também comandam. Dominam e
ordenam nossas vidas. Um homem rico, possivelmente um
proprietário de terra ausente, tem um mordomo para geren-
ciar sua propriedade (Lc 16: 1-9)8· O proprietário da terra
ausente tem contratos com comerciantes que vendem seus
produtos. O mordomo escreve os contratos em nome de seu
chefe e inclui uma taxa de juros escondidos.
O proprietário descobre que o mordomo está dilapidando
sua propriedade. Então, o proprietário pede um inventário
completo de seus bens antes de dispensar o trapaceiro. Sa-
bendo que estava prestes a ser demitido, o mordomo perce-
be que ele enfrenta possível destruição em outros trabalhos,
como escavar ou mendigar. Ele é muito fraco para escavar
e se ele mendigar, provavelmente vai ficar doente e morrer
como um mendigo. Assim, ele prepara uma solução surpre-
endente. O mordomo perspicaz, sentindo sua iminente mor-
te, rapidamente chama os devedores de seu amo e reduz suas
dívidas. Ao descobrir a surpresa, o senhor elogia o mordomo
por sua ação rápida.
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C uidado: O D estruidor
A riqueza pode até ter um efeito destruidor em nossas vi-
das. Jesus destaca este ponto em uma história sobre um homem
rico e tolo (LC 12: 13-21)12. Um homem na multidão corre até
Jesus e pede um conselho legal. Ele estava reclamando porque
seu irmão não queria compartilhar a herança da família. O ho-
mem implora a Jesus para repreender seu irmão mesquinho.
Jesus se recusa a mediar. Em vez disso, Ele conta uma história
sobre celeiros, pois percebe um espírito de ganância com toda a
preocupação de obter uma parcela justa da fazenda da família.
O padrão de quarenta e nove anos do Jubileu protegia
os direitos de herança dos pobres. Se a terra era devolvida
aos antigos proprietários de cada geração, uma família não
podería acumular grandes extensões. As práticas de herança
geralmente favorecem os filhos dos ricos, que recebem tudo
numa bandeja de prata. Talvez Jesus estivesse alfinetando
não apenas a ganância desse homem, mas também os hábitos
de herança, que davam a uma pessoa uma fazenda de graça,
enquanto outros não a possuíam nada.
De volta a nossa história13. Um agricultor goza de bons
rendimentos. Ele expande seu espaço de armazenamento e
guarda o grão. Ele planeja uma festa. Naquela noite, Deus
o chama de tolo e exige sua alma. Jesus resume a inversão:
«Assim é aquele que para si ajunta tesouros... não é rico para
com Deus”(Lc 12:21). O celeiro que este colega constrói não
é um galpão para manter o grão até a debulha, mas um silo
para armazenamento permanente. Em vez de praticar o Ju-
bileu compartilhando seu excedente, ele o acumula como
um tolo. Este não é um armazenamento justo e sabático do
rendimento do sexto ano. Esta é a expansão egoísta à custa
dos pobres. Seu motivo egoísta é claro: “descansa, come,
bebe e folga” (Lc 12:19-20).
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C uidado: A M aldição
As bem-aventuranças aumentam o contraste entre ricos e
pobres. Aqui, Jesus, em Seu estilo de ponta-cabeça, recom-
pensa aos pobres e repreende o confortável. Na vida social
normal, muitas vezes fazemos o oposto. Aplaudimos as es-
trelas, as celebridades e as sensações da mídia. Valorizan-
do o sucesso monetário, damos aos “vencedores” sedutoras
recompensas. Nós os enchemos de propriedades privadas,
prêmios públicos, posições de prestígio, atenção glamorosa
e acesso ao poder político.
Presumimos, assim como os contemporâneos de Jesus,
que a riqueza equivale à bênção de Deus. Assim, deploramos
e estigmatizamos os “perdedores”, os excluídos, à beira da
sociedade. Condenamos os pobres como pessoas estagnadas
que não têm motivação e força de vontade.
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J ubileu R ecusado
Nós examinamos seis advertências de Jesus sobre a ri-
queza. Agora voltamos nossa atenção para três personagens
bíblicos: o jovem rico governante, Zaqueu, e a viúva com
uma moeda. Jesus usa as histórias deles para expandir seu
ensinamento sobre riquezas.
A história do jovem governante rico (Lc 18:18-30) apre-
senta um jovem profissional que coloca a grande questão
a Jesus; “O que devo fazer para herdar a vida eterna?” O
diálogo de Jesus com este brilhante rapaz é afiado quando
é colocado ao lado da história de Zaqueu, que vem a seguir
(Lc 19: 1-10). Lado a lado, Zaqueu e o jovem fazem escolhas
opostas sobre o Jubileu. Ambos são ricos e tem posições de
poder. Ambos se encontram com Jesus, mas eles se afastam
em diferentes direções.
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J ubileu aceito
Zaqueu podia ser baixinho, mas ele tinha um negócio
considerável (Lc 19: 1-10). Jericó não era uma pequena al-
deia agrícola. Essa era uma cidade com piscinas, parques e
edifícios greco-romanos típicos. A área no entorno, irriga-
da e extremamente fértil, tornou-a rica. Os rabinos falavam
das “terras gordas de Jericó”. Impressionado por seu clima
ameno, Herodes, o Grande, tornou sua capital de inverno. A
região ganhou o renome por cultivar grandes bosques de ár-
vores de bálsamo. Eles vendiam por um preço enorme, mui-
tas vezes trazendo seu peso em ouro19. Além disso, Jericó era
a porta de entrada para uma rota comercial que passava por
Jerusalém e toda a área dos gentios a leste do Jordão.
Zaqueu era rico porque era o principal “auditor fiscal” do
distrito. Uma equipe de subordinados cobrava os impostos
para ele. Era um trabalho lucrativo em uma área lucrativa.
Zaqueu tinha vencido outros concorrentes para ganhar o di-
reito de cobrar os impostos. Cobradores de impostos muitas
vezes usavam a força e fraude para ter grandes lucros. Pa
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n ô m ic a s sã o c e n tr a is n a v is ã o d e J e s u s s o b re o n o v o r e in o .
A c o n v e rs ã o , q u e n ã o e n v o lv e m u d a n ç a e c o n ô m ic a , n ã o é
c o n v e rs ã o c o m p le ta . J e s u s n ã o só c o n d e n a a g a n â n c ia n a P a -
l e s tin a d o p r i m e i r o s é c u lo ; E le p e d e u m J u b i l e u p e r p é tu o .
A m e n s a g e m d e p o n ta - c a b e ç a re sso a v e z a p ó s vez.
• B e m -a v e n tu ra d o s os p o b r e s ... A i dos r ic o s (L c
6 :2 0 , 2 4 ).
• A q u ilo q u e t e m m u i t o v a lo r e n t r e o s h o m e n s é d e te s -
tá v e l ao s o lh o s d e D e u s L u c a s 1 6 :1 5 .
• L á z a ro v a i p a r a j u n t o d e A b r a ã o e n q u a n to o h o m e m
ric o e n f r e n ta t o r m e n t o (L c 1 6 :2 2 , 2 3 ).
• A q u e le q u e p a r a si a j u n t a te s o u r o s , e n ã o é ric o p a r a
c o m D e u s . (Lc 1 2 :2 1 ).
• B u s q u e m , p o is , 0 R e in o d e D e u s(L c 1 2 :3 0 , 3 1 ).
• O jo v e m ric o re c u s a -s e a c o m p a r t il h a r a s u a riq u e z a ,
m a s a sa lv a ç ã o v is ita a c a sa d e Z a q u e u , o tr a p a c e ir o
(L u c as 1 8 :1 8 a 1 9 :1 0 ).
• N ã o a c u m u le m p a r a v o cê s te s o u ro s n a te r r a ... a c u m u -
le m p a r a v o cê s te s o u ro s n o c é u . ( M t 6 : 1 9 2 0 ) ־.
• V o c ê n ã o p o d e s e r v ir a D e u s e à riq u e z a . V o cê se rá
d e d ic a d o a u m e d e s p r e z a r á 0 o u t r o ( M t 6 :2 4 ).
D iv e r s a s id e ia s -c h a v e e m e r g e m d a m e n s a g e m d e J e s u s .
O a p e g o à r iq u e z a p o d e c o m p e t i r e d e s t i t u i r o g o v e r n o d e
D e u s e m n o ssa s v id a s . Q u a n d o D e u s se t o r n a v e r d a d e ir a -
m e n t e R e i d e n o ssa s v id a s , D e u s tr a n s f o r m a n o sso s v a lo re s
e p r á tic a s e c o n ô m ic a s . E m b o r a J e s u s t e n h a r e p r e e n d id o
“p e sso a s r ic a s ” , E le ta m b é m e s ta v a a ta c a n d o as p r á tic a s d a
s o c ie d a d e p a l e s t i n a q u e p is o te a v a os p o b r e s p a r a b e n e fic ia r
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CAPÍTULO 7
DESVIOS DE
“CABEÇA
PARA CIMA”
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0 R E IN O D E P O N T A C A B E Ç A
jovem rico tem uma boa postura, mas ela não é suficiente
para alimentar os pobres.
Calorosos sentimentos em nosso coração, boas intenções
em nossa mente e atitudes apropriadas em nossa mente são
um primeiro passo essencial. Porém eles não vestem nem
alimentam os pobres. O comportamento é o verdadeiro tes-
te. Jesus pede mudanças de postura que produzem ação.
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Q uem é rico?
Jesus falou dos ricos e dos pobres. Estes termos preci-
savam de pouco esclarecimento para o seu público. Numa
sociedade de duas classes, os ricos eram óbvios. E fácil jogar
de lado os comentários de Jesus sobre a riqueza, porque po-
demos supor que não somos ricos. Um momento de reflexão,
no entanto, mostra o significado relativo do termo. Uma
pessoa rica em um contexto pode ser pobre em outro. De-
pende de quem comparamos com quem. Simplesmente não
há padrões absolutos para definir o escorregadio termo rico.
As pessoas da classe média tendem a não dar importância ao
Jubileu porque Jesus estava falando sobre os realmente ricos,
não sobre eles.
Os cientistas sociais observam que a felicidade não au-
m enta automaticamente com a riqueza. Na verdade, um
psicólogo colocou o perene paradoxo americano: Por que
tantas pessoas estão tristes em meio à prosperidade?7.Fica-
mos satisfeitos quando sentimos que temos recursos suficien-
tes para atender às nossas necessidades percebidas. As pes-
soas ao nosso redor moldam o que achamos que precisamos.
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R eduzindo a escala
Por onde começamos? Podemos começar consumindo
menos. Muitas de nossas chamadas “necessidades” são sím-
bolos de status que lustramos para manter uma imagem
respeitável entre nossos amigos. Compras incessantes têm
se tornado um ritual de sacrifício no altar do materialismo.
Reduzir o consumo é o início do processo de ser um mordo-
mo responsável dos recursos não renováveis.
Nossa autoimagem está enraizada em como nós achamos
que as pessoas nos veem. O antigo ditado social é verdade -
Eu sou o que eu acho que você acha que eu sou. Se eu acho
que outra pessoa acha que sou estranho, me sinto inadequa-
do e inseguro sobre mim mesmo, Desejamos que outros nos
respeitem e pensem bem de nós. Para sermos aceitos, mos-
tramos os símbolos de status do nosso grupo - carros, rou-
pas, barcos, livros, computadores e bugigangas. Roupas fora
de moda, carros pequenos/casas modestas e férias simples
violam as regras da etiqueta da classe média. Para proteger e
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P raticando o J ubileu
Jesus não nos chama para sair mundo do comércio e dos
negócios. Ele não nos ensina que administrar dinheiro e pro-
priedade está errado. Em vez disso, Ele nos diz que o reino
de Deus em nossas vidas deve moldar nossa aquisição, admi-
nistração e disposição de riqueza.
Muitos cristãos, habilidosos em administrar negócios e
entender sistemas econômicos, fizeram enormes contribui-
ções ao ministério da igreja e aos necessitados em todo o
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D ar de ponta- cabeça
Há cinco sinais que indicam o que é dar de ponta-ca-
beça. Em primeiro lugar, canalizamos o compartilhamento
do Jubileu para os marcados pelas disparidades econômicas.
Jesus, vez após vez, nos ordena a dar aos pobres. Em con-
traste com muitos promotores religiosos, Jesus não pleiteou
contribuições para sua causa. Sua paixão era pelos necessita-
dos, não por seu movimento religioso. O testemunho cristão
mais poderoso vem quando nosso dar é livre das amarras
do interesse próprio. Mesmo as instituições cristãs, às vezes,
tornam-se egoístas e desviam fundos para seus próprios in-
teresses ao invés de servir os necessitados. O Jubileu coloca
alvos genuínos, para atendermos aos que precisam, não ins-
tituições que se interessem por si mesmas.
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CAPÍTULO 8
PIEDADE
ÍMPIA
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A T radição O ral
Por que o ministério de Jesus trouxe um confronto direto
com as autoridades religiosas? Jesus viveu em um mundo
hebraico entrincheirado nos ensinamentos de Moisés. Ele
não veio para destruir a lei ou para desprezá-la. Ele a abraçou
e cumpriu. Se Jesus afirmou a lei, por que Ele colidiu com
líderes religiosos? A resposta está, em parte, em sua atitude
em relação à lei oral do judaísmo. Jesus endossou a Totã
escrita, os cinco livros de Moisés, mas Ele desprezou partes
da lei oral. Ele via a lei oral como tendo menos autoridade
do que as Escrituras. Isto, especial mente, provocou a ira dos
fariseus. Alguns dos escritores dos Evangelhos ressaltaram o
antagonismo entre Jesus e os fariseus, porque a igreja primi-
tiva enfrentava dura oposição deles. Uma breve visão geral
da lei oral nos ajuda a compreender a natureza do conflito.
Na época de Jesus havia realmente duas Tonás, dois tipos
de lei religiosa —escrita e oral. Tanto os saduceus como os
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b la s fe m a - s e r q u e im a d o , a p e d r e ja m e n to , d e c a p ita ç ã o o u es-
tr a n g u l a m e n to ? U m h o m e m é c e r im o n ia lm e n te i m u n d o se
e le to c a r u m ra to ? Se u m p á s s a ro im u n d o se s e n ta n o s o v o s
d e u m p á s s a ro lim p o , os o v o s p e r m a n e c e m c e r im o n ia lm e n te
lim p o s ? Se u m cão c o m e a c a rn e d e u m c a d á v e r, e n tã o fica à
p o r t a d e u m a ca sa , isso t o r n a a c a sa im p u r a ?
F ariseus progressistas
O s fa ris e u s , a o c o n t r á r i o d o s s a d u c e u s , a p lic a v a m a lei
o ra l à v id a c o tid ia n a . S u a in te n ç ã o e ra b o a . O s fa ris e u s a c re -
d i t a v a m q u e a fé r e lig io s a d e v e r ia p e n e tr a r to d o s os a s p e c to s
d a v id a . A p a r t i r d e u m e x a m e c u id a d o s o d a s E s c r itu r a s ,
e le s t e n t a v a m p r e s c r e v e r u m a c o n d u t a a p r o p r ia d a p a r a c a d a
c ir c u n s tâ n c ia . E le s n ã o q u e r ia m q u e a L ei d e M o is é s se to r-
n a sse u m liv ro e s t é r i l , s e p a r a d o d a v id a . E m c o n tr a s te , os
s a d u c e u s a f ir m a v a m a p e n a s a a u t o r i d a d e d a lei e s c rita . Isso
t o r n o u m a is f á c il n ã o a p lic a r a s E s c r itu r a s a n o v a s q u e s tõ e s
d e s e u te m p o . E l e s e r a m c a p a z e s d e a b r a ç a r a p r e s e n ç a ro -
m a n a e a c e ita r a in f lu ê n c ia d e c u ltu r a s e s tr a n h a s p o r q u e os
liv ro s d e M o is é s p a r e c ia m ir r e le v a n te s p a r a essas re a lid a d e s .
A o a d e r ir a p e n a s à p a la v r a e s c r ita e a a lg u n s r e g u la m e n -
to s r itu a is , os s a d u c e u s se d e s c u lp a v a m d a o b e d iê n c ia d iá r ia
à le i. A s s im e le s p o d ia m o p e r a r p ie d o s a m e n te o te m p lo d e
J e r u s a l é m m e s m o q u a n d o e le s fle r ta v a m c o m os ro m a n o s .
O s fa ris e u s , p o r o u t r o la d o , se p r e o c u p a v a m c o m a p r á ti -
c a fiel. E le s m o s t r a r a m s u a s u b m is s ã o à a lia n ç a d e M o isé s
o b e d e c e n d o à l e i o ra l. C u id a d o s a m e n te s e g u ia m as re g ra s
d a p u r e z a r i t u a l e d o d íz im o . E s c r u p u lo s a m e n te o b s e r v a ra m
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J esus Irreverente
A irreverência de Jesus é uma questão fascinante. Por que
Ele deplorava o ritual religioso? Por que Ele desprezou a
lei civil? Ele quebrou as regras da piedade trabalhando no
sábado, desconsiderou a limpeza ritual, associando-se com
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M ãos sujas
É difícil compreendermos a piedosa paranoia do judeu
sobre impureza. Os seres humanos traçam linhas para
separar as coisas sagradas das coisas cotidianas. Dizemos que
a vida humana é sagrada para nos separarmos dos animais.
Vemos a oração como uma atividade sagrada, bem separa-
da de jogar videogames. As sociedades ao redor do mundo
traçam linhas entre o sagrado e o profano. Esses mapas cul-
turais classificam pessoas, lugares, coisas e tempo em caixas
sagradas e profanas. Comer pão em um culto de Santa Ceia
é uma atividade sagrada em um lugar sagrado em um tem-
po sagrado. Cada aspecto de comer pizza em uma praça de
alimentação em um shopping é absolutamente cotidiana- o
que os estudiosos chamam de profano.
Não apenas traçamos linhas entre o sagrado e profano, fica-
mos muito perturbados se fatias de pizza aparecerem em uma
bandeja da ceia. Regras de pureza e poluição nos ajudam a ga-
rantir que a sujeira cultural não contamine os lugares limpos.
As regras relativas à limpeza cultural se aplicam a pessoas, lu-
gares, coisas e épocas. Nós, por exemplo, não queremos que os
mendigos desabrigados apareçam em recepções de casamento.
Como outras sociedades humanas, 0 sistema de pureza de Is-
rael tinha um lugar para tudo e cada pessoa - com punições se
coisas sujas ou pessoas sujas caíam em lugares limpos.
Para adorar a Deus, para até mesmo se aproximar de Deus,
era preciso estar absolutamente limpo. Tocar a coisa errada,
conversar com uma pessoa suja ou sentar-se em um banco po-
luído contaminaria 0 corpo e ultrajaria Deus. As regras e ritos
que ajudavam a preservar a pureza não eram brechas humanas
mesquinhas. Aos olhos dos fiéis, elas vinham diretamente do
Deus Todo-Poderoso, que exigia absoluta e completa pure-
za, um Deus ultrajado por máculas e manchas.
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A migos sujos
Um terceiro aspecto do comportamento de Jesus, que ir-
ritava os fariseus, era sua comunhão com pessoas impuras.
Os cobradores de impostos e os pecadores que ridiculariza-
vam as regras de pureza eram considerados imundos. Os pe-
cadores, ou seja, os “ímpios”, cuspiam abertamente nas leis
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d a p u r e z a e e r a m c o n s id e r a d o s a lé m d o a lc a n c e d a r e d e n ç ã o
d e D e u s . O s fa ris e u s , é c la r o , os e v ita v a m . J e s u s n ã o e x c lu iu
n in g u é m . E le c o n v id o u os p e c a d o re s p a r a as re fe iç õ e s (L c 15:
2 ) e ju n to u - s e a su a s fe sta s (M c 2 :1 5 e M t 9 :1 0 ) . I s t o e n f u -
re c ia os fa ris e u s , q u e O r id ic u la r iz a v a m , d iz e n d o : “A í e s tá
u m c o m ilã o e b e b e r r ã o , a m ig o d e p u b lic a n o s e p e c a d o r e s ”
( M t 1 1 :1 9 ; L c 7 :3 4 ) . A lg u n s e s tu d io s o s a f ir m a m q u e o fa to
d e J e s u s se s e n t a r e t e r c o m u n h ã o à m e s a c o m p e c a d o re s e
m a r g in a liz a d o s e ra a m a r c a d i s t in t i v a , q u e o d i s t i n g u i a d o s
o u tr o s p r o f e ta s re lig io s o s d e s e u te m p o .
N a c u l t u r a p a le s tin a , c o n v id a r a lg u é m p a r a u m a re fe iç ã o
e r a u m s in a l d e h o n r a . C o m p a r t i lh a r u m a re fe iç ã o s in a liz a -
v a li m i t e s d e g r u p o — q u e m e s ta v a n o c ír c u lo d e a m ig o s e
q u e m e ra e x c lu íd o . P e sso a s p e rv e rs a s e im u n d a s n u n c a se-
r ia m c o n v id a d a s p o r u m fa ris e u . A re fe iç ã o s in a liz a v a p a z ,
c o n fia n ç a , i n t im i d a d e e p e r d ã o ; c o m p a r t il h a r a m e s a s ig n if i-
ca c o m p a r t il h a r a v id a . N a c u l t u r a h e b r a ic a , a c o m u n h ã o d e
m e s a ta m b é m s im b o liz a v a a c o m u n h ã o p e r a n te D e u s . P a r t i r
o p ã o e m to r n o d e u m a m e s a tr a z ia u m a b ê n ç ã o in c o r p o r a d a
a to d o s q u e p a r tic ip a v a m d a re fe iç ã o . A o c o m e r c o m r e je ita -
d o s s o c ia is —os salv o s d a ir a ju s ta , J e s u s e n c a r n a a c o m p a ix ã o
d e D e u s p o r to d o s . A lé m d is s o , E le s in a liz a s u a in c lu s ã o e m
to r n o d a m e s a d e b a n q u e te c e le s tia l. E le , a s s im , os a c o lh e n a
c o m u n id a d e d a salv a ç ã o .
A o j a n t a r c o m Z a q u e u e p e sso a s d o s e u t i p o , J e s u s d e -
safiav a as n o r m a s d a e t i q u e t a re lig io s a . S u a m e n s a g e m e r a
cla ra : as p e sso a s e r a m m a is i m p o r t a n t e s d o q u e r e g r a s p ie -
d o sa s. N a v e r d a d e , E le d is s e q u e v e io p a r a s a lv a r os d o e n te s .
O s s a u d á v e is n ã o p r e c is a m d e u m m é d ic o ( M t 9 :1 2 - 1 3 ;M c
2 :1 7 ) . I r o n ic a m e n te , os líd e r e s “d o e n te s ” q u e p e n s a v a m q u e
e r a m s a u d á v e is r e je ita r a m o M é d ic o . A q u e le s q u e s a b ia m
q u e e s ta v a m “d o e n t e s ” e re c o n h e c ia m a s u a n e c e s s id a d e fo -
r a m c o n v id a d o s p a r a a fe s ta d o M é d ic o .
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D edetizando o T emplo
Desonrar o sábado, zombar das regras da pureza e fazer
amizade com os pecadores irritava os fariseus, guardiões
da tradição oral. A provocação final de Jesus criou um
grupo diferente: os saduceus. Como vimos no capítulo
três, este partido político operava o complexo do templo
—o centro do sacrifício e da santidade —em Jerusalém.
Pouco antes de sua crucificação, Jesus caminhou da Ga-
lileia rural para o coração sagrado da religião judaica. As
pistas sobre por que Ele foi executado estavam se tornan-
do claras. O anúncio de seu novo reino estava desafiando
os três assentos sagrados da fé judaica —o Sabbath, a pu-
reza, e agora o próprio templo.
Os ricos saduceus se beneficiavam da renda gerada pelo
templo. O desafio de Jesus no templo repreendeu a hierar-
quia do templo13. O templo era o centro da adoração hebrai-
ca. Uma coisa era atacar a tradição oral dos fariseus no norte
da Galileia; outra coisa muito diferente era atacar o centro
nervoso do poder religioso, político e econômico!
Os saduceus gozavam de acolhedoras conexões romanas.
Uma corte de 500-600 soldados romanos estava na forta-
leza Antônia guardando a área do templo contra qualquer
tumulto. Jesus tinha deixado os dóceis pastores na Galileia.
Agora Ele andava pelos corredores de Jerusalém. Mas Ele
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P iedade pomposa
Se a irreverência não bastasse, Jesus repreendeu os líderes
religiosos com uma leva de acusações e parábolas. Muitas
de suas histórias farpadas irritavam autoridades piedosas,
mas alguns aceitavam ou pelo menos fizeram amizade com
ele. Alguns fariseus amáveis advertiram a Jesus que Herodes
Antipas queria matá-lo (Lc 13:31). O fariseu Simão entrete-
ve Jesus em sua casa (Lc 7:36). Nicodemos, um fariseu que
talvez se sentasse no Sinédrio, conversou calorosamente com
Jesus numa noite (Jo 3: 1). No entanto, os Evangelhos sinó-
ticos mostram Jesus em conflito com os fariseus. Os escri-
tores dos Evangelhos, refletindo tensões na igreja primitiva,
podem ter enfatizado demais o conflito17.
A glória social dos fariseus estava na raiz da crítica mor-
daz de Jesus. Eles ofereciam seus sacrifícios no altar do sta-
tus social. As exigências de Deus pouco importavam. O que
contava era como sua piedade aparecia aos outros. Suas ora-
ções, jejuns e dízimos aumentariam seu status aos olhos de
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Q uão grande és T u
A observância cuidadosa do dogma religioso gera orgu-
lho. Os fariseus eram como uma pessoa cantando “Quão
grande és Tu” na frente do espelho todas as manhãs. Numa
pequena parábola, Jesus condena a sua arrogância20. Um fa-
riseu vai ao templo para oferecer as suas orações (Lc 18:9-
14). O devoto encontra seu lugar proeminente e oferece uma
oração de agradecimento. Ele agradece a Deus por não ser
um trapaceiro; por ele não ser injusto; por não cobiçar as
mulheres. Espiando pelo canto do olho, vê um cobrador de
impostos, que surpreendentemente também veio orar. O fa-
riseu termina sua oração com um agradecimento especial
por não estar contaminado como esse cobrador de impostos
que rouba os pobres.
O fariseu oferece suas ações justas a Deus. Embora a lei
exija um jejum anual no Dia da Expiação, ele lembra a Deus
que ele voluntariamente adiciona um jejum toda segunda-
-feira e quinta-feira. Ele dá dízimos sobre tudo o que ele
compra dos lojistas. Se o produtor já pagou um dízimo dos
produtos, fariseus dão o dízimo novamente para se certificar
de que tudo o que ele usa é sagrado. Este homem representa
o ápice da ortodoxia hebraica. Ele está no topo da escada
religiosa de piedade.
O coletor de impostos, condenado ao ostracismo por pes-
soas decentes, é considerado um ladrão sem direitos civis. Ele
mal consegue alcançar o último degrau inferior da escala
social. Ele fica na beira do pátio do templo, sem se aventurar
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Não entre
O orgulho condescendente transforma as igrejas em clu-
bes exclusivos. Afastar os de fora e zombar da ignorância
deles não era a iinica culpa dos fariseus. Eles usavam uma
barricada de regras triviais para impedir os pecadores de
chegarem à mesa da salvação. Jesus detestava este espírito
exclusivo dos fariseus.
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os s e u s lu g a re s à m e s a n o R e in o d e D e u s . D e
f a to , h á ú l t im o s q u e s e rã o p r im e ir o s , e p r i-
m e ir o s q u e se rã o ú l t i m o s ”(Lc 1 3 :2 7 - 3 0 )
O s v a le n te s e le a is d a fé t i n h a m acesso a M o is é s e aos
p r o f e ta s . O s líd e re s r e c e b ia m u m t a l e n t o - c o n h e c im e n to d a
le i d e D e u s — m a s o h a v ia m e n te r r a d o t a n t o n a tr a d iç ã o o ra l
q u e os p e c a d o re s p e r d ia m o c h a m a d o d e D e u s . A s p ie d o s a s
tr a d iç õ e s h u m a n a s , d e f a to , r e p e lia m o s e x c lu íd o s e os afas-
ta v a m d e D e u s . J e s u s r e s ta u r a 0 d ia d a g ra ç a . S u a c o m u n h ã o
à m e s a c o m os e s tig m a tiz a d o s s in a liz a a a u r o r a d a sa lv a ç ã o
d e D eu s. O s ímpios e e x c lu íd o s so c ia is, a o c o n tr á r io d o s fa-
ris e u s , a b r a ç a m p r o n t a m e n te a a c o lh id a d e D e u s .
I s s o é t r a g ic a m e n te d e p o n ta - c a b e ç a . A q u e le s q u e tr a -
b a lh a r a m tã o d u r o p a r a a p lic a r a T o rá à v id a c o t id ia n a são
d e ix a d o s p a r a trá s . S eu fe rv o r e e n tu s ia s m o p e la p ie d a d e ce-
r im o n ia l f r u s tr a a lei d o a m o r d e D e u s . A q u e le s q u e lu ta v a m
t a n t o p e la r e lig iã o e s tã o e m risc o . O s re c é m - c h e g a d o s , p o r
s u a v e z , são u m g r u p o h e te r o g ê n e o , m a s a s u a ju s tiç a e x c e d e
a d o s fa ris e u s ( M t 5 :2 0 ). N a v e r d a d e , os ím p io s e s tã o re c e -
b e n d o o r e in o d e D e u s . U m d e n t r e e ssa m u l tid ã o , Z a q u e u ,
d e v o lv e os b e n s q u e r o u b o u . U m a p r o s t i t u t a q u e u n g i u a
J e s u s se a r r e p e n d e e é g r a n d e m e n t e p e r d o a d a . O c o le to r d e
im p o s to s n o te m p lo p e n i t e n t e b a te se u p e ito . U m filh o fu -
g i t iv o v o lta p a r a casa.
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O Pai Insensato
c r ític a d e J e s u s à r iq u e z a e à r e lig iã o p o d e s o a r se v e ra
ao s n o sso s o u v id o s , m a s e la flu i d e u m c o ra ç ã o d e a m o r.
N a v e r d a d e , o p r ó p r io f u n d a m e n to d o n o v o r e in o d e J e s u s
re p o u s a n o a m o r. Q u e t i p o d e a m o r é esse? C o m o q u e se
p a re c e ? E x p lo ra m o s essas q u e s tõ e s n o c a p ít u l o n o v e .
A v io lê n c ia é o b s o le ta n o n o v o re in o . O a m o r dgape se
to r n a 0 n o v o m o d o d e g o v e r n a r. A p a la v r a g r e g a , ágape,
s ig n if ic a a m o r in c o n d ic io n a l. T o ta lm e n te a l t r u í s t a , ágape
s u p e r a p a ix ã o , a m iz a d e e b e n e v o lê n c ia . S u p e r a o in te re s s e
p r ó p r io . Ágape é m a is d o q u e u m s e n t i m e n t o a l t r u í s t a . E le
a g e . E le a m a àqueles q u e n ã o são a m á v e is , a té m e s m o i n i m i -
g o s . C o m p a ix ã o , g e n e r o s id a d e , p e r d ã o , m is e r ic ó r d ia — e sta s
são a essência do ágape 1.
O ágape flu i d o R e i d o r e in o , q u e é c o m o u m p a i a m o -
ro so . O s s ú d ito s d o g o v e r n a n te n ã o são e sc ra v o s, m a s filh o s.
E le s n ã o d iz e m : “S im , S u a M a je s ta d e ” , m a s c a r in h o s a m e n te
o cham am de abba o u “p a p a i ” . O s c id a d ã o s n e s ta n o v a o r-
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c o n h e c id o . E le p o d e r ía p e d ir ao se u filh o p a ra se lav ar a n te s d e
u m lo n g o d isc u rso so b re a d e so b e d iê n c ia . E le p o d e r ia in v e s ti-
g a r os d e ta lh e s d o d e sv io e e n tã o p u n ir. A ju s tiç a c e r ta m e n te
p re sc re v e ría p u n iç ã o p a ra e n s in a r ao ra p a z u m a lição. T alv ez,
u m c h ic o te estiv esse n a lista . T alvez, o f u g itiv o d evesse se rv ir
c o m o escravo. D e ix e -o p ro v a r q u e é re a lm e n te sin cero .
O p a i r e je ita to d a s essas so lu ç õ e s ju s ta s e d e se n so c o -
m u m . V e n d o s e u filh o , e le é m o v id o à c o m p a ix ã o . D o je ito
“d e p o n ta - c a b e ç a ” , e le , p a r e c e n d o to lo , a c o lh e o p a tif e e m
ca sa c o lo c a n d o p a r a e le , n a v e r d a d e , o ito ta p e te s v e r m e lh o s .
• E le n ã o e s p e ra q u e o filh o b a ta . S u a c o m p a ix ã o o o b r i-
g a a c o rre r. E r a c o n s id e r a d o in d i g n o q u e u m a p e sso a
m a is v e lh a c o rre s s e . O p a i n ã o t i n h a id e ia d o q u e 0
filh o d ir ia . C o r r e r p a r a e le c e r ta m e n te a s s in a la r ia o e n -
d o s s o d e s e u s v íc io s.
• E n tã o 0 p a i a b r a ç a o m e n in o , q u e b r a n d o o u t r a r e g r a
d e e t i q u e t a s o c ia l. A b r a ç a r e ra u m a v e r g o n h a p a r a
u m a p e s s o a id o sa . E le e s ta v a r e c e b e n d o u m filh o re -
b e ld e c o b e r to d e e s te rc o .
• U m b e ijo - o s ím b o lo b íb lic o d o p e r d ã o - se s e g u e . O
p a i z e ra a c o n ta . E le re c e b e a o filh o d e v o lta d o c h i-
q u e ir o , n ã o c o m o e s c ra v o , n ã o c o m o e m p r e g a d o c o n -
t r a t a d o - m a s c o m o u m filh o .
• N a v e r d a d e , o p r ó x im o s in a l d e b o a s - v in d a s a n u n c ia o
filh o c o m o u m c o n v id a d o d e h o n ra . A m e lh o r t ú n i c a
é colocada e m to r n o d e le . E s ta b e la r o u p a e ra u m a
m a r c a d e a l t a d is tin ç ã o . E s ta v a re s e rv a d o p a r a o s c o n -
v id a d o s re a is , n ã o p a r a os filh o s d e s o b e d ie n te s .
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• O s s a p a to s q u e os se rv o s c o lo c a m e m se u s p é s ta m b é m
s in a liz a m o se u a lto s ta tu s . O s h o m e n s liv re s u s a v a m
s a p a to s . E sc ra v o s a n d a v a m d e sc a lç o s. E s te filh o re c u -
p e r a d o r e to r n a r ia c o m o u m a p e s s o a liv re . O s se rv o s
ir ia m s e rv i-lo .
• U m b e z e rr o g o r d o fo i m o r to . C a r n e d e g a d o e ra re se r-
v a d a p a r a o c a siõ e s e s p e c ia is . O filh o , q u e o n t e m c o m ia
c o m p o rc o s , h o je t e m b ife n o ja n ta r .
• N ã o se o u v e o s o m d o c h ic o te . E m v e z d is s o , o u v e -s e
a m ú s ic a e os d a n ç a r in o s se a p r e s e n ta m . E h o r a d e ce-
le b r a r a re s s u r re iç ã o d e u m filh o m o r to . U m p e c a d o r
v o lto u p a r a casa. V a m o s fe ste ja r!
O b a r u lh o d a fe s ta s u r p r e e n d e o filh o m a is v e lh o q u a n d o
e le r e to r n a d o tr a b a lh o n o c a m p o n a q u e la n o ite . O in s e n s a to
p erd ão d o pai é um u l t r a j e p a r a ele. E le e x ig e ju s tiç a e e q u i-
d a d e . O n d e e s tá o c a s tig o d e v id o a o s e u ir m ã o r e b e ld e q u e
d e s p e r d iç o u as re se rv a s d e s e u p a i ?
A lé m d is s o , o n d e e s tá a fe s ta d e v id a a o filh o m a is v e -
lh o ? Q u e m e s tá c e le b r a n d o s e u s a n o s d e tr a b a lh o fiel n o s
c a m p o s ? D e s d e n h o s a m e n te , 0 filh o m a is v e lh o c h a m a se u
p r ó p r io ir m ã o “e s te s e u filh o ” .
P o r é m , o p a i a m o ro s o r e s p o n d e c o m “m e u q u e r id o filh o ” .
O filh o m a is v e lh o , c o n s u m id o p e la ra iv a , n u n c a e n t r a n a
casa. C o m o os e s c rib a s e fa ris e u s , e le se re c u s a a p a r ti c ip a r d a
fe sta . A g o r a e le e s tá p e r d id o , n o m o m e n t o e m q u e s e u ir m ã o
é e n c o n tr a d o .
D e u s é c o m o u m p a i d e p o n ta - c a b e ç a . D e u s p e r d o a g e n e -
r o s a m e n te q u a n d o n o s a r r e p e n d e m o s . D e u s é c o m o u m p a i
ju d e u q u e re c o m p e n s a o s e u filh o , q u e c o m ia c a r n e d e p o rc o ,
c o m u m b ife . E m v e z d e e s p a n c a r o filh o , q u e tr a z d e s g ra ç a ,
e le o e le v a p a r a o a lto p o s to d e “c o n v id a d o m a is h o n r a d o .”
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A L ei de um pé só
Os Evangelhos anunciam o amor dgape como o único sa-
cramento do reino de ponta-cabeça. Depois do grande man-
damento de amar a Deus com todo o nosso ser vem a ins-
trução revolucionária. Ame seu próximo da mesma maneira
que você ama a si mesmo. Todos os três escritores sinóticos
destacam este manifesto cristão (Mt 22:37-40, Mc 12:28-
31, Lc 10:25-27).
A frase simples é cheia de significado. Primeiramente,
supõe que o amor-próprio é apropriado. Há um lugar para
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A lém do toma lá dá cá
O amor ágape revisa uma regra social generalizada —a
norma da reciprocidade. Em todo o mundo, a reciprocidade
molda nossas expectativas para dar e receber favores - tanto
verbal quanto material. Se eu comprar uma xícara de café
para você, você é obrigado a dizer “obrigado” e devolver o
favor algum dia. A troca não precisa ser igual em valor ou
forma. Um chocolate pode ser um aceitável obrigado por
uma xícara de café. A regra por trás, no entanto, é simples:
devemos apreciar e devolver favores.
A norma da reciprocidade pressupõe que as pessoas de-
vem ajudar —e certamente não prejudicar - aqueles que as
ajudaram. A reciprocidade mantém um equilíbrio de obri-
gações nas relações sociais. Sentimo-nos constrangidos se
não podemos retribuir um presente. Consideramos rudes
aqueles que quebram as regras da reciprocidade. Dar um
presente e trocar um cartão no fim do ano ilustram a nor-
ma. Presentes precisam ser de valor semelhante para que as
coisas não fiquem desequilibradas. Dar um presente de R$
2,00 em troca de um de R$ 25,00 nos deixa desconfortá-
veis. Nós enviamos cartões de “boas festas” para aqueles que
achamos que vão enviar um de volta. Nossas relações saem
do equilíbrio quando um presente de Natal ou felicitação
não é devolvido.
Esta regra não é apenas uma coisa sazonal. Ela permeia
todos os aspectos das relações humanas. Os pequenos “obri-
gados” que dizemos e fazemos ao longo do dia são gover-
nados pela reciprocidade. Assim é a troca de trabalho por
salários e taxas por serviços. Podemos manipular relaciona-
mentos para ganho pessoal, aumentando a dívida com os
outros. Isto acontece quando os vendedores trazem diversas
amostras e explicações a potenciais clientes, obrigando as-
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n o s p r e ju d ic o u . É u m jo g o j u s t o r e ta l ia r se a lg u é m n o s m a -
g o o u d e lib e r a d a m e n te . N a v e r d a d e , p o d e m o s i r a lé m d e u m
o lh o p a r a u m o lh o . Se a lg u é m p õ e o d e d o e m u m d o s n o sso s
o lh o s , n ó s p o d e m o s p ô r o d e d o n o s d o is d e le s . E s ta n o r m a d e
r e c ip r o c id a d e n e g a tiv a s u b ja z o e s p e c tr o d o c o m p o r ta m e n to
h u m a n o d e s d e b i r r a e n tr e ir m ã o s a g u e r r a s in te r n a c io n a is .
E m re s u m o , se as p e sso a s m e f e r ir e m , t a m b é m p o s s o fe ri-la s .
Se a lg u é m m o v e u m a ação c o n tr a m i m , p o s s o m o v e r u m a
aç ão d e v o lta . Se a lg u é m m e e n g a n a , te n h o d ir e ito d e tra p a c e -
a r d e v o lta . Se o u tr a n a ç ã o la n ç a r m ís se is c o n tr a n ó s, p o d e r e -
m o s c o n tra -a ta c a r. N a v e r d a d e , m e s m o se p e n s a rm o s q u e es-
tã o p re s te s a la n ç a r, te m o s o d ir e ito d e la n ç a r p r im e ir o . O la d o
n e g a tiv o d a re c ip ro c id a d e n ã o só p e r m ite a a u to d e fe s a , m a s
ta m b é m l e g itim a u m c ic lo d e re ta lia ç ã o s e m fim . A v in g a n ç a
p o d e e x c e d e r o in s u lto o r ig in a l p a r a “e n s in a r ” ao a g re s s o r u m a
“liç ã o ” . N ó s re fle tim o s isso q u a n d o d iz e m o s : “E la fez p o r m e -
re c e r” , “E le te v e o q u e m e re c ia ” , o u “É b e m f e ito ” .
D e u m a fo r m a in v e r tid a , J e s u s d e r r u b a a r e g r a n e g a tiv a
d a r e c ip r o c id a d e . S u as p a la v r a s e aç õ e s sã o in c is iv a s . N ã o
p o d e h a v e r d ú v id a . J e s u s s u s p e n d e o n e g a tiv o , b e m c o m o o
la d o p o s itiv o d a n o r m a .
V o c ês o u v ir a m o q u e fo i d i t o : O l h o p o r
o lh o e d e n t e p o r d e n t e ’. M a s e u d i g o : N ã o
r e s is ta m a o p e r v e r s o . Se a l g u é m o f e r i r n a
fa ce direita, o f e r e ç a - lh e t a m b é m a o u t r a . E ,
se a lg u é m q u i s e r p r o c e s s á - lo e t i r a r d e v o c ê
a t ú n i c a , d e ix e q u e le v e t a m b é m a c a p a . Se
a l g u é m o fo r ç a r a c a m i n h a r c o m e le u m a
m i l h a v á c o m e le d u a s . D ê a q u e m p e d e , e
n ã o v o lte as c o s ta s à q u e le q u e d e s e ja p e d i r
a lg o e m p r e s ta d o .
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flui não apenas deste texto, mas de todo o espírito das histó-
rias e do ministério de Jesus.
No Evangelho de Lucas, Jesus oferece respostas de ponta-
-cabeça a sete tipos de agressores (Lc 6:27-30). Como os cris-
tãos devem responder quando alguém faz uma maldade? Que
tratamento a antiga norma de reciprocidade prescreve para
os agressores? Um contraste item por item entre uma respos-
ta típica e uma respostado reino de ponta-cabeça é esboçado
abaixo. As reações propostas pelo reino parecem totalmente
injustas de acordo com a norma da reciprocidade.
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á re a s s a n ta s c r is tã s n o O r i e n te M é d io . N e s s e t r i s t e e tr á g ic o
m o m e n to , os c r is tã o s se e n g a n a r a m e m a c r e d ita r q u e D e u s
e s ta v a ao s e u la d o , a b e n ç o a n d o o u s o d a v io lê n c ia . A te n t a -
ç ã o d e p e n s a r q u e D e u s a b e n ç o a e l u t a p o r n a ç õ e s p a r ti c u -
la re s , c o m o fez Y a h w e h n o a n t i g o Is ra e l, c o n t i n u a a té h o je .
O p o d e r s e d u to r d o n a c io n a lis m o p r o c u r a e n v o lv e r a b ê n -
ção d e D e u s e m to r n o d e d e s tin o s n a c io n a is q u e n a d a tê m a
v e r c o m a fé c ris tã . A lg u n s c ris tã o s a in d a p r o s titu e m o ev a n -
g e lh o ju s tif ic a n d o c ru z a d a s m ilita r e s so b a b a n d e ir a d a b ê n ç ã o
d e D e u s . P o r e x e m p lo , c a n ta n d o “D e u s a b e n ç o e a A m é r ic a ”
e n q u a n to m a r c h a m p a r a a g u e r r a , tr a n s f o r m a D e u s e m u m a
d e id a d e tr ib a l q u e fav o rece as n aç õ es d e e s tim a ç ã o . E s ta d is -
to rç ã o d o e v a n g e lh o im a g in a q u e D e u s so rri c a lo ro s a m e n te
p a r a os esfo rço s m ilita r e s d e a lg u n s p a íse s, m a s n ã o p a r a o u -
tro s. O u so d a p a la v ra d e D e u s p a r a ju s tif ic a r o m ilita r is m o
se e s te n d e p o r m u ito s sé c u lo s — d e s d e as c ru z a d a s sa g ra d a s a té
v ersõ es m o d e rn a s — c o m a firm a ç õ e s d e q u e D e u s “a b e n ç o a ” a
aç ão m ilita r . A s m o e d a s in s c rita s c o m “In God We Trust”(“E m
D e u s n ó s c o n fia m o s ”) são u m a z o m b a r ia q u a n d o u m a n aç ão
g a s ta b ilh õ e s d e d ó la re s e m defesa. O s a m e r ic a n o s , o b v ia m e n -
te , c o n fia m e m a rm a s , n ã o e m D e u s.
U m te rc e iro d e sv io , a id e ia d e u m a “g u e r r a ju s t a ”, s u r g iu
d o p e n s a m e n to c ris tã o n o te rc e iro sé c u lo , à m e d id a q u e a ig re -
ja se f u n d iu m a is n a so c ie d a d e ro m a n a e p r o c u r o u m a n e ir a s
d e ju s tif ic a r s u a defesa. E m b o r a b a s e a d a n a p r e m is s a d e q u e a
g u e r r a só d e v e ria se r u m ú l t im o re c u rso , a d o u t r i n a d a g u e r r a
ju s ta c o lo c o u u m a b ê n ç ã o d iv in a s o b re 0 u so d a v io lê n c ia p a r a
a a u to d e fe s a e a p ro te ç ã o d e v ítim a s in o c e n te s . A s d ire triz e s
d e g u e r r a a p e n a s e sp e c ific a v a mquando u m a g u e r r a e ra ju s tifi-
cáv el e re g ra s a d e q u a d a s p a r a como e la p o d e r ía s e r lu ta d a .
A o lo n g o d o s s é c u lo s , a a b o r d a g e m d a g u e r r a ju s t a p e r m i -
t i a q u e os líd e re s p o lític o s re c e b e s s e m u m a b ê n ç ã o d a ig r e ja
q u a n d o u s a v a m a v io lê n c ia . Isso ta m b é m t o r n o u a c e itá v e l
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0 REINO DE PONTA CABEÇA
P erguntas persistentes
Apesar do chamado claro de Jesus para a pacificação, mui-
tas questões espinhosas espreitam nossas mentes. A violência
pode ser usada para a autoproteção? Nunca é da vontade de
Deus que os cristãos usem a violência para promover a justiça?
Por exemplo, a violência pode ser usada para proteger vítimas
inocentes? Jesus não fala diretamente sobre a questão, mas
com base em seu ensino e ministério, sua provável resposta
não é nem fugir nem lutar, mas resistência não violenta. Suas
próprias ações sugerem isso. Ele não era um espectador pas-
sivo diante da opressão romana, mas tampouco liderou uma
revolta armada. Na verdade, é necessária mais coragem para
envolver-se em resistência não violenta do que para puxar um
gatilho ou pressionar um botão para lançar um míssil.
As questões de pacificação e violência em nosso mundo
agitam muitas questões éticas difíceis. Estou plenamente
convencido de que Jesus rejeitou o uso da violência para en-
frentar 0 mal, mas eu percebo que há muitas perguntas per-
sistentes. Em uma breve pesquisa, não posso explorar essas
questões em profundidade, mas quero observar algumas das
perguntas com as quais os cristãos de boa fé lutam quando
procuram praticar a maneira não violenta de Jesus em meio
a um mundo mal21.
Existe uma diferença entre usar força e violência letal? Os
governos usam a força para conter criminosos violentos. O
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U ma visão de S halom
Muitas vezes pensamos na paz como a ausência de conflito.
Shalom, a palavra hebraica para a paz, está intimamente ligada a
idéias de justiça, retidão, salvação e bem-estar. Sugere um senti-
do completo de bem-estar nas esferas pessoal, social, econômica
e política23. Não há paz quando os sistemas gananciosos opri-
mem os pobres. A paz desaparece quando os estigmatizados não
encontram justiça nos tribunais. A “paz” que repousa sobre um
precário equilíbrio de ogivas nucleares não é shalom. Um indivi-
dualismo, que se preocupa apenas com o número um também
destrói a harmonia da comunidade.
A igreja é chamada à não violência porque isso reflete
a própria natureza de Deus. Somos chamados a praticar a
não violência em todas as áreas da vida, não porque ela seja
sempre eficaz, mas porque testemunha o amor e o caráter
de Deus. Considere três de muitas abordagens não violen-
ta s que desprezam o mito da violência redentora e lutam
pelo shalom: mudança social não-violenta, testemunha não-
-violenta e justiça restaurativa. Estas iniciativas positivas
ilustram algumas formas possíveis de interromper o ciclo
mortal da violência.
Ao longo dos séculos, muitos cristãos e vários movi-
mentos testemunharam o poder da não violência diante do
conflito e da agressão. Alguns desses movimentos usaram
a resistência não violenta para exigir justiça social para os
pobres. Outros usaram táticas não violentas para parar cam-
panhas militares e derrubar ditadores militares. Estudiosos
e historiadores descreveram literalmente centenas de exem-
pios de intervenções não violentas eficazes em diversas de
lutas em muitos países24
As estratégias não violentas, por exemplo, impulsiona-
ram o movimento dos direitos civis nos Estados Unidos,
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CAPÍTUL010
DE FORA
MESMO
DENTRO
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p a s s e io s d e b a rc o . D u a s d is c u s s õ e s s o b re o p ã o . D u a s c o n -
tr o v é r s ia s c o m os fa ris e u s . D u a s c u ra s . D o is to q u e s . D o is
c o n ju n to s d e n ú m e r o s c o m as d u a s m u ltip lic a ç õ e s . O q u e os
n ú m e r o s s ig n ific a m ?
A p r i m e i r a m u ltip lic a ç ã o q u e a l i m e n t o u c in c o m i l e n -
v o lv e c in c o p ã e s. D o z e c e s ta s s o b r a r a m . E s tá n o la d o o c id e n -
ta l d o la g o — o la d o ju d e u . H á c in c o liv ro s d e M o is é s e d o z e
tr ib o s d e Is ra e l. E s ta é a m u ltip lic a ç ã o ju d a ic a . O p ã o d iá r io
é p a r ti d o p a r a os c in c o m il f a m in to s . N o e n t a n t o , 0 s ig n i-
fic a d o d o p ã o é p r o f u n d o . E sse é u m p ã o p r o f é tic o . A p r ó -
p r i a v id a d o M e ssia s e s tá p r e s te s a s e r p a r t i d a p e la v id a d e
s e u p r ó p r io p o v o ju d e u . D e p o is d e s ta m u ltip lic a ç ã o , J e s u s
a n u n c ia n a á g u a : “S o u e u ” (M c 6 :5 0 ) . A m e s m a d e c la ra ç ã o
a p a re c e e m Ê x o d o 3 :1 4 q u a n d o D e u s d e c la ra : “E U S O U O
Q U E E U S O U ” . D e a c o rd o c o m M a rc o s , J e s u s e s tá d iz e n d o
ao s d is c íp u lo s q u e o D e u s T o d o -P o d e r o s o e s tá n o m e io d e le s .
O M e s s ia s e s tá e n tr e e le s a q u i e a g o ra ! Se tiv e s s e m c o m p r e -
e n d id o a m u ltip lic a ç ã o e a lim e n ta ç ã o s im b ó lic a , o M e ssia s
n ã o os te r ia c h o c a d o . P o r é m e le s n ã o e n t e n d e r a m o s s in a is .
F in a lm e n te , J e s u s d e f e n d e s u a h e s ita ç ã o c o m u m p ro v é r-
b io ju d e u : “ n ã o é c o r r e to t i r a r o p ã o d o s filh o s e la n ç á -lo aos
c a c h o r r in h o s ”, s ig n if ic a n d o os g e n tio s . J e s u s d iz a e la q u e
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R ecebendo as M ulheres
E difícil compreender o triste estado das mulheres na
cultura hebraica. Elas estavam escondidas no fundo com os
escravos e as crianças. As caixas masculinas e femininas eram
diferentes como o dia e a noite7. Uma das seis principais
divisões da Mishná é inteiramente dedicada às regras sobre
as mulheres. Nenhuma das divisões, é claro, trata exclusiva-
mente de homens. A seção da Mishná sobre a impureza tem
setenta e nove parágrafos legais sobre a contaminação ritual
causada pela menstruação!
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olhe para o outro lado. Evite-a. Aja como se você não a visse.
Jesus destrói corajosamente as barricadas sociais.
Quinto, Ele se dirige a ela. Ele inicia a conversa. A si-
tuação seria menos desagradável se Ele tivesse respondido a
um apelo dela. Porém Ele é o mendigo. Ele se obriga a pedir
algo dela.
Finalmente, e pior de tudo, Ele deliberadamente se conta-
mina. Como uma suposta menstruante desde o berço, ela es-
tava impura. Tudo o que ela toca torna-se impuro. Toda uma
aldeia judaica era declarada impura se uma mulher samari-
tana entrasse nela. Ao pedir água suja, que ela tocou, Jesus
está intencionalmente contaminando a si mesmo. A regra
religiosa era clara: “Fique o mais longe possível de coisas
impuras”. Seu breve pedido zomba das normas de pureza.
Jesus estava completamente fora do lugar em todos os
sentidos - fazendo a coisa errada com a pessoa errada no
lugar errado. Sim, apenas dizendo: “Dê-me de beber”, Ele
quebrou seis normas sociais que regulavam o gênero, a reli-
gião, a pureza e a etnia.
Tal comportamento, sem precedentes,chocou a mulher e
os discípulos. Ela gaguejou: “Como o senhor, sendo judeu,
pede a mim, uma samaritana, água para beber?” Quando os
discípulos voltaram, ficaram chocados e “ficaram surpresos
ao encontrá-lo conversando com uma mulher” (Jo. 4:9-27).
Seu pedido simples quebra as armadilhas sociais que sepa-
ram as pessoas e as prende a suas caixas.
Tudo começou com água —o único elemento da vida do
qual todos os seres humanos precisam, independentemente
da sua caixa. Quando se trata de água, somos todos iguais.
Como água viva, Jesus proporciona vida para todos. Nenhu-
ma outra pessoa nos Evangelhos recebeu a revelação privada
de Jesus em sua identidade messiânica. Jesus não se revela
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J e s u s v ai a té o fu n d o e in te r a g e c o m os h u m ild e s . P as-
t o r e s d e o v e lh a s e s á b io s v i s i t a m a m a n j e d o u r a . P a s t o r e a r
o v e lh a s e r a u m a o c u p a ç ã o s u j a e d e s p r e z a d a . O s r ic o s q u e
v iv ia m e m J e ru s a lé m c o n tra ta ra m p a s to re s p a ra v ig ia r
se u s re b a n h o s n o c a m p o . P o ré m os p a s to re s e ra m s u s p e i-
t o s . E le s e r a m c o n s id e r a d o s d e s o n e s to s p o r v á r ia s ra z õ e s .
À s v ez es, c o n d u z ia m seu s re b a n h o s p a ra a te r r a d e o u tra s
p e s s o a s . À s v e z e s , v e n d i a m l e i t e e a n i m a i s jo v e n s a e s m o
e e m b o ls a v a m 0 d in h e ir o . N a v e rd a d e , e ra p r o ib id o c o m -
p r a r lã , l e i t e e f ilh o te s d e p a s t o r e s p o r q u e m u i t a s v e z e s
e le s d e s v ia v a m o d i n h e i r o . A l g u n s r a b in o s c h a m a v a m d e
a ocupação mais d e t e s t á v e l 11.
A e ssa a l t u r a as s u r p r e s a s n ã o d e v e m m a is n o s s u r p r e -
e n d e r. O s a n jo s c a n ta r a m as b o a s n o v a s d a e n c a rn a ç ã o d e
D e u s , n ã o ao s s a c e rd o te s n o t e m p l o d e o u r o , m a s ao s p a s to -
re s v ig a r is ta s e m u m c a m p o d e B e lé m . D o c o m e ç o a o fim ,
d e u m a p o n t a a o u tr a , o fio d a in v e rs ã o e d a ir o n ia te c e seu s
c a m in h o s a tra v é s d o e v a n g e lh o . M a r ia c rê n o a n jo , m a s Z a -
c a ria s , o p a tr ia r c a , d u v id a d a m e n s a g e m d o a n jo . O s p a s to re s
o u v e m as b o a s n o v a s p r im e ir o . P o r m e io d e p a r á b o la s , J e s u s
c o m p a r a D e u s a u m p a s to r q u e se m o v e a tra v é s d e e s p in h o -
sos p a r a e n c o n tr a r u m c o r d e ir o p e r d id o . J e s u s a té se c h a m a
de Bom P a s to r, r e s s a lta n d o s u a r e p u ta ç ã o n e g a tiv a . A s m u -
lh e re s t e s t e m u n h a m a re s su rre iç ã o . A s o c u p a ç õ e s e s t i g m a t i -
z a d a s re c e b e m h o n r a n o r e in o d e p o n ta - c a b e ç a . V ez a p ó s v e z ,
e m c a d a m o m e n to , J e s u s d e sfa z n o ssa s c a ix a s so c ia is.
J e s u s a c o m p a n h a os p e s c a d o re s q u e g o z a m d e p r e s tíg io
m o d e r a d o . E le m e s m o m a r te la p r e g o s c o m o u m c a r p in te ir o .
P o r é m , E le p a s s a a m a io r p a r te d o te m p o c o m as m a ssa s - os
p o b r e s e os d o e n te s . E m b o r a E le se r e la c io n e c o m to d o s os
tip o s d e p e sso a s, os E v a n g e lh o s m o s t r a m o c u id a d o e sp e c ia l
d e J e s u s p a r a c o m a q u e le s m a r c a d o s c o m e s tig m a . S u a re d e
d e re la ç õ e s in c lu i os e n d e m o n in h a d o s , c e g o s , s u r d o s , co -
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tu r a is . E le s o r g a n iz a m a v id a so c ia l e a to r n a m p re v is ív e l.
P o ré m ,e s s a s r o tin a s s o c ia is p o d e m r e b a ix a r e d e s u m a n iz a r .
O E s p ír ito d e D e u s p o d e r e d im i r n o ssa s a t i t u d e s e n o s p e r -
m i t i r v e r as p e sso a s p o r tr á s d o s r ó tu lo s . D e s ta fo r m a , D e u s
tr a n s f o r m a n o ssa in te r a ç ã o s o c ia l. Isso n ã o s ig n if ic a q u e v a -
m o s v iv e r s e m c a ix a s. N o e n t a n t o , isso s ig n if ic a q u e n ã o v a -
m o s p e r m i t i r q u e r ó tu lo s so c ia is b lo q u e ie m o n o sso a m o r e
c u id a d o p o r o u tr o s .
C o m o o p o v o d e D e u s se re la c io n a e n tr e si? C o m o n o s-
sas re la ç õ e s so c ia is se tra n s f o rm a m ? N ó s ro tu la m o s os o u tr o s
c o m o to d o m u n d o ? L e v a m o s m u ito s d o s r ó tu lo s q u e a p r e n d e -
m o s n a s o c ie d a d e p a r a a ig re ja . M u ita s vezes n o s re la c io n a m o s
c o m o u tro s m e m b r o s d o c o rp o d e C ris to c o m b a se e m seu s
r ó tu lo s so ciais. N ó s os v e m o s c o m o m é d ic o s , s e c re tá rio s , p r o -
fesso res, m e x ic a n o s , e s tu d a n te s , re p u b lic a n o s , d e m o c r a ta s o u
c o m o irm ã o s n a f a m ília d e D e u s. E sses ró tu lo s e x te rn o s g e r a l-
m e n te m o ld a m n o ssa in te ra ç ã o a té m e s m o n a ig re ja .
A s re d e s in f o r m a is n a ig r e ja se f o r m a m e m to r n o d e i n -
te re s s e s o c u p a c io n a is , e d u c a c io n a is e te o ló g ic o s e m c o m u m .
C a r is m á tic o s se a g a r r a m u n s ao s o u tr o s . O s m e m b r o s d o
c lu b e d e c a m p o lo c a l se a m o n to a m e c o n v e rs a m d e p o is d o
c u lto . O p e s s o a l d a f a c u ld a d e fica j u n to . O s id o s o s s e n ta m -
-se p e r to u n s d o s o u tr o s n o s b a n c o s . A q u e le s q u e a n d a m d e
s k a te e a q u e le s q u e p e g a m o n d a fo r m a m se u s b a n d o s . M e m -
b ro s “c o m p r o m e ti d o s ” , e n v o lv id o s n a lid e r a n ç a d a ig r e ja ,
i n te r a g e m u n s c o m os o u tr o s . G r u p o s e c o n e x õ e s s u r g e m . O
n ú m e r o e o t i p o d e s u b g r u p o s v a r ia m d e ig r e ja p a r a ig r e ja ,
m a s o s o b s e r v a d o re s c u id a d o s o s p o d e m d e te c tá - lo s e m c a d a
a m b i e n t e re lig io s o . A b a ix o d a s u p e r f íc ie , essas re d e s in fo r-
m a is r e g u la m o flu x o d a v id a c o n g r e g a c io n a l.
A fo r m a ç ã o d e s u b g r u p o s n ã o é d e to d o r u im . M e s m o os
p á s s a ro s m a d u r o s c o m p lu m a g e m s e m e lh a n te p r e c is a m v o a r
ju n to s . G a n h a m o s s e g u r a n ç a e m c írc u lo s c o m u n s . P o r é m ,
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A ESCADA
SOCIAL
0 REINO DE PONTA CABEÇA
A E scada S ocial
o último capítulo, vimos a interação humana em um
tabuleiro social. A vida social, no entanto, não é plana.
Pessoas e grupos se classificam de baixo para cima. Podemos
captar essa dimensão vertical da vida com a imagem de uma
escada social. As pessoas não são iguais. Alguns são mais im-
portantes e distintos do que outros. A desigualdade, de uma
forma ou de outra, permeia todas as sociedades. Hierarquias
estão profundamente enraizadas na experiência humana em
todo 0 mundo. Este capítulo explora os pontos de vista de
Jesus sobre 0 poder, status e desigualdade.
Algumas pessoas preferem sorrir docemente e pensar
que, no final, todos são iguais. Porém, pense novamente. A
sociedade tem camadas. A mãe com uma filha que se forma
em direitos se enche de orgulho quando fala com os amigos
sobre a realização da filha. A mesma mãe fica embaraçada ao
informar que o outro filho abandonou a escola.
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DONALD B. KRAYBIIL
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0 REINO DE ΡΟΝΤΛ CABEÇA
c u id a d o s m é d ic o s , e d u c a ç ã o , t r a b a l h o , a b r ig o , e q u a n t o
t e m p o v iv e m o s , e m g r a n d e m e d i d a , d e p e n d e m d o n o s s o
d e g r a u d e n a s c im e n to .
M úsculo S ocial
O p o d e r s o c ia l a u m e n t a e d i m i n u i c o m os d e g r a u s d a
e s c a d a . N u m s e n t i d o a m p lo , p o d e r é a c a p a c id a d e d e a f e ta r
a v i d a s o c ia l. É a c a p a c id a d e d e “fa z e r a s c o is a s a c o n te -
c e r e m ” . P a r a q u e as c o is a s a c o n te ç a m , p r e c is a m o s d e re -
c u r s o s . P r e c is a m o s d e c o n h e c i m e n t o , d i n h e i r o e p o s iç ã o .
A q u e le s q u e p o s s u e m e c o n t r o l a m e sse s re c u r s o s p o d e m
fa z e r as c o isa s a c o n te c e r e m m a is f a c i l m e n te d o q u e a q u e le s
q u e não possuem .
• (1)0 poderfinanceiro e s tá e n r a iz a d o e m re c u rs o s e c o n ô -
m ic o s . O d i n h e ir o faz c o m q u e as co isa s a c o n te ç a m .
E le é u m a d a s fo n te s m a is i m p o r t a n t e s d e p o d e r.
• (2 ) 0 poder de expertise p r o v é m d e c o n h e c im e n to e x -
te n s o e in fo rm a ç õ e s e sp e c ia is. M é d ic o s e a d v o g a d o s ,
p o r e x e m p lo , e x e rc e m 0 p o d e r d e expertise p o r q u e eles
a d q u i r i r a m e p o s s u e m c o n h e c im e n to s e s p e c ia is e m
m e d ic in a e d ir e ito .
• (3 ) 0 poder organizacional s u r g e d a p o s iç ã o d e u m a p e s -
so a d e n t r o d e u m a o rg a n iz a ç ã o . U m v ic e - p r e s id e n te
e x e c u tiv o te m m a is p o d e r d o q u e u m z e la d o r, p o r q u e
o e x e c u tiv o t e m u m a p o s iç ã o m a is a lta n o o r g a n o g r a -
m a o rg a n iz a c io n a l.
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Q uem disse?
A linguagem de classificação social apimenta os Evange-
lhos. O anjo disse a Maria que Jesus seria chamado filho do
Altíssimo e o poder do Altíssimo a envolvería (Lc 1:32, 35).
Zacarias esperava que seu filho João fosse um profeta do Al-
tíssimo (Lc 1:76). Jesus disse que aqueles que amam os ini-
migos, fazem o bem e aqueles que emprestam sem esperar
retorno, serão filhos do Altíssimo (Lc 6:35). Um endemoni-
nhado chamou Jesus de filho do “Deus Altíssimo” (Mc 5:7).
O Altíssimo é usado nas Escrituras como outro nome para
Deus, sugerindo que Deus está no topo da escada mais alta.
A palavra autoridade frequentemente aparece nas histó-
rias do evangelho. Lucas começa com Jesus rejeitando a “au-
toridade” e a “glória” dos reinos do mundo (Lc 4:6). Mais
tarde, no mesmo capítulo, Jesus expulsa um demônio e as
pessoas ficam maravilhadas. Eles perguntam: “Que palavra é
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serve.”(Lc. 22:25-27)
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De lá para cá
O que podemos aprender com a compreensão de Je-
sus sobre o poder? Para essa discussão, considere diver-
sas sugestões.
Devemos usar 0 poder para capacitar os outros’3. Esse é
o oposto do que normalmente acontece. O poder normal-
mente se torna uma bola de neve. Pessoas e instituições po-
derosas procuram cada vez mais poder, muitas vezes, à custa
dos outros. Os poderosos usam seu poder para protegê-lo e
perpetuá-lo. Os poderosos usam seu poder para ganhar mais
músculos. Consequentemente, o exercício do poder frequen-
temente aumenta as desigualdades de poder. A perspectiva
de ponta-cabeça usa o poder para capacitar os outros. Procura
fornecer aos outros os recursos para a autodeterminação. Isso
não significa que o poder é ruim ou deve ser descartado. Em
vez disso, ele deve ser usado para servir e capacitar outros.
Devemos distribuir o poder o mais amplamente possível.
O poder tende a gravitar para as mãos de alguns poucos.
Aqueles que estão no centro de uma organização têm mais
influência do que aqueles nas margens. Sempre haverá dife-
renciais de poder. Os cristãos, entretanto, trabalharão para
compartilhar e descentralizar o poder tanto quanto possível.
As pessoas do Reino também lutarão para minimizar a
hierarquia na governança social. A medida que as organi-
zações crescem, o número de degraus nas escadas sociais se
multiplica. Embora alguns degraus sejam necessários, deve-
ríamos encurtar as escadas tanto quanto possível. A medida
que isso acontece, a coordenação substitui a dominação. Re-
trair escadas é outra maneira de difundir o poder.
Os seguidores deveríam dar livremente a autoridade para a
liderança. A liderança não deve ser autonomeada nem impos-
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CAPÍTUL011
FALHAS
BEM-
SUCEDIDAS
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S ímbolos triplos
imos como Jesus conduziu um curso independente dos
partidos religiosos existentes na Palestina. Ele não en-
dossou os saduceus “realistas” trabalhando lado a lado com
os romanos. Ele desprezava os rituais da religião conven-
cional liderados pelos progressistas fariseus. A vida serena
de uma comunidade essênica também não o atraía. Como
observamos, Jesus disse um enfático não à violência revolu-
cionária dos rebeldes patriotas. Estas quatro respostas à do-
minação de Roma, Jesus rejeitou. O reino que Ele anunciou
evitou essas opções convencionais. Porém Jesus tinha um
reino e seu reino, como outros reinos, tinha uma bandeira.
Meros pedaços de pano, bandeiras geram emoções pro-
fundas e nos estimulam à ação. As bandeiras simbolizam os
significados sagrados e a identidade de um grupo ou de uma
nação. Nós nos importamos profundamente com os signifi-
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S e g u n d o , a c e le b ra ç ã o d a re fe iç ã o e ra u m e v e n to p r o f é tic o
q u e a c o m p a n h o u a d r a m á tic a p u rific a ç ã o d o t e m p l o p o r J e -
su s u m d i a a n te s . C o m o v im o s n o c a p ítu lo o ito , J e s u s v iro u
as m e s a s d e tr o c a d e d i n h e i r o p a r a s im b o liz a r o fim d o s is te -
m a d e s a c rifíc io . A g o r a n o c e n á c u lo , d e fo r m a d r a m á tic a , E le
i n t r o d u z u m a a lt e r n a t iv a ao te m p lo . E le to m a u m p e d a ç o
d e p ã o , n ã o u m p e r n il d e c o r d e ir o , e d iz , c o m e f e ito , “I s to é
o m e u c o r p o , q u e p o r v ó s é d a d o ” . E n tã o e le p e g a u m a ta ç a
d e v in h o e d iz : “I s to é o m e u s a n g u e ... q u e é d e r r a m a d o e m
fa v o r d e m u i to s , p a r a p e r d ã o d e p e c a d o s ” .
T e rc e iro , J e s u s c o n tin u a o d r a m a . “O R e in o d e D e u s e s tá
r o m p e n d o s o b re n ó s e n q u a n to E u falo. O m o m e n to d a re d e n -
ção e d a lib e rta ç ã o d e D e u s e s tá s o b re n ós. ” C o m p a la v ra s
a e s te e fe ito , E le a n u n c io u q u e e ra o tã o e s p e ra d o M e ssia s e,
a tra v é s d e S u a m o r te , q u e se a p r o x im a v a , u m a n o v a a lia n ç a
s u b s titu ir ia 0 s a n g u e n o a lta r sa c rific ia l” . O p e r d ã o — a q u a l-
q u e r h o ra e m q u a lq u e r lu g a r - já o fe re c id o e m se u m in is té r io ,
lo g o e s ta r ia d is p o n ív e l p a r a to d o s e m to d o s os lu g a re s .
L ib e rta ç ã o e p e r d ã o e r a m te m a s d o J u b i l e u q u e e c o a v a m
c o m e sp e ra n ç a s m e ssiâ n ic a s. A o o u v ire m esta s p a la v ra s n o ce-
n á c u lo , os d is c íp u lo s c e r ta m e n te im a g in a r a m u m g o lp e m i-
lita r. E les s e r ia m a tu a n te s n a d e r r u b a d a d o s ro m a n o s e eles
iria m o c u p a r lu g a re s p r o e m in e n te s n o n o v o re in o p o lític o .
E n tã o J e s u s os c h o c o u n o v a m e n te ! D e p o is d e c o m p a r ti-
lh a r o p ã o e o v in h o , E le p e g o u u m te r c e ir o s ím b o lo — u m a
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A P olítica da B acia
A toalha e a bacia são as ferramentas do escravo2. Este Rei
de ponta-cabeça usa as ferramentas comuns do servo - não os
símbolos reais de espada, carruagem e garanhão. Era costume
na cultura palestina que um escravo doméstico lavasse os pés
dos convidados já que eles se reclinaram em sofás enquanto
comiam uma refeição. Como mestre de seus discípulos, Jesus
teria o direito normal de esperar que lavassem seus pés. Porém
Ele perde esses privilégios. Quando Jesus se ajoelha para lavar,
o discípulo senta-se no assento de poder do mestre.
Lavar os pés não é uma tarefa agradável. Significa curvar-
-se e enfrentar os pés empoeirados. O curvar-se simboliza o
serviço obediente, muito diferente da arrogante atitude de
“Eu sirvo se você me pagar bem”. As mãos do servo tocam os
pés salpicados de sujeira e lama. Normalmente, um mestre
lavava as próprias mãos e o rosto, mas não os pés cobertos
de sujeira. Esse era o trabalho sujo dos escravos. O escravo
se concentrava nos pés de seu mestre, ignorando sua própria
fome. Jesus se inclina e faz o trabalho sujo. Ninguém o for-
ça. Ele escolhe servir. Ele está disposto a aceitar ordens. A
toalha que ele usa é flexível. Ela dá cuidados pessoais, ajus-
tando-se ao tamanho do pé do outro.
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mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus”
(Mt 7:21 ARC, ênfase adicionada). O julgamento final cias-
sifica as pessoas com base em como elas vestem, alimentam,
visitam e acolhem aos outros (Mt 25:31-46). Os membros da
família de Deus são aqueles que fazem a Sua vontade (Mc 3:35).
Jesus compara aquele que ouve e age em Suas palavras a
um homem sábio. “Por que” Ele pergunta, “vocês me cha-
mam ‘Senhor, Senhor’ e não fazem 0 que eu digo??” (Lc
6:46). Jesus diz ao mestre da lei que ele viverá se cumprir o
Grande Mandamento (Lc 10:28ARC). Depois de contar a
história do Bom Samaritano, Jesus nos instrui a ir e fazer o
mesmo (Lc 10:37). Em forma de parábola, Jesus nos diz que
o servo que conhece a vontade de seu mestre, mas não o fa z,
receberá uma severa surra (Lc 12:47, ênfase adicionada nos
versículos acima). Este chamado a um ministério ativo da
bacia permeia os Evangelhos. Somos convidados a vender,
dar, amar, perdoar, emprestar, ensinar, servir e ir. Há apenas
uma advertência: Iniciativas da bacia são caras.
D ecisões caras
“Jesus dizia a todos: “Se alguém quiser acom-
panhar-me, negue-se a si mesmo, tome dia-
riamente a sua cruz e siga-me. Pois quem
quiser salvar a sua vida a perderá; mas quem
perder a sua vida por minha causa, este a sal-
vará. Pois que adianta ao homem ganhar o
mundo inteiro e perder-se ou destruir a si
mesmo? Se alguém se envergonhar de mim
e das minhas palavras, o Filho do homem se
envergonhará dele quando vier em sua gló-
ria e na glória do Pai e dos santos anjos”(Lc
9:23-26)
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A nálise de custos
A vida de discipulado era um compromisso sério para
Jesus. Ele rompeu todas as outras lealdades e laços. “Da mes-
ma forma, qualquer de vocês que não renunciar a tudo o que
possui não pode ser meu discípulo.” (Lc 14:33). Ele enten-
deu que o caminho da bacia era caro. Ele temia que os en-
tusiastas que se achegavam pudessem desconsiderar o custo
de segui-lo. Então, um dia, quando os entusiastas estavam
surgindo atrás Dele, Ele contou duas parábolas para ressaltar
o custo (Lc 14:25-33).
Um fazendeiro constrói uma torre magnífica. Ele se senta
e calcula o preço dos materiais antes de começar a construir.
Porém, se depois que ele começar, seus recursos acabarem, os
vizinhos zombarão dele e ridicularizarão sua estupidez. Da
mesma forma, os discípulos que não levam em conta cui-
dadosamente o custo antes de dizer “sim” a Jesus parecerão
tolos se quebrarem sua promessa mais tarde.
Na segunda história, um rei se prepara para a batalha
com outro rei. Ele se senta e calcula a força do exército ad-
versário para ver se ele tem uma chance razoável de vencer.
Se ele calcular mal a força do adversário e entrar na batalha
com poucos soldados, seu exército será esmagado. Os disci-
pulos também devem calcular o custo real de seguir Jesus
antes de iniciar a jornada.
De fato, Jesus desencorajou alguns seguidores do tempo
ameno. Em uma ocasião um entusiasta de olhos brilhantes
correu e pediu para se juntar à multidão de discípulos. Jesus
lembrou-lhe que a vida de um discípulo pode trazer insegu
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muito do que nós tomamos por certo. Jesus pede uma refor-
ma dos valores, do comportamento e do pensamento. Seguir
Jesus, ser convertido, significa dar meia-volta e unir-se a uma
comunidade ancorada nas normas e valores do reino.
Isso fica claro quando Jesus diz que Seus seguidores po-
dem parecer ter perdido suas vidas neste mundo. Nossa ten-
tação primordial é salvar nossas vidas em ambos os sistemas.
Queremos salvar nossa vida neste mundo e no reino de Deus.
Queremos ter sucesso segundo padrões seculares e segundo
os valores do reino. Vencer segundo os reinos deste mundo
muitas vezes exige acomodação e compromisso. Jesus dese-
nha Lima linha dura quando diz que aqueles que se esforçam
para salvar suas vidas podem perdê-las —podem perceber
suas vidas evaporando. Entretanto, aqueles que perdem stias
vidas nos ministérios da bacia podem descobrir novas ale-
grias e vida eterna.
Em meio a essa conversa dura, uma grande palavra de
esperança brilha. A cruz não é a última palavra. É apenas o
passo do meio na sequência tripla da bacia, a cruz e o túmu-
10. Felizmente a cruz não é o símbolo da derrota que parece
ser. Além da Escritura, temos poucos detalhes da história da
ressurreição. O que sabemos é que a igreja primitiva foi for-
talecida e energizada pelo túrmilo vazio. Nas cartas de Paulo
e em outros documentos da igreja primitiva, é a realidade da
ressurreição que persuade completamente a igreja apostólica
de que Jesus de fato era o Messias. A ressurreição assegurou-
-lhes, sem dúvida, que a nova era do reino de Deus rompera
sobre eles com suas boas novas para gentios e judeus8.
A palavra final de Deus é o túmulo vazio. A cruz revela o
poder desagradável do mal com toda a sua brutalidade e vio-
lência. A ressurreição revela a vitória não violenta de Deus
sobre os principados das trevas. Com a sepultura vazia em
foco, os cristãos podem viver com esperança, sabendo que
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NOTAS
Capítulo 1 : P ara baixo é para cima
1. Jeremias (1971: 97) ressalta que os termos reino de Deus e reino dos céus têm
um significado idêntico. Os estudiosos do Novo Testamento geralmente
concordam com a centralidade e a saliência do tema do reino no ensinamento
de Jesus. Veja, por exemplo, Borg e W right (1999: 33-36), Crossan (1992:
265-266), Vermes (2001: 215-224) e W right (1999: 34-35). Crossan (1992:
457-60) fornece um inventário detalhado de ditados do reino nos evangelhos
e outros documentos de origem. Em um estudo provocativo, Sheehan (1986)
propõe que a essência do reino foi distorcida porque a igreja primitiva transfer-
mou o reino em uma outra religião - o Cristianismo.
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DONALD B. KRAYBILL
4. Jeremias (1971: 98). Discussões úreis sobre a história da erudição que trata
do reino de Deus podem ser encontradas em Chilton (1984: 1-26), Chilton e
McDonald (1987), Riches (1982: 87-111) e Sanders (1985: 244).
7. O cítulo do livro de Vermes (2001) é The Changing Faces of Jesus (em tra-
dução livre "As diferentes faces de Jesus”). Os Evangelhos incluem diferentes
camadas ou estratos de material histórico: as palavras de Jesus, as opiniões dos
redatores, as tradições orais e as influências das comunidades cristãs primitivas.
Os respectivos editores dos Evangelhos, naturalmente, oferecem diferentes
inclinações, diferentes visões, de Jesus. Embora eu esteja ciente da multidão
de interesses que moldam o texto histórico, estou principalmente interessado
no rosto sinóptico de Jesus como melhor podemos vê-lo. Concentrar-se no seu
rosto sinóptico é menos sensível às nuances dos editores em particular, mas,
capta a essência da sua mensagem.
8. O tempo do reino e seu caráter escatológico têm sido abordados por numero-
sos estudiosos. Para ter exemplos veja Chilton e McDonald (1987), Hiers (1970,
1973), Ladd (1974a, 1974b), Pannenberg (1969), Perrin (1963, 1976), Sanders
(1995: 169-188), Vermes (2001: 217 -220), e W right (1996: 198-228).
10. O teólogo britânico, Dodd (1936), foi um dos primeiros defensores deste
ponto de vista, muitas vezes chamado de "escatologia realizada”. Crossan (1992:
282-283, 287-288) enfatiza que o reino de que Jesus falou era “aqui e agora”.
11. Borg e W right (1999: 37). O consenso acadêmico claramente mudou para
múltiplos significados sobre o momento do reino. Veja Bright (1953: 216-
217), Chilton (1984), Chilton e McDonald (1987), Crossan (1992: 287- 292,
1994: 55-58), Kraus (1974: 32), Perrin (1985: 150- 56) e W right (1996:
198- 228).
12. Perrin (1976: 29-35) oferece essa distinção útil. A fim de favorecer a
simplicidade, eu rotulei o símbolo esteno de Perrin como “específico” e seu
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0 REINO DE PONTA CABEÇA
símbolo tensivo como “geral”. Borg e W right (1999: 74-75) discutem alguns
dos múltiplos significados do reino.
2. Hengel (1977: 17-21) sugere que Jesus tomou uma posição crítica contra
todos os poderes políticos de seu tempo. Hengel, entretanto, não relaciona essa
postura crítica com a tentação.
3. Uma série de estudos são úteis para reconstruir a história polírica e social
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da Palestina nos séculos que cercam a vida de Jesus. Por exemplo, ver Bruce
(1971), Enslin (1956), Guignebert (1959), Horsley (1987), Horsley e Hanson
(1985), Lohse (1976), Martin (1975), Metzger (1965) e Myers ).
11. Para uma discussão do levante de 4 a.C., veja Freyne (1980) e Horsley
(1987: 50-54). Freyne (1980, 1988) argumenta que, em sua maioria, os movi-
mentos de protesto judaico estavam enraizados principalmente na Judeia e não
na Galiléia.
12. Ver Crossan (1992: 198-202), Hengel (1973: 29) e Horsley (1987: 113).
14. Estou em dívida com Horsley e Hanson (1999), cuja extensa pesquisa
sobre bandidos, profetas e messias colocou as bases para a compreensão desses
movimentos de protesto. Com base na obra de Horsley e Hanson, Crossan
(1992: 451-452) fornece uma lista cronológica dos vários tipos de manifestan-
tes, bem como uma discussão extensa de cada incidente. Meus números vêm
de Crossan. Os números reais podem ser maiores, porque esses números são os
registrados pelo historiador judeu Josephus, em quem a maioria dos estudiosos
confia. Hanson e Oakman (1998: 86-95) em sua discussão sobre grupos de
bandidos, identificam 16 desses grupos entre 47 a.C. e 195 d.C.
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0 REINO DE PONTA CABEÇA
22. Cullmann (1970), Hays (1996: 332-335) e Hengel (1971, 1973) refutam
as alegações de que Jesus usou ou apoiou o uso de meios de força violentos. O
argumento central de Yoder (1994), A Política de Jesus, é que Jesus ensinou
e encarnou a não-violência. Cassidy (1978) e Ford (1984), usando o Evange-
lho de Lucas, argumentam que Jesus defendia a não-violência. Myers (1988),
em uma leitura política de Marcos, afirma que Jesus praticou não apenas a
não-violência, mas também a resistência não-violenta - ação direta simbólica.
Veja também W ink (1992 e 1998) para uma visão similar. Em contrapartida,
Horsley (1987: 318-26), em seu longo estudo de Jesus e da violência, conclui
que há pouca evidência de que Jesus defendesse a não-violência ou a violência.
Sua conclusão repousa, contudo, em uma leitura questionável da ordem de
Jesus para “amar inimigos”.
23. Para evidências esmagadoras de que a Igreja Cristã nos dois primeiros
séculos endossou o pacifismo, veja Fiensy (2002: 558-561) e W ink (1992:
209-229).
5. Veja Hanson e Oakman (1998: 144) para mais detalhes e injunções escritu-
rais que prescrevem os vários sacrifícios.
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DONALD B. KRAYBILL
11. Para discussões ampliadas sobre os fariseus, veja Borg (1984), Jeremias
(1975: 246-67), Moxnes (1988) e Saldarini (1988).
12. Ver Crossan e Reed (2002: 154-158) para uma visão geral das evidências
arqueológicas sobre Qumran.
13■ Martin (1975: 109-16) e Ford (1984: 13-36) resumem o messianismo revo-
lucionário na tradição judaica. Veja Crossan (1992: 106-113, 198-206), Vermes
(2001: 29-54) e W right (1999: 74-125) para discussões adicionais sobre as espe-
ranças messiânicas e a autocompreensão de Jesus de sua identidade messiânica.
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12. Trocme (1973: 87-88). Freyne (1980, 1988) afirma que, apesar do crescí-
mento de grandes propriedades, alguns camponeses, pelo menos na Galiléia,
continuaram cultivando suas próprias parcelas de terra.
19. Jeremias (1971: 221) e Bately (1972: 5-9) argumentam que Jesus era da
classe pobre. Freyne (1988: 241) demonstra que Jesus e seus seguidores não
eram proprietários de terras, mas tampouco eram mendigos destituídos. Eles
estavam entre os mais economicamente móveis da cultura camponesa. Hengel
(1974: 27) afirma que por causa de sua ocupação, Jesus veio de uma classe de
trabalhadores qualificados.
Embora Jesus crescesse em uma família de classebaixa, era uma família de
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2. Não está claro se Jesus seguiu uma leitura designada para o dia ou sele-
cionou a passagem de Isaías. Ringe (1985: 39) acha que a hipótese do leitura
designada é suspeita.
382
0 REINO DE PONTA CABEÇA
7. Trocme (1973: 39) calcula que Jesus pregou em Nazaré em um ano sabático.
8. Strobel (1972) argumenta que não foi apenas um ano sabático - mas foi na
verdade o próprio ano do jubileu quando Jesus apareceu na sinagoga de Na-
zaré. Estou em dívida com Walton Z. Moyer por traduzir o artigo de Strobel
para mim do alemão.
14. Ringe (2002: 70-78) mostra a variedade de formas como o tema do Jubileu
aparece nos ensinamentos e ministério de Jesus.
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3. Para uma exegese das histórias e parábolas de Jesus que estão enraizadas no
contexto da Palestina, recomendo especialmente Bailey (1983). Uma visão
geral concisa das questões relacionadas à erudição sobre as parábolas é fornecida
por Gowler (2000). Ver Herzog (1994), Hultgren (2000), Longenecker (2000),
Scott (1989) e Wierzbicka (2001) para interpretações das parábolas sensíveis ao
contexto cultural e socioeconômico da Palestina.
8. Para uma exegese de Lucas 16: 1-13, situada no contexto cultural da Pales-
tina, veja o trabalho de Bailey (1983: 86-118). A discussão de Derrett (1970:
48-85) da história fornece uma imagem detalhada das normas econômicas na
Palestina e fornece a base para minha discussão. Baseando-se no trabalho de
Derrett, Moxnes (1988: 139-142) fornece uma interpretação plausível desta
história que tem informado minha análise. Uma das melhores e mais profundas
análises da história - que resolve a maioria de suas aparentes inconsistências - é
dada por Herzog (1994: 233-258). Veja também W right (1999) que constrói
em Herzog.
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0 REINO DE PONTA CABEÇA
10. Estou em dívida com Herzog (1994: 257) por ver esse contraste entre o
início e o fim da história.
13. Para uma exegese exaustiva do significado desta história, veja Wierzbicka
(2001) a quem devo algumas ideias-chave. Ver também W right (1999)■
15. Malina e Rohrbaugh (1992: 324-25) esclarecem o uso bíblico dos termos
“ricos" e “pobres” e ressaltam as dimensões do poder social. Os pobres são
vulneráveis nas mãos dos ricos.
16. Jeremias (1971: 112) sugere que a versão Lucana é ccrtamente o original.
O Evangelho de Mateus foi formulado em uma igreja que lutava contra a
tentação da justiça própria dos fariseus. A ênfase "pobre de espírito” era um
corretivo necessário. Wierzbicka (2001: 28-40) desenvolve o convincente argu-
mento de que, com a palavra aramaicaanaivtm, Jesus provavelmente significava
tanto atitude quanto condição. Ele certamente queria dizer a respeito da pobre-
za econômica real quando falava do "faminto” nas bem-aventuranças.
18. Myers (1988: 274-75) e Ringe (1995: 228) argumentam que este ditado
deve ser entendido literalmente como significando um camelo e uma agulha.
385
D O N ALD B . W A Y B IL L
10. Para um estudo aprofundado dessas questões, veja o livro, Our Ecological
Footprint (em tradução livre"Nossa pegada ecológica”), de Wackernagel e Rees
(1996).
11. Veja a lista de sites no final deste livro com organizações que estão tra-
balhando para mudar as políticas e estruturas globais que promovem ações e
protegem contra a injustiça econômica.
12. Ronald Sider (1999) em Just Generosity (em tradução livre" Apenas gene-
rosidade”) articula uma visão bíblica para superar a pobreza na América e cita
exemplos do Jubileu em ação.
2. Danby (1933).
386
0 R E IN O D E P O N T A C A B E Ç A
5. Para uma visão contrastante, ver Sanders (1985: 245-80, 1995: 205-223),
que argumenta que Jesus não violou a Lei, exceto por uma ou duas pequenas
infrações. Esta visão é baseada, em parte, na pouca distinção entre a lei escrita
e a oral, mas na maior parte também, na suposição de que os confrontos de
Jesus com a lei são criações posteriores da igreja primitiva e de redatores que
estavam escrevendo a polêmica contra os Fariseus. W right (1999: 56-58) refuta
a opinião de Sander e argumenta que é improvável que os redatores adicionas-
sem todas as críticas aos fariseus ao texto. W right afirma que Jesus estava de
fato quebrando a lei, não para destruí-la, mas para mostrar como o novo reino a
transforma e quem estava no comando dela.
6. Swartley (1983: 70) fax esta observação e usa o Sabbath para um estudo de
caso fascinante em hermenêutica bíblica comparativa.
11. Borg (1984: 78-96) oferece uma excelente análise do significado da comu-
nhão à mesa de Jesus à qual estou em dívida.
14. Várias cortes externas circundando o próprio templo foram utilizados para
o culto público e designadas para grupos particulares, por exemplo, a côrte
das Mulheres e a côrte de Israel. Borg (1987: 174) afirma que a "Côrte dos
Gentios", tipicamente referida pelos estudiosos, é uma designação moderna,
não antiga.
387
DONALD B.KRAYBILL
sugere que a proibição de transportar vasos tinha mais significado religioso do que
simplesmence evitar que as pessoas fizessem um atalho através do templo. Sanders
(1985: 61-91) afirma que o incidente do templo não foi meramente perseguir
cambistas de dinheiro ou "limpar’' o templo com a finalidade de restaurá-lo para
a operação rotineira. Era mais um ato público de desafio dirigido contra o próprio
templo, e foi este ato provocativo que mais do que qualquer outro levou à morte
de Jesus. Myers (1988: 297-306) argumenta que o templo era fundamentalmen-
te uma instituição econômica e vê Jesus tomando ação direta simbólica contra a
operação do templo. Para discussões adicionais das perspectivas acadêmicas sobre
o significado das ações de Jesus no templo, vejaCrossan e Reed (2001: 218-222),
Myers (1988: 297-304), Sanders (1995: 253-262) e Wright (1999: 62-72).
16. Kelber (1974: 101) advoga que a purga tinha a intenção de encerrar a
operação do templo pelo menos num sentido simbólico, se não final.
17. Talvez não tenhamos uma visão objetiva do que Jesus disse sobre os fari-
seus, porque os conflitos judeu-cristãos levantavam-se à medida que os Evan-
gelhos estavam sendo escritos. Os relatos do Evangelho refletem um lado da
história. Escritos depois que judeus e cristãos se tornaram inimigos amargos, os
Evangelhos podem exagerar o conflito com os fariseus. W right (1999: 56-57),
no entanto, afirma que todo o conflito de Jesus com os fariseus não pode ser
atribuído às controvérsias posteriores na igreja primitiva.
18. Jeremias (1975: 253-55) aponta que Mateus colocou escribas e fariseus na
mesma categoria. Jesus denunciou os fariseus principalmente por sua ênfase
nos dízimos e limpeza ritual, enquanto os escribas ou doutores da lei foram
criticados por sua atenção ao status social. Veja Lucas 11: 37-52.
19· Ver Borg (1987: 157-60) para uma discussão excelente sobre este ponto.
20. Jeremias (1972: 139-44) fornece uma visão útil sobre esta história. Elliot
(1991: 213-240) situa a história em uma análise provocativa da distinção entre
templo e família em Lucas - Atos.
22. Para uma discussão das relações entre a igreja e o reino, consulte Ladd
(1974a: 105-19) e Bright (1953), especialmente o capítulo 8 de Bright, “Be-
tween Two Worlds: The Kingdom and the Church" (em tradução livre"Entre dots
mundos: o reino e a igreja”).
25. Klaassen (2001) mostra como a irreverência em relação aos objetos, lugares
e tempos sagrados era típica dos anabatistas do século XVI
388
0 R E M O D E PONTA C AB EÇ A
10. Moxnes (1988: 129-34) oferece uma excelente discussão desta história de
hospitalidade no contexto de padrões de troca recíprocos na cultura palestina.
12. Walter Wink (1992: 175-193) faz uma exegese de Mateus (5: 38-42) de
forma convincente dentro do contexto cultural do tempo de Jesus. Ele mostra
como dar a outra face, dar o manto, e caminhar a segunda milha eram todas
as formas de resistência não-violenta que as pessoas oprimidas poderíam usar
para humilhar seus opressores. Agradeço a ele por minha interpretação desta
passagem.
13· Veja Wink (1992: 177-184) para uma exegese detalhada destes exemplos.
389
DONALD B. KRAYBILL
16. Walter W ink (1992: 175-229, 1998: 98-111), com uma exegese bíblica
cuidadosa, descreve a terceira via de Jesus em contraste com as opções de fuga e
luta. Estou em dívida com ele por esses entendimentos.
17. Hays (1996: 317-346) oferece um excelente resumo dos textos sobre a
não-violência no Novo Testamento, bem como cerca de seis desvios em torno
da não-violência, todos os quais ele refuta.
19· Em seu trabalho pioneiro, Glen Stassen (1992) identifica sete etapas especí-
ficas para a pacificação que são aplicáveis às relações internacionais.
20. John Howard Yoder (1994: 193-211) oferece uma exegese incisiva de
Romanos 13:1-7, que recomendo e com à qual estou em dívida.
21. Para uma discussão mais aprofundada de algumas dessas questões difíceis,
veja Friesen (1986), Roth (2002) e Yoder (1983).
24. Veja, por exemplo, as muitas obras de Gene Sharp, mas especialmente seu
Methods of Nonviolent Action (em tradução livre"Métodos de Ação Não-violen-
ta”) (1973). Ackerman e Duvall (2001) fornecem uma excelente visão geral
das intervenções não-violentas no século XX. Embora o trabalho de Walter
390
0 R E IN O O E P O N T A C A B E Ç A
25. Para obter informações sobre Christian Peacemaker Teams (em tradução
livre“Equipes de pacificadores cristãos”), consulte seu site na seção Recursos do
site deste livro. Os escritos do pacificador internacional, John Paul Ledera-
ch (1995, 1997, 1999), fornecem muitos exemplos de meios não-violentos
de transformação de conflitos e estabelecimento de paz internacional. Veja
também o sice doConflict Transformation and Peace-Building Program (em
tradução livre'Trograma de Transformação de Conflitos e Consolidação da
Paz”) da Eastern Mennonite University na seção Recursos.
5. Mateus geralmente tem uma visão mais negativa em relação aos gentios
do que Marcos ou Lucas. Talvez por estar escrevendo a um público judeu,
Mateus muitas vezes retrata Jesus com atitudes judaicas típicas. Mateus é o
único escritor que relata Jesus dizendo que Ele é enviado apenas para as ovelhas
perdidas da casa de Israel (Mt. 10: 6; 15:24). Jesus adverte Seus seguidores
a não orar como os gentios que amontoam frases vazias (Mt. 6: 7). De uma
maneira depreciativa, Jesus junta coletores de impostos e gentios juntos como
modelos negativos para seus discípulos (Mt. 5:47; 18:17). Os gentios procuram
ansiosamente as coisas (Mt. 6:32). E os gentios têm hierarquias de autoridade
391
DONALD B. KRAYBILL
(Mt. 20:25). Os discípulos podem esperar ser levados diante dos gentios (Mt.
10:18). O próprio Jesus espera ser escarnecido diante dos gentios (Mt. 20:19).
Em todos esses casos, os gentios são castigados no evangelho de Mateus.
7. Jeremias (1975) tem uma excelente discussão sobre o papel das mulheres na
cultura hebraica no capítulo 18. Essa é a fonte histórica básica para esta seção.
Para várias fontes incrodutórias sobre o papel das mulheres no Novo Testamen-
to, considere Evans (1983), Praeder (1988), Ruether (1981), Siddons (1980) e
Swartley (1983).
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0 R E IN O D E P O N T A C A B E Ç A
9■ É claro que isso é o que John Howard Yoder (1994) quer dizer pelo título de
seu livro, The Politics ofJesus (em tradução livre"A política de Jesus").
13. Redekop (1976: 147) sugere esta tese. Para uma discussão sobre o uso e
abuso de poder nas comunidades anabatistas, veja a série de ensaios editados
por Redekop e Redekop (2001)
3· Brueggemann (1982).
393
DONALD B. KRAYBILL
5. Veja Yoder (1994: 129-133) para uma crítica sobre maneira como o termo
"cruz” é tipicamente usado no cuidado pastoral protestante.
6. Uma das melhores discussões sobre a morte de Jesus a partir de uma pers-
pectiva pacifista no contexto das reorias clássicas da expiação é o livro de J.
Denny Weaver (2001), The Nonviolent Atonement(em tradução livre“A Expiação
Não-violenta”).
394
0 REINO DE PONTA CABEÇA
RECURSOS NA
INTERNET
As organizações listadas abaixo fornecem informações úteis e recursos em justi-
ça social, serviços e atividades pacificadoras.
Bread for the World— Seeking Justice, Ending Hunger (Em tradução livre:
Pão para o Mundo - Buscando Justiça e o Fim da Fome)
l-800-82Bread, www.bread.org
395
DONALD B. KRAYBILL
Educational Concerns for Hunger Organization (Em tradução livre: Foco Edu-
cacional para Organizações contra a Fome)
941-543-3246, www.echonet.org
396
0 REINO DE PONTA CABEÇA
UNICEF www.unicef.org
World Bank Atlas (Em tradução livre: Atlas Mundial de Estatísticas) www.
worldbank.org/data/wdi2001/atlas.htm
World Economy Project (Em tradução livre: Projeto Econômico Mundial)
www.villageorpillage.org/index.html
397
MENSAGEM
PARATODOS
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amofamilia.com.br
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jesuscopy.com
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0 REI É JESUS, 0 QUAL VENCEU
AO SERVIR E TRIUNFOU AO PERDER.
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