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1ª Edição
2011
Parceria
Ilha que já foi imortalizada na voz de grandes (Trecho do poema À Ilha de Maré, de
cantores e poetas. Hoje jaz abandonada. Manuel Botelho de Oliveira, 1705)
Seu povo continua hospitaleiro, como antes,
receptivo, simples. Mas, muita coisa mudou,
sendo visível para quem conheceu a Ilha
Qual poema seria escrito por
tempos atrás o quanto ela está degradada. Manuel Botelho hoje? Quais
adjetivos usaria? Qual música
[...] Aqui se cria o peixe regalado seria hoje composta?
com tal sustância, e gosto preparado,
que sem tempero algum para apetite Por certo seria muito diferente de
faz gostoso convite, outrora, pois hoje nossa Ilha encontra-
se com sérios problemas ambientais. Sua
e se pode dizer em graça rara natureza, seu povo, sua história foram
que a mesma natureza os temperara. atingidos ao longo desses anos.
1
Morador da Ilha de Maré, pedagogo e analista ambiental.
Maré me leva
Maré me traz
A vida do capoeira
É como a do pescador
A onda balança o barco
E a ginga o jogador
(B)
(C)
(B)
(D)
(D)
(D)
(F)
(H)
(G)
( J)
(K)
(K)
(K)
(C)
(A)
(D)
(E)
Eu aprendi capoeira
Lá na rampa e no cais da Bahia
Vim de Ilha de Maré
No saveiro de mestre João
Fui morar lá na Preguiça
Me criei na Conceição
Eu subi o Pelourinho
Eu desci a Gameleira
Figura 2. Faixa relativa ao Dia da Consciência Negra. Praia Grande, Ilha Eu passava o dia-a-dia
de Maré, 2005. Fotografia: Rosiléia Oliveira de Almeida.
Nas rodas de capoeira
(Em um belo dia de sol, três amiguinhas Sapo: Não façam isso comigo, eu gosto de
decidiram brincar de bola no campo de viver em lugares úmidos. Viver nesta fonte é
futebol, próximo a uma fonte de água) tão bom!!! A água tem cheirinho gostoso de
poluída ...
Lulu: Vamos brincar de bola no campo da
Fonte da Malhada? Lulu: Poluída? ... A água dessa fonte não é
nada poluída, vá embora já daqui!
Teca e Lilica: Oba! Que legal! Vamos sim!
(O sapo vai embora)
Teca: Quem chegar por último é mulher do padre.
(Saem de cena correndo e retornam jogando bola) Lilica: Olha pra isso, meninas, uma água
dessa gostosa de beber, limpinha, cheirosa.
Teca: Joga a bola Lilica... Vou fazer gol... Esse sapo que não lava o pé e que tá de chulé!
Lulu: Deixe de ser fominha de bola Teca ... Teca: Poxa! Tô com sede... e não tem nenhum
joga essa bola! balde por aqui.
humano na comunidade
além do despejo de substâncias químicas
e tóxicas nos mananciais, provocam a
(A) (B)
GLOSSÁRIO
Georreferenciamento: É um sistema de
Figuras 10. Apresentação dos resultados do projeto na localização geográfica que indica precisamente
comunidade de Ilha de Maré, 2011. Fotografia: VISAMB. a posição de determinada área.
Potabilidade: É a qualidade apresentada pela
água própria para consumo.
Turbidez: É a redução da transparência
da água devido à presença de materiais
sólidos em suspensão.
REFERÊNCIAS
O desenvolvimento sustentável é o
desenvolvimento que procura satisfazer
as necessidades da geração atual, sem
comprometer a capacidade das gerações
futuras de satisfazerem as suas próprias
necessidades. Significa possibilitar que as
pessoas, agora e no futuro, atinjam um nível
satisfatório de desenvolvimento social e
econômico e de realização humana e cultural,
fazendo, ao mesmo tempo, um uso razoável
dos recursos da Terra e preservando as espécies
e os habitats naturais (BRUNDTLAND, 1987).
Figura 12. Atitude de interesse de aluno durante palestra Figura 14. Relação afetiva com as plantas, evidenciada no uso de flor
sobre Matas Ciliares. Colégio Estadual João Batista para confeccionar pulseira e anel. Ilha de Maré, 2009.
Caribé, 2009. Fotografia: Rosiléia Oliveira de Almeida. Fotografia: Rosiléia Oliveira de Almeida.
Em sala os alunos preencheram um quadro dos estariam mais seguras nas gaiolas do que soltas,
problemas socioambientais da ilha, suas causas, especialmente porque pensam que as aves
consequências e possíveis soluções. Para os não conseguiriam encontrar alimento devido à
alunos os motivos que levam os moradores a criar destruição da natureza pelos seres humanos, na
aves em cativeiro são o interesse em vendê-las e sua busca incessante pelo progresso, ou porque
em escutar seu canto e a principal consequência ficariam vulneráveis a fatores climáticos e seriam
é o desequilíbrio da natureza, por impedir que alvos fáceis de predadores naturais e de crianças
as aves façam seu ninho e se acasalem. Como que se divertem caçando os animais. Outro
soluções para o problema propuseram que os argumento racional é o de que despenderam
moradores soltem as aves e pesquisem sobre muito esforço para capturá-las.
aquelas que podem ser criadas em cativeiro. Mas, ao longo da discussão, quando foi
Durante as atividades desenvolvidas na turma interpretada a música Sabiá, percebeu-se que
foi possível notar que a desaprovação do ato de há também motivações afetivas para a oposição
manter aves em cativeiro é um consenso entre os dos alunos em soltar as aves que são mantidas
estudantes. No entanto, devido à atividade estar em gaiolas em suas casas. Essa relação afetiva
arraigada na comunidade, existe certa dificuldade manifestou-se pela identificação dos alunos com
em abandonar essa prática. Percebemos a menina que sofre ao se separar do sabiá que
que 58,3% dos alunos mantinham aves em fugiu da gaiola. O final da música foi interpretado
gaiola, seguindo a tradição local, e que não como a possibilidade de se ter as aves por perto
estavam dispostos a soltá-las com o argumento sem a necessidade de aprisioná-las.
racional de que cuidavam bem delas e que elas
Sabiá Lá Na Gaiola
Composição: Mário Vieira e Hervé Cordovil
Figuras 2A e 2B. Cartazes da Campanha Nacional de Proteção à Fauna Silvestre, 2008. Fonte: http://www.ibama.gov.br/fauna-silvestre/wp-content/
files/cartazes_trafico.pdf
O Pássaro da Chuva sabe o que fazer com sua ave para que
ela cante, não é mesmo Banium?
Monique Bermond
- Sim, sábio - respondeu o menino -
Gostaria que me dissesse por que minha
Em uma pequena aldeia na África, vivia ave não canta, se dou a ela comida e água.
um menino de mais ou menos 11 anos, O velho, sem pestanejar, prendeu
que se chamava Banium. Ele adorava Banium na cabana, apenas com um
cantar e apreciava o canto dos pássaros. prato de comida e água.
Certa vez, Banium decidiu montar uma Banium começou a gritar, desesperado:
armadilha para capturar o pássaro que, - Socorro! Me tire daqui, mestre! Por favor!
segundo todos da aldeia, tinha o canto mais
ntent/ E o sábio respondeu:
bonito. O mais lindo de todos. Era o pássaro
da chuva! Nunca ninguém da aldeia tinha - Canta, Banium! Canta!
conseguido capturar o pássaro da chuva. - Não! Não me deixe trancado! Me tire
Isso aumentava ainda mais a vontade de daqui! Socorro!
Banium. Depois de muito tentar, Banium O velho, então, soltou o menino e
conseguiu! Ele colocou o pássaro dentro de disse a ele:
uma gaiola e ficou desfilando pela aldeia, - Por que você não cantou, Banium? Te
exibindo seu pássaro. dei comida e água.
Então, começou uma grande seca. - Como poderia cantar se estava preso?
Todos os que passavam pelo menino, - Mas não é isso que você faz com seu
vendo-o carregar a gaiola, diziam: pássaro?
- Banium, por favor, mande o pássaro cantar! - É mas... Ah mestre! Obrigado! Já
O menino, então, dizia: entendi o que devo fazer.
- Canta passarinho! Canta pra chuva vir Então, Banium voltou para casa, pegou
rapidinho! a gaiola e disse ao pássaro:
Mas a ave continuava triste em sua solidão, - Agora eu sei por que você não
e nem se mexia... O menino, já cansado de cantou. Você não tinha liberdade!
dizer em vão para a ave cantar, foi visitar Mas vai ter agora...
um velhinho muito sábio que morava na Banium soltou a ave, que começou a
aldeia, para pedir-lhe conselhos. cantar, um canto lindo de morrer. Com
Chegando lá, o sábio disse: isso, choveu bastante na aldeia e todas as
fontes de água ficaram cheias novamente.
- Vejo que você me procura porque não
REFERÊNCIAS
Os procedimentos de pesquisa
Em 2008, o índice de reprovação/evasão
no Colégio Estadual Marcílio Dias, no 6º
ano do Ensino Fundamental, foi de 59,2% e
no Colégio Estadual João Batista Caribé, na
turma formada por alunos da Ilha de Maré,
de 33% (Quadros 1 e 2).
NÚMERO DE
ANO aprovados RETIDOS EVADIDOS RETIDOS EM CIÊNCIAS
ALUNOS
6º A 37 23 14 0 10
6º B 36 11 25 0 17
6º C 52 17 35 0 33
7º A 34 23 11 0 11
7º B 33 20 13 0 10
8º 53 42 11 0 7
9º 46 38 6 2 3
TOTAL 291 174 115 2 91
Fonte: Colégio Estadual Marcilio Dias, 2008.
Quadro 2. Índice de aprovação dos alunos do 6º ano do Colégio João Batista Caribé durante o
ano letivo de 2008. Salvador-BA, 2008.
Transferidos/
Ano/ Turma Origem aprovados RETIDOS
Evadidos
(A) (B)
Figuras 4A e 4B. Meninos brincam de barco, aprendendo a tradição da pesca e do manejo das embarcações, associada ao papel masculino. Praia
Grande, Ilha de Maré, 2005 e Bananeiras, Ilha de Maré, 2009, respectivamente. Fotografias: Rosiléia Oliveira de Almeida.