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CONDUTAS EM

Escalas de avaliação
em depressão

Dr. Ricardo Alberto Moreno


Material de distribuição exclusiva à classe médica. Dra. Clarice Gorenstein
Editorial

Depressão: estado afetivo,


sintoma, síndrome
O termo “depressão” pode ser usado tanto no sen-
so comum – indicação de um estado alterado de
humor – quanto para designar um sintoma ou uma
síndrome. Como sintoma, a depressão pode surgir nos
mais variados quadros clínicos psiquiátricos (como,
por exemplo, nas demências, nas esquizofrenias e no
alcoolismo) e não-psiquiátricos (tais como hipotireoi-
dismo, tumores cerebrais e infecções). Pode manifes-
tar-se ainda como resposta a situações estressantes ou
a circunstâncias sociais e econômicas adversas. Como
síndrome, a depressão inclui não apenas alterações do
humor (tristeza, irritabilidade, apatia ou perda da ca-
pacidade de sentir prazer), mas também uma gama de
outros sinais e sintomas, como alterações cognitivas,
psicomotoras e vegetativas.
Embora o que melhor caracterize os estados depres-
sivos sejam principalmente os sentimentos de tristeza
ou vazio, nem todos os pacientes relatam essas sensações
subjetivas de tristeza. Muitos referem perda da capaci-
dade de experimentar prazer nas atividades em geral,
redução do interesse pelo ambiente ou até mesmo esta-
dos dolorosos. No diagnóstico da depressão, levam-se
em consideração sintomas psíquicos, fisiológicos e ma-
nifestações comportamentais. Nenhum sintoma é pa-
tognomônico de depressão, e os pacientes podem exibir
diferentes formas clínicas, com diversos sintomas.

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Escalas de avaliação em depressão
Dr. Ricardo Alberto Moreno
Professor do Departamento de Psiquiatria e coordenador
do Grupo de Estudos de Doenças Afetivas do Instituto de
Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP

Dra. Clarice Gorenstein


Professora Associada, Departamento de Farmacologia,
Instituto de Ciências Biomédicas da USP
Pesquisadora do Departamento de Psiquiatria, HCFMUSP

Diagnóstico da depressão versus


mensuração de sintomas

A ausência de marcadores biológicos consistentes faz com que a maioria dos diagnósticos
psiquiátricos se baseie na presença de síndromes e sintomas clínicos. O processo
diagnóstico em psiquiatria tem evoluído ao longo das últimas décadas com o advento
do diagnóstico multiaxial, que permite considerar uma série de aspectos na formulação
diagnóstica a fim de estabelecer estratégias de tratamento e estimar o prognóstico das
doenças mentais em curto, médio e longo prazos. O diagnóstico multiaxial engloba
cinco dimensões: diagnóstico do transtorno mental atual, transtorno de personalidade,
condição médica geral, estressores psicossociais e funcionamento social. O diagnóstico
formal de depressão pelo DSM-IV, por exemplo, requer uma avaliação psiquiátrica
do estado mental do paciente e a exclusão de alternativas que expliquem os sintomas,
tais como o efeito fisiológico de drogas ou medicamentos, e condições médicas como
hipotireoidismo ou esquizofrenia.
Assim, o processo diagnóstico em psiquiatria leva em consideração a presença ou a
ausência de uma série de características clínicas da síndrome depressiva (presença e padrão
de sinais e sintomas, sua duração e seu curso). Para o diagnóstico padronizado, utilizam-
se entrevistas clínicas, que podem ser livres, semiestruturadas ou estruturadas, como
o “Structured Clinical Interview for DSM-IV” (SCID) ou o “Schedules for Clinical
Assessment in Neuropsychiatry” (SCAN). Já quando o propósito é estimar a gravidade
dos sintomas de um paciente previamente diagnosticado com depressão, utilizam-se as
escalas de avaliação.

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Escalas de avaliação avaliação e as de avaliação clínica do observador. Suas
informações se complementam e, portanto, são úteis
de depressão para o pesquisador e para o clínico.

As escalas de avaliação de depressão são empregadas Escalas de avaliação


para quantificar a presença e a gravidade de sintomas,
adotando critérios objetivos preestabelecidos. Como há do observador
sempre uma parcela de subjetividade tanto do paciente
quanto do entrevistador na atribuição de escores e como Para utilizar uma escala de avaliação do observador,
muitos dos sintomas dos transtornos psiquiátricos são é necessário que o profissional tenha um amplo conhe-
inerentemente subjetivos, essas “medidas” devem ser cimento dos conceitos avaliados, além de familiaridade
consideradas como estimativas aproximadas. com o instrumento. É importante que o entrevistador
Em sua maioria, as escalas de avaliação têm mais de seja habilitado em programas de treinamento que
vinte anos de uso e passaram por estudos de validação englobem estudos de confiabilidade entre avaliadores
e confiabilidade, sendo utilizadas em ensaios clínicos de para padronização dos julgamentos. Além disso, o
psicofarmacologia em diversos países. A avaliação das observador não deve se deixar levar pela primeira im-
categorias de sintomas que compõem a síndrome de- pressão nem permitir que o estado geral do paciente
pressiva varia de uma escala para outra. Essas diferenças influencie a avaliação dos itens individuais (efeito
podem ser constatadas pela contribuição de cada uma halo). A concordância entre diferentes investigadores
dessas categorias ao escore total da escala. Algumas aumenta consideravelmente quando a atribuição do
valorizam mais os sintomas cognitivos, outras, o humor, diagnóstico é orientada por critérios operacionais e
dependendo de seu referencial teórico subjacente. entrevistas psiquiátricas padronizadas, possibilitando a
As principais categorias de sintomas depressivos são: comunicação internacional e a comparação de resultados
Humor – Tristeza, perda de interesse e/ou prazer, cri- obtidos em diferentes centros.
ses de choro, variação diurna do humor; Há muitas escalas do observador desenvolvidas para avaliar
a depressão (Tabela 1). Entre as mais amplamente utilizadas
Vegetativos ou somáticos – Alterações de sono, apetite,
estão as de Hamilton (HAM-D) e de Montgomery-Åsberg
peso, libido, constipação e fadiga;
(MADRS). Ambas vêm sendo empregadas em pesquisas
Motores – Inibição ou retardo, agitação e inquietação; como critério clínico de inclusão, medidas de evolução
(resposta clínica, remissão ou recaída) ou de recuperação de
Sociais – Apatia, isolamento e incapacidade para o
um episódio. Tanto a escala HAM-D quanto a MADRS
desempenho de tarefas cotidianas;
avaliam a intensidade dos sintomas depressivos no mesmo
Cognitivos – Desesperança, desamparo, idéias de cul- sentido, isto é, quanto maior o número de pontos, maior
pa (podem ser delirantes) e suicídio, indecisão, a gravidade.
perda de discernimento (insight, reconhecimento
de que está doente);
Escala de Avaliação
Ansiedade – Ansiedade psíquica, somática e fóbica;
para Depressão de
Irritabilidade – Inclui hostilidade, auto ou heteroagres-
são (a auto-agressão associa-se ao risco de suicídio).
Hamilton (HAM-D)

Há muitas maneiras de se classificarem escalas, mas a A Escala de Avaliação para Depressão de Hamilton
mais comumente adotada é a que distingue as de auto- (HAM-D) foi desenvolvida há mais de quarenta anos

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TABELA 1. EXEMPLOS DE ESCALAS DE AVALIAÇÃO DE DEPRESSÃO
ESCALAS DO OBSERVADOR
Escala de Avaliação para Depressão de Hamilton
Escala de Avaliação para Depressão de Montgomery-Åsberg
Escala de Melancolia de Bech-Rafaelsen
Escala de Depressão da Organização Mundial da Saúde (OMS)
Escala de Raskin
Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão (HADS)
ESCALAS DE AUTO-AVALIAÇÃO
Inventário de Depressão de Beck
Escala de Auto-Avaliação de Depressão de Zung
Inventário de Sintomatologia Depressiva (IDS) de Rush
Escala de Auto-Avaliação de Depressão de Carroll
Escalas de Humor e Escala de Depressão de von Zerssen
Lista de Adjetivos para Depressão de Lubin
(Hamilton, 1960) e mesmo assim mantém sua posi- Elaborada para avaliar e quantificar a sintomatologia
ção de escala do observador mais usada mundialmen- depressiva em pacientes portadores de transtornos do
te, sendo considerada o padrão-ouro para avaliação humor, a HAM-D não é recomendada para outro tipo
de confiabilidade e validade das escalas posterior- de paciente e não constitui instrumento diagnóstico
mente desenvolvidas. para identificação de depressão.
O grau de confiabilidade da escala HAM-D,
medido pela consistência interna e pela confiabilidade Versões e pontuações
entre avaliadores, é considerado bom ou excelente.
Os coeficientes de consistência interna variam de da HAM-D
0,83 a 0,94, dependendo do estudo. A confiabilidade
entre avaliadores tem sido, em geral, acima de 0,85. A escala HAM-D possui três versões: de 17, 21 e 24
Sua validade, comparada a outros instrumentos itens (Anexo 1). Originalmente, Hamilton descreveu 21 itens
para avaliação de sintomas de depressão, tem sido e posteriormente reduziu seu número para 17, a versão
demonstrada em vários estudos, nos quais os escores são mais utilizada. Os quatro sintomas excluídos – variação
comparados em grupos de pacientes com transtornos diurna do humor, desrealização, sintomas paranóides e
depressivos de gravidade diferente. sintomas obsessivos –, embora sejam de interesse para a
Nessa escala, os aspectos cognitivos e somáticos pesquisa, ocorrem menos freqüentemente e nem sempre
totalizam mais de 50% do escore total possível, enquanto correspondem a um quadro depressivo mais grave. A
16% estão associados aos sintomas ansiosos. A categoria versão de 24 itens inclui também desesperança, desamparo
humor representa apenas 8%. Por enfatizar sintomas e autodesvalorização. Outra versão, mais recente,
somáticos, a HAM-D é particularmente sensível a incorporou itens para a avaliação de sintomas “atípicos”
mudanças vivenciadas por pacientes gravemente de- (como hipersonia, aumento do apetite, da ingestão de
primidos. De outro lado, a presença de doenças físicas carboidratos e do peso, isolamento social, fadiga e variação
pode desvirtuar as conclusões, uma vez que a melhora diurna reversa, com piora no fim do dia).
dos sintomas relacionados à doença pode ser confundida Os itens da escala HAM-D são pontuados de 0 a 2 ou
com a melhora do episódio depressivo. de 0 a 4. Na versão de 17 itens, o escore total varia de 0

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a 50. Embora o autor não tenha proposto um ponto de atribuição de escores. Sua aplicação tem se mostrado
corte padrão, na prática, considera-se que escores acima útil especialmente em situações nas quais não é viável
de 25 (ou 28) pontos identificam pacientes gravemente um treinamento intensivo dos entrevistadores.
deprimidos; escores entre 18 e 24 pontos referem-se a
graus moderados; e escores entre 7 e 17 pontos indicam Escala de Avaliação para
graus leves de depressão. Muitos autores consideram
escores totais de 7 ou menos pontos como normais; Depressão de Montgomery-
entre 8 e 13, depressão leve; entre 14 e 18, depressão Åsberg (MADRS)
moderada; entre 19 e 22, grave; de 23 ou mais, depressão
muito grave (Blacker, 2000).
A Escala de Avaliação para Depressão de Montgomery-
O escore total da HAM-D é usado com freqüência
Åsberg (MADRS) (Montgomery-Åsberg, 1979) foi de-
como critério de inclusão de pacientes em pesquisas com
senvolvida especialmente para avaliar mudanças clínicas no
antidepressivos. A maioria dos ensaios clínicos relata
curso do tratamento, sendo bastante utilizada em ensaios
melhora quando ocorre redução de 50% nos escores com medicamentos antidepressivos. Elaborada a partir
da escala. No entanto, para um paciente com depressão da “Comprehensive Psychopathological Rating Scale”
grave (por exemplo, com pontuação inicial de 40), esse (CPRS), que abrangia 65 itens, selecionou inicialmente
critério pode não ter um significado clínico relevante: os 17 mais freqüentes indicadores da gravidade da doença
o paciente continua deprimido ou com melhora e, em sua versão final, chegou aos 10 itens mais signifi-
parcial e, do ponto de vista clínico, não há remissão do cativos para indicar os sintomas do transtorno depressivo
episódio depressivo. Assim, mesmo tendo melhorado, (Anexo 3). Cada um dos 10 itens da MADRS engloba
o paciente não pode ser considerado assintomático, o quatro descrições das manifestações de sintomas e permite
objetivo de um tratamento antidepressivo adequado. pontos intermediários, de modo que o escore de cada item
A recomendação informal de definir remissão como varia de 0 a 6 e o escore total, de 0 a 50. Essa característica
escores da HAM-D de 7 ou menos tem sido confirmada da escala possibilita ao entrevistador uma avaliação mais
em estudos recentes. precisa da intensidade dos sintomas que correspondem
A escala HAM-D, originalmente elaborada para às descrições observadas. A MADRS distingue entre
avaliadores clínicos, também tem sido utilizada por os sintomas relatados e os observados (indicadores
aplicadores treinados. Por não ter uma entrevista não-verbais de depressão), evitando dúvidas que possam
padronizada, exige muita habilidade do entrevistador, prejudicar a avaliação.
que precisa saber coletar as informações e decidir sobre os A MADRS difere da HAM-D por não incluir
escores, que sintetizam a freqüência e a intensidade dos sintomas somáticos e psicomotores. Entretanto,
sintomas em cada item. Nessa escala, a recomendação avalia alguns dos principais sintomas do transtorno
é para que a entrevista dure trinta minutos em média depressivo, como tristeza, redução do sono, lassidão,
e que, em geral, a atribuição de escores seja feita por pessimismo e pensamentos suicidas. Seus itens
dois avaliadores: um conduzindo a entrevista e o incluem aspectos biológicos, cognitivos, afetivos e
outro fazendo perguntas complementares no final. comportamentais, e a avaliação do humor e dos
Em 1988, visando à padronização das indagações do sintomas vegetativos/somáticos representam, cada
entrevistador, foi publicado o Manual Estruturado um, 30% do total do escore da escala. Ela apresenta
para Entrevista da Escala HAM-D (Williams, 1988) alta validade e confiabilidade quando aplicada por
(Anexo 2). Esse manual tem a vantagem de fornecer um entrevistador clínico e também por enfermeiros
instruções padronizadas que auxiliam no treinamento treinados na observação de pacientes internados
e no aumento da consistência da administração e da em unidades psiquiátricas.

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Não foram definidos pelos autores os pontos de corte No item 12, sintomas somáticos gastrointestinais, o fato
da MADRS para as diferentes gravidades. Entretanto, de o paciente apresentar dificuldades para comer por
para a depressão grave, acredita-se que escores de 35 ou si só já é suficiente para a pontuação 2, mesmo que
mais na MADRS corresponderiam a 28 pontos ou mais este não use laxantes ou medicamentos para sintomas
na HAM-D de 17 itens. Embora não exista um consenso intestinais ou gástricos. No item 14, sintomas genitais,
para se definir a remissão pela MADRS, sugere-se que o a “perda de interesse pela sexualidade” é suficiente para
ponto de corte de 11 (ou 10) seja comparável ao escore dar a pontuação 2, mesmo que o paciente não apresente
7 da HAM-D. alterações menstruais. O item 15, hipocondria, não
deve ser confundido com queixas somáticas. Este item
corresponde a uma preocupação específica do paciente
Recomendações práticas acerca de sua saúde física, baseada ou não em sintomas
para a utilização das somáticos (como múltiplas consultas a médicos gene-
escalas HAM-D e MADRS ralistas). Freqüentemente, a dimensão “hipocondria”
aparece antes do diagnóstico de depressão.
Outro cuidado importante na utilização das escalas
Alguns procedimentos devem ser observados para
é a pontuação dupla. Por exemplo, muitas vezes se
a otimização dos resultados na aplicação das escalas
confunde ansiedade psíquica com ansiedade somática
HAM-D e MADRS. Entre eles, a realização de sessões
(itens 10 e 11 da HAM-D, respectivamente). A discussão
de treinamento e, no caso da HAM-D, a utilização do
psicopatológica dos conceitos é fundamental nesses casos
Manual Estruturado para Entrevista HAM-D.
para evitar tal tipo de erro. Ansiedade psíquica refere-se à
Outras condutas importantes incluem: definir
expressão psicológica da ansiedade, ao aspecto cognitivo,
precisamente o período explorado para a pontuação
e a ansiedade somática, às manifestações fisiológicas
(em geral, a última ou as duas últimas semanas),
concomitantes da ansiedade. A pontuação deve ser dada
anotar somente o que se observa ou se escuta e evitar
separadamente. Por exemplo, um paciente pode referir
inferências ou interpretações pessoais do investigador.
tensão, preocupação, ruminações sobre eventos do
A pontuação para um sintoma não relatado ou não
cotidiano e não apresentar sintomas somáticos. Nesse
observado deve ser igual a 0. Além disso, todo sintoma
caso, pontua-se apenas o item ansiedade psíquica. Regras
manifestado como prejuízo angustiante relatado pelo
gerais para avaliar tais itens incluem:
paciente deve ser anotado como importante, mesmo
Escore 1 – Um ou vários sintomas estão presentes
que o avaliador tenha a impressão de que o paciente
(sintomas nem freqüentes nem embaraçosos);
“exagera” ou “dramatiza”. Se o sintoma é duvidoso
ou incerto, a intensidade 0 deve ser a escolhida. Em Escore 2 – Um ou vários sintomas estão presentes
caso de dúvida entre duas pontuações, o grau mais alto (sintomas freqüentes, mas com pouco embaraço
é sistematicamente escolhido. Todos os itens devem ou raramente embaraçosos);
ser explorados e pontuados. As escalas HAM-D e Escore 3 – Um ou vários sintomas estão presentes
MADRS devem ser completadas imediatamente após a (sintomas freqüentes e embaraçosos);
entrevista e não enquanto esta estiver sendo realizada ou
muito tempo depois. Escore 4 – Um ou vários sintomas estão presentes
Especificamente em relação à escala HAM-D, não é (sintomas permanentes e quase incapacitantes).
necessário que o paciente preencha todos os exemplos
para chegar à pontuação máxima de intensidade. No item No item 16, perda de peso, somente anotar uma
7, trabalho e atividades, “parar de trabalhar por causa da resposta: A ou B deve ser pontuado. No item 6, a
depressão” é suficiente para se alcançar a pontuação 4. insônia terminal (nas primeiras horas da manhã) é

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freqüentemente mal explorada durante a entrevista. outros pacientes. Por exemplo, pacientes com depressão
Devem ser pesquisados os hábitos e as condições físicas leve podem se auto-avaliar como mais deprimidos
e fisiológicas do paciente. do que quando avaliados pelo observador clínico; e o
Na experiência do Grupo de Estudos de Doenças contrário também pode ocorrer: o paciente gravemente
Afetivas (GRUDA) do Instituto de Psiquiatria do Hospital deprimido pode se auto-avaliar de forma mais branda.
das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade Pode ser mais difícil distinguir entre depressão
de São Paulo, as escalas de HAM-D e MADRS são moderada e grave do que entre leve e moderada, porque
sistematicamente utilizadas na avaliação da eficácia e da os sintomas são mais amplos e complexos em pacientes
tolerabilidade de medicamentos antidepressivos. gravemente deprimidos, que sofrem a influência da
Por meio dessas escalas, durante o período de lavagem distorção cognitiva provocada pelo estado depressivo
(wash-out), são identificados e excluídos os pacientes ou têm baixa motivação para responder às questões.
que respondem a placebo, isto é, aqueles que tiverem os Idosos podem apresentar uma tendência a negar a
escores iniciais da HAM-D reduzidos em 50% ou mais. depressão, enquanto a presença de prejuízo cognitivo
Após discussão sobre cada item das escalas, é realizado pode interferir nos resultados.
um treinamento de confiabilidade entre avaliadores para Apesar dessas limitações, as escalas de avaliação do
cada um dos estudos. Recomenda-se que essa prática paciente são complementares às do observador, pois
seja seguida sempre que se utilizem as escalas em estudos fornecem um elemento valioso e singular: a avaliação
envolvendo vários pesquisadores e principalmente quando da depressão feita sob a ótica do próprio paciente.
houver pesquisadores de centros diferentes. Com isso, Entre as várias escalas de auto-avaliação (Tabela
torna-se possível minimizar as diferenças conceituais de 1), destaca-se o Inventário de Depressão de Beck
psicopatologia. (BDI) (Beck et al., 1961; com validação para o Brasil
O treinamento dos investigadores no uso dos de Gorenstein e Andrade, 1996), a medida de auto-
instrumentos diagnósticos e das escalas de avaliação tem avaliação de depressão mais amplamente utilizada.
contribuído sensivelmente para uma seleção apropriada Pelo fundamento teórico que o embasa, o Inventário
da amostra e para a redução da discrepância entre de Depressão de Beck valoriza muito mais a categoria
avaliadores de diferentes centros de pesquisa, no caso de dos sintomas cognitivos (52%), enquanto os sintomas
estudos multicêntricos. vegetativos representam 29%, o humor, 9,5% e os
sintomas sociais e a irritabilidade contribuem com 5%
Escalas de auto-avaliação cada um.
A escala original consiste em 21 itens, incluindo
de depressão sintomas e atitudes cuja intensidade varia de 0 a 3 (Anexo 4).
A versão revisada difere da primeira por se referir à
Escalas de auto-avaliação têm a vantagem da rapidez “última semana” em vez de “hoje” e por pequenas
e da economia, já que não requerem a observação de alterações no vocabulário de 15 dos seus itens. Em 1996,
um profissional treinado. Entre as limitações de tais foi publicada a forma II do BDI, que reflete melhor
escalas está o fato de não se aplicarem a analfabetos os critérios diagnósticos para transtorno depressivo
ou a sujeitos com pouca instrução, que podem ter maior do DSM-IV. Na forma II, 4 itens da versão
dificuldade em compreender a redação de uma escala. A anterior – perda de peso, distorção da imagem corporal,
avaliação do paciente leva em consideração somente sua preocupação somática e inibição para o trabalho – foram
própria experiência, ou seja, o paciente consegue avaliar substituídos por outros que avaliam sintomas associados
se melhorou ou não, mas não tem parâmetros para a graus mais intensos de depressão (agitação, inutilidade,
comparar a gravidade de seus sintomas em relação à de dificuldade de concentração e perda de energia). Além

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disso, no BDI-II, os itens correspondentes às alterações em dois grupos, os que supostamente teriam diagnóstico
de apetite e sono permitem a avaliação de aumento e e os que não. A Escala de Rastreamento Populacional para
diminuição desses comportamentos. Depressão do “Center for Epidemiologic Studies Depression
Há diferentes propostas de pontos de corte no BDI para Scale” (CESD) e o Questionário de Transtornos de Humor
distinguir os vários níveis de depressão. Em amostras de (“Mood Disorder Questionnaire de Hirschfeld”) têm sido uti-
pacientes com transtorno afetivo, o “Center for Cognitive lizados para a identificação preliminar de casos de depressão
Therapy” recomenda os seguintes pontos de corte: e transtorno bipolar, respectivamente, mas necessitam de pos-
• < 10 = sem depressão ou depressão mínima; terior confirmação diagnóstica.
• 10 a 18 = depressão leve a moderada;
• 19 a 29 = depressão moderada a grave; Escalas complementares
• 30 a 63 = depressão grave.
Escalas não específicas para depressão também
Em amostras não diagnosticadas, as diretrizes são complementam a avaliação do paciente. Entre as escalas
diferentes: escores acima de 15 indicam disforia e acima do observador, destaca-se a Escala de Impressão Clínica
de 20, depressão. Global de Guy, que avalia a gravidade da doença, a
Embora o BDI não tenha sido desenvolvido com pre- melhora global, os efeitos terapêuticos e os efeitos
tensão diagnóstica, estudos têm mostrado sua capacidade colaterais de um determinado tratamento.
preditiva na detecção de transtornos depressivos na popu- As conseqüências da morbidade psiquiátrica, isto é, o
lação geral. Utilizando uma entrevista clínica semiestrutu- impacto dos sinais e sintomas na vida dos pacientes, têm
rada como medida de validação (SCAN), foram obtidos sido avaliadas por meio de escalas de qualidade de vida e
índices de sensibilidade e especificidade de 90% a 100%, funcionamento social. As escalas de qualidade de vida avaliam,
dependendo dos pontos de corte adotados. entre outros, o bem-estar físico e a procura por serviços
médicos, tais como a “Medical Outcomes Study Short Form
Escalas de avaliação 36” (SF-36) e a Escala de Qualidade de Vida da Organização
de depressão em Mundial da Saúde (WHOQOL). As de funcionamento
social, como a Escala de Auto-Avaliação de Adaptação Social
populações especiais (Social Adaptation Self-Evaluation Scale, SASS, de Bosc),
e a Escala de Auto-Avaliação de Adequação Social (Social
Existem escalas específicas de avaliação de depressão em Adjustment Scale Self-Report, SAS-SR, de Weissman; com
populações especiais, tais como aquelas que avaliam: validação para o Brasil de Gorenstein et al., 2002) avaliam o
• depressão em crianças – “Children’s Depression desempenho instrumental (tempo consumido) e afetivo em
Inventory” (CDI) e “Children’s Depression Rating várias áreas, tais como trabalho, lazer e relações interpessoais.
Scale-Revised” (CDRS-R); A Escala de Avaliação Global de Funcionamento (GAF), que
• depressão pós-parto – Escala de Depressão Pós-Par- faz parte do DSM-IV, foi desenvolvida como uma avaliação
to de Edimburgo; global do observador sobre o funcionamento psicológico,
social e ocupacional do paciente.
• depressão em idosos – “Geriatric Depression Scale” Hoje, a tendência é o uso de múltiplas escalas para
(GDS) e “Cornell Scale for Depression in Dementia”. avaliar as diferentes características envolvidas na síndrome
Também são bastante úteis as escalas de rastreamento, depressiva. Essa é a abordagem mais confiável na clínica e
especialmente utilizadas em epidemiologia, por constituírem nos ensaios clínicos, de cujo rigor dependerá a introdução
uma forma rápida e econômica de dividir a população estudada de novos antidepressivos, mais eficazes e seguros.

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ANEXO 1. ESCALA DE HAMILTON PARA AVALIAÇÃO DE DEPRESSÃO

Instruções: Em cada item, escolha a pontuação que me- 5 Insônia intermediária


lhor caracteriza o sintoma do paciente na última semana. 0 ( ) Sem dificuldade.
Assinale sua opção no espaço apropriado. 1 ( ) Queixa-se de sentir inquietude e perturbação
durante a noite.
1 Humor deprimido (tristeza, desesperança, desam-
paro, menos valia) 2 ( ) Acorda durante a noite (qualquer saída da cama,
0 ( ) Ausente. marcar 2, exceto para necessidades fisiológicas).
1 ( ) Sentimentos são relatados somente se perguntados.
2 ( ) Sentimentos são relatados espontaneamente com 6 Insônia terminal (madrugada)
palavras. 0 ( ) Sem dificuldade.
3 ( ) Comunica esses sentimentos não verbalmente, ou 1 ( ) Acorda de madrugada, mas volta a dormir.
seja, na expressão facial, na postura, na voz e na 2 ( ) Não consegue voltar a dormir se acordar de
tendência ao choro. madrugada ou sair da cama.
4 ( ) Paciente comunica quase exclusivamente esses
sentimentos, espontaneamente, tanto em seu 7 Trabalho e atividades
relato verbal como na comunicação não-verbal. 0 ( ) Sem dificuldades.
1 ( ) Pensamentos e sentimentos de incapacidade,
2 Sentimentos de culpa
fadiga ou fraqueza relacionados a atividades,
0 ( ) Ausentes.
trabalho ou passatempos.
1 ( ) Auto-recriminação; acha que decepcionou as
2 ( ) Perda de interesse em atividades, passatempos
outras pessoas.
2 ( ) Idéias de culpa ou ruminações sobre erros ou ou trabalho relatada diretamente pelo paciente
ações do passado. ou indiretamente pela falta de iniciativa,
3 ( ) Acha que a doença atual é um castigo; delírio de indecisão, vacilação (sente que precisa se forçar
culpa. para trabalhar ou desenvolver atividades).
4 ( ) Ouve vozes que acusam ou denunciam e/ou tem 3 ( ) Redução do tempo gasto em atividades ou queda
alucinações visuais ameaçadoras. de produtividade (marque 3 se não ocupa pelo
menos três horas/dia em atividades – trabalho ou
3 Suicídio passatempos –, exceto as de rotina).
0 ( ) Ausente. 4 ( ) Parou de trabalhar devido à doença atual
1 ( ) Acha que a vida não vale a pena. (marque 4 se o paciente não desenvolve atividades
2 ( ) Gostaria de estar morto, ou qualquer cogitação além das de rotina ou deixa de executá-las
sobre possível morte para si mesmo. sem ajuda).
3 ( ) Idéias ou gestos suicidas.
4 ( ) Tentativa de suicídio (qualquer tentativa séria, 8 Retardo (lentificação do pensamento e do discurso,
marque 4). dificuldade de concentração, diminuição da
atividade motora)
4 Insônia inicial
0 ( ) Pensamento e discurso normais.
0 ( ) Sem dificuldade para iniciar o sono.
1 ( ) Queixa-se de dificuldade ocasional para conciliar 1 ( ) Discreta lentificação durante a entrevista.
o sono, ou seja, mais de meia hora. 2 ( ) Óbvia lentificação durante a entrevista.
2 ( ) Queixa-se de dificuldade para conciliar o sono 3 ( ) Entrevista difícil.
todas as noites. 4 ( ) Estupor.

10
9 Agitação 14 Sintomas genitais (perda de libido,
0 ( ) Nenhuma. distúrbios menstruais)
1 ( ) Inquietude. 0 ( ) Ausentes, ou informação insuficiente.
2 ( ) Brinca com as mãos ou os cabelos etc. 1 ( ) Leves: redução da libido ou desempenho sexual
3 ( ) Movimenta-se, não consegue se sentar quieto insatisfatório; tensão pré-menstrual leve.
durante a entrevista. 2 ( ) Graves: desinteresse ou impotência; tensão pré-
4 ( ) Retorce as mãos, rói as unhas, puxa os cabelos, menstrual grave.
morde os lábios.
15 Hipocondria
10Ansiedade psíquica 0 ( ) Ausente.
0 ( ) Sem problemas. 1 ( ) Auto-observação (corporal) aumentada.
1 ( ) Tensão e irritabilidade subjetivas. 2 ( ) Preocupação excessiva com a saúde.
2 ( ) Preocupação excessiva com trivialidades. 3 ( ) Queixas freqüentes, pedidos de ajuda etc.
3 ( ) Atitude apreensiva aparente na 4 ( ) Delírio hipocondríaco.
fisionomia ou no discurso.
4 ( ) Medos expressos espontaneamente. 16 Perda de peso (avalie A ou B)
A. De acordo com o paciente.
11 Ansiedade somática: concomitantes fisiológicos da 0 ( ) Nenhuma.
ansiedade (GI: boca seca, flatulência, indigestão, 1 ( ) Provável emagrecimento associado à doença atual.
diarréia, cólicas, eructação. CV: palpitação, cefaléias. 2 ( ) Perda de peso indubitável
Resp.: hiperventilação, suspiros; sudorese; ter de (de acordo com o paciente).
urina freqüentemente) B. Com base em medidas semanais.
0 ( ) Ausente. 0 ( ) Menos de 0,5 kg de perda de peso na semana.
1 ( ) Leve: sintomas menores relatados quando inquirido. 1 ( ) Mais de 0,5 kg de perda de peso na semana.
2 ( ) Moderado: paciente descreve espontaneamente 2 ( ) Mais de 1 kg de perda de peso na semana.
sintomas não incapacitantes.
17 Crítica
3 ( ) Grave: número e freqüência maiores que 2;
0 ( ) Reconhece estar deprimido e doente, ou não
acompanhado de estresse subjetivo e prejudicando
estar deprimido esta semana.
o funcionamento normal.
1 ( ) Reconhece estar doente, mas atribui isso à má
4 ( ) Incapacitante: numerosos sintomas, persistentes
alimentação, ao clima, ao excesso de trabalho, a
ou incapacitantes na maior parte do tempo;
um vírus, à necessidade de descanso etc.
ataques de pânico.
2 ( ) Nega estar doente.
12 Sintomas somáticos (apetite, digestivo) Pontuação total da HAM-D 17 itens:_______
0 ( ) Nenhum. (Faixa de variação: 0 a 50)
1 ( ) Perda de apetite, mas come sem necessidade de
encorajamento. Peso no abdome. 18 Variação diurna
2 ( ) Dificuldade para comer sem encorajamento ou A. Observar se os sintomas são piores pela manhã ou à
insistência. Pede ou requer laxantes ou medicação tarde (caso não haja variação, marque “nenhuma”).
para sintomas gastrointestinais. 0 Nenhuma.
1 Pior de manhã.
13 Sintomas somáticos (gerais) 2 Pior à tarde.
0 ( ) Nenhum. B. Quando presente, aponte a gravidade da variação
1 ( ) Peso ou lassidão em membros, costas ou cabeça. (marque “nenhuma” caso não haja variação).
Dores nas costas, de cabeça ou musculares. Perda 0 Nenhuma.
de energia e fatigabilidade. 1 Leve.
2 ( ) Marque 2 para qualquer sintoma bem definido. 2 Grave.

11
Nota: Apenas o escore referente à sua gravidade (1 ou 2 3 Necessita de insistência, orientação e
pontos no item 18B) deve ser incluído no escore final. reasseguramento para completar tarefas.
O item 18A não deve ser computado. 4 Requer assistência para se vestir, comer ou realizar
higiene pessoal.
19 Despersonalização e desrealização
0 Ausente. 23 Desesperança
1 Leve. 0 Ausente.
2 Moderada. 1 Dúvida intermitente de que “as coisas irão melhorar”,
3 Grave. mas pode ser reassegurado.
4 Incapacitante. 2 Consistentemente se sente desesperançado, mas
aceita reasseguramentos.
20 Sintomas paranóides 3 Expressa sentimentos de desencorajamento, desespero e
0 Nenhum. pessimismo quanto ao futuro que não podem ser desfeitos.
1 Desconfiança. 4 Espontânea e inapropriadamente persevera “nunca
2 Idéias de referência. vou melhorar” ou algo equivalente.
3 Delírios de referência e perseguição.
24 Baixa auto-estima
21 Sintomas obsessivos e compulsivos 0 Ausente.
0 Nenhum. 1 Indica sentimentos de inutilidade (perda da auto-
1 Leves. estima) apenas quando perguntado.
2 Graves. 2 Paciente indica espontaneamente sentimentos de inutilidade.
Somar os pontos obtidos em todos os itens (exceto 18A). 3 Difere de (2) acima por grau: paciente relata
Pontuação total da HAM-D de 21 itens:_______ espontaneamente que é “ruim”, “inferior”.
(Faixa de variação: 0 a 62) 4 Delírios de inutilidade.
Pontuação total da HAM-D de 24 itens: ______
22 Desamparo (Faixa de variação: 0 a 70)
0 Ausente. NB: A aplicação da escala deve ser feita sempre pelo
1 Sentimentos subjetivos extraídos apenas pela entrevista. mesmo pesquisador.
2 Paciente relata espontaneamente
sentimentos de desamparo. Fonte: Adaptado de Blacker, 2000.

12
ANEXO 2. ENTREVISTA ESTRUTURADA PARA A ESCALA DE AVALIAÇÃO DE DEPRESSÃO DE HAMILTON

A primeira questão para cada item deve ser feita exatamen- Se paciente ambulatorial: Você tem trabalhado? Se não:
te como está escrita. Freqüentemente, esta pergunta ex- Especifique por que não.
trairá informações sobre a gravidade e a freqüência de um
sintoma, suficientes para avaliar o item com segurança. 1. Como tem estado seu humor na última semana?
Questões adicionais são fornecidas, todavia, caso seja ne- Você tem se sentido para baixo ou deprimido?
cessária maior exploração ou clarificação de um sintoma. Triste? Sem esperança?
As questões especificadas devem ser utilizadas até haver in- Na última semana, com que freqüência você se
formação suficiente para se avaliar o item com segurança. sentiu (utilize a palavra referida pelo paciente)?
Em alguns casos, você poderá que adicionar suas próprias Todos os dias? O dia inteiro?
perguntas para obter as informações necessárias. Você tem chorado?
Notas Humor depressivo (tristeza, desesperança, desamparo,
Período de tempo inutilidade)
0 Ausente.
Embora as perguntas indiquem que as avaliações devem
1 Sentimentos relatados somente se perguntados.
se basear nas condições do paciente na última semana, al-
guns investigadores podem ter o desejo de, como medida 2 sentimentos relatados espontaneamente,
de mudança, basear suas avaliações nos últimos 2 ou 3 com palavras.
dias. Desse modo, as perguntas devem ser precedidas por 3 Comunica os sentimentos não com palavras, isto é, com a
“nos últimos dois dias”. expressão facial, a postura, a voz e a tendência ao choro.
4 O paciente comunica quase exclusivamente esses
Perda de peso sentimentos, tanto em seu relato verbal como na
Recomenda-se que se avalie positivamente sempre que o comunicação não-verbal.
paciente tenha perdido peso em relação ao seu peso habi- Se pontuar de 1 a 4, pergunte: Há quanto tempo você tem se
tual (por exemplo, antes do episódio depressivo atual), a sentido dessa maneira?
não ser que ele tenha começado a readquirir o peso perdi-
do. No entanto, uma vez que o paciente comece a ganhar 2. Você tem se sentido especialmente autocritíco nesta
peso, mesmo que ainda esteja abaixo de seu peso habitual, última semana, sentindo que fez coisas erradas ou
ele não deve ser avaliado positivamente nesse item. decepcionou outras pessoas?
Se sim: Quais foram esses pensamentos?
Funcionamento habitual Você tem se sentido culpado em relação a coisas que
Muitas das perguntas da entrevista referem-se ao funcio- fez ou não fez?
namento habitual do paciente. Em alguns casos, quando, Você tem pensado que, de alguma forma, você é
por exemplo, o paciente apresentar distimia ou transtorno responsável pela sua depressão?
afetivo sazonal, o referencial deve ser a última vez em que Você sente que está sendo punido ao ficar doente?
esteve bem (ou seja, nem deprimido nem eufórico) por Sentimentos de culpa
pelo menos algumas semanas. 0 Ausente.
1 Auto-recriminação, acha que decepcionou as outras pessoas.
Entrevista estruturada para a Escala de Avaliação de
Depressão de Hamilton 2 Idéias de culpa ou ruminações de erros ou ações
pecaminosas (más) no passado.
3 Paciente acha que a doença atual é uma punição
Introdução (castigo). Delírio de culpa.
Gostaria de lhe fazer algumas perguntas sobre a última sema- 4 Ouve vozes que o acusam ou denunciam e/ou tem
na. Como você tem se sentido desde a última (dia da semana)? alucinações visuais ameaçadoras.

13
3. Nesta última semana, você teve pensamentos de que 7. Como você tem passado seu tempo na última semana
não vale a pena viver ou que você estaria melhor morto? (quando não está no trabalho)?
Ou pensamentos de se machucar ou até de se matar? Você se sente interessado em fazer (essas atividades)
Se sim: O que você tem pensado sobre isso? Você ou você tem de se forçar?
já se machucou? Você parou de fazer atividades que costumava fazer?
Suicídio Se sim: Por quê?
0 Ausente. Há alguma coisa que você aguarda ansiosamente?
1 Acha que não vale a pena viver. Seu interesse voltou ao normal?
2 Deseja estar morto ou pensa em uma possível morte para si. Trabalho e atividades
3 Idéias ou atitudes suicidas. 0 Sem dificuldades.
4 Tentativas de suicídio. 1 Pensamentos e sentimentos de incapacidade,
fadiga ou fraqueza, relacionado a atividades,
4. Como tem sido seu sono na última semana? trabalho ou passatempos.
Você teve alguma dificuldade em iniciar o sono? Após
2 Perda de interesse em atividades, passatempos ou
se deitar, quanto tempo leva para conseguir dormir?
trabalho, quer relatado diretamente pelo paciente,
Em quantas noites nesta última semana você teve
quer indiretamente por desatenção, indecisão ou
problemas para iniciar o sono?
vacilação (sente que precisa se esforçar para o trabalho
Insônia inicial ou as atividades).
0 Sem dificuldades para iniciar o sono. 3 Diminuição no tempo gasto em atividades ou queda
1 Queixa-se de dificuldade ocasional para iniciar o de produtividade. No hospital, o paciente se ocupa
sono, ou seja, mais de meia hora. por menos de 3 horas por dia em atividades
2 Queixa-se de dificuldade para iniciar o sono todas (trabalho hospitalar ou passatempos), com exceção
as noites. das tarefas rotineiras da enfermaria.
4 Parou de trabalhar devido à doença atual. No
5. Durante esta última semana, você tem acordado no
meio da noite? hospital, sem atividades, com exceção das tarefas
Se sim: Você sai da cama? O que você faz? Somente rotineiras da enfermaria, ou se não consegue
vai ao banheiro? realizá-las sem ajuda.
Quando volta para a cama, você volta a dormir logo?
8. Avaliação baseada na observação durante a entrevista
Você sente que seu sono é agitado ou perturbado em
algumas noites? Retardo (lentificação do pensamento e da fala, dificuldade
Insônia intermediária de concentração, diminuição da atividade motora)
0 Sem dificuldade. 0 Pensamento e fala normais.
1 Queixa-se de agitação e perturbação durante a noite. 1 Lentificação discreta à entrevista.
2 Acorda durante a noite (qualquer saída da cama, 2 Lentificação óbvia durante a entrevista.
exceto para necessidades fisiológicas). 3 Entrevista difícil.
4 Estupor completo.
6. A que horas você tem acordado pela manhã na
última semana? 9. Avaliação baseada na observação durante a entrevista
Se cedo: Acorda com despertador ou sozinho? A que Agitação
horas você normalmente acorda (ou seja, antes de 0 Nenhuma.
ficar deprimido)? 1 Inquietação.
Insônia tardia 2 Mexe as mãos, os cabelos etc.
0 Sem dificuldade. 3 Movimenta-se bastante, não consegue permanecer
1 Acorda durante a madrugada, mas volta a dormir. sentado durante a entrevista.
2 Não consegue voltar a dormir quando levanta da 4 Retorce as mãos, rói as unhas, puxa os cabelos,
cama durante a noite. morde os lábios.

14
10. Você tem se sentido especialmente tenso ou irritado 13. Como tem estado sua “energia” nesta última semana?
nessa última semana? Você se sente cansado o tempo todo?
Você tem estado preocupado com coisas pouco im- Nesta última semana, você teve dor nas costas, de
portantes com as quais normalmente não se preocu- cabeça ou muscular?
paria? Se sim: Com o que, por exemplo? Nesta última semana, você tem sentido um peso nos
Ansiedade psíquica membros, nas costas ou na cabeça?
0 Sem dificuldade.
1 Tensão e irritabilidade subjetivas. Sintomas somáticos: gerais
2 Preocupa-se com trivialidades. 0 Nenhum.
3 Atitude apreensiva aparente no rosto ou na fala. 1 Peso em membros, costas ou cabeça; dor nas costas, na
4 Paciente expressa medo sem ser perguntado. cabeça ou muscular. Perda de energia e fatigabilidade.
2 Qualquer sintoma bem caracterizado e nítido.
11. Na última semana, você sofreu de alguns dos
seguintes sintomas físicos?
14. Como tem estado seu interesse por sexo nesta semana?
Leia a lista, parando após cada sintoma para resposta.
Quanto estes sintomas o incomodaram na última (Não estou lhe perguntando sobre seu
semana? Quão intensos foram? Quanto tempo ou desempenho sexual, mas sobre seu interesse por sexo,
com que freqüência os teve? isto é, quanto você tem pensado nisso.)
Nota: Não considerar se claramente relacionados à Houve alguma mudança em seu interesse
medicação (por exemplo, boca seca e imipramina). por sexo (em relação à época na qual você não
Ansiedade: somática estava deprimido)?
Concomitantes fisiológicos da ansiedade: Isso é algo em que você tem pensado muito? Se não:
GI: boca seca, flatulência, indigestão, diarréias, Isso é pouco habitual para você?
cólicas, eructações. Sintomas genitais (como perda de libido,
CV: palpitação, cefaléias. distúrbios menstruais)
Respiratórios: hiperventilação, suspiros.
Ter de urinar freqüentemente. 0 Ausentes.
Sudorese. 1 Leves ou infreqüentes: perda de libido, desempenho
0 Ausente. sexual prejudicado.
1 Duvidosos ou triviais: sintomas menores, relatados 2 Óbvio e graves: perda completa do interesse sexual.
quando questionados.
2 Leve: paciente descreve espontaneamente os sintomas, 15. Na última semana, quanto seus pensamentos
que não são acentuados ou incapacitantes. têm se focalizado na sua saúde física ou no
3 Moderada: mais de dois sintomas e com maior funcionamento de seu corpo (quando comparado
freqüência. São acompanhados de estresse subjetivo e ao seu pensamento habitual).
prejudicam o funcionamento normal. Você se queixa muito de sintomas físicos?
4 Grave: numerosos sintomas, persistentes e incapacitantes
Você tem se deparado com situações em que você
na maior parte do tempo, ou ataques de pânico
quase diariamente. pede ajuda para fazer coisas que poderia fazer sozinho?
Se sim: Como o que, por exemplo? Com que
12. Como tem estado seu apetite nesta última semana? freqüência isso tem ocorrido?
Como se compara ao seu apetite habitual?
Hipocondria
Você tem tido de se forçar a comer?
As outras pessoas têm de insistir para você comer? 0 Ausente.
1 Auto-observação aumentada (com relação ao corpo).
Sintomas somáticos: gastrointestinais
0 Nenhum. 2 Preocupação com a saúde.
1 Perda de apetite, mas come sem necessidade de insistência. 3 Queixas freqüentes, pedidos de ajuda etc.
2 Dificuldade para comer se não insistirem. 4 Delírios hipocondríacos.

15
16. Você perdeu algum peso desde que essa depressão Alguma sensação de flutuação?
começou? Se sim: Quanto? Se sim: Quão ruim isso tem sido? Quantas vezes isso
Se incerto: Você acha que suas roupas estão mais folgadas? aconteceu nesta última semana?
No seguimento: Você voltou a ganhar peso? Despersonalização e desrealização (como sensação de
Perda de peso (desde o início da doença ou última avaliação) irrealidade a idéias niilistas)
0 Sem perda de peso ou perda de peso não causada 0 Ausentes.
pela doença atual. 1 Leves.
1 Perda de peso provavelmente causada pela doença 2 Moderadas.
atual. Perda de menos de 0,5 kg. 3 Graves.
2 Perda de peso definitivamente causada pela doença 4 Incapacitantes.
atual. Perda de 0,5 kg ou mais.
20. Na última semana, você sentiu que alguém tentou
17. Avaliação baseada na observação crítica lhe prejudicar ou lhe machucar?
(consciência da doença) Se não: E sobre alguém falando de você pelas costas?
0 Reconhece estar deprimido e doente ou não estar Se sim: Fale mais sobre isso.
deprimido no momento. Sintomas paranóides
1 Reconhece estar, mas atribui a causa à má alimenta- 0 Nenhum.
ção, ao clima, ao excesso de trabalho, a um vírus, à 1 Desconfiado.
necessidade de descanso etc. 2 Idéias de referência.
2 Nega estar doente. 3 Delírios de referência e perseguição.
Pontuação total HAM-17 itens: __________________ 21. Na última semana, você teve de fazer alguma coisa várias
vezes? Houve algo que você teve de fazer e refazer várias
18. Nesta última semana, você se sentiu melhor ou pior vezes, como checar se as portas estão fechadas?
em algum período específico do dia (manhã ou noite)? Se sim: Você pode me dar um exemplo?
Se variação: Quão pior você se sente (de manhã ou de Você teve algum pensamento que não faz sentido para
noite)? você, mas que fica voltando à sua cabeça sempre sem parar?
Se indeciso: Um pouco pior ou muito pior? Se sim: Você pode me dar um exemplo?
Variação diurna Sintomas obsessivos e compulsivos
0 Nenhum.
A. Anote se os sintomas são piores de manhã ou à noite.
1 Leves.
Se não houver variação diurna, marque “nenhuma”. 2 Graves.
( ) Sem variação ou não deprimido no momento.
( ) Pior pela manhã. Pontuação total HAM-21 itens:_____________
( ) Pior à tarde/noite.
22. Retornando ao seu padrão de sono, você tem ido se
B. Quanto presente, anote a gravidade da variação: deitar e adormecido mais cedo que o habitual?
0 Nenhuma. Pelo menos uma hora mais cedo?
1 Leve. Em quantas noites nesta semana isso aconteceu?
2 Grave.
Hipersonia: adormecer precoce
Nota: Caso haja variação diurna, só a contagem referente 0 Não.
à sua gravidade (1 ou 2 pontos no item 18B) é que 1 Leve, infreqüente (menos de 1 hora).
deve ser incluída na contagem final. O item 18A não deve 2 Óbvia, definida (mais de 1 hora
ser computado. mais cedo, todas as noites).

19. Na última semana, você teve subitamente a sensação 23. Você tem dormido em excesso, ficando na cama
de que tudo é irreal, ou que você está em um sonho, além da sua hora habitual de levantar?
ou separado do contato das outras pessoas de uma Por quantas horas? Quantas vezes isso aconteceu
maneira estranha? na última semana?

16
Hipersonia: dormir mais que o habitual 0 Ausente.
0 Não. 1 Leve; discreto retardo na fala e no
1 Leve, infreqüente (menos de 1 hora). processo de pensamento.
2 Óbvia/definida (dorme em excesso por mais de 2 Moderado (demora para responder às questões,
1 hora na maioria dos dias). descreve inibição de volição).
3 Grave; retardo na fala e no processo de
24. Você tem dormido durante o dia? Seu cochilo tem pensamento suficiente para prolongar
duração maior que 30 minutos? Em quantos dias significativamente a entrevista.
desta semana você dormiu durante o dia? 4 Extremo/excessivo; quase em mutismo,
Hipersonia: cochilos minimamente responsivo.
0 Ausente.
28. Retardo de movimento e de expressão afetiva. Avalie
1 Leve, infreqüente (os cochilos duram menos de 30 com base na observação e na autodescrição, mas
minutos, ou relata sonolência diurna excessiva). diferencie de retardo de pensamento ou fala.
2 Óbvia/definida (sonecas duram mais de 30 minutos
na maioria dos dias). Retardo motor
0 Ausente.
25. Retornando ao seu apetite, você tem notado se deseja 1 Leve (discreto achatamento do afeto, expressão fixa).
comer mais que o habitual nesta última semana? 2 Moderado (voz monótona e diminuição de movi-
Você teve fissura por comida? mentos espontâneos).
Você tem aumentado significativamente a quanti- 3 Grave (óbvio retardo de movimento, marcha; afeto
dade do que come? embotado).
4 Extremo (em estupor; retardo motor acentuado
Aumento de apetite (mudança no apetite caracterizada observado na marcha e na postura).
por aumento na quantidade de comida ingerida ou
fissura excessiva) 29. Na última semana, você se sentiu desamparado para
0 Ausente. fazer coisas que habitualmente faz, incapaz de completar
1 Mínimo (aumento leve de apetite; fissura por comida). suas tarefas, incluindo se vestir, comer, se arrumar? Você
2 Definido (aumento acentuado na ingestão de precisou de ajuda para alguma dessas coisas?
comida, ou fissura).
Desamparo
26. Você ganhou peso durante a última semana? 0 Ausente.
Você ganhou 1 kg ou mais nesta semana? 1 Sentimentos subjetivos extraídos apenas pela entrevista.
Ou 2,5 kg nas duas últimas semanas? 2 Paciente relata espontaneamente
sentimentos de desamparo.
Ganho de peso 3 Necessita de insistência, orientação e
0 Ausente. reasseguramento para completar tarefas.
1 Duvidoso/mínimo (menos que 0,5 kg). 4 Requer assistência para se vestir, comer ou realizar
2 Óbvio (ganho de peso de 0,5 kg ou mais). higiene pessoal.
27. Observações e relato: 30. Durante a última semana, você tem tido esperança de
Você tem dificuldade de começar tarefas ou fazer que vai melhorar? Você está se sentindo desencorajado,
coisas que você fazia habitualmente no curso do dia? em desespero, pessimista quanto ao futuro?
Fazer esta entrevista?
Desesperança
Retardo psíquico (lentificação na fala e no processo de 0 Ausente.
pensamento: descreve inibição da vontade ou sensação 1 Duvida intermitentemente que “as coisas irão
de que os processos de pensamento estão paralisados. melhorar”, mas pode ser reassegurado.
Avalie com base na observação e na autodescrição, mas 2 Consistentemente se sente desesperançado, mas
diferencie de um real retardo motor) aceita reasseguramentos.

17
3 Expressa sentimentos de desencorajamento, 1 Indica sentimentos de inutilidade (perda da auto-
desespero, pessimismo quanto ao futuro, que não estima) apenas quando perguntado.
podem ser desfeitos. 2 Paciente indica espontaneamente sentimentos
4 Espontânea e inapropriadamente persevera “nunca de inutilidade.
vou melhorar” ou equivalente.
3 Diferente de (2) acima por grau: paciente relata
31. Durante a última semana, você se sentiu inútil, espontaneamente que é “ruim”, “inferior”.
ruim ou inferior? Você já teve sentimentos ruins 4 Delírios de inutilidade.
sobre você mais fortes que isso?
Baixa auto-estima
0 Ausente. Fonte: Adaptado de Williams, 1988.

18
ANEXO 3. ESCALA DE AVALIAÇÃO DE DEPRESSÃO DE MONTGOMERY-ÅSBERG (MADRS)

A avaliação deve basear-se em uma entrevista clínica que 2. Tristeza relatada


se inicie com perguntas genéricas sobre sintomas e seja Representando relatos de humor depressivo, independente-
acompanhada de questões mais detalhadas que permitam mente de estarem refletidos na aparência. Inclui abatimen-
uma avaliação precisa da gravidade. O avaliador deve de- to, desânimo ou sentimento de desamparo e desesperança.
cidir se a avaliação se situa em graus definidos da escala
Avalie pela intensidade, pela duração e pelo grau com que se
(0, 2, 4, 6) ou entre eles (1, 3, 5).
relata que o humor é influenciado pelos acontecimentos.
É importante lembrar que somente em raras ocasiões se encon-
tra um paciente deprimido que não pode ser avaliado de acor- 0 Tristeza ocasional compatível com as circunstâncias.
do com os itens da escala. Caso respostas definidas não possam 1
ser obtidas do paciente, devem ser utilizados todos os indícios 2 Triste e abatido, mas se alegra sem dificuldades.
relevantes, bem como informações de outras fontes como base 3
para a avaliação, de acordo com a prática clínica costumeira. 4 Sentimentos predominantes de tristeza ou
melancolia. O humor ainda é influenciado por
A escala pode ser usada para qualquer intervalo de tempo entre as circunstâncias externas.
avaliações, seja semanal ou outro, mas isso deve ser registrado.
5
Lista de itens 6 Tristeza, infelicidade ou desânimo
1. Tristeza aparente contínuo e invariável.
2. Tristeza relatada
3. Tensão interior
3. Tensão interna
Representando sentimentos de desconforto indefinido,
4. Sono reduzido
inquietação, agitação interior, tensão mental crescente
5. Diminuição do apetite
chegando até pânico, pavor ou angústia.
6. Dificuldade de concentração
7. Lassidão Avaliar de acordo com intensidade, freqüência, duração
8. Incapacidade de sentir do grau de reasseguramento necessário.
9. Pensamentos pessimistas
0 Tranqüilo, somente tensão interior fugaz.
10. Pensamentos suicidas
1
1. Tristeza aparente 2 Sentimentos ocasionais de inquietação
Representando desânimo, tristeza e desespero (mais que e desconforto indefinido.
um abatimento simples e transitório), refletidos na fala, na 3
expressão facial e na postura. 4 Sentimentos contínuos de tensão interna ou de
pânico intermitente, em que o paciente só consegue
Avalie pela profundidade e incapacidade de alegrar-se. dominar com alguma dificuldade.
0 Nenhuma tristeza. 5
1 6 Apreensão ou angústia persistente.
2 Parece abatido, mas se alegra sem dificuldades. Pânico incontrolável.
3
4 Parece triste e infeliz a maior parte do tempo. 4. Sono diminuído
5 Representando a experiência de redução de duração ou
6 Parece muito triste todo o tempo. profundidade do sono comparada com o padrão normal
Extremamente desanimado. próprio do indivíduo quando está bem.

19
0 Dorme normalmente. 0 Dificilmente apresenta qualquer dificuldade para
1 iniciar atividades. Sem preguiça.
2 Leve dificuldade para adormecer ou sono 1
discretamente reduzido, leve ou interrompido. 2 Dificuldade para iniciar atividades.
3 3
4 Sono reduzido ou interrompido 4 Dificuldade para começar atividades rotineiras
por, pelo menos, 2 horas. simples que são realizadas à custa de esforço.
5 5
6 Menos de 2 ou 3 horas de sono. 6 Lassidão completa. Incapaz de fazer qualquer coisa
sem ajuda.
5. Diminuição do apetite
Representando o sentimento de perda de apetite quando
comparado ao seu normal. Avalie pela perda da vontade de 8. Incapacidade de sentir
comer ou pela necessidade de se forçar a comer. Representando a experiência subjetiva de interesse reduzido
pelo ambiente ou pelas atividades que são normalmente
0 Apetite normal ou aumentado. prazerosas. A capacidade de reagir com emoção apropriada
1 às circunstâncias ou às pessoas está reduzida.
2 Apetite levemente diminuído. 0 Interesse normal pelo ambiente e por outras pessoas.
3 1
2 Capacidade reduzida de desfrutar interesses rotineiros.
4 Sem apetite. A comida não tem sabor.
3
5 4 Perda de interesse pelo ambiente. Perda de
6 É necessário ser sempre persuadido para comer. sentimentos pelos amigos e conhecidos.
5
6. Dificuldade de concentração 6 A experiência de estar emocionalmente paralisado,
Representando dificuldade em concluir ou organizar os pen- incapaz de sentir raiva, pesar ou prazer e uma falta
samentos, chegando à falta de concentração incapacitante.
de sentimentos completa ou mesmo dolorosa em
Avalie de acordo com a intensidade, a freqüência e o grau relação a parentes próximos ou amigos.
de incapacidade resultante.
0 Sem dificuldade para se concentrar. 9. Pensamentos pessimistas
1 Representando pensamentos de culpa, inferioridade, auto-
2 Dificuldades ocasionais em concluir reprovação, pecado, remorso e ruína.
ou organizar os pensamentos. 0 Sem pensamentos pessimistas.
3 1
4 Dificuldades para se concentrar e sustentar 2 Idéias flutuantes de falha, auto-reprovação
o pensamento que reduzem a capacidade ou autodepreciação.
para ler ou manter uma conversa.
3
5
4 Auto-acusações persistentes ou idéias definidas,
6 Incapaz de ler ou conversar, a não
ser com grande dificuldade. mas ainda racionais, de culpa ou pecado.
Progressivamente pessimista sobre o futuro.
7. Lassidão 5
Representando a dificuldade ou a lentidão para iniciar e 6 Delírios de ruína, remorso ou pecado irremediável.
realizar atividades rotineiras. Auto-acusações que são absurdas e inabaláveis.

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10. Pensamentos suicidas 3
Representando o sentimento de que não vale a pena viver, 4 Provavelmente seria melhor morrer. Pensamentos
de que uma morte natural seria bem-vinda, pensamentos suicidas são freqüentes, e o suicídio é considerado
suicidas e preparativos para suicídio. uma solução possível, mas sem planos ou
intenções específicas.
Tentativas de suicídio por si só não devem influenciar 5
a avaliação. 6 Planos explícitos para o suicídio quando houver uma
0 Aprecia a vida ou a aceita como ela é. oportunidade. Providência para o suicídio.
1
2 Enfastiado de viver. Pensamentos suicidas transitórios. Fonte: Adaptado de Montgomery e Åsberg, 1979.

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ANEXO 4. INVENTÁRIO DE DEPRESSÃO DE BECK

Este questionário consiste de 21 grupos de afirmações. 7. 0 Não me sinto decepcionado comigo mesmo.
Depois de ler cuidadosamente cada grupo, faça um cír- 1 Estou decepcionado comigo mesmo.
culo em torno do número (0, 1, 2 ou 3) próximo à afir- 2 Estou enojado de mim.
mação, em cada grupo, que descreve melhor a maneira 3 Eu me odeio.
como você tem se sentido na última semana, incluindo
hoje. Se várias afirmações num grupo parecerem se apli- 8. 0 Não me sinto de qualquer modo pior que os outros.
car igualmente bem, faça um círculo em cada uma. Tome 1 Sou crítico em relação a mim por minhas
o cuidado de ler todas as afirmações, em cada grupo, an- fraquezas ou erros.
tes de fazer sua escolha. 2 Eu me culpo sempre por minhas falhas.
1. 0 Não me sinto triste. 3 Eu me culpo por tudo de mau que acontece.
1 Eu me sinto triste.
2 Estou sempre triste e não consigo sair disto. 9. 0 Não tenho quaisquer idéias de me matar.
3 Estou tão triste ou infeliz que não consigo suportar. 1 Tenho idéias de me matar, mas não as executaria.
2 Gostaria de me matar.
2. 0 Não estou especialmente 3 Eu me mataria se tivesse oportunidade.
desanimado quanto ao futuro.
1 Eu me sinto desanimado quanto ao futuro. 10. 0 Não choro mais que o habitual.
2 Acho que nada tenho a esperar. 1 Choro mais agora do que costumava.
3 Acho o futuro sem esperança e tenho a impressão 2 Agora, choro o tempo todo.
de que as coisas não podem melhorar. 3 Costumava ser capaz de chorar, mas agora não
consigo mesmo que o queira.
3. 0 Não me sinto um fracasso.
1 Acho que fracassei mais do que uma pessoa comum. 11. 0 Não sou mais irritado agora do que já fui.
2 Quando olho para trás na minha vida, tudo o que 1 Fico aborrecido ou irritado mais facilmente do
posso ver é um monte de fracassos. que costumava.
3 Acho que, como pessoa, sou um completo fracasso. 2 Atualmente, sinto-me irritado o tempo todo.
3 Não me irrito mais com as coisas que costumavam
4. 0 Tenho tanto prazer em tudo como antes. me irritar.
1 Não sinto mais prazer nas coisas como antes.
2 Não encontro um prazer real em mais nada. 12. 0 Não perdi o interesse pelas outras pessoas.
3 Estou insatisfeito ou aborrecido com tudo. 1 Estou menos interessado pelas outras pessoas do
que costumava estar.
5. 0 Não me sinto especialmente culpado. 2 Perdi a maior parte do meu interesse
1 Eu me sinto culpado grande parte do tempo. pelas outras pessoas
2 Eu me sinto culpado na maior parte do tempo. 3 Perdi todo o meu interesse nas outras pessoas.
3 Eu me sinto sempre culpado.
13. 0 Tomo decisões tão bem quanto antes.
6. 0 Não acho que esteja sendo punido. 1 Adio as tomadas de decisões mais do que costumava.
1 Acho que posso ser punido. 2 Tenho mais dificuldade em tomar decisões
2 Creio que vou ser punido. do que antes.
3 Acho que estou sendo punido. 3 Não consigo mais tomar decisões.

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14. 0 Não acho que minha aparência esteja pior do que 18. 0 Meu apetite não está pior que o habitual.
costumava ser. 1 Meu apetite não é tão bom quanto costumava ser.
1 Estou preocupado por estar parecendo velho ou 2 Meu apetite está muito pior agora.
sem atrativos. 3 Não tenho mais nenhum apetite.
2 Acho que há mudanças permanentes na minha 19. 0 Não tenho perdido muito peso, se é que perdi
aparência que me fazem parecer sem atrativos. algum recentemente.
3 Acredito que pareço feio. 1 Perdi mais de 2,5 kg.
2 Perdi mais de 5 kg.
15. 0 Posso trabalhar tão bem quanto antes. 3 Perdi mais de 7 kg.
1 Preciso de um esforço extra para fazer Estou tentando perder peso de propósito, comendo
alguma coisa. menos: Sim ( ) Não ( )
2 Tenho que me esforçar muito para fazer 20. 0 Não estou mais preocupado com minha saúde
alguma coisa. que o habitual.
3 Não consigo mais fazer nenhum trabalho. 1 Estou preocupado com problemas físicos, tais
como dores, indisposição do estômago ou prisão
16. 0 Consigo dormir tão bem como o habitual. de ventre.
1 Não durmo tão bem quanto costumava. 2 Estou muito preocupado com problemas físicos e
2 Acordo 1 a 2 horas mais cedo que o é difícil pensar em outra coisa.
habitual e tenho dificuldade em voltar a dormir. 3 Estou tão preocupado com meus problemas físicos
que não consigo pensar em qualquer outra coisa.
3 Acordo várias horas mais cedo do que costumava e
não consigo voltar a dormir.
21. 0 Não notei qualquer mudança recente no meu
interesse por sexo.
17. 0 Não fico mais cansado que o habitual. 1 Estou menos interessado por sexo do que
1 Fico cansado com mais facilidade do que costumava. costumava estar.
2 Sinto-me cansado ao fazer qualquer coisa. 2 Estou muito menos interessado em sexo atualmente.
3 Estou cansado demais para fazer qualquer coisa. 3 Perdi completamente o interesse por sexo.

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